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Introdução - 1.Premissas sobre o processo penal brasileiro - 2.Justiça criminal negocial no Brasil -
3.A colaboração premiada no processo penal brasileiro - 4.Os mecanismos de acordos penais
brasileiros diante da tendência internacional de expansão do consenso e administrativização da
justiça criminal - Considerações finais - Referências
Introdução
De1 um modo distinto da maioria dos países latino-americanos, o Brasil ainda não realizou uma
reforma ampla em sua justiça criminal, que segue regida por um Código de Processo Penal de 1941,
embora com alterações significativas em alguns capítulos.2 Além disso, o Brasil parece ainda resistir
à tendência internacional de expansão e generalização de acordos penais para imposição de
sanções sem a necessidade do transcorrer integral do processo penal, com todas as suas garantias
tradicionais.3
Nos últimos anos, inovações legislativas inseriram mecanismos de consenso penal, como a
transação penal, a suspensão condicional do processo, o acordo de não persecução penal e a
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Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
Examinar a legislação sobre colaboração premiada no Brasil e pensar que os acordos têm seguido
os critérios e limites previstos na Lei é erro semelhante ao estudo de Lei de Execuções Criminais
brasileira com a ideia de que todos os direitos dos presos ali louvavelmente previstos se realizam na
prática, consolidando um sistema penitenciário que seria exemplar e elogiável, mas na realidade
caracteriza cenário de graves violações a direitos fundamentais.5 Portanto, a colaboração premiada
no Brasil precisa ser analisada a partir de sua aplicação prática, com o exame de acordos realizados,
especialmente em grandes operações investigativas (ex. Lava Jato), e da jurisprudência dos
Tribunais Superiores, que interpretaram os dispositivos legais e complementaram omissões
relevantes no procedimento negocial.
Nesse sentido, este estudo se fundamentará na análise de acordos realizados na operação Lava
Jato e algumas das decisões proferidas no curso do referido processo. Neste trabalho, portanto,
estudar-se-ão os acordos de colaboração premiada firmados, no âmbito da operação Lava Jato,
entre o Ministério Público Federal e os acusados: Paulo Roberto Costa (Pet. 5.210 STF),6 Alberto
Youssef (Pet. 5.244 STF),7 Delcídio do Amaral (Pet. 5.952 STF),8 José Sérgio Machado (Pet. 6.138
STF)9 e Joesley Batista (Pet. 7.003 STF).10 Tais pactos já foram homologados pelo Supremo
Tribunal Federal e divulgados publicamente na internet.
Assim, a partir das características dos mecanismos atuais de negociação no processo penal
brasileiro, conclui-se que, embora ainda inexista possibilidade de condenação sem processo, os
institutos atuais autorizam a imposição de sanções penais sem processo e caracterizam hipóteses
que fogem à lógica tradicional da obrigatoriedade da ação penal. Assim, com certas distinções,
pode-se verificar no Brasil a tendência de administrativização da justiça criminal e das sanções
penais impostas pelo Estado.
Inicialmente, em uma visão geral, o sistema processual penal brasileiro é descrito por parte da
doutrina nacional como misto, porque estruturado em uma primeira fase inquisitiva, de investigação
preliminar, e outra acusatória, de julgamento.12 Em outro sentido, corrente crítica de autores sustenta
ser ele, na verdade, inquisitivo em essência, pois permite-se a produção de provas de oficio pelo
julgador13 e não se delimita uma separação clara entre as fases investigativa e de julgamento.14 -15
Contudo, em termos constitucionais, afirma-se que a Constituição de 1988 consolidou um sistema
acusatório, ao determinar, no art. 129, inc. I, que ao Ministério Público cabe, privativamente, a
promoção da ação penal pública.16
termos estritos, ela não é considerada processual, mas antecedente e preparatória,18 podendo
ocorrer em diversas formas, como inquérito policial, inquérito civil público, investigação direta pelo
Ministério Público, CPI etc.19 A investigação é, fundamentalmente, realizada em autos escritos, com
publicidade limitada, e a sua função é preparar eventual oferecimento da denúncia para início do
processo, além de assegurar a obtenção de elementos probatórios irrepetíveis.20 Contudo, em visão
ampla, pode-se afirmar que “a função de evitar acusações infundadas é o principal fundamento da
investigação preliminar, pois, em realidade, evitar acusações infundadas significa esclarecer o fato
oculto”.21
O exercício do direito de defesa durante a etapa investigativa é parcialmente restringido. Embora nos
últimos anos a atuação do defensor técnico e o seu acesso aos autos do inquérito tenham sido
progressivamente assegurados,22 ainda inexiste regulamentação sobre investigação defensiva e a
possibilidade de efetiva produção de provas defensivas em tal momento é limitada.23
Como regra, a investigação ocorre por meio de um inquérito policial e aqui aponta-se uma questão
caraterística do processo penal brasileiro: a figura do delegado. Trata-se de um agente policial de
nível superior, responsável pelo desenvolvimento do inquérito e, portanto, por orientar a
investigação. Ao final, o delegado apresenta relatório da investigação, que é enviado ao Ministério
Público, que decidirá se oferece a denúncia ou pede o arquivamento ao juiz.24 Portanto, a autoridade
policial, em termos legais, não possui discricionariedade para decidir o que investigar ou arquivar
autos de inquéritos, pois tudo deve ser submetido ao Judiciário.25
Há discussão sobre a atuação do Ministério Público em relação ao inquérito policial. Afirma-se que,
como responsável pela acusação, também deve dirigir as investigações, possuindo, assim, maior
