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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE CARAGUATATUBA
FORO DE CARAGUATATUBA
3ª VARA CÍVEL
PRAÇA DOUTOR JOSÉ REBELLO DA CUNHA, 73, Caraguatatuba - SP
- CEP 11661-050
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às17h00min

SENTENÇA

Processo Digital nº: 1003767-15.2018.8.26.0126


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Compra e Venda
Requerente: Mary Georgios Papanikolau Rocha Ribeiro
Requerido: Valdemir Aparecido de Jesus e outro

Tramitação prioritária
Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Walter de Oliveira Junior

Vistos.

MARY GEORGIOS PAPANIKOLAU ROCHA RIBEIRO ajuizou ação de


obrigação de fazer c/c cobrança em face de VALDEMIR APARECIDO DE JESUS e BV
FINANCEIRAS S/A C.F.I. alegando, em síntese, que foi proprietária do veículo Fiat Palio
Weekend Stile, ano/modelo 1998/1998, placas CNC 6946, até vende-lo, financiado pelo banco
réu, ao primeiro réu em 21/12/2009. Ocorre que a autora tem recebido avisos de protesto de
Certidões de Dívida Ativa relativas a IPVA e, verificado se tratar do veículo em questão que não
foi transferido, promoveu o pagamento dos débitos, para evitar maiores prejuízos. Em consulta ao
CADIN Estadual, verificou ainda haver registros de inadimplência relativos aos exercícios de
2015 e 2017. Há gravame inserido junto ao registro do veículo no DETRAN pelo banco réu, o que
o torna corresponsável pela transferência. Requereu tutela de urgência, para que se determine que
os réus efetuem a transferência do veículo, bem como paguem os valores dispendidos, e para
expedição de ofícios ao DETRAN e Fazenda Estadual, para que se abstenham de divulgar débitos
em nome da autora referente ao veículo. Ao final, requereu a confirmação da liminar e a
condenação dos réus a indenizarem os danos morais no importe de R$20.000,00 (vinte mil reais).
Juntou procuração e documentos (fls. 20/44).
A tutela de urgência foi indeferida (fls. 45/47).
BV Financeira ofertou contestação a fls. 59/67. Alegou culpa exclusiva da autora
vendedora, a quem incumbe comunicar a venda ao DETRAN, sendo responsabilidade do banco
apenas o registro do gravame, ainda que não realizada a transferência. A instituição financeira
somente atua na concessão e outorga do crédito, não podendo ser responsabilizada por negócio
jurídico de que não fez parte. Esclareceu que é vedada a baixa do gravame pelo DETRAN se não
houver sido transferido o veículo. Disse não haver falha na prestação do serviço ou ilícito
praticado pelo banco réu. Impugnou a existência de dano moral e o valor pretendido. Pugnou pela
improcedência dos pedidos e, subsidiariamente, pela minoração do valor dos danos morais. Juntou
documentos (fls. 68/80).
Valdemir Aparecido de Jesus apresentou contestação a fls. 91/103. Alegou, em

