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PRÁTICA FORENSE
RECURSOS:
MODELOS DE APELAÇÃO
RECURSOS
Numa visão recursal global do CPP, vejamos alguns modelos de recursos que compõe o
acervo do CPP, devendo socorrer à doutrina de Hidejalma Muccio, obras indicadas na
bibliografia, para detalhes de cada um dos recursos do CPP.
A pedido do professor e amigo Rogério Sanches Cunha, além de peças, vamos estudar
Apelação também na parte teórica.
PRÁTICA:
DA INTERPOSIÇÃO POR PETIÇÃO. COMO DEVE SER A PETIÇÃO
A) Deve ser dirigida ao juízo do feito. O cabeçalho deve ser por extenso.
B) Há de se mencionar o fundamento legal do recurso: um dos incisos do art. 593 do CPP.
C) Há de se mencionar número do feito, o nome do réu, e em que folhas se encontram a
decisão recorrida.
D) Há de se delimitar o alcance do recurso.
E) Há de se mencionar o teor da decisão recorrida: absolutória por qual fundamento;
condenatória por qual fundamento e pena aplicada etc.
F) Há de se requerer vista dos autos para a juntada das razões de apelação.
G) Há de se mencionar a juntada das razões se oferecidas com a interposição. No Juizado
Especial Criminal: as razões necessariamente serão juntadas com a interposição (art. 82,
§ 1º, da Lei nº 9.099/95).
H) Há de se fazer pedido de remessa à Segunda Instância.
I) Há de se fazer pedido de formação do traslado se subir a apelação por traslado.
J) Há de se fazer o pedido de deferimento.
K) Há de se indicar o lugar e a data em que é oferecida.
L) Há de conter a assinatura do apelante. Ministério Público com a indicação do cargo.
Advogado com a indicação do nº de sua inscrição na OAB.
Nota do Professor Hidejalma Muccio: Incluímos na petição de interposição do
recurso de apelação as expressões: “Termo em que p. deferimento” simplesmente
porque é da praxe forense. Contudo, nenhum artigo de lei impõe esse dever à parte.
A parte, frise-se, exerce um direito que é assegurado por lei, e o juiz não pode deixar
de atendê-la apenas porque não pediu o deferimento da pretensão. Trata-se de
postura de mera deferência à figura do magistrado.
MODELO DE RECURSO DE APELAÇÃO DA DEFESA
(INTERPOSIÇÃO E RAZÕES)
Feito n° 1.115-96
Gumercindo Oliveira, por sua advogada, que esta subscreve, com fundamento no
art. 593, I, do Código de Processo Penal, não se conformando com a r. decisão que o
condenou a uma pena final de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão e 20
(vinte) dias-multa, fixada a unidade no mínimo legal, com regime inicial fechado, por
infração ao art. 155, § 4°, I, do Código Penal, proferida por Vossa Excelência às fls.
165-169 dos autos do processo crime nº 1.115/96, que a Justiça Pública lhe move,
vem interpor RECURSO DE APELAÇÃO objetivando, em linha de preliminar a nulidade
do feito a partir da fase do art. 499 do Código de Processo Penal, e no mérito sua
absolvição por ser inocente e a prova ser insuficiente para sustentar um edito
condenatório. Subsidiariamente, pede lhe seja reduzida a pena.
Recebido o presente recurso, requer-se seu regular processamento, com vista dos
autos para o oferecimento das razões e posterior remessa à Segunda Instância.
Termos em que
Pede deferimento.
Jaú, 15 de outubro de 1996
Luciana Graça Alvarenga
Advogada - OAB/SP n° 25.978
Egrégia Procuradoria
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Fazendo ouvidos moucos aos argumentos da defesa, houve por bem o magistrado
a quo, homem de reconhecido valor jurídico, acolher a pretensão punitiva como
deduzida na denúncia de fls. 2/3, para condenar o apelante Gumercindo Oliveira
como incurso no art. 155, § 4°, I, do Código Penal, a uma pena final de 2 (dois) anos
e 8 (oito) meses de reclusão e a 20 (vinte) dias-multa, fixada a unidade no mínimo
legal, com regime inicial fechado, conforme r. decisão de fls. 165/169.
Não se houve o Julgador Monocrático, desta feita, com o costumeiro acerto.
PRELIMINAR
CERCEAMENTO DE DEFESA
Consignou o douto juiz sentenciante que dispõe de poder discricionário para ouvir
testemunha referida, pois, se ela é do juízo, a seu critério fica ouvi-la ou não. Anotou
também que o conteúdo do depoimento de João Gabos não teria condições de refutar
a prova que incriminava o réu, o que tornava desnecessária sua oitiva.