controle sobre os rumos do inquérito policial. Contudo, especialmente diante de resistências da
categoria dos delegados, ainda se discute o poder do MP em relação à investigação policial e à
independência do delegado.26 Por outro lado, o STF declarou a constitucionalidade de investigações
realizadas diretamente pelo MP, sem intermédio da polícia.27
Vale ressaltar que até recentemente não havia no CPP (LGL\1941\8) brasileiro a figura do juiz de
garantias e que o julgador da fase processual tinha a sua competência determinada pelo critério da
prevenção, ou seja, o mesmo juiz que acompanhava o inquérito e, eventualmente, decidia sobre
medidas cautelares ou investigativas, continuava responsável pelo processo e pelo posterior
julgamento.29 Contudo, em dezembro de 2019 foi promulgada a Lei 13.964/19 (LGL\2019\12790),
que alterou o CPP (LGL\1941\8) para criar a figura do juiz de garantias, determinando ser ele o
responsável por atos decisórios na fase investigatória e, consequentemente, impedido de julgar o
mérito do processo penal posteriormente. Tal representativa inovação demandara regulamentação
pelos Tribunais, que certamente gerará relevantes debates na jurisprudência e na doutrina.30
Atualmente, a eficácia dos novos dispositivos está suspensa por decisão cautelar do Min. Luiz Fux
em sede das ADIs ajuizadas ao Supremo Tribunal Federal, onde se questiona a constitucionalidade
de tal alteração.31
Como regra, a ação penal é de iniciativa pública, sendo iniciada pelo Ministério Público por meio de
uma denúncia. Nesses casos, afirma-se que vige no Brasil o princípio da obrigatoriedade, de modo
que, havendo elementos probatórios suficientes a indicar a ocorrência de um crime (justa causa), o
processo penal deve necessariamente ser iniciado por meio da acusação.32 Ou seja, na visão
majoritária e tradicional, inexistiriam espaços de oportunidade ou discricionariedade ao MP, em que a
denúncia poderia deixar de ser oferecida por critérios distintos da existência/comprovação de crime.
33
Em relação à fase de juízo, o julgamento é, em regra, realizado em primeiro grau por somente um
juiz togado.34 O júri é excepcional, somente para crimes dolosos contra a vida.35 O procedimento
penal ordinário brasileiro é eminentemente escrito, havendo um momento de oralidade na “audiência
de instrução de julgamento”, quando se ouvem testemunhas, peritos e réus (art. 400, CPP
(LGL\1941\8)). Contudo, em geral, todos os demais atos são escritos e, como já exposto, atos da
investigação preliminar também podem ser considerados pelo julgador na sentença.
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Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
Embora se afirme que a liberdade deve ser a regra durante o processo,36 o Brasil apresenta
percentuais elevados de presos cautelares, girando em torno de 40% do total de pessoas
segregadas.37 Recentemente, a partir de decisões do STF, passou a ser obrigatória a realização de
audiência de custódia para o controle de prisões em flagrante, em no máximo 24h após a prisão.38
Costuma-se afirmar que o sistema recursal brasileiro possui um número excessivo de recursos
cabíveis em matéria penal. A Constituição brasileira de 1988 afirma que “ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (art. 5º, LVII, CF (LGL\1988\3)).
Assim, a execução de uma pena somente pode se iniciar após o exaurimento de todos os recursos,
de modo que a segregação antes do trânsito em julgado seria autorizada quando motivadamente se
decretar prisão preventiva ou temporária. Tal posição foi recentemente reiterada no julgamento das
ADCs 43, 44 e 54, em que o Plenário da Corte, em votação apertada (6x5), declarou a
constitucionalidade do art. 283 do CPP (LGL\1941\8) e proibiu a execução provisória da pena após o
julgamento por Tribunal de segundo grau.39
A sentença condenatória ou absolutória pode ser revista por tribunal de segundo grau por meio do
recurso de apelação. Trata-se de meio de impugnação sem maiores formalidades e requisitos, que
devolve toda a matéria para reexame, de modo escrito e sem imediação. Embora o CPP
(LGL\1941\8) autorize a reprodução de provas em segundo grau, tal dispositivo quase nunca é
utilizado na prática. Portanto, decide-se o recurso com base nos elementos produzidos pelo juiz de
primeiro grau e documentados nos autos do processo.40
Pode-se afirmar que os mecanismos negociais não são generalizados no processo penal brasileiro,
atualmente sendo cabíveis somente em casos específicos e a partir de critérios regulados em Lei. Na
doutrina brasileira, define-se justiça criminal negocial como
“modelo que se pauta pela aceitação (consenso) de ambas as partes – acusação e defesa – a um
acordo de colaboração processual com o afastamento do réu de sua posição de resistência, em
regra impondo encerramento antecipado, abreviação, supressão integral ou de alguma fase do
processo, fundamentalmente com o objetivo de facilitar a imposição de uma sanção penal com
algum percentual de redução, o que caracteriza o benefício ao imputado em razão da renúncia ao
devido transcorrer do processo penal com todas as garantias a ele inerentes”.41
A Lei 9.099/95 (LGL\1995\70) prevê dois mecanismos negociais para espécies de criminalidade
denominadas pequenas e médias.42 A “transação penal” (art. 76) é um acordo que pode ser feito nas
infrações de menor potencial ofensivo (crimes com pena máxima de até 2 anos), possibilitando a
imposição de penas alternativas (não prisão) antes mesmo da abertura formal do processo, sem a
caracterização de maus antecedentes ao investigado. A suspensão condicional do processo (art. 89)
é um mecanismo que permite a suspensão do processo para que o réu cumpra condições (medidas
alternativas, sem prisão) e seja supervisionado por determinado período, ocorrendo a extinção de
sua punibilidade após tal lapso temporal.