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preliminar, ilegitimidade passiva. No mérito, disse ter adquirido o veículo na loja Silmara
Fernandes Rocco e Cia Ltda, conhecida como Andrômeda Veículos, mas logo após a aquisição
descobriu que o veículo estava com chassi raspado e possuía dívidas de cerca de R$5.000,00
(cinco mil reais), sendo que, em acordo com o marido da proprietária da loja, Sr. Vagner, devolveu
o Palio Weekend em meados de 2010 e adquiriu um Ford Fiesta 2003, ficando a cargo da loja a
transferência da dívida. Como o segundo veículo era mais caro que o primeiro, o réu se
comprometeu em pagar o financiamento do primeiro veículo e as parcelas de financiamento que
recaiam no Ford Fiesta, em nome de Cidalia de Eiros Moura. O acordo foi cumprido pelo réu, que
quitou os dois financiamentos, mas não permaneceu com o Fiat Palio Weekend. Não tinha
conhecimento dos débitos com IPVA ou sabe onde o veículo se encontra. Nunca esteve no tabelião
de notas para transferência do veículo e os débitos são posteriores a sua devolução. Afirmou que
caberia à autora a informação ao DETRAN da venda do veículo e à loja a sua transferência.
Aduziu que a responsabilidade pelos débitos não podem recair sobre si, visto que não tem a
propriedade ou posse do bem. Impugnou a existência de dano moral e o valor pleiteado. Pugnou
pela extinção sem resolução de mérito ou pela improcedência dos pedidos. Juntou procuração e
documentos (fls. 104/130).
Réplica a fls. 133/147.
Instadas as partes a especificarem provas (fls. 166/167), a autora requereu a
produção de prova documental (fls. 169/173) e juntou documentos a fls. 176/183; BV Financeira
pugnou pelo julgamento antecipado (fl. 184); o réu pugnou pela produção de prova oral (fls.
185/186).
Decisão de fls. 187/188 afastou as preliminares e deferiu a produção de prova
documental e oral.
Pedido de habilitação do Banco Votorantim S/A, sucessor de BV Financeira S/A
(fls. 313/396).
Deferida a sucessão processual, bem como a oitiva da proprietária da empresa que
negociou o veículo, designando-se audiência de instrução (fls. 397/399).
Deferido o pedido de bloqueio do veículo, via RENAJUD (fls. 407).
Documentos novos a fls. 426/431.
Em instrução foram ouvidos uma testemunha e um informante do juízo (fls.
441/443 e 469/471). Encerrada a instrução, as partes apresentaram alegações finais a fls. 472/500,
501/507 e 508/510.

É o relatório.
Fundamento e decido.

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A ação é procedente em relação ao corréu Valdemir e improcedente em relação à


financeira.
Pretende a autora a condenação dos réus na obrigação de fazer, consistente na
transferência do veículo automotor adquirido pelo corréu Valdemir, mediante financiamento
concedido pelo banco réu, e que consta no registro do Detran ainda no nome da autora, além de
assunção de dívidas que recaíram sobre o veículo após a alienação e reparação dos danos morais
sofridos.
No caso em tela, há prova da venda realizada ao corréu Valdemir, conforme se
verifica da certidão de fls. 24/25, consulta de fl. 26 e Cédula de Crédito Bancário de fls. 108/110;
não tendo sido realizada a transferência para seu nome.
Em contestação, Valdemir afirmou efetivamente que houve a aquisição do veículo
em seu nome, inclusive com financiamento bancário, fundamentando a defesa no fato de que teria
devolvido o veículo por vício constatado dias após sua aquisição.
Pois bem. A regra de Direito Civil sobre a alienação de bens móveis é a de que a
propriedade transfere-se com a tradição, a teor do que dispõe o artigo 1.267, do Código Civil.
Por se tratar de bens cuja importância jurídica e repercussão social são relevantes,
criou-se o registro junto ao órgão executivo de trânsito estadual. Dispõe o artigo 134, do CTB:
"No caso de transferência de propriedade, o proprietário
antigo deverá encaminhar ao órgão executivo de trânsito do Estado dentro de um
prazo de trinta dias, cópia autenticada do comprovante de transferência de
propriedade, devidamente assinado e datado, sob pena de ter que se
responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas e suas reincidências
até a data da comunicação."
Da mesma forma, o adquirente tem obrigação legal de transferir para o seu nome o
automóvel adquirido no prazo de trinta dias (art. 123, CTB).
No caso concreto, é ponto incontroverso que o veículo foi entregue ao corréu em
08/12/2009 (fl. 110), de modo que eventuais débitos posteriores a tal data recaem sobre o
comprador.
As alegações trazidas em defesa, de que teria sido devolvido o veículo, com a
aquisição de outro não afastam sua responsabilidade e, ainda, não foram comprovadas nos autos.
Observa-se que não há documento que indique tal distrato. O corréu efetuou o
pagamento total do financiamento que recaiu sobre o veículo Fiat Palio Weekend objeto dos autos.
O suposto pagamento de parcelas do veículo dado na troca, conforme narrado, não encontra
conexão cronológica com os fatos dos autos, pois os boletos de pagamento acostados a fls.
112/122, em nome de terceiro, tem vencimento em muito posterior à aquisição do veículo objeto
dos autos ( a partir de março de 2014), não trazendo verossimilhança na alegação. Ausente prova

