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UMA ANÁLISE CRÍTICA DA LEI DOS

CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO


UMA ANÁLISE CRÍTICA DA LEI DOS
CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO

Série Pesquisas do CEJ, 9

Brasília-DF
2002
Copyright © Conselho da Justiça Federal
ISBN 85-85572-66-3
ISSN 0104-6225

Tiragem: 3.300 exemplares

É autorizada a reprodução parcial ou total desde que indicada a fonte.


AGRADECIMENTOS

O Centro de Estudos Judiciários agradece a colaboração dos juízes


federais: Ali Mazloum, Abel Fernandes Gomes, Casem Mazloum e Alexan-
dre Jorge Fontes Laranjeira, pelas sugestões e críticas que em muito contri-
buíram para o aprimoramento dos instrumentos de coleta de dados dedica-
dos aos três grupos de respondentes; dos delegados da Polícia Federal:
Euclides Rodrigues da Silva Filho e Herbert Gasparini de Magalhães, por
participarem do pré-teste para o aprimoramento dos questionários enviados
aos delegados federais e por possibilitarem o envio dos questionários aos
demais delegados federais através do malote do Departamento de Polícia
Federal; dos procuradores da República: Osnir Belice e Luís Wanderley
Gazoto, pela presteza ao participarem do pré-teste desta pesquisa, possibi-
litando assim, o aperfeiçoamento dos questionários dedicados aos procura-
dores da República que atuam na área criminal e da Subprocuradora-Geral
da República Ela Wiecko Volkmer de Castilho, pela atenciosa revisão e
sugestões apresentadas para o aprimoramento do relatório de pesquisa.
APRESENTAÇÃO

O culto e dedicado Ministro Milton Luiz Pereira, Coordenador-Geral


da Justiça Federal e Diretor do Centro de Estudos Judiciários, honrou-me
com o convite para fazer a apresentação do relatório relativo à pesquisa “Uma
análise crítica da Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro”, que dá conti-
nuidade às publicações da Série Pesquisas, do Centro de Estudos Judiciários.
Em rigor, a obra apresenta-se por si só, não apenas pelo prestígio do
Órgão idealizador, mas porque o conteúdo, críticas e sugestões, nela estam-
pados, são da mais alta qualidade.
O certo, todavia, é que não posso senão sentir grande honra e prazer
nesta tarefa.
A alegria do convite tornou-se maior quando terminei a leitura dos ori-
ginais.
Constatei estar diante de um lúcido estudo sobre tema palpitante de
Direito Criminal.
O procedimento pelo qual o criminoso transforma recursos ganhos em
atividades ilegais, em ativos com origem aparentemente legal, constitui o que a
legislação vigente denomina “lavagem de dinheiro”.
Trata-se de prática geralmente complexa, envolvendo inúmeras transa-
ções, que são utilizadas para ocultar a origem dos ativos financeiros e permitir
sejam eles usados sem o comprometimento dos criminosos. A dissimulação
configura elemento essencial para a operação que envolva dinheiro proveni-
ente de um crime antecedente.
A lavagem de dinheiro e os crimes a ela correlatos, nos últimos anos,
tornaram-se delitos que extrapolam regiões ou países, exteriorizando-se além
das fronteiras nacionais, desestruturando sistemas financeiros, comprometen-
do atividades econômicas e minando políticas sociais.
O tema tornou-se objeto de inúmeras discussões e conferências pelo
mundo, sendo objeto de inúmeros acordos e tratados internacionais. Tudo a
demonstrar a preocupação dos países signatários com o problema.
Trata-se de uma ameaça global crescente e as medidas para o controle
do delito constituem-se no escopo de um desmesurado esforço internacional.
Numa quadra de meteórico avanço tecnológico e globalização, a lava-
gem de dinheiro pode comprometer a estabilidade financeira dos países, mi-
nando a confiança pública em sua integridade.
Assim, evidencia-se um problema mundial, que pode envolver transações
internacionais, circulação de dinheiro através de fronteiras, assim como a lava-
gem de recursos, em um país, provenientes de crimes cometidos em outro.
O recente aumento da cooperação internacional é positivo e o Brasil
está presente nesse cenário, integrando os principais grupos que atuam no
combate a esse tipo de criminalidade.
O Brasil, em março de 1998, dando efetividade a compromissos assu-
midos desde a assinatura da Convenção de Viena de 1988, editou a Lei n.
9.613, a qual representa significativo avanço na questão, pois tipificou o crime
de lavagem de dinheiro como crime autônomo, permitindo o bloqueio e a
perda dos recursos ilegalmente obtidos, facilitando, assim, a necessária coo-
peração internacional.
O Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, sen-
sível aos inúmeros prejuízos que os crimes de lavagem de dinheiro acarretam
à ordem institucional, econômica e social do País, em boa hora promoveu a
ampla pesquisa, acrescido de um juízo crítico, junto à Polícia Federal, ao Mi-
nistério Público Federal e aos juízes federais, visando ao aprimoramento da
legislação concernente, à efetiva aplicabilidade da Lei n. 9.613/98 e ao exame
de institutos jurídicos nela contidos.
Não tenho a menor dúvida de que se trata de um estudo inédito, que
apresenta propostas concretas quanto à referida lei, detectando deficiências
legislativas e institucionais, que merecem toda a atenção.
É preciso que todos se apercebam da gravidade do problema, princi-
palmente porque a lavagem de dinheiro parece distante de nossa realidade.
Assim, o Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal, por meio
da sua área de Pesquisas, junta-se a outras instâncias dos Poderes Constituí-
dos, que cuidam da implementação de políticas nacionais, voltadas para o
combate à lavagem de dinheiro, dado que o seu controle depende, dentre
outras providências, da participação de toda a sociedade.
Em suma, a obra, agora publicada, faz com que palmilhemos, critica-
mente, os caminhos da Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro, com suas
encruzilhadas, desvios, altos e baixos, chegando ao objetivo almejado: uma
obra de real valor, atualizada, que será de invejável utilidade para os estudio-
sos e operadores do Direito Penal.

Gilson Dipp
Ministro do STJ
SUMÁRIO

Introdução
Objetivo geral
Objetivos específicos
Introdução ao crime de lavagem de dinheiro
Caracterização do crime de lavagem de dinheiro na Lei
n. 9.613/98
Metodologia
Plano amostral
Coleta de dados
Análise dos dados
Características da população estudada
Participação em eventos e cursos
Incidência dos crimes de lavagem de dinheiro
Sigilo bancário
Constitucionalidade da lei
Liberdade provisória e fiança
Aplicabilidade da Lei n. 9.613/98
Objetivos normativos da Lei n. 9.613/98
Abrangência da lei
Estruturas dos órgãos competentes
Obrigações de comunicar as operações financeiras e
demais transações
Delação premiada
Sanções administrativas
Inversão do ônus da prova
Prazo de 24 horas para comunicar as operações
Dificuldades, sugestões e comentários
Conclusão
Bibliografia
Anexos
Anexo A. Instrumento de coleta de dados dos delegados da
Polícia Federal
Anexo B. Instrumento de coleta de dados dos procuradores da
República
Anexo C. Instrumento de coleta de dados dos juízes federais
LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1.b Quantidade de questionários enviados e respondidos


pelos procuradores da República, por Região
Quadro 1.c Quantidade de questionários enviados e respondidos
pelos juízes federais de competência criminal ou
concorrente, por Região
Tabela 1.a Opinião dos delegados da Polícia Federal sobre o
sigilo bancário, segundo a idade e o tempo como
delegado federal
Tabela 1.b Opinião dos procuradores da República sobre o sigilo
bancário, segundo a idade e o tempo como procurador
Tabela 1.c Opinião dos juízes federais sobre o sigilo bancário,
segundo a idade e o tempo como juiz federal
Tabela 2.1.a Proibição da liberdade provisória e da fiança, segundo
a idade e o tempo de carreira como delegado federal
Tabela 2.2.a Se a lei, ao proibir a fiança e a liberdade provisória,
indiretamente adotou em nosso sistema a prisão
compulsória e obrigatória, segundo a idade e o tempo
de carreira como delegado federal
Tabela 2.1.b Proibição da liberdade provisória e da fiança, segundo
a idade e o tempo de carreira como procurador da
República
Tabela 2.2.b Se a lei, ao proibir a fiança e a liberdade provisória,
indiretamente adotou em nosso sistema a prisão
compulsória e obrigatória, segundo a idade e o
tempo de carreira como procurador da República
Tabela 2.1 c Proibição da liberdade provisória e da fiança, segundo
a idade e o tempo de carreira como juiz federal
Tabela 2.2.c Se a lei, ao proibir a fiança e a liberdade provisória,
indiretamente adotou em nosso sistema a prisão
compulsória e obrigatória, segundo a idade e o tempo
de carreira como juiz federal
Tabela 3.a Estrutura da Polícia Federal para o combate aos crimes
de lavagem de dinheiro, segundo a idade e o tempo de
carreira como delegado federal
Tabela 3.b Estrutura do Ministério Público Federal para o combate
aos crimes de lavagem de dinheiro, segundo a idade e o
tempo de carreira como procurador da República
Tabela 4.a Obrigação de comunicar as operações financeiras e
demais transações, segundo a idade e o tempo de
serviço dos delegados da Polícia Federal
Tabela 4.b Obrigação de comunicar as operações financeiras e
demais transações, segundo a idade e o tempo de
serviço dos procuradores da República
Tabela 4.c Obrigação de comunicar as operações financeiras e
demais transações, segundo a idade e o tempo de
serviço dos juízes federais
Tabela 5.a A opinião dos delegados da Polícia Federal sobre a
delação premiada prevista no art. 1o, § 5o, da
Lei n. 9.613/98, segundo a idade e o tempo como
delegado federal
Tabela 5.b A opinião dos procuradores da República sobre a
delação premiada prevista no art. 1o, § 5o, da Lei
n. 9.613/98, segundo a idade e o tempo como
procurador da República
Tabela 5.c A opinião dos juízes federais sobre a delação premiada
prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98, segundo a
idade e o tempo como juiz federal
Tabela 6.a Sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho dos
delegados da Polícia Federal
Tabela 6.b Sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho dos
procuradores da República
Tabela 6.c Sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho dos
juízes federais
Tabela 7.a Inversão do ônus da prova da licitude da origem
dos bens, direitos ou valores apreendidos ou
seqüestrados, segundo a idade e o tempo como
delegado federal
Tabela 7.b Inversão do ônus da prova da licitude da origem dos
bens, direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados,
segundo a idade e o tempo como procurador da
República
Tabela 7.c Inversão do ônus da prova da licitude da origem dos
bens, direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados,
segundo a idade e o tempo como juiz federal
Tabela 8.a Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo
como delegado federal
Tabela 8.b Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo
como procurador da República
Tabela 8.c Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo
como juiz federal
Quadro 3 Dificuldades relacionadas à questão processual e
probatória apontadas pelos delegados federais para
investigar os crimes de lavagem de dinheiro
Quadro 4 Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e
materiais apontadas pelos delegados federais para
investigar os crimes de lavagem de dinheiro
Quadro 5 Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos
delegados federais para investigar os crimes de
lavagem de dinheiro
Quadro 6 Dificuldades relacionadas à questão processual e
probatória apontadas pelos procuradores da
República para denunciar os crimes de lavagem de
dinheiro
Quadro 7 Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e
materiais apontadas pelos procuradores da República
para denunciar os crimes de lavagem de dinheiro
Quadro 8 Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos
procuradores da República para denunciar os crimes
de lavagem de dinheiro
Quadro 9 Dificuldades de ordem probatória e processual
apontadas pelos juízes federais para punir os crimes
de lavagem de dinheiro
Quadro 10 Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e
materiais apontadas pelos juízes federais para
punir os crimes de lavagem de dinheiro
Quadro 11 Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos
juízes federais para punir os crimes de lavagem
de dinheiro
Quadro 12 Sugestões dos delegados federais acerca do que
poderia ser implementado pela Polícia Federal para
que os crimes de lavagem sejam investigados com
maior eficácia relacionados aos recursos humanos e
materiais
Quadro 13 Sugestões dos delegados federais acerca do que
poderia ser implementado pela Polícia Federal
para que os crimes de lavagem sejam investigados
com maior eficácia relacionados à integração entre
órgãos
Quadro 14 Sugestões dos procuradores da República sobre o
que poderia ser implementado para que os crimes de
lavagem sejam denunciados com maior eficácia
relacionados aos recursos humanos e materiais
Quadro 15 Sugestões dos procuradores da República sobre o
que poderia ser implementado para que os crimes de
lavagem sejam denunciados com maior eficácia
relacionados à integração entre órgãos
Quadro 16 Sugestões dos procuradores da República sobre o
que poderia ser implementado para que os crimes de
lavagem sejam denunciados com maior eficácia
relacionados à questão processual e probatória
Quadro 17 Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia
ser implementado pelo Judiciário para que os
crimes de lavagem sejam punidos com maior
eficácia relacionados à questão processual e
probatória
Quadro 18 Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia
ser implementado pelo Judiciário para que os crimes
de lavagem sejam punidos com maior eficácia
relacionados aos recursos materiais e humanos
Quadro 19 Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia ser
implementado pelo Judiciário para que os crimes de
lavagem sejam punidos com maior eficácia
relacionados à integração entre órgãos
Quadro 20 Comentários dos delegados da Polícia Federal
Quadro 21 Comentários dos procuradores da República
Quadro 22 Comentários dos juízes federais
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.a Regiões de localização dos delegados da Polícia


Federal respondentes
Gráfico 1.b Universo e amostra dos procuradores da República,
segundo suas Regiões
Gráfico 1.c Universo e amostra dos juízes federais, segundo a
Região e o regime de competência
Gráfico 2.a Tempo de carreira como delegado da Polícia Federal
Gráfico 2.b Tempo de carreira como procurador da República
Gráfico 2.c Tempo de carreira como juiz federal
Gráfico 3.a Idade dos delegados da Polícia Federal
Gráfico 3.b Idade dos procuradores da República
Gráfico 3.c Idade dos juízes federais
Gráfico 4.a Participação dos juízes federais em eventos sobre os
crimes de lavagem de dinheiro
Gráfico 4.b Disciplinas em cursos de pós-graduação sobre os
crimes de lavagem de dinheiro realizadas pelos
juízes federais
Gráfico 5.x Números de IPLs instaurados por ano
Gráfico 6.a Recebimento de notícias-crime a respeito dos crimes
de lavagem de dinheiro pelos procuradores da
República
Gráfico 7.a Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
delegados da Polícia Federal
Gráfico 8.a Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98
apontados pelos delegados da Polícia Federal
Gráfico 7.b Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
procuradores da República
Gráfico 8.b Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98,
apontados pelos procuradores da República
Gráfico 7.c Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
juízes federais
Gráfico 8.c Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98,
apontados pelos juízes federais
Gráfico 9.a A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98, segundo os
delegados da Polícia Federal
Gráfico 10.a Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais,
não têm aplicação prática, segundo os delegados da
Polícia Federal
Gráfico 9.b A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República
Gráfico 10.b Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais,
não têm aplicação prática, segundo os procuradores
da República
Gráfico 9.c A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98, segundo os
juízes federais
Gráfico 10.c Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais,
não têm aplicação prática, segundo os juízes federais
Gráfico 11.a Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
delegados da Polícia Federal
Gráfico 11.b Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República
Gráfico 11.c Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
juízes federais
Gráfico 12.a A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os
delegados da Polícia Federal
Gráfico 12.b A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República
Gráfico 12.c A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os juízes
federais
INTRODUÇÃO

O Centro de Estudos Judiciários, ciente dos grandes prejuízos sociais e


econômicos que os crimes de lavagem de dinheiro causam à ordem institucional
de um país, promoveu, por meio dessa pesquisa, um amplo debate junto à Po-
lícia Federal, ao Ministério Público Federal e aos juízes federais, com o objetivo
de conhecer como essas instâncias de poder percebem o controle jurídico-for-
mal existente da lavagem de dinheiro.
Essa pesquisa também teve como objetivos específicos: possibilitar pro-
postas para o aprimoramento da legislação vigente sobre o crime de lavagem
de dinheiro; pesquisar sobre a aplicabilidade da Lei n. 9.613/98 junto às instân-
cias formais de controle (Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça
Federal); e, finalmente, analisar determinados institutos jurídicos contidos na Lei
n. 9.613/98.
Foram elaborados três tipos diferentes de questionários. Um destinado
aos delegados federais que atuam ou prestam serviço à Divisão de Repressão
ao Crime Organizado e de Inquéritos Especiais – DCOIE. Outro para os pro-
curadores da República que atuam na área criminal. Um terceiro para os juízes
federais que exercem jurisdição criminal e concorrente. Constavam nesses ques-
tionários perguntas sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, sua
aplicabilidade, seus objetivos normativos, sua abrangência, sobre o sigilo ban-
cário, sobre as sanções administrativas impostas às pessoas referidas no art. 9o
da Lei n. 9.613/98; perguntas sobre a proibição da liberdade provisória e da
fiança, a obrigação de comunicar as operações financeiras e demais transações,
a delação premiada, a inversão do ônus da prova da origem dos bens, direitos
ou valores apreendidos ou seqüestrados e o prazo de 24 horas para que as
pessoas sujeitas à Lei dos crimes de lavagem de dinheiro comuniquem as ope-
rações consideradas ilegais e, finalmente, perguntas abertas referentes à inci-
dência do crime de lavagem de dinheiro, as dificuldades práticas enfrentadas
pelos três grupos pesquisados para combater essa criminalidade, bem como o
que poderia ser implementado por esses grupos para melhor combater essa
prática criminosa e, por último, facultou-se ao respondente escrever comentári-
os e informações que considerasse necessários.
A partir dos resultados, pretendeu-se traçar possíveis propostas de refle-
xões quanto à lei que trata dos crimes de lavagem de dinheiro. Objetivou-se,
outrossim, apresentar possíveis deficiências legislativas e institucionais a serem
sanadas. Buscou-se também indicar dificuldades enfrentadas pelos três grupos
de respondentes para enfrentar essa criminalidade, bem como apresentar su-
gestões para aprimorar o controle dessa criminalidade.
Dessa forma, o Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça
Federal, através da Divisão de Estudos e Pesquisas, vem se juntar a outras
instâncias governamentais para oferecer subsídios para enfrentar essa categoria
delitiva emergente que leva ao estabelecimento de monopólios ou de grupos
dominantes, corrompe as instituições legais, compromete a estabilidade do mer-
cado financeiro e, em última análise, afeta a normalidade da organização econô-
mica de um país.
OBJETIVO GERAL

Conhecer a percepção da Polícia Federal, do Ministério Público Fe-


deral e da Justiça Federal sobre o controle jurídico-penal existente da lava-
gem de dinheiro.

Objetivos específicos

a) Possibilitar propostas para o aprimoramento da legislação vigente


sobre o crime de lavagem de dinheiro;
b) Pesquisar sobre a aplicabilidade da Lei n. 9.613/98 junto às ins-
tâncias formais de controle (Polícia Federal, Ministério Público Fe-
deral e os juízes federais);
c) Oferecer subsídios para que a Polícia Federal, o Ministério Públi-
co Federal e a Justiça Federal enfrentem essa criminalidade;
d) Analisar determinados institutos jurídicos contidos na Lei n. 9.613/
98 como: a delação premiada, as sanções administrativas, a inver-
são do ônus da prova, as obrigações de comunicar as operações
financeiras e demais transações;
e) Contribuir para a elaboração de futuras políticas públicas sobre
essa criminalidade.
INTRODUÇÃO AO CRIME DE LAVAGEM
DE DINHEIRO

Vislumbra-se nas sociedades contemporâneas um aumento de diver-


sas formas de delinqüência ligadas ao rápido incremento tecnológico, à so-
fisticação dos serviços financeiros e ao sistema econômico-financeiro dos
países. Diante do problema dessas categorias criminosas emergentes, há
uma enorme preocupação nacional e internacional em formular políticas pú-
blicas específicas para efetivamente combater essa criminalidade especializa-
da, contribuindo, da mesma forma, com o desenvolvimento de estudos cien-
tíficos sobre o assunto.
O Estado Democrático de Direito encontra-se em situação extrema-
mente delicada, diante das grandes dificuldades para encontrar soluções
rápidas e efetivas para combater o crime organizado. Da mesma sorte,
enfrenta grandes dificuldades para investigar atividades criminosas que,
muitas vezes, ganham contornos transnacionais, como é o caso do crime
de lavagem de dinheiro. Esse crime configura-se como um processo de
transformação de uma renda cuja origem é criminosa, em fontes aparente-
mente lícitas. Sem dúvida, trata-se de um crime que atinge tanto a ordem
jurídica, como as empresas legítimas e, em última análise, afeta a organiza-
ção da economia dos países.
Estima-se que empresas de fachada no Brasil lavam por ano cerca
de US$ 10 bilhões por meio de contrabando, tráfico de entorpecentes e
subfaturamento em operações de exportação, segundo dados da Polícia
Federal e do Ministério Público Federal (Jornal do Commercio – RJ,
16/2/2000, caderno A, p. 5).
Essas rendas ilícitas, quando inseridas na ordem econômica de um país,
causam grandes prejuízos devido à concorrência desleal que exercem em re-
lação às empresas legitimamente estabelecidas, bem como atuam nas estru-
turas político-estatais, através do suborno e da corrupção de funcionári-
os públicos e financiamento de campanhas de políticos inescrupulosos e
nos processos econômicos, onde essas rendas ilícitas são usadas para
adquirir o controle e/ou a criação de empresas com fins lícitos (Tigre Maia,
1997, p. x). Nesse último caso, não interessa às empresas financeiras sérias
conviver com organizações criminosas que ameaçam a integridade das insti-
tuições financeiras e comerciais da sociedade, transgredindo normas e con-
venções legais e sociais em níveis nacional e internacional.
A apuração dos crimes de lavagem de dinheiro é extremamente com-
plexa. Nesse sentido, a colaboração de pessoas jurídicas como: bancos,
casas de câmbio, corretoras de valores mobiliários, seguradoras, bolsas de
valores é imprescindível, para que os órgãos de persecução penal tenham
condições de descobrir e investigar os crimes de lavagem de capitais.
A investigação do crime de lavagem de capitais fica comprometida se
não houver a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos suspeitos dos crimes
mencionados, pois, para que haja uma condenação, é preciso reunir as provas
necessárias à elucidação dos fatos. Nesse sentido, nos deparamos com um
direito fundamental garantido pela Constituição Federal no inc. X do art. 5o,
que é o direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas.
Os documentos bancários estão indiretamente incluídos no rol dos di-
reitos constitucionalmente protegidos, já que se referem à vida íntima. Con-
tudo, como aponta Luiz Flávio Gomes (1997, p. 121), todos os direitos
fundamentais admitem limites. A invasão da privacidade justifica-se para
que se proceda a uma investigação criminal ou instrução processual pe-
nal. Um direito fundamental não pode servir para encobrir condutas delituosas
ou interesses pessoais em oposição à ordem pública.
Um estudo aprimorado sobre o crime de lavagem de dinheiro justifi-
ca-se devido ao dinamismo da criminalidade organizada. A movimentação
transnacional de capitais torna-se cada vez mais veloz em virtude dos recur-
sos de informática e da telemática aplicados ao fluxo de informações. Prati-
camente todos os dias surgem novos meios e manobras para burlar os me-
canismos de controle jurídico desse crime.
A legislação brasileira sobre o crime de lavagem e ocultação de bens,
direitos e valores data de 1998. Portanto, bastante recente se comparada
com outros países, como os Estados Unidos, que desde 1950 já estavam
preocupados com a complexidade do crime organizado.
A experiência de outros países “com legislação de primeira, segunda e
terceira gerações”1 em muito pode nos ajudar a examinar esse crime. Mui-
__________________________
1
A chamada “primeira geração” refere-se às legislações inspiradas na Convenção de
Viena, que apenas cuidam da lavagem de dinheiro quando conexa ao tráfico de entorpe-
centes. O Brasil segue o modelo da “segunda geração,” pois discrimina um certo núme-
ro de crimes antecedentes e conexos com o tipo de lavagem de dinheiro. Já a terceira
geração pune a lavagem de dinheiro, qualquer que seja o crime antecedente.
tos países estão direcionando esforços no sentido de combater esse crime
econômico. Todas as políticas públicas que pretendem combater essa práti-
ca delituosa precisam passar por constantes revisões e ajustes, pois em to-
das há pontos fracos e falhas que precisam ser sanadas.
O crime de lavagem de dinheiro está conectado com o crime organi-
zado e com o crime de “colarinho branco”. É um crime que atenta contra o
desenvolvimento econômico, na medida em que leva à sonegação de impos-
tos e ao desmantelamento de empresas legalmente estabelecidas, seja atra-
vés da concorrência desleal, seja através da corrupção das organizações
financeiras e comerciais da sociedade.
A grande quantidade de recursos ilícitos no sistema financeiro e na
economia nacional produz conseqüências desastrosas, tais como as citadas
por Maia (1999, p. 23-24): a) a erosão da legitimidade dos mecanismos
tradicionais de representação democrática e da credibilidade dos repre-
sentantes populares; b) a desmoralização da administração pública, com
a corrupção de seus servidores, reforçando no imaginário social a lide-
rança dos fora-da-lei e o descrédito do aparelho de Estado; c) a impu-
nidade dos criminosos poderosos, desagregadora de valores e geradora
de descrença no sistema judicial; d) a sonegação fiscal, retirando vulto-
sos recursos tributários necessários à implementação de políticas pú-
blicas e, desta maneira, de forma indireta, contribuindo para o incre-
mento das desigualdades sociais; e) a possibilidade de desestruturação
da economia nacional, sobretudo de países do Terceiro Mundo, sequio-
sos por investimentos externos e destituídos de uma legislação protetiva
eficiente, quando tais capitais têm sua origem desvendada; e, ainda, na
sua versão neoliberal mais perversa; f) a crise no sistema financeiro,
quando por sua volatilidade esses ativos abandonam inopinadamente o
país, na busca de maiores lucros ou por receio de medidas repressivas,
desestabilizando o sistema e deixando atrás de si um rastro de quebras,
desemprego e perdas de poupanças populares.
Um dos motivos que dificultam o entendimento dessa criminalidade é
a impossibilidade de colocá-la numa categoria separada dos negócios nor-
mais. De acordo com Chambliss apud Maia (1999, p. 19), a maior parte
da criminalidade não se enquadra em uma categoria separada. Está
estreitamente ligada a uma atividade negocial.
Essa lei é fruto de um compromisso assumido pelo Estado brasileiro
ao assinar a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de
Substâncias Psicotrópicas, em Viena, no ano de 1988, promulgada pelo
Decreto n. 154, de 26/6/91. Nesse sentido, essa lei foi fruto de influências
internacionais. Com certeza, a comunidade internacional cobrará a aplica-
ção dessa lei pelas autoridades brasileiras. Por se tratar de um crime com
contornos transnacionais, na verdade, o combate a essa criminalidade só
pode se tornar efetiva se houver consenso e cooperação internacional.
A comunidade internacional cada vez mais se preocupa com uma pro-
blemática do crime organizado. O crime organizado surge como um dos
focos de atenção no Direito Penal contemporâneo, o que tem contribuído
para o aumento de estudos científicos acerca do assunto, para o desenvolvi-
mento de políticas públicas relacionadas ao tema e para criação de entida-
des e grupos que se preocupam com o alto poder lesivo dessas organiza-
ções criminosas.
O Brasil, ao ratificar a Convenção das Nações Unidas, obrigou-se a
adotar nas legislações nacionais medidas que incriminassem – a conversão
ou a transferência de bens oriundos da atividade criminosa conexa com o
tráfico de substância estupefaciente ou psicotrópica, com a finalidade de
esconder ou encobrir a proveniência ilícita. O acordo também estabelece o
confisco dos produtos do crime ou dos bens e propõe que o sigilo bancário
não seja tão rigoroso.
O art. 7o da Convenção de Viena2 de 1988, sob a epígrafe de auxílio
judiciário, estabelece que: 1 – As partes concedem-se mutuamente, de acor-
do com o presente artigo, o mais amplo auxílio judiciário possível em inves-
tigações, procedimentos criminais e processos judiciais por infrações
estabelecidas de acordo com no 1 do art. 3o. 2 – O auxílio judiciário mútuo
a conceder de acordo com o presente artigo pode ser solicitado para os
seguintes efeitos: a) recolha de testemunhos ou declarações; b) comunica-
ção de atos judiciais; c) realização de buscas e apreensões; d) exame de
objetos e lugares; e) fornecimento de informações e elementos de prova; f)
fornecimento de originais ou de cópias autenticadas de documentos e regis-
tros pertinentes, incluindo documentação bancária, financeira, social e co-
mercial; g) identificação ou detenção de produtos, bens, instrumentos ou
outras coisas para efeitos de prova.
Apesar da palavra lavagem não pertencer ao vocabulário jurídico
brasileiro antes da publicação da Lei n. 9.613/98, a terminologia já foi ado-
tada por outros países como a França, a Bélgica e a Suíça, que adotam a