Além dos institutos introduzidos em 1995, a colaboração premiada destaca-se no cenário negocial
brasileiro. Embora tenha sobressaído para a população em geral em tempos recentes, diversas Lei
previam e até hoje preveem a delação premiada para diversas espécies de criminalidade: crimes
hediondos (Lei 8.072/90 (LGL\1990\38)), crimes contra o sistema financeiro (Lei 7.492/86
(LGL\1986\17), conforme alteração da Lei 9.080/95 (LGL\1995\698)), lavagem de dinheiro (Lei
9.613/98 (LGL\1998\81)), extorsão mediante sequestro (CP (LGL\1940\2), inserido pela Lei
9.269/1996 (LGL\1996\48)), proteção à vítima e testemunha (Lei 9.807/99 (LGL\1999\119)),
entorpecentes (Lei 11.343/2006 (LGL\2006\2316)).
concessão de benefício a réu que prestasse efetiva colaboração à persecução penal, ou seja, o
aspecto penal material da delação premiada, mas inexistia qualquer previsão sobre regras
procedimentais ao mecanismo negocial.43 Assim, no Brasil já era autorizada a colaboração premiada
antes da Operação Lava Jato, mas havia maior insegurança e falta de previsibilidade na realização
dos atos de cooperação pelo réu: cada juiz adotava um procedimento distinto, inexistindo regra sobre
a concreta obtenção do benefício após a realização de atos autoincriminatórios pelo acusado.
Em dezembro de 2019, foi promulgada a Lei 13.964/19 (LGL\2019\12790) que, além de diversas
outras alterações no sistema penal brasileiro, inseriu o acordo de não persecução penal no Código
de Processo Penal, em termos semelhantes ao anteriormente previsto na Resolução do CNMP.47
Nos termos do art. 28-A, “não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal
e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução
penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”, com a
possibilidade de imposição de condições que não envolvam a restrição à liberdade do indivíduo. Tal
mecanismo possui uma abrangência razoavelmente ampla, pois grande parte dos tipos penais
brasileiros possuem pena abstrata mínima inferior a 4 anos, o que acarretará uma expansão da
justiça criminal negocial no Brasil. Contudo, ainda não há a possibilidade de condenação ou
imposição de prisão sem o processo penal, somente a partir do consenso do réu.
Além disso, vale citar o projeto de lei que originou a já mencionada recente Lei 13.964/19
(LGL\2019\12790). O governo federal eleito em 2018 apresentou projeto de lei com o objetivo de
alterar diversos aspectos da legislação penal e processual penal do Brasil, denominado “Pacote
anticrime”.50 Além do “acordo de não persecução penal” anteriormente descrito, almejava-se a
criação de um “acordo penal”, o que autorizaria a imposição de sanções penais, inclusive prisão, em
qualquer espécie de crime, sem qualquer limitação pela gravidade ou pela pena abstrata cominada.
Ou seja, seria inserido mecanismo que potencialmente possibilitaria a generalização da justiça
criminal negocial no processo penal brasileiro. As críticas apresentadas a tal proposta foram intensas
51
e findaram na exclusão do dispositivo em parecer de comissão legislativa preliminar. De qualquer
modo, a presença constante de propostas legislativas no sentido de ampliar os mecanismos
negociais demonstra a tendência de generalização do sistema na justiça criminal brasileira.
Após analisar o cenário geral da justiça criminal negocial na justiça brasileira e as suas tendências
de expansão, devemos examinar especificamente o regramento da colaboração premiada.
Inicialmente, será apresentado o panorama normativo atual, a partir das disposições contidas na Lei
12.850/13 (LGL\2013\7484). Contudo, em seguida, a partir de análise da jurisprudência de Tribunais
Superiores e de acordos firmados na Operação Lava Jato, serão descritos os contornos práticos que
efetivamente têm determinado a realização de acordos em casos de operações de persecução penal
de delitos de colarinho branco.
Contudo, tal instituto também é classificado como um “negócio jurídico processual”,53 em que a
defesa recebe um benefício (redução de pena ou até perdão judicial, por ex.) em troca de sua
colaboração ao Estado, o que se dá a partir de renúncias a importantes direitos fundamentais, como
a não produzir prova contra si mesmo e à defesa, de um modo amplo, visto que o réu se conforma
com a pretensão acusatória.54 Pensa-se, portanto, que, embora apresente certas distinções, a
colaboração premiada pode ser definida como uma espécie de justiça criminal negocial.55
“Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que
dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
IV – a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
Da leitura de tais dispositivos, pensa-se que a lógica inserida na legislação seria no sentido de
estruturar um sistema negocial limitado, com benefícios específicos e resultados esperados
determinados, ou seja, com uma margem de negociação delimitada.56 Ao prever como primeiro
benefício possível a redução de pena em até 2/3, a Lei 12.850/13 (LGL\2013\7484) parece
determinar que o acordo indicaria a redução de pena acordada pelas partes, mas a dosimetria da
sanção continuaria a ser realizada pelo julgador.57
Afirma-se que, se o réu cumpriu os termos do acordo e realizou colaboração efetiva, consolida-se um
direito subjetivo ao benefício previsto no acordo, ao qual o julgador resta vinculado.59 Nesse sentido,
o STF assentou no HC 127.483:
“(...) caso se configure, pelo integral cumprimento de sua obrigação, o direito subjetivo do
colaborador à sanção premial, tem ele o direito de exigi-la judicialmente, inclusive recorrendo da
sentença que deixar de reconhecê-la ou vier a aplicá-la em desconformidade com o acordo
judicialmente homologado, sob pena de ofensa aos princípios da segurança jurídica e da proteção da
confiança”.60
Ademais, vale destacar também a determinação no sentido de que o julgador não pode participar
das negociações do acordo (art. 4º, § 6º), o que a doutrina destaca como mecanismo de proteção à
imparcialidade,61 e de que “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador” (art. 4º, § 16), que consolida uma “regra de prova legal
negativa” 62 em razão de uma desconfiança sobre a confiabilidade de tais elementos. Sem dúvidas,
inúmeras discussões surgem de tais previsões e das demais aportadas pela Lei 12.850/2013
(LGL\2013\7484), contudo neste trabalho pretende-se focar na problemáticas relaciona às cláusulas
dos acordos, especialmente nas previsões de benefícios e deveres aos colaboradores, e da
corriqueira desatenção aos limites previstos na legislação atual.
