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O PROCESSO COMUM

 Considera-se que o PC é a forma subsidiária de processo porque só se aplica quando


não é possível aplicar uma forma especial.
o O que é que o destaca?
 Tem mais fases;
 Uma tramitação mais extensa do ponto de vista jurídico-processual,
mais complexa e mais demorada.

Fases do Processo Comum

 O processo comum pode ter cinco


fases diferentes:
o Fase preliminar de obtenção da notícia do crime e aplicação de medidas
cautelares;
 O momento preliminar depende das circunstâncias do caso concreto.
o fase de inquérito (obrigatória);
o fase de instrução;
 Só existe se for requerida.
o fase de julgamento (obrigatória);
o fase de recurso.
 + Cada fase tem um titular que tem uma intervenção decisiva no início, durante e no
final da fase em causa.

O Momento Preliminar do Inquérito – Medidas Cautelares e Obtenção da Notícia do Crime

Caracterização

 O momento preliminar do inquérito é a fase de obtenção da notícia do crime:


o Também pode incluir a aplicação de medidas cautelares.
 Querela – O Momento Preliminar corresponde a uma fase processual?
o FCP defende que isto corresponde a um momento em que existe processo = é
fase processual.
 Exemplo – detenção em flagrante delito no PS = evidencia que esta é
já uma fase de carácter processual.
o MAS há autores históricos que não concordam.
 Nesta fase:
o Denúncia;
o Queixa;
o Auto de Noticia;
o Detenção;
o Aplicação de Medidas Cautelares e de Polícia;
o Constituição de Arguido;
o + pode haver Obtenção de Informações.
 Aplicam-se todas as garantias processuais.

A Denúncia – 242º a 244º

 A obtenção de uma denúncia obriga ao seu tratamento administrativo antes da


abertura de inquérito, não obstante ter natureza processual.
 É necessário cruzar informações e registar a denúncia.
o Ela verdadeiramente não corresponde a um inquérito aberto, mas é uma
certificação para apurar se há ou não noticia de crime e de que crime se trata.
 A denúncia pode ser obrigatória, quando de conhecimento de entidades policiais,
(242º) ou facultativa (quando for uma qualquer pessoa a ter notícia do crime)
o A denúncia é a maneira de termos notícia do crime nos crimes públicos e nos
crimes semipúblicos.
 Nota:
o A notícia do crime não significa que exista qualquer tipo de prova = é
simplesmente informação que é transmitida sobre a prática de um crime.
 É uma informação indiciária para a formação de um tipo.

Regime das Denúncias Anónimas

 Regime que existe desde 2007.


 Previsto no 246º/Nº6 + 247º (Sistema de Registo de Denúncias).
o + Diretiva de Proteção de Denunciantes Nº2019/1937 e a Lei Nº93/2021.
 Porquê a mudança?
o Legislador quis contrariar um problema que era o surgimento de queixas
anónimas contra outras pessoas = havia quem entendesse que existindo uma
DA, estávamos perante uma notícia de crime e era preciso abrir inquérito.
o Agora, perante uma DA, para abrir inquérito, é necessário esta estar
acompanhada de uma prova indiciária:
 Isto porque na DA, o MP e a PJ não têm um interlocutor.
o O objetivo não é proibir o inquérito, o objetivo é mitigar o dever de abrir o
inquérito com denuncias anónimas = continua-se a poder abrir DA, não há é
obrigatoriedade de abrir inquérito.
 Regime de Proteção de Denunciantes - 2021
o Advém da adaptação da Diretiva da EU de 2019.
o Propósito:
 Em relação a certos crimes, as pessoas que estão dentro das
organizações podem denunciar anonimamente os crimes que tenham
conhecimento e beneficiam de alguma proteção por causa desse
aspeto.
 Vem do Direito EUA - Whistleblowers:
 As grandes fraudes dos gestores só foram descobertas graças
a informação enviada para as autoridades judiciarias.
 Nesta lógica, legislador dos EUA criou um regime de proteção
= ato não é ilícito, não podem ser despedidas, têm partilha de
benefícios (se se adquirir produtos do crime, esse produto é
partilhado com o denunciante)
 Lei 93/2021:
o Conjunto de regimes que permitem a denúncia anónima de pessoas que
trabalham dentro de organizações.
o Não tem incentivos económicos, o que existe é um mecanismo de proteção de
denunciantes porque se considera valioso ter este conhecimento antecipado:
 Cria alguma opacidade/punidade das situações pois as autoridades
conhecem os factos mais cedo – isto antecipa o prazo de prescrição,
que conta desde a data do facto e não da data do conhecimento do
facto.
 Nota:
o FCP considera que o regime de anonimato pode favorecer o autor dos crimes
e prejudicar a investigação:
 Faz com que circule muita informação antes de sequer chegar às
instâncias judiciárias.
 Faz com que haja muita informação falsa o que fará com que a
investigação demore mais e se utilize mais recursos.

Queixa – 113º CP

 A apresentação de uma queixa, oral ou escrita, começa numa fase não processual.
 Quando é conhecida, passa a ser processual.
 Esta é a maneira de vir a conhecer os crimes particulares:
o Só há noticia destes se houver queixa, e essa queixa tem de vir do ofendido.

O Auto de Notícia – 243º CPP

 Este é um registo documental de um crime, que é lavrado por um agente policial/de


autoridade que tenha presenciado o crime:
o Tem de registar os factos, as circunstâncias e tudo o que se possa averiguar
quanto aos agentes.
 É muito importante = pode ser usado como acusação no Processo Sumário.

Detenção – 254º a 261º CPP

 A detenção é tratada como uma medida cautelar e não como uma medida de coação.
 Tem efeitos privativos da liberdade e tem efeitos processuais muito relevantes:
o Tem o poder de pôr em causa a legalidade do processo.

Medidas Cautelares e de Polícia – 248º a 252º-A

 Os artigos tornam possível a aplicação de medidas cautelares e de polícia:


o Podem ser feitas revistas ou apreensões relevantes para obter informações.
 Em alguns casos são atividades policiais de conservação de provas.

Constituição do Arguido

 A constituição de arguido vem prevista e regulada no 58º.


 Casos:
o Haver declaração em flagrante delito;
o Surgir um auto de noticia;

Obtenção de Informações

 Pode haver uma obtenção e tratamento de informações que pode levar à constituição
de arguido a pedido:
o Isto quando a polícia obtém informações do próprio suspeito ou de outras
pessoas – 250º/Nº8.
 Esta atividade de obtenção de informações junto do suspeito é relativamente delicada:
o Quando a polícia é chamada e chega ao local pode fazer perguntas inclusive ao
suspeito.
 O suspeito não tem direito ao silêncio, mas o arguido já tem:
 Então pode ser o suspeito a pedir a sua constituição de
arguido de modo a ser aplicado o respetivo estatuto.
 Dito desta forma, podemos concluir que a possibilidade de
uma pessoa se constituir arguido a pedido justifica-se com a
proteção da pessoa que é suspeito naquela situação concreta.

A Inadmissibilidade de Inquéritos Policiais Autónomos

 A nossa lei rejeita a possibilidade da polícia ter legalmente inquéritos criminais


autónomos a correr sem conhecimento do MP por prazos superiores a 10 dias – 248
CPP.
o Isto ao contrário do que acontece na UK, EUA, NZ, AUS.
o É uma decisão de política criminal.
 É o MP que dirige os inquéritos + vigora entre nós uma regra de inadmissibilidade de
inquéritos policiais autónomos:
o A investigação faz-se no inquérito, dirigida pelo MP, com a coadjuvação dos
órgãos de polícia criminal que podem receber delegação de competências no
âmbito de uma colaboração mais ou menos ativa, mas sempre sob a égide do
MP.
 Mesmo quando os OPC abrem inquérito, ao abrigo do 2º/Nº3 da LOIC, têm de
comunicar essa abertura ao MP.

Averiguações Anteriores ao Inquérito

 Medidas de Combate à Corrupção e Criminalidade Económico-Financeira – Lei 36/94.


 Brigadas Anticrime e Unidades Mistas de Coordenação – Dec. Lei 81/95.
 Tratamento de Comunicação de Operações Suspeitas de Branqueamento de Capitais
(UIF) Lei 83/2017.
 Averiguações Preliminares Crimes contra o Mercado – 382º e CdMV:
o Acórdão TC 360/2016 – considerou-se que estas não eram desconformes à
CRP.

Investigações Públicas Concomitantes

 Comissões Parlamentares de Inquérito – 5º da Lei Nº5/93:


o Deveres de Informação e Possibilidade da AR suspender o Inquérito
Parlamentar.
o Exemplo:
 Para saber como é que existe a derrocada de um grupo económico-
financeiro (e.g BES) e como pode haver responsabilidade do poder
político.
o Nestes casos, a pessoa que vai depor não é um arguido, não tem defensor e
tem obrigatoriamente de responder às perguntas.
 Investigações Financeiras e Patrimoniais paralelas ao Processo-Crime - Lei 5/2002:
o Nota - Gab REc Activos - investigações administrativas conexas com o processo
penal (Ac. TC 392/2015):
 Estas investigações (dos Gabinetes Autónomos) são muitas vezes
concomitantes (decorrem ao mesmo tempo) com o PP.
 Estas investigações permitem dar informação ao tribunal.
 Há ao mesmo tempo estas investigação
o Isto é admissível?
 TC considerou que isto eram investigações administrativas e sendo
assim não estavam sujeitas às garantias processuais (Princípio da
Presunção de Inocência)

Investigações Particulares e Privadas

 Investigações Jornalísticas:
o Podem investigar qualquer matéria por si, é legítimo.
o Vão investigar os factos ao terreno.
 Investigações Particulares, Sistemas de Compliance e Auditoria:
o É legítimo - uma empresa pode querer averiguar o que se passou dentro da
própria empresa.
o Isto pode cruzar-se com o Processo Penal.
o Não são investigações criminais, e portanto estão sujeitas a outros regimes.
 Detetives privados:
o Não podem fazer investigação criminal.
o Comportam-se como qualquer particular.

06.10

O INQUÉRITO CRIMINAL

 Legislação:
o 262º e ss. do CPP.
o + Lei 49/2008 – Lei de Organização e Investigação Criminal – LOIC.

Características Diferentes nas Fases Processuais

 Julgamento:
o Guiado pelo Tribunal e Juiz.
o Critérios = publicidade, oralidade, imediação e contraditório.
 Inquérito:
o Sob a direção do MP.
o Critérios = segredo (obrigatório, facultativo), escrito, sem imediação
obrigatória e sem contraditório (fase/atos específicos)
 É uma fase de investigação = alguém coloca uma hipótese e investiga-
se para descobrir a verdade material.
 A fase não é marcada pelo contraditório porque não é uma
fase que vai produzir uma decisão nem que atribua
responsabilidade.
 Caso mais evidente = aplicação das medidas de coação = 196º:
 É preciso dar informação, ouvir o arguido e em função desses
contributos é que o juiz toma a decisão.

Conteúdo, Finalidade e Obrigatoriedade

 O inquérito é por excelência a fase de investigação para apurar os factos, recolher as


provas e procurar os responsáveis pelos factos.
o É uma fase com uma certa elasticidade = depende do desenvolvimento da
própria investigação.
 Princípio da Obrigatoriedade de Abertura de Inquérito – 262º/Nº2 :
o Obriga à abertura do inquérito sempre que há notícia do crime = sempre que
há informação sobre factos criminalmente relevantes.
 Estes factos são os que, numa operação de subsunção indiciária,
poderiam ser provisoriamente enquadrados num tipo legal de crime.
 A tipicidade tem aqui uma função de economia processual e
de controlo da legalidade:
o Enquanto previsão legal do facto criminalmente
relevante, a tipicidade é um critério fundamental para
aferir a relevância da notícia do crime:
 Isto porque pode haver comunicação de
factos que não sejam crimes = atos que são
socialmente graves e até danosos, mas não
tem relevância criminal.
 e.g adultério.
o Princípio de Legalidade Estrita:
 Havendo notícia do crime, não existe margem autónoma de decisão
para o MP não agir.
 Podem é existir constrangimentos processuais = nos casos de
crimes semipúblicos ou particulares.
 =/= Princípio da Oportunidade:
 Este princípio comporta em si uma margem de apreciação na
abertura do inquérito, por razões de conveniência.
 Pelo facto do legislador PT ter optado pelo Princípio da Legalidade,
tivemos de assumir custos de legalidade - fica bastante oneroso para
as nossas entidades terem de abrir inquérito sempre que há notícia de
crime.
 Apesar deste PdL, adiante-se que ele está temperado por momentos
de oportunidade.
 Pode ser aberto pelo MP (263º) ou pelos OPC (2º/Nº3 da LOIC)
o Princípio da Igualdade perante a Lei:
 Este princípio começa logo a cumprir-se na decisão de abrir/não abrir
o processo.
 Ao estabelecer a obrigação de promoção do processo, o legislador
está a densificar um valor do Estado de Direito, dando assim resposta
ao princípio da igualdade.
 FPC considera que este regime da Obrigatoriedade da Abertura de Inquérito é a
melhor solução por 2 razões:
o Preserva a Igualdade;
o Permite o Controlo sobre o MP:
 Se porventura o MP tivesse discricionariedade face aos casos que
geram ou não inquérito, seria impossível fazer um controlo eficaz da
sua atuação.
 = Princípio de transparência do PP.
 + Dever de Promoção depende da Notícia do Crime – 262º/Nº2:
o Notícia do Crime = é a informação (não provada mas indiciária) de factos
criminalmente relevantes que se pode obter por denúncia, por queixa ou até
por uma informação lida nos jornais.
 Pode ser acompanhada ou não de prova, mas a notícia do crime é uma
informação que permite identificar factos que são eventualmente
subsumíveis a um tipo incriminador.
o MAS – Nº1 - é no inquérito que se investiga a existência do crime e se faz a
recolha de provas:
 Qualquer prova que seja anexada à notícia do crime conta como mera
informação que pode auxiliar a investigação.
 E.g – ações de vigilância para obtenção de informações:
o TC declarou que estas apenas são permitidas dentro
do inquérito, ou seja, quando já há notícia do crime.
 Essencialidade:
o Desde 1987 – a falta de inquérito implica a nulidade, do por força do 119º/d).

O MP, os OPC e o JIC

MP e OPC

 263º/Nº1 – A direção do inquérito cabe ao MP, assistido pelos órgãos de polícia


criminal (OPC).
o A titularidade da fase de instrução é do MP (dirige funcionalmente a
investigação criminal, toma decisões quanto à sua abertura e encerramento,
ou arquivamento) mas essa investigação pode ser executada pelas entidades
policiais.
o Isto é uma decisão do nosso modelo, e é confirmado pela LOIC.
 Existe uma ‘direção funcional’ - há uma relação de supremacia sem hierarquia entre o
MP e os OPC:
o Os OPC mantém a sua hierarquia própria MAS veem a sua atuação
subordinada ao MP.
 Pode existir delegação de competências do MP aos OPC.
 MAS o MP mantém a todo tempo a possibilidade de exercer sobre o
inquérito poderes que estão descritos no 2º LOIC:
 O MP pode, a todo o tempo, dirigir, determinar e avocar os
próprios inquéritos que estão delegados nos OPC.
 = Proibição de Investigação Autónoma dos OPCs.
o Existe um limite legal à direção funcional do MP – a autonomia técnica e
tática dos OPC:
 Ou seja, são os OPC que decidem o como e o quando das diligências.
 Exemplo:
 Se for preciso uma vigilância, os meios técnicos e táticos dessa
diligência vão ser definidos pelos OPC.
 Então, MP pode dizer para se fazer uma certa diligência, mas não pode
dizer como exatamente é que ela será executada.

MP e JIC

 Papel do JIC:
o Competências no Inquérito – 268º e 269º.
 Apesar de ter competências específicas nesta fase, não é o seu titular.
 JIC tem de praticar, ordenar ou autorizar certos atos fundamentais
(que às vezes até são condição de legalidade) e que são mais
intrusivos.
 Exemplos – autorização de escutas, aplicação de medidas de
coação.
 = tem uma intervenção garantística para preservar o respeito pela
legalidade e direitos fundamentais.
 Nas palavras de Germano Marques da Silva:
 Os atos que a lei reserva à competência do JIC não são apenas
para apreciar a sua admissibilidade, mas também a sua
oportunidade e conveniência.
 + JIC tem poderes de investigação autónoma:
o Estes são para o efeito de fundamentar as suas decisões sobre medidas de
coação.
 + Enquanto os atos de investigação tenham essa finalidade podem ser
praticados ou ordenados pelo JIC, oficiosamente, ou a requerimento
de qualquer sujeito processual interessado.
 Nota:
o Esta foi a fórmula que o legislador encontrou para equilibrar as coisas:
 Notar que o 32º da CRP (de 1976) exige que toda a instrução (fase
após inquérito) é da competência de um juiz, bem como todos os atos
que possam restringir DFs.
 Em 1987, o legislador fez este equilíbrio, para se decidir se o inquérito
tinha ou não de ser atribuído a um JIC.
 Assim, o CPP não foi considerado inconstitucional porque os atos que
colidiam diretamente com DFs mantinham um controlo jurídico
dissimulado.
 = É uma solução que salvaguarda o equilíbrio entre legalidade,
pretensões de investigação criminal e direitos fundamentais.
o Querela Doutrinária:
 Há autores que defendem que o inquérito deveria ser da titularidade
do JIC.
 FCP rejeita esta posição:
 Entende que se assim fosse, teríamos de ter um terceiro juiz
que fosse titular da fase de instrução e controlasse o juiz
titular do inquérito:
o Nunca poderíamos ter o juiz que investiga a decidir da
aplicação de medidas de coação ou escutas.