Pecou por duas vezes.
O Processo Penal é informado pelo princípio da busca da verdade real. O Estado
não pode se conformar, em matéria penal, com a verdade formal. Na lide penal está
em jogo o jus libertatis do cidadão, razão pela qual, ao contrário de permanecer
inerte, deve o juiz ir à busca da verdade substancial, mesmo na inércia das partes,
assumindo no processo posição dinâmica. Não é por outra razão que a lei processual
penal lhe confere poderes de determinar de ofício as diligências para dirimir dúvida
sobre ponto relevante, como a realização de uma perícia, a oitiva de uma testemunha
mesmo que não arrolada pela acusação ou defesa, uma acareação etc.
Por força do art. 251 do CPP, cabendo ao juiz na presidência do processo manter
sua regularidade, compete-lhe indeferir requerimentos impertinentes e protelatórios
das partes, muitas das vezes amparados no falso argumento de ofensa aos princípios
do contraditório e da ampla defesa, que de igual forma refletem o da busca da
verdade real. Daí o poder discricionário de que se reveste o julgador para obstar tais
reclamos.
A pretexto dele, no entanto, não lhe é dado se furtar ao conhecimento do fato, de
apurá-lo como na realidade se passou, sob pena de alimentar a injustiça, ao invés de
perseguir a justiça.
A invocação de sua discricionariedade na admissão da prova levou o douto
Julgador a indeferir uma diligência que não objetiva providência escusa alguma, e sim
a obtenção de prova que pode contribuir para a demonstração da inocência do
acusado, cujo interesse maior e legítimo é fazer prevalecer seu jus libertatis em
frente à pretensão punitiva que lhe foi deduzida. Se às partes não é dado argumentar
com a adivinhação, muito menos ao juiz há de se conferir essa prerrogativa.
Como pôde então o douto sentenciante sustentar que o testemunho de João Gabos
era desnecessário, antecipando seu conteúdo? É até possível que as previsões do
douto Julgador venham a se confirmar, contudo essa dúvida só pode ser afastada
com a oitiva da testemunha, quando então se saberá do alcance de seu depoimento e
a contribuição que efetivamente pode trazer à solução da lide posta neste processo.
Não se pode negar que, conferido às partes o direito de reperguntar a testemunha, o
depoimento pode revelar informações que a priori não se imaginavam. É o caso dos
autos. Pois não é dado presumir que as informações que João Gabos forneceria
seriam as mesmas que havia confidenciado a Judit. Essas informações, agora sim é
dado presumir: seriam as mínimas, contudo, como salientado, elas poderiam se
estender a outros pontos relevantes da causa penal.
A referência textual de Judit à pessoa de João Gabos como sendo conhecedor
direto de fato relacionado à infração penal é mais que suficiente e determinante para
a vinda de seu depoimento aos autos.
Assim, operado inegável cerceamento à defesa, aguarda-se pelo acolhimento de
sua preliminar, anulando-se a r. decisão proferida, com a determinação da oitiva da
testemunha referida - João Gabos – e a renovação do feito a partir do art. 499 e
seguintes do Código de Processo Penal.
MÉRITO
O apelante foi sócio da vítima num pequeno boteco. Desfeita a sociedade viu-se
credor dela pela importância de R$ 1.200,00. Proporcionou a Eduardo Camaresco o
tempo necessário para o pagamento da dívida, cuja quitação foi prometida,
derradeiramente, quando do recebimento do 13° salário em 20.12.95. Não honrou a
promessa e o réu - sem outros recursos - deixou de saldar suas contas de açougue,
padaria, mercado etc., o que lhe trouxe a pecha de mau pagador, aborrecendo-o e
muito.
Por isso, cansado e desesperançado, necessitando quitar suas dívidas e promover
o sustento de sua família, teve o gesto extremo de fazer justiça com as próprias
mãos: de fato entrou na casa da vítima e retirou de lá os objetos descritos na inicial,
bastantes para a satisfação de seu crédito.
A vítima, que havia recalcitrado no pagamento de sua dívida por diversas vezes,
não honrando inclusive o último acerto entre eles, por certo não concordaria em
entregar ao apelante os objetos que por conta própria resolveu tirar da esfera de
vigilância daquele. A opção do acusado pela ação clandestina não é indicativa nem
prova definitiva de que agiu com animus de subtrair. Durante toda a ação agiu
consciente de que fazia o correto, afinal era, como continua sendo, credor do
ofendido.
