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DIREITO PREMIAL
RESUMO
ABSTRACT
The present study seeks to analyze the Premial Law in Brazil and what is its
relationship with the overload due to the increase in negotiating justice. For this,
it is necessary to analyze the limits of action of the prosecution, considering the
parameters and definitions of the negotiation instruments and the phenomenon
that result from the exercise of its subjective power. The occurrence of
1 INTRODUÇÃO
3Segundo ARRUDA, (2013. p. 73), embora a nova lei tenha utilizado a expressão “colaboração
premiada”, a maior parte da doutrina emprega o termo “delação premiada”, os quais podem ser
considerados sinônimos para fins didáticos, no entanto, apenas por uma questão técnica irei
me referir como “colaboração premiada”.
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Ainda que o nosso ordenamento jurídico não exija que o agente cumpra
todas as etapas da lavagem para que este se consume, basta que o agente
pratique ação que envolva “ocultar” ou “dissimular” a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou propriedade do bem, direito ou valor
(MENDRONI, 2009). Ainda sim para detectar e coibir essa conduta, não se
trata de uma medida de fácil se operar na prática, se faz necessário a tomada
de uma série providências de atuação estatal dirigida a este devido fim.
Diante de tais dificuldades em coibir a prática criminosa bem como
rastrear a origem ilícita dos ativos tendo em vista que os crimes econômicos
deixam vestígios, mas não deixam pegadas, a atuação contra a lavagem de
dinheiro muitas vezes necessita de auxílio de pessoas que participaram do
processo criminoso para que estes possam esclarecer os mecanismos
utilizados na execução, razão pela qual a Lava Jato, em 2017, somou 293
acordos de delação premiada homologados (MODZELESKI, 2017).
À medida em que a utilização da colaboração premiada começou a
ganhar maior notoriedade no ordenamento jurídico brasileiro, foi a partir deste
momento que também começou a sofrer severas críticas sobre o seu modelo
material, moral e quanto à sua aplicação prática.
A colaboração premiada é considerada por muitos autores uma prática
imoral de investigação. Neste segmento Alberto Silva Franco (2007) enfatiza
que a partir das consequências do reconhecimento da delação premiada, esta
se torna indefensável, do ponto de vista ético, pois se trata da consagração
legal da traição e rotula, de forma definitiva, o papel do delator. ZAFFARONI
(1996, p. 45) comunga da mesma ao estabelecer que:
4 Trata-se do caso em que a Suprema Corte dos Estados Unidos entendeu que não há
barreiras aptas a impedir um juiz de aceitar um acordo de um réu que queira se declarar
culpado ainda que este tenha se declarado inocente e tenha aceitado o acordo sob a coação
de que, se não o fizesse, poderia ser condenado à morte.
5 Ciro Nogueira, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-deputado Márcio Junqueira
6 As premissas utilizadas neste estudo quanto a justiça negocial se refere ao modelo que tem
como ideia um acordo de colaboração processual entre as partes determinada pelo
afastamento do réu de sua posição de resistência com o objetivo de facilitar a imposição de
uma sanção penal.
7 Art. 283. Até o início da instrução e da audiência a que se refere o art. 276, cumpridas as
disposições do rito ordinário, o Ministério Público e o acusado, por seu defensor, poderão
requerer a aplicação imediata de pena nos crimes cuja sanção máxima cominada não
ultrapasse 8 (oito) anos.
§ 1º São requisitos do acordo de que trata o caput deste artigo:
I – a confissão, total ou parcial, em relação aos fatos imputados na peça acusatória;
II – o requerimento de que a pena privativa de liberdade seja aplicada no mínimo previsto na
cominação legal, independentemente da eventual incidência de circunstâncias agravantes ou
causas de aumento da pena, e sem prejuízo do disposto nos §§ 2º e 3º deste artigo;
III – a expressa manifestação das partes no sentido de dispensar a produção das provas por
elas indicadas.