__________________________
2
Diário da República Portuguesa, I série A, no 205, p. 4.731-4.732 de 6/9/91.
expressão blanchiment de l’argent. Nos Estados Unidos, a expressão uti-
lizada é money laundering e laundering of monetary instruments. Nesse
sentido, o Brasil está empregando a terminologia dominante no exterior.
A movimentação de dinheiro sujo nos sistemas financeiros nos Esta-
dos ao redor do mundo é vultosa. Estima-se que um trilhão de dólares sejam
movimentados mundo afora. Essa gama de dinheiro é capaz de abalar a
estabilidade de alguns governos e de destruir as políticas já estabelecidas.
Segundo dados da imprensa, o dinheiro lavado é reinvestido, em grande
parte, em atividades financeiras, mas também no setor imobiliário, no
comércio e até, de forma mais reduzida, na indústria e no setor
agroalimentar (Arnaldo Wald, 1997, p. 35).
Em muitos casos, o dinheiro oriundo de atividades ilícitas acaba sendo
ocultado na aquisição de ativos financeiros, de bens móveis e imóveis, ou
mesmo empregado em atividades aparentemente lícitas, muitas vezes, com
certa conivência de pessoas ligadas a entidades financeiras que emprestam
seus nomes e suas contas bancárias para compensação de cheques. As in-
vestigações feitas pelo Estados Unidos indicam que as principais insti-
tuições financeiras do Brasil não participam conscientemente de lava-
gem de dinheiro, sendo usadas, contudo, para tanto (Souza Netto, 1999,
p. 45). Ainda de acordo com o mesmo autor (1999, p. 46), as bolsas de
valores, através do Anexo IV, uma instrução do Banco Central que faci-
lita a entrada de recursos externos por isentar de impostos sobre lucros
e as contas CC5 são também instrumentos de lavagem de dinheiro sujo
no Brasil. Outros conseguem enviar o produto do crime para o exterior,
para paraísos fiscais, com ajuda de consultores financeiros.
Uma vez praticada a atividade criminosa, a questão passa a ser de
como gozar com segurança e tranqüilidade das rendas ilícitas, tornando-as
legais. É por essa razão que os infratores procuram a ajuda de consultores
que os auxiliam a ocultar os recursos obtidos ilicitamente e a encobrir as
pistas para que o crime não seja descoberto.
Nosso país foi inserido nos processos internacionais de lavagem, de-
vido a vários fatores decisivos para que esse crime se expandisse, dentre
eles, destacam-se: o trânsito de drogas ilícitas no nosso território, a crise
fiscal e institucional vivenciada no Brasil, o processo inflacionário dos anos
80 e o aumento do mercado informal de trabalho.
As normas penais passam por três fases distintas em sua trajetória.
A primeira consiste em tomar consciência da existência do problema. A
segunda fase consiste em conhecer bem o problema e elaborar uma re-
gulamentação que considere as suas necessidades. A última etapa, e a
mais difícil em nosso país, é colocar em prática a lei e aplicá-la na sua
totalidade.
Dessa forma, adotou-se o modelo clássico de lavagem de dinheiro,
compreendido como processo que engloba três etapas diferenciadas: “a
conversão, a dissimulação e a integração”. Essas etapas são analisadas se-
paradamente por razões didáticas. Segundo Zanchetti apud Maia (1999, p.
37), a lavagem é um processo, suscetível de análise com os instrumentos
da ciência econômica ou da ciência jurídica, mas dificilmente
desdobrável em fases distintas.(...) Com certeza, as definições
legislativas que tentam decompor o processo em fases cronológicas e
logicamente distintas são destinadas à inadequação.
A primeira é a fase da “ocultação”, quando o dinheiro de origem ilícita
passa pela primeira transformação, com vistas a adquirir menos visibilidade.
Nesse momento, existem mais chances de se desvendar o crime de lava-
gem, tendo em vista o pequeno lapso temporal entre o momento do crime e
esta primeira etapa na lavagem do dinheiro “sujo”. E é esta constatação
que fundamenta o dever de cooperação e vigilância das instituições
bancárias e financeiras (Bosworth-Davies e Saltmarsh apud Maia, 1999,
p. 38). Nessa fase, o agente costuma “ocultar” as rendas ilícitas nas institui-
ções financeiras, nos bancos, nas casas de câmbio, aproveitando-se de “in-
termediários”.
A segunda etapa do processo é a “dissimulação”. Nessa fase, o agen-
te busca afastar o máximo possível o dinheiro “sujo” de sua origem, dando-
lhe uma aparência de legalidade. Ocorrem, com freqüência, múltiplas e su-
cessivas operações e transações financeiras, remessas aos paraísos fiscais,
exportações superfaturadas, etc. Por outro lado, cada vez mais atuam
neste passo os consultores financeiros e jurídicos internacionais que
idealizam as operações ilegais, vendem seu know-how, mas não têm
qualquer contato material com os ativos ilícitos (Maia, 1999, p. 39).
A última etapa é a “integração,” ou seja, o capital ilícito retorna ao
mercado através da compra de bens, da aquisição e/ou investimento em
empresas e estabelecimentos lícitos, assim como através do reinvestimento
desse capital obtido em negócios lícitos na própria atividade delituosa, cri-
ando-se um autêntico ciclo econômico.
CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE LAVAGEM
DE DINHEIRO NA LEI N. 9.613/98

A Lei n. 9.613/98 é resultado de esforços conjuntos da comunidade


internacional por meio de vários organismos que, conscientes das conseqüên-
cias lesivas dessa prática ilícita nas esferas econômicas nacionais e transna-
cionais, objetivam conduzir os países a refletirem quanto à relevância do
assunto, assim como quanto à necessidade de estabelecer leis repressivas a
essas práticas. Não há dúvida quanto aos avanços que essa lei trouxe ao
ordenamento jurídico nacional, posto que ela nos aproxima das mais recen-
tes legislações estrangeiras. De fato, hoje em dia, o Direito precisa “dar
respostas” mais rápidas e eficientes para uma criminalidade cada vez mais
dinâmica e organizada.
A Lei n. 9.613/98 tem por finalidades: a) estabelecer um novo tipo
penal denominado lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; b)
preservar o sistema financeiro nacional contra a utilização indevida desse
sistema para a prática das condutas ilegais estabelecidas; c) criar um órgão
colegiado governamental (Coaf) com o objetivo de fiscalizar as atividades
financeiras sujeitas à lavagem de dinheiro.
Conforme a Exposição de Motivos n. 692, de 18/12/96, assinada pelos
Ministros de Estado da Justiça, da Fazenda e das Relações Exteriores, essa
lei tem por finalidade política trazer uma contribuição legislativa (...) ao
País, visando ao combate sistemático de algumas modalidades mais
freqüentes da criminalidade organizada em nível transnacional.
Maia (1999, p. 15) afirma que a Lei Federal n. 9.613/98 pode não ser
a mais eficiente e abrangente, contudo foi a resultante possível do
enfrentamento das forças sociais e políticas que integram nosso Parla-
mento, e, neste sentido, consubstancia significativo avanço. Segundo o
mesmo autor (1999, p. 17) é indispensável a vontade política de fazer
valer a norma, de criar condições materiais e políticas para sua aplica-
ção sem se abandonar o triste fetiche dos Estados cartoriais dominados
pelo tráfico de influência: existe na lei, logo existirá na praxis social.
Essa lei visa a tutelar os sistemas financeiro e econômico do País. A
tutela desses bens jurídicos possibilita conceder um mínimo de garantia e
segurança às operações e transações efetuadas nas esferas econômicas e
financeiras. O outro interesse jurídico tutelado por essa lei é a administração
da Justiça. O ofensor atinge a Justiça enquanto instituição e como função,
pois ele fere o prestígio e a confiança que a instituição deve preservar
(Fragoso, 1988, p. 515).
As condutas ilegais previstas nessa lei realmente dificultam a adminis-
tração da Justiça na identificação da procedência dos objetos materiais do
crime, colocando empecilhos na descoberta dos autores dos crimes primá-
rios. Dessa forma, os autores desses crimes mascaram a origem ilícita dos
bens, ofendendo assim a ordem jurídica estabelecida.
A Lei dos crimes de lavagem de dinheiro prevê uma série de prerro-
gativas e restrições direcionadas à própria administração e às pessoas jurí-
dicas e físicas ali relacionadas. Dessa forma, as pessoas jurídicas e físicas
sujeitas à Lei n. 9.613/98 possuem as seguintes obrigações: identificação
dos clientes; manutenção do cadastro atualizado; registros de algumas tran-
sações; atendimento às requisições do Coaf; atenção às operações “suspei-
tas” e comunicação de tais operações às autoridades competentes.
A necessidade de regulamentação da lei é mencionada por alguns auto-
res como urgente e com características especiais. Oliveira (1998, p. 340)
considera que mesmo após sua regulamentação, será importante não per-
der de vista o caráter interdisciplinar da matéria (que envolve aspectos
jurídicos, econômicos e político-sociais), seus efeitos metaindividuais e
seu perfil que transcende fronteiras (dada a globalização da delinqüên-
cia). O intercâmbio de informações e a coordenação das atividades de
prevenção e repressão serão sempre o fundamento de uma política públi-
ca eficiente e consciente, o que possibilitará o alcance de resultados mais
realistas e justos.
Há, de fato, vários dispositivos da Lei n. 9.613/98 que dependem de
regulamentação. Segundo Mélega apud Souza Netto (1999, p. 186-187),
a dependência de regulamentação de várias matérias3 contidas nessa
lei, pelas autoridades competentes, indica uma ilegítima delegação de
competência do Poder Legislativo ao Executivo, a qual não se ajusta
ao princípio de independência dos poderes, escrito no art. 2o da Carta
Política vigente.

__________________________
3
Os incisos I, II e § 2º e 3º do art. 10 e os incisos I, II e §1o do art. 11 ainda não foram
regulamentados.
O crime de lavagem de dinheiro deve ser compreendido sob a pers-
pectiva de problema social e econômico transnacional para, sob esse enfoque,
ser analisado como instituto jurídico. Esse crime estabelece-se como um
abrangente processo sócio-econômico que acontece em quase todos os
países do mundo.
Quanto à caracterização desse crime, no caso brasileiro, conforme Maia
(1999: 96-97), trata-se (a) crime pluriofensivo, com as mesmas tutelas
jurídicas já enunciadas; (b) perigo concreto, já que em qualquer caso
estas condutas deverão colocar em risco efetivo a administração da Jus-
tiça; (c) formal, ainda que resultando naturalisticamente na conversão
de bens, ativos e valores oriundos dos crimes antecedentes em ativos apa-
rentemente lícitos, a valoração é antecipada para a conduta de conver-
ter, que eventualmente poderá caracterizar situação de crime permanen-
te; (d) subsidiário, eis que, se efetivamente obtida mediante a conversão
a pretendida meta de ocultação ou dissimulação dos ativos ilícitos, a con-
duta não mais estará subsumida neste inciso, mas enquadrar-se-á no tipo
do caput; (e) comum, não se exigindo qualquer qualidade especial do su-
jeito ativo e abrangendo o autor do crime antecedente; (f) de forma livre,
que, em geral, será plurisubsistente, isto quando a modalidade de con-
versão utilizada permitir o fracionamento do iter criminis, e, portanto,
nestes casos, admitindo a forma tentada; e (g) doloso, sob a faceta exclu-
siva de dolo direto revestido de especial fim de agir. Diante deste, fica
afastada a ocorrência sob a forma de dolo eventual.
O crime de lavagem de dinheiro é um crime de conduta e não de
dano. Pelo art. 1o, § 1o, da Lei n. 9.613/98 podem se tornar co-autores
desse crime, todos os que travaram contato com os criminosos. Uma das
críticas de Ives Gandra (1997, p. 29) a essa legislação é o risco que corre
todo o sistema financeiro, empresas e pessoas que participam da movimen-
tação financeira que podem ser enquadradas nos crimes de lavagem de
dinheiro como co-autores. O autor menciona que não há empresa de capi-
tal aberto no mundo, sem exceção, que não tenha uma parcela de di-
nheiro do narcotráfico. Segundo o mesmo autor, essa lei carece de rigor
científico e é imperfeita tecnicamente.
Só poder-se-á enquadrar nos crimes previstos nessa lei quando hou-
ver a consciência da ilicitude da conduta. Dessa forma, é necessário que o
agente saiba da procedência ilícita do dinheiro em movimentação, não pre-
cisando que esse agente tenha absoluta certeza sobre o fato, mas apenas a
consciência do ilícito. Será de suma importância que se verifique no caso
concreto quais os processos que o agente utilizou para lavar o dinheiro
oriundo de fontes ilícitas para que se verifique assim se o dolo (elemento
subjetivo) está presente.
Com relação ao processo e julgamento dos crimes previstos na Lei n.
9.613/98, segue o procedimento comum dos crimes punidos com reclusão,
previstos no Código de Processo Penal. O rito processual será moroso,
principalmente por tratar-se de um crime de elucidação complexa. Não terá
um trâmite rápido como seria desejável.
No art. 2o, II, da Lei dos crimes de lavagem consta que o processo e
o julgamento desses crimes independem dos crimes antecedentes, mesmo
os praticados em outro país. Nesse contexto, essa lei segue o princípio da
autonomia do processo. Não se requer que haja processo do crime antece-
dente para que o autor do crime de lavagem seja condenado. Exige-se a
comprovação da origem ilícita dos recursos ocultos ou lavados. É necessá-
rio que haja a comprovação da ocorrência do crime antecedente previsto
nos incisos do art. 1o dessa lei. Essa exigência é um pressuposto de validade
da própria relação processual. Assim, a punição dos crimes de lavagem
independe da efetiva punição dos crimes antecedentes, contudo, requer-se
a prova da origem ilícita dos recursos lavados.
A competência estadual ou federal para julgar os crimes de lavagem
de dinheiro firmar-se-á através do exame de cada caso concreto. Nesse
sentido, esses crimes serão julgados pela Justiça Federal quando praticados
contra o sistema financeiro e a ordem econômica financeira, ou em detri-
mento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas e quando o crime antecedente for de com-
petência da Justiça Federal, conforme dispõe o art. 2o, inc. III, da Lei n.
9.613, de 3 de março de 1998, que trata da lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores. Dessa forma, a Justiça Federal será competente para co-
nhecer e julgar o caso, quando a lavagem afetar a economia, ferindo assim
os interesses da União.
É dispensável a referência que a Lei n. 9.613/86 dispõe na segunda
parte da alínea a, inc. III do art. 2o, posto que a CF, no art. 109, IV, deter-
minou que as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesses da União ou de suas autarquias e empresas públicas são de
competência da Justiça Federal. Uma lei ordinária não poderia alterar uma
norma constitucional. Havia necessidade de que a competência fosse
estabelecida em relação à primeira parte da alínea a, que trata da competên-
cia da Justiça Federal, quando os crimes forem praticados contra o sistema
financeiro e a ordem econômica financeira
Em caso de conexão entre os crimes de lavagem de dinheiro e os
outros crimes que o precedem, ou mesmo no caso do crime anterior ser da
competência federal, a alínea b do art. 2o da lei em questão vem confirmar o
entendimento predominante na jurisprudência de que os processos reunir-
se-ão no âmbito da Justiça Federal.
O próprio STF já decidiu no RE n. 198.488, 2a T, publicado no DJU
de 13/11/96 que: Tratando-se de crimes contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira, a regra de competência aplicável é a do
inciso VI do art. 109 da CF (....), não a do inciso IV do mesmo disposi-
tivo (....). Desse modo, à falta de previsão legal expressa atribuindo à
Justiça Federal a competência para o julgamento dos referidos delitos,
essa competência será da Justiça Estadual (....).
Na Súmula n. 122 do STJ consta que: compete à Justiça Federal o
processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência
federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código
de Processo Penal, reafirmando o entendimento da Súmula n. 52 do antigo
Tribunal Federal de Recursos.
Serão da competência federal as condutas descritas na Lei dos crimes
de lavagem quando lesarem o sistema financeiro nacional, composto pelos
subsistemas normativo (agências estatais de regulação) e operacional (insti-
tuições financeiras e seus entes associados) ou quando lesarem a ordem
econômico-financeira.
METODOLOGIA

Essa pesquisa teve como instrumentos centrais três tipos diferentes


de questionários destinados a três grupos de respondentes, a saber: os
delegados da Polícia Federal que atuam na Divisão de Repressão ao Cri-
me Organizado e de Inquéritos Especiais – DCOIE e os delegados que
prestam serviço a essa Divisão; os procuradores da República que atuam
na área criminal e os juízes federais que exercem jurisdição criminal. Nos
Estados da Federação onde não há varas criminais, esses questionários
foram enviados para os juízes federais que exercem competência concor-
rente.
O universo dos juízes federais a ser pesquisado compreendeu os juízes
federais titulares e substitutos que exercem jurisdição criminal exclusiva ou
concorrente nas 215 varas pesquisadas. Sendo que, desse montante, 170
varas eram concorrentes e apenas 45 varas eram especializadas, isto é, ex-
clusivamente de competência criminal.
Apesar da estrutura básica dos três tipos de questionário ser a mes-
ma, cada tipo de questionário foi redigido e direcionado segundo a cate-
goria profissional a que foi destinado. Segundo classificação proposta por
Lakatos (1996, p. 92), as perguntas dos três tipos de questionários foram
perguntas de fato relativas ao Estado da Federação, sexo, idade e tempo
de serviço; perguntas de múltipla escolha, em sua maioria, que versa-
vam sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, sua aplicabilidade,
seus objetivos normativos, sua abrangência, sobre o sigilo bancário e so-
bre as sanções administrativas impostas às pessoas referidas no art. 9o da
Lei n. 9.613/98; perguntas tricotômicas 4 sobre a proibição da liberdade
provisória e da fiança, a obrigação de comunicar as operações financeiras
e demais transações, a delação premiada, a inversão do ônus da prova da
origem dos bens, direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados e ao
prazo de 24 horas para que as pessoas sujeitas à Lei dos crimes de lava-
gem de dinheiro comuniquem as operações consideradas ilegais e final-
mente, perguntas abertas, referentes à incidência do crime de lavagem
de dinheiro, as dificuldades enfrentadas pelos três grupos pesquisados para
combater essa criminalidade, bem como o que poderia ser implementado
por esses grupos para melhorar o combate e, por último, facultou-se ao
respondente escrever comentários e informações que considerasse neces-
sários.
Os questionários destinados aos delegados da Polícia Federal da
DCOIE foram enviados pelo malote da Polícia Federal em maio de 2001.
Isso facilitou o envio e o recebimento desses questionários. Do total de
45 questionários enviados, 20 foram respondidos, correspondendo a 44%
do universo – um percentual razoável para esse tipo de pesquisa. Com
relação aos questionários enviados para os procuradores da República,

__________________________
4
Perguntas tricotômicas são aquelas em que o respondente escolhe sua resposta
entre duas alternativas e mais uma opção onde consta “não sei”.
de 156 questionários enviados pelo correio, 65 foram respondidos. A taxa
de retorno dos questionários dos procuradores da República correspondeu
a 41%. Quanto aos questionários destinados aos juízes federais, dentre
279 remetidos, 134 foram respondidos. Isso correspondeu a 48% de
respostas – percentual bastante satisfatório, dada a complexidade da pes-
quisa e o público-alvo pesquisado. Em todos os três grupos, a taxa de
retorno dos questionários gira em torno de 44 %, o que foi considerado
suficiente para a análise por se tratarem de três grupos diferentes de
autoridades.
Os questionários foram enviados aos destinatários mediante ofício-
circular do Coordenador-Geral da Justiça Federal e Diretor do Centro de
Estudos Judiciários. Esse ofício explicitava a pesquisa, seus objetivos e in-
formava que os seus resultados seriam divulgados somente sob forma esta-
tística, sem referência às respostas individuais. Determinou-se também um
prazo para devolução dos questionários. Posteriormente, esse prazo foi di-
latado, pois foi feita a reiteração do envio dos questionários junto aos pro-
curadores da República e junto aos juízes federais para se obter uma
representatividade mais significativa junto a esses grupos.
As informações relativas ao quantitativo de varas especializadas fo-
ram obtidas junto a cada TRF. Foram também utilizados os dados dispo-
níveis na Nominata do site do Conselho da Justiça Federal, de abril de
2001, referentes à lotação dos juízes, para o correto endereçamento dos
questionários. Dessa maneira, foram encaminhados os questionários para
os juízes federais titulares e substitutos das varas selecionadas. As infor-
mações relativas à identificação dos procuradores da República que atu-
am na área criminal e ao seu endereçamento foram obtidas junto à 2a Câ-
mara de Coordenação e Revisão (matéria criminal) do Ministério Público
Federal.
Os dados relativos aos três questionários foram digitados e seus re-
sultados foram apurados por meio do aplicativo de estatística SPSS (Statistic
Package Social Science). Foram feitas tabelas e cruzamentos entre as di-
versas variáveis, o que proporcionou a análise mais abrangente das relações
entre elas.

Plano amostral

Nesta pesquisa não foi possível delinear previamente nenhum plano


amostral estatístico devido à dificuldade em localizar e entrevistar o público-
alvo e, de alguma forma, gerar um mecanismo pelo qual os respondentes se
propusessem a responder ao questionário e, também, devido à dispersão
geográfica desse público.
Por isso, foi realizada uma pesquisa censitária, tentando-se obter o
maior número de respostas possível, com intuito de aproximar ao máximo
os resultados da amostra com o resultado real da população. Dessa forma,
optou-se pelo método da distribuição prévia junto aos juízes federais e aos
procuradores da República, pois temia-se um baixo retorno dos questioná-
rios, o que, felizmente, não ocorreu. Com relação aos delegados federais,
realizou-se um levantamento censitário em decorrência do reduzido número
de delegados federais vinculados à DCOIE.
Coleta de dados

Esta pesquisa abrange o universo dos delegados da Polícia Federal,


dos procuradores da República e dos juízes federais de competência crimi-
nal e concorrente.
O universo dos delegados da Polícia Federal correspondeu a um total
de 45 em todo o Brasil. Cerca de 44% destes responderam o questionário,
sendo 17% da Região Norte, 11% da Região Nordeste, 33% da Sudeste,
6% da Sul e 33% da Centro-Oeste (ver gráfico 1.a).

GRÁFICO 1.A
Regiões de localização dos delegados da
Polícia Federal respondentes (%)
Norte
Centro-Oeste 17%
33% Nordeste
11%

Sul
6% Sudeste
33%

No Brasil, temos um total de 156 procuradores da República atuando


na área criminal e distribuídos por região geográfica, sendo 10% na Região
Norte, 25% na Nordeste, 38% na Sudeste, 14% na Sul e 13% na Centro-
Oeste. O número de respondentes foi de 41% da população, distribuídos
proporcionalmente em suas regiões, bem próximo da proporção do univer-
so apresentado anteriormente (ver gráfico 1.b).
GRÁFICO 1.B
Universo e amostra dos procuradores da República, segundo
suas Regiões (%)
38 38
40
35
30 26 25

25
20 15
14 13
15 11 10 9
10
5
0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste

Amostra Universo

Foram enviados 156 questionários para os procuradores da Repúbli-


ca, obtendo-se 41,6% de respondentes em um total de 65 procuradores,
sendo 11% da Região Norte, 26% da Nordeste, 38% da Sudeste, 9% da
Sul e 15% do Centro-Oeste.

QUADRO 1.B
Quantidade de questionários enviados e respondidos pelos
procuradores da República, por Região
Questionários enviados Questionários respondidos
Região
Nº de procuradores % Nº de procuradores %
Norte 16 10 7 11
Nordeste 37 24 17 26
Sudeste 64 41 25 38
Sul 23 15 6 9
Centro-Oeste 16 10 10 15
Total 156 100 65 100
Os juízes federais com competência criminal e concorrente
correspondem ao montante de 279 juízes, sendo 77% de competência con-
corrente e 23%, criminal. Obteve-se um total de 48% de respostas. Dessas,
77% eram juízes federais com competência concorrente e 23% exclusiva-
mente criminal. Esse quantitativo segue a mesma proporção do universo.
No gráfico 1.c, nota-se que a distribuição entre os juízes, de acordo com a
sua competência e por Região, na amostra é muito parecida com o universo,
havendo apenas algumas diferenças de no máximo 4 pontos percentuais para
mais ou para menos.

GRÁFICO 1.C
Universo e amostra dos juízes federais, segundo a Região e o
regime de competência (%)
25,0% 22,4%
21,1% 19,4%
20,0% 17,9%
14,9%
13,6% 14,3%
15,0%
10,4% 9,0% 11,2%
8,6% 7,2%
10,0% 5,4% 4,5% 5,4%
4,5% 3,6% 4,5%
5,0% 1,4%0,7%

0,0%
1ª Região 2ª Região 3ª Região 4ª Região 5ª Região

Concorrente/Universo Concorrente/Amostra Criminal/Universo Criminal/Amostra

Mesmo diante dessas semelhanças obtidas entre os universos e amos-


tras pesquisados, não podemos generalizar os resultados da amostra para o
universo, apenas podemos apresentar os resultados obtidos pelo grupo de
respondentes.
Foram enviados 279 questionários para os juízes de competência con-
corrente e criminal e obteve-se 48% de resposta, um total de 134 questio-
nários, sendo 103 de competência concorrente e 31 criminal, 15% da 1a
Região, 22% da 2a Região, 27% da 3a Região, 24% da 4a Região e 12% da
5a Região.
Foram apresentados os percentuais de questionários respondidos pe-
los juízes federais que exercem competência criminal e concorrente por Re-
gião, pois se houvesse um baixo retorno de questionários respondidos pelos
juízes federais com competência criminal em comparação com os respondi-
dos pelos que exercem competência concorrente poderia ocorrer um viés
na pesquisa, o que, felizmente, não ocorreu, pois os percentuais dos dois
grupos foram satisfatoriamente representados em todas as Regiões.