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documental, a prova oral produzida não pode ser tida como suficiente para acolhimento da tese
defensiva.
Silmara Fernandes Rocco, informante do juízo, disse não saber da negociação.
Não conhece Valdemir e não sabe se devolveu o veículo à loja. Venâncio Félix de Souza disse que
quando o autor comprou o veículo, levou para avaliação da testemunha, que viu que o chassi
estava podre, enferrujado, e orientou a devolvê-lo. Tinha também dívida de multa. Ficou sabendo
que o réu devolveu, trocando com um Ford Fiesta preto. O réu teria entendido que o carnê do
financiamento do Fiat Palio Weekend foi transferido para o Ford Fiesta. O réu pagou o carnê
inteiro. Não se recorda se tinha diferença de valor entre os veículos. O réu não transferiu o veículo.
Depois que devolveu a palio, nunca mais viu o carro. Não foi com o réu na loja. Não viu os
documentos, contratos ou carnês.
A palavra da testemunha, isolada, sem outros elementos que convençam, não traz
credibilidade aos argumentos do réu, e, ainda que se adotasse a tese defensiva, não restaria
excluída a responsabilidade do corréu, como já afirmado.
Embora as normas previstas no Código de Trânsito Brasileiro preconizem a
responsabilidade solidária do antigo proprietário que não comunica, no prazo legal, a transferência
de propriedade do veículo, tais dispositivos não tem o condão de impedir que esse antigo
proprietário comprove posteriormente, por meio idôneo, perante o órgão público encarregado do
registro e licenciamento da administração tributária, que já havia alienado o automóvel antes da
ocorrência que deu ensejo as cobranças.
Essa omissão em promover a comunicação da transferência da propriedade do
veículo induz em presunção relativa de responsabilidade, que deixa de prevalecer quando
comprovada, como no caso, a tradição do bem.
Cumpre destacar que o Colendo Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 585,
limitando a aplicação da responsabilidade solidária prevista no artigo 134 do CTB somente às
penalidades decorrentes de infrações de trânsito, afastando a responsabilização do alienante inerte
no que se refere à cobrança dos tributos:
"A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art.134 do Código
de Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se
refere ao período posterior à sua alienação."
Tal entendimento foi recentemente reiterado no julgamento do RESp 1.667.974
(publicado em 11/04/2018), de relatoria do Ministro Og Fernandes, da Segunda Turma do
Superior Tribunal de Justiça:
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
IPVA. VEÍCULO TRANSFERIDO SEM COMUNICAÇÃO AO ÓRGÃO
COMPETENTE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO ALIENANTE
AFASTADA. INAPLICABILIDADE DO ART. 134 DO CTB ÀS RELAÇÕES

