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COMARCA DE CARAGUATATUBA
FORO DE CARAGUATATUBA
3ª VARA CÍVEL
PRAÇA DOUTOR JOSÉ REBELLO DA CUNHA, 73, Caraguatatuba - SP
- CEP 11661-050
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min
SENTENÇA
Tramitação prioritária
Justiça Gratuita
Vistos.
1003767-15.2018.8.26.0126 - lauda 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMARCA DE CARAGUATATUBA
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preliminar, ilegitimidade passiva. No mérito, disse ter adquirido o veículo na loja Silmara
Fernandes Rocco e Cia Ltda, conhecida como Andrômeda Veículos, mas logo após a aquisição
descobriu que o veículo estava com chassi raspado e possuía dívidas de cerca de R$5.000,00
(cinco mil reais), sendo que, em acordo com o marido da proprietária da loja, Sr. Vagner, devolveu
o Palio Weekend em meados de 2010 e adquiriu um Ford Fiesta 2003, ficando a cargo da loja a
transferência da dívida. Como o segundo veículo era mais caro que o primeiro, o réu se
comprometeu em pagar o financiamento do primeiro veículo e as parcelas de financiamento que
recaiam no Ford Fiesta, em nome de Cidalia de Eiros Moura. O acordo foi cumprido pelo réu, que
quitou os dois financiamentos, mas não permaneceu com o Fiat Palio Weekend. Não tinha
conhecimento dos débitos com IPVA ou sabe onde o veículo se encontra. Nunca esteve no tabelião
de notas para transferência do veículo e os débitos são posteriores a sua devolução. Afirmou que
caberia à autora a informação ao DETRAN da venda do veículo e à loja a sua transferência.
Aduziu que a responsabilidade pelos débitos não podem recair sobre si, visto que não tem a
propriedade ou posse do bem. Impugnou a existência de dano moral e o valor pleiteado. Pugnou
pela extinção sem resolução de mérito ou pela improcedência dos pedidos. Juntou procuração e
documentos (fls. 104/130).
Réplica a fls. 133/147.
Instadas as partes a especificarem provas (fls. 166/167), a autora requereu a
produção de prova documental (fls. 169/173) e juntou documentos a fls. 176/183; BV Financeira
pugnou pelo julgamento antecipado (fl. 184); o réu pugnou pela produção de prova oral (fls.
185/186).
Decisão de fls. 187/188 afastou as preliminares e deferiu a produção de prova
documental e oral.
Pedido de habilitação do Banco Votorantim S/A, sucessor de BV Financeira S/A
(fls. 313/396).
Deferida a sucessão processual, bem como a oitiva da proprietária da empresa que
negociou o veículo, designando-se audiência de instrução (fls. 397/399).
Deferido o pedido de bloqueio do veículo, via RENAJUD (fls. 407).
Documentos novos a fls. 426/431.
Em instrução foram ouvidos uma testemunha e um informante do juízo (fls.
441/443 e 469/471). Encerrada a instrução, as partes apresentaram alegações finais a fls. 472/500,
501/507 e 508/510.
É o relatório.
Fundamento e decido.
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documental, a prova oral produzida não pode ser tida como suficiente para acolhimento da tese
defensiva.
Silmara Fernandes Rocco, informante do juízo, disse não saber da negociação.
Não conhece Valdemir e não sabe se devolveu o veículo à loja. Venâncio Félix de Souza disse que
quando o autor comprou o veículo, levou para avaliação da testemunha, que viu que o chassi
estava podre, enferrujado, e orientou a devolvê-lo. Tinha também dívida de multa. Ficou sabendo
que o réu devolveu, trocando com um Ford Fiesta preto. O réu teria entendido que o carnê do
financiamento do Fiat Palio Weekend foi transferido para o Ford Fiesta. O réu pagou o carnê
inteiro. Não se recorda se tinha diferença de valor entre os veículos. O réu não transferiu o veículo.
Depois que devolveu a palio, nunca mais viu o carro. Não foi com o réu na loja. Não viu os
documentos, contratos ou carnês.
A palavra da testemunha, isolada, sem outros elementos que convençam, não traz
credibilidade aos argumentos do réu, e, ainda que se adotasse a tese defensiva, não restaria
excluída a responsabilidade do corréu, como já afirmado.
Embora as normas previstas no Código de Trânsito Brasileiro preconizem a
responsabilidade solidária do antigo proprietário que não comunica, no prazo legal, a transferência
de propriedade do veículo, tais dispositivos não tem o condão de impedir que esse antigo
proprietário comprove posteriormente, por meio idôneo, perante o órgão público encarregado do
registro e licenciamento da administração tributária, que já havia alienado o automóvel antes da
ocorrência que deu ensejo as cobranças.
Essa omissão em promover a comunicação da transferência da propriedade do
veículo induz em presunção relativa de responsabilidade, que deixa de prevalecer quando
comprovada, como no caso, a tradição do bem.
Cumpre destacar que o Colendo Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 585,
limitando a aplicação da responsabilidade solidária prevista no artigo 134 do CTB somente às
penalidades decorrentes de infrações de trânsito, afastando a responsabilização do alienante inerte
no que se refere à cobrança dos tributos:
"A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art.134 do Código
de Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se
refere ao período posterior à sua alienação."