QUADRO 1.C
Quantidade de questionários enviados e respondidos
pelos juízes federais de competência criminal ou
concorrente, por Região

Questionários enviados Questionários respondidos


Regiões
Concorrente Criminal Total % Concorrente Criminal Total %
1ª Região 24 15 39 14% 14 6 20 15%
2ª Região 38 10 48 17% 24 6 30 22%
3ª Região 59 15 74 27% 30 6 36 27%
4ª Região 54 20 74 27% 20 12 32 24%
5ª Região 40 4 44 16% 15 1 16 12%
Total 215 64 279 100% 103 31 134 100%
ANÁLISE DOS DADOS

Os resultados obtidos a partir dos dados das amostras foram analisa-


dos obedecendo à ordem das questões do questionário, excetuando-se aque-
las que não eram comuns nas três populações.

Características da população estudada

Foram obtidas algumas informações a respeito da característica


demográfica dos respondentes, tais como a idade, o tempo de trabalho, o
sexo e a região de atuação.
O tempo como delegado da Polícia Federal dos respondentes é em
média, 5 anos, com desvio-padrão de 5,87. Este grande desvio deve-se a
um dos respondentes ter 28 anos de carreira, mas a grande maioria, cerca
de 83%, possui até 5 anos de carreira (ver gráfico 2.a).

GRÁFICO 2.A
Tempo de carreira como delegado da Polícia Federal (%)

38,9
40,0 33,3

30,0
16,7
20,0 11,1

10,0
0,0
Até 3 anos 3 |-- 4 anos 4 |-- 5 anos Mais de 5 anos
Os procuradores da República têm em média 6 anos atuando nesta
carreira, com desvio-padrão de 4,92 anos. A maioria, cerca de 66%, exer-
ce há menos de 6 anos a função de procurador da República (ver gráfico
2.b). Esse perfil extremamente jovem dos integrantes do Ministério Público
Federal na função de procurador também foi verificado em outra pesquisa
intitulada: O Ministério Público Federal e a Administração da Justiça do
Brasil (Idesp, 1998, p. 10) onde a maior parte dos procuradores (53%)
atua na instituição há menos de três anos.

GRÁFICO 2.B
Tempo de carreira como procurador da República (%)
34
35
27
30

25 20
19
20

15

10

0
Até 4 anos 4 |--- 5 anos 5 |--- 6 anos Mais de 6 anos

O tempo de carreira dos juízes federais é, em média, de 5 anos, com


desvio-padrão de 3 anos. A maioria dos juízes (62%) atua há mais de 4
anos nessa carreira (ver gráfico 2.c). Em outra pesquisa, A atuação da
Justiça Federal na esfera criminal, desenvolvida pelo CEJ (2000, p. 58)
também foi observada expressiva concentração de juízes com até quatro
anos na função judicante em todas as Regiões da Justiça Federal, exceto na
5a Região, onde apenas 12,6% dos juízes tinham até quatro anos na função.
GRÁFICO 2.C
Tempo de carreira como juiz federal (%)

40 36

35
26
30
21
25
17
20

15

10

-
Até 3 anos 3 |--- 4 anos 4 |--- 7 anos Acima de 7 anos

A idade média dos delegados da Polícia Federal é de 38 anos, com


desvio-padrão de 5,68 anos, e a maioria (55,6%) está na faixa dos 35 a 40
anos (ver gráfico 3.a).

GRÁFICO 3.A
Idade dos delegados da Polícia Federal (%)
27,8 27,8
30,0
22,2 22,2
25,0

20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
até 35 anos 35 |--- 37 anos 38 |--- 40 anos acima de 41 anos
Os procuradores da República têm em média 36 anos de idade, com
desvio-padrão de 6,75 anos, e a grande maioria (58%) encontra-se na faixa
dos 31 a 38 anos (ver gráfico 3.b). Esse mesmo perfil etário jovem também
foi encontrado na pesquisa do Idesp (1998, p. 9) onde os integrantes do
Ministério Público Federal também tinham a média de idade de 36 anos.
Verificou-se nessa mesma pesquisa que os membros do Ministério Público
Federal são mais velhos do que os integrantes do Ministério Público dos
Estados, que têm em média 33 anos.

GRÁFICO 3.B
Idade dos procuradores da República (%)
29 29
30 25

25
17
20

15

10

0
Até 31 anos 31|--- 34 anos 34|--- 38 anos Acima de 38 anos

A idade média dos juízes federais é de 37 anos, com desvio-padrão


de 8,58 anos e a maioria dos juízes (75%) tem até 42 anos de idade (ver
gráfico 3.c). Esse perfil jovem também foi verificado em outra pesquisa de-
senvolvida pelo CEJ (2000, p. 54-55), onde quase metade dos respondentes
(56%) tinha menos de 35 anos e 83% tinham até 45 anos de idade.
GRÁFICO 3.C
Idade dos juízes federais (%)

35 31

30 25
22 22
25

20

15

10

0
Até 31 anos 31 |--- 35 anos 35 |--- 42 anos Acima de 42 anos

Participação em eventos e cursos

Apenas 34% dos juízes federais participaram de eventos sobre os crimes


de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores (ver gráfico 5.c).

GRÁFICO 4.A
Participação dos juízes federais em eventos sobre os crimes
de lavagem de dinheiro

34%

66%

sim não
Quando os juízes federais foram indagados se já haviam cursado algu-
ma disciplina em cursos de pós-graduação (especialização, mestrado ou
doutorado), a maioria (94%) respondeu que ainda não cursou disciplinas
nos seus cursos de pós-graduação sobre os crimes de lavagem de dinheiro
ou ocultações de bens, direitos e valores. Confirmou-se, assim, a hipótese
de que os juízes federais, na sua maioria, ainda não tiveram oportunidade de
desenvolver estudos formais sobre o crime de lavagem de dinheiro (ver
gráfico 6.c).

GRÁFICO 4.B
Disciplinas em cursos de pós-graduação sobre os crimes de
lavagem de dinheiro realizadas pelos juízes federais

6%

94%

Cursou Não cursou


Incidência dos crimes de lavagem de dinheiro

A grande maioria dos inquéritos policiais a respeito dos crimes de


lavagem de dinheiro ainda se encontra na fase investigatória na DCOIE da
Polícia Federal. Segundo dados da Divisão de Repressão ao Crime Organi-
zado e de Inquéritos Especiais da Polícia Federal – DCOIE, constam, até
setembro/2001, 260 inquéritos policiais a respeito desse crime transitando
na Polícia Federal. No gráfico a seguir está registrada a evolução do número
de inquéritos policiais instaurados por ano, segundo dados dessa Divisão da
Polícia Federal (ver gráfico 4.x ).

GRÁFICO 5.X
Lei n. 9.613/98 – Números de IPLs instaurados por ano

100
94
90
80
70
60
50
40
36
30
20
10 7
0
1998 1999 2000

Fonte: Divisão de Repressão ao Crime Organizado e de Inquéritos Especiais da Polí-


cia Federal – DCOIE.
A maioria dos procuradores da República (52%) não tem recebido
notícias-crime a respeito dos crimes de lavagem de dinheiro. 48% deles
receberam essas notícias (ver gráfico 5.b). Dentre os que receberam notí-
cias-crime, 91% receberam até 5 sobre esse ilícito e 9% receberam de 10
a 30.

GRÁFICO 6.A
Recebimento de notícias-crime a respeito dos crimes de
lavagem de dinheiro pelos procuradores
da República

48%

52%

sim não

Nota-se que 87% dos juízes federais respondentes não receberam


nenhuma denúncia sobre os crimes de lavagem de dinheiro. 13% recebe-
ram de uma a dez denúncias. A maioria dos juízes federais (87%) respondeu
que não há nenhum processo em tramitação sobre esses crimes nas varas
onde atuam até o dia 31/12/2000. Apenas 13% responderam que constam
nas varas onde atuam processos em tramitação sobre esses crimes até o dia
31/12/2000. Confirma-se, assim, a hipótese de que o percentual de crimes
de lavagem de dinheiro que chega ao Judiciário Federal é insignificante.
Sigilo bancário

O sigilo bancário foi um dos tópicos em que se mediu a opinião dos


respondentes.
Os delegados da Polícia Federal, em sua grande maioria (94%), mos-
traram-se favoráveis à flexibilização do sigilo bancário, simplificando os pro-
cedimentos judiciais, uma vez que o sigilo bancário tem prejudicado a co-
lheita de provas. Nesse caso, simplificar significa reduzir os procedimentos
judiciais para a concessão da quebra do sigilo bancário.
Os delegados mais novos, no cargo até 5 anos, representam essa
grande maioria, já parte dos delegados com mais tempo no cargo (6%)
são mais conservadores e afirmaram que o sigilo bancário deveria ser
mantido, podendo ser quebrado somente por ordem judicial, por conside-
rarem que não tem prejudicado a colheita de provas necessárias para a
formação do inquérito policial e a posterior apresentação da denúncia nos
crimes de lavagem de dinheiro (ver tabela 1.a).
TABELA 1.A
Opinião dos delegados da Polícia Federal sobre
o sigilo bancário, segundo a idade e o tempo
como delegado federal (%)

Opinião sobre o sigilo bancário


Deve ser Deveria ser Total
mantido flexibilizado
Idade até 35 anos 100 100
35 |---| 37 anos 20 80 100
38 |---| 40 anos 100 100
acima de 41 anos 100 100
Total 6 94 100

Tempo como Até 3 anos 100 100


delegado federal 3 |--- 4 anos 100 100
4 |---| 5 anos 100 100
Acima de 5 anos 33 67 100
Total 6 94 100

Grande parte dos procuradores da República (92%) também se mos-


trou favorável à flexibilização do sigilo bancário, simplificando os procedi-
mentos judiciais, uma vez que tem prejudicado a colheita das provas. Em
todas as faixas etárias e tempo de carreira, predomina a opinião de que o
sigilo deveria ser flexibilizado, não havendo diferenças entre o procurador
mais jovem e o mais velho, e tampouco dos procuradores que atuam a me-
nos tempo na carreira do que aqueles mais experientes (ver tabela 1.b).
TABELA 1.B
Opinião dos procuradores da República
sobre o sigilo bancário, segundo a idade
e o tempo como procurador (%)

Opinião sobre o sigilo bancário


Deve ser Deveria ser Total
mantido flexibilizado
Idade Até 31 anos 9 91 100
31|---| 33 anos 100 100
34|---| 38 anos 6 94 100
Acima de 38 anos 19 81 100
Total 8 92 100

Tempo como Até 4 anos 9 91 100


procurador da 4 |--- 5 anos 100 100
República 5 |---| 6 anos 18 82 100
Mais de 6 anos 9 91 100
Total 10 90 100

Já os juízes federais mostraram-se divididos em relação a este tópico,


44% mostraram-se favoráveis à manutenção do sigilo bancário, tal como
previsto no art 5o, inc. X, da CF; outros 55% mostraram-se favoráveis à
flexibilização do sigilo bancário, simplificando os procedimentos judiciais,
uma vez que tem prejudicado a colheita de provas, e 1% não soube respon-
der. Entre os juízes também não há diferenças na opinião sobre o sigilo ban-
cário considerando as faixas etárias e o tempo como juiz federal (ver tabela
1.c).
TABELA 1.C
Opinião dos juízes federais sobre o sigilo
bancário, segundo a idade e o tempo
como juiz federal (%)

Opinião sobre o sigilo bancário


Deve ser Deveria ser não sabe / Total
mantido flexibilizado sem opinião
Idade Até 31 anos 38 62 100
31 |--- 35 anos 30 70 100
35 |---| 42 anos 50 48 3 100
Acima de 42 anos 53 47 100
Total 44 55 1 100

Tempo como Até 3 anos 50 50 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 35 65 100
4 |---| 7 anos 36 61 2 100
Acima de 7 anos 53 47 100
Total 43 56 1 100

O sigilo bancário consiste na discrição que os bancos, os seus órgãos


e empregados devem observar sobre os dados econômicos e pessoais de
seus clientes, que tenham chegado ao seu conhecimento através do exercí-
cio das funções bancárias (Cordeiro, 1998, p. 310).
Na opinião da maioria dos delegados da Polícia Federal e dos procu-
radores da República, o sigilo bancário, tal como previsto no art. 5o, inc. X,
da CF, deveria ser flexibilizado, simplificando os procedimentos judiciais. Já
os juízes federais estão com a opinião dividida sobre esse tópico, apesar da
maioria de 55% ter a mesma opinião dos delegados e procuradores.
A opinião a favor da flexibilização do sigilo bancário explica-se, em
parte, porque os delegados federais e o procuradores da República têm
encontrado muitas dificuldades para conseguir as provas necessárias para
elucidação dos crimes financeiros. Em suas opiniões, o sigilo bancário con-
figura-se como verdadeiro óbice para angariar tais provas.
Essa opinião dividida dos juízes federais em relação à flexibilização
do sigilo bancário explica-se, em parte, porque, na opinião de muitos juízes,
a flexibilização significaria a perda do controle quanto à quebra do sigilo
bancário. Uma parcela significativa dos juízes federais (44%) é favorável à
manutenção do sigilo bancário, tal como previsto atualmente. Nesse senti-
do, a Lei Complementar n. 105, de 10 de janeiro de 2001, que possibilita a
quebra de sigilo bancário pelas autoridades e agentes fiscais da União, Esta-
dos, Distrito Federal e Municípios, sem a necessidade de autorização judi-
cial também foi alvo de muitas críticas pelos juízes, juristas e advogados e
está sendo questionada a sua constitucionalidade sob o fundamento de que
fere o direito à intimidade e à vida privada (art. 5o, X, da CF) bem como o
direito à inviolabilidade do sigilo de dados (art. 5o, XII, da CF).
Face às respostas obtidas, percebe-se que a maioria dos delegados,
procuradores da República e juízes federais respondentes consideram neces-
sária a simplificação dos procedimentos relativos à quebra do sigilo bancário,
sob a alegação de que os mesmos significam um entrave para as investigações
da Polícia Federal e Ministério Público.
Nesse sentido, ressalta-se o comentário de um delegado federal:
modernamente, são injustificáveis as dificuldades existentes para a que-
bra de sigilo fiscal de uma pessoa. O direito da sociedade deve prevale-
cer sobre o cidadão que, sob forte suspeita, está sendo investigado.
Outrossim, sobressaem três outros comentários de procuradores da
República:
O atual ordenamento jurídico no que se refere ao chamado sigi-
lo bancário virou uma situação esdrúxula, pois os órgãos que
detêm as informações que necessitam de apuração, sob o argu-
mento do sigilo, não as repassam ao MP para as investigações.
Assim, ainda que haja fortes indícios da prática de crime, o Coaf
e Bacen não repassam tais informações. Torna-se necessário al-
gum escândalo para que tal fato se torne público e o MP passe a
investigá-lo; o sigilo bancário, conforme entendido pelo Bacen,
impede, na maioria dos casos, uma investigação em que não
ocorra prescrição. Em geral, os procedimentos só nos são reme-
tidos ao final do processo, às vezes, 6/7 anos após e, finalmente,
o sigilo bancário (questão 5) tem sido transformado em biombo
para toda sorte de crimes, de modo que o respeito quase religio-
so que tem, deveria ser suprimido. Ademais, considero que o
sigilo bancário não tem dignidade constitucional, eis que se tra-
ta de questão de privacidade e não de intimidade.

Constitucionalidade da lei

O instrumento de coleta de dados mediu a opinião dos três grupos


estudados a respeito da constitucionalidade da Lei n. 9.613/98.
Entre os delegados da Polícia Federal, 63% acreditam que a Lei n.
9.613/98 está de acordo com os princípios que norteiam um Direito Penal
democrático e 37% disseram que alguns dispositivos são inconstitucionais
(ver gráfico 7.a). Dentre os dispositivos inconstitucionais apontados pela
minoria dos delegados, tiveram maior destaque o estabelecimento da não-
aplicação do art. 366 do CPP, contido no art. 2o, § 2o, a inversão do ônus
da prova e a proibição da prestação da fiança (ver gráfico 8.a).
GRÁFICO 7.A
Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
delegados da Polícia Federal
37%

63%

Está de acordo com os princípios do Direito Penal


Alguns dispositivos são inconstitucionais

GRÁFICO 8.A
Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98, apontados
pelos delegados da Polícia Federal (%)
89 89
84 84
90 79
80
70
60
50
40
30 21 16 11 16
20 11
10
-
Comunicar Não-aplicação A inversão do A proibição da Proibição da
automaticamente do art. 366 ônus da liberdade fiança
as operações do CPP prova provisória

Inconstitucional Constitucional

A maioria do procuradores da República (69%) também acredita que


a Lei n. 9.613/98 está de acordo com os princípios que norteiam um Direito
Penal democrático e apenas 31% apontaram alguns dispositivos como
inconstitucionais. Os que tiveram maiores destaques foram o estabelecimen-
to da não-aplicação do art. 366 do CPP, contido no art. 2o, § 2o, dessa lei e
a proibição da concessão da liberdade provisória (ver gráficos 7.b e 8.b).

GRÁFICO 7.B
Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
procuradores da República
31%

69%

Está de acordo com os princípios do Direito Penal


Alguns dispositivos são inconstitucionais

GRÁFICO 8.B
Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98, apontados
pelos procuradores da República (%)
98 92 91
100
81 84
90
80
70
60
50
40
30 19
16 9
20 8
2
10
0
Comunicar Não-aplicação A inversão do A proibição da Proibição da
automaticamente do art. 366 ônus da liberdade fiança
as operações do CPP prova provisória

Inconstitucional Constitucional
Ao contrário dos delegados federais e procuradores da República, os
juízes mostraram-se divididos a respeito da constitucionalidade da Lei n.
9.613/98, 48% afirmaram que a Lei n. 9.613/98 está de acordo com os
princípios do Direito Penal democrático e 52% mencionaram alguns dispo-
sitivos inconstitucionais, entre os quais tiveram destaque: a regra da não-
aplicação do art. 366 do CPP, contida no art. 2o, § 2o dessa lei e a proibição
da concessão da liberdade provisória (ver gráficos 7.c e 8.c).

GRÁFICO 7.C
Constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, na opinião dos
juízes federais

48%

52%

sim não

Está de acordo com os princípios do Direito Penal


Alguns dispositivos são inconstitucionais
GRÁFICO 8.C
Dispositivos inconstitucionais da Lei n. 9.613/98, apontados
pelos juízes federais (%)

90 87 79
78
80 68
70 63

60
50
32 37
40
22 21
30
13
20
10

0
Comunicar Não-aplicação A inversão do A proibição da Proibição da
automaticamente do art. 366 ônus da liberdade fiança
as operações do CPP prova provisória

Inconstitucional Constitucional

Diante destes resultados, nota-se que a maioria dos delegados e procu-


radores da República está de acordo com a constitucionalidade da Lei n. 9.613/
98 e os juízes estão com a opinião dividida sobre este tópico estudado.
A opinião dos delegados federais e dos procuradores da República
respondentes sobre a constitucionalidade da Lei n. 9.613/98 tem respaldo
em Maia (1999, p. 49) que analisou a compatibilidade constitucional dessa
lei através de três diferentes abordagens. Na primeira, constatou a inexistência
de dispositivos que violam as garantias constitucionais. Na segunda, verifi-
cou a adequação dos bens jurídicos resguardados nesta lei com os princípi-
os da legalidade e da razoabilidade. Na terceira, fez um exame individualiza-
do dos dispositivos presentes na lei.
Quando houver a coexistência de valores conflitantes, ambos ampa-
rados pela ordem jurídica, poderá o intérprete da lei basear-se no princípio
da razoabilidade ou proporcionalidade. Maia (1999, p. 49) ressalta que:
Apenas e tão-somente nos casos em que existirem razões ple-
namente justificáveis e com fundamento em especiais circuns-
tâncias de grande relevância social, igualmente fincada em
valores constitucionalmente resguardados – enfim, quando for
razoável –, será tolerada a ingerência de natureza penal neste
campo, com a preponderância do direito à segurança nas rela-
ções sociais sobre o direito à liberdade e do interesse público
sobre o interesse privado, no âmbito da dialética constitucional.
Uma minoria de delegados federais respondentes indicou como
inconstitucionais os dispositivos que tratam sobre a não-aplicação do art.
366 do CPP, a inversão do ônus da prova e a proibição da prestação da
fiança. Uma minoria de procuradores da República respondentes e cerca de
30% dos juízes federais mencionaram os mesmos dispositivos da Lei n. 9.613/
98 como inconstitucionais, a saber: o dispositivo que trata da não-aplicação
do art. 366 do CPP e o dispositivo que versa sobre a proibição da liberda-
de provisória.
Quanto à proibição da liberdade provisória, Gomes (1998, p. 359)
considera lastimável que o legislador tente combater essa criminalidade res-
tringindo ou mesmo eliminando garantias constitucionais: ao proibir o texto
legal a fiança e a liberdade provisória, acaba de pretender reintroduzir
no nosso sistema a prisão compulsória, obrigatória, que desapareceu
na década de sessenta com o regime militar.
Cerca de 32, % dos juízes federais e uma minoria de procuradores da
República (19%) indicaram como inconstitucional o dispositivo que trata da
não-aplicação do art. 366 do CPP presente na Lei n. 9.613/98 no art. 2o, §
2o. Dessa forma, em caso de revelia do réu, não haverá suspensão do pro-
cesso. A prescrição também correrá normalmente. Havendo a revelia, dar-
se-á defensor dativo ao acusado e proceder-se-á ao seu julgamento. Ale-
gam os principais críticos da lei que todo acusado tem direito de ser infor-
mado sobre o teor da peça acusatória. O legislador infraconstitucional não
pode retirar essa garantia constitucional. Tal dispositivo ganhou vigência após
a publicação da lei, mas a sua constitucionalidade é discutível, como apon-
taram cerca de 19% dos procuradores da República e 32% dos juízes fede-
rais respondentes.
Os juízes federais respondentes questionam mais a constitucionalidade
dessa lei do que os procuradores da República e delegados federais
respondentes. Como os juízes federais serão os principais responsáveis por
equacionar esses dispositivos da lei com a preservação das garantias constitu-
cionais, confrontam-se com uma situação delicada: a introdução da restrição
dos direitos fundamentais no nosso sistema jurídico. Caberá a eles dirimir a
tensão existente entre o modelo garantístico presente na Constituição Federal
e o corte de garantias constitucionais presentes na Lei n. 9.613/98.
Neste sentido, convém mencionar Arnaldo Wald (1997, p. 35) que
aponta como o principal problema da aplicação da Lei n. 9.613/98 a conci-
liação dos seus preceitos com os princípios constitucionais de proteção da
privacidade, sem tornar-se um entrave para o funcionamento do sistema
bancário.
Liberdade provisória e fiança

Neste tópico, foi estudada a opinião dos grupos com relação à proibi-
ção da liberdade provisória e da fiança e se a Lei n. 9.613/98, ao proibir a
fiança e a liberdade provisória, indiretamente, adotou em nosso sistema a
prisão compulsória obrigatória.
Na opinião de 63% dos delegados da Polícia Federal respondentes, a
proibição da liberdade provisória e da fiança segue as exigências de uma
política criminal democrática e 37% acham que é um erro a proibição da
liberdade provisória e da fiança, porque poder-se-ia exigir uma fiança de
alto valor (ver tabela 2.1.a) e 59% discordam de que a Lei n. 9.613/98, ao
proibir a fiança e a liberdade provisória, indiretamente tenha adotado em
nosso sistema a prisão compulsória e obrigatória (ver tabela 2.2.a).

TABELA 2.1.A
Proibição da liberdade provisória e da fiança, segundo
a idade e o tempo de carreira como delegado federal (%)

Segue as exigências
de uma política criminal É um erro Total
democrática
Idade até 35 anos 75 25 100
35 |---| 37 anos 60 40 100
38 |---| 40 anos 80 20 100
acima de 41 anos 50 50 100
Total 67 33 100

Tempo como Até 3 anos 57 43 100


delegado 3 |--- 4 anos 50 50 100
federal 4 |---| 5 anos 83 17 100
Acima de 5 anos 67 33 100
Total 67 33 100
TABELA 2.2.A
Se a lei, ao proibir a fiança e a liberdade provisória,
indiretamente adotou em nosso sistema a prisão
compulsória e obrigatória, segundo a idade e o tempo de
carreira como delegado federal (%)

Concordo Discordo Total


Idade até 35 anos 100 100
35 |---| 37 anos 60 40 100
38 |---| 40 anos 60 40 100
acima de 41 anos 33 67 100
Total 41 59 100

Tempo como Até 3 anos 33 67 100


delegado 3 |--- 4 anos 50 50 100
federal 4 |---| 5 anos 50 50 100
Acima de 5 anos 33 67 100
Total 41 59 100

Segundo a maioria dos procuradores da República respondentes


(51%), a proibição da liberdade provisória e da fiança segue as exigências
de uma política criminal democrática e 44% acham um erro a proibição da
liberdade provisória e da fiança, porque poder-se-ia exigir uma fiança de
alto valor (ver tabela 2.1.b) e 77% discordam de que essa lei, ao proibir a
fiança e a liberdade provisória, indiretamente tenha adotado em nosso sis-
tema a prisão compulsória e obrigatória (ver tabela 2.2.b).
TABELA 2.1.B
Proibição da liberdade provisória e da fiança, segundo a
idade e o tempo de carreira como procurador da
República (%)
Proibição da liberdade provisória e da fiança
Não
É um
sabe/Sem Total
erro
opinião
Idade Até 31 anos 55 45 100
31|---| 33 anos 53 41 6 100
34|---| 38 anos 44 44 11 100
Acima de 38 anos 53 47 100
Total 51 44 5 100
Tempo como Até 4 anos 83 17 100
procurador da 4 |--- 5 anos 25 75 100
República 5 |---| 6 anos 56 38 6 100
Mais de 6 anos 45 45 9 100
Total 52 44 5 100

TABELA 2.2.B
Se a lei, ao proibir a fiança e a liberdade provisória,
indiretamente adotou em nosso sistema a prisão
compulsória e obrigatória, segundo a idade e o tempo de
carreira como procurador da República (%)

Concordo Discordo Não sabe/ Total


Sem opinião
Idade Até 31 anos 30 70 100
31|---| 33 anos 17 78 6 100
34|---| 38 anos 17 83 100
Acima de 38 anos 25 75 100
Total 21 77 2 100
Tempo como Até 4 anos 17 83 100
procurador da 4 |--- 5 anos 23 69 8 100
República 5 |---| 6 anos 25 75 100
Mais de 6 anos 23 77 100
Total 22 76 2 100
Os juízes federais tiveram opinião diferente dos delegados e procura-
dores, a sua maioria (56%) considera um erro a proibição da liberdade pro-
visória e da fiança. Apenas 35% acham que a proibição da liberdade provi-
sória e da fiança segue as exigências de uma política criminal democrática
(ver tabela 2.1.c) e 56% dos juízes discordam de que a lei, ao proibir a
fiança e a liberdade provisória, indiretamente tenha adotado em nosso siste-
ma a prisão compulsória e obrigatória (ver tabela 2.2.c).