O acusado é semi-analfabeto. Essa condição pessoal contribuiu para que não
providenciasse qualquer prova documental comprobatória da sociedade que sempre
afirmou possuir com a vítima num pequeno boteco, que pela natureza e importância
do comércio, aliado uma vez mais à condição de analfabetismo do apelante, nunca foi
regularizado junto ao fisco. Réu e vítima eram praticantes da chamada economia
informal.
No caso sub judice não se pode desprezar a versão da esposa do réu; afinal, trata-
se da pessoa que com ele conviveu e convive. É a testemunha viva dos negócios do
marido. Depondo à fl. 121, rechaçou a suposta subtração e confirmou ter havido a
noticiada sociedade entre Gumercindo e Eduardo.
A aparente versão inverossímil do acusado se encaixa perfeitamente na prova dos
autos. Veja-se: os objetos foram avaliados em R$ 1.200,00. Essa importância
representa exatamente o crédito do réu com a vítima. Os objetos também são os
mesmos que o acusado disse ter deixado com Eduardo quando a sociedade foi
desfeita e, ainda, pelo preço de R$ 1.200,00. Não houve a retirada de outro bem da
casa, somente mesmo aqueles que foram deixados com a vítima, que, em
contrapartida, deveria ressarcir o acusado no valor deles.
Por fim, consigne-se que o acusado vendia os bens numa feira em Jaú, fazendo-se
acompanhar da esposa. Esse comportamento não é próprio daquele que subtrai,
mormente considerando que a vítima mora em Jaú.
A condenação sufraga, portanto, uma grande injustiça. Ela não se apóia em prova
segura. Nenhuma dúvida existe quanto à falta do elemento subjetivo do delito de
furto na conduta do apelante. Contudo, apenas ad argumentandum, se alguma
dúvida houver, adotado entre nós o princípio do in dubio pro reo, ela deve ser
creditada a favor do acusado. A prova colhida na instrução não infirma a versão
defensiva, sendo de rigor a absolvição do apelante.
Pelo exposto, há de se reformar a r. decisão guerreada para absolver o acusado.
Ele não praticou o delito de furto, como assinalado em alegações finais (fls.
148/151), cujos argumentos ora se reiteram e ficam fazendo parte integrante destas
razões.
Quando muito, a conduta do apelante infringiu a norma do art. 345 do Código
Penal, delito que não pode mais ser perseguido, visto que de ação penal privada, e
não foi a queixa intentada no prazo legal e decadencial de 6 (seis) meses, operando-
se a extinção da punibilidade do querelado, cuja declaração, considerando ser a
matéria de ordem pública, se requer com fundamento nos arts. 38 e 61, ambos do
Código de Processo Penal, e 107, IV, 2ª figura, do Código Penal.
Caso venha a ser desacolhida a pretensão absolutória, há de se reduzir a pena
imposta, pois na sua fixação o douto magistrado foi extremamente severo: na
primeira operação já partiu além do patamar mínimo quando as circunstâncias do art.
59 do CP favorecem o acusado. O acréscimo foi de 4 (quatro) meses. Na segunda
operação impôs, sem critério e de forma injusta, outro acréscimo de 4 (quatro)
meses, só porque presente a agravante da reincidência, elevando-a ao total final de 2
(dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão, sobremaneira exagerada, principalmente
considerando que os delitos pelos quais responde ainda sem sentença com trânsito
em julgado, não podem ser considerados como maus antecedentes. Em nenhum dos
processos em curso, nota-se, pela natureza dos delitos, seja o réu pessoa de má
índole, possuidor de personalidade agressiva ou que representa maior perigo à
sociedade. Ao contrário, é pessoa calma e tranqüila, que jamais investiu contra
qualquer semelhante para ofender-lhe a integridade física.
Assim, aguarda o apelante Gumercindo Oliveira que se dê provimento ao recurso
para absolvê-lo do delito de furto, declarando-se extinta a punibilidade pela prática do
delito de exercício arbitrário das próprias razões. Caso persista a condenação, que
haja diminuição da pena, tudo nos termos das razões apresentadas.
CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO
Feito - 1.115-96
Apelante - Gumercindo Oliveira
Apelada - Justiça Pública
Egrégia Procuradoria
Egrégio Tribunal
MÉRITO
Nenhuma dúvida milita a favor do acusado. Sua fantasiosa versão defensiva foi
repelida pelos demais elementos de convicção.
De fato.
Embora semi-analfabeto, soube o apelante constituir, segundo alega, uma
sociedade com a vítima. Ainda que fosse a mesma clandestina, sem documentação
formal e fiscal, fácil seria a prova de sua existência através de testemunhos de
freqüentadores do fictício boteco.
