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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA de Sumaré
FORO DE SUMARÉ
VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL
RUA ANTONIO DE CARVALHO, N.º 170, SUMARÉ - SP - CEP
13170-220

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1007027-82.2022.8.26.0604 e código 108547CE.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1007027-82.2022.8.26.0604


Classe - Assunto Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública - CNH - Carteira
Nacional de Habilitação
Requerente: Edivaldo Pinheiro de Almeida
Requerido: DETRAN - DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO - SÃO
PAULO e outros

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROBERTA STEINDORFF MALHEIROS, liberado nos autos em 11/12/2023 às 09:35 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). ROBERTA STEINDORFF MALHEIROS

Vistos.

Afasta-se a preliminar de ilegitimidade passiva do DETRAN, pois é dele a


atribuição legal de conduzir os procedimentos para aplicação de multas, emitir notificações e
armazenar dados relativos ao cometimento de ilícitos de trânsito.

Desta maneira, possui autoridade para determinar a transferência de penalidade


decorrente dos autos de infrações na hipótese da ação ser julgada procedente.

No mérito, a ação é procedente em parte.

Narra o autor que no dia 05/10/2021, através de negociação intermediada pelo


terceiro Ricardo Gallo Antunes dos Santos, alienou o veículo I/BMW, placa BMW7D96, para o
réu, mediante entrada de 24 cheques no valor de R$ 1.850,00 cada um e quitação remanescente no
final do ano.

Todavia, alega que foi surpreendido com a devolução dos cheques por
insuficiência de fundos, como também pela ausência de transferência do veículo para o nome do
comprador. Diz mais, que lavrou boletim de ocorrência e ativou bloqueio administrativo do
veículo, o qual foi recuperado/retomado meses depois, em 12/05/2022.

Reclama, contudo, que no período em que o veículo esteve nas mãos do réu, teve
indevidamente inserido em seu prontuário de motorista 101 pontos oriundos de infrações de
trânsito, cuja transferência para o nome do requerido busca nesta via. Pretende também o
cancelamento da comunicação de venda do veículo.

Ofertada contestação, nega o réu Leonardo Scomparim da Silva tivesse adquirido


o veículo do autor. Alega a seu favor, em síntese, que teve seu nome envolvido indevidamente
pelo terceiro Ricardo Gallo na compra de outros veículos e financiamentos bancários, nada
obstante tivesse inicialmente ajustado com ele contrato de compra e venda de uma caminhonete
Amarok, sem êxito.

E a versão do réu de que não adquiriu o veículo ganha foro de verossimilhança, na


medida em que inexiste nos autos contrato de compra e venda do veículo assinado pela partes.

Igualmente, inexiste assinatura do comprador do bem no documento na


autorização de transferência de propriedade do veículo fl. 361. Consta tão somente a assinatura do
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RUA ANTONIO DE CARVALHO, N.º 170, SUMARÉ - SP - CEP
13170-220

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vendedor, ora autor, reconhecido pelo 1º Tabelião de Notas de Sumaré.

E a própria testemunha do autor ouvida em juízo, Marcelo Adriano de Souza Sá,


noticia que não celebrou contrato de compra e venda com o réu. Afirmou em seu depoimento que
o réu esteve presente em sua loja junto com a pessoa do terceiro Ricardo para adquirir outro
veículo, de marca Audi. Diz que na compra do veículo BMW do autor, o réu não estava presente,
tendo recebido os documentos para preenchimento do recibo de venda das mãos de Ricardo.

Desses desses elementos circunstanciais dos autos associado à ausência de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROBERTA STEINDORFF MALHEIROS, liberado nos autos em 11/12/2023 às 09:35 .
procuração de terceiro para transigir em nome do comprador se extrai ilação que o réu não
adquiriu/recebeu o veículo do autor e, portanto, nunca foi proprietário do bem.

Por outro lado, o boletim de ocorrência elaborado fls. 14/16 é omisso sobre quem
conduzia o veículo BMW no momento da sua localização/apreensão pelo autor e nos documentos
juntados e testemunhas ouvidas a omissão não foi suprida.

E nenhuma das multas aplicadas em desfavor do autor consta que o infrator tenha
sido identificado na pessoa do réu. Nesse sentido, aliás, a contestação do Departamento de
Estradas de Rodagem que afirma ter o proprietário do veículo deixado transcorrer in albis o prazo
para indicação do condutor infrator, conferir fls. 41/51.

Em sendo assim, não há como imputar as infrações de trânsito ao réu, seja porque
não identificado pela autoridade de trânsito como condutor infrator de veículo, seja porque não
proprietário do bem. Inteligência do art. 257 do código de trânsito.

Entretanto, observo que o autor também não pode ser prejudicado com o
lançamento da pontuação reclamada para o seu nome, notadamente porque demonstrou com o
documento de venda do veículo, ainda que revestido de fraude, haver de boa-fé alienado o
bempara o suposto comprador. Perceba que o autor foi diligente e compareceu junto ao tabelião de
notas da cidade para comunicar a venda do veículo, cumprindo a obrigação que lhe cabia disposta
no art. 134 do CTB.

Sabe-se no direito pátrio a comunicação junto aos órgãos de trânsito é o marco


divisor de responsabilidade entre o antigo e o atual proprietário do veículo pelo pagamento das
multas e impostos, segundo a dicção do artigo 134 do Código de Trânsito.