Como exemplo, em um dos termos homologados, fixou-se que, ao se atingir o montante de 30 anos
de prisão nas penas unificadas em sentenças definitivas, a sanção imposta seria cumprida “em
regime fechado por lapso não superior a 5 (cinco) anos e não inferior a 3 (três) anos”, com posterior
progressão “diretamente para o regime aberto, mesmo que sem o preenchimento dos requisitos
legais” (cláusula 5ª, incisos I, II, III e V, acordo na Pet. 5.244 STF). De modo semelhante, em outra
colaboração determinou-se pena de prisão domiciliar por um ano (com tornozeleira eletrônica); zero
a dois anos de privação de liberdade em regime semiaberto; e posterior progressão para regime
aberto para o restante da pena (cláusula 5ª, inc. I, acordo na Pet. 5.210 STF).
Em termos posteriores (Pet 6.138 STF), regrou-se de modo mais detalhado as características dos
denominados “regimes diferenciados” que beneficiam os colaboradores no cumprimento das
sanções acordadas. Foram juntados ao termo da colaboração dois anexos, em que se apontou as
condições do “regime fechado domiciliar diferenciado” (em substituição ao regime fechado previsto
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Além disso, as práticas negociais brasileiras também têm autorizado cláusulas que admitem a
manutenção de bens originários das atividades ilícitas em poder do acusado ou de seus familiares.
Em âmbito da operação Lava Jato, firmou-se acordo que permitiu a permanência de bens
produtos/proveitos de crimes com familiares do delator, como carros blindados e imóveis, sob a
justificativa de caracterizarem “medida de segurança durante o período em que o colaborador estiver
preso” (cláusula 7ª, §§ 3º, 4º, 5º, e 6º, acordo na Pet. 5.244 STF).
Esses dispositivos foram impugnados, perante o STF, por corréus delatados nas colaborações
premiadas. Contudo, no HC 127.483, a corte sustentou a sua legalidade por três motivos: a) as
convenções de Mérida e Palermo, introduzidas no ordenamento brasileiro, autorizam tais medidas a
partir de uma interpretação teleológica de seus dispositivos; b) a partir da lógica do “quem pode o
mais, pode o menos”, já rebatida anteriormente, não haveria impedimento a outros tipos de
benefícios, ao passo que pode ser concedido até o perdão judicial ou o não oferecimento da
denúncia; e, c) tendo em vista que o colaborador tem direito à proteção, o que será garantido pelo
Estado posteriormente, não há motivo para vedar medidas imediatas nesse sentido.
Além das obrigações previstas como possíveis no art. 4º da Lei 12.850/13 (LGL\2013\7484), que
devem ser especificadas no termo da colaboração premiada, a prática nos pactos firmados no
âmbito da operação Lava Jato tem introduzido cláusula prevendo um dever de colaborar
“permanente” e “genérico”. Nessa perspectiva, nos acordos da operação Lava Jato tem sido prevista
cláusula que impõe ao colaborador “cooperar sempre que solicitado, mediante comparecimento
pessoal a qualquer das sedes do MPF, da Polícia Federal ou da Receita Federal, para analisar
documentos e provas, reconhecer pessoas, prestar depoimentos e auxiliar peritos na análise pericial”
(cláusula 10ª, c, acordo na Pet. 5.244 STF; de modo semelhante, cláusula 12, alínea d, Pet. 7.003
STF). Assim, o acusado torna-se auxiliar da persecução penal, com o objetivo de utilizar seu
conhecimento para facilitar a interpretação de documentos e o prosseguimento da investigação.
Também tem sido prevista cláusula de “dever genérico/geral de cooperar”, que amplia a enumeração
de obrigações ao colaborador, tornando o rol previsto no acordo meramente exemplificativo (cláusula
10ª, § 1º, acordo na Pet. 5.244 STF; cláusula 15, parágrafo único, acordo na Pet. 5.210 STF;
cláusula 8ª, acordo na Pet. 5.952 STF; cláusula 15ª, acordo na Pet. 6.138 STF, cláusula 14, Pet.