Regime de Prazos do 276º

 Questão Doutrinária – se os prazos previstos no 276º são perentórios (causadores da


caducidade do inquérito) ou meramente ordenadores e disciplinadores?
o Relevância = na Operação Marquês, vieram dizer que os prazos do 276º
estavam ultrapassados e por conseguinte, que o inquérito estava caducado e
que qualquer oposição seria nula = aceite pela Escola de Coimbra.
 Posições:
o Escola de Coimbra:
 Entendem que os prazos são perentórios = uma vez decorridos, deve
terminar o inquérito sob pena de invalidade daquilo que for
posteriormente processado.
 Argumentos:
 Argumento da Legalidade Isolada = interpretação literal da
norma que contém os prazos.
 Fazem ponderação de DFs:
o Consideram que o inquérito só pode sacrificar direitos
de forma proporcional e os prazos seriam o medidor
dessa proporcionalidade.
o FCP:
 Por razões de legalidade, os prazos são meramente ordenadores.
 O CPP não tem prazos perentórios para as fases processuais
(estas não tem prazos de caducidade), o que tem é para a
prática de atos nas fases processuais:
o Exemplo – o CPP diz que existe prazo de 30 dias para
interpor recurso, se o sujeito processual deixar passar
30 dias faz caducar o direito ao recurso.
 O que acontece com a ultrapassagem do prazo é…
o Acrescentado ao 267º/Nº6 em 2007.
o O magistrado superior comunica a passagem de prazo
a um superior hierárquico.
o Este superior hierárquico questiona a passagem de
prazo, pode induzir um pedido de aceleração (impor
um prazo sobre a realização do inquérito) e obriga o
titular a fundamentar a razão do atraso = 108º e ss.
o O titular do inquérito tem de justificar a
ultrapassagem do prazo.
 = há um dever de fundamentar a razão do
atraso.
o O juiz pode determinar a continuação do inquérito por
mais x tempo.
 Quais são as razões de legalidade?
 1º - foi esse o enquadramento histórico em que surgiu este
regime de prazos do 276º:
o Os elementos históricos permitem dizer que legislador
não quis associar uma consequência ao decurso do
prazo, caso contrário tê-lo-ia feito expressamente,
determinando o enceramento do inquérito.
o = Portanto, de acordo com a origem histórica e o
regime criado, os prazos não são perentórios.
 2º - Outra razão que sustenta a necessidade de indicação
expressa de encerramento de inquérito vem do direito
comparado:
o O nosso CPP baseia muitas das suas soluções no seu
homólogo italiano MAS não usou essa opção que dele
consta expressamente, o que nos demonstra que foi
propositado.
 + Argumento de Base Legal:
o Em 2007, o legislador contemplou uma solução
específica para o decurso dos prazos no inquérito para
o segredo de justiça – 89º/Nº6.
 Nestes, decorrido o prazo (que pode ser
prorrogado), quebra-se o segredo interno.
o Ora, esta é a demonstração sistemática de que não
há nenhuma invalidade associada ao decurso dos
prazos, há é uma consequência específica para os
casos de segredo de justiça:
 Quebra-se o segredo interno, mas mantém-se
o segredo externo, sendo que o inquérito
continua válido e em segredo de justiça
externo.
o = Esta norma veio corroborar a ideia de que os prazos
são meramente orientadores já que emanam delas 2
argumentos:
 Quando o legislador quis associar uma
consequência específica ao decurso do prazo,
declarou-o expressamente;
 O legislador admite que mesmo nesses casos
o processo continua e em segredo de justiça
externo, sendo assim não há nenhuma
invalidade.
 FCP considera correto não ter sido expressamente indicado:
 A investigação é uma caixa de surpresas = não se sabe o que
se vai encontrar nem a complexidade do caso.
o Portanto, criar um regime de prazos perentórios seria
de uma enorme violência perante a realidade porque
os casos são muito diferentes entre si.
 O legislador quis deixar o controlo do prazo ao superior
hierárquico do MP que determina qual é o prazo de
continuação da investigação.
 Então, FCP não acredita que sejam prazos que determinam a
invalidade do inquérito ou a inadmissibilidade das provas:
 O inquérito efetivamente tem prazos, mas não são
perentórios.
 + Mais do que isso, só o legislador é que podia fazer com que
fossem = como não o disse, não o são.
o Em nenhum momento o legislador diz que a
ultrapassagem do prazo implica a nulidade das
diligências realizadas.
o Neste momento, a jurisprudência maioritária diz-nos que são prazos
meramente ordenadores ou disciplinadores, não são perentórios.
 + Ac. TRÇ 22/02/2017 – as apreensões feitas para além do prazo não
determinam a inconstitucionalidade do 267º CPP.
 O decurso do prazo não afeta a validade da prova já adquirida.

As Soluções de Oportunidade Processual num Sistema Marcado pela Legalidade Processual

 O nosso sistema é marcado pela legalidade processual:


o A tramitação desenrola-se nos termos da lei – 2º;
o Há uma promoção obrigatória – 262º:
 Em PT, se se verificarem os pressupostos processuais, o MP tem o
dever de promover o processo.
 =/= O nosso sistema afasta-se do sistema anglo-americano
onde vigora o princípio da oportunidade.
 = princípio de legalidade estrita.
 + Deste ponto de vista, só os crimes semipúblicos e os crimes
particulares é que implicam alguma limitação ao dever de
promoção do MP.
 O nosso sistema tem custos elevados, mas tem um grande valor de
cumprimento de igualdade perante a lei por não se entrar em
questões de conveniência ou oportunidade perante a notícia do
crime.
 Até agora, o nosso legislador optou por não fugir ao 262º e opta por não aplicar o
‘princípio da oportunidade’ MAS criou algumas soluções processuais de oportunidade
mitigada, através de mecanismos que expressam alguma oportunidade, sem
verdadeiramente excecionar o dever de promoção:
o Portanto, quando o MP abre um inquérito e investiga um caso, já não está
perante uma dicotomia entre acusar ou arquivar porque estas não são as
únicas opções.
o O legislador consagrou no nosso código 4 soluções de “oportunidade
processual”:
 Estão a cargo do MP, + uma delas está a cargo do assistente nos
crimes particulares.
o Soluções:
 O recurso à mediação que foi acrescentado em 2007 em lei especial;
 O arquivamento em caso de dispensa de pena - 280º;
 A suspensão provisória do processo - 281º e 282º;
 O arquivamento quando segue a forma sumaríssima - 277º;
 O regime de tramitação dos crimes particulares que coloca nas mãos
do assistente a continuação ou não do processo - 285º.
o Nota:
 Quanto à tramitação dos crimes particulares com o assistente:
 A opção coloca-se nas mãos do assistente que faz o juízo e
não do MP, que segue sempre um procedimento vinculado.
o A entidade pública está obrigada a notificar o
assistente.
 Atentar, contudo, que, mesmo que se enquadre o regime dos
crimes particulares como sendo uma manifestação de
oportunidade, esta solução é diferente e deve ser delimitada
de forma negativa.
 Quanto ao Processo Sumaríssimo:
 É comum ver-se o processo sumaríssimo como uma
manifestação de oportunidade MAS é uma solução de
oportunidade diferente:
o No caso do processo sumaríssimo o que está em causa
é a oportunidade em relação à escolha do processo
que se vai seguir/quanto à forma de tramitar o
processo, mas vai existir na mesma uma decisão de
imputação de responsabilidade e uma imputação
condenatória (que não acontece nas outras soluções
de oportunidade.)
 Assim sendo, estes 2 mecanismos são diferentes dos que
correspondem verdadeiramente a ideias de oportunidade = são
formas de tramitação alternativas àquele que seria o
desenvolvimento natural do inquérito (= deduzir acusação).

Mediação Penal

 Tem uma lei própria – Lei Nº21/2007.


 Base:
o Se o crime tiver uma natureza particular ou semipública (=se o procedimento
depender de queixa), o MP pode proceder ao reenvio do processo para
mediação com suspensão de processo penal até ser resolvido o processo de
mediação (em regra é 3 meses).
o É um processo de jurisdição voluntária, desformalizado, mas articulado com o
processo penal.
 Solução da Mediação:
o É feita através de um mediador qualificado nos julgados de paz.
o Procura-se promover um acordo simples de satisfação de ofendido e de
reposição da paz jurídica violada.
 Há um privilegiamento da aproximação entre o ofendido e o arguido
de forma a haver uma reparação de todos os interesses danificados.
o Permite obter um acordo fora do processo, mas articulado com o processo.
 Esta possibilidade tem uma limitação de dupla natureza – 2º - âmbito positivo e
negativo:
o Aplica-se aos crimes particulares e semipúblicos (positivo) com exceção dos
que são excluídos pela lei (negativo)
 E.g - crimes de natureza sexual, idade do ofendido.
 Depois do acordo, como se procede?
o É enviado ao MP, que vai homologá-lo como acordo de desistência do
processo criminal.
 A homologação equivale a desistência e, portanto, não há atribuição
de responsabilidade criminal.
o O acordo obtido nos termos legais impõe-se ao MP:
 Ele pode fazer um controlo da sua legalidade, mas não o pode recusar
caso seja regular.
o O acordo tem de cumprir todos os requisitos do 6º da Lei Nº21/2007.
o Lógico que, tratando-se de uma mediação, o acordo também tem de ser aceite
pelas partes.
 5º da Lei Nº21/2007:
o Se o acordo não for cumprido, é possível renovar a queixa no prazo de um
mês.
 Findo um mês, caduca o direito de renovação da queixa.
 Razão de ser:
o Surgiu em 2007.
o É uma solução alternativa para o tratamento da pequena e média
criminalidade, que determina a suspensão do processo provisoriamente e
resulta num acordo que carece de homologação do MP que valerá como
desistência.
o Estes casos ainda são pouco significativos, mas FCP acredita que é importante
termos um regime de mediação penal intraprocessual (que não é feita
autonomamente fora do processo com valor meramente cível):
 FCP acredita que a mediação penal pode apaziguar a conflitualidade
social, aproximar os sujeitos e tem espaço para crescer.
 Artigos:
o Suspensão do processo e envio para a mediação extrapenal – 3º e 7º.
o Tentativa de recomposição de interesses – 4º.
o Acordo, desistência ou reabertura do processo criminal – 5º e 6º.

O Arquivamento em caso de Dispensa de Pena

 Prevista no 280º CPP, 74º CP (de forma genérica) e lei especial.


 No que consiste:
o Consiste na promoção de um arquivamento de um processo quando se
verificam indícios de que o crime praticado pelo arguido admite, de acordo
com a lei substantiva, dispensa de pena.
o Dá-se aqui uma hipótese ao MP de, perante baixa criminalidade, oferecer uma
oportunidade ao arguido de não ser sujeito ao processo e não ir a
julgamento.
o Exemplo:
 Em casos em que um co-arguido contribua para a descoberta da
realidade material, permite que haja dispensa de pena = traduz-se em
neutralizar a norma de sanção.
 Conceito de Dispensa de Pena:
o Figueiredo Dias = a dispensa de pena é uma declaração de culpa não
acompanhada de pena efetiva.
 Ou seja, há uma declaração de responsabilidade do agente pelos
factos sem que seja aplicada pena efetiva.
o Não é aplicada nem a pena mínima nem a pena efetiva.
 Na legislação:
o Aplica-se em função de opções da lei substantiva, ou seja, quando a lei prevê
para um certo crime.
o A dispensa de pena está sujeita ao Princípio da Legalidade = não corresponde a
um momento de discricionariedade.
 280º CPP - se o crime em causa for um crime que legalmente admite
dispensa de pena, então o legislador permite que o MP promova o
arquivamento antes da acusação ser deduzida.
o 74º CP – forma genérica.
 A dispensa de pena só é admissível para a pequena criminalidade.
o Em especial, o legislador declara se um certo crime admite ou não dispensa
de pena:
 Exemplo – 186º CP – crimes contra a honra.
o Tem um campo de aplicação limitado:
 Os casos mais significativos da legislação especial tinham que ver com
os crimes tributários, mas o legislador entendeu que devia limitar a
dispensa de pena nestes casos porque estava a gerar efeitos
perversos em relação a esta criminalidade em específico.
 A figura da dispensa de pena é uma figura de recuo da pena, mas com
responsabilidade criminal:
o É uma alternativa à pena mínima e às penas alternativas.
 Como funciona, em termos processuais:
o Permite que o MP (com o acordo do juiz do inquérito) promova, no fim do
inquérito, o arquivamento em caso de dispensa de pena.
 Ou seja, a solução do julgamento acaba por ser uma atribuição de
responsabilidade, com dispensa de pena.
 É uma situação em que, perante um horizonte substantivo de
possibilidade de dispensa de pena, o legislador permite que o MP
tome uma decisão processual promovendo o arquivamento.
o Isto altera a natureza da decisão:
 Se for o juiz a atribuir dispensa de pena, profere-se uma decisão
condenatória.
 Se for o MP a promover o arquivamento nestes termos, o juiz não
profere uma decisão condenatória mas sim uma decisão de
arquivamento.
o FCP - A decisão é diferente consoante seja no inquérito ou no julgamento.
o A decisão é processual, mas forma caso julgado material:
 Fica definitivamente resolvido = não pode ser objeto de novo
inquérito ou julgamento.
 Não é atribuída responsabilidade criminal.
o Sistema do legislador:
 Se o inquérito for feito antes da acusação, não é preciso acordo do
arguido, basta o acordo do JIC.
 Se for depois da acusação, é preciso acordo do JIC.
 O que é que o legislador consegue aqui? Que o MP antecipe uma
decisão processualmente, numa fase.
o O que é problemático aqui?
 Passa por uma decisão de promoção do MP, sujeita ao controlo do JIC.
 Não se prevê a intervenção do assistente, e o caso pode já ter
um assistente constituído.
 Se o crime for particular, temos o problema adicional de saber se o MP
pode dispor do processo sem ter autorização do assistente.
 Dois entendimentos possíveis:
 1º - o 280º é limitado pelo regime dos crimes particulares:
o Se for CP, não podemos recorrer ao 280º, tem de ser
ao 285º.
o O 285º, ao não contemplar a intervenção do
assistente, não permite processo sumaríssimo em
crimes particulares.
o O 280º, não prevendo a intervenção do assistente,
parece não ser aplicável a crimes particulares.
 2º - entendimento do FCP:
o Se o crime for particular, temos de cumprir o 285º, e
não se pode promover.
o Se o legislador no regime dos CP quer por a
continuação do processo nas mãos do assistente,
então depois não faz sentido que o mesmo legislador
retire o processo ao assistente devido ao 280º.
o Para haver arquivamento em caso de suspensão de
pena, tem de haver facto típico ilícito culposo.
 Razão deste Mecanismo:
o Pode dar um oportunidade ao arguido de não voltar a repetir aquele facto,
porque se ele o fizer ele irá ser julgado criminalmente.

A Suspensão Provisória do Processo

 Está prevista no 281º e 282º.


 É muito importante porque o seu campo de aplicação legal e concreta é muito maior
do que as restantes figuras.
 No que consiste:
o Corresponde a uma situação em que é paralisada a normal tramitação do
processo sujeitando o arguido temporariamente a um regime de prova.
o Durante o tempo em que o processo está suspenso, o arguido tem de cumprir
certas injunções, fica sujeito a um regime próprio:
 Dever de reparar o ofendido;
 Não frequentar certos lugares;
o Se este o cumprir, o processo é arquivado no final de período de suspensão –
282º.
o Se não cumprir, o processo é reiniciado.
 Âmbito – 281º:
o Aplica-se aos crimes puníveis com pena de prisão não superior a cinco anos.
o Enquadra a pequena e média criminalidade = tem um campo de aplicação
muito vasto:
 O legislador pretendeu enquadrar as situações de criminalidade
ocasional pouco graves em que se consegue obter uma composição
dos interesses violados.
 Isto pressupõe que o arguido não cometeu anteriormente
outro crime da mesma natureza do que aquele que está a ser
processado.
 Há registo e proibição de repetição do processo pelos mesmos
factos.
 + Tem de haver acordo de todos os sujeitos processuais (JIC, arguido e assistente, se o
houver).

