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Resolução do exame de março de 2021

I.

1. Nacionalidade - competência internacional

Pedido da alínea a)

Estamos perante uma relação jurídica plurilocalizada, uma vez que os Autores residem em
Odemira, os Réus têm residência habitual em Pequim, e o prédio em causa situa-se em
Portugal.

Deste modo, cumpre verificar a aplicabilidade do Regulamento 1215/2012, uma vez que
estamos perante um problema de competência internacional. O pedido em causa refere-se a
matéria civil, pelo que o âmbito objetivo se encontra verificado (art. 1.º/1); apesar de os Réus
não residirem num EM da UE, verifica-se o âmbitos subjetivo porque temos uma exceção:
direitos reais (art. 24.º/6 Regulamento)

Os tribunais competentes são competentes, por aplicação do Regulamento.

Pedido da alínea b)

Estamos perante uma relação jurídica plurilocalizada, uma vez que os Autores residem em
Odemira, os Réus têm residência habitual em Pequim, e o prédio em causa situa-se em
Portugal.

Deste modo, cumpre verificar a aplicabilidade do Regulamento 1215/2012, uma vez que
estamos perante um problema de competência internacional. O pedido em causa refere-se a
matéria civil, pelo que o âmbito objetivo se encontra verificado (art. 1.º/1); contudo, os Réus
não residem num EM da UE, pelo que, não se verifica o âmbitos subjetivo. Aqui temos a
responsabilidade civil extracontratual.

Ora, não se verificando a aplicação do Regulamento 1215/2012, passamos para a análise da


competência internacional dos tribunais portugueses à luz do direito interno (art. 59.º).

Aqui o pedido não versa sobre direitos reais, mas sobre uma indemnização pelos danos
causados, portanto releva recorrer aos critérios de atribuição de competência previstos no art.
62.º/1 do CPC.

- critério da coincidência: responsabilidade extracontratual: 62.º/1/a).

- critério da causalidade: a ação deve ser proposta em Portugal porque a causa de pedir ou o
facto principal ocorreram em Portugal. Dizem os réus que o negócio entre os Réus foi realizado
no Tribunal Central Cível de Lisboa, legitimando, assim, a aplicação do art. 62.º/1/b)

Pedido reconvencional:

Estamos perante uma relação jurídica plurilocalizada, uma vez que os Autores residem em
Odemira, os Réus têm residência habitual em Pequim, e o prédio em causa situa-se em
Portugal.

Deste modo, cumpre verificar a aplicabilidade do Regulamento 1215/2012, uma vez que
estamos perante um problema de competência internacional. O pedido em causa refere-se a
matéria civil, pelo que o âmbito objetivo se encontra verificado (art. 1.º/1); apesar de os Réus
não residem num EM da UE, verifica-se o âmbitos subjetivo, porque os reconvindos vivem em
Portugal.

Aqui usamos o art. 8.º/3 para referir que os tribunais portugueses eram competentes.

2. Território

Pedido a):

A regra geral é o domicílio do réu (80.º/1), contudo, como estamos a falar de uma ação de
preferência, em que estão em causa direitos reais, aplica-se o critério do art. 70.º/1, que
refere que o critério é o do local da situação dos bens (fórum rei sitae). Por isso, como o imóvel
se localiza em Odemira, a ação deve ser proposta no Tribunal da competência genérica de
Odemira, da Comarca de Beja.

Pedido b):

Aqui vai ser de acordo com o 70.º/2, por se tratar de responsabilidade extracontratual -
novamente, a ação deveria ser proposta no Tribunal da competência genérica de Odemira, da
Comarca de Beja.

Pedido reconvencional:

Mesma solução do pedido a).

3. Valor

25.000 (pedido a) + 10.000 (pedido b) + 25.000 (reconvencional)

O tribunal local cível de Beja era competente quando foi posta a ação, mas como se adicionou
a reconvenção, o valor ultrapassa os 50.000 e tinha de pôr o processo para o central cível de
Beja.

II.

1. Exceção dilatória por incompetência relativa (territorial): 577.º/a).

2. Exceção dilatória por ilegitimidade do Réu Mao: o réu é uma parte ilegítima por não ter
interesse na causa, 577.º, e).

3. Impugnação de direito (ponto 7).

4. Impugnação indireta: quem tem de provar que são prédios confinantes é o autor (facto
constitutivo), portanto como é o autor que tem de provar é uma impugnação indireta.

5. Exceção perentória extintiva: facto novo que extingue direitos dos autores (pela renúncia)

6. Exceção perentória impeditiva: quem tem de provar que houve negócio simulado eram os
réus (facto extintivo).

7. Exceção perentória impeditiva: fala-se da culpa, o réu tenta demonstrar que a empresa não
teve culpa (facto extintivo). Se ele não conseguir provar, ele tem culpa.
8. Impugnação de facto direta (facto 6: dizem que não corresponde à verdade), mas também
indireta (justifica porque não corresponde à verdade: não cultivam no prédio, abandonado).
Aqui seria mais correto dizer que era impugnação indireta.