7.003 STF).
Diante de tal cenário, há quem defenda a ampla possibilidade de regulação de cláusulas (benefícios
e deveres), ainda que não previstos na legislação atual. Conforme Andrey Mendonça, deve-se
admitir analogia in bonam partem e não vinculação à legalidade estrita, traçando os seguintes
critérios:
“(i) o benefício não pode ser expressamente vedado por lei; (ii) deve haver relativa cobertura legal,
permitindo a analogia, embora sejam possíveis adaptações ao caso concreto; (iii) o objeto do acordo
deve ser lícito e moralmente aceitável; (iv) deve respeitar os direitos fundamentais e a dignidade da
pessoa humana; (v) deve haver razoabilidade na concessão do princípio (adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito); e (vi) deve haver legitimidade do Ministério Público para
conceder o benefício”.64
Por outro lado, há quem clame por uma “cultura de legalidade dos benefícios”,65 de modo a
assegurar a correspondência entre aquilo proposto no acordo e a posterior concretização do
benefício no sentenciamento. Segundo Silva Jardim, “o Ministério Público não pode oferecer ao
delator ‘prêmio’ que não esteja expressamente previsto na lei específica”, além de que “tal limitação
se refere não só ao tipo de benefício (prêmio), como também se refere à sua extensão, mesmo que
temporal”.66
Sem dúvidas, pode-se afirmar que os acordos de colaboração premiada realizados na Operação
Lava Jato e analisados neste estudo previram cláusulas com benefícios e deveres distintos daqueles
autorizados nos termos da Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484). Ou seja, a prática da colaboração
premiada brasileira, ao menos na referida operação que pode ser considerada um padrão marcante
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ao sistema, extrapolou e desconsiderou os limites definidos na legislação, o que foi chancelado pelo
Poder Judiciário, ao menos majoritariamente. Assim, afirma-se que, na prática, adotou-se uma “visão
arrojada” da colaboração premiada prevista na Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484), visto que se
ampliou em muito as possibilidades de negociações em relação às disposições da referida
legislação.67
Em dezembro de 2019 foi promulgada a Lei 13.964/19 (LGL\2019\12790), que inseriu e alterou
dispositivos relevantes sobre colaboração premiada na Lei 12.850/13 (LGL\2013\7484). No que se
relaciona ao aqui explorado, a nova legislação alterou o § 7º do art. 4º, determinando expressamente
que, no momento da homologação do acordo, o juiz deverá analisar
“II – adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 4º e 5º deste artigo,
sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do regime inicial de cumprimento de pena
do art. 33 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (LGL\1940\2) (Código Penal), as
regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984
(LGL\1984\14) (Lei de Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não abrangidos
pelo § 5º deste artigo”.68
Percebe-se, portanto, a tentativa de ressaltar na legislação a visão neste artigo denominada como
limitada, no sentido de que não devem ser oferecidos benefícios destoantes do sistema de penas e
regimes regulados no Código Penal e na Lei de Execução Penal. Ou seja, normativamente
pretendeu-se alterar o que tem sido realizado na prática dos acordos descritos anteriormente. Sem
dúvidas, trata-se de dispositivo relevante, que será amplamente debatido pela doutrina e pela
jurisprudência.
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Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
Embora se concorde que os institutos consensuais brasileiros atuais não podem ser definidos como
“mecanismos de condenação sem processo”, sustenta-se que se conformam a tais características,
de modo a ocasionar o fenômeno de administrativização da justiça criminal em termos semelhantes.
Como exposto, atualmente existem no processo penal brasileiro alguns institutos que se
caracterizam como acordos entre acusação e defesa a partir do consentimento do réu: transação
penal, suspensão condicional do processo, acordo de não persecução penal e colaboração
premiada. Em tal cenário, o Estado oferece incentivos ao imputado para que ocorra uma facilitação à
atuação dos órgãos de investigação e acusação de casos penais.77 Em troca de benefícios, como a
redução da pena, o acusado se conforma com a acusação ou colabora com a persecução penal,
produzindo provas contra terceiros, confessando, devolvendo valores ilicitamente obtidos etc.
De qualquer modo, a partir de incentivos e benefícios oferecidos pelo Estado, o imputado deixa de
opor resistência à persecução penal, o que se dá a partir de acordos entre acusação e defesa no
processo penal. Portanto, pode-se afirmar que no Brasil já existem mecanismos negociais na justiça
criminal, ao passo que “se caracterizam como facilitadores da persecução penal por meio do
incentivo à não resistência do acusado, com sua conformidade à acusação, em troca de
benefício/prêmio (como a redução da pena), com o objetivo de concretizar o poder punitivo estatal de
modo mais rápido e menos oneroso.”78
Sem dúvidas, existem relevantes distinções, o que confirma a tese de que tais influências
internacionais findam em traduções de institutos que se conformam às premissas e à cultura do
ordenamento receptor.79 Não há atualmente no Brasil mecanismos que permitem a ocorrência de
uma condenação formal sem o transcorrer do devido processo.
Contudo, tais mecanismos permitem a imposição de uma sanção penal a partir do consenso do
imputado, de seu aceite e sua conformidade com a acusação. Ou seja, ainda que não haja
condenação formal, autoriza-se a imposição de uma sanção sem processo, sem defesa e sem a
produção de provas, excluindo a necessidade de julgamento com os consequentes direitos e
garantias do réu. Há, portanto, a ampliação dos poderes de atores não judiciais, especialmente do
Ministério Público, que define os termos do acordo e, consequentemente, da sanção aplicada, visto
que, na prática, a atuação judicial para controle do acordo na homologação é formal e, em regra,
superficial ao não adentrar no mérito da culpa do acusado.
Portanto, não se quer aqui reduzir as relevantes distinções entre os mecanismos consensuais
brasileiros e os exemplos estrangeiros semelhantes a plea bargaining, mas conclui-se que o cenário
do Brasil permite verificar fenômeno análogo ao definido por Langer como “administrativização das
condenações criminais”, o que talvez poderia ser aqui denominado, de modo mias geral, de
administrativização da justiça criminal ou das sanções penais.
Com a transação penal, a suspensão condicional do processo, o acordo de não persecução penal e
a colaboração premiada, conforme a maneira que tais institutos são aplicados na prática brasileira,
há a consolidação de um papel maior a atores administrativos, não judiciais, na determinação sobre
a culpa de indivíduos e por quais crimes e penas; e essas decisões são tomadas em procedimentos
que não incluem um julgamento com os consequentes direitos e garantias do réu.
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Pode-se afirmar que os acordos de colaboração premiada na Operação Lava Jato e analisados
neste estudo previram cláusulas com benefícios e deveres distintos daqueles autorizados nos termos
da Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484), ampliando as possibilidades de negociação e a margem de
controle da acusação pelo Ministério Público, o que caracteriza tensão ao princípio da
obrigatoriedade classicamente descrito como regra no processo penal brasileiro.
Embora existam relevantes distinções (o que demonstra a tradução de tais mecanismos comparados
às premissas do ordenamento brasileiro), conclui-se que o cenário do Brasil permite verificar
fenômeno semelhante ao definido por Langer como “administrativização das condenações criminais”,
o que talvez poderia ser aqui denominado, de modo mais geral, de administrativização da justiça
criminal ou das sanções penais.
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IBCCRIM, São Paulo, ano 25, n. 300, p. 3-6, nov. 2017.