Feito n° 1.115-96
RAZÕES DE APELAÇÃO
Feito - 1.115/96
Apelante - Justiça Pública
Apelado - Gumercindo Oliveira
Denunciado como incurso no art. 155, § 4°, I, do Código Penal, porque no dia 5 de
janeiro de 1996, por volta das 10h20, ingressou no interior da residência localizada
na rua 1° de Outubro nº 23, nesta cidade e comarca de Jaú, e dali subtraiu para si,
mediante rompimento de obstáculo, um televisor da marca Sharp, um rádio relógio
Sanyo, uma máquina fotográfica Yashica e um videocassete Panasonic, objetos
pertencentes a Eduardo Camaresco, com descrição detalhada no auto de exibição e
apreensão de fl. 6, que somaram o valor de R$ 1.200,00 (auto de avaliação direta à
fl. 10), foi o apelado Gumercindo Oliveira, pela r. decisão de fls. 165/169, absolvido
sob o fundamento de inexistência de prova suficiente para a condenação (CPP, art.
386, VI), tendo sido ainda declarada extinta sua punibilidade por superveniência da
decadência em relação ao delito de exercício arbitrário das próprias razões (art. 107,
IV, 2ª figura, do Código Penal, c/c os arts. 38 e 61, ambos do Código de Processo
Penal).
Não merece confirmação a douta decisão de 1ª Instância, embora proferida por
juiz de reconhecido saber jurídico.
Bem andou o insigne sentenciante ao repelir as preliminares invocadas pela douta
e combativa defesa. Nesse particular, outras considerações, além das expendidas e já
trazidas aos autos, são dispensáveis.
O mesmo não se pode dizer no tocante ao mérito. Aqui o douto juiz de 1ª Instância
não se houve com o costumeiro acerto.
No edito absolutório sustentou existir prova de autoria e da materialidade. Não
obstante isso, não provou o Ministério Público, como lhe competia, ter o apelado
agido com animus de subtrair, o que torna a prova duvidosa até porque a palavra do
acusado, confirmada por sua esposa, só foi contrariada pela da vítima, parte material
interessada no resultado da causa.
Embora bem intencionada, a douta decisão monocrática é desprovida de
fundamentação convincente.
Sendo partes materiais, havendo interesse no resultado meritório da ação penal,
as versões apresentadas pelo réu e vítima devem ser recebidas e valoradas com
cautela. Mera contradição entre versão de acusado e vítima, o que é natural, do
contrário o réu confessaria sempre o crime, não pode contudo ser causa suficiente
para ter como duvidosa a prova, mormente quando outros elementos de convicção
fazem desaparecer a incerteza que certamente pode, às vezes, atormentar o espírito
do julgador.
Se é certo que a versão do apelado só foi contrariada pela vítima, não menos certo
é que não tem esta o ônus de fazer a prova de fato negativo. Nos termos do art. 156
do Código de Processo Penal, ao acusado competia a prova da alegada sociedade e do
crédito mencionado. A palavra de sua esposa é insuficiente para se ter provada a
alegação, sendo evidente e compreensível seu interesse na exculpação do
companheiro.
Nada razoável se mostrou o comportamento do réu, admitindo-se que só foi
motivado à satisfação de seu crédito: não cientificou o ofendido após consumada a
conduta; deixou-se surpreender pela polícia, numa feira, vendendo parte dos objetos
retirados da esfera de vigilância da vítima. Sua conduta, seu modo de agir antes,
durante e após o fato é prova segura e inequívoca de que agiu, sim, com animus de
subtrair.
De outra parte, não socorre o acusado a opção pelo rompimento de obstáculo para
a consumação de sua ação delitiva, e o horário acertado, uma vez que totalmente
incompatíveis com a conduta daquele que só deseja satisfazer uma pretensão
legítima, afinando-se esse modus operandi com aquele observado na prática do delito
clandestino pelo qual se viu denunciado (furto).
Derradeiramente, é de se consignar que, na polícia (fl. 16), o acusado, em
nenhum momento, fez ressalva de que pretendia apenas satisfazer crédito que tinha
com a vítima. Só veio a inovar em juízo quando já era assistido por advogado
constituído (fl. 83).
Como sustentado em sede de alegações finais, a retratação judicial é de nenhum
valor quando não amparada nas demais provas, prevalecendo a confissão policial que
se harmoniza com o conjunto probatório e se integra aos demais elementos de
convicção colhidos em juízo.