TABELA 2.1.C
Proibição da liberdade provisória e da fiança,
segundo a idade e o tempo de carreira como juiz
federal (%)

Segue as Não
exigências de uma É um sabe/Sem Total
política criminal erro opinião
democrática
Idade Até 31 anos 41 55 3 100
31 |--- 35 anos 30 63 7 100
35 |---| 42 anos 28 56 17 100
Acima de 42 anos 42 52 6 100
Total 35 56 9 100

Tempo como Até 3 anos 36 54 11 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 25 65 10 100
4 |---| 7 anos 39 57 5 100
Acima de 7 anos 34 53 13 100
Total 35 56 9 100
TABELA 2.2.C
Se a lei, ao proibir a fiança e a
liberdade provisória, indiretamente adotou
em nosso sistema a prisão compulsória
e obrigatória, segundo a idade e o tempo
de carreira como juiz federal (%)

Quanto à questão se a Lei n. 9.613/98, ao proibir a fiança e a liber-


dade provisória, indiretamente adotou em nosso sistema a prisão compul-
sória e obrigatória, todos os três grupos em sua maioria discordam desta
hipótese.
A maioria dos delegados federais (67%) acredita que a proibição da
liberdade provisória e da fiança segue as exigências de uma política criminal
democrática. Os procuradores respondentes ficaram divididos quanto à ques-
tão. 51% responderam que a proibição da liberdade provisória e da fiança
segue as exigências de uma política criminal democrática. Essa posição divi-
dida dos procuradores explica-se, dentre outros fatores, porque a proibi-
ção da concessão da liberdade provisória é alvo constante de críticas por
parte dos doutrinadores. Muitos doutrinadores defendem a posição de que
a imposição da prisão provisória fere o princípio constitucional segundo o
qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da senten-
ça penal condenatória (art. 5o, LVII, da CF).
Segundo Barros (1998, p. 90), nem mesmo a orientação jurispru-
dencial coordenada pela Súmula n. 9 do Superior Tribunal de Justiça
segundo a qual, a exigência da prisão provisória, para apelar, não ofen-
de a garantia constitucional da presunção de inocência, conseguiu ate-
nuar a contestação doutrinária.
Os juízes federais respondentes assumiram posição diferenciada dos
delegados e procuradores: 56% afirmaram que a proibição da liberdade
provisória e da fiança é um erro, porque poder-se-ia exigir uma fiança de
alto valor. A posição dos juízes federais está de acordo com Samuel Monteiro
(1998, p. 752) que, ao fazer comentários sobre a Lei n. 9.613/98, defendeu
a posição de que essa lei deveria permitir ao juiz fixar uma fiança em
dinheiro, em quantia vultosa, proporcional ao montante do numerário
objeto dos delitos, o que se tornaria uma forma de ressarcir os prejuízos
causados à sociedade ou às vítimas. Ainda, segundo Souza Netto (1999, p.
127), deveria o legislador, ao invés de proibir, exigi-la com altos valo-
res, mesmo porque, existirá a possibilidade da concessão da liberdade
sem fiança.
Aplicabilidade da Lei n. 9.613/98

Neste tópico foi estudado se a Lei n. 9.613/98 está inteiramente de


acordo com a Constituição Federal ou se há alguns dispositivos, que embo-
ra constitucionais, não têm aplicação prática.
Para grande parte dos delegados da Polícia Federal (60%), a lei pos-
sui alguns dispositivos sem aplicação prática, embora constitucionais; 15%
disseram que a lei é aplicável e 15% não souberam responder.

GRÁFICO 9.A
A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98,
segundo os delegados da
Polícia Federal (%)

15% 25%

60%

É aplicável Alguns dispositivos não têm aplicação prática


GRÁFICO 10.A
Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais,
não têm aplicação prática, segundo os delegados da
Polícia Federal (%)

75 75
80
65 65 60
70
60
50 40
35 35
40
25 25
30
20

10

0
A conexão dos crimes Proibição da aplicação Terrorismo como crime Crimes contra a A cobrança de
praticados por do art. 366 do CPP antecedente Administração Pública comunicação
organização criminosa
como crime compulsória
com os crimes de
lavagem antecedente

Não têm aplicação prática Têm aplicação prática

Na opinião de grande parte dos procuradores da República (58%)


alguns dispositivos da Lei n. 9.613/98 não têm aplicação prática, 31% dis-
seram que a lei é aplicável e 11% não souberam responder.
GRÁFICO 9.B
A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República (%)

11%
31%

58%

É aplicável Alguns dispositivos não têm aplicação prática

GRÁFICO 10.B
Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais,
não têm aplicação prática, segundo os
procuradores da República (%)

81 90 86
90
74
80
70
60 47 53
50
40 26
30 19
10 14
20
10
0
A conexão dos Proibição da Terrorismo Crimes contra a A cobrança de
crimes praticados aplicação do art. como crime Administração comunicação
por organização 366 do CPP antecedente Pública como compulsória
criminosa com os crime
crimes de antecedente
lavagem

Não têm aplicação prática Têm aplicação prática


Entre os juízes a opinião também não foi diferente, 64% disseram que
alguns dispositivos da Lei n. 9.613/98 não têm aplicação prática, 23% dis-
seram que a lei é aplicável por estar inteiramente de acordo com a Constitui-
ção Federal e 13% não souberam responder.
Os dispositivos que não têm aplicação prática, apontados pelos juízes
federais, que mais se destacaram foram os mesmos apontados pelos dele-
gados e pelos procuradores, ou seja, art. 1o, inc. II, que trata do terrorismo
como crime antecedente ao crime de lavagem ou ocultação de bens, direi-
tos e valores, por não haver definição legal do crime de terrorismo na nossa
legislação, a proibição da aplicação do art. 366 do CPP para os crimes de
lavagem de dinheiro contida no art. 2o, § 2o, e autorizada no art. 4o, § 3o,
da mesma lei e, por último, a conexão dos crimes praticados por organiza-
ções criminosas (art. 1o , inc. VIII) com os crimes de lavagem ou ocultação
de bens, direitos e valores, por não haver definição legal de organização
criminosa na nossa legislação (ver gráficos 9.c e 10.c).

GRÁFICO 9.C
A aplicabilidade da Lei n. 9.613/98, segundo os juízes
federais (%)
13% 23%

64%

É aplicável Alguns dispositivos não têm aplicação prática


GRÁFICO 10.C
Dispositivos da Lei n. 9.613/98, embora constitucionais, não
têm aplicação prática, segundo os juízes federais (%)

90
90 81

80 73
64
70
60 49 51
50
36
40 27
30 19
20 10

10
-
A conexão dos crimes Proibição da aplicação Terrorismo como crime Crimes contra a A cobrança de
praticados por organização do art. 366 do CPP antecedente Administração Pública comunicação
criminosa com os crimes como crime antecedente compulsória
de lavagem

Não têm aplicação prática Têm aplicação Prática

O interessante nesse tópico é que todos os três grupos de


respondentes consideraram os mesmos dispositivos constitucionais, po-
rém, sem aplicação prática, a saber, o art. 1o, inc. II, que trata do terroris-
mo como crime antecedente ao crime de lavagem de dinheiro, por não
haver definição legal do crime de terrorismo na nossa legislação; a proibi-
ção da aplicação do art. 366 do CPP para os crimes de lavagem de
dinheiro contida no art. 2o, § 2o, e autorizada no art. 4o, § 3o, da mesma lei
e, por último, a conexão dos crimes praticados por organizações crimino-
sas (art. 1o , inc. VIII) com os crimes de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores, por não haver definição legal de organização criminosa
na nossa legislação.
Com relação à conexão do crime de lavagem de dinheiro ao ter-
rorismo, há, na opinião da maioria dos doutrinadores, uma “lacuna” au-
têntica, pois a Lei n. 9.613/98 conecta os crimes de lavagem ao crime
de terrorismo sem defini-lo tipicamente. A Lei n. 8.072, de 25/7/1990,
que dispõe sobre os crimes hediondos, e a Lei n. 7.170, de 14/12/1983,
que define os crimes contra a segurança nacional também fizeram alu-
sões ao crime de terrorismo sem defini-lo. Cometeram, assim, o mesmo
equívoco.
Outro crime conectado ao crime de lavagem e que não possui defi-
nição legal é o crime praticado por organização criminosa (art. 1o, VII).
Embora não exista a definição, o Projeto de Lei n. 3.516, de 1989, no seu
art. 2o, dispunha: para efeitos desta lei, considera-se organização cri-
minosa aquela que, por suas características, demonstre a existência
de estrutura criminal, operando de forma sistematizada, com atuação
regional, nacional e/ou internacional. Contudo, essa redação não con-
tinuou no texto final da Lei n. 9.613/98.
Segundo José Laurindo de Souza Netto (1999, p. 92), o crime or-
ganizado pode ser conceituado como o agrupamento de pessoas que
procura operar fora do controle do Estado, para extorquir proventos
exorbitantes da sociedade, por meios ilícitos. Para subsistir, impõe
uma disciplina rígida aos subalternos que fazem o chamado “traba-
lho sujo”. Trata-se de um crime que implica uma coordenação hierár-
quica de um determinado número de pessoas para o planejamento e
execução de atos ilegais ou para atingir um objetivo legítimo utili-
zando meios que são contrários à lei.
O aparelho repressivo estatal fica, de certa forma, atado, pois, é de
conhecimento público que as organizações criminosas existem e atuam de
forma manifesta. Mas não se consegue reprimi-las de modo eficaz, já que há
nas leis lacunas que implantam indefinições na ordem jurídica. O inciso VII
do art. 1o da citada lei, ao não definir organização criminosa trouxe dificul-
dades a sua aplicação prática, pois ele não atende ao princípio constitucio-
nal da legalidade por não haver crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal.
Contudo, está em tramitação atualmente na Comissão de Constitui-
ção, Justiça e Redação da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n. 2.858,
que prevê a criação de um artigo específico para a descrição de organização
criminosa. O governo brasileiro foi o primeiro a apresentar um anteprojeto
prevendo a tipificação desse crime ao Poder Legislativo. Segundo o Minis-
tro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça: o artigo prevê a punição
específica de criminosos que se envolvam com policiais, promotores,
juízes ou outros funcionários públicos. Ele pretende abraçar os crimes
de organização como de bicheiros e traficantes, ou seja, a típica ativi-
dade que se chama de mafiosa (Síntese.com, 8/5/2001).
Segundo Gomes (1998, p. 357), A proibição contida no art. 2o, § 2o,
de não-aplicação do art. 366 do CPP para os crimes de lavagem de bens
é absurda e inconstitucional. É flagrantemente contraditória, ademais,
com o disposto no art. 4o, § 3o, da mesma lei. Revela, nesse ponto,
altíssimo despreparo técnico e jurídico do legislador, que legisla, cada
vez mais freqüentemente, sob a égide da emoção, produzindo o que se
denomina Direito Penal “simbólico”.
A justificativa da lei dos crimes de lavagem para proibir a aplicação
do dispositivo processual que possibilita a suspensão do processo e do cur-
so do prazo prescricional, em caso do não-comparecimento do réu citado
por edital, baseia-se em que a suspensão do processo seria um prêmio para
os infratores afortunados e criar-se-ia uma barreira para a apuração das
infrações.
Na concepção de Barros (1998, p. 85), há regras basilares que con-
solidam a estrutura do nosso sistema judiciário e que não podem ser des-
prezadas, sem dar lugar ao surgimento de injustiças. Para a efetividade
e segurança da edição de uma decisão condenatória verdadeiramente
justa é de fundamental importância que o acusado tenha ciência real
da existência do processo criminal.
Sugerem alguns doutrinadores que havendo a contradição entre os
artigos 2o, § 2o, e 4o, § 3o, deve-se optar pelo dispositivo que esteja mais
em sintonia com os princípios e garantias constitucionais. Nesse caso, o art.
4o, § 3o, está mais de acordo com os princípios da ampla defesa, contradi-
tório e do devido processo penal.

Objetivos normativos da Lei n. 9.613/98

Neste tópico estudou-se os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98 se


eram suficientes para reprimir ou punir os autores de crimes de lavagem de
dinheiro. Nesse caso, repressão significa a prevenção para que as práticas
ilícitas descritas nessa lei não venham a ocorrer, e punir diz respeito ao ato de
infligir pena aos que praticarem as condutas ilegais presentes nessa lei.
Para 68% dos delegados da Polícia Federal, os objetivos normativos
são insuficientes para reprimir os autores de crimes de lavagem; 95% con-
sideraram que são insuficientes para puni-los; 74% que as penas privativas
de liberdade são suficientes; 74% afirmaram que as penas de multas são
suficientes; 79% acreditam que a lei é suficiente para impedir o gozo dos
produtos do crime e para 68%, a lei é suficiente para proporcionar a identi-
ficação da origem ilícita dos bens, direitos e valores referentes a esses cri-
mes (ver gráfico 11.a).

GRÁFICO 11.A
Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
delegados da Polícia Federal (%)

100 95
90 79
80 68 74 74 68
70
60
50
40 32 26 26 32
30 21
20 5
10
-
Reprimir os Punir os autores Estabelecer Estabelecer Impedir o gozo Ident. da origem
autores desses desses crimes penas privativas penas de multa dos produtos ilícita dos bens,
crimes de liberdade mais severas do crime direitos e
valores

É suficiente É insuficiente
Para a maioria dos procuradores da República, todos os objetivos
normativos da Lei n. 9.613/98 são insuficientes para reprimir (85%) e punir
(94%) os autores desses crimes. 76% sugerem penas privativas de liberda-
de mais severas e 66% as penas de multa mais severas. 85% acreditam que
a lei é insuficiente para impedir o gozo dos produtos do crime e para 52% a
lei é insuficiente para proporcionar a identificação da origem ilícita dos bens,
direitos e valores (ver gráfico 11.b).

GRÁFICO 11.B
Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República (%)

100 85 94 85
76
80 66

60 48 52
34
40 15 24 15
20 6
0
Reprimir os Punir os autores Estabelecer Estabelecer Impedir o gozo Ident. da origem
autores desses desses crimes penas privativas penas de multa dos produtos ilícita dos bens,
crimes de liberdade mais severas do crime direitos e
valores

É suficiente É insuficiente

Para a grande parte dos juízes federais, apenas os objetivos normativos


da lei em reprimir (88%) e punir (81%) os autores desses crimes são insufi-
cientes. Acreditam que o estabelecimento de penas privativas de liberdade
e de penas de multa são suficientes. 72 % afirmaram que a lei é suficiente
para impedir o gozo dos produtos do crime (ver gráfico 11.c).
GRÁFICO 11.C
Os objetivos normativos da Lei n. 9.613/98, segundo os
juízes federais (%)

100 88
81 79
68 72
80

60
32 28
40 19 21
12
20

0
Reprimir os autores Punir os autores Estabelecer penas Estabelecer penas Impedir o gozo dos
desses crimes desses crimes privativas de de multa mais produtos do crime
severas
liberdade

É suficiente É insuficiente

Os delegados federais respondentes apontaram como insuficientes os


seguintes objetivos normativos: o de reprimir e o de punir os autores desses
crimes. Efetivamente, a investigação desses crimes requer muito tempo pelo
seu próprio nível de dificuldade. Além disso, a investigação precisa contar
com policiais com conhecimentos especializados e muita determinação na
busca das provas, que nem sempre são colhidas. Verifique-se a série de
dificuldades relacionadas à questão processual, probatória, aos recursos
humanos e técnicos e de ordem estrutural indicadas pelos próprios delega-
dos federais para investigar essa criminalidade. Nesse sentido, ressalta-se o
comentário de um delegado federal: Com relação à pergunta n. 7, no que
tange aos objetivos normativos, reputa-se que a lei atende à repressão
do ponto de vista formal; entretanto, os meios de investigação e de
atuação das agências oficiais são precários e contidos por limitações
de toda espécie, inclusive normativas, que acabam por tornar ineficaz
a aplicação da lei, gerando impunidade.
Os procuradores da República respondentes indicaram como defici-
tários os seguintes objetivos normativos da Lei n. 9.613/98: a repressão e a
punição dos autores desses crimes. Consideraram que a lei é insuficiente
para impedir o gozo dos produtos do crime. Sugerem também penas priva-
tivas de liberdade e penas de multa mais severas. Os juízes federais
respondentes também mencionaram os objetivos normativos de repressão e
de punição dos autores desses crimes como insuficientes, assim como os
outros dois grupos.
O objetivo final da Lei n. 9.613/98 da repressão e de punição dos
autores desses crimes foi questionado pelos três grupos de respondentes.
Indicaram a existência de carências de toda sorte que levam à não-repres-
são e não-punição dos autores desses crimes. Desde as dificuldades relati-
vas às deficiências de recursos humanos e materiais até obstáculos de or-
dem processual e probatória para comprovação desse ilícito. Aliados a ou-
tros motivos não percebidos, infere-se pela série de dificuldades relaciona-
das pelos três grupos que falta vontade política para fazer cumprir a norma.
Infelizmente, tudo isso conduz à impunidade, isto é, a não-punição e não-
repressão dessas práticas ilícitas. No entanto, a situação poderá vir a ser
modificada, levando-se em conta que essa lei é relativamente nova e a gran-
de maioria dos inquéritos a respeito desses crimes ainda se encontra na fase
da instrução pré-jurisdicional.
Conforme ressaltado pelos três grupos de respondentes, há certa
recalcitrância das instituições financeiras no repasse das informações e a
investigação desses delitos é complexa e morosa. Por isso, é preciso conju-
gar esforços desde o início das investigações entre a Polícia Federal, o Mi-
nistério Público Federal, o Banco Central e o Coaf na apuração dos fatos,
para que quando esse crime chegar ao Judiciário não esteja prescrito.
Um procurador da República ressalta a preocupação social com rela-
ção à impunidade desse crime, afirmando que: outras leis já “passaram”
sob o estímulo complacente de uma doutrina comprometida e de uma
jurisprudência ornada de preciosidades formais, pródiga no apego a
princípios protetivos de uma individualidade incompatível com o inte-
resse (maior) social. Enquanto se discute, no âmbito de um processo,
requififes formais, vultosas somas provenientes de criminosos e desvios
viajam para contas no exterior, desacreditando a Justiça e envergo-
nhando, cada vez mais, aqueles que vêem seus irmãos morrendo por
falta do que comer.
Conforme indicação dos procuradores da República, as penas priva-
tivas de liberdade e de multa deveriam ser mais severas, pois configuram-se
como insuficientes para conter essa criminalidade. Com efeito, por tratar-se
de um crime de alto poder de lesão social, justifica-se a punição mais inten-
sa dessa criminalidade, embora isso não afaste seu caráter acessório. Assim
sendo, não se justifica uma apenação desproporcional àquela que é
estabelecida para certos crimes antecedentes ao crime de lavagem.
No entanto, alguns doutrinadores consideram que um maior rigor não
seria suficiente. Conforme William Terra de Oliveira (1998, p. 320), resta
saber se o estabelecimento de um quantum tão elevado contribuirá para
a criação efetiva de um efeito preventivo geral. Como demonstra a ex-
periência internacional, evitar a impunidade e aplicar efetivamente a
lei e seus regulamentos é algo mais importante do que a previsão de
altas penas como artifício preventivo.
Maia (1999, p. 53) destaca várias finalidades imediatas da Lei n.
9.613/98 para combater essa criminalidade, a saber: (a) a identificação
da proveniência de determinados bens, para a descoberta e punição
dos autores de ilícitos que os produziram; (b) a inviabilização da fruição
daqueles produtos de crime pelos próprios criminosos ou por tercei-
ros, através de seu confisco e (c) o fornecimento aos órgãos estatais
das condições jurídicas necessárias ao alcance de tais misteres, atra-
vés da criação do dever de vigilância e transparência para as empre-
sas e indivíduos cujas áreas de atuação prestam-se especialmente à
prática das condutas incriminadas.
Efetivamente, nota-se certo acanhamento do legislador ao orientar a
pena de multa prevista na Lei n. 9.613/98. O legislador deveria ter previsto
uma pena de multa diferenciada do modelo estabelecido no sistema penal
comum e usado critérios mais onerosos dado à própria natureza dos crimes
de lavagem. Isso certamente redundaria em uma maior eficácia na repres-
são desses crimes (Barros, 1998, p. 37).

Abrangência da lei

Nesse tópico foi estudada a abrangência da lei em todo fenômeno


criminológico sobre lavagem de dinheiro.
GRÁFICO 12.A
A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os
delegados da Polícia Federal (%)

95
100
74
80 58
42
60
26
40
20 5

0
É ampla o suficiente Deveria contemplar Deveria contemplar o
para disciplinar todo o a prática de outros crime de receptação
fenômeno criminológico delitos, tais como no rol dos crimes
sobre o crime de crime contra a conexos ao crime
lavagem ordem tributária de lavagem

É ampla Não é ampla

GRÁFICO 12.B
A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os
procuradores da República (%)
95 89
100

80 57

43
60

40
5 11
20

0
É ampla o suficiente Deveria contemplar Deveria contemplar o
para disciplinar todo o a prática de outros crime de receptação
fenômeno criminológico delitos, tais como no rol dos crimes
sobre o crime de crime contra a conexos ao crime
lavagem ordem tributária de lavagem

É ampla Não é ampla


GRÁFICO 12.C
A abrangência da Lei n. 9.613/98, segundo os
juízes federais (%)

89
100
80 60 55
60 40 45

40
11
20
0
É ampla o suficiente Deveria contemplar Deveria contemplar o
para disciplinar todo o a prática de outros crime de receptação
fenômeno criminológico delitos, tais como no rol dos crimes
sobre o crime de crime contra a conexos ao crime
lavagem ordem tributária de lavagem

É ampla Não é ampla

Os três grupos respondentes foram unânimes ao concordarem que a Lei


n. 9.613/98 não é ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno
criminológico da lavagem de dinheiro. Os três grupos também afirmaram una-
nimemente que a Lei n. 9.613/98 deveria contemplar, no rol dos crimes antece-
dentes, a prática de outros delitos, tais como os crimes contra a ordem tributá-
ria. Entretanto, houve discordância de opinião em relação ao crime de recepta-
ção, nos três grupos de respondentes. Enquanto os delegados federais acredi-
tam que o crime de receptação deveria estar contemplado no rol dos antece-
dentes, os procuradores da República e os juízes federais não são favoráveis.
O crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores descrito
no art. 1o da Lei n. 9.613/98 tem como crimes antecedentes: o tráfico ilícito de
drogas, o terrorismo, o contrabando ou tráfico de armas, a extorsão mediante
seqüestro, os crimes contra a Administração Pública, contra o sistema finan-
ceiro nacional e os praticados por organização criminosa.
A Lei n. 9.426, de 24.12.96, alterou o tipo penal da receptação pre-
sente no art. 180 do CP de 1940. A nova redação do caput ficou assim: Art.
180: Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito pró-
prio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Pena: reclusão, de 1 (um)
a 4 (quatro) anos e multa.
De acordo com Hungria5 (1967, p. 302-303), a receptação pode ser
definida como o crime que acarreta a manutenção, consolidação ou per-
petuidade de uma situação patrimonial anormal, decorrente de um crime
anterior praticado por outrem. É um crime parasitário de outro crime.
Segundo Maia (1999, p. 22), a receptação, dentro de uma visão his-
tórico-evolutiva, é o crime que mais se aproxima do crime de lavagem de
dinheiro, pois ambos os delitos têm por objetivo impedir a utilização de
recursos advindos de crime.
Ainda na opinião de Barros (1998, p. 41), o legislador não deixa de
punir a receptação, porém, esta há de ser específica, isto é, deve res-
tringir-se ao produto dos bens, direitos e valores oriundos de um dos
crimes antecedentes, e , mais, a receptação deve ter por finalidade en-
cobrir ou dissimular a utilização do patrimônio ilícito resultante de um
dos crimes antecedentes.

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HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Vol. VII. Rio de Janeiro, Foren-
se, 1967.
No entanto, Terra de Oliveira (1998, p. 33) considera que essa re-
lação (condutas/delitos anteriores) não oferece grandes problemas técni-
cos e tampouco demanda um exercício hermenêutico mais complexo. É
certo que haverá ocasiões em que o mesmo agente praticará o crime ante-
cedente e o crime de lavagem de dinheiro, quando haverá um verdadeiro
concurso material de crimes, tendo em vista as várias objetividades jurídi-
cas lesadas.
É de fundamental importância que o legislador reveja a posição de
excluir os crimes contra a ordem tributária do rol dos crimes de lavagem de
dinheiro, posto que os delitos contra a ordem tributária requerem processos
de lavagem que causam muitos danos ao sistema econômico e financeiro e,
muitas vezes, esses processos de lavagem são provenientes dos chamados
caixas-dois, justificando-se assim a intervenção estatal para reprimir práti-
ca tão nociva à Fazenda Pública.
Na votação da Lei n. 9.613/98, na Comissão de Assuntos Econômi-
cos foi incluída no projeto de lei a sonegação fiscal como crime antecedente.
Mas a Comissão de Constituição e Justiça retirou esse dispositivo do proje-
to. O relator do projeto, que também era contrário à inclusão, afirmou que
as sanções para agentes de crimes contra a ordem tributária já estavam pre-
vistas na Lei n. 8.137/90 (Folha de São Paulo, 11/2/98, p. 2).
O legislador pátrio poderia ter conectado os crimes contra a ordem
tributária ao crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. Em
assim fazendo, seguiria o exemplo do México e das legislações de terceira
geração que conectaram o crime de lavagem a qualquer atividade ilícita
antecedente.
Segundo Barros (1998, p. 34), ao deixar de incluir o delito de so-
negação no rol dos crimes primários, perde o legislador a rara oportu-
nidade de tentar punir penalmente o sonegador contumaz que constrói
riquezas de origem ilícita.
O legislador excluiu do rol dos crimes antecedentes ao crime de
lavagem de dinheiro os crimes de receptação e de sonegação fiscal.
Barros (1998, p. 33) acredita que o legislador deixou escapar a opor-
tunidade de conferir ao próprio Estado mais um eficaz instrumento
de combate à criminalidade organizada. No caso da receptação, essa
exclusão não é aceitável, pois sabe-se que as quadrilhas e bandos muito
bem estruturados fazem muito uso da receptação. Em se tratando da
sonegação fiscal, o legislador não pode tratar de modo diferenciado aque-
le infrator que acumula grandes riquezas sonegando impostos através dos
crimes de lavagem de dinheiro, do infrator que continuamente pratica a
sonegação fiscal, pois, em ambas as situações, o dinheiro sonegado não
é do infrator e, sim, do Estado.
O legislador brasileiro, ao optar por abarcar o maior número de con-
dutas possíveis e evitar brechas de proteção penal com relação ao assunto,
estabeleceu um rol específico de condutas antecedentes ao crime de lava-
gem de dinheiro. O estabelecimento taxativo dos crimes antecedentes pro-
duzirá, na opinião de Terra de Oliveira (1998, p. 332), problemas sistemá-
ticos e práticos no futuro. Dentre as principais conseqüências apontadas
por esse autor para a adoção de um rol taxativo de crimes antecedentes,
citam-se: a) uma maior atenção por parte do legislador no sentido de ampli-
ar e atualizar o rol estabelecido no art. 1o, quando novas condutas crimino-
sas surgirem; b) um contínuo estudo acerca da legislação penal para que as
condutas previstas ali continuem sendo crimes ou não.
Os procuradores da República e os juízes respondentes não são favo-
ráveis à conexão do crime de receptação no rol dos crimes conectados ao
crime de lavagem de dinheiro. Seguem, portanto, o mesmo direcionamento
da Exposição de Motivos n. 692, de 18 de dezembro de 1996, assinada
pelos Ministros de Estado da Justiça, da Fazenda e das Relações Exterio-
res, encaminhada ao Senhor Presidente da República e posteriormente san-
cionada como lei em 3 de março de 1998.
Nessa exposição consta que o novo tipo penal refere-se a condutas
relativas a bens, direitos ou valores oriundos direta ou indiretamente, de
crimes graves e com características transnacionais. O projeto, desta for-
ma, mantém sob a égide do art. 180 do CP, que define o crime de
receptação, as condutas que tenham por objeto a aquisição, o recebi-
mento ou a ocultação, em proveito próprio ou alheio, de “coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte”. Fica, portanto, sob o comando desse dis-
positivo a grande variedade de ilícitos parasitários de crimes contra
o patrimônio.
Sem este critério de interpretação, o projeto estaria massificando a
criminalização para abranger uma infinidade de crimes como antecedentes
do tipo de lavagem ou de ocultação. Assim, o autor do furto de pequeno
valor estaria realizando um dos tipos previstos no projeto se ocultasse o
valor ou o convertesse em outro bem, como a compra de um relógio, por
exemplo.
Adotada a designação para cunhar as novas espécies delituosas, tor-
na-se indispensável a elaboração de tipos de ilícitos fundamentais e deriva-
dos que atendam ao princípio da legalidade dos delitos e das penas, inserido
na Constituição (art. 5o, XXXIX) e no CP (art. 1o).
Ainda de acordo com um procurador da República, a maior difi-
culdade para denunciar os crimes de lavagem de dinheiro é a inexplicável
ausência dos delitos contra a ordem tributária no rol do art. 1 o da Lei
n. 9.613.