3 Sobre tais tendências internacionais: ALKON, Cynthia. Plea bargaining as a legal transplant: a
good idea for troubled criminal justice systems? Transnational Law and Contemporary Problems, v.
19, p. 355-418, abr. 2010; TURNER, Jenia I. Plea barganing across borders. New York: Aspen, 2009;
DAMAŠKA, Mirjan. Negotiated Justice in International Criminal Courts. In: THAMAN, Stephen C.
(ed.). World plea bargaining. Consensual procedures and the avoidance of the full criminal trial.
Durham: Carolina Academic Press, 2010; LANGER, Maximo. Plea bargaining, trial-avoiding
conviction mechanisms, and the global administratization of criminal convictions. Annual Review of
Criminology, 2019.
8 Acordo de colaboração premiada firmado no bojo dos Inquéritos n. 4170 e 3989 do STF. Disponível
em: [http://s.conjur.com.br/dl/delacao-premiada-delcidio-amaral.pdf]. Acesso em: 14.11.2019.
[http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/veja-as-condicoes-do-acordo-de-delacao-de-joesley-da-jbs].
Acesso em: 14.11.2019.
11 LANGER, Maximo. Plea bargaining, trial-avoiding conviction mechanisms, and the global
administratization of criminal convictions. Annual Review of Criminology, 2019. p. 2.
12 NUCCI, Guilherme S. Curso de direito processual penal. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p.
50.
13 Nos termos do art. 156 do CPP (LGL\1941\8) brasileiro, o julgador pode “I – ordenar, mesmo
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida” e “II –
determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante”.
14 Conforme os arts. 12 e 155 do CPP (LGL\1941\8) brasileiro, o inquérito deve ser integralmente
anexado aos autos do processo e o juiz pode considerar seus elementos na sentença, embora isso
não possa ser fundamentação suficiente para condenação: “Art. 12. O inquérito policial acompanhará
a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”; “Art. 155. O juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.
15 Afirmando tratar-se de sistema inquisitivo: COUTINHO, Jacinto Miranda. Introdução aos princípios
gerais do direito processual penal brasileiro. Revista de Estudos Criminais, São Paulo, n. 01, 2001. p.
28; LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 134-135.
19 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 5. ed. São Paulo: RT, 2017. p. 121.
21 LOPES JR., Aury; GLOECKNER, Ricardo J. Investigação preliminar no processo penal. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2014. p. 107-108.
22 Cita-se, por exemplo, a súmula vinculante 14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
do direito de defesa”) e a alteração trazida pela Lei 13.245/2016 (LGL\2016\179), que ampliou a
atuação do advogado no inquérito policial (Disponível em:
[www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13245.htm]. Acesso em: 15.10.2018).
23 Sobre tal cenário, ver: SAAD, Marta. O direito de defesa no inquérito policial. São Paulo: RT,
2004. p. 198-205; CHOUKR, Fauzi Hassan. Garantias constitucionais na investigação criminal. 2. ed.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 124-132; TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias
individuais no processo penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 303-304; LOPES JR., Aury;
Página 15
Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
GLOECKNER, Ricardo J. Investigação preliminar no processo penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2014. p. 468.
24 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 5. ed. São Paulo: RT, 2017. p. 145-150.
25 Art. 17, CPP (LGL\1941\8): “A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”.
26 Em relação a tal debate, ver: LOPES JR., Aury; GLOECKNER, Ricardo J. Investigação preliminar
no processo penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 243-249.
28 LOPES JR., Aury; GLOECKNER, Ricardo J. Investigação preliminar no processo penal. 6. ed.
São Paulo: Saraiva, 2014. p. 258-260.
31 Medida cautelar proferida pelo Min. Luiz Fux como relator das ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305
em 22.01.2020, cassando decisão anterior do Min. Dias Toffoli tomada durante o período de recesso
forense. Mérito ainda pendente de julgamento pelo Plenário do STF (em 03.03.2020).
32 JARDIM, Afrânio Silva. Ação penal pública: princípio da obrigatoriedade. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1998. p. 92-99; FERNANDES, Antonio Scarance. Teoria geral do procedimento e o
procedimento no processo penal. São Paulo: RT, 2005. p. 263. Interpreta-se que o CPP
(LGL\1941\8) brasileiro impõe o princípio da obrigatoriedade nos arts. 42 (“O Ministério Público não
poderá desistir da ação penal”) e 576 (“O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja
interposto”).
34 Nos termos da Constituição brasileira de 1988 (arts. 102 e 105, por exemplo), existem hipóteses
de foro privilegiado (foro por prerrogativa de função), em que pessoas que ocupam funções
relevantes ao Estado são julgadas diretamente por Tribunais colegiado, como Tribunais de Justiça
estaduais, Tribunais Regionais Federal, Superior Tribunal de Justiça ou até pelo Supremo Tribunal
Federal.
36 O Supremo Tribunal Federal já decidiu reiteradamente que não podem existir prisões
automáticas, pelo simples fato do início do processo penal ou pela gravidade abstrata do crime
imputado. Existem duas espécies de prisões cautelares, preventiva (CPP (LGL\1941\8)) e temporária
(Lei 7.960/89 (LGL\1989\41)), que podem ser motivadamente decretadas pelo julgador, a partir de
fundamentos cautelares. Contudo, o CPP (LGL\1941\8) prevê que a prisão preventiva pode ser
decretada para resguardar a “ordem pública” (art. 312), um conceito aberto que permite abusos para
restrição à liberdade sem motivação cautelar, além de que não existem prazos máximos
determinados em lei.
37 Dados fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça referentes ao ano de 2018. Disponível em:
[www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/08/bnmp.pdf]. Acesso em: 13.11.2019.