Ratio do Sistema de Soluções de Oportunidade

 É um sistema de oportunidade intraprocessual:


o Pressupõe-se um processo aberto ‘intraprocessual’ = o legislador não aceita
soluções de carácter extraprocessual.
 Mesmo a mediação resulta do encaminhamento processual.
 Não é uma oportunidade no sentido anglo-americano, é sempre vinculada aos
pressupostos legais.
 As soluções de oportunidade são temperadas/controladas pelo acordo dos sujeitos
processuais:
o Não são decididas pelo MP sozinho;
o São controláveis pelos restantes sujeitos processuais – JIC, Arguido, Assistente.

Síntese do Modelo Português

 262º:
o Promoção vinculada do processo;
o Há uma obrigatoriedade do MP abrir o processo.
o + princípio da legalidade.
 MAS esta rigidez da obrigatoriedade de abrir o processo é temperada por soluções de
oportunidade processual.
 Sujeitos Processuais:
o Legislador atribui poder ao MP.
o Existe controlo judicial direto em todos os casos –não há um controlo por
todos os sujeitos processuais mas há sempre do JIC.
 Mecanismos de Soluções de Oportunidade no Inquérito – Suspensão Provisória:
o 281º/Nº8 – prescinde-se do acordo do arguido.
o 281º/Nº9 – prescinde-se do acordo do assistente:
 Exemplo – crime de furto simples em estabelecimentos comerciais.
 Ou seja, pode haver suspensão provisória do processo mesmo sem o
acordo do assistente (só entre o MP e o JIC):
 O agente poderia perturbar esta decisão.
 Significa no fundo as duas tendências de que o legislador cria
mecanismos de oportunidade processual sem descriminalizar e sem
adotar o principio da oportunidade na promoção de processo +
legislador retirou-os do âmbito do acordo relevante, privilegiando a
decisão provisória do processo, mas sem ser verdadeiramente uma
decisão normativa.

O REGIME DO SEGREDO DE JUSTIÇA

 Artigos:
o 86º a 89º do CPP.
o 23º CRP;
o 371º CP.

Conceito e Finalidade do Segredo de Justiça


 O regime do segredo de justiça é um regime de reserva jurídica sobre os atos
processuais e o seu conteúdo – 86º/Nº8:
o Os atos processuais não são livremente acessíveis = ligado a proibições de
divulgação.
o isto implica 2 limitações:
 Proibição de conhecimento fora de um certo círculo reservado;
 Proibição de divulgação.
 Finalidade do SdJ = proteger a investigação criminal:
o Se fosse possível aceder à investigação enquanto esta está em curso poderia
haver uma frustração dos atos de investigação:
 Exemplo – escutas telefónicas:
 Estas beneficiam de serem secretas = se o alvo da investigação
souber de antemão que o seu telemóvel está sob escuta, esta
não vai servir para nada.
 Também podem ser frustradas outras diligências importantes –
buscas, inquirição de testemunhas.
 FCP:
o É um defensor do segredo de justiça.
o Entende que se justifica no âmbito do processo penal e concorda com a
existência de uma incriminação para os casos de violação do instituto.
o Considera que é fundamental para a investigação, para o arguido e para
proteger algumas pessoas ligadas ao processo.
o Em nenhum Estado de Direito é possível fazer uma investigação à
criminalidade organizada se não houver segredo de justiça.

Bases Legais

 Entendemos que é um instituto que tem tutela constitucional, processual e


substantiva.
 20º/Nº3 da CRP:
o Demonstra que existe uma tutela constitucional do segredo de justiça:
 Ou seja, não é uma norma que se refere especificamente ao processo
penal = é uma exigência do ponto de vista constitucional, de que se
crie um regime adequado a proteger o segredo de justiça.
 Do ponto de vista constitucional, o segredo de justiça é uma garantia
de direitos fundamentais.
 86º a 89º do CPP:
o Regulamentação muito densa e pormenorizada.
o Resulta da versão atual da revisão de 2007, que foi corrigida em 2010.
 371º do CP:
o É um tipo incriminador que prevê a tipicidade e a pena aplicável à violação do
segredo de justiça.
o Havendo segredo de justiça num processo, seja ele criminal, disciplinar ou
contraordenacional, a sua violação corresponde à prática de um crime.
 = apenas se pune a violação dolosa, e não a negligente.

Valores tutelados pelo Segredo de Justiça

 Proteção/Tutela da Investigação Criminal:


o Visa proteger as condições em que se vai averiguar quem praticou os factos e
as respetivas provas.
o Tem uma dimensão pública significativa:
 Normalmente a investigação começa com alguns factos conhecidos e
com várias hipóteses de investigação que vão sendo levantadas
consoante o material que os investigadores vão recolhendo.
 Isto é uma tarefa morosa que implica tomar decisões sobre que tipo
de provas e estratégias vão ser utilizadas.
 = Não haverá PP que viva sem regime de segredo de justiça
que permita que a investigação decorra sem os sobressaltos e
as pressões dos diversos envolvidos.
 -> Por isso é que se diz que é uma figura de dimensão de direito
público:
 Só se consegue exercer a ação penal de forma consequente,
se existirem condições para investigar = tempo, serenidade
para conduzir as investigações.
 Garantia de Direitos Fundamentais:
o Isto é reforçado pelo facto da figura do SdJ estar inserido na CRP.
o A presunção da inocência, consagrada na CRP, só é efetivada se houver SdJ:
 A presunção de inocência vigora durante todo o processo MAS é na
fase inicial que tem a sua dimensão máxima:
 A pessoa, enquanto é investigada de forma legal, tem de ser
tratada como inocente = de modo a determinar se há base
para a prossecução do processo ou não.
 Não seria viável se a investigação fosse acessível a qualquer
pessoa:
o A pessoa pode nem estar acusada, mas a libertação de
informação pode pôr em causa a sua imagem social e
profissional.
o Isto acontecia nos anos 90s:
 Era comum os órgãos de comunicação social
terem acesso ao conteúdo das acusações
antes sequer do arguido e seu advogado
terem sido notificados = primeiro eram
acusadas pelos jornais, mesmo que depois
conseguissem obter uma não pronúncia ou
fossem absolvidos.
 Proteção das Pessoas - Pode haver vários meios de prova/pessoas que podem ficar
especialmente expostas se a investigação for pública logo no início do processo.
o Está ligada à primeira dimensão.
o = até as condições de existência e qualidade de provas e testemunhas,
designadamente testemunhas peritos e eventuais informadores podem ser
postas em causa.

Segredo Interno e Segredo Externo

 Segredo Interno:
o Há uma proibição de acesso ao processo e uma proibição de divulgação.
o Este é o segredo de justiça mais profundo e mais intenso:
 Só um pequeno número de pessoas ligadas ao processo é que lhe
podem aceder.
 Os outros intervenientes não têm acesso ao conteúdo do processo
coberto por segredo interno:
 Mesmo o assistente, o arguido e o seu defensor não tem
acesso ao conteudo do processo.
 = é portanto oponível aos sujeitos processuais.
 Segredo Externo:
o Há proibição de divulgação mas não há proibição de acesso ao processo:
 O processo não pode ser divulgado para o exterior, mas pode
conhecer-se do processo.
 Ver na lei:
o Se a lei não declarar se o segredo é interno ou externo, pressupõe-se que é
interno e externo.
o Se o legislador pretender eliminar o segredo interno, tem de o declarar
expressamente.

Tutela Processual e Tutela Penal

 Tutela Processual:
o Do ponto de vista processual, o conteúdo do segredo de justiça está previsto
no 86º/Nº8:
 Proibição de conhecimento, proibição de assistência e a proibição de
divulgação.
 Tutela Penal:
o A tutela penal depende da tipicidade do crime de violação do segredo de
justiça – 371º CP.
o Este tipo incriminador não pune todas as dimensões processuais do 86º/Nº8 –
só pune a divulgação dolosa do conteúdo dos atos processuais.
 = não é crime assistir nem conhecer, só é crime revelar.
 O tipo só está construído para um facto, que é a revelação do
conteúdo.
 Conclusão:
o A tutela penal é mais limitada do que a tutela processual, porque nem tudo o
que é infração processual dá origem à infração penal.
o Exemplo:
 Se uma pessoa ouve coisas através de uma porta entreaberta sem
querer, conhecendo conteúdo que não devia conhecer, não está a
incorrer em qualquer infração penal no momento em que conhece as
informações – só está a incorrer numa infração processual.
 Neste caso ficará vinculada ao regime do segredo externo, ou seja,
estará sujeita a uma proibição de divulgar as informações que obteve
naquele caso concreto.
o A tutela penal é parcialmente autónoma da tutela processual.
o A tutela penal depende do regime adjetivo:
 Está dependente de vigorar para aquele ato processual um SdJ.
 Se cessar o segredo de justiça, já não se poderá aplicar o tipo penal.
A Publicidade do Processo

 Definição na lei – 86º/Nº6:


o A publicidade do processo implica a possibilidade de o público em geral
assistir ao debate instrutório e aos atos processuais na fase de julgamento, a
possibilidade de narrar os atos pelos meios de comunicação social e ainda a
possibilidade de obter acesso ou cópia dos autos.
 Publicidade do Processo =/= Regime de Segredo.
o Desde 2007 a publicidade é uma característica geral do processo penal.

A evolução do regime – 1987, 1998, 2007 e as correções de 2010

1987

 O CPP acolheu um regime de segredo de justiça que era imperativo - decorria da lei.
 Vigorava para o inquérito e para a instrução:
o Só cessava com o fim da instrução e com o envio do caso para julgamento.
 Era coerente, do ponto de vista axiológico:
o Vigorava nas fases preliminares, em que o segredo é fundamental para o
desenvolvimento da investigação.
o Obedecia ao imperativo constitucional = 206º CRP, de publicidade da
audiência do julgamento.
 Vigorava sem prazos, sem grande possibilidade de controlo e o próprio regime limitava
os próprios titulares do processo em algumas coisas.
 Regime extenso e rígido:
o Era possível transferir elementos entre vários processos penais, mas obrigava-
se a que se garantisse o segredo de justiça;
 Era praticamente impossível transferir elementos de um processo
penal para um cível.
o Não era possível prestar informações públicas sobre processos.
o Mesmo ter acesso ao próprio processo, para a pessoa se poder defender, era
complexo:
 Exemplo – Se fosse aplicada uma medida de coação, a pessoa até
tinha direito ao recurso, mas não tinha acesso ao conteúdo que
fundamentava a medida.
 Podia mesmo demorar algum tempo;
 + o assistente também não podia saber o conteúdo da
investigação não podia.
 O próprio arguido não podia inclusivamente contrariar as
notícias da comunicação social – havia muitas fugas de
informação, mas ele não podia ter acesso aos autos.
 Outro problema - desde o início do processo até à decisão instrutória, o número de
pessoas com acesso ao processo aumentava consideravelmente:
o As fugas de informação eram potenciadas com o decorrer do processo porque
a partir do momento em que fossem ouvidas testemunhas ou notificadas
acusações, estas pessoas passavam a ter contacto com o processo e passavam
a conhecer a sua existência.
o Isto piorava no caso de haver instrução.
1998

 O segredo de justiça mantém-se até ao final do inquérito, mas só se mantém na


instrução se for requerido pelo arguido.
o FCP considera como solução inteligente = mantinha o segredo numa fase em
que ainda não se sabia se o arguido seria sujeito a julgamento = protegia a
dimensão social ou profissional do mesmo.
o Houve aqui uma 1ª quebra entre o segredo interno e o segredo externo:
 Ou o processo deixava de estar em segredo na fase de instrução;
 Ou então continuava a existir segredo, mas na verdade era apenas um
segredo externo, porque os intervenientes tinham acesso ao processo
a partir da acusação.
 Mesmo apesar de haver este recuo no SdJ, continuavam a existir violações
significativas, quer na fase de inquérito quer na fase de instrução:
o Havia divulgações ilegítimas de informação = especialmente por parte da
comunicação social, que desde os anos 90 tinham percebido a importância de
antecipar notícias no seio de processos mediáticos.
 Levou a grande debate na sociedade académica sobre o Segredo de Justiça:
o Advogados:
 Defendiam que as violações eram absolutamente inadmissíveis pelo
que era preferível eliminar o segredo de justiça, já que tudo se sabia
na mesma.
o Dizia-se que o segredo de justiça era perverso:
 Levava a que não houvesse nenhum controlo da ação do MP:
 Mesmo que o MP não fizesse no processo, também não se
saberia porque não havia acesso a esse mesmo processo.
 Criou-se a ideia de que o segredo de justiça tinha um lado de encobrir
a inércia dos órgãos competentes.
 Chegou mesmo a afirmar-se que o MP e os OPC eram os
únicos interessados na manutenção desse instituto porque
conseguiam gerir as investigações, perpetuando-as sem ter
de prestar contas sobre o que faziam, ou não faziam.
o Começou-se a procurar mecanismos de controlo:
 Prazos – prazos de vigência do SdJ de forma a limitá-lo no tempo;
 Através da ação reguladora do JIC.
o O Governo entregou a reforma do PP a uma unidade de missão, que analisou
estas opções e propôs soluções que foram votadas no parlamento.

2007

 O regime foi severamente alterado, sem qualquer intervenção de qualquer penalista,


pelo poder político.
o FCP critica:
 Acredita que isto ignorava os diferentes valores em conflito e as
diversas formas de regular a matéria.
 Enfatizou ainda a ideia de que o legislador parlamentar chegou a ir
além do que a própria CRP, que limitava a publicidade à audiência
processual.
 Considera como ignorância – o PP não tem os mesmos valores que o
DA:
 Na DA, obriga-se a que os processos sejam públicos porque a
atividade administrativa envolve interesses públicos =/=
processo penal tem de abrigar as garantias de defesa do
arguido.
 O SdJ deixou de ser regra + foi criado todo um regime que parte do princípio de que o
processo penal é publico e que só excecionalmente é sujeito a segredo de justiça.
o Para se sujeitar ao SdJ, era preciso um requerimento.
o So há SdJ no inquérito, deixa de existir na investigação.
 Isto criou um efeito dramático e drástico:
o O princípio da publicidade, sem limites, significava que qualquer pessoa podia
assistir ao inquérito:
 Qualquer pessoa podia entrar nas instalações do MP ou da polícia
judiciária e tinha o direito de assistir a qualquer ato que estivesse a ser
praticado, inclusivamente a inquirição de testemunhas

2010

 De forma discreta, o legislador fez vários ajustamentos – veio a restringir aquilo que
tinha declarado anteriormente.
o Veio corrigir aquilo que foi um erro nunca assumido - uma ‘correção tácita’ -
ter criado um regime completamente ignorante daquilo que era o processo
penal.
 Exemplos:
o 276º/Nº5.
o 86º/Nº6/a):
 Ou seja, o princípio da publicidade deixa de ser para todo o processo,
sendo apenas para o debate instrutório e para o julgamento.
 =/= fase de inquérito.