9. Impugnação de facto direta (diz que o valor é exagerado).

10. Exceção perentória modificativa (deve menos do que os autores pedem).

III.

Como residia em Pequim, art. 239.º. Como não faz parte da UE não se aplica o Regulamento CE
nº 1393/2007, aplicando-se o 239.º/2. Portanto, a citação pode ser feita por carta registada
com aviso de receção, por intermédio de consulado, por carta rogatória ou por citação edital.

A via postal não resultou, portanto terá de ser remetida uma carta rogatório ao ministério da
justiça do país em causa a pedir que a pessoa seja citada (no caso, a China, Pequim). E, além
disso, teria de ser traduzida em mandarim.

IV.

Como os autores não apresentaram réplica, os factos alegados pelo réu são admitidos por
acordo os factos que fundamentam a reconvenção: art. 587.º que remete para o art. 574.º/2.

Diferente disto é a questão da resposta às exceções, prevista no art. 3.º/4.

V.

São os seguintes os temas de prova (ver factos que estão em contradição, que interessam para
a decisão da causa):

- se o herbicida destruiu uma plantação de maracujás/existência de plantação e danos no


prédio rústico dos autores

- se os prédios são confinantes/vizinhos ou se há um caminho público entre eles

- se a conversa que consta do ponto 5 da contestação existiu ou não (não se podia falar aqui da
renúncia porque isto é um termo de direito)

- se foi intenção de Mao e Tung transferir a propriedade sem qualquer contrapartida, não
tendo sido pago o preço

- causa do lançamento de herbicida

- pagamento dos 1.000€

Aqui dizemos na positiva ou negativa consoante o ónus da prova: autor [negativa], réu
[positiva]

VI.
1ª pergunta: a testemunha ia depor sobre simulação (ia dizer que o negócio é simulado), mas
há um artigo que diz que não pode ser produzida prova testemunhal quando os próprios
simuladores querem provar a simulação (394.º/2 CC). Mas a doutrina faz uma interpretação
restritiva quanto a este assunto, admitindo a prova.

2ª pergunta: contudo, a prova não é totalmente proibida - e a força desse depoimento era
complementar: a doutrina tem interpretado restritivamente isso e, só com outra prova é que a
prova por testemunhas pode valer.

VII.

[matéria das modificações subjetivas da instância] Aqui não é intervenção acessória


provocada, nem intervenção principal provocada. Por outro lado, os réus querem que a Asa de
Odemira seja obrigada a satisfazer a indemnização agora.

No Código de 2013 criou-se um mecanismo para o direito de regresso: quando são casos de
devedores solidários, aplicamos o 317.º, afastando a intervenção acessória provocada, porque
o 317.º permite que fiquem logo condenados os dois.

VIII.

Primeiro é se podia pedir informação ao instituto de meteorologia. Aqui, pelo princípio da


aquisição processual, o juiz pode pedir a quem quiser as provas que entender.

Quanto à segunda pergunta, este documento sobre a informação das condições


meteorológicas do dia, o Instituto não dá uma opinião, apenas diz o que observou naquele dia,
portanto será um documento autêntico. Assim, o valor probatório do documento emitido por
aquele Instituto é prova plena que para ser ilidida tinha de se invocar o incidente de falsidade.

IX.

Como não há procuração, nos termos do 48.º/2 fica sem efeito a contestação. A consequência
disso é que os factos são admitidos por acordo e é como se não houvesse contestação.

Se não houvesse contestação, a revelia seria absoluta porque o réu não teve qualquer
intervenção, não sabemos se ele está bem ou não citado (portanto temos de ir ver se o réu
sabe da existência daquele processo).

Além disso, a revelia seria inoperante (567.º), por preencher a exceção do art. 568.º/a).

X.

- Pluralidade de partes (informação que tiramos da petição inicial):

Pluralidade de autores: litisconsórcio necessário legal (são casados com comunhão de bens e
como o prédio está na comunhão de bens, teriam de ser os dois a estar na ação - art. 34.º CPC
ou também pelo 419.º CC). É admissível.
Pluralidade de réus: litisconsórcio voluntário (há quem diga que o vendedor não tem de estar,
basta o comprador) ou litisconsórcio necessário (há quem diga que têm de estar os dois). É
admissível.

- Pluralidade de pedidos:

Pluralidade de autores e réus, mas há um com cumulação de pedidos

A e A -> M e T (o direito de preferência é para os dois, ambos participaram no negócio)

A e A -> T (indemnização só contra o Tung). Para este pedido temos de ver os requisitos do
36.º

Análise simples: Aqui há cumulação de pedidos contra T: pedidos são compatíveis, há


uniformidade do processo e há uniformidade quanto à competência do tribunal.

Análise mais complexa: Relativamente ao segundo pedido há também uma coligação: para ver
se o segundo pedido era admissível tínhamos de verificar se era coligação. Se a coligação fosse
inadmissível o segundo pedido não era admissível.

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