38 STF, ADPF 347 MC, Plenário, rel. Min. Marco Aurélio, DJe 19.02.2016.
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Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
39 STF, ADCs 43, 44 e 54, Plenário, rel. Min. Marco Aurélio, j. 07.11.2019.
42 “[...] no campo da justiça penal consensual, a lei de 1995 não só regulou a transação prevista na
Constituição, mas também criou o acordo reparatório e a suspensão condicional do processo (
probation).” (GRINOVER, Ada Pellegrini. A marcha do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p.
74). Pensa-se, contudo, que o instituto da composição civil dos danos (art. 72, Lei 9.099/95
(LGL\1995\70)) não se caracteriza como mecanismo negocial, pois envolve acordo entre vítima e
ofensor, sem negociação com o Estado (acusador público).
43 MENDONÇA, Andrey Borges de. A colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei
12.850/13 (LGL\2013\7484)). Revista Custos Legis, v. 4, 2013. p. 2.
45 Sobre isso, ver: CUNHA, R.; BARROS, F.; SOUZA, R.; CABRAL, R. (Coord.). Acordo de não
persecução penal. Salvador: JusPodivm, 2018.
48 Nesse sentido: LEITE, Rosimeire Ventura. Justiça consensual e efetividade do processo penal.
Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p. 203.
49 PRADO, Geraldo. Campo jurídico e capital científico: o acordo sobre a pena e o modelo
acusatório no Brasil – a transformação de um conceito. In: PRADO, Geraldo; MARTINS, Rui Cunha;
CARVALHO, Luis Gustavo Grandinetti. Decisão judicial: a cultura jurídica brasileira na transição para
a democracia. São Paulo: Marcial Pons, 2012. p. 54-56; FREITAS, Jéssica O. F. de. PLS 156/09 e o
acordo para aplicação da pena: avanço ou retrocesso? In: PINTO, Felipe M.; GONÇALVES, Gláucio
F. M. (Coord.). Processo & Efetividade. Belo Horizonte: Initia Via, 2012. p. 22-24; CASARA, Rubens
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processo penal brasileiro. In: COUTINHO, Jacinto de Miranda; CARVALHO, Luis Gustavo
Grandinetti. O novo processo penal a# luz da Constituição: análise crítica do projeto de Lei nº
156/2009, do Senado Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. v. 2. p. 155-157.
50 Sobre o pacote anticrime, ver as edições especiais de abril e maio do Boletim do IBCCRIM.
Disponível em:
[www.ibccrim.org.br/noticia/14463-Boletim-IBCCRIM-lanca-duas-edicoes-especiais-sobre-Pacote-Anticrime].
Acesso em: 13.11.2019.
13.964/19 (LGL\2019\12790) inseriu o art. 3º-A na Lei 12.850/13 (LGL\2013\7484), assentando que
“o acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que
pressupõe utilidade e interesse públicos”.
53 “(...) a colaboração premiada é um negócio jurídico processual, uma vez que, além de ser
qualificada expressamente pela lei como ‘meio de obtenção de prova’, seu objeto é a cooperação do
imputado para a investigação e para o processo criminal, atividade de natureza processual, ainda
que se agregue a esse negócio jurídico o efeito substancial (de direito material) concernente à
sanção premial a ser atribuída a essa colaboração” (STF, HC 127.483/PR, Plenário, rel. Min. Dias
Toffoli, j. 27.08.2015. p. 23-24).
54 Conforme Gabriel Anitua, tais institutos “têm como característica comum a outorga ao Estado
(que é representado pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público) da possibilidade de reduzir a
pena ou, inclusive, perdoar o acusado com base em pactos ou acordos” (ANITUA, Gabriel Ignacio.
En defensa del juicio. Comentarios sobre el juicio penal abreviado y el “arrepentido”. In: ANITUA,
Gabriel I. Ensayos sobre enjuiciamiento penal. Buenos Aires: Del Puerto, 2010. p. 154) (tradução
livre). Sobre isso, ver: BRITO, Michelle B. Delação premiada e decisão penal: da eficiência à
integridade. Belo Horizonte: D’Plácido, 2016. p. 127-133.
55 VASCONCELLOS, Vinicius G. Colaboração premiada no processo penal. 2. ed. São Paulo: RT,
2018. p. 23-28; MARQUES, Antonio S. P. A colaboração premiada: um braço da justiça penal
negociada. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal, n. 60, 2014. p. 47.
56 Conforme Marcos Zilli, “não podem as partes pactuantes ampliar os prêmios para além daqueles
indicados em lei”, pois “aqui impera o princípio da legalidade do conteúdo” (ZILLI, Marcos. No acordo
de colaboração entre gregos e troianos o cavalo é o prêmio. Boletim IBCCRIM, São Paulo, ano 25, n.
300, nov. 2017. p. 4). De modo semelhante, afirmando a submissão do julgador e do acusador à
legalidade estrita: CAPEZ, Rodrigo. A sindicabilidade do acordo de colaboração premiada. In:
MOURA, Maria Thereza A.; BOTTINI, Pierpaolo C. (Coord.). Colaboração premiada. São Paulo: RT,
2017. p. 235.
59 “Homologando o acordo, o juiz não se limita a declarar a sua validade legal, mas também, de
certo modo, assume um compromisso em nome do Estado: ocorrendo a colaboração nos termos
pactuados e sendo ela eficaz, em princípio devem ser outorgadas ao réu colaborador as vantagens
que lhe foram prometidas” (CANOTILHO, J. J. Gomes; BRANDÃO, Nuno. Colaboração premiada:
reflexões críticas sobre os acordos fundantes da Operação Lava Jato. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, São Paulo, v. 133, ano 25, jul. 2017. p. 150).
60 STF, HC 127.483/PR, Trib. Pleno, rel. Min. Dias Toffoli, j. 27.08.2015, p. 63. De modo
semelhante: STF, QO na PET 7.074, Trib. Pleno, rel. Min. Edson Fachin, j. 29.06.2017.