Regime adotado em 2007

 1º - Sujeição do processo a segredo de justiça deixa de ser obrigatória, passa a ser


facultativa – 86º:
o Regra passou a ser que os processos, quando se iniciam, não estão em
segredo.
o Pode ser promovida a sujeição a segredo de justiça se for requerida por algum
dos sujeitos processuais – MP, outros intervenientes.
 2º - Dependência do regime de segredo a uma promoção de um sujeito processual.
o Deixa de ser a lei a prever o segredo de justiça, passa a ter de ser um sujeito
processual a requerer a sua aplicação.
 3º - O legislador resolveu limitar os poderes do titular do inquérito na sujeição do
processo a segredo:
o O inquérito continua na titularidade do MP, mas a lei retirou ao MP o poder
autónomo de sujeitar o processo a segredo:
 Se o MP quiser levantar o segredo pode fazê-lo por si só, mas se quiser
submeter a segredo depende da concordância, não oposição ou
ratificação do JIC - deixando de ter poderes autónomos neste sentido.
 4º - O legislador passou a tratar a matéria do segredo de justiça como uma matéria
sujeita a controlo jurisdicional = intervenção do JIC.
o + JIC passou a ter o poder de diminuir os diferendos que existam entre o
levantamento do segredo e sujeição a segredo, designadamente entre o
arguido e o MP.
o Ou seja, MP perde poder na fase processual que ele próprio dirige.
 5º - Criação de Prazos de Vigência do Segredo de Justiça, de forma a limitá-lo no
tempo – 89º/Nº6:
o O segredo de justiça não vigora durante o período do inquérito, mas durante o
período referido no 89º/Nº6.
 Esta norma passou a contemplar um prazo, findo o qual ou se quebra
o segredo interno ou se requer a continuação por mais algum tempo.
o É admissível uma prorrogação em casos de criminalidade mais grave – 1º/i) a
m).
 Balanço e Críticas ao Regime adotado em 2007
 É uma soma de soluções que favorecem a ausência do segredo – publicidade,
intervenção do JIC.
 Quanto à conversão do regime de SdJ em facultativo:
o Deixou de existir em todos os casos, para passar a vigorar apenas quando é
necessário.
o Revelou-se útil, permite uma melhor gestão de recursos.
o FCP inicialmente teve reserva sobre isto, mas depois de ver os resultados
acabou por concordar.
 Problema – o legislador adotou várias soluções diferentes para o controlo do SdJ:
o O legislador podia apenas ter motivado a intervenção do JIC ou criado um
regime de prazos, mas usou tudo ao mesmo tempo.
 e.g – Bastava, designadamente para preservar os DFs, fazer funcionar
o JIC quando alguém sentisse os seus direitos afetados.
 Quanto à intervenção do JIC:
o É peculiar porque o inquérito não é nem da titularidade nem da condução do
JIC MAS no tema do SdJ é ele que decide – 86º/Nº2 e Nº3.
 Ora, o JIC é um corpo estranho ao inquérito:
 Ele não tem informação concreta sobre o inquérito ou sobre a
sua estratégia.
 A única coisa que o JIC consegue controlar com alguma
segurança é se o pedido tem ou não alguma fundamentação,
mas quanto ao conteúdo ou bondade dessa fundamentação já
não tem como avaliar e a prática judiciária tem demonstrado
isso mesmo.
o Mesmo que tenha fundamentação, o JIC não tem
capacidade critica, portanto só avalia se há
efetivamente fundamentação ou não.
o FCP considera que se justificava perfeitamente uma intervenção do JIC em
casos que mexam com DFs, mas fazê-lo intervir em todas as situações é
exagerado.
 Quanto à publicidade do processo:
o FCP considera um erro considerar todo o processo como público, uma vez que
o processo penal tem uma natureza mista (fase de inquérito escrita secreta e
depois fase pública de julgamento)
 Quanto à criação de regime de prazos para quebra do segredo interno:
o Os prazos do 276º criaram-se para disciplinar o MP, sendo em regra de 6
meses.
 Decorrido o prazo, quebra-se o segredo (89º/Nº6), o que é absurdo.
o Se a investigação está a demorar mais, provavelmente é porque a
complexidade do caso assim o determina = a solução criada não respeita a
complexidade e a diversidade dos diversos casos, antes cria um tratamento
igual e indiferente.
o O legislador só reconheceu este erro em 2010:
 Acrescentou um regime de suspensão do prazo = caso se pratique um
ato processual que implique uma certa delonga (seja necessário uma
carta rogatória, precatória).
o Este é um erro também em termos sistemáticos, pois relativamente às
Medidas de Coação (194º), o legislador conseguiu arranjar uma solução que
permite a transmissão da informação sem provocar a aniquilação total do SdJ:
 A aplicação de uma medida de coação quebra sempre, ainda que de
forma parcial, o segredo de justiça:
 O material recolhido durante a investigação vai ser utilizado
para fundamentar a medida e o arguido tem de conhecer a
fundamentação para exercer o seu direito de defesa de
forma cabal.
 Poderia ter sido encontrada uma solução semelhante a esta, em vez
de se optar pelo fim do segredo quando decorrido o prazo:
 Podia o JIC, por exemplo, decidir que certas informações
permaneceriam sempre em segredo e que o decorrer do
prazo apenas afetaria uma parte da investigação.
 Quanto à dependência dos intervenientes:
o Também é criticada.
o Este regime converteu uma questão que em parte é de direito público (a
proteção da investigação criminal), num problema de partes.
 Pois, da forma como está configurado o regime, o SdJ depende dos
sujeitos processuais:
 Eles têm de o requerer + as divergências são resolvidas pelo
JIC.
o FCP considera que:
 Foi criado um momento de contraditório numa fase que não é nem
tem de ser contraditória, tendo em conta os interesses
maioritariamente públicos aqui ponderados.
 O MP (como titular da fase de inquérito) é que devia ter autonomia
para dirimir estas questões e o que deveria acontecer era o legislador
decretar o segredo de justiça para o inquérito, com a possibilidade de
este ser levantado a todo o tempo.
 + A questão de ser necessário um requerimento para decretar o SdJ
pode implicar uma morosidade muito superior dos processos.
 Face a estes problemas, o regime de 2007 teve várias correções, ora por via legal ora
por via jurisprudencial:
o Limitação da publicidade do processo – 86º/Nº6/a) in fine: só debate
instrutório e julgamento.
o Suspensão dos prazos no caso de se aguardar resposta a uma carta rogatória –
276º/Nº5.
o AC TC 428/2008 – inconstitucionalidade da quebra automática do segredo
interno do 89º/Nº6.
o Ac STJ 5/2010 – segunda prorrogação do 89º/Nº6 CPP = pode ser por prazos
superiores a 3 meses.

Resumo – Regime do 86º, atualmente em vigor

 A regra é a publicidade do processo.


 O regime do segredo de justiça, na fase de inquérito, depende de requerimento:
o 86º/Nº2 – a requerimento do arguido, assistente ou ofendido:
 O JIC decide, tem de ouvir o MP.
o 86º/Nº3 – a requerimento do MP, tem de ser validado pelo JIC num prazo de
72h.
 O MP pode determinar o levantamento do SdJ a qualquer momento – 86º/Nº4.

A quebra automática do segredo – Ac. TC 428/2008

 Regime da Quebra Automática do Segredo:


o Ao se abrir o inquérito, começavam a correr os prazos do 276º.
o Passados os prazos, tinham como consequência o levantamento do SdJ.
 Lembrar que o propósito destes prazos era para disciplinar o MP.
 O MP podia requerer mais 3 meses = 89º/Nº6.
 O que acontecia era que, em processos complexos de matérias delicadas, a quebra
automática do segredo por decurso do prazo fazia com que todos os arguidos e
defensores tivessem acesso aos autos + processo na sua totalidade.
 Divergência sobre este regime chegou ao TC = pronunciou-se através do acórdão TC
428/2008:
o TC decidiu que a solução do 89º/Nº6 implicava uma violação do 20º/Nº3 CRP
(lei deve garantir SdJ) porque a lei não ponderava uma solução adequada,
tendo em conta que desprotegia o processo = a lei não estava a garantir os
valores subjacentes ao segredo de justiça.
 Declarou inconstitucional o entendimento que se quebra por decurso
do prazo o SdJ.
 -> Decisão fez com que legislador percebesse erro e corrigiu em 2010.
 MAS atenção = foi uma declaração no caso concreto, não foi com força obrigatória
geral.

O Sistema de Prazos e a sua Prorrogação – Ac. STJ Nº5/2010 – Relativo ao 89º/Nº6

 Este acordão surge porque do 89º/Nº6 surgem 2 interpretações diferentes = foi


colocada ao STJ a questão para que este determinasse qual era a interpretação correta
face à letra da lei.
 Relembrar… 89º/Nº6:
o “Findos os prazos previstos no 276.º, o arguido, o assistente e o ofendido
podem consultar todos os elementos de processo que se encontre em segredo
de justiça, salvo se o juiz de instrução determinar, a requerimento do
Ministério Público, que o acesso aos autos seja adiado por um período
máximo de três meses, o qual pode ser prorrogado, por uma só vez, quando
estiver em causa a criminalidade a que se referem as alíneas i) a m) do artigo
1.º, e por um prazo objetivamente indispensável à conclusão da
investigação.”
 Ou seja, do 89º/Nº6 resulta que:
o Temos quebra do segredo interno SALVO se o JIC determinar, a requerimento
do MP, que o acesso aos autos seja adiado por um período máximo de 6
meses.
o MP pode:
 Apresentar requerimento para que SdJ continuasse por mais 3 meses;
 Este requerimento pode ser prorrogado por uma só vez quando
estiver em causa a criminalidade que se referem as alíneas i) a m) e
por um prazo objetivamente indispensável à conclusão da
investigação.
 E.g - criminalidade organizada - podia haver mais uma
prorrogação para além da primeira de 3 meses que se
estabelecia ali.
 Problema - Qual o prazo da segunda prorrogação? – Pergunta feita ao STJ:
o Literalmente, a fixação de prazos e a forma como o Nº6 está redigido dá a
entender que há uma primeira prorrogação excecional de 3 meses, e a lei
refere-se a esta a dizer que pode o prazo ser prorrogado uma segunda vez
por tempo objetivamente indispensável à concretização da investigação.
o Interpretação 1:
 A segunda prorrogação tem um limite máximo de 3 meses.
 Fazendo uma interpretação literal, a segunda prorrogação devia ser de
mais 3 meses, no máximo.
o Interpretação 2 – STJ:
 O STJ veio fixar uma interpretação de acordo com a qual a primeira
prorrogação tem um prazo de 3 meses, mas, se estiver em causa
criminalidade organizada, a segunda prorrogação é, como se diz na
parte final, por um prazo razoável objetivamente indispensável à
conclusão da investigação:
 Nestas circunstâncias específicas, de casos de criminalidade
organizada, não há prazo para a segunda prorrogação = podia
ser um prazo com duração superior a 3 meses.
o STJ:
 Escreveu direito por linhas tortas.
 Na verdade, criou direito, porque não é essa a solução legal.
 Pode-se considerar que o STJ veio através deste acórdão, também de
forma controvertida, tentar mitigar os problemas criados com a
reforma de 2007 (e depois 2010).
 Resultado:
 Na criminalidade organizada, terminado o segredo de justiça,
pode ser criado um prazo objetivamente indispensável à
conclusão da investigação, permitindo, no fundo, não haver
prazo, havendo, então prorrogação excecional de uma
prorrogação já ela excecional.
 FCP:
 Não era isto que se retirava da lei.
 Foi uma forma do STJ se antecipar ao legislador = tentativa de
mitigar os problemas criados pela reforma de 2007.
 É por isso que depois não há mais casos de declaração de
inconstitucionalidade - na verdade, o MP passou a ter
possibilidade de determinar que o prazo é X, Y ou Z
consoante a necessidade concreta da investigação.

A Liberdade de Imprensa e as Limitações criadas pelo Regime do Segredo de Justiça (32º e


29º CRP)

A liberdade de imprensa e o crime de violação de segredo de Justiça (371º CP)

 A questão fundamental é saber se o regime do segredo de justiça é ou não um regime


inconstitucional por violar a liberdade de imprensa – implica 2 questões:
o 1º - O segredo de justiça cria uma limitação à liberdade de imprensa,
designadamente à liberdade de usar os meios de comunicação social para
investigar os casos e relatá-los na imprensa?
o 2º - Os jornalistas, ao fazer a cobertura de notícias que envolvem factos
cobertos pelo segredo de justiça, estão a realizar o topo incriminador de
violação do segredo de justiça previsto pelo 371º CP?

Os Jornalistas realizam o topo incriminador do 371º CP?

 Claro que se admitem várias opiniões, mas relativamente ao 371º CP, a partir da
reforma de 2007, só se admite uma interpretação = inclui jornalistas no âmbito da sua
previsão típica.
 Há 2 razões:
o 1º - Trata-se de um crime público.
o 2º - O legislador acrescentou à redação “independentemente de ter tomado
contacto com o processo”.
 O que é que o legislador pretendeu?
 Antes de 2007, podia-se considerar que o jornalista não tinha
a capacidade de realizar o crime de violação do segredo de
justiça porque este não era interveniente no processo = não
tinha contacto com ele.
o O jornalista recebia informações de alguém que
intervinha no processo e que estava em contacto
com o jornalista = era este “informador
desconhecido” que quebrava o SdJ.
 Devido aos pareceres da PGR, entendia-se que
o jornalista não tinha qualquer contacto com o
processo, por ser exterior a este e porque os
jornalistas têm o privilégio de
reserva/anonimato das fontes.
 Como o jornalista, que divulgava a
informação, era alguém que se entendia não
estar em contacto com o processo, não podia
realizar o tipo incriminador do artigo 371º CP.
 Veio a provar-se que a interpretação da PGR estava errada:
o Baseava-se numa ideia de contacto naturalístico/
físico com o processo.
o Pelo 86º, o contacto com o processo não tinha de ser
naturalístico = bastava haver conhecimento da
informação sujeita a segredo.
 Havia outra razão fundamental - o crime de violação do
segredo de justiça vem de 1982, e o regime do CPP é de 1987.
Por essa razão, o crime era comum, aplicando-se a qualquer
pessoa, e o CPP não alterava essa situação.
 Assim, ao acrescentar a expressão ao 371º, caso se coloque a dúvida
de saber se o jornalista que divulga a notícia tem ou não contacto com
o processo, o tipo incriminador não depende disso.

Facto Histórico e Segredo Processual - O segredo de justiça cria uma limitação à liberdade de
imprensa, designadamente à liberdade de usar os meios de comunicação social para investigar
os casos e relatá-los na imprensa?

 Opinião de FCP:
o O regime do segredo de justiça do artigo 371º CP nunca colide com a liberdade
de imprensa:
 O regime do 371º abrange o regime processual e não o facto
histórico.
 + A própria liberdade de imprensa tem limites constitucionais
previstos pelo 37º CRP:
 Os factos que violam o regime penal vigente são
considerados pela constituição como um limite constitucional
à liberdade de imprensa.
 Explicação:
o A imprensa não pode revelar o teor/conteúdo de um ato processual sujeito a
segredo de justiça:
 Não pode usar o PP como fonte de informações (se estiver em segredo
de justiça) da matéria que está a ser tratada.
 MAS pode fazer a sua investigação jornalística autónoma:
 Pode fazer a sua investigação à margem do processo.
 Pode investigar o facto histórico, pois este não está sujeito a
segredo de justiça (o que está é o conteúdo do processo).
 Aliás, a ratio do jornalismo é esta = fazer investigação jornalística, e
não relatar factos do processo = tem a sua liberdade de investigação
dos factos, interrogação das fontes e possibilidade de descoberta de
conteúdo.
o Exemplo – Homicídio:
 O MP abre inquérito e sujeita o processo a SdJ.
 A imprensa não está impedida de investigar o homicídio, pode fazê-lo
e usar as suas fontes para tal desde que estas não sejam processuais:
 Pode construir a sua versão dos factos, descobrir a verdade e
revelá-la.
 O que não pode fazer é usar o processo como fonte de informação –
e.g - não pode pedir a informação a um advogado. por exemplo.
o Assim, o que funciona como limitação à liberdade de imprensa é a relevância
criminal do facto.
o Exemplo – Meco:
 Quando morreram os estudantes (Meco), o MP não abriu logo
inquérito:
 A imprensa pode livremente falar com quem entendesse = foi
ao local, fez reconstituições, ouviu pessoas e fez ainda outras
diligências investigatórias.
o Não havendo processo, a liberdade de imprensa
estava a ser corretamente exercida.
 + Mesmo que já tivesse sido aberto o inquérito, a imprensa
podia continuar a falar com as pessoas para recolher
informações, apenas não podia revelar informações do
processo.
 Houve caso de vizinha que tinha presenciado quase toda a
atividade exercida e que nunca tinha sido ouvida, não tinha
prestado declarações perante o MP - não era testemunha,
não tinha sido chamada ao processo = neste caso, a imprensa
podia perfeitamente ouvir a pessoa e relatar os conteúdos
retirados do seu depoimento.
o A pessoa não tinha qualquer estatuto processual, e o
que estava a relatar era o facto histórico.
o Se a pessoa passar a ser testemunha deixa de poder prestar declarações?
 Visão 1 – entendem que depois da testemunha ser constituída como
tal no processo, deixa de poder dar entrevistas.
 Visão 2, FCP – o estatuto de testemunha não implica esse aspeto, nem
estão os jornalistas impedidos de questionar testemunhas:
 MAS essa pessoa cria uma situação fáctica de risco, pode
estar a revelar informação do processo = ela e o jornalista já
estão na esfera do 371º CP = é um grande risco porque poderá
acabar por criar uma situação de violação do regime do
segredo de justiça e ser penalizada por isso.
o Comparação com outros regimes:
 UK = O juiz pode decretar um embargo noticioso = não pode haver
divulgação de qualquer notícia relacionada com o caso concreto.
 Entre nós, isso poderia ser considerado inconstitucional por
atentar contra a liberdade de imprensa.