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JURÍDICO TRIBUTÁRIAS. INFRAÇÕES DE TRÂNSITO. ORIGEM


RECONHECE ILEGITIMIDADE PASSIVA DA FAZENDA. FUNDAMENTO
INATACADO DO ARESTO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF. 1. É inadmissível o
recurso especial quando o acórdão recorrido assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles Súmula 283 do STF). 2. Esta Corte
de Justiça possui o entendimento firmado de que a obrigatoriedade prevista do
art. 134 do CTB, qual seja, a comunicação pelo alienante de veículo sobre a
ocorrência de transferência da propriedade ao órgão de trânsito competente sob
pena de responder solidariamente em casos de eventuais infrações de trânsito,
não se aplica extensivamente ao pagamento do IPVA, pois o imposto não se
confunde com penalidade. 3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, provido."
E seguindo o entendimento firmado por aquela E. Corte Superior, o E. Tribunal de
Justiça de São Paulo, através de seu Órgão Especial, na Arguição de Inconstitucionalidade nº
0055543-95.2017.8.26.0000, Rel. Desembargador Alex Zilenovski, julgada em 11.4.2018 proferiu
decisão ementada nos seguintes termos:
"ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. Artigo 6º, inciso
II, da Lei 13.296, de 23 de dezembro de 2008, do Estado de São Paulo, que atribui
responsabilidade tributária ao ex-proprietário de veículo automotor para o
pagamento de IPVA. O dispositivo em comento constitui novo fato gerador do
tributo para terceiro que sequer integra a relação tributária. Violação dos artigos
146, III, alínea "a", 150, inciso IV, 155, inciso III, todos da Constituição Federal,
ao art. 121, inciso II, do Código Tributário Nacional, bem como ao art.1.228, do
Código Civil. Incidente procedente. - Artigo 6º, inciso II, da Lei Estadual nº
13.296/2008, de São Paulo, que dispõe que "são responsáveis pelo pagamento do
imposto e acréscimos legais o proprietário de veículo automotor que o alienar e
não fornecer os dados necessários à alteração no Cadastro de Contribuintes do
IPVA no prazo de 30 (trinta) dias, em relação aos fatos geradores ocorridos entre
o momento da alienação e o do conhecimento desta pela autoridade responsável".
- O artigo 134, do Código de Trânsito Brasileiro atribui responsabilidade
semelhante à da norma impugnada, ex vi: "No caso de transferência de
propriedade, o proprietário antigo deverá encaminhar ao órgão executivo de
trânsito do Estado dentro de um prazo de trinta dias, cópia autenticada do
comprovante de transferência de propriedade, devidamente assinado e datado,
sob pena de ter que se responsabilizar solidariamente pelas penalidades impostas
e suas reincidências até a data da comunicação". - Não obstante a semelhança
entre os dispositivos, cumpre trazer à baila, recente jurisprudência do E. Superior
Tribunal de Justiça que sumulou o entendimento de que o artigo 134, do CTB não
se aplica às relações tributárias. - "Súmula nº 585: A responsabilidade solidária

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do ex proprietário, prevista no artigo 134, do Código de Trânsito Brasileiro CTB,


não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor, no que se refere ao
período posterior à sua alienação".
Nesse sentido:
"APELAÇÃO - AÇÃO COMUM - IPVA Transferência de veículo
sem a devida comunicação ao órgão de trânsito Inteligência do art. 134 do CTB
Responsabilidade solidária do antigo proprietário do veículo que se limita a
penalidades, excluindo-se quaisquer débitos tributários Súmula nº 585 do STJ
Precedente do STJ Art. 6º, caput e II, da Lei Estadual nº 13.296/08.
Reconhecimento de inconstitucionalidade no bojo da Arguição de
Inconstitucionalidade nº 0055543- 95.2017.8.26.0000 Conjunto probatório que
demonstra já constar, desde antes do fato gerador do tributo, dos registros do
DETRAN, a alienação do bem em virtude de inclusão de intenção de gravame
Observação que supre a necessidade de comunicação formal Dano moral Não
configuração - Inocorrência de prejuízo ou ofensa à imagem e à honra do autor
Mero dissabor insuscetível de indenização Sentença parcialmente reformada
Disciplina sucumbencial realinhada Recurso parcialmente provido. (TJSP;
Apelação1003616-96.2015.8.26.0597; Relator (a): Marcos Pimentel Tamassia;
Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Público; Foro de Sertãozinho - 2ª Vara
Cível; Data do Julgamento:11/09/2018; Data de Registro: 12/09/2018).
"O revendedor de veículo que adquire o bem para
comercialização é responsável por regularizar a cadeia registral do bem no órgão
de trânsito (CTB, art. 134), ainda que limitado à comunicação do fato ao órgão
registral com fundamento no art. 31 da Resolução n. 1606/05 do DETRAN" (TJSP
36ª Câmara de Direito Privado Apelação nº 0002602-39.2013.8.26.0347 Rel. Des.
Milton Carvalho julgado em 27/08/2015).
Assim, no caso concreto, a par da responsabilidade da parte ré pelo pagamento dos
valores incidentes sobre o veículo, os tributos lançados sobre o bem não devem ser lançados em
nome da autora, de modo que se mostram inexigíveis.
Com efeito, se o fato gerador do tributo é a propriedade do veículo automotor e
este foi alienado, não pode o Estado exigir a exação de quem não mantém mais a qualidade de
sujeito passivo.
Quanto ao dano material, pelo pagamento dos valores de IPVA protestados após a
alienação, dos valores ditos pagos pela autora, observa-se que restaram comprovados os valores de
R$1.464,66 – fl. 33; R$1.358,31 – fl. 34; R$1.044,83 – fl. 36; R$646,63 – fl. 43 e R$98,54 – fl. 44.
Tais valores devem ser ressarcidos pelo corréu, acrescidos de correção monetária da data do
pagamento e de juros a contar da citação.
Tanto a obrigação de fazer quanto a obrigação tributária, no entanto, não podem

