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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
5ª VARA CÍVEL

SENTENÇA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1012941-72.2022.8.26.0008 e código 141E6FA6.
Processo nº: 1012941-72.2022.8.26.0008 - Procedimento Comum Cível
Requerente: Tâmara Cristina dos Santos
Requerido: BANCO ITAU BBA S.A.

Justiça Gratuita

CONCLUSÃO
Em 07 de julho de 2023, faço estes autos conclusos ao(à) MM(ª). Juiz(a) de Direito, Dr(a).
MARCIA CARDOSO da 5ª Vara Cível do Foro Regional Tatuapé. Eu, Fábio William
Guedes Silva, Assistente Judiciário, digitei.

Vistos.
Trata-se de “ação de restituição de valores pagos após a venda

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARCIA CARDOSO, liberado nos autos em 08/07/2023 às 18:29 .
extrajudicial do bem” ajuizada por TAMARA CRISTINA DOS SANTOS em face de
BANCO ITAÚ BBA S/A. A autora alega, em síntese, que em 10/02/2010, firmou com a
ré o contrato de arrendamento mercantil sob nº 82602-44342269, no qual se ajustou o
arrendamento do veículo, Chevrolet/Celta, placas EMS-0867. Pelo aluguel do bem
arrendado, obrigou-se a pagar 60 (sessenta) parcelas mensais, no valor de R$ 601,93 cada
uma, resultado da soma do VRG (R$349,50) com a contraprestação (R$ 252,43), com
início em 10/03/2010 e término em 10/02/2015. Em 01/11/2013 houve aditamento
contratual, passando a 40 parcelas de R$370,03 (sendo R$113,58 de VRG e R$256,45
contraprestação). Devido a problemas financeiros a autora deixou de pagar a
contraprestação vencida a partir de 10/08/2014, o que ensejou na ação de reintegração de
posse. A liminar foi cumprida em 30/08/2014. A título de Valor Residual Garantido
(VRG) a autora efetuou o pagamento de 47 parcelas do contrato original, no valor de
R$349,50 cada, mais 8 parcelas do aditamento no valor de R$113,58 cada, totalizando o
valor histórico de R$17.335,14. Afirma que faz jus ao saldo credor resultante da soma do
produto da venda do bem mais os valores pagos a título de VRG com o valor existente na
Tabela FIPE menos o valor do VRG contratualmente estabelecido. Requer a gratuidade da
justiça, a declaração de nulidade das cláusulas contratuais que estipulam a perda do VRG
pago, bem como impõem o pagamento de juros cumulados com comissão de permanência,
constantes do contrato de arrendamento, a apresentação da nota fiscal de venda do bem, a
condenação do réu a restituir o saldo credor resultante da soma do produto da venda dos
bens (tabela FIPE) mais os valores pagos a título de VRG, menos o VRG contratualmente
estabelecido.
Deferida a gratuidade da justiça à autora (fls. 71).

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Em contestação (fls. 96/105), o réu alega disserta sobre o


inadimplemento contratual da autora, operação de leasing e VRG, forma de devolução do

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VRG, exercício regular de direito, ausência de comprovação de dano material da parte
autora. Requer a improcedência dos pedidos.
Réplica a fls. 119/127.
Não requerida a produção de provas (fls. 131 e 132).
É o relatório.
Fundamento e decido.
O feito comporta julgamento antecipado do mérito, nos termos do artigo
355, inciso I, do Código de Processo Civil, uma vez que prescinde da realização de outras
provas.

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Extrai-se dos autos que as partes firmaram contrato de arrendamento
mercantil em 10/02/2010, a ser pago em 60 parcelas de R$601,93, sendo que, do valor da
parcela, R$252,43 correspondia à contraprestação e R$349,50 ao Valor Residual Garantido
(fls. 20/23). Em 01/11/2013 houve aditamento contratual, passando a 40 parcelas de
R$370,03 (sendo R$113,58 de VRG e R$256,45 contraprestação), conforme instrumento
de fls. 18/19.
A autora se tornou inadimplente em 10/04/2014 (fls. 17), dando ensejo à
propositura da ação de reintegração de posse, na qual o bem foi reintegrado ao réu e
posteriormente alienado (fls. 14/61).
Pois bem.
O C. Superior Tribunal de Justiça, por meio da edição da Súmula 564,
assentou o seguinte entendimento: “No caso de reintegração de posse em arrendamento
mercantil financeiro, quando a soma da importância antecipada a título de valor residual
garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto
contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo,
porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos
pactuados”.
In casu, conforme confessado pela autora na exordial, quantia
antecipada a título de VRG (valor residual garantido) foi de R$17.335,14.
Por sua vez, o réu não comprovou o valor de venda do bem, porém
admitiu a adoção do valor da Tabela FIPE em R$18.894,01 (fls. 84).
No tocante à atualização dos valores, forçoso reconhecer que a
contratação do VRG, no contrato de leasing, envolve obrigação projetada para o futuro, já
que pressupõe o término do prazo contratual e o exercício pelo arrendatário da opção de

