RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO

1. Noção: os recursos não têm por função assegurar o duplo grau de jurisdição, mas tem
função nomofilática, ou seja, da correta aplicação da Constituição e da lei. Os tribunais (STF e
STJ) não se limitam a julgar a questão em abstrato, mas também tem a função de aplicar o
direito ao caso concreto. Súmula 456 do STF.

2. Norma Aplicável: código de processo civil.

3. Requisitos de Admissibilidade:

3.1 Questão de Direito: Súmula 279 STF e 07 do STJ.

3.2 Decisão de ùnica ou última instância: a decisão não mais pode ser reformada por tribunal
de justiça ou tribunal regional federal. Súmula 281 STF e 207 STJ.

3.3. Órgão que Proferiu a Decisão: o que importa é que a decisão tenha sido julgada em única
ou última instância, independentemente do órgão decisor. Cabe recurso extraordinário das
turmas recursais criminais: Súmula 640 STF. Também cabe recurso das decisões do TSE, STM,
TST. Cabe recurso especial das decisões exaradas pelos tribunais regionais federais ou
tribunais de justiça dos estados- art. 105, III da CF. Não cabe recurso especial contra decisão
de turma recursal: Súmula 203 STJ.

3.4 Prequestionamento: é necessário que a decisão tenha sido tratada e analisada no acórdão
de últimaou única instância recorrido. No recurso extraordinário se prequestiona questão
constitucional; no especial, questão federal. Súmula 282 do STF.

3.4.1 Modalidade de Prequestionamento: STF exige o explícito (menção expressa ao artigo da

Constituição no acórdão); STJ se contenta com o implícito (basta constar a lei federal na
fundamentação).

4. Cabimento do Recurso Extraordinário:

4.1 Contrariedade a dispositivo da Constituição: art. 102, III, “a” CF. A contrariedade deve ser
direta. Há violação indireta da Constituição quando a análise da contrariedade entre o
decidido no acórdão e o txto constitucional exigir a intermediação de norma
infraconstitucional (ofensa reflexa ou indireta à Constituição). STF: AgRG no AI 479.821-1/SP.
Se há coincidência entre o texto da lei federal e da Constituição, como no caso do art. 1º do CP
e o art. 5º, caput XXXIX da CF, existe ofensa direta. Violações aos dispositivos da CADH do
PIDCP? Recurso especial ou extraordinário?

4.2 Declaração de Inconstitucionalidade de Tratado ou Lei Federal: art. 102, III, “b” CF. Não
deve ser interposto contra decisão do plenário ou órgão especial do tribunal local que declara
a inconstitucionalidade da norma, mas contra o acórdão que julgando o caso concreto, aplique
a decisão. Súmula 513 do STF. Ver Súmula Vinculante 10 STF. Não caberá de decisão que
julgue pela constitucionalidade do tratado ou da lei.
4.3 Julgar Válida Lei ou Ato de Governo Local Contestado em Face da Constituição: art. 102,
III, “c” CF. Razoabilidade: Súmula 285 STF. Deve se tratar de lei estadual (no processo penal).

4.4 Julgar Válida Lei Local Contestada em Face de Lei Federal: art. 102, III, “d” CF.

4.5 Repercussão Geral: art. 102, § 3º CF: o recurso será denegado caso 2/3 dos ministros se
manifestarem no sentido de não existir a repercussão. Art. 102, § 3º CF. Regramento: art.
1035 CPC.

4.5.1 Relevância: Jurídica, Política, Econômica ou Social: art. 1035, § 1º CPC.

4.5.2 Transcendência: afetam interesses coletivos, não meramente subjetivos das partes.

4.5.3 Casos de Repercussão Geral Decorrentes da Lei: contrariedade a súmula ou

jurisprudência dominante do STF; reconhecimento de inconstitucionalidade de tratado ou lei
federal (art. 102, III, “b” CF). Art. 1035, § 3º, I e III CPC. Art. 323, § 2º do RISTF.

