Você está na página 1de 3

Casos práticos- DPCER

Caso 1

A foi condenado ao pagamento da quantia de 20.000€ em favor de B por sentença proferida pelo
juízo local civil do Porto do Tribunal Judicial da Comarca do Porto quando aquele último (B) havia
pedido que A fosse condenado ao pagamento de 22.000€.

Inconformado, A pretende recorrer daquela decisão até porque pretende ver revistos alguns pontos
da matéria de facto que, no seu entender, foram mal julgados.

1. Será a presente decisão passível de recurso? Se sim, qual o recurso?


2. Prove a legitimidade processual de A.
3. Pretendendo a reavaliação da matéria de facto, como deverá A proceder?
4. Qual o prazo para recorrer?
5. Qual o tribunal competente para reconhecer do recurso?
6. Quais os efeitos que decorrem da interposição do recurso?
7. Será ainda possível a A recorrer de uma eventual decisão de improcedência do recurso?

Resposta

Um recurso acontece quando há uma reação possível contra uma decisão judicial em que alguém
terá ficado insatisfeito. Nem todas as decisões são passíveis de recurso.

Os recursos podem ser ordinários ou extraordinários. Os ordinários são interpostos quando a


sentença ainda não transitou em julgado (art. 267º CPC). Os extraordinários são interpostos quando
a sentença há transitou em julgado.

1. É susceptível de recurso porque alguém ficou insatisfeito com a sentença sobre uma decisão
que põe fim ao processo (art. 644º CPC). Este é um recurso de apelação. Tem de ser
cumpridos os requisitos: tem que haver sucumbência (o valor em que alguém decai de uma
determinada ação- art. 269º CPC) e haver relação entre a alagada do tribunal (valor até ao
qual o tribunal julga sem admissibilidade de recurso. Para que este critério esteja
preenchido, é necessário que o valor da causa seja superior ao valor da alçada do tribunal a
que se recorre). Assim, como se verificam todos estes critérios, era admissível de recurso de
apelação.
2. Art. 631º CPC: os recursos só podem ser interpolados por alguma parte principal.
3. Nos recursos podemos sempre atacar a matéria de direito e a matéria de facto. Aqui, A quer
atacar mais a matéria de facto e deve ter alguns cuidados (art. 640º CPC):
 Identificar os factos que não se concorda e dizer o porque da discordância
aprovando prova em sentido contrário;
 Dizer no nosso entender o que a decisão deveria conter.
4. Art. 638º CPC: o prazo normal para recorrer é de 30 dias. Existem, no entanto, prazos
excepcionais para recurso podendo ser mais longos ou mais curtos.

Como se contam os prazos? Há a notificação no CITUIS, após a citação contam-se três dias
(determinados na lei) e depois começam a contagem dos 30 ou 40 dias (dependendo do caso). No
final existe ainda o prazo de complacência podendo o recurso ser apresentado nos 3 dias úteis
subsequentes ao término do prazo com pagamento de multa.

5. (…)
6. (…)
7. (…)

1
Sofia Escudeiro
Casos práticos- DPCER

Caso 2

A foi condenado a pagar a B a quantia de 2.000€ e a deixar livre de pessoas e de bens o imóvel que
arrendava ao mesmo por decisão proferida pelo juízo local cível de Póvoa de Varzim no âmbito de
uma ação de despejo que lhe foi movida por D, por falta de pagamento de fossos.

Inconformado porque sempre alegou ter procedido ao pagamento das mesmas sem que B houvesse
emitido os respetivos recibos, facto que aliás considera ter saído do julgamento como provado, sem
que o juiz o haja entendido, pretende reagir da sentença. Quid Iuris?

Resposta

De forma abstrata, trata-se de uma situação passível de recurso no caso de verificados todos os
requisitos:

 A tem legitimidade para recorrer pois é parte do processo e ficou vencido;


 O valor da ação combinado com o valor da alçada do tribunal de que se quer recorrer não se
encontra preenchido. Isto deve-se ao facto de o valor da ação ser de 2.500€, não sendo
superior ao valor da alçada do tribunal que proferiu a decisão;
 Sucumbência.