Nesse sentido, a jurisprudência:
CITAR JURISPRUDÊNCIA
CONTRA-RAZÕES DE APELAÇÃO
Feito - 1.115/96
Apelante - Justiça Pública
Apelado - Gumercindo Oliveira
Egrégia Procuradoria
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Absolvido pela r. decisão de fls. 165/169, com fundamento no art. 386, VI, do
Código de Processo Penal, da imputação contida na denúncia de fls. 2/3, de que no
dia 5.1.96, por volta das 10h20, teria subtraído, mediante rompimento de obstáculo,
os objetos nominados na inicial, pertencentes a Eduardo Camaresco, vê-se o apelado
Gumercindo Oliveira surpreendido com o presente recurso de apelação interposto pelo
Ministério Público, que, desejando a reforma da sentença, sustenta, em apertada
síntese, não ser a prova dúbia e sim coerente e segura o suficiente para lastrear um
edito condenatório (fls. 190/192).
Não merece prosperar o inconformismo do nobre e combativo Promotor de Justiça.
Nada de fantasiosa tem a versão defensiva, acolhida de forma sábia e prudente
pela douta decisão recorrida, revelando o d. Magistrado de 1ª Instância cautela, bom
senso e respeito à pretensão libertária do acusado.
Não há como negar: a prova é no mínimo dúbia e, assim sendo, bem andou o MM.
Juiz a quo, aplicando, como de rigor, o princípio do in dubio pro reo. O fato de o
apelado ter praticado o fato à noite, o que levou o apelante a denominar sua ação de
clandestina, não desnatura sua intenção, que era e sempre foi a de satisfação de seu
crédito. Diante de tantas negativas em pagar o que devia, a vítima não permitiria
passivamente, por certo, que o apelado procedesse à retirada dos objetos na sua
presença.
O valor alcançado pelos objetos é o mesmo reclamado pelo réu, e não podia ser
diferente, pois, quando do término da sociedade, nesse valor foram os bens deixados
à vítima, ficando esta com a incumbência de quitá-los com Gumercindo. Nenhuma
outra coisa foi retirada da casa, e o valor do crédito não foi ultrapassado, o que dá à
versão defensiva verossimilhança.
Se é certo que em princípio as versões das partes materiais devem ser recebidas
com reservas, igualmente se dizendo da que é apresentada pela esposa do réu,
conforme bem colocou o douto e insigne Promotor de Justiça, não menos certo é que
no caso dos autos, ante a natureza do fato e a ausência de outros elementos sérios
de convicção e ainda ante a clandestinidade da sociedade que mantinham vítima e
acusado, tais depoimentos e versões merecem ser objeto de análise cuidadosa e
desapaixonada. Ninguém melhor que a companheira do apelado para dizer de seus
negócios, e ela sustentou ao depor à fl. 121 a versão defensiva.
Réu e vítima, praticantes da chamada economia informal sem qualquer
documentação fiscal, considerando ser o apelado semi-analfabeto, não é crível que,
ante sua limitação cultural, providenciasse prova escrita e antecipada da sociedade
que mantinha com a vítima num pequeno e humilde boteco.
Não se pode, portanto, exigir-lhe prova de que não dispõe pela própria
peculiaridade do negócio e das partes envolvidas, a despeito da regra do art. 156 do
Código de Processo Penal.
Os antecedentes do acusado não podem ditar a existência de um delito não
praticado, conforme bem mostram as provas carreadas aos autos.
Dessa forma, espera e aguarda a defesa que se negue provimento ao recurso da
Justiça Pública, mantendo-se a r. decisão de 1ª Instância pelos seus próprios
fundamentos de fato e de direito.
Feito n° 325/88
Razões de Apelação
Apelante: Justiça Pública
Apelado: Agnaldo Silva
Egrégia Procuradoria
Egrégio Tribunal
Agnaldo Silva está sendo processado como incurso no art. 121, § 2°, I, III e IV, do
Código Penal, tendo em vista que em 15 de janeiro de 1988, em redor de 2h36,
juntamente com outra pessoa já falecida, matou, a tiros, Pedro Oliveira. É certo que o
recorrido e seu comparsa, além dos disparos, golpearam a vítima com instrumentos
contundentes, impondo-lhe desnecessário sofrimento. De outra parte, os co-autores
tiveram sua conduta impulsionada por torpe sentimento de vingança, já que a vítima
os repreendera, algum tempo antes, devido a roubo por eles praticado contra
estabelecimento comercial da região onde residiam. Mais ainda, dispararam contra a
vítima pelas costas, sem propiciar-lhe qualquer possibilidade de defesa.
Ronaldo Guedes
14° Promotor de Justiça da Capital