Estruturas dos órgãos competentes

A estrutura dos órgãos competentes onde atuam os delegados da Po-


lícia Federal e os procuradores da República no combate aos crimes de
lavagem de dinheiro foi objeto da pesquisa e os resultados são apresenta-
dos nesse tópico.
De acordo com 61% dos delegados, a Polícia Federal está estruturada
para combater os crimes de lavagem de dinheiro. À medida que aumenta a
faixa etária dos delegados, aumenta também a proporção de concordantes
com relação à afirmação anterior. Este mesmo fenômeno foi observado com
relação ao tempo de carreira dos delegados (tabela 3.a).
TABELA 3.A
Estrutura da Polícia Federal para o combate aos crimes de
lavagem de dinheiro, segundo a idade e o tempo de carreira
como delegado federal (%)

A Polícia Federal está estruturada para


combater os crimes de lavagem de
dinheiro?
Sim, em termos Não Total
Idade até 35 anos 50 50 100
35 |---| 37 anos 60 40 100
38 |---| 40 anos 60 40 100
acima de 41 anos 75 25 100
Total 61 39 100

Tempo como Até 3 anos 57 43 100


delegado 3 |--- 4 anos 50 50 100
federal 4 |---| 5 anos 67 33 100
Acima de 5 anos 67 33 100
Total 61 39 100

Para 63% dos procuradores da República, o Ministério Público Fe-


deral não está estruturado para combater os crimes de lavagem de dinhei-
ro. Não há diferenças significantes na opinião sobre este tópico entre as
faixas etárias e o tempo de carreira dos procuradores (tabela 3.b).
TABELA 3.B
Estrutura do Ministério Público Federal para o combate aos
crimes de lavagem de dinheiro, segundo a idade e o tempo de
carreira como procurador da República (%)

O Ministério Público Federal está


estruturado para combater os crimes
de lavagem de dinheiro?
Sim, Não Não sabe / Total
em termos sem opinião
Idade Até 31 anos 18 82 100
31|---| 33 anos 56 44 100
34|---| 38 anos 33 67 100
Acima de 38 anos 31 69 100
Total 37 63 100

Tempo como Até 4 anos 17 83 100


procurador da 4 |--- 5 anos 54 46 100
República 5 |---| 6 anos 29 71 100
Mais de 6 anos 41 55 5 100
Total 36 63 2 100

Os delegados federais respondentes afirmaram que a instituição está


estruturada para combater o crime de lavagem de dinheiro. Quanto mais
velho e maior tempo na carreira, maior a concordância com a afirmação.
Por outro lado, os membros do Ministério Público Federal respondentes
se mostraram mais críticos do que os delegados federais ao analisarem a
estrutura da sua instituição para participar do combate aos crimes de lava-
gem de dinheiro. Segundo opinião de 63% deles, o Ministério Público Fe-
deral não está estruturado para combater esses crimes. As deficiências da
instituição foram mencionadas por eles próprios ao esboçarem as dificulda-
des enfrentadas por eles para denunciar os crimes de lavagem de dinheiro.
Um dos clamores de carências institucionais mais evidenciados pelos
procuradores da República respondentes foi a falta de assessoria técnica
especializada ( fiscal, contábil e tributária) no Ministério Público Federal.
Não há cargo de contador nas Procuradorias da República, o que tem difi-
cultado o rastreamento da origem dos valores, pois as operações financei-
ras são invariavelmente complexas. Um procurador da República sugeriu a
criação da Câmara de Coordenação e Revisão especializada nos crimes
financeiros, fiscais e econômicos.
Ressalta-se o comentário de um procurador da República: não há
interesse em aparelhar o MPF. Antes, a política governamental é clara,
subtrair atribuições e possibilidades investigatórias de seus membros.
Isto porque, quando o crime antecedente é praticado contra a Adminis-
tração Pública, é comum o envolvimento de influentes membros do go-
verno verbi gratia – caso TRT.

Obrigações de comunicar as operações financeiras e demais


transações

Esse tópico aborda o entendimento da obrigação de comunicar as


operações e demais transações mencionadas no art. 11, II, a e b, da Lei dos
crimes de lavagem de dinheiro. Procurou-se conhecer se essa comunica-
ção ficou comprometida ou é automática.
Para 78% dos delegados da Polícia Federal, a obrigação de comunicar
as operações financeiras e demais transações é automática. Percebe-se que
apenas uma parte dos delegados mais recentes na carreira, com até 3 anos no
cargo, disseram que esta obrigação ficou comprometida (tabela 4.a).

TABELA 4.A
Obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações, segundo a idade e o tempo de serviço dos
delegados da Polícia Federal (%)

A obrigação de comunicar as operações


financeiras e demais transações
Ficou É auto- Não sabe/ Total
comprometida mática Sem
opinião
Idade até 35 anos 25 50 25 100
35 |---| 37 anos 100 100
38 |---| 40 anos 40 60 100
acima de 41 anos 100 100
Total 17 78 6 100

Tempo como Até 3 anos 43 57 100


delegado 3 |--- 4 anos 50 50 100
federal 4 |---| 5 anos 100 100
Acima de 5 anos 100 100
Total 17 78 6 100

Para 92% dos procuradores da República a obrigação de comunicar


as operações financeiras e demais transações também é automática. Neste
caso não houve diferenças significativas entre as faixas etárias e também
quanto ao tempo na carreira (tabela 4.b).
TABELA 4.B
Obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações, segundo a idade e o tempo de serviço dos
procuradores da República (%)

Ficou É automática Total


comprometida
Idade Até 31 anos 100 100
31|---| 33 anos 6 94 100
34|---| 38 anos 11 89 100
Acima de 38 anos 13 88 100
Total 8 92 100

Tempo como Até 4 anos 8 92 100


procurador da 4 |--- 5 anos 100 100
República 5 |---| 6 anos 12 88 100
Mais de 6 anos 14 86 100
Total 9 91 100

Os juízes federais tiveram a mesma opinião que os outros grupos


estudados, aproximadamente 62% deles disseram que a obrigação de
comunicar as operações financeiras e demais transações é automática
(tabela 4.c).
Os três grupos de respondentes afirmaram unanimemente que a obri-
gação de comunicar as operações financeiras e demais transações mencio-
nadas no art. 11, II, a e b, da Lei n. 9.613/98 é automática, independe de
ordem judicial, pois essa comunicação não representa a quebra de sigilo
bancário, posto que as autoridades estão obrigadas a guardar o sigilo na
execução de suas funções. Seguiram neste sentido a orientação de Gomes
(1999, p. 245) que defende a obrigação de comunicar as operações finan-
TABELA 4.C
Obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações, segundo a idade e o tempo de serviço
dos juízes federais (%)

A obrigação de comunicar as operações


financeiras e demais transações
Ficou É auto- Não sabe/ Total
comprometida mática Sem
opinião
Idade Até 31 anos 17 69 14 100
31 |--- 35 anos 29 64 7 100
35 |---| 42 anos 38 56 5 100
Acima de 42 anos 38 59 3 100
Total 31 62 7 100

Tempo como Até 3 anos 29 57 14 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 24 67 10 100
4 |---| 7 anos 33 63 4 100
Acima de 7 anos 35 62 3 100
Total 31 62 7 100

ceiras e demais transações feitas às autoridades competentes e que essa


transferência de informações está de acordo com a complexidade dessas
práticas criminosas. Dessa forma, o autor citado mencionou que: a transfe-
rência das informações sigilosas às autoridades que tenham, por lei e
pela natureza das funções que desempenham, o dever de manter este
sigilo para que possam dar continuidade, dentro de sua área ou esfera
de atuação técnica, ao controle ou investigação sobre a questão da
lavagem,é imprescindível ao sucesso da repressão a essa modalidade de
crime, e coerente com as características destas complexas condutas
(Gomes, 1999, p. 235).
Cabe salientar que situação parecida ocorre nos Estados Unidos, onde
as instituições financeiras são obrigadas a comunicar os saques, transfe-
rências ou remessas acima de determinado valor às autoridades mone-
tárias (Wald, 1997, p. 37).
Na maioria dos países, as instituições competentes têm o dever de
decidir a respeito do caráter suspeito ou não das operações e transações.
Esse dever gera dupla possibilidade de risco. Primeiro, a declaração preci-
pitada de uma operação que depois foi considerada legítima. E o segundo é
a não-comunicação de uma transação ilícita.
No sistema da legislação americana, as pessoas e entidades estão
obrigadas a comunicar determinadas operações suscetíveis de lavagem de
dinheiro independente de suspeita. Não há juízo de valor a respeito dessas
operações. A comunicação dessas operações é automática a partir do valor
de U$ 10.000. As comunicações não são obrigatórias abaixo desse valor
(Souza Netto, 1999, p.180).
Quanto às transações que as pessoas jurídicas enumeradas no art. 9o
devem prestar às autoridades competentes, na opinião de Gomes (1999, p.
244), o dever de comunicar estas transações parece-nos automático,
independentemente de ordem judicial, a qual só será necessária quando
se tratar de informações prestadas pelas instituições ao Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf), criado pelo art. 14, como se
depreende da interpretação sistemática dos artigos 10, III, e 11, II. Mes-
mo assim, isto ocorre apenas quando este Conselho não estiver fazendo
a função de órgão fiscalizador daquelas pessoas jurídicas que não o
possuam, a teor do disposto no art. 11, § 3 o, da lei em estudo.
Delação premiada

Estudou-se se a delação premiada prevista no art. 1 o, § 5 o, da Lei


n. 9.613/98 é justificável para que as autoridades tirem proveito da cha-
mada infidelidade criminal ou se a mesma é eticamente inaceitável.
De acordo com 94% dos delegados da Polícia Federal, a delação
premiada prevista é justificável para que as autoridades tirem proveito da
infidelidade criminal. Apenas uma pequena parte dos delegados mais novos
na faixa etária de 35 a 37 anos e com até 3 anos de carreira, afirmaram que
a delação premiada é eticamente inaceitável (ver tabela 5.a).

TABELA 5.A
A opinião dos delegados da Polícia Federal sobre a delação
premiada prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98, segundo a
idade e o tempo como delegado federal (%)
o
A delação premiada prevista no art. 1 ,
§ 5o, da Lei n. 9.613/98:
É eticamente
É justificável Total
inaceitável
Idade até 35 anos 100 100
35 |---| 37 anos 80 20 100
38 |---| 40 anos 100 100
acima de 41 anos 100 100
Total 94 6 100

Tempo como Até 3 anos 86 14 100


delegado 3 |--- 4 anos 100 100
federal 4 |---| 5 anos 100 100
Acima de 5 anos 100 100
Total 94 6 100
Para 95% dos procuradores da República a delação premiada é jus-
tificável, apenas uma pequena parte dos procuradores mais antigos no car-
go, cerca de 2% afirmaram que a delação premiada é eticamente inaceitá-
vel, pois consideram que o Estado não pode se valer de atos imorais para
evitar a impunidade (ver tabela 5.b).

TABELA 5.B
A opinião dos procuradores da República sobre a
delação premiada prevista no art. 1 o , § 5 o , da Lei n. 9.613/
98, segundo a idade e o tempo como procurador da
República (%)

A delação premiada prevista no art. 1o,


o
§ 5 , da Lei n. 9.613/98:
É eticame- Não sabe/
É justifi-
nte inacei- Sem Total
cável
tável opinião
Idade Até 31 anos 100 100
31|---| 33 anos 100 100
34|---| 38 anos 88 12 100
Acima de 38 anos 93 7 100
Total 95 2 3 100

Tempo como Até 4 anos 100 100


procurador da 4 |--- 5 anos 83 17 100
República 5 |---| 6 anos 100 100
Mais de 6 anos 95 5 100
Total 95 2 3 100

Os juízes federais também não foram contrários ao entendimento dos


delegados e procuradores. Cerca de 90% deles afirmaram que a delação
premiada é justificável para que as autoridades tirem proveito da chamada
infidelidade criminal (ver tabela 5.c).
TABELA 5.C
A opinião dos juízes federais sobre a delação premiada
prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98, segundo a idade e o
tempo como juiz federal (%)
o
A delação premiada prevista no art. 1 ,
§ 5o, da Lei n. 9.613/98:
É justifi- É eticamen- Não sabe/
te inacei- Sem Total
cável
tável opinião
Idade Até 31 anos 86 7 7 100
31 |--- 35 anos 96 4 100
35 |---| 42 anos 93 8 100
Acima de 42 anos 84 9 6 100
Total 90 4 6 100

Tempo como Até 3 anos 93 4 4 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 95 5 100
4 |---| 7 anos 89 4 7 100
Acima de 7 anos 85 6 9 100
Total 90 4 6 100

A maioria dos três grupos respondentes se posicionou favorável à


delação premiada contrariamente ao que se esperava, pois se acreditava
que haveria uma polêmica maior quanto ao assunto.
A delação premiada, ou Direito Premial, é um instituto que o legisla-
dor tem usado como forma de reprimir a criminalidade organizada e violen-
ta. Esse instituto foi introduzido no nosso sistema penal pela Lei dos Crimes
Hediondos, onde se estabelecia a redução da pena de um a dois terços se o
participante delatasse o(s) comparsa(s) às autoridades. A delação premiada
tem sido alvo de constante debate na doutrina. Esse instituto tem tido pouca
aplicação prática até hoje.
A delação premiada está prevista no § 5o do artigo 1o da Lei dos cri-
mes de lavagem de dinheiro, onde consta que a pena será reduzida de um a
dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz
deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor,
co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, pres-
tando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de
sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objetos do crime.
Os resultados obtidos contrariam autores como Zaffaroni apud Gomes
(1998, p. 349) que defende que o Estado não pode se valer de meios imorais
para evitar a impunidade, e Gomes (1998, p. 347) que considera a delação
premiada como eticamente reprovável, devendo ser restringida o máximo
possível. Só teria cabimento em situações muito especiais e em nenhum
outro delito mais. O mesmo autor ainda defende que o Direito não pode base-
ar-se em antivalores. O Direito se assenta em valores eticamente respeitados.
Outros autores aprovam a delação premiada, como Roberval C. Belinati,
Direito & Justiça, Correio Braziliense, de 5/6/1995, p. 6, e Michel Temer,
em Folha de S. Paulo, de 12/11/1994, p. 1-3. Na Lei n. 9.613/98, o legisla-
dor buscou assim reduzir a pena, substituí-la por outra ou mesmo deixar de
aplicá-la com o objetivo de reprimir essa criminalidade organizada.
É certo que há resistências doutrinárias quanto à adoção da delação pre-
miada na nossa legislação. Em primeiro lugar, nessa forma de delação é difícil a
verificação de sua credibilidade. Não se pode confiar cegamente na delação do
infrator. Em segundo lugar, a delação é vista por alguns como um comportamen-
to amoral para se conseguir provas. Contudo, os três grupos de respondentes
acreditam que há mais proveitos a angariar na chamada delação premiada e na
apuração dos fatos criminosos do que prejuízos de ordem moral.
Sanções administrativas

As sanções administrativas impostas às pessoas referidas no art. 9o


que não cumprirem as obrigações registrárias e burocráticas previstas no
art. 12, incisos I, II, III e IV, da Lei n. 9.613/98 foram analisadas. Essas
sanções são advertência, multa pecuniária variável, inabilitação temporária
para o exercício do cargo de administrador e cassação da autorização para
operação ou funcionamento.
Segundo 61% dos delegados da Polícia Federal as sanções adminis-
trativas impostas às pessoas referidas no art. 9o que não cumprirem as obri-
gações registrárias e burocráticas são adequadas e 39% disseram que as
sanções são brandas (tabela 6.a).

TABELA 6.A
Sanções administrativas impostas às pessoas referidas no
art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho dos
delegados da Polícia Federal (%)

São adequadas São brandas Total


Idade até 35 anos 75 25 100
35 |---| 37 anos 40 60 100
38 |---| 40 anos 60 40 100
acima de 41 anos 75 25 100
Total 61 39 100

Tempo como Até 3 anos 71 29 100


delegado 3 |--- 4 anos 100 100
federal 4 |---| 5 anos 17 83 100
Acima de 5 anos 100 100
Total 61 39 100
Para 77% dos procuradores da República as sanções administrativas
são adequadas, 21% disseram que são brandas e 2% que são excessivas,
estes últimos são procuradores com idade acima de 38 anos e com mais de
6 anos atuando na função (tabela 6.b).

TABELA 6.B
Sanções administrativas impostas às pessoas referidas no
art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho dos
procuradores da República (%)

São São São


Total
adequadas excessivas brandas
Idade Até 31 anos 82 18 100
31|---| 33 anos 72 28 100
34|---| 38 anos 89 11 100
Acima de 38 anos 67 7 27 100
Total 77 2 21 100

Tempo como Até 4 anos 83 17 100


procurador da 4 |--- 5 anos 85 15 100
República 5 |---| 6 anos 71 29 100
Mais de 6 anos 76 5 19 100
Total 78 2 21 100

A opinião dos juízes federais não foi muito diferente dos demais. Cer-
ca de 73% deles disseram que as sanções administrativas são adequadas,
15% disseram que são brandas e apenas 3% que são excessivas (tabela
6.c).
TABELA 6.C
Sanções administrativas impostas às pessoas referidas no
art. 9o, segundo a idade e o tempo de trabalho
dos juízes federais (%)
Sanções administrativas impostas às pessoas
referidas no art. 9o que não cumprirem as
obrigações registrárias e burocráticas
São São São Não sabe/
adequa- exces- brandas Sem Total
das sivas opinião
Idade Até 31 anos 75 14 11 100
31 |--- 35 anos 75 7 14 4 100
35 |---| 42 anos 60 5 23 13 100
Acima de 42 anos 88 6 6 100
Total 73 3 15 9 100

Tempo Até 3 anos 67 30 4 100


como 3 |--- 4 anos 59 5 18 18 100
juiz 4 |---| 7 anos 83 7 4 7 100
federal Acima de 7 anos 76 15 9 100
Total 74 3 15 9 100

Os três grupos de respondentes concordaram que as sanções


registrárias e burocráticas previstas no art. 12, incisos I, II, III e IV, da Lei
n. 9.613/98 são adequadas.
A autoridade administrativa competente e o Coaf são os responsáveis
pela aplicação das sanções administrativas, cumulativamente ou não, pre-
vistas nesse diploma legal. Na aplicação dessas sanções, essas autoridades
devem seguir o princípio da razoabilidade, que deve orientar todos os atos
da Administração.
Barros (1998, p. 176) entende que a imposição de tantas obrigações
impostas às pessoas referidas no art. 9o não poderia ficar desprovida das
correspondentes sanções, visto que sem estas sanções, pouco ou nenhum
dos pretendidos efeitos surtiria.

Inversão do ônus da prova

A inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direi-


to ou valores apreendidos ou seqüestrados prevista no art. 4 o, §§ 2 o e
3 o, da Lei n. 9.613/98 foi pesquisada.
O art. 4 o, § 2 o, da Lei n. 9.613/98 dispõe que: o juiz determinará
a liberação dos bens, direitos e valores apreendidos ou seqüestrados
quando comprovada a licitude de sua origem. Está aí prevista a inver-
são do ônus da prova. Em vez de exigir do Ministério Público a prova da
ilicitude do patrimônio, exige que o réu comprove a origem lícita dos
bens, direitos ou valores que tenham sido objeto da busca e apreensão
ou do seqüestro.
Na opinião de 82% dos delegados federais, a inversão do ônus da
prova da licitude da origem dos bens, direitos ou valores, apreendida ou
seqüestrada justifica-se para que o capital auferido nos crimes de lava-
gem de dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso e apenas
6% disseram que a inversão do ônus da prova fere o princípio da ino-
cência, este percentual corresponde a uma parcela dos delegados entre
35 e 37 anos que estão exercendo o cargo há, no máximo, 3 anos (ver
tabela 7.a).
TABELA 7.A
Inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens,
direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados, segundo
a idade e o tempo como delegado federal (%)

Inversão do ônus da prova da licitude da


origem dos bens, direitos ou valores
apreendidos ou seqüestrados
Fere o Não sabe/
Justifica-se princípio da Sem Total
inocência opinião
Idade até 35 anos 75 25 100
35 |---| 37 anos 75 25 100
38 |---| 40 anos 100 100
acima de 41 anos 75 25 100
Total 82 6 12 100

Tempo como Até 3 anos 71 14 14 100


delegado 3 |--- 4 anos 100 100
federal 4 |---| 5 anos 100 100
Acima de 5 anos 100 100
Total 82 6 12 100

87% dos procuradores da República também consideram justificável


a inversão do ônus da prova. Apenas 10% disseram que a inversão do ônus
da prova fere o princípio da inocência (tabela 7.b).
TABELA 7.B
Inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens,
direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados, segundo
a idade e o tempo como procurador da República (%)

Inversão do ônus da prova da licitude da


origem dos bens, direitos ou valores
apreendidos ou seqüestrados
Fere o Não sabe/
Justifica-se princípio da Sem Total
inocência opinião
Idade até 31 anos 91 9 100
31 |---| 33 anos 94 6 100
34 |---| 38 anos 89 6 6 100
acima de 38 anos 71 29 100
Total 87 10 3 100

Tempo como Até 4 anos 92 8 100


procurador da 4 |--- 5 anos 92 8 100
República 5 |---| 6 anos 82 18 100
Acima de 6 anos 80 15 5 100
Total 85 11 3 100

Os juízes federais tiveram a mesma opinião dos delegados federais e


procuradores da República. Aproximadamente 87% disseram que a inver-
são do ônus da prova é justificável e 10% disseram que fere o princípio da
inocência (tabela 7.c).
TABELA 7.C
Inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens,
direitos ou valores apreendidos ou seqüestrados, segundo a
idade e o tempo como juiz federal (%)
Inversão do ônus da prova da licitude da
origem dos bens, direitos ou valores
apreendidos ou seqüestrados
Fere o Não sabe/
Justifica-se princípio da Sem Total
inocência opinião
Idade Até 31 anos 69 28 3 100
31 |--- 35 anos 78 19 4 100
35 |---| 42 anos 68 28 5 100
Acima de 42 anos 78 19 3 100
Total 73 23 4 100

Tempo como Até 3 anos 68 29 4 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 59 32 9 100
4 |---| 7 anos 78 20 2 100
Acima de 7 anos 76 21 3 100
Total 72 24 4 100

Os três grupos de respondentes também afirmaram unânimes que a


inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direitos ou valo-
res apreendidos ou seqüestrados, previsto no art. 4o, §§ 2o e 3o, da Lei n.
9.613/98 justifica-se para que o capital auferido nos crimes de lavagem de
dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso.
Um dos institutos jurídicos mais inovadores da Lei n. 9.613/98 é a
inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direitos ou valo-
res apreendidos ou seqüestrados, resultado dos §§ 2o e 3o do art. 4o. Esse
instituto tem sido objeto de debate e argúi-se que ele fere o princípio da
preservação do estado de inocência, o que de fato não tem fundamento, de
acordo com Nascimento (1997, p. 25).
O § 2o, art. 4o, da lei em questão inverte o ônus probatório com rela-
ção à comprovação da origem ilícita dos bens, direitos ou valores sujeitos às
medidas cautelares e ao confisco. Desde a Convenção de Viena (1988)
quando o Brasil aderiu a tal acordo já era possível a inversão do ônus
probatório no que concerne aos produtos de tráfico de drogas.
A inversão do ônus da prova é fundamental para que se preveja a
perda legal do ganho auferido pelo criminoso, pois essa criminalidade, mui-
tas vezes, vem acompanhada de “tecnologia financeira de ponta” para des-
pistar e ocultar a origem do capital auferido ilegalmente. Essa avançada
tecnologia requer a cada dia técnicas inovadoras de investigação (Nasci-
mento, 1997, p. 26). Ainda de acordo com o mesmo autor, a inversão do
ônus probandi não viola a CF e nem é de todo novidade, pois no art. 156
do CPP está previsto que a defesa prove as suas teses, em especial as cau-
sas de exclusão da ilicitude, da culpabilidade e da punibilidade.
A Convenção de Viena de 1988, no art. 5o, item 7, estabelece:6 As
partes podem considerar a possibilidade de inverter o ônus da prova no
que diz respeito à origem lícita dos presumíveis produtos ou outros bens
que possam ser objeto de perda, na medida em que os princípios do
respectivo direito interno e a natureza dos procedimentos judiciais e
outros o permitam.
No campo patrimonial civil, “a inversão do ônus da prova” é freqüen-
temente uma prática, pois na esfera das relações econômicas, o homem que
adquire um patrimônio tem intuitivamente a necessidade de guardar meios
de prova sobre a legalidade de suas aquisições.