Esta será uma situação de exceção: apesar de não se verificar o requisito da alçada do tribunal
preenchido (art. 629º/3ª CPC).

O requerimento dará entrada no tribunal que proferiu a ação (juízo local cível da Póvoa de Varzim) e
o recurso será no Tribunal da Relação do Porto.

Os efeitos são meramente devolutivos.

Caso 3

A foi condenado ao pagamento da quantia de 52.000€ em favor de B através de sentença proferida


pelo juízo central cível do porto. B. no entanto, havia pedido a condenação de A no valor de 55.000€
por ausência de pagamento de bens que havia fornecido a A, apesar disso o tribunal considerou que
A devia apenas a quantia de 52.000€.
1. Inconformados A e B pretendem reagir através da interposição de recurso. Quid Iuris?
2. A recorreu para a relação e esta continua a dar razão a B. A pode recorrer para o Supremo
ou não?
Resposta
1. No caso de B: Não se verifica a sucumbência e não há nenhuma exceção , logo, B não pode
recorrer. No entanto, nos termos do art. 63º CC, ambas as partes poderiam recorrer pois
ambas foram vencidas na causa- recurso subordinado (está na dependência do recurso
independente do A, no caso de o recurso de A cair, também o de B cairá). Prazo de 30 dias
de dilação iniciais a seguir à notificação da sentença. A poderia apresentar o requerimento
perante o tribunal que proferiu a sentença.
2. Pode, dupla-conforme (art. 671º/3 CPC). Para que esta seja relevante e não permita o
recurso, a decisão tem de ser a mesma, com fundamentação não essencialmente diferente e
sem qualquer voto de vencido. Se um destes critérios falhar, já não é admitido o recurso
para o supremo.
Caso 4
Em janeiro de 2022, António casado com Beatriz no regime supletivo desde 2010 e residentes no
Porto, foi condenado por sentença emanada pelo juízo local cível do Porto ao pagamento da quantia
de 18.000€. Este foi resultado de um pedido de indemnização civil contra ele deduzido em
consequência da prática de facto ilícito criminoso, mas deduzido nos termos do art. 72º do CPPenal.

2
Sofia Escudeiro
Casos práticos- DPCER

António não recorreu da sentença nem procedeu ao pagamento daquela quantia até à presente
data. Carlos, a quem António tem que pagar, pretende agora obter o mesmo efeito mas por via
judicial.
Responda:
1. Que tipo de ação corresponde à “competente” para resolver a situação?
2. Qual o título executivo?
3. Estarão nesta situação verificados os pressupostos ao nível da obrigação?
4. Qual o tribunal competente?
5. Quem tem legitimidade ativa e passiva?
6. Poderá Beatriz ser executada nesta ação?
7. Qual é o valor da ação?
8. Haverá necessidade de constituir mandatário judicial? Se sim, quem pode intervir
Resposta
1. Havendo situações em que o devedor não pague voluntariamente ao credor, a ação
competente é uma ação executiva. A ação executiva nos termos do art. 10º do CPC podem
ter três objetivos: uma ação para pagamento de quantia certa, na entrega de coisa certa ou
na prestação de um facto. Neste caso trata-se de uma ação executiva para pagamento da
quantia certa.
As ações executivas podem revestir duas formas: ordinária ou sumária, tal resulta do art.
550º CPC. Ai se prevê as situações em que a ação executiva para pagamento de quantia
certa será ordinária ou sumária, que em determinadas circunstâncias, depende do título
executivo e noutras depende do valor a pagar.
Nas ações sumárias, o processo começa pela penhora, ou seja, o processo nem sequer
inicialmente vai ao juiz. Não existe despacho liminar nem citação prévia, o agente de
execução penhora os bens e em seguida cita o executado para se opor à execução e à
penhora.
Nas ações ordinárias, há lugar a despacho liminar, em regra, o processo via primeiro o juiz
que posteriormente ordena a cotação de executado, para que ele possa opor-se à execução
e apenas depois

3
Sofia Escudeiro

Você também pode gostar