4.5.4 Competência: a análise da repercussão geral é exclusiva do STF. Art. 1035, § 2º CPC. O
relator do recurso extraordinário deverá remeter, por meio eletrônico, aos demais ministros, a
sua manifestação sobre existência ou não de repercussão geral. Art. 323, caput RISTF. Prazo:
20 dias para os demais se manifestarem. Art. 324 RISTF. Considera-se haver a repercussão
geral se os ministros não se manifestarem. Art. 324, § 1º do RISTF. Admissão de terceiros: art.
1035, § 4º CPC.

4.5.5 Reconhecimento Repercussão: preferência de tramitação e devem ser julgados em até 1

ano. Art. 1035, § 9º CPC.

4.5.6 Suspensão dos Processos: art. 1035, § 5º CPC.

4.5.7 Negação da Repercussão Geral: vale para todos os recursos idênticos, podendo nos
demais casos o relator sorteado ou o presidente do STF negar o processamento dos futuros
recursos extraordinários, salvo se a tese tiver sido revista (art. 327, caput RISTF). Presidente e
vice-presidente dos tribunais locais negarão seguimento aos recursos extraordinários que
tratem da mesma matéria. Art. 1035, § 8º CPC. A decisão que nega a repercussão é
irrecorrível. Art. 1035, caput CPC.

4.5.8 Processo Penal: não há repercussão geral apenas pelo fato de o caso envolver processo
penal. STF, Q.O no AI 664.567/RS.

5. Cabimento do Recurso Especial:

5.1 Contrariar ou Negar Vigência a Tratado ou Lei Federal: art. 105, III, “a” CF. Aplica-se não
apenas à lei no sentido estrito, mas também a decretos, regulamentos, etc. Não são leis
federais os regimentos internos dos tribunais. Súmula 399 do STF. Não cabe recurso espcial
quando a questão federal foi suscitada apenas no voto vencido. Súmula 320 STJ.

5.1.1 Contrariedade Positiva ou Negativa: positiva: aplicação de dispositivo legal em que não
deveria incidir; negativa: quando não se aplicar dispositivo legal em que caberia a lei.

5.1.2 Negar vigência: não reconhecer a eficácia da norma.

5.2 Julgar Válido Ato de Governo Local Contestado em Face de Lei Federal: art. 105, III, “b”
CF. Ato administrativo.

5.3 Dissídio Jurisprudencial: art. 105, III, “c” CF. Necessária a prova da divergência: certidão,
cópia autenticada ou citação de repositório de jurisprudência, oficial ou certificado, que
publicou a decisão. Admite-se também a reprodução do julgado disponível na rede mundial de
computadores, com indicação da respectiva fonte. Art. 1029, § 1º CPC; art. 255, § 1º do RISTJ.

5.3.1 Demonstração Analítica da Divergência: art. 255, § 1º RISTJ; art. 1029, § 1º CPC. Deve-
se transcrever os trechos dos acordãos.

5.3.2 Acórdão Paradigma: deve ser decisão final da justiça local (irrecorrível). A decisão
invocada como paradigma não pode estar ultrapassada pela jurisprudência do próprio tribunal
que a proferiu ou pela do STF ou STJ. Súmula 83 do STJ. O dissídio deve se dar em tribunais
distintos: Súmula 13 do STJ.O acordão paradigma pode ser do próprio STJ.

6. Legitimidade para os recursos extraordinário e especial: art. 577 CPP. Súmula 210 STF.

7. Interesse: esgotamento dos recursos ordinários, incluindo os embargos infringentes:

Súmula 281 do STF e 207 STJ. Todos os fundamentos do acordão devem ter sido impugnados:
Súmula 283 STF. Necessidade de ajuizamento de recurso extraordinário para admissibilidade
do recurso especial: Súmula 126 STJ.

8. Deserção: STJ: art. 10 da Lei 11.636/07 (pagamento das custas no tribunal de origem).
Processo criminal: isenção de preparo; art. 3º, II da Resolução 3/2015 do STJ. Salvo: ação
penal privada e revisão criminal. STF: Art 57, § único do RISTF. Isenção de preparo: art. 61, §
1º, I RISTF. Salvo: ação penal privada. Custas: recolhimento no tribunal de origem. Art. 59, I
RISTF. Dispensa de pagamento de taxa de remessa e retorno em processos eletrônicos: art.
1007, § 3º CPC. Recurso especial: exclusivamente eletrônico: art. 10, XVII da Resolução
10/2015 STJ. Recurso extraordinário: eletrônico apenas quando no tribunal de origem o
processo for também eletrônico. Art. 23 da resolução 427/2010 do STF.