A proibição (relativa) de reprodução de peças processuais (88º/Nº1 a Nº3) e a proibição de


reprodução do conteúdo das escutas (artigo 88º nº4)
 Antes de 2007 já existia uma proibição da imprensa reproduzir peças e atos
processuais, mas em 2007 foi acrescentada a proibição de reprodução de conteúdos
processuais + a proibição de reprodução de escutas telefónicas.
 Sobre as escutas telefónicas:
o São um manancial de informação relevante para os jornalistas;
o CRP só admite a sua utilização dentro do processo:
 O conteúdo tende a revestir uma particular perigosidade e penetra na
vida íntima das pessoas.
 Para escapar a esta proibição, os jornalistas construíam peças com base nas escutas e
na sua reprodução (na televisão, rádio, etc.) = agora corresponde a um crime, pois é a
reprodução de conteúdos das escutas – 88º/Nº4:
o No entender de FCP este é um dos pontos, a par do regime do segredo de
justiça, que serão absolutamente vitais para definir os limites da liberdade de
imprensa em Portugal.
o Na maior parte dos casos acaba-se por não se aplicar o regime do 88º/Nº4
porque esse material está sujeito a segredo de justiça, e estando nessa
situação é aplicável o 371º CP.
 Há um concurso aparente, em relação de subsidiariedade.
 O 88º/Nº4 tem autonomia quando não há segredo de justiça, o regime
é o do consentimento das pessoas visadas.
o Como é que isto acontecia?
 Nalguns processos que têm manifesto interesse público,
designadamente de corrupção, a lei permite que qualquer pessoa se
constitua assistente:
 Os OCS constituíam-se assistentes no processo (68º) e
obtinham material informativo para divulgar informações do
processo em reportagens televisivas.
o = corresponde a uma adulteração da figura do
assistente, da própria liberdade de imprensa e do
regime do 88º CPP.
 Nestes casos:
o Regiam-se pelos interesses comerciais da imprensa na divulgação dos factos
para obtenção de quotas de mercado = nem era a liberdade de imprensa que
estava em causa.
o CPP estava a ser convertido num produto mercantilizado ao serviço das
questões de estratégia da comunicação social ou dos interesses económicos
deste grupo ou setores políticos ligados a estes grupos.
 + em casos em que há divulgação de atos processuais separados como interrogatórios:
o Não há 4 horas de interrogatório que passam nos media – são segmentos em
que as pessoas falam, no máximo, 3 minutos = está a sugar-se informação do
processo que se converte em informação a ser tratada pelos jornalistas, com
critérios de seleção exclusivamente seus.

O ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO: ARQUIVAMENTO OU ACUSAÇÃO

Relação entre Inquérito e Instrução

 O inquérito é essencial, a instrução é facultativa.


o Destina-se a investigar o caso, enquanto a instrução visa o controlo
jurisdicional sobre a decisão que encerrou o inquérito.
 A instrução não é uma fase de instrução autónoma.

Final do Inquérito

 Inquérito:
o Fase essencial de investigação que se destina a apurar os factos
criminalmente relevantes e permite a incriminação a título indiciário.
o Termina ou com:
 Formas típica de solução de oportunidade do MP = mediação penal;
suspensão provisória do processo.
 Se não estivermos perante um crime particular, o inquérito termina
com um arquivamento ou com uma acusação.
 Ou termina com Arquivamento – 277º:
o Quando existe um obstáculo à continuação do processo de natureza formal
ou material.
 Exemplos:
 Quando o MP fez a investigação e nota-se que faltam factos
ou não se determinam os autores ou falta um pressuposto
processual ou há prescrição.
o Essa decisão é notificada aos interessados e tem força quase equivalente ao
caso julgado:
 O arquivamento nestes termos é um ato administrativo (e não
jurisdicional) por isso, não lhe damos força de caso julgado, mas tem
um efeito preclusivo semelhante.
o Permissão de Reabertura do Inquérito Arquivado – 279º:
 O arquivamento do inquérito é em regra definitivo.
 MAS admite-se RAI nos casos do 279º:
 O inquérito apenas pode ser reaberto nos casos em que
surjam novos elementos de prova que invalidem os
fundamentos invocados pelo MP no despacho de
arquivamento.
o -> O legislador permite uma reabertura muito
condicionada.
 Não se trata aqui de uma reapreciação da prova já existente,
mas antes provas novas.
 Ou termina com Acusação – 283º:
o Isto se o MP tiver munido de elementos de facto e prova suficientes para
identificar os factos e os imputar a alguém em concreto.
 283º/Nº1 - O MP tem o dever de deduzir acusação se durante o
inquérito tiverem sido recolhidos indícios suficientes.
 Indícios = factos, sanções, arguidos, provas a produzir.
 Se a acusação não indicar estes elementos, ela é nula.
o Tendo estes elementos, o MP está obrigado a deduzir acusação:
 Tal como na promoção do processo, o MP está vinculado ao princípio
da legalidade = promoção da acusação.
o Margem de Manobra do MP:
 A única margem de manobra que tem é na concretização dos
pressupostos que tem para deduzir acusação = interpretação dos
elementos de prova de que dispõe = apreciação da prova, 283º.
 O MP não pode propor negociações, não pode negociar a culpa do
arguido, não pode negociar a acusação.
 Se estivermos perante um crime particular – 285º:
o Findo o inquérito, o MP tem de notificar o assistente.
o O assistente pode deduzir uma acusação particular = prazo de 10 dias –
285º/Nº1.
o MP também pode decidir acusar pelos mesmos factos – 285º/Nº4.

O conteúdo mínimo da acusação e o conceito de ‘indícios suficientes’

 O legislador definiu o conceito de “indícios suficientes” 283º/Nº2:


o Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles resultar uma
possibilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada, por força deles, em
julgamento, uma pena ou uma medida de segurança.
 Esta definição exige vários elementos:
o 1º - Exige indícios - elementos de carácter probatório que permitam inferir a
responsabilidade.
o 2º - Tem de ser possível identificar o arguido a quem se imputa o crime.
o 3º - Os indícios têm de ser suficientes por si só – ‘auto-suficiência’
 O MP tem de avaliar a eventual a possibilidade de responsabilizar o
arguido com base naqueles elementos e não com base em elementos
que possam vir a ser produzidos no futuro, numa audiência de
julgamento.
o -> O conceito de “indícios suficientes” significa elementos que permitam
formular uma prognose de eventual responsabilidade do arguido.
 Qual é o conteúdo mínimo probatório da acusação? – 2 Teorias – confronto na leitura
do 283º:
o Teoria da Probabilidade Dominante:
 283º/Nº2.
 Exige um juízo de prognose em que, com base naqueles elementos, a
probabilidade de condenação é superior à probabilidade de
absolvição.
o Teoria da Elevada Probabilidade de Indícios:
 Defendida por Fernanda Palma, considera que a TPD não está correta.
 O 283º/Nº2 tem de ser conjugado com a presunção de inocência:
 O MP só terá o dever de acusar se a probabilidade de
condenar for muito superior à probabilidade de absolvição.
o Visão de FCP, PPA
 Defende que a que faz mais sentido do ponto de vista hermenêutico é
a Teoria da Probabilidade Dominante:
 Basta que a probabilidade de condenação seja superior à da
absolvição.
 Então, isto significa que pode haver acusação mesmo que haja
alguma dúvida.
o FCP considera que existir dúvida é algo intrínseco ao
próprio ato, só vai ser resolvido no julgamento.
 Argumento 1 – Argumento Histórico:
 A ideia original de que a acusação devia ser promovida por
mais do que indícios suficientes foi promovida por
Castanheira Neves nos anos 60s.
 O legislador conhecia esta perspetiva da doutrina, mas não
foi a acolhida na legislação:
o Tanto exigiu os indícios suficientes, como também os
definiu.
o + O legislador tomou essa opção em 1987, ou seja, já
numa situação em que estava em vigor a CRP de 76
que já consagrava o princípio da presunção de
inocência.
 Argumento 2 – Argumento Sistemático:
 Em DPP vigora o princípio da legalidade + os conceitos têm
uma densidade e significado próprios.
 Ora, no regime das medidas de coação o legislador usa 3
graduações possíveis quanto aos índicos suficientes, que têm
patamares que exigem uma graduação da prova:
o Medidas menos graves = apenas exigem que haja o
estatuto de arguido, como o termo de identidade e
residência.
o Outras medidas = exigem que o crime imputado ao
arguido tenha uma certa pena.
 Ora, assim está-se a exigir uma prova mínima
quanto à imputação.
 Casos da caução (197º) e apresentação
periódica (198º).
o Medidas mais graves = exigem fortes indícios da
prática de um crime doloso:
 E.g – prisão preventiva.
 O legislador usa uma formula mais exigente =
fortes indícios em vez de indícios suficientes.
 Neste caso, numa altura em que o
efeito da medida é privar o arguido da
liberdade, então aí há uma graduação
mais intensa do juízo de prova.
 Portanto, do ponto de vista sistemático, se o legislador
quisesse seguir a teoria dos fortes indícios, usava a expressão
“fortes indícios” e não “indícios suficientes” = tinha à sua
disposição conceitos que usou noutras partes do código, aqui
não se exige esse patamar superior.
 Argumento 3 – Argumento Legal/Literal do 283º/Nº2.

Titular na fase de Encerramento de Inquérito

 O MP é o titular do inquérito:
o É a única entidade com competência para encerrar o inquérito = ou deduz uma
acusação, ou promove um arquivamento, ou deduz quanto a uma parte e
acusa outra (se tivermos um caso com vários arguidos).
o Acusar significa que o MP acredita que o caso tem consistência para ir a
julgamento, mas não é uma decisão de atribuição de responsabilidade
criminal.
o Arquivar significa que o MP chegou à conclusão de que o caso não é viável em
julgamento.

Reações ao Arquivamento – Intervenção Hierárquica ou RAI

 O assistente pode reagir ao arquivamento:


o Ou pede intervenção hierárquica – 278º;
o Ou através de um requerimento para abertura de instrução (RAI) – 287º;
 Intervenção Hierárquica – 278º:
o A IH está reservada ao denunciante ou assistente;
o Tem-se um prazo de 20 dias.
o No fundo, pede-se a intervenção de um superior hierárquico do MP para que
este aprecie o processo e o promova de maneira diferente.
 Continuamos dentro da estrutura do MP = cada magistrado tem
sempre um superior hierárquico.
o + Esta IH só pode ser requerida depois de decorrido o prazo para abertura da
instrução sem que esta tenha sido solicitada:
 -> é um mecanismo subsidiário face ao RAI.
 Foi reformado em 2007 = veio limitar o recurso ao IH pelo assistente =
não é cumulável com o RAI.
 Requerimento para Abertura de Instrução – RAI – 287º:
o Havendo uma decisão de arquivamento por parte do MP, o assistente pode
requerer a abertura de instrução no prazo de 20 dias.
o A RAI é para averiguar os factos pelos quais o MP não deduziu acusação –
287º/Nº1/b).
o Aqui passa-se a integrar o juiz na apreciação do processo, já não será o MP.
 Conclusão:
o O assistente tem 2 formas de reagir - não pode requerer as duas coisas ao
mesmo tempo.
o + O arguido não tem a hipótese destas reações ao arquivamento:
 O arguido não tem o direito de continuar com o processo quando o
MP opta pelo arquivamento, nem mesmo em casos de prescrição:
 Às vezes há arguidos que querem continuar o processo, só
mesmo para serem decretados como absolvidos.

Reações à Acusação – RAI ou Acusação Particular

 Isto é no caso do MP optar por deduzir acusação.


 Requerimento de Abertura de Instrução (RAI) – 287º/Nº1/a)
o Pode ser pelo arguido ou pelo assistente.
o Tem de ser no prazo de 20 dias.
o Havendo um RAI, inicia-se uma nova fase processual que tem conteúdo
específico próprio que é da titularidade do JIC.
 Acusação Particular – 284º:
o Pelo assistente, prazo de 10 dias.
o Aqui, o assistente não vai requerer uma outra fase processual = o que vai
fazer é deduzir uma peça acusatória paralela à do MP em que vai colocar as
suas perspetivas.
 Nesta AP, o assistente pode:
 Deduzir pelos mesmos factos que estão na acusação do MP;
 Por outros que não impliquem uma alteração substancial;
o Se implicar alteração substancial dos factos, tem de se
requerer RAI.
 Pelos mesmos factos, mas com outro enquadramento jurídico;
o E.g - O MP deduz acusação por homicídio simples, mas
o assistente considera, perante os mesmo factos, que
é homicídio qualificado = deduz uma AP paralela à do
MP.
 Limite:
 Enquanto o arguido pode apresentar uma RAI com qualquer
argumentação – seja alteração de factos substanciais ou não.
 Se o assistente quiser apenas alterar a qualificação jurídica,
tem de deduzir a acusação particular (e não RAI) porque a lei
pressupõe que ele tem um poder de iniciar uma nova fase
processual apenas se quiser fazer mais, introduzir novos
factos.
o Se o assistente deduzir AP, as duas acusações vão coexistir no processo e
delimitam os temas, os assuntos e os factos que são provados.
o A AP do assistente é tematicamente depende da do MP:
 Não podem os factos ser substancialmente alterados.
 Se o MP acusar por ofensas à integridade física, o assistente não pode
deduzir acusação particular por tentativa de homicídio, isso seria um
aumento de pena e uma alteração substancial dos factos:
 = Se quiser esse tipo de alterações substancial dos factos, terá
de requerer a abertura de instrução.
o Questão de Interpretação Sistemática:
 Assistente deve usar o RAI para factos mais graves, e utilizar AP para
factos menos graves/questões de direito.
 Exemplo – MP acusou por ofensa à integridade física:
 O assistente, perante uma acusação, discorda da existência da
pena daquele crime e pretende imputar a um crime mais
grave = vem dizer que tio quis mesmo matar e invoca dolo do
homicídio = leva a um crime mais grave.
 Aqui já não podermos ter AP, tem de ser RAI = para podermos
meter esses factos (dolo de homicídio) no processo.
 Se diversamente, os factos do assistente trouxer implicarem
uma alteração não substancial, apenas de direito = podemos
recorrer só a AP.

13.10
A INSTRUÇÃO

Conteúdo, Finalidades, Características

 Prevista no 286º e ss.


 É uma fase processual facultativa.
o Depende da apresentação do RAI = requerimento.
 O conteúdo essencial é fazer uma apreciação judicial da decisão que resultou da
instrução.
o Não é uma fase de investigação, é um controlo sobre a
acusação/arquivamento do inquérito.
 Havendo um RAI, o caso é levado a um JIC.
o Ele vai apreciar se há razões para a acusação ou para o arquivamento.
 Esta fase só pode existir no processo comum = 286º/Nº3 exclui expressamente a
possibilidade de haver instrução nos processos especiais.
 Estrutura com 3 momentos distintos:
o Atos instrutórios - 290º a 296º.
o Debate instrutório – 297º ss.
o Decisão final – 307º a 310º.
 Esta fase faz ainda parte do processo penal preliminar = o julgamento inicia-se após
esta fase, se houver pronúncia.
 Só pode ser apresentada por 2 sujeitos processuais – 287º/Nº1:
o Arguido = no caso de ser acusado.
o Assistente = no caso de haver acusação ou no caso de arquivamento.
 Também depende da natureza dos crimes:
o Crimes Semipúblicos ou Públicos:
 Pelo assistente ou pelo arguido.
o Crimes Particulares:
 Só pelo arguido.
 Isto porque o assistente já foi notificado pelo MP = já teve a
oportunidade ou para acusar ou para não acusar.
 287º/Nº2:
o O requerente pode solicitar junção de novos elementos de prova ou a
realização de novas diligências.
 Os padrões da prova:
o A prova é meramente indiciária:
 Isto é, mostrar a existência de indícios suficientes para efeitos de
promulgação do processo.
 JIC tem de recusar diligências que vão além da prova indiciária – 298º
e 301º/Nº3.
o O JIC não julga da mesma forma que no julgamento, em que a prova não é
meramente indiciária =/= 323º.

RAI – Legitimidade, Prazos e Recusa

 A instrução não inicia por si só = depende do requerimento.