__________________________
6
Fonte: Diário da República Portuguesa, I série a, nº 205, p. 4731, de 06.09.91.
Tigre Maia (1997) já havia sugerido que significativo avanço have-
ria se diante da presença de razoável suspeita do envolvimento do acu-
sado com uma organização criminosa ou com a prática de crime hou-
vesse uma inversão do ônus probante, cabendo a este comprovar que a
aquisição de bens deu-se licitamente e de forma compatível com seus
meios de subsistência.
Foi certamente seguindo essas orientações e opiniões que os três gru-
pos de respondentes concordaram com a inversão do ônus da prova para
que o acusado comprove a licitude da origem dos seus bens e se esses são
compatíveis com seu nível sócio-econômico. Dessa forma, enfatiza-se o
comentário de um delegado federal: apesar de vários entendimentos no
sentido da inconstitucionalidade do preceito contido no art. 4o, §§ 2o e
3o, da Lei n. 9.613/98 (inversão do ônus da prova), considero tal precei-
to um avanço, porquanto, ao menos nos crimes enfocados na citada lei,
impede a acelerada dilapidação do questionado patrimônio enquanto
ao julgador possibilita uma acurada e calma análise acerca de sua
licitude, podendo a qualquer tempo fazer cessar a medida constritiva.

Prazo de 24 horas para comunicar as operações

O prazo de 24 horas para que as pessoas sujeitas à Lei dos crimes de


lavagem de dinheiro comuniquem as operações que possam constituir-se
em sérios indícios dos crimes de lavagem às autoridades também foi abor-
dado.
Segundo 61% dos delegados da Polícia Federal, o prazo de 24 horas
para comunicar as operações que possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem às autoridades é insuficiente e 33% disseram que o
prazo é suficiente (tabela 8.a).

TABELA 8.A
Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios dos
crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo como
delegado federal (%)

O prazo de 24 horas para que as pessoas


sujeitas à lei dos crimes de lavagem de
dinheiro comuniquem as operações que
possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem às autoridades
É É Não sabe/
suficiente insuficiente Sem opinião Total
Idade até 35 anos 25 75 100
35 |---| 37 anos 80 20 100
38 |---| 40 anos 40 60 100
acima de 41 anos 75 25 100
Total 33 61 6 100

Tempo como Até 3 anos 43 57 100


delegado 3 |--- 4 anos 50 50 100
federal 4 |---| 5 anos 17 67 17 100
Acima de 5 anos 33 67 100
Total 33 61 6 100

Para 53% dos procuradores, o prazo de 24 horas é insuficiente, en-


quanto 39% disseram que é suficiente (tabela 8.b).
TABELA 8.B
Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios dos
crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo como
procurador da República (%)

O prazo de 24 horas para que as pessoas


sujeitas à lei dos crimes de lavagem de
dinheiro comuniquem as operações que
possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem às autoridades
É É Não sabe/
suficiente insuficiente Sem opinião Total
Idade Até 31 anos 20 80 100
31|---| 33 anos 39 56 6 100
34|---| 38 anos 39 44 17 100
Acima de 38 anos 50 44 6 100
Total 39 53 8 100

Tempo como Até 4 anos 25 75 100


procurador da 4 |--- 5 anos 31 46 23 100
República 5 |---| 6 anos 50 44 6 100
Mais de 6 anos 41 50 9 100
Total 38 52 10 100

Os juízes também têm a mesma opinião que os anteriores, aproxima-


damente 57% disseram que o prazo é insuficiente e 30% disseram que o
prazo é suficiente (tabela 8.c).
TABELA 8.C
Prazo de 24 horas para as pessoas comunicarem as
operações que possam constituir-se em sérios indícios dos
crimes de lavagem, segundo a idade e o tempo como
juiz federal (%)

O prazo de 24 horas para que as pessoas


sujeitas à lei dos crimes de lavagem de
dinheiro comuniquem as operações que
possam constituir-se em sérios indícios
dos crimes de lavagem às autoridades
É É Não sabe/
suficiente insuficiente Sem opinião Total
Idade Até 31 anos 34 52 14 100
31 |--- 35 anos 31 62 7 100
35 |---| 42 anos 23 63 15 100
Acima de 42 anos 35 48 16 100
Total 30 57 13 100

Tempo como Até 3 anos 21 64 14 100


juiz federal 3 |--- 4 anos 22 57 22 100
4 |---| 7 anos 41 52 7 100
Acima de 7 anos 27 58 15 100
Total 30 57 13 100

Segundo opinião dos três grupos de respondentes, o prazo de 24 ho-


ras para que as pessoas sujeitas à Lei dos crimes de lavagem de dinheiro
comuniquem as operações que possam constituir-se em sérios indícios dos
crimes de lavagem às autoridades é insuficiente.
Vale ressaltar, nesse caso, o entendimento do Diretor-Executivo da
Federação Brasileira de Associações de Bancos – Febraban, que prestou o
seguinte alerta de caráter preventivo:
Embora a lei estabeleça o prazo de 24 horas para que sejam
reportadas operações suspeitas – exigência mantida, como não
poderia deixar de ser, pela regulamentação do Banco Central –, a
interpretação do texto, a nosso ver, não pode ser literal. Para os
casos que envolverem interação humana, como, por exemplo, a
troca de cédulas de pequeno valor, o prazo é até exeqüível. Mas,
para outros, que certamente constituem a maioria, somente pro-
cedimentos de monitoramento por sistemas computadorizados,
que ocorrem a posteriori e são conduzidos muitas vezes pelas
áreas de auditorias dos bancos, permitirão identificar tratar-se
ou não de operação suspeita. Por exemplo: uma conta que rece-
ba depósitos ou transferências de origens distintas e, mediante
consolidação, efetue transferência considerada suspeita. Como
tal procedimento exige análise intemporal, o prazo de 24 horas
para comunicação deverá ser contado a partir do momento em
que se chegar à convicção da suspeição. Qualquer entendimen-
to em contrário poderá inibir a efetivação das comunicações e,
portanto, estará indo contra o espírito da legislação (Duarte,
2000, p. 89-90).
DIFICULDADES, SUGESTÕES E
COMENTÁRIOS

Os delegados federais, os procuradores da República e os juízes fe-


derais foram argüidos acerca das dificuldades que cada grupo enfrenta para
combater os crimes de lavagem de dinheiro, o que poderia ser implementado
por eles para que esses crimes fossem enfrentados com maior eficácia e
facultou-se ao respondente a possibilidade de tecer quaisquer comentários
ou informações que julgasse relevantes para o estudo da questão.
Com relação às dificuldades enfrentadas pelos delegados federais,
procuradores da República e pelos juízes federais para combater os crimes
de lavagem de dinheiro, verificou-se que estas poderiam ser classificadas
em três grupos bem definidos: relacionadas à questão processual e probatória,
relacionadas aos recursos humanos e materiais e de ordem estrutural. A trans-
crição literal das respostas está relacionada a seguir, excluindo-se, apenas,
as repetidas.
Dificuldades apontadas pelos delegados federais para investigar os
crimes de lavagem de dinheiro:
QUADRO 3
Dificuldades relacionadas à questão processual e probatória
apontadas pelos delegados federais.
1. A demora de autorização judicial de quebra de sigilo bancário.
2. A falta de acompanhamento por parte da Receita Federal das
declarações de renda, quando pessoas apresentam, sem justificativa
plausível, espetacular evolução patrimonial.
3. A morosidade com que as informações da área financeira chegam
para as autoridades policiais.
4. O excessivo formalismo nas interceptações telefônicas e demais meios
de investigação, como busca e apreensão.
5. A renitência de algumas instituições bancárias e outros órgãos, tais
como empresas telefônicas, Receita Federal, etc., em fornecer
informações, mesmo que somente cadastrais, sobre clientes e/ou
usuários sob a repisada alegação de que tais dados – repita-se
somente cadastrais – estão garantidos por sigilo constitucionalmente
garantido.
6. Comprovar a origem do dinheiro: o material proveniente da quebra
de sigilo (fiscal e bancário) demora muito a ser disponibilizado e o
seu processamento no âmbito do DPF é também lento em virtude da
deficiência de pessoal e material.
7. Demora na expedição de mandados de busca e apreensão e de
quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e dados computacionais
por parte do Judiciário. Demora excessiva dos bancos em cumprir a
circular do Bacen.
Quadro 3 – Continuação
8. Ausência de agilidade no atendimento às solicitações (Receita Federal,
instituições bancárias, Bacen, Justiça Federal, MPF, laudos periciais,
entre outros).

QUADRO 4
Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e materiais
apontadas pelos delegados federais.
1. Falta de pessoal qualificado e falta de equipamentos adequados, bem
como o tamanho, a diversidade e as constantes mudanças no próprio
setor financeiro.
2. Falta de infra-estrutura apropriada, avanço do crime organizado em
proporção inversa do aparelhamento policial e adequação dos
policiais.
3. Falta de verba para viagens, diárias e equipamentos de alta tecnologia.
4. Carência de pessoal técnico e especializado no DPF e impossibilidade
da autoridade policial requisitar documentos e pessoal técnico-
especializado.
5. Falta de setores especializados no trato da matéria no MPF e
Judiciário.
6. Priorizar empenho, no sentido de reestruturar, fornecendo condições
humanas e materiais aos órgãos envolvidos na fiscalização, apuração,
acusação e julgamento desses ilícitos.
QUADRO 5
Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos delegados
federais.

1. Falta de entrosamento nas unidades da federação entre as instituições


voltadas para o combate a este tipo de ilícito (PF, RF, Bacen e CVM).
2. Falta de integração entre os órgãos, tais como Banco Central,
Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal, etc.

Nessa questão relativa à morosidade no envio dos documentos ban-


cários pelo Bacen e outras instituições, ressalta-se o comentário de um de-
legado federal que afirmou: essas informações relativas aos documentos
bancários chegam incompletas e ilegíveis, ensejando reiteradas cobran-
ças, demorando um lapso temporal de mais de um ano para termos
todas as informações necessárias.
Em outro comentário a respeito das dificuldades encontradas pelos
delegados federais, cita-se o seguinte: esse tipo de crime é praticado, em
regra, por pessoas que dispõem de recursos financeiros à bastança, en-
quanto o Poder Público, nem sempre, disponibiliza ou autoriza os atos
necessários para a repressão a essa modalidade criminosa. Outra difi-
culdade é a burocracia legal e a legislação leniente que sempre está a
favorecer a malandragem, em detrimento do cidadão de bem e do inte-
resse público como um todo.
Quanto às dificuldades práticas enfrentadas para denunciar os crimes de
lavagem de dinheiro, os procuradores da República afirmaram o seguinte:
QUADRO 6
Dificuldades relacionadas à questão processual e probatória
apontadas pelos procuradores da República.
1. Prova induvidosa da ocorrência do crime antecedente.
2. Inquéritos mal instruídos, desconhecimento da legislação por parte dos
agentes de repressão, não-acesso direto a informações bancárias e
entendimentos do Judiciário no sentido de que o MP não pode investigar
fatos criminais.
3. Enormes obstáculos em obter junto ao Bacen e Coaf cópias de
procedimentos administrativos que contenham indícios de crimes
“antecedentes” (incisos VI do art. 1o da Lei n. 9.613/98).
4. O Banco Central deveria desenvolver mecanismos para dar maior
agilidade e eficácia à quebra do sigilo bancário: 1o dotar-se de cadastro
nacional de todos os correntistas, e 2o rastrear a movimentação
financeira e fornecer relatórios simplificados e específicos.
5. A investigação é, em essência, morosa. Pede-se quebra de sigilo, vêm os
extratos. Após, cópias de documentos de débito e crédito. Aparecem
novas pessoas, renova-se o ritual. O uso de “laranjas” e de “contas de
passagem” dificultam a identificação do agente. Se há transação
internacional, só com muita sorte se leva a investigação a contento.
6. A inércia do Banco Central que não cria um sistema de controle efetivo
de remessas de divisas ao exterior. Trata-se de uma instituição
recalcitrante em colaborar com as investigações e o Coaf também
não atua de forma sistemática e coordenada no repasse das
informações para investigação.
Quadro 6 – Continuação
7. Resistência e morosidade das instituições financeiras e Bacen,
despreparo da Polícia, falta de meios para análise técnica dos dados,
descalabro dos cartórios de RGI, institutos de identificação, etc.,
exigüidade dos prazos processuais nos casos de réu preso, etc.
8. Alguns órgãos de investigação, notadamente o Coaf, não têm
encaminhado ao MPF as notícias de crime. Geralmente, o órgão,
talvez, por ignorância, encaminha para o MPE, que, não obstante a
existência de crimes federais, passa a investigar os delitos.
9. Orientação da Polícia Federal no sentido de privilegiar a investigação
da lavagem como crime antecedente tráfico, em detrimento das outras
hipóteses (sistema financeiro e Administração Pública), de igual ou
maior relevância.

QUADRO 7
Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e materiais
apontadas pelos procuradores da República.
1. Ausência de corpo técnico especializado em rastrear a origem dos
valores.
2. As agências estatais/órgãos estatais não estão estruturadas para
detectar e levantar tais crimes, sendo no nascedouro tal atividade
abortada.
3. Falta de assessoria técnica especializada, burocracia no encaminhamento
da quebra de sigilo bancário, falta de estrutura do Banco Central, má-
vontade da Receita Federal.
Quadro 7 – Continuação
4. A falta de estrutura na atividade pré-processual, quer da Polícia Federal
– esta já histórica – quer a partir da inexistência de uma estrutura eficiente
no âmbito do próprio MPF.
5. Conhecimento mais específico a respeito – cursos e seminários, que
se refletem desde o início das operações (inquéritos) até seu término
com a prolação da sentença.
6. Penso que, a despeito do avanço da legislação versando sobre o
assunto, tal avanço não veio acompanhado do necessário preparo e
aparelhamento da Polícia para combater tais crimes.
7. Falta de treinamento e estrutura de todos os órgãos envolvidos com
as informações mencionadas na lei em questão, principalmente Coaf,
Ministério Público Federal e Polícia Federal.
8. A principal dificuldade se resume à investigação policial, que é
deficiente, em razão da falta de estrutura da Polícia Federal do RJ
que, por exemplo, não conta com um serviço de perícia criminal
especializado na apuração dos crimes em questão.
9. Falta de recursos técnicos e humanos da Polícia e do próprio
Ministério Público.
10. Falta de estrutura no Ministério Público. O quadro de apoio precisaria
contar com profissionais de determinadas áreas (fiscal, contábil,
tributária). Não há cargo de contador nos PRs. Um bom começo
seria um verdadeiro trabalho de integração da Receita Federal, do
Bacen e demais órgãos com o MP.
11. A falta de sensibilidade de alguns juízes para este tipo de delito.
QUADRO 8
Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos procuradores da
República.
1. Dificuldades de relações internacionais, causados especialmente, pela
ainda incipiente colaboração entre os órgãos internacionais de
repressão ao crime.
2. O sigilo bancário e a pouca participação ou integração do Banco
Central para com as atividades do MPF.

Os juízes federais respondentes mencionaram as seguintes dificulda-


des práticas para punir os crimes de lavagem de dinheiro:

QUADRO 9
Dificuldades de ordem probatória e processual apontadas pelos
juízes federais.
1. Dificuldade de interpretação das informações financeiras que, a rigor,
são necessários conhecimento e cooperação.
2. A investigação dos delitos de lavagem de dinheiro é extremamente
difícil, mesmo porque nada ou quase nada se poderá fazer se as
pessoas elencadas no art. 9o da presente lei não colaborarem.
3. Falta de acesso rápido às movimentações financeiras dos envolvidos.
4. A prova do crime antecedente.
Quadro 9 – Continuação
5. Os prazos para conclusão do inquérito policial e para a instrução
devem ser triplicados e os prazos pequenos para a realização de perícia
contábil e rastreamento da movimentação.
6. Demora no inquérito policial.
7. Não existe agilidade dos órgãos administrativos (especialmente em
se tratando do Banco Central do Brasil) no fornecimento de
informações eventualmente requisitadas pela Justiça.
8. Identificação do verdadeiro lavador e não de laranjas.
9. A sofisticação do crime em contraposição com a dificuldade na
obtenção de provas – por isso sou a favor da delação premiada,
como forma de suprir a deficiência.
10. Bens resultantes destes delitos acabam sendo de difícil apreensão,
pois supostos terceiros de boa-fé comparecem em juízo munidos de
vários documentos onde fundamentam seus pedidos de restituição,
não obstante os indícios da ligação dos bens com os crimes de
lavagem sejam veementes.
11. Creio que a falta de efetividade prática da referida lei, deve-se
principalmente à inércia dos órgãos do Ministério Público e também
ao descaso das entidades que devem prestar as informações.
12. O despreparo da Polícia e do Ministério Público na obtenção das
provas e finalmente a modernidade técnica dos fraudadores sem a
correspondente estrutura do Judiciário.
13. Associação de entidades financeiras, ao menos de forma aparente,
com os suspeitos do delito.
QUADRO 10
Dificuldades relacionadas aos recursos humanos e materiais
apontadas pelos juízes federais.
1. O despreparo dos agentes encarregados da investigação, que não
têm formação e meios para apurar este tipo de criminalidade.
2. O MPF não está bem estruturado, pois nem há órgão local, pois os
procuradores da República estão sediados na capital.
3. Nosso aparelhamento deficiente, importando em levantamentos
periciais sem que a Polícia Federal tenha material humano para fazer
frente às solicitações.
4. Excesso de trabalho e falta de aparelhamento.
5. Ineficiência dos órgãos envolvidos nas investigações (Polícia Federal,
Receita Federal, Bacen, INSS etc.).
6. Constatação do crime antecedente (a lei fala que a denúncia será
instruída com “indícios suficientes” do crime antecedente, mas nem
sempre os indícios indicados pelo Ministério Público parecem
suficientes).
7. A maior dificuldade está na falta de um preparo técnico específico
por parte da Polícia Judiciária, o que torna complicado apurar e provar
crime que, por sua própria natureza, tenta assumir caráter de licitude.
E com o volume de valores envolvidos verifica-se uma constante
evolução nos procedimentos de lavagem, os quais, via de regra, não
se consegue acompanhar.
8. Ausência da apuração do ilícito na circunscrição judiciária: não há
delegacia de Polícia Federal.
Quadro 10 – Continuação
9. Tenho enfrentado muitas dificuldades práticas para punir os crimes
de lavagem de dinheiro, devido às abstrações tipológicas e a má
formação técnica da Polícia Federal, da Receita Federal e do próprio
Poder Judiciário quanto aos procedimentos que os criminosos se
valem.

QUADRO 11
Dificuldades de ordem estrutural apontadas pelos juízes federais
para punir os crimes de lavagem de dinheiro.
1. Falta de eficiência cooperativa das instituições.
2. Falta de coordenação com os entes públicos integrantes do Poder
Executivo. Ausência e deficiência estrutural do Bacen, MPF, PF e do
próprio Judiciário para rastrear e acompanhar atividades “suspeitas”
encetadas no mercado financeiro.

Ressalta-se um comentário de juiz federal acerca do assunto: falta in-


timidade com as questões técnicas (financeira, contábil, bancária) que pos-
sam conduzir a uma melhor apreensão dos fatos em investigação. Essa difi-
culdade, aliada à enorme quantidade de documentos a serem analisados,
tendem a levar à absolvição por falta de provas suficientes para a condena-
ção. O que se percebe é que, invariavelmente, o MPF enfrenta a mesma
dificuldade. Não raras vezes, seu representante apenas repete, em alega-
ções finais ( ou conduzem o processo) o que consta do relatório administra-
tivo, que dá início à ação penal. Além disso, a investigação, que tem início
no órgão administrativo, é concluída em prazo muito longo (mais ou menos 3
a 5 anos), depois a questão é repassada na Polícia Federal, para depois ser
encaminhada ao MPF.
A segunda questão direcionada aos três grupos foi o que poderia ser
implementado por eles para que os crimes de lavagem de dinheiro fossem
enfrentados com maior eficácia. Dividiram-se as sugestões em três grupos:
implementações relacionadas aos recursos humanos e matérias, relaciona-
das em nível estrutural e relacionadas à questão processual e probatória.

QUADRO 12
Sugestões dos delegados federais acerca do que poderia ser
implementado pela Polícia Federal para que os crimes de lavagem
sejam investigados com maior eficácia relacionados aos recursos
humanos e materiais.
1. Cursos de especialização a respeito, bem como aplicar os parcos
recursos humanos e materiais com a macrocriminalidade, e não com
rádios comunitárias, crimes de desobediência, falso testemunho,
apropriação indébita previdenciária, etc. Enfim, assim como as
principais polícias do mundo, o DPF deveria se especializar em crimes
financeiros, tráfico de entorpecentes, tráfico de armas e crimes de
vulto praticados por organizações criminosas, o que requer mudanças
na legislação vigente.
2. A tecnologia e a técnica aplicada pela Polícia Federal nessas inves-
tigações estão corretas. A carência reside no efetivo insuficiente, que
Quadro 12 – Continuação
depende de concurso público, já autorizado parcialmente, mas não
realizado, em face de exigências infindáveis da área econômica do
Governo Federal.
3. Aumentar o contingente, aparelhar a DCOIE/CGCP (Coordenação-
Geral Central de Polícia) e implementar rotinas de treinamento aos
policiais, com a participação dos demais órgãos envolvidos na
repressão a esses ilícitos.
4. Recrutamento e disponibilização de pessoal (delegados, agentes,
escrivães, peritos, etc.) com treinamento específico e cursos sobre
essas questões, inclusive se possível, no exterior, junto às nossas
congêneres que estão mais preparadas e equipadas materialmente
para enfrentar esse tipo de delito, formando-se assim um grupo
homogêneo com procedimentos próprios e equipamentos adequados
e de última geração, para realização de filmagens, gravações, escutas
telefônicas, etc.
5. Cursos especializados para os servidores que trabalham na DCOIE,
não só sobre as técnicas de investigação, como com equipamentos
de alta tecnologia, usados pelas polícias dos “países desenvolvidos”.
Criação de uma força-tarefa envolvendo outros órgãos, o que
certamente agilizaria a persecução penal.
6. Dotar as Delecoies de setores específicos para processar o material
oriundo das quebras de sigilo.
7. Aumento do efetivo com uma seleção de policiais com esta vocação,
havendo um trabalho de preparo com cursos de técnica investigativa,
proporcionando a classe maior autonomia e garantias para em seguida
Quadro 12 – Continuação
serem estabelecidas metas, premiando os que atingirem e relotando
os demais.
8. Dar maior estrutura às Delecoies no tocante ao pessoal (digitadores
e analistas) e ao material, como também conceder alguns privilégios
visando à maior celeridade, destacando, podemos citar: peritos
contábeis exclusivos para as Delecoies.
9. Controle da entrada e saída de pessoas no território nacional.

QUADRO 13
Sugestões dos delegados federais acerca do que poderia ser
implementado pela Polícia Federal para que os crimes de lavagem
sejam investigados com maior eficácia relacionados à integração
entre órgãos.
1. Maior interação entre os órgãos diretamente envolvidos, tais como
Poder Judiciário, Ministério Público Federal, Receita Federal, Banco
Central e Polícia Federal, formando-se, até mesmo, em alguns casos
específicos, forças-tarefa para apuração do fato até sua conclusão.
2. Maior cooperação entre a PF, Justiça Federal, Receita Federal e
Banco Central do Brasil, e criação de uma força-tarefa entre esses
órgãos.
3. Maior intercâmbio com as diversas agências responsáveis pela
repressão aos crimes de lavagem de dinheiro, notadamente com
a Justiça Federal e com o Ministério Público Federal, no sentido
de produzir-se uma cultura de apurações que atenda, de forma
Quadro 13 – Continuação
eficiente e eficaz, à necessidade de resposta estatal a esse tipo de
delito. “Nenhuma sociedade se sustenta sem a contenção do
crime”, mormente quando estamos diante de verdadeiras
organizações criminosas que buscam de forma desenfreada o lucro
fácil e rápido.
4. Dar prioridade nas respostas aos ofícios expedidos a outros órgãos,
etc.

Sugestões dos procuradores da República sobre o que poderia ser


implementado por eles para que os crimes de lavagem sejam denunciados
com maior eficácia:

QUADRO 14
Sugestões dos procuradores da República sobre o que poderia ser
implementado para que os crimes de lavagem sejam denunciados
com maior eficácia relacionados com recursos humanos e
materiais.
1. Grupo de procuradores especializados, atuando junto com os
delegados federais.
2. Criação nos Estados de cargos especializados em auxiliar os membros
nas investigações financeiras das pessoas investigadas.
3. Cooperação na investigação, talvez a prova documental e pericial
pudesse ser produzida por agentes com acesso aos dados (fiscalização
Bacen).
Quadro 14 – Continuação
4. Grupos de trabalho. Maior estrutura de meios materiais e pessoal
especializado. Canais de diálogo efetivo entre MP, Justiça, Polícia,
Receita e Banco Central, entre outras instituições.
5. Trabalho conjunto com outros órgãos (Polícia Federal, Receita, INSS
etc.) que, no entanto, contam como o MPF, com poucos recursos
materiais e humanos, além de haver pouco treinamento.
6. Assessores qualificados à disposição do MPF (contadores,
precipuamente) e finalmente, revogação do princípio da obrigatoriedade
da ação penal (indisponibilidade) em se tratando de delitos de pouca
monta, e possibilidade de acordo extra-autos ou nos autos, entre MPF
e acusado(s): transação penal, mais especificamente, mais ampla daquela
prevista na Lei n. 9.099/99.
7. Criação de corpo técnico especializado em crimes dessa natureza.
8. Criação em cada procuradoria de uma estrutura dirigida à investigação
desses crimes e de seus antecedentes, composta de pessoas com
habilitação e treinamento.
9. Realizar cursos e seminários para troca de experiências entre seus
membros.
10. Antes de mais nada, é de se salientar que o atual número de
procuradores da República, que é ínfimo, é o primeiro óbice para
uma atuação eficaz do MPF. Ademais, não dispõe a instituição de
qualquer aparelhamento que colabore na viabilização no combate a
tais delitos como, por exemplo, corpo técnico habilitado a auxiliar os
procuradores nas investigações.
Quadro 14 – Continuação
11. Criação de um departamento de peritos, com meios materiais
adequados, em cada unidade do MPF.
12. Um quadro de servidores capacitados, um centro de análise de
informações e programas de cruzamentos de dados e um banco de
dados específico.
13. Promoção de seminários sobre o tema, com a participação de todas
as instituições encarregadas de investigar tais fatos, visando ao
intercâmbio de informações.
14. O que é feito em outras áreas que têm merecido prioridade na
instituição, como as questões ambientais e indígenas, com a realização
de seminários e encontros, democratizando-se a participação de todos
que militam na área criminal.
15. Designação de técnicos/auditores da Receita Federal e do Bacen para
auxiliarem o MPF, com exclusividade, tendo em vista o grau de
complexidade das operações de lavagem de dinheiro.
16. A instituição, como de resto os demais órgãos públicos do País, é
mal aparelhada. Há escassez de procuradores e servidores, em
especial, técnicos especializados na análise de informações
bancárias.