61 COURA, Alexandre C.; BEDÊ JR., Américo. Atuação do juiz no acordo de colaboração premiada
e a garantia dos direitos fundamentais do acusado no processo penal brasileiro. Revista dos
Tribunais, ano 105, v. 969, jul. 2016. p. 150-151; TORTATO, Moacir R. O papel do juiz na delação
premiada. Revista Jurídica da Universidade de Cuiabá e Escola da Magistratura Mato-Grossense, v.
5, jan.-dez. 2017. p. 302.
62 BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2015. p. 458; MENDONÇA,
Andrey B. A colaboração premiada e a criminalidade organizada: a confiabilidade das declarações do
colaborador e seu valor probatório. In: SALGADO, Daniel R.; QUEIROZ, Ronaldo P. (Org.). A prova
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Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
63 LOPES JR., Aury. Prefácio. In: VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Barganha e justiça criminal
negocial: análise das tendências de expansão dos espaços de consenso no processo penal
brasileiro. São Paulo: IBCCrim, 2015. p. 14.
65 QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. p. 259. Sobre a importância de respeito à legalidade: CANOTILHO, J. J. Gomes;
BRANDÃO, Nuno. Colaboração premiada: reflexões críticas sobre os acordos fundantes da
Operação Lava Jato. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 133, ano 25, jul. 2017.
p. 147 e 156-157.
66 JARDIM, Afrânio Silva. Acordo de cooperação premiada. Quais são os limites? Revista Eletrônica
de Direito Processual, Rio de Janeiro, ano 10, v. 17, n. 1, jan.-jun. 2016. p. 3.
67 Adotando tal terminologia, ver: CAVALI, Marcelo Costenaro. Duas faces da colaboração
premiada: visões “conservadora” e “arrojada” do instituto na Lei 12.850/2013 (LGL\2013\7484). In:
MOURA, Maria Thereza A.; BOTTINI, Pierpaolo C. (Coord.). Colaboração premiada. São Paulo: RT,
2017. p. 257.
69 Em sede exemplificativa, aponta-se que o autor delimita diferenças entre os sistemas entre si e
em relação ao modelo norte-americano, como: os poderes probatórios do juiz diante do acordo das
partes na Alemanha, as limitações e consequências do patteggiamento na Itália, a possibilidade de
absolvição e a necessidade de confissão de todos os corréus do delito na Argentina e a
caracterização como um mecanismo alternativo à jurisdição na França (LANGER, Máximo. From
Legal Transplants to Legal Translations. In: THAMAN, Stephen C. (ed.). World plea bargaining.
consensual procedures and the avoidance of the full criminal trial. Durham: Carolina Academic Press,
2010. p. 50-78).
70 “Assim, enquanto as influências norte-americanas no mundo da civil law têm sido inegáveis, ao
menos em seus procedimentos criminais formais, elas não estão produzindo uma forte
‘americanização’, ou adversarialização, da civil law, mas, na verdade, sua fragmentação. Essa
fragmentação se dá ao menos em parte em razão do fato de que os sistemas inquisitoriais
‘traduziram’ as influências adversariais norte-americanas de modos diferentes” (LANGER, Máximo.
From Legal transplants to legal translations. In: THAMAN, Stephen C. (Ed.). World plea bargaining.
Consensual procedures and the avoidance of the full criminal trial. Durham: Carolina Academic
Press, 2010. p. 79) (tradução livre). Também sustentando a tese de fragmentação, nos termos
propostos por Máximo Langer: ARMENTA DEU, Teresa. Sistemas procesales penales. La justicia
penal en Europa y América. Madrid: Marcial Pons, 2012. p. 288.
72 LANGER, Máximo. From legal transplants to legal translations. In: THAMAN, Stephen C. (Ed.).
World plea bargaining. Consensual procedures and the avoidance of the full criminal trial. Durham:
Carolina Academic Press, 2010. p. 39-42.
73 “Especificamente, as transformações que a plea bargaining sofreu quando foi transferida para
essas jurisdições de civil law podem ser entendidas tanto como decisões tomadas pelos ‘tradutores’
Página 19
Colaboração premiada e negociação na justiça criminal
brasileira: acordos para aplicação de sanção penal
consentida pelo réu no processo penal
(i.e., reformadores legais) ou como produto das diferenças estruturais que existem entre as
‘linguagens’ adversarial e inquisitorial” (LANGER, Máximo. From Legal Transplants to Legal
Translations. In: THAMAN, Stephen C. (Ed.). World plea bargaining. Consensual procedures and the
avoidance of the full criminal trial. Durham: Carolina Academic Press, 2010. p. 8) (tradução livre).
74 LANGER, Máximo. Plea bargaining, trial-avoiding conviction mechanisms, and the global
administratization of criminal convictions. Annual Review of Criminology, 2019. p. 16 e nota 33.
75 Ibidem, p. 4, nota 4.
77 Conforme Gabriel Anitua, tais institutos “têm como característica comum a outorga ao Estado
(que é representado pelo Poder Judiciário ou pelo Ministério Público) da possibilidade de reduzir a
pena ou, inclusive, perdoar o acusado com base em pactos ou acordos” (ANITUA, Gabriel I. En
defensa del juicio. Comentarios sobre el juicio penal abreviado y el “arrepentido”. In: ANITUA, Gabriel
I. Ensayos sobre enjuiciamiento penal. Buenos Aires: Del Puerto, 2010. p. 154) (tradução livre).
78 VASCONCELLOS, Vinicius G. Colaboração premiada no processo penal. 2. ed. São Paulo: RT,
2018. p. 26.
79 LANGER, Máximo. From legal transplants to legal translations. In: THAMAN, Stephen C. (Ed.).
World plea bargaining. Consensual procedures and the avoidance of the full criminal trial. Durham:
Carolina Academic Press, 2010. p. 8.
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