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compra do bem. O valor correspondente, em tais termos, é calculado em valor fixo,


projetado para a data final do contrato, sem qualquer forma de atualização ou acréscimo

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durante a duração do pacto, razão pela qual não que se falar em atualização.
Em contrapartida, igualmente não se justifica a atualização das parcelas
pagas do VRG, pois tais parcelas integram o valor total contratado que não sofre
atualização, conforme consignado no parágrafo anterior.
De igual sorte, por não ter o réu comprovado o valor, tampouco a data
da venda do veículo, o bem deve ser avaliado pelo valor definido na tabela FIPE.
Assim, nos termos da súmula 564 do STJ, a autora antecipou a quantia
de R$17.335,14 a título de VRG e o valor de venda do veículo a ser considerado é de
R$18.984,01, totalizando a quantia de R$36.319,15 que, ao subtrair o VRG contratado

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(R$20.970,00 fls. 20), resulta no crédito em favor da autora de R$15.349,15.
Por fim, não se pode olvidar que a última parcela paga pela autora
venceu em março/2014 (fls. 17) e o veículo somente foi retomado pelo réu em agosto/2014
(fls. 38), consequentemente, se faz necessária a imputação à autora das prestações regulares
vencidas nesse interregno, já depuradas do VRG, pois o veículo permaneceu em sua posse,
de modo que , desconsiderando o mês da apreensão, tem-se um total de 05 (seis) parcelas
de R$256,45, que totalizam R$1.282,25.
Deduzido o saldo em aberto (R$1.282,25) do crédito da autora
(R$15.349,15) o valor a ser restituído pelo réu é de R$14.066,90, acrescido de correção
monetária desde agosto/2014 (aqui adotada a data da apreensão por inexistir nos autos a
data da venda do bem) e juros moratórios a partir da citação nestes autos.
Nesse sentido:
Arrendamento mercantil. Veículo automotor. Inadimplemento do
arrendatário. Retomada do bem. Demanda voltada à repetição dos valores pagos a título
de adiantamento do VRG. Cálculo a ser feito nos moldes da Súmula nº 564 do STJ.
Julgamento de procedência parcial, apurando-se saldo em favor do autor. Inconformismo
da instituição financeira. Pertinência. O arrendador não faz jus, na confrontação dos
valores, à correção do VRG contratado, que deve ser contraposto aos valores pagos
diluídos nas prestações, também considerados em termos nominais, inclusive de modo a
garantir uniformidade à confrontação. VRG contratado que, ademais, é previsto em valor
fixo projetado desde o início do contrato até o término, sem previsão implícita de
atualização. Valor do veículo, a ser considerado, como regra, correspondente ao de venda
em leilão extrajudicial, não ao valor de mercado segundo a tabela da FIPE.
Particularidades do caso concreto. Nota de venda em leilão não localizada pela instituição

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financeira. Concordância expressa do banco com a substituição do valor da venda do bem


pelo preço de mercado segundo a tabela FIPE. Mês de referência que deve ser

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correspondente à data de apreensão do veículo. Necessidade, por outro lado, de
contemplar em desfavor do arrendatário o valor das prestações regulares que restaram
vencidas e não pagas até a data da efetiva retomada, o que não foi feito pela r. sentença.
Cálculo refeito, segundo esse parâmetro. Manutenção do julgamento de parcial
procedência, mas em menor escala. Apelação do réu parcialmente provida. (TJSP;
Apelação Cível 1015088-91.2019.8.26.0100; Relator (a): Fabio Tabosa; Órgão Julgador:
29ª Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento:
30/08/2021; Data de Registro: 30/08/2021).
Por fim, no que tange ao pedido de “declarar a nulidade das cláusulas

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contratuais que estipulam a perda do VRG pago, bem como impõem o pagamento de juros
cumulados com comissão de permanência, constantes do contrato de arrendamento” (item
a fls. 12), a autora não apresentou qualquer fundamentação jurídica que dê embasamento
ao pedido, tampouco especificou quais as cláusulas do contrato pretende a declaração de
nulidade e quais as cláusulas estabelecem a cumulação de juros com comissão de
permanência, tratando-se, pois, de alegações genéricas que impedem o exercício efetivo do
contraditório e a própria atividade jurisdicional, de sorte que não merecem ser acolhidas.
Ante o exposto, e por tudo que nos autos consta, com fundamento no
artigo 487, I do CPC, JULGO PROCEDENTE EM PARTE a ação ajuizada por
TAMARA CRISTINA DOS SANTOS em face de BANCO ITAÚ BBA S/A. Condeno o
réu ao pagamento da quantia de R$14.066,90, acrescida de correção monetária desde
agosto/2014 e juros moratórios a partir da citação nestes autos.
Em razão da sucumbência predominante, arcará a ré com o pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% do valor da condenação.
P.R.I.C.

São Paulo, 08 de julho de 2023.

MARCIA CARDOSO
Juiz(a) de Direito

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