Em comentário a esse artigo, Arnaldo Rizzardo ensina: “a obrigatoriedade de


comunicação ao órgão de trânsito impõe-se para fins não apenas de atualização de cadastros,
mas especificamente para firmar a responsabilidade pelas comunicações por infrações.(...).
Entrementes, uma vez formalizada a comunicação, com a decorrente averbação perante o
registro, a exigibilidade ocorrerá junto ao adquirente, a menos que prove este não corresponder
à realidade a transferência.” (Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro 6° ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, pg.322.)

Adotou-se o critério de validade da transferência do veículo a partir do registro no


Órgão Executivo de Trânsito do Estado como limite divisor da responsabilidade.

Nessa lógica, comunicada a tempo e a hora a venda do automóvel pelo Cartório de


Sumaré à Secretaria da Fazenda na forma do Decreto 60489/14, o que se tem é que as multas de
trânsito vinculadas ao veículo I/BMW, placa BMW7D96, no período de 05/10/2021 até
12/05/2022, não poderiam figurar no nome do antigo proprietário, tendo a Administração Pública
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RUA ANTONIO DE CARVALHO, N.º 170, SUMARÉ - SP - CEP
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1007027-82.2022.8.26.0604 e código 108547CE.
consignado incorretamente a pontuação na carteira de habilitação do autor.

Destarte, não tendo havido ajuste de compra e venda de automóvel entre as partes,
acolhe-se o pedido do autor para cancelamento da comunicação de venda do veículo ativada em
nome do réu.

Posto isso e por tudo mais que dos autos constam JUGA-SE PROCEDENTE EM
PARTE a ação para condenar o réu DETRAN a retirar os pontos constantes da CNH do autor,
provenientes de infrações de trânsito cometidas com o veículo I/BMW 328I, ano 2013/2014, placa

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BMW7D96, no período de 05/10/2021 (data da venda) até a data de 12/05/2022 (data da
apreensão/localização. No mesmo prazo, condena-se o réu DETRAN a cancelar a comunicação de
venda do veículo I/BMW 328I, ano 2013/2014, placa BMW7D96 ativada em nome do réu
Leonardo Scomparim da Silva. Sem custas, despesas processuais e honorários de advogado nos
termos do art. 55 da lei 9099/95.

Ficam as partes intimadas que o prazo para interpor eventual recurso é de 10 (dez)
dias contados da publicação da sentença em audiência ou, se for o caso, da data de recebimento da
intimação pelo correio, pela imprensa oficial ou por outro meio idôneo de comunicação, conforme
dispõe o artigo 42 da Lei 9099/95. O preparo, sob pena de deserção, será efetuado,
independentemente de intimação, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à interposição do
recurso e deverá ser pago na forma do comunicado CG 489/2022 disponibilizado no DJE de
03/08/2022 à pág. 12. “No sistema dos Juizados Especiais, em caso de interposição do Recurso
Inominado, deverá ser elaborada certidão antes da remessa dos autos ao Colégio Recursal.
Ressalvada a hipótese de concessão de gratuidade da justiça, o preparo corresponderá: a) à taxa
judiciária de ingresso, de 1,5% sobre o valor atualizado da causa, observado o valor mínimo de 5
(cinco) UFESPs; O valor mínimo desta parcela “a” corresponde a 05 UFESPs é de R$ 171,30 até
31/12/2023 conforme disposto na LEI N° 17.785, DE 03 DE OUTUBRO DE 2023, publicada no
DJE de 10/10/2023 à pág. 07; b) à taxa judiciária referente às custas de preparo, no importe de 4%
sobre o valor ?xado na sentença, se líquido, ou sobre o valor ?xado equitativamente pelo MM.
Juiz de Direito, se ilíquido ou ainda 4% sobre o valor atualizado atribuído à causa na ausência de
pedido condenatório, observado o valor mínimo de 5 (cinco) UFESPs,a ser recolhida na guia
DARE, sendo o valor mínimo desta parcela também correspondente a 5 UFESP (R$ 171,30 até
31/12/2023); c) às despesas processuais referentes a todos os serviços forenses eventualmente
utilizados (despesas postais, diligências do O?cial de Justiça, taxas para pesquisas de endereço nos
sistemas conveniados, custas para publicação de editais etc.), a serem recolhidas na guia FEDTJ, à
exceção das diligências de O?cial de Justiça, que deverão ser colhidas na guia GRD. O preparo
será recolhido de acordo com os critérios acima estabelecidos independente de cálculo elaborado
pela serventia que apenas será responsável pela conferência dos valores e elaboração da certidão
para juntada aos autos MAIS D) Porte de remessa e retorno dos autos = 1,672 por volume (este
valor deverá ser recolhido na GUIA FEDTJ CÓDIGO 110-4) no casos de autos físicos. Em
processos digitais não há cobrança de despesas de porte de remessa e retorno dos autos, já que se
trata de transmissão integralmente eletrônica. Os valores a serem recolhidos deverão estar
devidamente atualizados para atendimento ao Comunicado CG 489/2022 disponibilizado no DJE
de 03/08/2022 à pág. 12.

P.I.C.
Sumaré, 04 de dezembro de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
1007027-82.2022.8.26.0604 - lauda 3

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