 287º/Nº1 - Tem de ser apresentado no prazo de 20 dias a contar da notificação da
acusação ou do arquivamento.
 O RAI tem um significado diferente consoante seja apresentado pelo arguido ou pelo
assistente:
o Pelo arguido = é no fundo uma contestação à acusação.
 Exemplo - Arguido é acusado de homicídio por ter atirado dois tiros,
mas ele considera que não foi devidamente salvaguardado que agiu
em LD.
o Pelo assistente = é uma acusação ou uma nova prova.
 Se o assistente quiser apresentar RAI apenas para alterar a
qualificação jurídica, mais vale deduzir acusação pelo 284º.
 Constitui o visado como arguido – 57º/Nº1.
 Conteúdo do Requerimento – Nº2:
o Razões de facto e de direito que levaram à discordância.
o Indicação dos atos de instrução e diligências a realizar.
 O RAI leva à instrução - inquirir testemunhas + praticar diligências = com vista à
apreciação da decisão que encerrou o inquérito.
 RAI pode ser recusado – 3 situações – 287º/Nº3:
o Extemporaneidade – ‘fora do prazo’;
o Incompetência do juiz que a recebe;
o Inadmissibilidade legal da instrução;
 Este juízo de legalidade gera casos interessantes… tem havendo
desenvolvimentos jurisprudenciais:
 Quando o requerido não tem legitimidade;
 Quando os factos não se podem subsumir a um tipo, havendo
falta de tipicidade;
 Quanto a factos sem qualquer conexão com o inquérito –
factos completamente novos e distintos;
 Quando a instrução é requerida contra incertos:
o Sem determinar a quem é feito o juízo de imputação,
não será possível a abertura de instrução.
o Porque, não sabendo contra quem, estaríamos a
converter a instrução num inquérito.
 Quando é o assistente a apresentar o RAI, num crime
particular – Ac. TRL 06/07/2005:
o Consideram fundamento para recusar RAI se o crime
for particular e não tiver sido deduzida acusação – se
não tiver acusado à luz do 285º.
 Se ele tinha a oportunidade de deduzir
acusação, tendo sido notificado pelo MP, e
mesmo assim não o fez, então está proibido
de requerer RAI.
 Quando a instrução é requerida contra uma pessoa que não
foi investigada no inquérito:
o Nota – o RAI do assistente constitui o visado como
arguido – 57º/Nº1.
o Jurisprudência PT do TRL, FD – defendem que não é
possível acrescentar um novo arguido.
 Isto significaria que se passava para a
instrução sem inquérito + estar-se-ia a fazer
da instrução o inquérito que não houve.
 Se a lei exige inquérito, a inexistência de
inquérito quanto a uma pessoa não permite
que haja alargamento subjetivo na instrução.
o = Não é possível o alargamento subjetivo contra
pessoas que não foram investigadas.
o Exemplo:
 Inquérito investigou A, B e determinou que
para C não havia indícios suficientes. Acusou A
e B e arquivou quanto a C.
 Não se admite que o assistente venha
requerer RAI quanto a C, mesmo apesar de
este tentar aproveitar e fazer um alargamento
de C.
 TRL veio dizer que quem foi investigado pode
ser visado pela instrução, quem não foi
investigado não pode ser alvo do RAI.
 Quando os factos invocados no RAI não foram sequer
investigados no inquérito:
o Visão 1:
 Não se poderá pedir RAI se os factos não
foram objeto de investigação.
o Visão 2 – FCP:
 Concorda que não se pode pedir RAI para
factos que não estão conexos aos factos que
foram investigados = que não se relacionem.
 MAS os factos conexos aos invocados podem
ser alvo de RAI.
 = é possível alegar novos factos que são
conexos e que não foram incluídos por
deficiência do inquérito.
 Quanto a um crime pelo qual o assistente não tem
legitimidade para ser assistente – AC. TRL 25/01/2001.
 Quanto a arquivamentos do 280º-292º - Ac. TRL 19/06/2008:
o Não se pode requerer RAI, mas pode-se recorrer do
JIC, que deu o acordo ao 280º.
o Parece que o legislador favorece a instrução = estabelece de forma típica os
casos de recusa de abertura de instrução, mas com os desenvolvimentos
jurisprudenciais damo-nos conta de um alargamento de situações concretas
de recusa.

Organização da Estrutura da Fase de Instrução


 Atos Instrutórios – 290º a 296º:
o Atos de investigação ou de produção de prova - audiências de testemunhas,
perícias, junção ou apreensão de documentos.
 Debate Instrutório – 297º:
o Esta fase, em junção com a DI podem ser feitas ao mesmo tempo ou
separadamente.
o É um debate oral, com contraditório – consiste em ouvir as perspetivas dos
sujeitos processuais, tenham eles requerido ou não a instrução, sobre aquilo
que foi requerido.
 Decisão Instrutória – 307º a 310º.

O Problema do Contraditório – 289º/Nº2

 A questão é de saber se os atos de instrução são ou não sujeitos a um regime de


contraditório:
o Se quando são realizados têm de estar presentes todos os sujeitos processuais
e se podem ou não participar nessa diligência.
 Solução do 289º/Nº2:
o A participação nos atos instrutórios é uma participação limitada ao sujeito
processual que promoveu a prática do ato, que fez o RAI.
o Há um contraditório limitado = à assistências e diligências requeridas.
o Problema - depois dos atos de instrução há um debate instrutório:
 Este debate é um debate contraditório que conta com a presença de
todos.
 Inclui mesmo aqueles que não puderam participar na
totalidade da prova que vai ser analisada.
 Há perguntas que seriam fundamentais nos atos de instrução, e o
facto de uns participarem e outros não, deixa-os em posições
diferentes na discussão = têm a sua capacidade no debate limitada.
 Razão:
o O legislador supôs que os casos podiam ser mais simples e que o contraditório
se podia fazer no debate, por isso separou estes momentos no seio da fase de
instrução, prevendo o contraditório pleno no debate instrutório e limitando a
participação dos sujeitos processuais na produção de prova.
 Então – 2 interpretações de soluções jurisprudenciais do 289º/Nº2:
o 1 – letra da lei deve ser cumprida literalmente.
o 2 – 289º tem de ser lido em concordância com o princípio do contraditório.

Fim da Fase de Instrução – Decisão Instrutória

 Feito o debate instrutório, no fim da fase instrutória, o juiz profere uma decisão
instrutória por despacho – 308º/Nº1
o É um juízo sobre a existência ou não existência de indícios para o caso ir a
julgamento.
 O juiz pronuncia o arguido pelos factos respetivos ou então há uma
não pronúncia.
o O JIC pode ter eliminado alguma prova por a ter considerado ilegal, pode ter
acrescentado outra prova que surgiu nesta fase ou pode fazer uma
interpretação diferente dos factos do caso.
 A decisão de pronúncia ou não pronúncia pode ser parcial em relação ao objeto do
processo:
o Se estiverem em causa seis crimes, o JIC pode pronunciar o arguido por
apenas quanto a um ou dois.
 Recorribilidade do Despacho de Pronúncia:
o Um despacho de pronúncia é sempre recorrível.
 Questão - se há recurso que confirma a não pronúncia ou não é usado o recurso, pode
ou não ser aberto o caso numa situação futura?
o Germano Marques da Silva = defende que sim:
 Porque esta decisão do final da instrução tem mais afinidades com a
decisão do final do inquérito de arquivamento do que com a decisão
de julgamento.
o FCP = considera que não pode ser aberto:
 Quando é proferido um despacho de não pronúncia que não foi alvo
de recurso ou que foi confirmado, tem valor de decisão transitada em
julgado.
 Apesar de não corresponder a um julgamento, também não é
semelhante ao arquivamento porque este resulta de uma
decisão do MP, ao passo que a decisão adotada no final da
instrução é tomada por um juiz, neste caso o JIC.
 + Esta decisão tem de ser confirmada pelo juiz da Relação.
 + Razão de Legalidade:
o A lei prevê a reabertura do inquérito nos termos do
279º, mas não prevê a reabertura da instrução.
 = Esta omissão é clara e intencional, caso
contrário teria criado uma norma semelhante.

Reformulação do Objeto do Processo na Instrução – 287º, 303º, 309º

 Já sabemos que o juiz de julgamento está tematicamente vinculado – 359º:


o Quando um caso vai a julgamento, a estrutura acusatória exige que a acusação
limite o que vai a julgamento.
 O juiz aprofunda o caso, mas sempre dentro do objeto que vem da
acusação e da pronúncia = em regra, o objeto do processo é o objeto
da acusação.
 Objeto do processo = factos concretos que permitem realizar
o tipo de crime, circunstâncias que contextualizam os factos.
 O tribunal de julgamento não pode julgar factos que descubra de
forma autónoma em sede de julgamento.
 Portanto, exemplo:
 Inquérito que investiga tráfico de droga, extorsão e uma
tentativa de homicídio. Depois da investigação, o MP acusa
apenas pelos crimes de tráfico de droga e de extorsão, mas
não contempla a tentativa de homicídio porque considera que
não tem provas suficientes:
o Os factos que estão documentados como extorsão e
tráfico de droga é que delimitam o âmbito da causa
que o tribunal de julgamento vai julgar.
 Se surgirem indícios de tentativa de homicídio na fase do
julgamento, o tribunal não os pode julgar porque estaria a ir
além do objeto do processo e violava a estrutura acusatória
porque seria investigador e julgador ao mesmo tempo.
o + Se não existir instrução, os poderes de cognição do juiz de julgamento
incidem sobre o conteúdo factual da acusação.
 MAS admite-se a possibilidade de alterar o objeto, pelo assistente, quando existe
instrução:
o 287º/Nº1/b):
 É possível que o assistente apresente um RAI, relativamente a factos
pelos quais o MP não tiver deduzido acusação:
 O RAI integra legitimamente no processo todos estes factos
que não estavam na acusação, e que não podiam ser
conhecidos no processo se o assistente não os levasse.
 Havendo um RAI, tribunal pode conhecer os factos da acusação mais
os que constam do requerimento e pronuncia-se sobre a matéria:
 O tribunal reconhece legitimamente estes factos porque o RAI
alarga o âmbito material do caso.
 Então = uma das funções da instrução é a de alargar o objeto
do processo de forma substancial para além daquilo que é a
acusação ou ao arquivamento no final do inquérito.
 Exemplo:
o É deduzida acusação pelo 131º CP (homicídio) - o Tribunal de Julgamento não
poderá condenar pelo 132º (homicídio qualificado) pois isto implicaria levantar
factos, em audiência de julgamento, que não tinham sido ponderados antes.
o Agora, há uma acusação pelo 131º:
 O assistente requere RAI e alarga o objeto do processo:
 Diz que houve fatores agravantes como a premeditação – 142º
CP – arguidos refletiram mais de 48h sobre os meios, sendo
que isto agrava o homicídio.
 Aqui há uma alteração de factos (acrescenta-se a
premeditação) e substancial (agrava a pena).
 Face a isto, o Tribunal pode no Julgamento vir a condenar pelo 132º:
 Isto porque foi o assistente que alargou o objeto do processo
através do RAI.
 De resto, o JIC não poderia ter conhecido destas circunstâncias
agravantes – 359º (vinculação temática).
o 358º/Nº3:
 O tribunal pode alterar a qualificação, mas não
os factos substanciais.
 =Basta que se respeite o contraditório.
 Para o assistente – 287º/Nº1/b) ou 284º:
o Acusação pelo assistente – 284º - pode deduzir acusação relativamente a
factos que não importem alteração substancial daqueles.
o RAI pelo assistente – 287º/Nº1/b) – relativamente a factos pelos quais o MP
não tiver deduzido acusação.
 Se quiser alterar substancialmente os factos tem de ser por aqui.
 Por exemplo, se quiser mostrar factos que provem que não foi
homicídio simples mas sim qualificado.

O problema da irrecorribilidade do despacho de pronúncia – 310º

 310º tem 3 regras:


o Um despacho de não pronúncia é sempre recorrível:
 Se no final da instrução o juiz entender que o caso não deve ir a
julgamento, esse despacho de não pronúncia é sempre recorrível.
 Base Legal:
 339º - prevê que todas as decisões são recorríveis a não ser
que a lei declare a irrecorribilidade, o que não acontece
porque o 310º/Nº1 não declara essa irrecorribilidade.
o Visões:
 Germano Marques da Silva = o DNP é um despacho de mera forma,
semelhante ao despacho de arquivamento do 277º.
 Para FCP = o DNP tem um efeito semelhante ao caso julgado. É uma
decisão materialmente jurisdicional, definitiva e impeditiva da
reabertura do processo.
 Não podemos equiparar o DNP ao Arquivamento.
o DNP tem contraditório, arquivamento não.
o No DNP (feito na instrução), são admitidos todos os
meios de provar e já se fez toda a fundamentação da
prova =/= caso do arquivamento.
o O JIC orienta-se pela busca da verdade material –
291º, 299º - ele decide o caso consoante a liberdade
que tem.
o A instrução termina com uma decisão do tribunal =
DNP = é uma decisão judicial.
o O despacho instrutório é recorrível (310º/Nº1) e pode
ser confirmado pelo TRL – se o TRL confirma a não
pronúncia, como é que podemos equiparar isso a
situação do 277º do MP:
 Aqui temos duas decisões judiciais, uma de 1ª
instância e outra de 2ª instância.
o Argumento de base legal:
 CPP prevê a reabertura de inquérito e não de
instrução.
 FCP – isto é intencional e não é possível
aplicar o 279º (reabertura de inquérito) por
analogia.
 Se o legislador quisesse que isso acontecesse,
tinha de o ter previsto explicitamente, na lei,
com prazos.
o Um despacho de pronúncia que contraria o arquivamento também é
recorrível:
 Quando há um arquivamento, o arguido não tem direito a requerer a
abertura da instrução – 287º só permite perante uma acusação.
 Assim, numa situação de arquivamento, quem apresentou o RAI teve
de ser o assistente = se, perante essa situação, existir uma pronúncia,
ou seja, se o tribunal der razão ao assistente, o arguido pode recorrer.
o Um despacho de pronúncia que confirma a acusação não é recorrível.
 Doutrina designa isto de “dupla conforme”.
 FCP considera esta designação errada.
 Se estivermos numa situação de “dupla conforme”, em que há
acusação e o despacho de pronúncia confirma a acusação = o arguido
deixa de ter direito de interpor recurso.
 Portanto, quando o arguido requer a abertura de instrução está a
correr um risco:
 Pode o JIC confirmar o conteúdo da acusação e depois não
poder recorrer dessa situação e há lugar sempre a
julgamento, incluindo para as questões relativas a nulidades.
 O legislador tem alargado o âmbito desta proibição de recurso às
próprias questões de nulidade suscitadas na decisão instrutória.
 Efeito do Fim da Fase da Instrução:
o Quando termina a decisão instrutória, o processo pode seguir para julgamento
se não existirem recursos (porque não foram interpostos ou porque não são
admissíveis), ou pode ainda seguir para o tribunal se for admitido o recurso.
o Esta fase acrescenta tempo significativo ao processo:
 São sempre requeridas diligências instrutórias, depois é feito o debate
instrutório e só depois é que é proferida a decisão + ainda mais se
houver recurso para o tribunal superior.
 Consoante a complexidade do caso, pode demorar meses ou anos.

A limitação dos processos especiais – 286º/Nº3

 286º/Nº3:
o Estabelece que não há lugar a instrução nas formas de processo especiais.
o Esta limitação, aliada ao alargamento do campo de aplicação dos processos
especiais, leva a uma diminuição do campo de aplicação da fase de instrução.
o A jurisprudência entende que quando é adotada uma forma especial de
processo, que se elimina a fase de instrução.

Interesse do Arguido em RAI

 Interesse do Arguido:
o Considerava-se que a instrução era um fase que permitia ao arguido aumentar
a probabilidade de prescrição.
o + RAI era sempre mais um meio.
o Permitia com que o processo demorasse mais tempo e que se questionasse
mais provas.
 ‘Crise da Instrução’:
o Autores defendiam que Instrução devia ser eliminada – acrescentava
morosidade, implicava formalização da litigância.
o Então, o legislador tentou limitar a instrução e torná-la desinteressante para o
arguido:
 Proibição de RAI nos processos especiais;
 Declara que em caso de confirmação da acusação o despacho de
pronúncia é irrecorrível – ‘dupla conforme’ – 310º:
 DdP se confirmar a acusação é irrecorrível - o caso transita
para julgamento e não há recurso.
 RAI acarreta mais riscos que interesses para o Arguido:
o Arguido pode ir a julgamento com uma posição bastante mais debilitada se
requerer a abertura de instrução:
 Juridicamente, o tribunal de julgamento não está vinculado ao
conteúdo da decisão instrutória (a não ser nos factos).
 MAS, se for requerida RAI – pode ficar pior do que estava:
o O arguido está a desperdiçar argumentos.
 Antecipação e refutação da estratégia de
defesa na instrução (factos, tipicidade, meios
de prova e prescrição) - o tribunal acaba por
apreciar estas defesas e acaba por refutá-las.
 Exemplo - arguido alega LD e tribunal aprecia
e diz que não há elementos para aplicar LD.
o Acaba por ver confirmadas medidas de coação:
 Existindo medidas de coação, têm de ser
revistas ou confirmadas.
o Em alguns casos arrisca-se a ir a julgamento com
factos mais aprofundados e com um juízo de
confirmação da legalidade das provas.
o Risco de confirmação judicial de acusação através da
pronúncia = tem acusação confirmada por pronúncia.
 Opinião de FCP:
o Só é importante recorrer abertura da instrução quando existem erros graves
nas provas, quando existem provas manifestamente ilegais em que no fundo
é possível excluir estas provas proibidas na instrução, ou quando se tem uma
argumentação muito forte que põe em causa a história da acusação.
o Se forem apenas questões controvertidas de direito é preferível esperar pelo
julgamento onde o contraditório é mais profundo.
o Considera que FdI não deve ser eliminada, deve ser mantida.
 Em suma, a possibilidade de alargar o objeto da acusação na fase da instrução, o
facto de o legislador declarar o despacho de pronúncia como irrecorrível em algumas
situações e o facto dos processos especiais estarem em alargamento substancial e não
admitirem instrução, tudo em conjunto, põe, em causa o interesse do arguido em
requerer a abertura da instrução.
 Interesse do assistente:
o É uma oportunidade para reforçar as suas pretensões contra o arguido.