QUADRO 15
Sugestões dos procuradores da República sobre o que poderia ser
implementado para que os crimes de lavagem sejam denunciados
com maior eficácia relacionados à integração entre órgãos.
1. Atuação conjunta com a Receita Federal, Bacen, CVM, etc.
Quadro 15 – Continuação
2. Instrumento de integração e troca de informações com a RF, Bacen,
Coaf e INSS.
3. Em verdade, sofre o MPF limitações materiais e a ausência de
colaboração de órgãos do governo, especificamente o Coaf, que ainda
não deu mostras de ter a disposição de coibir tais condutas.
4. Integração com autoridades de outros países.
5. Maior estrutura do Coaf e Bacen.
6. Criação de uma força-tarefa para essa atividade específica,
estruturação dos órgãos encarregados da persecução penal, sentido
de prioridade pela magistratura e MP para esses tipos de infrações
penais.
7. Uma maior interação com as autoridades administrativas e com o
Judiciário.
8. Equipes de trabalho como forças-tarefas, a exemplo, da existente
entre INSS/ MPF/Polícia Federal que vem produzindo bons resultados
no combate aos fraudadores do INSS e fomentar a instalação de
uma perícia especializada na Polícia Federal como o Instituto Nacional
de Criminalística/Brasília possui.
9. Melhor estruturação, mais abordagem nos cursos de especialização
ministrados pela Escola Superior do Ministério Público e incremento
de intercâmbio de informações entre técnicos do Banco Central,
Parquet e Polícia Federal.
10. Necessária se faz uma melhor estruturação do órgão e uma maior
aproximação com a polícia que, por sua vez, precisa ser modernizada
e aparelhada para o combate a esse tipo de crime.
QUADRO 16
Sugestões dos procuradores da República sobre o que poderia ser
implementado para que os crimes de lavagem sejam denunciados
com maior eficácia relacionados à questão processual e
probatória.
1. Flexibilização do sigilo bancário – quebra-se o sigilo para toda a
investigação e não a cada requisição de documentos e informação.
2. Tramitação do inquérito policial somente entre o MPF e a Polícia
Federal.
3. Dar instrumentos de investigação mais efetivos. Note-se, hoje a
Receita Federal tem acesso a informações bancárias e o titular da
ação penal não.
4. Seria necessário, em primeiro lugar, que houvesse uma modificação
da interpretação jurisprudencial, garantindo ao Ministério Público
acesso a tais informações consideradas sigilosas. Tal interpretação
advém de uma simples análise sistemática dos termos da Lei
Complementar n. 75/93. A partir daí, o Ministério Público deveria
ter acesso às informações colhidas pelo Coaf, requisitando a apuração
desses fatos pela Receita e Bacen.
5. Maior rapidez nos procedimentos administrativos da CVM e Banco
Central, bem como o auxílio de peritos especializados no assunto.
6. Implementação real do poder de requisição direta do MPF dos dados
às instituições financeiras, inclusive com a publicação de acórdão do
STF que decidiu acerca desta possibilidade no que se refere aos
recursos públicos.
Quadro 16 – Continuação
7. Quebra de sigilo bancário diretamente pelo MPF. Facilitação de acesso
aos dados da Receita Federal e de outros órgãos (desburocratização,
acesso informatizado).

Quando foi facultado aos juízes federais apresentarem propostas do


que poderia ser implementado pelo Judiciário para que os crimes de lava-
gem sejam punidos com maior eficácia, mencionaram o seguinte:

QUADRO 17
Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia ser
implementado pelo Judiciário para que os crimes de lavagem
sejam punidos com maior eficácia relacionados à questão
processual e probatória.
1. Maior agilidade na indisponibilidade dos bens.
2. Creio que cabe mais ao MPF e à Polícia investigarem mais e melhor
tais crimes, não cabendo ao Judiciário, num primeiro momento,
competência para dar mais eficácia à punição desses delitos. Tanto
é verdade que este juízo não recebeu nenhuma denúncia até o
momento.
3. Creio que nada pode ser implementado pelo Judiciário na medida em
que não depende dele a investigação dos crimes de lavagem, nem
tampouco a de tornar efetivos os dispositivos contidos nos artigos 10
e 11 da Lei n. 9.613/98.
Quadro 17 – Continuação
4. As dificuldades, in casu, me parecem ser as mesmas enfrentadas
quanto a outros ilícitos: deficiente instrução pré-jurisdicional,
dificuldade de cumprimento de decisões cautelares (falta de
equipamento policial) e o excesso de recursos e “recursos” possíveis
de serem utilizados, postergando a decisão final.
5. Maior flexibilidade em relação a determinados conceitos, como, por
exemplo, o direito à privacidade e à intimidade.
6. Celeridade nas decisões de natureza cautelar e de mérito.
7. Rigor na instrução probatória.
8. O rito a ser adotado deveria ter sido outro, mais célere, pois os feitos
envolvendo crimes de lavagem de dinheiro requerem uma conclusão
rápida. Cursos e outras atividades, sempre em conjunto com o MPF
(e a Polícia Federal).
9. Maior estrutura para que as decisões não se prendessem, apenas, ao
âmbito liminar, mas que a decisão definitiva fosse mais célere.
10. Aumentar os poderes investigatórios da Polícia Federal e os poderes
instrutórios do juiz.
11. Os inquéritos policiais que apesar de delitos dessa natureza devem
ter tramitação rápida e eficaz – acompanhamento dos prazos e das
diligências da autoridade.
12. Criação de mais canais de informações com os órgãos envolvidos,
utilizando-se a informática como meio e simplificando-se e
informalizando alguns procedimentos investigatórios, que passariam
a ser presididos por um juízo instrutor.
13. Dar tratamento prioritário no processamento e julgamento desse crime.
Quadro 17 – Continuação
14. Creio que deveriam ser estabelecidos mecanismos para que,
diretamente, pela via informatizada, o Judiciário acessasse os dados
das instituições financeiras e, se fosse o caso, as bloqueasse.
15. Agir com mais severidade no que se refere à aplicação e cobrança de
pena pecuniária.
16. A lei parece-me aparelhar suficientemente a repressão. Quanto à
proibição da fiança e liberdade provisória, acho que não corresponde
ao Direito Penal democrático, mas não observei isso diante das
decisões do STF quanto aos crimes hediondos. No tocante aos delitos
conectados, acho que deveria haver uma cláusula genérica que
referisse a dinheiro proveniente de crime.
17. Que o juiz ao receber processo da espécie, que pudesse se caracterizar
como caso complexo, pudesse ser substituído nas demais atividades
por um tempo razoável – dois ou três dias para se dedicar ao assunto.
18. O acesso à informação de forma rápida, simplificada (exemplo:
convênio com órgãos e entidades do Poder Executivo com acesso a
dados via internet), é essencial para a efetividade das decisões
judiciais.
19. A lei, a meu ver, é boa, apesar da ausência dos crimes tributários.
Mas é preciso: 1) aparelhar e especializar a Polícia, o MP e o
Judiciário; 2) haver participação mais rápida e efetiva do Bacen na
comunicação ao MP dos atos suspeitos; 3) aprimorar-se formas de
um repatriamento e identificação de valores no estrangeiro e 4) incluir
pelo menos o crime de sonegação fiscal.
Quadro 17 – Continuação
20. Melhor instrução dos inquéritos, que deviam ser elaborados, nessa
espécie de crime, por quem entende do assunto e não por delegados
da Polícia Federal que não possuem domínio sobre a matéria.
21. Permanente atualização legislativa, jurisprudencial e doutrinária dos
magistrados acerca do tema.
22. A lavagem de dinheiro, isto é, a competência para julgar condutas
assim tipificadas deveria ser de competência exclusiva da Justiça
Federal. Se assim fosse, o Judiciário poderia, na prática, implementar
os mecanismos de punição mais eficaz.
23. Uma aplicação da Lei n. 9.613/98, ao mesmo tempo, rigorosa e
conforme a Constituição de 1988.
24. Deveriam ser implementados outros procedimentos criminais
preparatórios para coibir a lavagem de dinheiro.
25. Integração das informações sobre os processos que tratam dos crimes
previstos na Lei n. 9.613/88, entre os órgãos do Poder Judiciário.
Uma atitude prática voltada ao combate da criminalidade em geral.
O fim da cultura de nulidades do processo em geral e do processo
penal em particular.
26. Afastar os políticos do Judiciário, sobretudo na escolha por
“merecimento” e para preenchimento das vagas dos advogados.
27. Inserção do Ministério Público como membro do Coaf – Conselho
de Controle de Atividades Financeiras.
QUADRO 18
Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia ser
implementado pelo Judiciário para que os crimes de lavagem
sejam punidos com maior eficácia relacionados aos recursos
materiais e humanos.
1. Criação da Polícia Judiciária especializada, do Ministério Público com
promotorias ou procuradorias especializadas, varas especializadas e
apoio técnico do Poder Executivo: infraestrutura de material e de
pessoal
2. Cursos e palestras sobre o tema em discussão.
3. Maior treinamento de juízes para compreender a engenharia financeira
normalmente utilizada na movimentação de valores oriundos do delito.
4. Contratação de um juízo de juízes que, a partir de então, pudessem
atuar com prioridade, numa espécie de forças-tarefa com
conhecimento multidisciplinar.
5. Implementados os juizados especiais, tenho que os juízes com
competência criminal atuarão com maior eficácia na punição destes
crimes.
6. Dever-se-ia instituir na fase inquisitorial uma polícia do tesouro,
habilitada e competente.
7. Talvez a existência de cursos sobre questões técnicas, e não
propriamente jurídicas, a respeito dos meios e instrumentos utilizados
para a prática destes delitos, auxilie uma melhor compreensão desta
espécie de criminalidade.
Quadro 18 – Continuação
8. Concurso para peritos especializados e convênio com o Banco Central.
9. Entendo que nada existe ao alcance do Judiciário para que os crimes
de lavagem sejam punidos com maior eficácia. Entendo caber ao
Ministério Público dotar seus quadros de pessoas habilitadas para
tanto. A impunidade não é, em termos institucionais, culpa do
Judiciário, mas dos órgãos investigativos – Polícia, Receita Federal,
Banco Central – e acusatório – Ministério Público.
10. Penso que é a estrutura policial que deve ser aprimorada,
especialmente no tocante à área contábil, inclusive com a troca de
informações entre a fiscalização da Receita Federal, INSS e Polícia
Federal.
11. A polícia precisa ter pessoal especializado, em maior número e mais
preparado para atuar nessa área. Os juízes criminais precisam
conhecer o tema com maior profundidade.
12. Cursos sobre o sistema financeiro.
13. Existência nos quadros de servidores de técnicos qualificados para
assessorar o juízo com pareceres, esclarecimentos e até perícias.
14. Oferecer cursos para que os magistrados tenham domínio sobre
operações financeiras, movimentação de valores, vale dizer, tenham
conhecimento sobre modus operandi dos agentes dos crimes previstos
nesta lei.
15. Realização de cursos de especialização na área.
16. Varas especializadas ou com especialização quanto a esses crimes.
17. É necessária uma mudança de atitude de seus integrantes.
Quadro 18 – Continuação
18. Aprofundada especialização dos magistrados com competência
criminal. Mas não só deles. Também dos representantes do Ministério
Público e da Polícia! Afinal, é necessário formar um senso comum
mínimo entre todos.
19. Pelo Judiciário, pouco caberia. É necessário mudança na legislação e
maior intimidade no combate por parte da Polícia Federal, com
maiores investimentos.
20. Convênios com o Executivo. Criação de setores e cargos técnicos
de apoio próprios para levantamento e conferência da veracidade
das informações trazidas aos autos pelos réus e pelo MPF.
21. Há necessidade, na realidade, de melhor aparelhamento do
Departamento de Polícia Federal sobre o assunto, digo, para investigar
o assunto. Quanto ao Judiciário, não vejo como, no momento, dar
maior agilidade aos feitos no compasso característico das operações
financeiras.

QUADRO 19
Sugestões dos juízes federais sobre o que poderia ser
implementado pelo Judiciário para que os crimes de lavagem
sejam punidos com maior eficácia relacionados à integração entre
órgãos.
1. A repressão ao crime organizado passa, necessariamente, por uma
ação integrada entre as instâncias do Poder Judiciário, já que as
superiores hão de dar suporte à primeira, sem o que se torna inócua
a atuação do juiz monocrático.
Quadro 19 – Continuação
2. Intercâmbio maior entre as esferas federal e estadual.
3. Maior entrosamento com a Polícia Federal e o MPF com a criação
de um órgão policial e Judiciário especializado na matéria.
4. Entendo que o Judiciário deveria estabelecer contatos com o Banco
Central, a Receita Federal e outros órgãos administrativos, de modo
a estabelecer-se formas de maior cooperação de tais órgãos no
fornecimento de informações que forem requisitadas.
5. O convênio firmado com o Bacen em 8/5/2001 é um bom começo. É
preciso, no entanto, implementá-lo o quanto antes.
6. É preciso especialização nos seguintes órgãos: Receita Federal, Banco
Central, Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal. Referidos
órgãos têm que trabalhar em sintonia e com vontade.
7. Convênio com Bacen para acesso às informações previstas na lei e
acesso às informações obtidas pela Receita Federal (departamento
de inteligência) via convênios.
8. Tratando-se de crime transnacional, fica difícil o Poder Judiciário de
um só país, como o Brasil, resolver o problema.
9. Celebração de convênios com instituições internacionais que cuidam
do assunto.

Os delegados da Polícia Federal escreveram os seguintes comentári-


os ou informações, quando foram interrogados a respeito:
QUADRO 20
Comentários dos delegados da Polícia Federal.
1. Há necessidade de maior rigor na regulamentação e fiscalização de
certas atividades, como factorings, casas de câmbio, etc., uma vez
que são utilizadas constantemente em atividades ilícitas. Há também
de se definir melhor o que vem a ser “lavagem de dinheiro”, a fim de
que não se confunda com o mero proveito do crime.
2. Considerando a magnitude das lesões causadas por esse crime e seus
antecedentes, todas as providências que necessitem de autorização
judicial devem ter rito sumário, com decisão imediata – ainda que
negativa –, para que não se percam os princípios da celeridade,
conveniência e oportunidade. Para se cometer crimes, ainda mais dessa
espécie, não existem formalidades, mas para se combater esses
mesmos crimes existe um rosário de formalidades e burocracia
excessiva que deixa uma longa vantagem para os delinqüentes, numa
total inversão de valores, como se não existissem normas próprias
para coibir eventuais abusos praticados pelas autoridades constituídas.
3. Acho que a referida lei exige muita hermenêutica, quando, na minha
opinião, não deveria exigir tanta.
4. Atualmente, comenta-se que existe um poder paralelo ao Estado,
medido em escala nacional e até internacional, representando
ameaça constante à integralidade das nações e de seus sistemas
financeiros. Necessária, portanto, a participação de todos os órgãos
governamentais e do Judiciário, no sentido de dar atenção especial
(prevalência). Para que as investigações obtenham êxito, deve-se
Quadro 20 – Continuação
recorrer a uma força-tarefa (DPF, SRF, Bacen, etc.) com o auxílio
do Judiciário, visando a agilizar os procedimentos citados
anteriormente.
5. Vislumbra-se que a criação de permissivo legal que autorize a
autoridade policial a atuar de forma seletiva, podendo, dessa forma,
priorizar os crimes de maior eficácia nas apurações, posto que a teoria
de que o Estado deve dar resposta a todas as ocorrências criminosas,
na prática, muitas vezes inviabiliza a realização de investigações
eficientes e eficazes, culminando com grande volume de inquéritos e
processos e pouca punição.

Os procuradores da República escreveram os seguintes comentários


ou informações quando foram indagados a respeito:

QUADRO 21
Comentários dos procuradores da República.
1. É fundamental que o MPF crie um setor de inteligência interligado ao
Coaf.
2. A grande dificuldade em se investigar qualquer tipo de crime, mormente
o de lavagem de dinheiro é o excesso de formalismo para se carrear
a prova, o que se contrapõe à própria investigação visada no processo
penal: que é a busca da verdade real. Para melhorar a persecução
nesses crimes, é imprescindível a flexibilização do sigilo bancário, com
acesso direto às informações pelo Ministério Público.
Quadro 21 – Continuação
3. Nosso ordenamento jurídico deveria ter instrumento, segundo o qual
se presumiria de origem ilícita todo bem adquirido sem comprovação
de lastro nos rendimentos declarados no imposto de renda. Nessa
situação, caberia confisco pela autoridade administrativa. Essa, a meu
ver, na realidade brasileira, a única medida eficaz ao combate da
lavagem de dinheiro.
4. Por enquanto, a efetiva aplicação da Lei n. 9.613 é tímida e incipiente,
talvez devido à falta de disposição política do Coaf no sentido de
desenvolver trabalho integrado com instituições vistas com
desconfiança pelo Executivo (MPF, Judiciário).
5. De regra, a Polícia Federal não desenvolve a contento as investigações
sobre ilícitos financeiros. A metodologia adotada, voltada mais para
“ouvir” pessoas, é obsoleta. Por outra linha, o Banco Central não
tem contribuído para o sucesso das investigações. A excessiva carga
judicial e a burocratização do processo penal levam à impunidade
como certeza. Faça-se uma pesquisa de eficácia do Processo Penal
na 1a instância. Urge a tramitação direta do inquérito policial entre o
MP e a Polícia.
6. Não poderia deixar de elogiar a iniciativa do Conselho da Justiça
Federal pela formulação, em destaque, de modo que floresça para
outras áreas de cogitação sensível à sociedade, sobretudo naquelas
matérias que passam um sentimento médio de impunidade.
7. É necessária a imediata revisão e desburocratização da legislação e
regulamentação bancárias, tornando mais transparentes aquelas
operações.
Quadro 21 – Continuação
8. Para o combate aos crimes de lavagem de dinheiro é primordial o
auxílio do Banco Central/Coaf ao Ministério Público Federal, fato,
hoje, que não ocorre, inclusive, sempre dificultam como podem o
nosso trabalho.
9. Quebra de sigilos bancário, telefônico e ambiental pelo MPF.
10. Entendo louvável a iniciativa deste Conselho da Justiça Federal. Da
mesma forma, entendo imprescindível a integração de órgãos
encarregados da persecução. Só assim é que o Estado desorganizado
terá alguma chance de combater o crime organizado.
11. As ações penais contra lavagem de dinheiro, sem dúvida, seriam
mais eficazes caso existisse, em sede federal, um juízo para a fase
pré-processual, tal como ocorre na área estadual (Dipo).
12. Somos, em todo Brasil, pouco mais de 300 procuradores da República
em 1a instância. Não contamos com assessoramento técnico eficiente
(não há cargo de contador nas PRs e nem de assessor jurídico para
os procuradores).

QUADRO 22
Comentários dos juízes federais.
1. A lei parece-me aparelhar suficientemente a repressão. Quanto à
proibição da fiança e liberdade provisória, acho que não corresponde
ao Direito Penal democrático, mas não observei isso diante das
decisões do STF quanto aos crimes hediondos. No tocante aos delitos
conectados, acho que deveria haver uma cláusula genérica que se
referisse a dinheiro proveniente de crime.
Quadro 22 – Continuação
2. Criação ou aprimoramento de órgãos administrativos do Poder
Executivo para apuração e comunicação à Polícia Judiciária e ao
Ministério Público da ocorrência de delitos dessa natureza. O
estabelecimento de mecanismos de integração entre essas entidades
é de vital importância para o sucesso da repressão desses delitos.
3. É urgente a definição de “organização criminosa”.
4. A lei, por si só, nada resolve. A administração precisa disponibilizar
meios para apurar a ocorrência dos delitos da espécie.
5. É fundamental enfrentar a criminalidade a partir do ápice da pirâmide,
onde se localizam os “capitalistas do crime”, poupando energia em
relação à base, nos crimes de bagatela.
6. Sem prejuízo dos aspectos processuais e penais, em relação à prisão,
entendo que o bloqueio dos bens ligados à lavagem de dinheiro devem
ser imediatamente indisponibilizados e separados ao Estado para
implementação de políticas públicas.
7. Decorridos 3 anos da sanção da referida lei, e considerando que não
há registro de investigação ou de ações penais envolvendo lavagem,
evidencia-se a ineficácia dos dispositivos dos artigos 10 e 11 da Lei
n. 9.613/98, sem mencionar o Coaf, que ainda não disse a que veio.
8. Não é demais afirmar que, como outras, esta lei tem por objetivo
impressionar a coletividade, fazendo crer que há uma preocupação
efetiva com a impunidade. Na realidade, demonstra o despreparo de
nosso legislador quanto à questão criminal em nosso país.
9. A questão n. 4 induz a uma resposta cuja premissa, no meu
entendimento não é exata. Não há proteção constitucional ao sigilo
Quadro 22 – Continuação
bancário. Apenas tangencialmente, quando da intersecção entre o
direito à privacidade e o sigilo bancário, haveria proteção consti-
tucional. Normalmente, o sigilo bancário só protege números e não a
vida íntima das pessoas.
10. O Judiciário deve, institucionalmente, aproximar-se do MPF, para o
bem de ambas as instituições e, principalmente, do jurisdicionado,
para tratar de temas como o que ensejou este questionário.
11. Quanto à questão 13, tenho que nenhuma das opções colocadas
para resposta se adequam à solução. Na medida em que para as
medidas assecuratórias exigem-se “indícios suficientes”, a
demonstração de contra-indícios da ilicitude da origem é a “prova”
suficiente para a liberação. Por isso, tenho que a norma não é
inconstitucional.
12. A lei nem sempre é suficiente para o combate aos crimes dessa
natureza, devendo ocorrer melhor preparação dos juízes, harmonia e
integração nas tarefas da Polícia e Ministério Público Federal com os
demais órgãos ou entes federais envolvidos.
13. É preciso que se avance um pouco mais. Todo cidadão tem o dever de
comprovar seu patrimônio perante o Poder Público, independentemente
da origem ilícita. O perdimento para quem não traz justificativa nesse
sentido seria salutar.
14. O presente questionário tem um ranço ideológico quando tenta induzir
a que se afirme que a Lei n. 9.613/98 possui dispositivos que não
seguem à exigência de um “Direito Penal democrático”. Dá a entender
que “democrático” é somente aquilo que beneficia o infrator.
Quadro 22 – Continuação
15. Acho que o rol dos crimes remetidos não deveriam ser taxativos.
Aliás, não deveriam ser crimes e, sim, infração penal, abrangendo,
com isso, as contravenções penais. Mesmo porque, para condenação
só precisaria provar a infração como pressuposto, não precisando
da condenação.
16. Necessário se faz o estabelecimento de curso para o referido assunto
e não palestras e seminários, que não trazem conhecimentos suficientes
para o objetivo a ser alcançado que a sociedade espera e exige.
17. Falta dispositivo que trate com maior rigor a questão da prescrição
da pretensão punitiva.
18. É preciso que o Judiciário possa priorizar esforços para acelerar o
resultado em processos do gênero. Significará trabalhar mais no
“atacado” neste tempo em que o volume de processos e a escassez
de juízes impedem a atenção necessária a todos os tipos de
criminalidade.
19. O pouco trato com a matéria dificultou a resposta ao questionário. A
iniciativa é elogiável.
20. A apuração dos crimes é difícil, dependendo da boa vontade;
principalmente, do Banco Central, que normalmente não atua com a
transparência necessária.
21. Infelizmente, o grande obstáculo, além dos já mencionados, tem sido
a complacência dos tribunais quando enfrentam os referidos delitos,
pois têm dado um tratamento brando aos réus. A meu ver, a prisão
preventiva têm que ter maior aplicabilidade. Acredito que os aludidos
delitos merecem um tratamento mais sério e rigoroso.
Quadro 22 – Continuação
22. Não há denúncias do ilícito em questão. O órgão ministerial também
apresenta-se deficitário. Necessário sejam realizados cursos de
especialização para os juízes criminais.
23. É indispensável a aprovação de uma lei ordinária que preveja o crime
de sonegação fiscal entre os delitos antecedentes previstos no artigo
1o da Lei n. 9.613/98.

