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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE


SENADOR GUIOMARD DO ESTADO DO ACRE

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por NAIKA ANDREA SILVA TEIXEIRA, protocolado em 24/05/2016 às 17:00 , sob o número WEB916070012828 .
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjac.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0000402-94.2016.8.01.0009 e código 140DA73.
Embargos à Execução n° 0000402-94.2016.8.01.0009

ROZILDO DE SOUZA LIMA, já qualificado nos autos do embargos à execução fiscal


promovida pelo INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS - IBAMA, por sua advogada, comparece respeitosamente perante Vossa
Excelência, em atendimento ao despacho de fls. 98, para expor e ao final requere o que segue.

I – DAS ALEGAÇÕES DO EMBARGADO

O embargado apresentou manifestação aos embargos à Execução Fiscal alegando que


o embargante teve acesso aos autos do processo administrativo que ensejou na multa e por
consequência na inscrição de dívida ativa e, por isso, inadmissível o argumento de cerceamento
de defesa.

Na mesma linha, aduz que o embargante era conhecedor da existência do processo


administrativo pois requereu medidas alternativas para afastar a imposição de possível multa.

Todavia Excelência, como se pode notar nos documentos anexos aos autos, essas
manifestações se deram de maneira informal pelo embargante, HAJA VISTA NUNCA TER SIDO
NOTIFICADO PARA APRESENTAR DEFESA, só tendo conhecimento da decisão definitiva que
ensejou na inscrição em dívida ativa com o bloqueio em sua conta bancária de valores que
economizava para pagar empréstimos bancários.
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Sabe-se que a Administração Pública quando se trata de procedimento administrativo


deve agir dentro do estipulado na Lei 9.784/99, a qual não deixa dúvidas quanto a necessidade
de notificação das decisões, o que foi frontalmente violado, já que o autuado JAMAIS FOI
NOTIFICADO DA DECISÃO FINAL DO PROCESSO ADMINISTRATIVO, unicamente vindo a ter

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conhecimento com a penhora de valores em sua conta bancária, no curso da execução fiscal da
dívida em processo judicial que também correu a sua revelia, e, curiosamente, o aviso de
cobrança, de fls. 35, em nome do requerente, está assinado por um tal de “Carlos”, com data de
01/12/06, configurando explicita afronta ao direito Constitucional de Contraditório e Ampla
defesa.

É notório a ilegalidade ocorrida no procedimento administrativo, posto que o IBAMA


proferiu decisão pela manutenção do auto de infração aplicando a multa, sem intimar o suposto
infrator/embargado para tomar ciência de tal decisão, impedindo assim sua defesa e possíveis
recursos, ocasionando-lhe prejuízos imensuráveis.

Não há como negar a afronta ao princípio legal do contraditório e ampla defesa


ocorrido no caso em comento, a falta de fundamentação na decisão e a ausência da intimação
prejudicaram demasiadamente o embargado, uma vez que, se tivesse tomado ciência
apresentaria, no prazo, recurso ou pagaria a multa.

Assim, a ausência da intimação configura, nitidamente cerceamento de defesa, e por


consequência gera a nulidade do auto de infração, uma vez que impediu o interessado de se
defender.

Não obstante, alega ainda o embargado que a decisão através do Parecer n° 135/04
demonstra que foi apreciado os pedido alternativos apresentado pela embargante, porém,
como na mesma citação apresentada, é notório a necessidade de notificação e orientação do
interessado, corroborando com o entendimento do embargante.

Parecer n° 135/2004 – “ocorre que o autuado nada menciona quanto a


necessária recuperação do dano ambiental, já que desmatou em área de
reserva legal da propriedade, ato este, que deve obrigatoriamente ser
reparado, pretendendo-se tão somente na possibilidade de conversão em
serviços diretos, benefício que, no presente caso, mostra-se inadequado a
espécie.
Pelo exposto, opinamos pelo indeferimento da proposta de acordo nos
termos propostos, devendo o requerente ser notificado e orientado sobre a
necessidade em que poderá ser oportunizado a redução prevista no § 3°, do
art. 60, do Decreto n° 3179/99. (grifo nosso)
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II – DA AUSENCIA DE MANIFESTAÇÃO

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Nota-se Excelência, que em momento algum na manifestação aos embargos,
apresentou o embargado documentos comprobatórios de suas alegações, não se
desincumbindo do ônus de provar. Manteve-se silente sobre os vícios apontados constantes no
Auto de Infração, restando a matéria confessa.

Foram apontadas inumeradas inconsistências, vícios gravíssimos, que por si só


invalidam o auto de infração, que sinteticamente novamente demonstraremos.

II.i – DA AREA DE RESERVA LEGAL

O fiscal ambiental errou na lavratura do AI ao descrever o dano como sendo desmate


em reserva legal, sem explicitar onde fica a reserva legal na propriedade, classificou a área de
desmate como sendo reserva legal, porém, não esclareceu onde fica a área dentro da
propriedade do requerente, logo, deve o proprietário respeitar a reserva legal, podendo
desmatar o restante da área a fim de dar consequência à função social da propriedade. Porém,
não havia na área do requerente qualquer demarcação de onde seria a reserva legal e não
poderia o agente público apelidar a área desmatada de “reserva legal”.