18.10

O JULGAMENTO

Importância e Centralidade da Fase de Julgamento

 O julgamento é o centro fundamental da realização de justiça penal:


o Nos momentos anteriores:
 Não se atribui responsabilidade ao arguido.
 O que se faz é averiguar factos e respetivo enquadramento jurídica
para decidir se o caso vai a julgamento.
 Apura-se indícios de responsabilidade, só se exige indícios suficientes,
não se aplica o princípio in dubio pro reo.
o Só perante um tribunal autónomo no julgamento é que é debatida a
responsabilidade criminal do arguido:
 Produz-se prova que tem de ir além do limite indiciário apurado nas
fases preliminares.
 Características:
o Relembrar que temos uma estrutura acusatória, num processo de natureza
mista.
o É um processo caracterizado pela oralidade, publicidade, contraditório e
imediação.
o Fase em que há prova plena – já não basta a prova indiciária, não pode haver
dúvidas.
 Fase de julgamento abrange 3 momentos:
o São regulados por lei, são automatizados porque em cada um destes
momentos há atos processuais com regimes diferentes.
 Atos preliminares – 311º a 320º;
 Audiência de Julgamento – 321º a 364º;
 Sentença Penal – 365º a 368º;

1 - Fase Preliminar à Audiência - Atos Preliminares

Saneamento – 311º

 É um momento que consiste numa apreciação preliminar do caso pelo juiz do


julgamento para resolver algumas questões básicas que podem obstar ao julgamento.
o É uma forma de organizar a tramitação subsequente e evitar algumas
ilegalidades.
 Esta fase corresponde a uma possibilidade do juiz ter uma intervenção na dinâmica do
processo:
o Permite-o conhecer algumas questões autónomas e limitar o âmbito do caso
que vai a julgamento.
o Se se tratar de um tribunal coletivo = responsável pelo saneamento é sempre
o juiz presidente.
o 5 poderes – resumo:
 Possibilidade de conhecer invalidades e questões prévias.
 Permite que se faça uma rejeição liminar da acusação = 311º/Nº2 e
Nº3.
 Controlo negativo sobre o objeto do processo.
 Controlo de requisitos legais da acusação e da tipicidade do facto
 Proibição de conhecimento do mérito e da suficiência da prova.
 Poderes do Juiz para fazer Saneamento do Processo– 311º:
o Nº1:
 O tribunal de julgamento pode conhecer de nulidades/invalidades e
questões prévias ou incidentais que obstem à apreciação do mérito
da causa, de que possa desde logo conhecer.
 Exemplo – falta de competência, o facto de já ter ocorrido o
prazo de prescrição.
o Nº2:
 Pode, se não tiver havido lugar à instrução, rejeitar as acusações que
correspondam a variações substanciais dos factos ou que sejam
manifestamente infundadas.
 Ou seja, permite que se faça uma rejeição liminar da acusação,
é tipificada.
 Nº3 – densifica conceito de ‘manifestamente infundadas’:
 Quando não contenha a identificação do arguido;
 Quando não contenha a narração dos factos;
 Se não indicar as disposições legais aplicáveis ou as provas que
a fundamentam;
 Se os factos não constituírem crime.
 Juiz exerce um controlo negativo sobre o objeto do processo:
o Quando existem situações de vinculação temática deve controlar que isso
respeita o objeto do processo e não altera substancialmente a acusação do
MP.
 O juiz não entra no mérito da causa nem na apreciação da prova nesta fase:
o O mérito da causa só pode ser conhecido quando é realizada a audiência de
julgamento.
 Não pode apreciar se há indícios ou não da prática do crime.
 Por exemplo:
 Juiz pode achar que a prova não é convincente, pode ter
dúvidas, mas não pode decidir fazer saneamento do processo
por causa dessas dúvidas = já estaria a entrar no mérito da
causa.
o Ele pode é controlar os requisitos básicos da acusação e decidir, em função
disso, se faz ou não o julgamento.
 Só pode decidir questões que não envolvam o mérito da causa.
o -> Devemos entender que são a estrutura acusatória e a centralidade do
julgamento (em sentido estrito) que precludem a possibilidade do juiz avaliar
mais do que a forma no momento da sanação.
 O juiz tem mais poder se o processo não tiver tido instrução – 311º/Nº2:
o Se tiver havido instrução, ele tem de se orientar pela pronúncia e não pode
entrar nessa questão.
o Se não houver instrução – Nº2/b)
 Pode não aceitar a acusação do MP na parte em que represente uma
alteração substancial de factos (ou o mesmo da acusação do
assistente se for crime particular)
 + Se alguma dessas acusações violar o objeto do processo, então o
tribunal do julgamento pode fazer um saneamento eliminando essa
factualidade que dá origem a uma alteração substancial.
 Germano Marques da Silva = este despacho de saneamento tem como
fim controlar a legalidade da acusação subsidiária, em razão da
legitimidade para deduzir acusação, dado não ter havido lugar à
instrução.
 311º-A – depois do saneamento, o tribunal ordena por despacho a notificação do
arguido para contestar.

Data da Audiência – 312º

 Resolvidas as questões tratadas no momento do saneamento do processo:


o O tribunal de julgamento marca a data de audiência.
 + Notifica os diversos sujeitos processuais.

Contestação e Rol de Testemunhas – 311º-B

 311º-B:
o Estabelece que o arguido tem um prazo de 20 dias para apresentar a
contestação acompanhada do rol de testemunhas.
 Esse prazo começa a contar com a notificação do despacho que fixa o
dia para a audiência.
 Contestação:
o Reação à acusação.
o É uma linha de defesa apresentada por escrito.
o + também identifica o rol de testemunhas que vão produzir prova em
audiência de julgamento.
 Rol de Testemunhas:
o Oferece ao arguido algum poder porque quem o apresenta passa a ter o
poder de as inquirir ou de as eliminar.
 Se o arguido entende que há testemunhas muito importantes que
estão na acusação, mais vale colocar aqui porque o lado da acusação
pode prescindir delas e nesse caso ele não poderia dizer nada.
 Contestação e Dever de Pronúncia:
o A contestação é importante porque introduz as questões jurídicas que o
arguido quer ver resolvidas em audiência:
 Ao colocar questões jurídicas na contestação, o arguido está a obrigar
o tribunal a um dever de pronúncia sobre essas questões.
o 339º/Nº4:
 As questões que constam da contestação do arguido passam a fazer
parte do âmbito da causa.
 +379º/Nº1/c) - Se for suscitada uma questão jurídica que não seja
resolvida pelo tribunal de julgamento, isso gera uma nulidade.
o Nota:
 Há um circuito de peças processuais escritas que são particularmente
importantes para delimitar o âmbito jurídico da causa e da prova a
produzir.
 MAS a peça da contestação é facultativa:
 O arguido não tem de a apresentar e não pode haver
nenhuma consequência jurídica de não a apresentar.
 Pode trazer desvantagem estratégica:
o Ao apresentar contestação, está a revelar a sua
estratégica jurídica:
 Permite-se perceber quais são os pontos
relevantes para o arguido em questões
jurídicas e matéria de facto, o que permite
perceber como vai ser o julgamento.
 Se a estratégia do arguido for não revelar isto
já, não apresenta contestação.
 Se o arguido quiser obrigar o juiz a pronunciar-se sobre certas
questões, então fá-lo na contestação porque este tem o dever
de pronúncia sobre as mesmas.
o Dever de pronúncia – 339º/Nº4 – se não, nulidade
379º/Nº1/c).
 Perspetiva de FCP relativamente à contestação:
 Vale a pena uma contestação com mais pormenor = identifica
logo questões de ilegalidade, o que obriga o tribunal a
pronunciar-se sobre elas.

2 – Audiência de Julgamento – 321º a 364º

 AdJ:
o É a discussão pública do caso com produção de prova, perante o tribunal que
vai decidir do mérito do caso.

Publicidade da Audiência

 O processo é público, o que se traduz numa abertura obrigatória da sessão ao público


em geral.
 321º/Nº1:
o A audiência de julgamento é pública, sob pena de nulidade insanável.
 Cumpre o preceito constitucional que garante que as audiências são
públicas.
 A publicidade da audiência não é um princípio absoluto:
o 321º/Nº2:
 Prevê que se aplica o disposto no 87º = o juiz pode decidir restringir o
acesso do público em geral à audiência.
 Esta decisão tem de ser fundamentada:
o Deve fundar-se em factos ou circunstâncias que façam
presumir que a publicidade causaria um dano grave à
dignidade das pessoas ou ao normal decurso do
processo.
o Exemplo – limitação da publicidade da inquirição de
uma vítima particularmente vulnerável.
 Esta decisão de exclusão ou restrição da publicidade é, sempre que
possível, precedida de audição contraditória dos sujeitos processuais
interessados – 321º/Nº3.
 Esta decisão é sempre passível de recurso.
 Questão aqui suscitada - as restrições que têm que ver com a própria dimensão da sala
da audiência de julgamento põem ou não em causa o princípio da publicidade?
o Exemplo - uma sala com capacidade para 40 pessoas não permite a assistência
de 140 pessoas.
o FCP = reitera que a publicidade da audiência não é um princípio absoluto e
estas restrições do caso concreto não geram qualquer nulidade, sendo que se
trata apenas de uma adaptação do princípio às condições físicas da sala de
audiências.

Contraditório – 327º

 O PP PT mitiga o princípio do contraditório nas fases preliminares e consagra-o


plenamente na audiência.
o A fase de inquérito não é contraditória, as diligências de instrução não são
completamente contraditórias (só o debate instrutório).
 Quando a lei pretende no inquérito declarar um regime de
contraditório fá-lo expressamente = 194º, medidas de coação:
 Se for aplicada uma medida de coação, há direito de audição
prévia do arguido, direito de obter informação, direito de
participação na diligência e direito de recurso.
 Isto é um contraditório pleno em relação àquela matéria mas
não em geral naquela fase porque, por exemplo, quanto às
buscas já não há contraditório
o 327º - Só há contraditório pleno na audiência de julgamento = aqui, o
contraditório está estendido a todas as questões e a todos os sujeitos
processuais.
 O contraditório é imposto pela própria CRP = 32º/Nº5 CRP.
 327º/Nº1:
o As questões incidentais sobrevindas no decurso da audiência são decididas
pelo tribunal depois de ouvidos os sujeitos processuais que nelas forem
interessados.
 Germano Marques da Silva:
o A essência do princípio do contraditório é a dialética que se consubstancia no
poder que é dado à acusação e à defesa de participar ativamente na
produção de prova em audiência, de aduzir as suas razões de facto e de
direito, de oferecer as suas provas, de controlar as provas contra si oferecidas
e de discretear sobre o resultado de umas e outras.
o Este princípio só se realiza com a participação ativa da acusação e da defesa
na produção de prova, o que pressupõe a necessária presença do arguido na
audiência.
 O contraditório é uma forma de legitimar a decisão perante todos.

Direção Judicial e Investigação Oficiosa

 O tribunal é um sujeito processual absolutamente essencial na condução dos


trabalhos.
 Não temos um modelo de juiz arbitro, mas de direção judicial e investigação oficiosa:
 Direção Judicial – 322º:
o Significa que temos um juiz que dirige e disciplina toda a produção de prova.
o 322º = é um tribunal ativo, tem a seu cargo a direção efetiva do processo.
 Investigação Oficiosa – 340º:
o Significa que o juiz tem poderes autónomos para desencadear investigações
oficiosas que se lhe afigurem necessárias à descoberta da verdade e à boa
decisão da causa.
o O tribunal de julgamento não depende de qualquer sujeito processual e pode
por si só promover o processo.
o Desde que dentro do objeto do processo, ele tem vastos poderes.
o Exemplos:
 Se entender que é necessário ouvir uma testemunha não precisa de
um requerimento provindo dos sujeitos para tal.
 Se entender que há uma diligência de prova cuja realização pode
ajudar no caso, mas o MP não a realizou, pode o juiz oficiosamente
ordenar a sua realização.
 + Requisição de documentos.
o A IO está limitada ao objeto do processo, mas dentro do objeto do processo, o
único limite é a lei.
o Destaque para o Princípio da Verdade Material:
 O nosso sistema tem este regime que significa que enquanto o
tribunal puder esclarecer a verdade dos factos, através destes
elementos, não pode invocar ter uma dúvida razoável ao abrigo do in
dubio pro reo.
 A invocação do in dubio pro reo pressupõe o esgotamento de
todos os poderes conferidos pelo 340º.
o O STJ já se pronunciou neste sentido e declarou que é
motivo de anulação da decisão.
 Exemplo - se houver contradição entre duas testemunhas,
primeiro tem de se esclarecer, e só se a dúvida for subsistente
mesmo com esses poderes é que o tribunal pode invocar a
dúvida razoável.

Imediação Probatória

 As dinâmicas de avaliação da prova tem de ser em audiência de julgamento perante


todos os sujeitos processuais.
o = Princípio da Imediação Probatória:
 O caso tem de ser analisado, debatido e julgado em sala de audiência
perante o tribunal e todos os participantes, sujeitos processuais e
assistência.
 Isto é assim para o tribunal formar a sua própria convicção dos factos
em audiência de julgamento com publicidade, com contraditório e
participação ativa dos vários sujeitos processuais.
o 355º/Nº1:
 Não valem em julgamento quaisquer provas que não tenham sido
produzidas ou examinadas em audiência.
 As provas têm de ser:
o Produzidas =prova pessoal, feita por declarações de
alguém.
o Examinadas = prova material, em audiência de
julgamento.
 Por esta razão é que as testemunhas são ouvidas duas vezes,
uma vez no inquérito e outra no julgamento, para garantir a
publicidade, o contraditório e a investigação do tribunal num
contexto de imediação.
 Exceção – Nº2 –atos processuais cuja leitura, visualização ou audição
em audiência sejam permitidas (em vez da prova ser realizada em
julgamento).
 O contacto direto com as provas é uma matriz relevante do julgamento, que não
existe no inquérito:
o No inquérito:
 MP pode abrir inquérito e depois delegar a investigação na PJ, que
apresenta um relatório sobre as provas recolhias e que vai servir de
base à acusação = MP decide sem contacto direto com os meios de
prova já que quem contactou com os documentos e com as
testemunhas foram os órgãos de polícia criminal.
 Exemplo – Decisão do Tribunal Superior:
o Um arguido estava acusado de porte ilícito de várias armas = a verificação ou
não da posse ilícita dependia de saber se a arma exigia autorização.
o O tribunal fez uma análise no seu gabinete, depois e fora da audiência de
julgamento e sem contraditório.
o O tribunal superior declarou que a análise das armas devia ser feita em
audiência de julgamento, com exame e contraditório de todos, pelo que
anulou e mandou repetir o julgamento.
 A questão era decisiva, pois deste facto dependia a subsunção dos
elementos ao tipo.
 Isto também viabiliza o contraditório num sentido amplo:
o Permite que os sujeitos acompanhem o evoluir do julgamento e a produção da
prova.

Continuidade da Audiência – 328º

 Regra geral = deve existir uma continuidade das sessões de audiência, não devem
existir hiatos significativos:
o Isto como garantia da imediação e de apreciação da prova.
 Para sessões extremamente longas, admite-se pausas + que continuem no dia seguinte
– 328º/Nº2.

Oralidade e Documentação da Audiência

 Consagrado no 343º, 345º, 346º, 347º e 348º.


 Oralidade:
o Implica que toda a comunicação entre sujeitos processuais se faz na sala de
audiência de julgamento num registo de comunicação oral.
o Razões:
 É mais rica, permite estar ao serviço da verdade material.
 Se um depoimento for feito por escrito, poderá ser refletido e
expresso de uma forma mais cuidada = evidencia certo conteúdo MAS
não se percebe a fluência do discurso, se a pessoa hesita, se cora, se
pestaneja = fatores que em audiência de julgamento são condições
para a descoberta da verdade, num sentido de veracidade e
credibilidade daquele testemunho.
 A oralidade não significa que não haja documentação da audiência:
o 362º, 364º e 366º.
o As declarações são registadas em sistemas áudios.