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ser estendidas ao banco, que não participou do negócio jurídico de compra e venda, tão somente
possibilitando a negociação, mediante financiamento. Com efeito, não pode ser condenado por
contrato ao qual não anuiu. Neste sentido:
COMPRA E VENDA DE COISA MÓVEL. VEÍCULO
AUTOMOTOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DETERMINAÇÃO PARA
QUE OS RÉUS REGULARIZEM A TRANSFERÊNCIA DO VEÍCULO.
AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, QUE
NÃO PARTICIPOU DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA. FALTA DE
ADOÇÃO DAS PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS À REGULARIZAÇÃO DA
TRANSFERÊNCIA POR PARTE DO CORRÉU. RECURSO PROVIDO EM
PARTE. 1. Na época da realização do negócio firmado entre as partes, a pessoa
jurídica de direito privado que comercializa automóvel não era obrigada a
promover a transferência da titularidade do veículo em negócio feito para a
imediata revenda, por não integrar seu ativo fixo, segundo autorização contida
nos artigos 27 e artigo 30 da Portaria nº 1.606/05, então vigentes. Nessa
atividade comercial deveria, apenas, emitir nota fiscal de entrada e, com a
venda, a de saída, iniciando-se, a partir de então, o prazo de trinta dias para o
novo comprador, no caso o réu, realizar tal providência. 2. A autora busca
obter a condenação do réu, que adquiriu o bem logo a seguir e não cuidou de
regularizar a documentação. A omissão do réu se apresenta irrecusável e não
encontra justificativa, de onde advém a sua responsabilidade pelas
consequências respectivas. 3. Por outro lado, a instituição financeira, que
nunca esteve na posse do veículo; apenas financiou o montante necessário para
a respectiva aquisição, não tem responsabilidade pela transferência da
titularidade do bem perante o órgão de trânsito. COMPRA E VENDA DE
COISA MÓVEL. VEÍCULO AUTOMOTOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER. JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA EM RELAÇÃO AO BANCO
RÉU. SUCUMBÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO COM
BASE NO ARTIGO 85, § 8º, DO CPC. VALOR QUE SE APRESENTA
EXCESSIVO. REDUÇÃO DETERMINADA. RECURSO PROVIDO NESSA
PARTE. No caso, a matéria discutida não se mostra complexa e não existiu
maior dificuldade para a realização do trabalho durante a trajetória
processual. Assim, à luz do que estabelece o artigo 85, § 8º, do CPC, impõe-se
reconhecer que o valor de R$ 2.500,00, efetivamente se mostra elevado.
Considerando os parâmetros indicados na mencionada norma, reputa-se mais
razoável o arbitramento da verba honorária em R$ 1.200,00, já considerados os
termos do artigo 85, § 11, do CPC. (TJ-SP - AC: 10031335720158260309 SP
1003133-57.2015.8.26.0309, Relator: Antonio Rigolin, Data de Julgamento:
22/11/2021, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/11/2021)
COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. OBRIGAÇÃO DE FAZER,

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COM PEDIDO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS. AUSÊNCIA DE