§ 2º Aplicar-se-á, quando couber, a substituição da pena privativa de liberdade, nos termos do
disposto no art. 44 do Código Penal, bem como a suspensão condicional prevista no art. 77 do
mesmo Código.
§ 3º Mediante requerimento das partes, a pena aplicada conforme o procedimento sumário
poderá ser, ainda, diminuída em até 1/3 (um terço) do mínimo previsto na cominação legal, se
as condições pessoais do agente e a menor gravidade das consequências do crime o
indicarem.
§ 4º Não se aplica o disposto no § 3º deste artigo se incidir no caso concreto, ressalvada a
hipótese de crime tentado, outra causa de diminuição da pena, que será expressamente
indicada no acordo.
§ 5º Se houver cominação cumulativa de pena de multa, esta também será aplicada no mínimo
legal, devendo o valor constar do acordo.
§ 6º O acusado ficará isento das despesas e custas processuais.
§ 7º Na homologação do acordo e para fins de aplicação da pena na forma do procedimento
sumário, o juiz observará o cumprimento formal dos requisitos previstos neste artigo.
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12Segundo Guido Fernando Silva Soares em seu livro “Common law: introdução ao direito dos
EUA”, o sistema jurídico norte-americano não se caracteriza uma forma pura de Common Law,
haja vista que devido à organização federal do país, na qual se concedeu grande autonomia
aos Estados-membros, verifica-se certa variabilidade na maneira em que é elaborado e
aplicado o Direito. Portanto, há de se falar mais em Direito de Nova York, ou Direito de
Massachusetts, por exemplo, do que Direito dos EUA, como um todo harmônico entre si.
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o réu ser condenado nos termos da denúncia, obter uma pena inicial de doze
anos ao invés de seis anos, ou seja, partindo do dobro.
Ademais, em 2019, quando da tramitação do Projeto de Lei n.º
4850/2016, comumente conhecido como as “10 medidas contra a corrupção”,
foi ventilado a possibilidade de “simplificar” – para não dizer sucatear – a
legislação processual penal pátria ao instituir o plea bargaining, contudo fora
elaborada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro uma nota
técnica13 sobre o assunto (introdução do instituto da barganha no processo
penal brasileiro) na qual, de forma subsidiária, demonstrou numericamente a
ordinariedade do overcharging na prática judiciária brasileira.
Em seu estudo Haber; Maciel e Junior (2018) utilizaram como base a
Pesquisa sobre as sentenças judiciais por tráfico de drogas na cidade e região
metropolitana do Rio de Janeiro, realizada por sua Diretoria de Pesquisa onde
analisou 3.735 sentenças individuais em 2.591 processos distribuídos entre 01
de junho de 2014 e 30 de junho de 2015 aos juízos das varas criminais da
cidade e região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, no qual analisou
3.167 processos com imputações aos delitos dos artigos 33, 34, 35, ou 37 da
Lei 11.343/06, de forma que fora constatado que em 1.595 casos, a imputação
contida na denúncia cumulava os delitos do art. 33 e 35 da Lei de Drogas,
sendo que 40,2% só havia a indicação do art. 33; ocorre que quando da análise
das sentenças, foi observado que apenas em 27,1% dos casos ocorreu a
condenação no delito associativo (art. 35), o que significa, em números
absolutos, 783 condenações, ou, 812 absolvições. Da leitura do referido estudo
pode se entender que mesmo diante da denunciação concurso de crimes a
principal causa para absolvição pelo delito associativo do artigo 35 é
exatamente a falta de provas acerca da acusação14.
O estudo acima citado traz um panorama, ainda que de forma
regionalizada, a configuração explícita do overcharging haja vista que na maior
parte dos casos analisados pelo estudo nem a prova produzida em juízo, nem
os elementos de informação são capazes de demonstrar a prévia e estável
associação dos réus com qualquer outra pessoa devidamente identificada para
13Vide:
https://www.defensoria.rj.def.br/uploads/imagens/b8dead7bb04b4bbc8d8d720d5da499bc.pdf.
Acesso em 03.11.2022.
14 Ibidem, p. 58.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS