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Ponto da situação:

1. Existência de vários processos que não avançam no DIAP,

1.1 ou porque o prazo do inquérito ainda não começou a correr (ou ainda está a correr),

1.2 ou porque já foram ultrapassados os prazos previstos no art. 276º do CPP, no


entanto estes são meramente indicativos 1, pelo que o legislador previu figuras como
a aceleração processual. Contudo, apesar de requerida a aceleração processual, o
pedido não procedeu.

1.1 Nos termos do art. 276º nº4 do CPP “(...) o prazo conta-se a partir do momento em
que o inquérito tiver passado a correr contra pessoa determinada ou em que se tiver verificado a
constituição de arguido.”
Uma vez que ainda não se verificou a constituição de arguido temos de olhar para a
expressão “inquérito tiver passado a correr contra pessoa determinada”.

Sobre como entender esta expressão – o acórdão:


(Achei o acórdão muito relevante)

http://www.dgsi.pt/jtre.nsf/134973db04f39bf2802579bf005f080b/
6c4015f977f9a4ac80258481003a312d?OpenDocument

Pequeno resumo:

 Trata-se de um crime de associação criminosa.


 “(...) Desde quando há inquérito a correr contra pessoa determinada num caso de
investigação da prática de um crime e associação criminosa? (...) É que, recordemos, a
“associação” é elemento do tipo penal. (...) o conceito de pessoa determinada quando
esteja em causa a prática de um crime de associação criminosa exige a existência nos
autos de indícios suficientes da existência de “grupo, organização ou associação” com
uma “finalidade ou atividade” ilícita”.
 “E isso não ocorre quando é denunciada uma burla e uma emissão de cheque sem
provisão contra uma sociedade e um gerente. Nem com várias denúncias. (...) Apenas
quando os autos demonstrem claramente (indiciariamente) a existência dessa
“associação” destinada a um fim ilícito é que se pode afirmar que o processo corre
contra pessoa determinada, que serão os integrantes de tal associação”. 
 “Assim, sendo inviável o uso de tal critério – o da pessoa determinada (...) - apenas o
segundo critério cria uma situação de objetividade inultrapassável (...), o momento da
constituição como arguidos dos responsáveis indiciados dessa associação criminosa. A
não ser que nos autos ocorra circunstância anterior que permita concluir que se
clarificou em ato concreto a determinação suficiente das pessoas e dos fins que
integram a associação criminosa”.

1.2 Uma vez que a aceleração processual requerida não procedeu por falta de
legitimidade da requerente, na medida em que a lei reserva esta faculdade a determinados
sujeitos processuais, entres eles, o Ministério Público, o arguido, o assistente ou as partes civis,
nos termos do art. 108º nº1 do CPP, e a requerente não assume a qualidade de arguida, mas sim
de suspeita, a requerente poderia fazer uso do art. 59º nº2.

1
Sobre a natureza do prazo de duração do inquérito:
https://www.pgdlisboa.pt/jurel/jur_mostra_doc.php?nid=5707&codarea=57
Dispõe este preceito o seguinte: “A pessoa sobre quem recair suspeita de ter cometido
um crime tem direito a ser constituída, a seu pedido, como arguido sempre que estiverem a ser
efetuadas diligências, destinadas a comprovar a imputação, que pessoalmente a afetem”.

Acórdão que considerei relevante:

http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/
573cfbf6642df4bc8025884f002e93c9?OpenDocument

Pequeno resumo do acórdão:

 As requerentes, ao abrigo do art. 59º nº2, requereram ao MP a sua constituição como


arguidas, no entanto o MP indeferiu essa pretensão;
 Como resultado, as requerentes requereram a abertura da instrução, da qual resultou um
despacho que julgou verificada a irregularidade invocada pelas requerentes no despacho
do MP;
 Inconformado, o MP recorreu deste despacho, no entanto o Tribunal da Relação de
Lisboa manteve na íntegra o despacho recorrido.

Outros preceitos nos quais importa atentar:

Se se tratar de pessoa coletiva- “Os números anteriores são aplicáveis logo que, durante
a inquirição de um seu representante como arguido ou testemunha, surja a fundada suspeita da
prática de um crime pela pessoa coletiva ou entidade equiparada que ainda não seja arguida”.
(Art. 59º nº3)

Primeiro interrogatório- “Correndo inquérito contra pessoa determinada em relação à


qual haja suspeita fundada na prática de crime é obrigatório interrogá-la como arguido, salvo se
não for possível notificá-la”. (Art. 272º nº1)

Se o suspeito for detido- é obrigatória a constituição de arguido, nos termos do art. 58º
nº1 alínea c).

Se prestar declarações perante qualquer autoridade judiciária ou órgão de polícia


criminal- é obrigatória a constituição de arguido, nos termos do art. 58º nº1 alínea a).

Outro pressuposto essencial para a procedência do pedido de aceleração processual é o


decurso do prazo de inquérito, tal como prevê o art.108º nº1, segundo o qual a aceleração
processual pode ser requerida quando “tiverem sido excedidos os prazos previstos na lei par a
duração de cada fase do processo”. Pelo que, se o prazo do inquérito não se mostrar ainda
decorrido, o pedido de aceleração processual não irá proceder.

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