TRANSFERÊNCIA DO BEM PELO COMPRADOR. AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DA FINANCEIRA, ACERCA DA TRANSFERÊNCIA DO
BEM E DOS DÉBITOS SOBRE ELE INCIDENTES. CIRCUNSTÃNCIA A SER
IMPOSTA AO COMPRADOR-PROPRIETÁRIO DO BEM. AÇÃO
PARCIALMENTE PROCEDENTE. SENTENÇA PARCIALMENTE MANTIDA.
Apelação provida. (TJ-SP 30012424320138260080 SP
3001242-43.2013.8.26.0080, Relator: Cristina Zucchi, Data de Julgamento:
24/07/2018, 34ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/07/2018)
AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. Cédula de crédito
bancário emitida para financiamento de veículo. Alegação de inércia da
instituição financeira na transferência do veículo para o nome da emitente.
Responsabilidade da compradora do veículo. Não demonstrada impossibilidade
de fazê-lo. Pretensão de desfazimento do negócio, com a restituição das
parcelas pagas. Impossibilidade. Ausência de descumprimento contratual pelo
réu. Sentença mantida. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-SP - AC:
10003602320218260505 SP 1000360-23.2021.8.26.0505, Relator: Fernando
Sastre Redondo, Data de Julgamento: 25/04/2022, 38ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 25/04/2022)
Quanto à indenização por dano moral, tratando-se de protesto indevido, cuja causa
é imputável ao réu, que não promoveu a devida transferência do veículo, o dano se presume, sem a
necessidade de produção de provas nesse sentido.
Tendo em vista o arbitramento da indenização por danos morais deve ser feito
com moderação e de modo razoável, mantendo-se fiel ao seu objetivo que é compensar o
constrangimento sofrido pela vítima e prevenção de novas condutas semelhantes, sem tornar-se
fonte de enriquecimento ilícito, arbitro a indenização a título de danos morais, no presente caso,
em R$ 5.000,00, valor suficiente para compensar a lesão moral sofrida pelo autor.
Ressalto mais uma vez, no que tange ao banco réu, esse não pode responder por
ato imputável somente ao corréu Valdemir.
Ante o exposto, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil:
1. JULGO PROCEDENTES os pedidos em relação ao corréu Valdemir
Aparecido de Jesus, para:
a) CONDENAR o corréu a proceder o necessário para a transferência do veículo
objeto dos autos junto aos órgãos de trânsito no prazo de 30 dias, sob pena de multa diária de
R$100,00 limitada a 30 dias, arcando com os custos correspondentes que incluem o valor relativo
ao licenciamento, IPVAs, seguros obrigatórios e eventuais multas desde a data da entrega do
automóvel. Decorrido o prazo para a transferência, servirá a presente sentença de ofício e

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mandado a ser encaminhado pelo autor, juntamente com outros documentos necessários para
transferência, ao Órgão de Trânsito competente.
b) CONDENAR o corréu no ressarcimento dos importes de R$1.464,66 – fl. 33;
R$1.358,31 – fl. 34; R$1.044,83 – fl. 36; R$646,63 – fl. 43 e R$98,54 – fl. 44, corrigidos
monetariamente desde a data do pagamento e acrescidos de juros de 1% da data da citação.
c) CONDENAR o corréu no pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título
de danos morais, corrigido desde a data desta sentença (Súmula n° 362/STJ) e acrescido de juros
da data da citação.
Pela sucumbência, condeno o corréu ao pagamento das custas e despesas
processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, ressalvado os
benefícios da gratuidade da justiça deferida.
2. JULGO IMPROCEDENTES os pedidos em relação ao corréu Banco
Votorantim S/A, sucessor de BV Financeira S/A.
Pela sucumbência, arcará a autora com as custas processuais e honorários
advocatícios fixados em 10% do valor atualizado da causa.
Oficie-se ao DETRAN e à Fazenda Estadual, para exclusão do nome da autora do
CADIN, bem como ao Oficial de Protesto, se o caso, para baixa dos protestos, no que se refere a
tributos incidentes sobre o veículo após a data de 08/12/2009.
Sentença publicada nesta data, com a liberação nos autos digitais. Dispensado o
registro, na forma do art. 72, §6º, das N.S.C.G.J.
Oportunamente, dê-se baixa junto ao SAJ encaminhando os autos ao fluxo digital
do arquivo.
Intimem-se.
Caraguatatuba, 19 de julho de 2022.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

1003767-15.2018.8.26.0126 - lauda 9

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