Nada cita em sua manifestação acerca do parecer técnico as fls., que alertou para a
falha, questionando a tal “reserva legal” afirmando ser necessário “mapa geral da propriedade”,
confirmando ser necessário tal informação para a instrução do processo administrativo.

Logo, sendo a área do requerente é de 68,3845 ha, pelas normas atuais, poderia haver
o desmate de 13,67 há, desconfigurando a autuação, haja vista a impossibilidade de se mensurar
o local desmatado.

II. ii DO ERRO DE CÁLCULO DA MULTA

O valor atribuído a multa foi aplicado sem observância a legislação pertinente, já que
pela simples leitura do artigo 38 do Decreto 3.179/99 não deixa dúvidas que o valor da multa
em se tratando de 13,920 ha, se aplicados os valores máximos, chegaria no máximo R$ 4.200,00
(330x13,92), e NÃO R$ 14.000,00 (quatorze mil reais) !!!!!!
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Dessa forma, o IBAMA de maneira ARBITRÁRIA e ILEGAL estipulou multa exorbitante,


aleatoriamente, sem quaisquer fundamentos, razão pela qual, gera inconsistência no AI e sua
respectiva nulidade, cujo valor, se prevalecer, é maior que o pago pelo autuado pela própria
propriedade, conforme recibo de fls. 15, caracterizando confisco, desapropriação sem

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pagamento.

Ao citar o artigo de lei que trata-se de exploração erra o cálculo aritmético da multa,
não restando dúvidas quanto a inconsistência da autuação e, portanto, INEXIGIBILIDADE DE
TÍTULO, ficando evidenciado, no mínimo, o excesso na execução, já que o cálculo efetuado pela
administração pública foi arbitrária, sendo calculado valor acima do estipulado em lei.

Dessa forma, entendemos que o erro na imputação da multa, por si só, gera a evidente
INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO, FERINDO DE MORTE A CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA, que deixa de
ser executável, ocasionando a anulação do processo administrativo e por consequência a
execução judicial.

II.iii - DA NULIDADE POR FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO E AFRONTA AO PRINCÍPIO DA


PROPORCIONALIDADE

Sabe-se que os pareceres técnicos não tem o condão de vincular na decisão de outro
setor, porém, a decisão da Procuradoria Jurídica do IBAMA, limitou-se a analisar o último pedido
do interessado, não mencionando sequer os posicionamentos dos outros setores que instruíam
os autos do processo administrativo.

Não obstante a tal irregularidade, a decisão infundada gerou ainda imposição de


multa desproporcional com o procedimento estabelecido por lei, haja vista que o administrado
tem direito à pena de advertência, não como um ato de benevolência da administração para
com ele, mas como uma oportunidade de correção de supostas infrações cometidas. O art. 72,
§ 3° da Lei 9.605/98 não deixa qualquer margem de dúvida quanto a isso:

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes


sanções, observado o disposto no art. 6º:
§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por
negligência ou dolo:
I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de
saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou
pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da
Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.
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A multa somente pode ser aplicada após o administrado ser advertido por
irregularidades, conferindo-se a ele a oportunidade de saná-las em prazo razoável. No caso dos

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autos, se infração houvesse, seria perfeitamente sanável, através da reposição da cobertura
arbórea eventualmente suprimida ou mesmo através da lavratura de um Termo de Ajustamento
de Conduta – TAC, em que se fizesse a compensação ambiental, nos termos do art. 15 do
Decreto Municipal 42.833/03 (doc. 20).

Como aliás manifestou-se a Câmara Técnica em seu relatório as fls. 16 e 17 do processo


administrativo, e a Comissão de Acompanhamento de TAC’s as fls. 21, ambas se posicionando
no sentido da possibilidade de ser firmado Termo de Ajustamento de Conduta junto ao suposto
infrator. O QUE FOI TOTALMENTE DESCONSIDERADO NA DECISÃO FINAL DO AUTO DE
INFRAÇÃO !!!!

Logo os atos da administração infringe outro princípio constitucional o da


proporcionalidade, vale dizer, da correspondência entre a conduta infratora e a sanção aplicada.
Esse princípio é unanimemente acolhido na doutrina e na jurisprudência e decorre da própria
finalidade das sanções administrativas. Significa que sanções desproporcionais implicam em
desvio de finalidade, comportamento vedado pela Constituição Federal.

Como se não bastasse a ausência de apreciação do posicionamento técnico que


possibilitava a assinatura do Termo de Ajustamento de conduta, aplicou o fiscal ambiental
multa no valor de R$ 14.000,00 (quatorze mil reais), sendo que não soube definir prontamente
a área que afirmou ser degradada, impossibilitando calcular o valor para aplicar tal multa, já que
nem a definição da área de reserva legal mensurou, como definir qual área estava sendo
desmatada ilegalmente?

Diante das alegações manifestadas na impugnação aos embargos à execução, resta


claro a improcedência da matéria debatida, bem como da incidência de CONFISSÃO na matéria
não impugnada, nos termos do artigo 341 do Código de Processo Civil.

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre


as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se
verdadeiras as não impugnadas, salvo se:
I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato;
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III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu


conjunto. (grifo nosso)

III - DOS PEDIDOS

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Face a todo o supra articulado, requer a V. Exa. Sejam julgados procedentes os pedidos
nos termos dos Embargos à execução.

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio Branco - Acre, 24 de maio de 2016.

Naika Andréa Silva Teixeira


OAB-AC 3.998

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