9. Desistência: art. 576 CPP. A desistência não impede a análise da repercussão geral. Art. 998
CPC.

10. Regularidade Formal:

10.1 Endereçamento: por petição ao presidente ou vice-presidente do tribunal. Art. 1029,

caput do CPC. Para o presidente da turma recursal criminal em caso de recurso extraordinário.

10.2 Vício Formal: art. 1029, § 3º do CPC.

10.3 Requisitos: art. 1029, I, II e III do CPC. Além disso, deverá ser a fundamentação do
recurso clara: Súmula 284 STF.

10.4 Tempestividade: 15 dias: art. 1003, § 5º CPC. Os embargos de declaração interrompem o

prazo para os recursos: art. 1026, caput do CPC. Contrarrazões: 15 dias (art. 1030, caput CPC).
Recurso interposto antes da abertura do prazo: no CPC, entende-se admissível: art. 218, § 4º
do CPC. Interposição pelo correio: art. 1003, § 4º CPC (deverá ser a Súmula 216 do STJ ser
cancelada).

11. Admissibilidade: art. 1030 CPC. Necessidade de fundamentação em ambos os casos.

Súmula 123 STJ.

11.1 Negativa de seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à

qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou a
recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em conformidade com
entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral. Art.
1030, I, “a” CPC. b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos. Contra estas decisões caberá agravo interno. Art. 1030, § 2º e art. 1021 do CPC; c)
negar seguimento por outro motivo: art. 1030, V do CPC. Contra esta decisão caberá agravo
em recurso especial ou extraordinário: art. 1030, § 1º e art. 1042 do CPC.

11.2 Admissão do recurso: art. 1030, V CPC. Admissibilidade depende: a) o recurso ainda não
tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos
repetitivos; b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; c) o
tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação. Trata-se de admissibilidade provisória.

11.3 Seleção do recurso como representativo de questão controversa e repetitiva: art. 1030,
IV CPC, para juízo de afetação, podendo-se determinar a suspensão dos processos que
tramitem no Estado ou região. Art. 1036, § 1º CPC.

11.4 Encaminhamento do Processo Para o Juízo de Retratação: art. 1030, II CPC. Se o acordão
recorrido divergir do entendimento do STJ (em caso de recursos repetitivos) ou do STF (em
análise de repercussão geral).

11.5 Sobrestamento do Processo: art. 1030, III CPC: em casos de controvérsia repetitiva já
aceita, ma ainda pendente de julgamento pelo STJ ou STF. Contra a decisão de sobrestamento
cabe agravo interno: art. 1030, § 2º e art. 1021 CPC.

12. Fungibilidade Entre Recurso Especial e Extraordinário: arts. 1032 e 1033 do CPC.

13. Julgamento dos Recursos Extraordinário e Especial Repetitivos: cinco etapas:

13.1 Seleção do recurso como representativo de controvérsia repetitiva: art. 1036 CPC.
Seleção de dois ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao STF ou
STJ, suspendendo o andamento de todos os demais recursos repetitivos que tramitem no
Estado ou região até pronunciamento definitivo: art. 1036, § 1º CPC. No STF ou STF, o relator
também poderá selecionar dois ou mais recursos (art. 1036, § 5º CPC). Somente serão
selecionados os recursos com argumentação abrangente: art. 1036, § 6º CPC.