Ressalta-se o comentário de um juiz federal: 1) a comunicação do


artigo 11, II, deve ser feita também ao Ministério Público, pois o Banco
Central demora demais a remeter o expediente ao Ministério Público; 2) a
comunicação ao MP enseja a imediata adoção de medidas capazes até para
recuperação do objeto da lavagem; 3) a Vara Federal de Dourados/MS
tem uns 80 inquéritos e processos sobre lavagem, totalizando R$
23.613.000.000,00 (vinte e três bilhões e seiscentos e treze milhões de re-
ais), quantia esta enviada ao exterior, do final de 1992 ao começo de 1998,
através de uma única agência bancária em Ponta Porã-MS, segundo levan-
tamento que o próprio juiz fez. O juiz também informou que a lavagem de
dinheiro, na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, tendo por
crime antecedente o tráfico de drogas, continua em larga atividade. Empre-
gam-se expedientes de toda ordem, como, por exemplo, a “vaca-papel”,
para se encobrir a origem ilícita. A abertura de conta-corrente em nome de
fantasma ou de laranja, nesta região, é muito comum e serve como uma
espécie de “empresa” posta à disposição de quem pretenda lavar.
CONCLUSÃO

Esta pesquisa institucional foi elaborada com o objetivo de examinar o


controle jurídico-penal existente da lavagem de dinheiro junto às autorida-
des que atuam diretamente no combate a esse crime, a saber, a Polícia Fe-
deral, o Ministério Público Federal e os juízes federais. Desenvolveu-se a
partir dos dados coletados por questionários junto a essas três instâncias de
poder, e os seus resultados poderão possibilitar reflexões sobre os crimes
de lavagem de dinheiro, bem como apresentar deficiências legislativas e
institucionais a serem sanadas pelas autoridades competentes. As dificulda-
des enfrentadas pelas três instâncias de poder para combater essa
criminalidade foram identificadas e feitas sugestões para combater com mai-
or eficiência esse crime. Os resultados prestaram-se, sobretudo, para anali-
sar como os respondentes examinam o crime e como se posicionaram em
relação a alguns institutos jurídicos presentes na Lei n. 9.613/98.
A amostra dos delegados federais, dos procuradores da República e
dos juízes federais foi obtida a partir de respostas espontâneas em esquema
de distribuição prévia e foram consideradas representativas. Mesmo em
relação aos juízes, verificou-se que a amostra dos juízes federais que exer-
cem competência criminal e concorrente foi muito parecida com o universo
respectivo. A taxa de retorno dos três grupos girou em torno de 44%, o que
foi considerado bastante significativo, tendo em vista que se tratavam de
três tipos diferentes de autoridades.
No que diz respeito às características demográficas, tais como a ida-
de e o tempo de serviço, observou-se que todos os três grupos apresentam
um perfil etário jovem. Verificou-se, outrossim, que a grande maioria dos
delegados, procuradores e juízes federais respondentes têm pouco tempo
de exercício na função.
Os três grupos de respondentes foram questionados acerca do sigilo
bancário, se o sigilo bancário deveria ser flexibilizado ou se deveria ser man-
tido tal como previsto atualmente. Os delegados e os procuradores mostra-
ram-se favoráveis à flexibilização do sigilo. Isso deve-se, em parte, ao fato
desses dois grupos vivenciarem maiores dificuldades para conseguirem pro-
vas para a elucidação desses crimes. Neste sentido, o sigilo se apresenta
como um óbice para angariar tais provas. Os juízes federais mostraram-se
divididos quanto à questão da flexibilização do sigilo bancário. Parte dos
juízes não é favorável à mudanças na legislação sobre o sigilo bancário e a
outra parte acredita que o sigilo bancário deveria ser flexibilizado, simplifi-
cando-se os procedimentos judiciais. Verificou-se, assim, na pesquisa, di-
ante da opinião dos três grupos, a necessidade de flexibilizar o sigilo bancá-
rio para que este não se torne uma barreira para investigações de toda sorte
de crimes.
Quanto à constitucionalidade da Lei n. 9.613/98, a maioria dos dele-
gados e procuradores respondentes não questionou a constitucionalidade
dessa lei. No entanto, os juízes federais tiveram um entendimento diverso,
certamente por serem os principais responsáveis por equacionar essa lei
com a preservação das garantias constitucionais.
Com relação à liberdade provisória e à fiança, verificou-se três posi-
ções diferenciadas: os delegados respondentes acreditam que a proibição
da liberdade provisória e da fiança segue as exigências de uma política cri-
minal democrática. Os procuradores ficaram com a opinião dividida quanto
à questão e os juízes afirmaram que a proibição da liberdade provisória e da
fiança é um erro, porque poder-se-ia exigir uma fiança de alto valor e pro-
porcional à quantia objeto do ilícito, ao invés de proibi-la.
Os três grupos de respondentes questionaram o objetivo final da Lei
n. 9.613/98 de repressão e de punição dos autores desses crimes. Efetiva-
mente, há carências de toda sorte que conduzem à impunidade. Desde as
deficiências de recursos humanos e materiais até obstáculos de ordem pro-
cessual e probatória para comprovação desse ilícito. Diante das deficiências
apontadas pelos três grupos de respondentes, percebe-se que falta vontade
política para fazer cumprir a norma.
Os três grupos de respondentes foram unânimes ao afirmarem que a
Lei n. 9.613/98 não é ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno
criminológico sobre lavagem de dinheiro e que essa lei deveria contemplar,
no rol dos crimes antecedentes, os crimes contra a ordem tributária. Os
resultados indicam a necessidade de se rever a questão e incluir os crimes
contra a ordem tributária no rol dos crimes de lavagem de dinheiro, posto
que sonegadores acumulam grandes riquezas de forma ilícita.
Os procuradores respondentes mostraram-se mais críticos ao serem
questionados se a instituição está estruturada para participar do combate
aos crimes de lavagem de dinheiro do que os delegados federais. As defici-
ências institucionais foram apontadas por eles próprios ao comentarem as
dificuldades enfrentadas para denunciar esses crimes. Uma das carências
institucionais apontadas é a falta de assessoria técnica especializada (fiscal,
contábil e tributária) no Ministério Público Federal, o que tem dificultado o
rastreamento da origem dos valores, pois as operações financeiras são inva-
riavelmente complexas.
Os delegados, procuradores e juízes respondentes também foram unâ-
nimes ao afirmarem que a obrigação de comunicar as operações financeiras
e demais transações mencionadas no art. 11, II, a e b, da Lei n. 9.613/98 é
automática, independe de ordem judicial, pois essa comunicação não repre-
senta a quebra de sigilo bancário, posto que as autoridades estão obrigadas
a guardar o sigilo na execução de suas funções.
A maioria dos respondentes também se posicionou favorável à dela-
ção premiada. Contrariamente ao que se esperava, pois acreditava-se que
esse assunto ensejaria uma polêmica maior. Os três grupos foram unânimes
ao afirmarem que a delação premiada é justificável para que as autoridades
tirem proveito da chamada infidelidade criminal. Contrariando as resistênci-
as doutrinárias, os três grupos acreditam que na chamada delação premiada
há mais proveitos a angariar nas investigações e na apuração dos fatos cri-
minosos do que prejuízos de ordem moral.
Quanto à inversão do ônus da prova, os três grupos de respondentes
mostraram-se favoráveis à adoção desse instituto jurídico para que o réu
comprove a origem lícita dos bens, direitos ou valores que tenham sido ob-
jeto da busca e apreensão ou do seqüestro, ao invés do Ministério Público
Federal comprovar a ilicitude do patrimônio do réu. Os respondentes justi-
ficaram a adoção desse instituto para que o capital auferido nos crimes de
lavagem de dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso.
Em suma, os resultados dessa pesquisa possibilitam importantes refle-
xões sobre a Lei n. 9.613/98. Certamente, não houve a pretensão de esgo-
tar o assunto, contudo essa pesquisa prestou-se, sobretudo, para oferecer
subsídios para enfrentar essa criminalidade e contribuir para a elaboração
de futuras políticas públicas acerca dessa categoria delituosa.
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tro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, Brasília, 1997.
ANEXOS

Anexo A Instrumento de coleta de dados dos delegados da


Polícia Federal.

Pesquisa: Os crimes de lavagem ou ocultação de bens,


direitos e valores.
Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998.

Instrumento de coleta de dados

1. Qual a opinião de V. Exa. sobre o sigilo bancário, tal como previsto no


art. 5o, inc. X, da CF?
a) ( ) Deve ser mantido, podendo ser quebrado somente por ordem
judicial, uma vez que não tem prejudicado a colheita de provas
necessária para a formação do inquérito policial e a posterior
feitura da denúncia nos crimes de lavagem de dinheiro.
b) ( ) Deveria ser flexibilizado, simplificando-se os procedimentos ju-
diciais, uma vez que tem prejudicado a colheita de provas.
c) ( ) Deve ser mantido, apesar de prejudicar a colheita de provas.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
2. Qual o tempo médio aproximado (em meses e anos) que os inquéritos
policiais envolvendo esses crimes levam para chegar ao Ministério Pú-
blico Federal?
____________________________________________________________
3. Quanto à constitucionalidade da Lei n. 9.613/98:
3.1. ( ) Está de acordo com os princípios que norteiam um Direito
Penal democrático.
3.2. ( ) Alguns dispositivos são inconstitucionais:
a) ( ) A obrigação imposta às pessoas relacionadas no art.
9o e seu parágrafo, de comunicar automaticamente
todas as operações e transações normativas a serem
exaradas.
b) ( ) O estabelecimento da não-aplicação do art. 366 do
CPP, contida no art. 2o, § 2 o, que poderá ensejar
injustiças, pois é de suma importância que o acusado
saiba da existência do processo criminal.
c) ( ) A inversão do ônus da prova contida nessa lei.
d) ( ) A proibição da concessão da liberdade provisória.
e) ( ) A proibição da prestação da fiança.
f) ( ) Outros dispositivos inconstitucionais: _____________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
4. Quanto à proibição da liberdade provisória e da fiança, na opinião de
V. Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Segue as exigências de uma política criminal democrática.
b) ( ) É um erro, porque poder-se-ia exigir uma fiança de alto valor.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
5. Com relação à aplicabilidade da Lei n. 9.613/98:
5.1. ( ) É aplicável por estar inteiramente de acordo com a Constitui-
ção Federal.
5.2. ( ) Alguns dispositivos, embora constitucionais, não têm aplica-
ção prática tais como:
a) ( ) A conexão dos crimes praticados por organização cri-
minosa (art. 1o, inc. VIII) com os crimes de lavagem
ou ocultação de bens, direitos e valores, por não ha-
ver definição legal de organização criminosa na nos-
sa legislação.
b) ( ) A proibição da aplicação do art. 366 do CPP para
os crimes de lavagem de dinheiro contida no art. 2o,
§ 2 o, e autorizada no art. 4o, § 3o, da mesma lei.
c) ( ) O art. 1o, inc. II, que trata do terrorismo como crime
antecedente ao crime de lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores, por não haver definição legal
do crime de terrorismo na nossa legislação.
d) ( ) O art. 1o, inc. V, que trata dos crimes contra a Admi-
nistração Pública como crime antecedente ao crime
de lavagem de dinheiro, porque os tipos penais dos
crimes contra a Administração Pública são muito
amplos, o que dificulta a sua aplicação.
e) ( ) A cobrança de comunicação compulsória, de forma di-
reta e genérica, de todas as informações relativas aos
encargos consignados no art. 10 da lei mencionada.
f) ( ) O(s) seguinte(s) dispositivo(s) não têm aplicação:
_____________________________________________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
6. Quanto aos objetivos normativos, a Lei n. 9.613/98, na opinião de
V. Exa.:
a) ( ) É suficiente para reprimir os autores de crimes de lavagem.
b) ( ) É suficiente para punir os autores de crimes de lavagem.
c) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas privativas de li-
berdade mais severas.
d) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas de multa mais se-
veras.
e) ( ) É insuficiente, pois não impede o gozo dos produtos do crime.
f) ( ) É insuficiente, pois não tem proporcionado a identificação da
origem ilícita dos bens, direitos e valores referentes a esses cri-
mes.
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
7. Quanto à abrangência, na opinião de V. Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) É ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno
criminológico sobre o crime de lavagem de dinheiro.
b) ( ) Deveria contemplar, no rol dos crimes conectados, a prática de
outros delitos, tais como os crimes contra a ordem tributária.
c) ( ) Deveria contemplar o crime de receptação no rol dos crimes
conexos ao crime de lavagem de dinheiro.
d) ( ) Outros crimes que deveriam ser conectados: ________________
e) ( ) Não sabe / Sem opinião.
8. A Polícia Federal está estruturada para combater os crimes de lavagem
de dinheiro.
a) ( ) Sim, completamente.
b) ( ) Sim, em termos.
c) ( ) Não.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
9. Com relação à obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações mencionadas no art. 11, II, a e b, da Lei dos crimes de lavagem,
pergunta-se com qual das duas afirmativas V. Exa. concorda mais:
a) ( ) Ficou comprometida, pois a inviolabilidade da intimidade e do
sigilo de dados é garantida constitucionalmente.
b) ( ) É automática, independe de ordem judicial, pois essa comuni-
cação não representa a quebra de sigilo bancário, posto que as
autoridades estão obrigadas a guardar o sigilo na execução de
suas funções.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
10. A delação premiada prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que as autoridades tirem proveito da chamada
infidelidade criminal.
b) ( ) É eticamente inaceitável, pois o Estado não pode se valer de
atos imorais para evitar a impunidade.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
11. Com relação às sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o que não cumprirem as obrigações registrárias e burocráticas
previstas no art. 12, incisos I, II, III e IV, da Lei n. 9.613/98, que são
advertência, multa pecuniária variável, inabilitação temporária para o
exercício do cargo de administrador e cassação da autorização para
operação ou funcionamento:
a) ( ) São adequadas.
b) ( ) São excessivas.
c) ( ) São brandas.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
12. A inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direitos ou
valores apreendidos ou seqüestrados, prevista no art. 4o, §§ 2o e 3o, da
Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que o capital auferido nos crimes de lavagem
de dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso.
b) ( ) Fere o princípio da inocência.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
13. A Lei n. 9.613/98, ao proibir a fiança e a liberdade provisória, indireta-
mente adotou em nosso sistema a prisão compulsória e obrigatória.
a) ( ) Concordo.
b) ( ) Discordo.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
14. Quanto ao prazo de vinte e quatro horas para que as pessoas sujeitas à Lei
dos crimes de lavagem de dinheiro comuniquem as operações que possam
constituir-se em sérios indícios dos crimes de lavagem às autoridades:
a) ( ) É suficiente.
b) ( ) É insuficiente.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
15. Quais as dificuldades práticas que V. Exa. tem enfrentado para investi-
gar os crimes de lavagem de dinheiro?
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
16. Na opinião de V. Exa., o que poderia ser implementado pela Polícia
Federal para que os crimes de lavagem sejam investigados com maior
eficácia?
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
17. Escreva nesse espaço quaisquer comentários ou informações que V. Exa.
achar necessário.
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
Caracterização do(a) entrevistado(a)

1. Estado da Federação:____________________________________________
2. Departamento da Polícia Federal onde trabalha:______________________
_____________________________________________________________
3. Sexo: ( M ) ( F )
4. Idade:________________________
5. Tempo como delegado federal:____________________________________
Anexo B Instrumento de coleta de dados dos procuradores da República.

Pesquisa: Os crimes de lavagem ou ocultação de bens,


direitos e valores.
Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998.

Instrumento de coleta de dados

1. V. Exa. tem recebido inquéritos policiais a respeito dos crimes de lava-


gem de dinheiro:
a) ( ) Sim b) ( ) Não
2. Quantos inquéritos policiais V. Exa já recebeu depois do advento dessa
Lei? ____________________________________
3. Qual o tempo médio transcorrido entre o recebimento do inquérito poli-
cial e o envio da denúncia sobre os crimes de lavagem de dinheiro à
Justiça Federal?
______________________________________________________
______________________________________________________
5. Qual a opinião de V. Exa. sobre o sigilo bancário, tal como previsto no
art. 5o, inc. X, da CF:
a) ( ) Deve ser mantido, podendo ser quebrado somente por ordem
judicial, uma vez que não tem prejudicado a colheita de provas
necessária para a formação do inquérito policial e a posterior
feitura da denúncia nos crimes de lavagem de dinheiro.
b) ( ) Deveria ser flexibilizado, simplificando-se os procedimentos ju-
diciais, uma vez que tem prejudicado a colheita de provas.
c) ( ) Deve ser mantido, apesar de prejudicar a colheita de provas.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
6. Quanto à constitucionalidade da Lei n. 9.613/98:
6.1. ( ) Está de acordo com os princípios que norteiam um Direito
Penal democrático.
6.2. ( ) Alguns dispositivos são inconstitucionais:
a) ( ) A obrigação imposta às pessoas relacionadas no art. 9o
e seu parágrafo de comunicar automaticamente todas
as operações e transações normativas a serem exaradas.
b) ( ) O estabelecimento da não-aplicação do art. 366 do
CPP, contido no art. 2o, § 2o, que poderá ensejar in-
justiças, pois é de suma importância que o acusado
saiba da existência do processo criminal.
c) ( ) A inversão do ônus da prova contida nessa lei.
d) ( ) A proibição da concessão da liberdade provisória.
e) ( ) A proibição da prestação da fiança.
f) ( ) Outros dispositivos inconstitucionais: ______________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
7. Quanto à proibição da liberdade provisória e da fiança, na opinião de V.
Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Segue as exigências de uma política criminal democrática.
b) ( ) É um erro, porque poder-se-ia exigir uma fiança de alto valor.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
8. Com relação à aplicabilidade da Lei n. 9.613/98:
8.1. ( ) É aplicável por estar inteiramente de acordo com a Constitui-
ção Federal.
8.2. ( ) Alguns dispositivos, embora constitucionais, não têm aplica-
ção prática, tais como:
a) ( ) A conexão dos crimes praticados por organização cri-
minosa (art. 1o, inc. VIII) com os crimes de lavagem
ou ocultação de bens, direitos e valores, por não ha-
ver definição legal de organização criminosa na nos-
sa legislação.
b) ( ) A proibição da aplicação do art. 366 do CPP para
os crimes de lavagem de dinheiro contida no art. 2o,
§ 2 o e autorizada no art. 4o, § 3o, da mesma lei.
c) ( ) O art. 1o, inc. II, que trata do terrorismo como crime
antecedente ao crime de lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores, por não haver definição legal
do crime de terrorismo na nossa legislação.
d) ( ) O art. 1o, inc. V, que trata dos crimes contra a Admi-
nistração Pública como crime antecedente ao crime
de lavagem de dinheiro, porque os tipos penais dos
crimes contra a Administração Pública são muito
amplos, o que dificulta a sua aplicação.
e) ( ) A cobrança de comunicação compulsória, de forma di-
reta e genérica, de todas as informações relativas aos
encargos consignados no art. 10 da lei mencionada.
f) ( ) O(s) seguinte(s) dispositivo(s) não têm aplicação:
___________________________________________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
9. Quanto aos objetivos normativos, a Lei n. 9.613/98, na opinião de V.
Exa.:
a) ( ) É suficiente para reprimir os autores de crimes de lavagem.
b) ( ) É suficiente para punir os autores de crimes de lavagem.
c) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas privativas de li-
berdade mais severas.
d) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas de multa mais se-
veras.
e) ( ) É insuficiente, pois não impede o gozo dos produtos do crime.
f) ( ) É insuficiente, pois não tem proporcionado a identificação da
origem ilícita dos bens, direitos e valores referentes a esses cri-
mes.
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
10. Quanto à abrangência, na opinião de V. Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) É ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno
criminológico sobre o crime de lavagem de dinheiro.
b) ( ) Deveria contemplar, no rol dos crimes conectados, a prática de
outros delitos, tais como os crimes contra a ordem tributária.
c) ( ) Deveria contemplar o crime de receptação no rol dos crimes
conexos ao crime de lavagem de dinheiro.
d) ( ) Outros crimes que deveriam ser conectados: _______________
e) ( ) Não sabe / Sem opinião.
11. O Ministério Público Federal está estruturado a participar do combate
aos crimes de lavagem de dinheiro.
a) ( ) Sim, completamente.
b) ( ) Sim, em termos.
c) ( ) Não.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
12. Com relação à obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações mencionadas no art. 11, II, a e b, da Lei dos crimes de lavagem,
pergunta-se com qual das duas afirmativas V. Exa. concorda mais:
a) ( ) Ficou comprometida, pois a inviolabilidade da intimidade e do
sigilo de dados é garantida constitucionalmente.
b) ( ) É automática, independe de ordem judicial, pois essa comuni-
cação não representa a quebra de sigilo bancário, posto que as
autoridades estão obrigadas a guardar o sigilo na execução de
suas funções.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
13. A delação premiada prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que as autoridades tirem proveito da chamada
infidelidade criminal.
b) ( ) É eticamente inaceitável, pois o Estado não pode se valer de
atos imorais para evitar a impunidade.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
14. Com relação às sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o que não cumprirem as obrigações registrárias e burocráticas
previstas no art. 12, incisos I, II, III e IV, da Lei n. 9.613/98, que são
advertência, multa pecuniária variável, inabilitação temporária para o
exercício do cargo de administrador e cassação da autorização para
operação ou funcionamento:
a) ( ) São adequadas.
b) ( ) São excessivas.
c) ( ) São brandas.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
15. A inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direitos ou
valores apreendidos ou seqüestrados, prevista no art. 4o, §§ 2o e 3o, da
Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que o capital auferido nos crimes de lavagem
de dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso.
b) ( ) Fere o princípio da inocência.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
16. A Lei n. 9.613/98, ao proibir a fiança e a liberdade provisória, indireta-
mente adotou em nosso sistema a prisão compulsória e obrigatória.
a) ( ) Concordo.
b) ( ) Discordo.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
17. Quanto ao prazo de vinte e quatro horas para que as pessoas sujeitas à
Lei dos crimes de lavagem de dinheiro comuniquem as operações que
possam constituir-se em sérios indícios dos crimes de lavagem às auto-
ridades:
a) ( ) É suficiente.
b) ( ) É insuficiente.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
18. Quais as dificuldades práticas que V. Exa. tem enfrentado para denunci-
ar os crimes de lavagem de dinheiro?
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
19. Na opinião de V. Exa., o que poderia ser implementado pelo Ministério
Público Federal para que os crimes de lavagem sejam denunciados com
maior eficácia?
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
20. Nesse espaço escreva quaisquer comentários ou informações que V. Exa.
achar necessário.
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

Caracterização do(a) entrevistado(a):

1) Estado da Federação:___________________________________________
2) Sexo: ( M ) ( F )
3) Idade:____________________
4) Tempo de trabalho no Ministério Público Federal:____________________
Anexo C Instrumento de coleta de dados dos juízes federais.

Pesquisa: Os crimes de lavagem ou ocultação de bens,


direitos e valores.
Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998.

Instrumento de coleta de dados

1. V. Exa. já participou de eventos (congresso, seminário) sobre os crimes


de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
2. V. Exa. já cursou alguma disciplina em cursos de pós-graduação (espe-
cialização, mestrado ou doutorado) sobre o tema?
a) ( ) Sim
b) ( ) Não
3. Para conhecimento da incidência do crime de lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores na vara em que V Exa. atua, indique:
a) Número de denúncias recebidas até 31/12/2000:
___________________________________________
b) Número de processos em tramitação até 31/12/2000:
___________________________________________
c) Número de processos julgados por V. Exa. até 31/12/2000:
___________________________________________
4. Qual a opinião de V. Exa. sobre o sigilo bancário, tal como previsto no
art. 5o, inc. X, da CF:
a) ( ) Deve ser mantido, podendo ser quebrado somente por ordem
judicial.
b) ( ) Deveria ser flexibilizado, simplificando-se os procedimentos ju-
diciais.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
5. Quanto à constitucionalidade da Lei n. 9.613/98:
5.1. ( ) Está de acordo com os princípios que norteiam um Direito
Penal democrático.
5.2. ( ) Alguns dispositivos são inconstitucionais:
a) ( ) A obrigação imposta às pessoas relacionadas no art.
9o e seu parágrafo, de comunicar automaticamente
todas as operações e transações normativas a serem
exaradas.
b) ( ) O estabelecimento da não-aplicação do art. 366 do
CPP, contido no art. 2o, § 2o, que poderá ensejar
injustiças, pois é de suma importância que o acusado
saiba da existência do processo criminal.
c) ( ) A inversão do ônus da prova contida nessa lei.
d) ( ) A proibição da concessão da liberdade provisória.
e) ( ) A proibição da prestação da fiança.
f) ( ) Outros dispositivos inconstitucionais:
_________________________________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
6. Quanto à proibição da liberdade provisória e da fiança, na opinião de V.
Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Segue as exigências de uma política criminal democrática.
b) ( ) É um erro, porque poder-se-ia exigir uma fiança de alto valor.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
7. Com relação à aplicabilidade da Lei n. 9.613/98:
7.1. ( ) É aplicável por estar inteiramente de acordo com a Consti-
tuição Federal.
7.2. ( ) Alguns dispositivos, embora constitucionais, não têm aplica-
ção prática tais como:
a) ( ) A conexão dos crimes praticados por organização cri-
minosa (art. 1o, inc. VIII) com os crimes de lavagem
ou ocultação de bens, direitos e valores, por não ha-
ver definição legal de organização criminosa na nos-
sa legislação.
b) ( ) A proibição da aplicação do art. 366 do CPP para
os crimes de lavagem de dinheiro contida no art. 2o,
§ 2 o, e autorizada no art. 4o, § 3o, da mesma lei.
c) ( ) O art. 1o, inc. II, que trata do terrorismo como crime
antecedente ao crime de lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores, por não haver definição legal
do crime de terrorismo na nossa legislação.
d) ( ) O art. 1o, inc. V que trata dos crimes contra a Admi-
nistração Pública como crime antecedente ao crime
de lavagem de dinheiro, porque os tipos penais dos
crimes contra a Administração Pública são muito
amplos, o que dificulta a sua aplicação.
e) ( ) A cobrança de comunicação compulsória, de forma di-
reta e genérica, de todas as informações relativas aos
encargos consignados no art. 10 da lei mencionada.
f) ( ) O(s) seguinte(s) dispositivo(s) não têm aplicação:
__________________________
g) ( ) Não sabe / Sem opinião.
8. Quanto aos objetivos normativos, a Lei n. 9.613/98, na opinião de V.
Exa.:
a) ( ) É suficiente para reprimir os autores de crimes de lavagem.
b) ( ) É suficiente para punir os autores de crimes de lavagem.
c) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas privativas de li-
berdade mais severas.
d) ( ) É insuficiente, pois deveria estabelecer penas de multa mais se-
veras.
e) ( ) É insuficiente, pois não impede o gozo dos produtos do crime.
f) ( ) Não sabe / Sem opinião.
9. Quanto à abrangência, na opinião de V. Exa., a Lei n. 9.613/98:
a) ( ) É ampla o suficiente para disciplinar todo o fenômeno
criminológico sobre o crime de lavagem de dinheiro.
b) ( ) Deveria contemplar, no rol dos crimes conectados, a prática de
outros delitos, tais como os crimes contra a ordem tributária.
c) ( ) Deveria contemplar o crime de receptação no rol dos crimes
conexos ao crime de lavagem de dinheiro.
d) ( ) Outros crimes que deveriam ser conectados: ________________
e) ( ) Não sabe / Sem opinião.
10. Com relação à obrigação de comunicar as operações financeiras e demais
transações mencionadas no art. 11, II, a e b, da Lei dos crimes de lavagem,
pergunta-se com qual das duas afirmativas V. Exa. concorda mais:
a) ( ) Ficou comprometida, pois a inviolabilidade da intimidade e do
sigilo de dados é garantida constitucionalmente.
b) ( ) É automática, independe de ordem judicial, pois essa comuni-
cação não representa a quebra de sigilo bancário, posto que as
autoridades estão obrigadas a guardar o sigilo na execução de
suas funções.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
11. A delação premiada prevista no art. 1o, § 5o, da Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que as autoridades tirem proveito da chamada
infidelidade criminal.
b) ( ) É eticamente inaceitável, pois o Estado não pode se valer de
atos imorais para evitar a impunidade.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
12. Com relação às sanções administrativas impostas às pessoas referidas
no art. 9o que não cumprirem as obrigações registrárias e burocráticas
previstas no art. 12, incisos I, II, III e IV, da Lei n. 9.613/98 que são
advertência, multa pecuniária variável, inabilitação temporária para o
exercício do cargo de administrador e cassação da autorização para
operação ou funcionamento:
a) ( ) São adequadas.
b) ( ) São excessivas.
c) ( ) São brandas.
d) ( ) Não sabe / Sem opinião.
13. A inversão do ônus da prova da licitude da origem dos bens, direitos ou
valores apreendidos ou seqüestrados, prevista no art. 4o, §§ 2o e 3o, da
Lei n. 9.613/98:
a) ( ) Justifica-se para que o capital auferido nos crimes de lavagem
de dinheiro não permaneça para o proveito do criminoso.
b) ( ) Fere o princípio da inocência.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
14. A Lei n. 9.613/98, ao proibir a fiança e a liberdade provisória, indireta-
mente adotou em nosso sistema a prisão compulsória e obrigatória.
a) ( ) Concordo.
b) ( ) Discordo.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
15. Quanto ao prazo de vinte e quatro horas para que as pessoas sujeitas à
Lei dos crimes de lavagem de dinheiro comuniquem as operações que
possam constituir-se em sérios indícios dos crimes de lavagem às auto-
ridades:
a) ( ) É suficiente.
b) ( ) É insuficiente.
c) ( ) Não sabe / Sem opinião.
16. Quais as dificuldades práticas que V. Exa. tem enfrentado para punir os
crimes de lavagem de dinheiro?
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
17. Na opinião de V. Exa., o que poderia ser implementado pelo Judiciário
para que os crimes de lavagem sejam punidos com maior eficácia?
______________________________________________________
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18. Escreva nesse espaço quaisquer comentários ou informações que V. Exa.
achar necessários.
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Caracterização do(a) entrevistado(a):

1. Seção Judiciária:______/______ UF 2. Vara:______________________


2. Exerce competência: ( ) concorrente ( ) criminal
3. Cidade:______________________________________________________
4. Sexo: (M) (F)
5. Idade:______________________________
Tempo como Juiz Federal:_______________________________

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