Tal entendimento foi recentemente reiterado no julgamento do RESp 1.667.974
(publicado em 11/04/2018), de relatoria do Ministro Og Fernandes, da Segunda Turma do
Superior Tribunal de Justiça:
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
IPVA. VEÍCULO TRANSFERIDO SEM COMUNICAÇÃO AO ÓRGÃO
COMPETENTE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE
AFASTADA. INAPLICABILIDADE DO ART. 134 DO CTB ÀS RELAÇÕES
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ser estendidas ao banco, que não participou do negócio jurídico de compra e venda, tão somente
possibilitando a negociação, mediante financiamento. Com efeito, não pode ser condenado por
contrato ao qual não anuiu. Neste sentido:
COMPRA E VENDA DE COISA MÓVEL. VEÍCULO
AUTOMOTOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DETERMINAÇÃO PARA
QUE OS RÉUS REGULARIZEM A TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO.
AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, QUE
NÃO PARTICIPOU DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA. FALTA DE
ADOÇÃO DAS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS À REGULARIZAÇÃO DA
TRANSFERÊNCIA POR PARTE DO CORRÉU. RECURSO PROVIDO EM
PARTE. 1. Na época da realização do negócio firmado entre as partes, a pessoa
jurídica de direito privado que comercializa automóvel não era obrigada a
promover a transferência da titularidade do veículo em negócio feito para a
imediata revenda, por não integrar seu ativo fixo, segundo autorização contida
nos artigos 27 e artigo 30 da Portaria nº 1.606/05, então vigentes. Nessa
atividade comercial deveria, apenas, emitir nota fiscal de entrada e, com a
venda, a de saída, iniciando-se, a partir de então, o prazo de trinta dias para o
novo comprador, no caso o réu, realizar tal providência. 2. A autora busca
obter a condenação do réu, que adquiriu o bem logo a seguir e não cuidou de
regularizar a documentação. A omissão do réu se apresenta irrecusável e não
encontra justificativa, de onde advém a sua responsabilidade pelas
consequências respectivas. 3. Por outro lado, a instituição financeira, que
nunca esteve na posse do veículo; apenas financiou o montante necessário para
a respectiva aquisição, não tem responsabilidade pela transferência da
titularidade do bem perante o órgão de trânsito. COMPRA E VENDA DE
COISA MÓVEL. VEÍCULO AUTOMOTOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER. JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA EM RELAÇÃO AO BANCO
RÉU. SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO COM
BASE NO ARTIGO 85, § 8º, DO CPC. VALOR QUE SE APRESENTA
EXCESSIVO. REDUÇÃO DETERMINADA. RECURSO PROVIDO NESSA
PARTE. No caso, a matéria discutida não se mostra complexa e não existiu
maior dificuldade para a realização do trabalho durante a trajetória
processual. Assim, à luz do que estabelece o artigo 85, § 8º, do CPC, impõe-se
reconhecer que o valor de R$ 2.500,00, efetivamente se mostra elevado.
Considerando os parâmetros indicados na mencionada norma, reputa-se mais
razoável o arbitramento da verba honorária em R$ 1.200,00, já considerados os
termos do artigo 85, § 11, do CPC. (TJ-SP - AC: 10031335720158260309 SP
1003133-57.2015.8.26.0309, Relator: Antonio Rigolin, Data de Julgamento:
22/11/2021, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/11/2021)
COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. OBRIGAÇÃO DE FAZER,
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mandado a ser encaminhado pelo autor, juntamente com outros documentos necessários para
transferência, ao Órgão de Trânsito competente.
b) CONDENAR o corréu no ressarcimento dos importes de R$1.464,66 – fl. 33;
R$1.358,31 – fl. 34; R$1.044,83 – fl. 36; R$646,63 – fl. 43 e R$98,54 – fl. 44, corrigidos
monetariamente desde a data do pagamento e acrescidos de juros de 1% da data da citação.
c) CONDENAR o corréu no pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título
de danos morais, corrigido desde a data desta sentença (Súmula n° 362/STJ) e acrescido de juros
da data da citação.
Pela sucumbência, condeno o corréu ao pagamento das custas e despesas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, ressalvado os
benefícios da gratuidade da justiça deferida.
2. JULGO IMPROCEDENTES os pedidos em relação ao corréu Banco
Votorantim S/A, sucessor de BV Financeira S/A.
Pela sucumbência, arcará a autora com as custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 10% do valor atualizado da causa.
Oficie-se ao DETRAN e à Fazenda Estadual, para exclusão do nome da autora do
CADIN, bem como ao Oficial de Protesto, se o caso, para baixa dos protestos, no que se refere a
tributos incidentes sobre o veículo após a data de 08/12/2009.
Sentença publicada nesta data, com a liberação nos autos digitais. Dispensado o
registro, na forma do art. 72, §6º, das N.S.C.G.J.
Oportunamente, dê-se baixa junto ao SAJ encaminhando os autos ao fluxo digital
do arquivo.
Intimem-se.
Caraguatatuba, 19 de julho de 2022.
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