Uso de Declaração para Memória Futura e Leitura de Autos de Fases Anteriores

 271º:
o Permite, em certos casos, um registo de declarações para memória futura:
 Ou seja, regista-se as declarações feitas em fases preliminares, para
serem ouvidas mais tarde.
 Casos em que:
 Houver uma pessoa que está em condições para depor, mas
tem uma doença terminal ou é uma vítima particularmente
vulnerável.
 Os casos de ‘trânsito de prova pessoal do inquérito para o julgamento’ são excecionais
= são excecionais porque exceciona a oralidade, a imediação e o próprio contraditório.
 Quanto à leitura de autos de fases anteriores:
o Regulada no 355º e 356º.
o A regra (que resulta do Princípio da Imediação) = proibição de leitura de
autos:
 Os autos que correspondem a um registo escrito de declarações
obtidas noutras fases não podem ser usados novamente no
julgamento.
o Teve de haver um alargamento de casos em que se admite a leitura de autos:
 Até 2013, alguns arguidos faziam uma confissão dos factos,
assumindo-os, quando eram detidos = essas declarações eram
lavradas em autos, havendo uma espécie de confissão na fase
preliminar.
 Porém, esses mesmos arguidos depois com acompanhamento
judicial recorriam ao silêncio.
 = Então, o que acontecia é que, perante a confissão de factos
do arguido, fechava-se a investigação porque não era
necessária mais prova, mas depois no julgamento não se
podia usar os autos e o arguido remetia-se ao silêncio, sendo
absolvido por falta de prova.
o O P.d.I impedia a leitura do auto para esse efeito.
 A partir de 2013, legislador criou um conjunto de situações em que a
leitura em audiência de autos é permitida = 356º:
 Declarações prestadas perante autoridade judicial (e não
apenas da polícia);
 Têm de ser registadas – Nº9.
 O arguido tem de estar acompanhado por advogado;
 Tem de ser informado de que o que disser pode ser usado
posteriormente.
o Estas declarações valem como prova, não valem como confissão:
 344º - Nos casos de haver confissão, prescinde-se de mais prova.
 Aqui, compreendemos que o legislador quis limitar o recurso a esses
autos estabelecendo que tem de existir mais prova e a investigação
não se pode basear só nessas declarações.

3- Sentença Penal – 365º e ss.

Data para Leitura

 Depois de encerrada a audiência do julgamento (em que o último momento foi das
declarações do arguido – 361º), o tribunal retira-se para deliberar – 361º/Nº2.
 Nos casos normais, a deliberação + leitura da sentença segue-se ao encerramento da
discussão – 365º/Nº1 e 373º/Nº1.
 Quando, atenta a especial complexidade da causa, não for possível proceder
imediatamente à leitura da sentença, o tribunal marca uma data para a leitura da
sentença dentro dos dez dias seguintes – 373º/Nº1.

Segredo de Deliberação e Votação – 367º

 Existe uma regulamentação própria do processo deliberativo.


o Implica várias opiniões consoante seja singular ou coletivo.
 367º:
o A lei estabelece que o processo está sujeito a segredo de deliberação:
 Os participantes no ato de deliberação e votação não podem revelar
nada do que se tiver passado nesses momentos.
o Nº2 - em caso de violação do segredo de deliberação, aplica-se a sanção
prevista para a violação do segredo de justiça = 371º CP.
 Apesar de o segredo de deliberação implicar não poderem exprimir a sua opinião
sobre a deliberação tomada, a lei contempla no 372º a possibilidade de um juiz lavrar
um voto em sentido contrário quanto a uma determina questão:
o A sentença penal é composta por uma fundamentação comum, uma
fundamentação maioritária e os possíveis votos de vencido.
o Todos os sujeitos processuais têm acesso a isso = garante-se o contraditório e
o direito de recurso.
 + O próprio tribunal de recurso tem acesso – permitindo-lhe saber que
a questão é controvertida.
Culpabilidade e Sanção – 368º e 369º

 O CPP estabelece uma metodologia procedimental para a organização do processo


decisório nestas etapas decisórias.
o Existe uma precedência da questão da culpabilidade em relação à sanção, a
lei obriga a esta separação:
 1º - Discute-se se a pessoa é responsável pelo facto criminoso – 368º.
 2º - Qual é a pena aplicável – 369º.
 = o artigo 368º tem total precedência sobre o artigo 369º.
 368º - trata das questões de culpabilidade:
o Nº1:
 O tribunal começa por decidir as questões processuais autónomas,
questões prévias.
 Depois, analisa os factos alegados na sequência de critérios de
responsabilidade – alíneas do Nº2:
 É necessário comprovar a realização do tipo de crime;
 Se o arguido o praticou;
 Se atuou com culpa;
 Se se verifica alguma causa que exclua a ilicitude ou a culpa.
 = o 368º contém uma projeção processual das categorias dogmáticas
da teoria do crime, mas não pela mesma ordem em que estudamos
porque primeiro discutem-se os elementos positivos da
responsabilidade e só depois os que a podem excluir.
 369º - trata da questão de determinação da sanção.

Requisitos da Sentença – 374º

 A lei autonomiza os requisitos da sentença – tem uma estrutura legalmente prevista –


374º.
 374º/Nº2:
o Obriga que faça parte da sentença uma fundamentação tipificada legalmente
sobre o conteúdo da decisão.
 Exige-se fundamentação em termos de factos, de direito e em termos
probatórios.
o Tem de existir uma lista de factos provados e uma lista de factos não
provados.
 + Tem de existir especificação da prova = tem haver uma análise
crítica da prova que explicite quais os factos que estão provados e
como estão ligados aos meios de prova.
o Esta fundamentação é muito exigente = só se exige para a sentença e não para
outras peças como a renúncia ou a acusação.
o Se for violado este Nº2, o 379º comina essa violação com a nulidade da
sentença.
 Nota - O Estado de Direito em matéria do direito penal reside neste Nº2, no sentido
em que tem de ficar plenamente demonstrada a culpabilidade para que uma pessoa
seja responsabilizada pelo Estado.

Tipologias de Sentenças

 No PP PT só há 2 formas de terminar a audiência de julgamento:


o Sentença condenatória – 375º;
o Sentença absolutória – 376º;
 Temos uma tipologia fechada e vinculativa.
 No PP não existe a figura da absolvição da instância ou da absolvição formal que há
no PC.

Leitura Pública

 373º/Nº2:
o A lei obriga à leitura pública da sentença ou de uma súmula.
 Isto permite cumprir o princípio da publicidade.
 Consequência de desrespeito = nulidade.
o Quando é lida por sumula, a comunicação social tem direito de acesso ao
processo:
 Não podem reproduzir a peça processual, mas podem relatar o
conteúdo da sentença.

FASE DE RECURSO

Conceito e Natureza

 Noção de Recurso:
o É um pedido de reapreciação de uma decisão junto de um tribunal superior.
 Pretende-se obter uma decisão de um tribunal superior que anule ou
substitua uma decisão de um tribunal inferior.
o Apenas se pode recorrer de decisões =/= atos administrativos.
o É diferente da reclamação (380º), da correção da sentença (414º/Nº4).
 Em PT os recursos são quase todos facultativos:
o O recurso é uma continuação da fase do julgamento facultativa em que um
dos sujeitos processuais pediu uma reapreciação da decisão.
o MAS, desde 2007, 446º:
 Obrigatoriedade de recurso para o MP em casos de decisão contrária à
jurisprudência fixada pelo Supremo.

Modalidades

 Recursos Ordinários:
o São os que se interpõem antes do trânsito em julgado da decisão, antes de a
decisão se tornar definitiva:
 A decisão tem um prazo para ser questionada e decorrido esse prazo,
transita em julgado e já não se pode interpor recurso ordinário.
o Embora a decisão vá a ser tomada pelo tribunal superior, apresenta-se o
recurso junto do tribunal recorrido/ no tribunal que proferiu a decisão (pois é
aí que está o processo)
 Este tribunal aceita ou não o recurso e faz subir os autos.
o O que é que se pretende?
 Obter uma decisão do tribunal superior, que substitua a decisão do
tribunal inferior.
o Em regra leva à substituição e não à mera cassação (426º)
 PPA considera que é de mera cassação (anula decisão)
 Recursos Extraordinários:
o Os recursos extraordinários são os que podem ser interpostos mesmo depois
do trânsito em julgado.
o São situações padronizadas sujeitas a regime de tipificação – 2 casos:
 Recurso para fixação de jurisprudência – 437º e ss:
 Isto ocorre quando há 2 decisões de tribunais superiores em
sentido oposto.
 O tribunal é chamado a ficar um certo acolhimento relativo a 2
visões expressas, em 2 acórdãos diferentes.
 Recurso de revisão – 449º e ss:
 Serve para corrigir uma injustiça ou um grave erro conhecido
a posteriori na sentença que transitou em julgado.
o e.g – se se descobrir que se usou prova proibida, como
testemunhas que estavam a ser ameaçadas de morte
quando foram ouvidas, ou quando se percebe que se
condenou a pessoa errada.
o Exemplo – uma pessoa com uma debilidade cognitiva
envolveu-se numa investigação e foi considerada
como autora de um homicídio, não tendo depois
capacidade para se inocentar + quando estava na
prisão, veio alguém que confessou a autoria,
invocando novas provas e inocentando a pessoa
inicial.
 Recursos para o TC:
o Previsto no 280º CRP, Lei Nº28/82.
o Muitos casos depois de subirem ao Tribunal da Relação ou ao Supremo
Tribunal de Justiça depois vão para o TC – 40% da jurisprudência do TC é sobre
questões de PP.
o Este recurso visa apreciar a eventual inconstitucionalidade de uma norma ou
de uma certa interpretação que a ser acolhida faria com que a norma tivesse
um segmento inconstitucional = não é sobre a questão penal.
o O recurso para o TC suspende a eficácia da decisão e não está regulado no
CPP.

Pressupostos

 Prazo:
o 411º - O prazo de recurso é de 30 dias.
o O cumprimento do prazo é um pressuposto para o recurso.
 Recorribilidade do ato:
o Há 2 regras de hermenêutica muito simples para sabermos se o ato é ou não
recorrível:
 399º - Em princípio, todas as decisões judiciais são recorríveis.
 400º - A irrecorribilidade tem de ser declarada expressamente pela
lei:
 Ou o ato é irrecorrível por força da norma geral do 400º que
contém um elenco.
 Ou através de uma norma especial que estabelece que certa
decisão não é passível de recurso.
o Casos especiais de irrecorribilidade - 42º/Nº1,
100º/Nº3, 280º/Nº3, 281º/Nº6, 310º/Nº1, 313º/Nº4,
395º/Nº4/ 397º/Nº2.
 Legitimidade das partes:
o A legitimidade é um requisito controlado por quem recebe o recurso.
o 401º - tem 2 critérios:
 Nº1/alínea a) - O MP tem legitimidade alargada para recorrer em
qualquer circunstância:
 Pode ser no sentido de manter a sua pretensão sancionatória
ou no sentido favorável ao arguido.
 O nosso MP pode pedir condenação mais grave, condenação
mais leve ou mesmo a absolvição do arguido.
 FCP concorda:
o Isto é uma expressão do estatuto do MP = ele não é
uma parte do processo, é um sujeito processual.
o O seu papel no julgamento é de pedir uma decisão
fundamentada para os dois lados = ele tanto faz
direito pedindo acusação ou pedindo absolvição.
o A legitimidade alargada em sede de recursos acaba
por confirmar este estatuto característico do MP
português que se orienta por critérios de objetividade
e verdade material
 Nº1/b) e c) - Os outros sujeitos processuais (arguido, assistente) têm
uma legitimidade condicionada:
 Só podem recorrer das decisões proferidas contra si.
 No fundo, é um critério de legitimidade material que passa
por saber se os interesses do sujeito processual foram ou não
postos em causa com a decisão.
 Isto leva a divergência interpretativa = como os recursos são
facultativos, pode acontecer que o MP não recorra de uma
decisão, o assistente nesse caso pode recorrer sozinho?
o O STJ tem assumido uma posição diferente consoante
o caso seja de decisão de absolvição ou de
condenação:
 Em caso de absolvição, aceita o recurso
isolado do assistente porque os seus
interesses são postos em causa.
 Se for um caso de divergência quanto à pena
aplicada já não aceita o recurso.
o Doutrina considera esta interpretação como restritiva
do direito ao recurso.
o Paulo Pinto de Albuquerque = considera como
inconstitucional, viola os direitos de participação do
37º CRP.
 Caso do assistente:
 Tem de ter interesse em agir – por exemplo, se houver
absolvição do arguido.
 STJ entende que em algumas matérias o assistente não tem
legitimidade:
o Assento STJ 8/99 - STJ veio entender que quanto à
medida da pena ele não tinha legitimidade autónoma,
era uma decisão de justiça do caso concreto.
 409º - Reformatio in Pejus:
 O tribunal de recurso pode ou não agravar a responsabilidade
do arguido, no sentido de produzir uma decisão mais
desfavorável do que a inicial?
 Nº1:
o Tribunal Superior está proibido de agravar a
responsabilidade do arguido se tiver sido interposto
pelo arguido, pelo MP no interesse do arguido ou
ambos. este tiver sido apenas pelo arguido ou pelo
MP no interesse do arguido.
o Nos outros casos, não há limitação.
 Temos um regime mitigado de reformatio in pejus:
o Não é verdade a ideia de que quando há direito ao
recurso o resultado nunca pode ser mais grave do que
inicialmente = depende de que sujeito processual
recorre.
 Se for o arguido não pode aumentar, mas se
for assistente ou MP pode.
 Acórdão TC 502/2007:
o Caso em que o arguido recorre, o tribunal conhece o
recurso mas em vez de referir a decisão anula o
julgamento.
o = Suscitou a questão de se o arguido perde o direito à
proibição de reformatio in pejus ou se a mantém
perante o novo julgamento = TC decidiu que vale a
proibição de reformatio in pejus mesmo em caso de
repetição de julgamento.

Competências dos Tribunais de Recurso– 427º e ss.

 Temos o STJ e 5 Tribunais da Relação.


o Os TR têm competência geográfica delimitada.
o A competência do TRL estende-se às ilhas.
 Os recursos vão subir ora para o TR ora para o STJ com uma diferença:
o 428º - A Relação conhece de facto e de direito.
o 432, 434º - O Supremo só conhece de direito + de vícios atípicos (410º)
 Recurso da decisão do Tribunal Singular, Tribunal Coletiva e Tribunal de Júri:
o A organização do sistema depende da composição do tribunal que pode ser
singular, coletivo ou de júri.
o Ver 427º e 432º:
 Do tribunal singular recorre-se sempre para o Tribunal da Relação.
 Do tribunal coletivo a lei permite recorrer para a Relação ou, se for só
de direito, para o STJ - 432º/Nº1/c.
 Do tribunal de júri:
 Alterado em 2007.
 A lei permite, de forma muito contestada pela doutrina,
recorrer para o STJ em matéria de direito ou em matéria de
facto para o TR.
o Isto é discutido pela Escola de Coimbra.
o Prof. Costa Andrade - considera que esta possibilidade
é um absurdo jurídico e uma desconsideração da
matéria de facto obtida no tribunal de júri.
 Razão:
o No TJ não há equivalente a um tribunal superior, logo
reforma de 2007 veio mal admitir que se admitisse a
matéria de facto no TR.

Efeitos

 Nota = efeito suspensivo da decisão =/= efeito suspensivo do processo.


o ESdP é excecional, ESdD é a regra.
 Por exemplo, com os recursos de absolvição, tem efeito devolutivo.
 Os recursos têm sempre um efeito devolutivo:
o Se for meramente devolutivo = a questão é avaliada no tribunal superior, mas
o processo continua no processo inferior.
 Se tiver efeito suspensivo do processo – casos 408º:
o O processo para e fica a aguardar a decisão do recurso sobre a questão
controvertida.
 O efeito mais comum é o ‘efeito suspensivo da decisão’:
o O processo vai subir para o TR, mas paralisam-se os efeitos da decisão
condenatória:
 Esta não produz efeitos até ser apreciado o recurso.
o O nosso sistema jurídico contém um efeito suspensivo (não produzem logo
efeito) das decisões condenatórias em todos os momentos do recurso que
impeçam o trânsito em julgado:
 Considera-se que seria incompatível com a presunção de inocência
executar uma decisão condenatória antes de esgotados todos os
recursos possíveis = só esgotados os recursos é que se passa para a
fase de execução.

Outros Meios de Impugnação

 Revisão – 449º:
o A nossa lei é muito generosa quanto à possibilidade de correção da sentença.
o É admissível mesmo em fase de recurso.
 Habeas Corpus – 31º CRP, 220º e ss. CPP:
o 222º - É um pedido que se faz diretamente ao Presidente do STJ para
libertação de alguém preso ilicitamente.
o Temos um HC reativo:
 Se há uma detenção ilegal, o sistema permite que independentemente
desses prazos que qualquer pessoa peça/questione a libertação da
pessoa presa ilicitamente.
o O HC não é um recurso e não prejudica o recurso – é uma garantia autónoma
de reposição de DFs.
 Até 2007 isto não era claro.
 Intervenção Hierárquica MP – 228º:
 Aplicada uma medida preventiva, reapreciação oficiosa das medidas de coação – 213º.

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