13.2 Afetação da Questão Como Repetitiva: art. 1037 CPC. O relator do recurso profere a
decisão de afetação, indicando a questão a ser julgada: art. 1037, I CPC e determinará a
suspensão de todos os processos que tratem da mesma questão: art. 1037, II CPC. Poderá o
relator solicitar aos presidentes ou vice-presidentes dos tribunais locais a remessa de um
recurso representativo da controvérsia. Art. 1037, III CPC. As partes deverão ser intimadas da
suspensão: art. 1037, § 8º CPC. A parte poderá requerer que o processo suspenso volte a
tramitar (art. 1037, § 9º CPC). A parte contrária será intimada para se manifestar no prazo de 5
dias (art. 1037, § 11º CPC). Se procedente, o processo volta a tramitar (art. 1037, § 12º CPC);
se improcedente, o processo continua suspenso, cabendo contra esta decisão agravo interno
(art. 1037, § 13º, II e art. 1021 CPC) se ela for do relator; se ela for do juiz de primeiro grau,
cabe agravo de instrumento (art. 1037, § 13º, I e art. 1015 CPC).

13.3 Instrução da Controvérsia: art. 1038 CPC. Trata-se de uma fase não necessária. O art.
1038 admite três medidas possíveis: a) manifestação de amicus curiae (art. 1038, I CPC); b)
realização de audiências públicas (art. 1038, II CPC); c) requisição de informações aos tribunais
inferiores (art. 1038, III CPC). Relator deverá enviar cópia de seu relatório aos demais e
solicitar a inclusão em pauta do recurso afetado. Art. 1038, § 2º CPC.

13.4 Decisão da questão Objeto de Recurso Repetitivo: art. 1038, § 3º CPC. No caso do
recurso extraordinário, o STF deverá examinar a existência ou não de repercussão geral. Se for
negada a repercussão geral, os recursos extraordinários que foram suspensos serão
automaticamente considerados inadmitidos (art. 1039, § único CPC). Não será necessária a
decisão do presidente do tribunal local de inadmissibilidade. Desta decisão não cabe recurso.

13.5 Projeção dos Efeitos da decisão nos casos repetitivos sobrestados e futuros: art. 1039 a
1041 CPC.Quatro possibilidades diferentes:

13.5.1 Processos suspensos em primeiro grau: após o julgamento do recurso repetitivo, o

processo retoma seu curso normal para aplicação da tese decidida pela tribunal superior. Art.
1040, III CPC.

13.5.2 Processos suspensos no tribunal local antes do julgamento da apelação: após o

julgamento do recurso repetitivo, o processo retoma seu curso normal para aplicação da tese
decidida pela tribunal superior. Art. 1040, III CPC.

13.5.3 Processos suspensos no tribunal local, após a interposição do recurso especial ou

extraordinário: art. 1040, I ou II do CPC. O presidente ou o vice presidente negará seguimento
aos recursos especial e extraordináiro contra acordão que esteja em conformidade com o
entendimento do STJ ou STF exarado no julgamento do recurso repetitivo. Se o acordão
recorrido está em desacordo com o julgamento do STF ou STJ em caso de recurso repetitivo, o
presidente ou vice presidente encaminhará o recurso ao órgão que proferiu o acordão, para
reexame e retratação (art. 1040, II CPC). Se mantiver o acórdão, caberá ao presidente ou ao
vice presidente o exame da admissibilidade do recurso especial ou extraordinário
anteriormente interposto (art. 1041, caput CPC). Se houver retratação, o órgão deverá as
demais questões não decididas, cujo enfrentamente se tornou necessário após o julgamento
do recurso repetitivo pelo STF ou STJ (art. 1041, § 1º CPC). Art. 1041, § 2º CPC.

13.5.4 Processos suspensos no STF ou STJ: neste caso se aplica o art. 1039 CPC: as turmas
poderão declarar prejudicado o recurso ou aplicar a tese reconhecida no julgamento da
controvérsia repetitiva. Se o acordão recorrido estava em consonância com o julgado do STJ ou
STF, o recurso especial ou extraordinário será declarado prejudicado, transitando em julgado a
decisão recorrida. Se for contrária à tese do STF ou STJ, a turma aplica-a sobre o acordão
recorrido.

14. Efeitos:

14.1 Devolutivo:

14.2 Suspensivo: art. 995 CPC. Art. 1029, § 5º CPC: a parte poderá requerer efeito suspensivo.
Execução provisória da pena: HC 126.292/SP.

14.3 Regressivo: não há.

14.4 Extensivo: poderá ter.