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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
31ª VARA CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01501-900
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às 17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1005081-98.2023.8.26.0100 e código FB6B931.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1005081-98.2023.8.26.0100


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Indenização por Dano Material
Requerente: Leandro Luis Rodrigues Menezes e outro
Requerido: Carla Schechtmann Waiswol

Justiça Gratuita

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIANA DE SOUZA NEVES SALINAS, liberado nos autos em 13/06/2023 às 17:01 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Mariana de Souza Neves Salinas

Vistos.
LEANDRO LUÍS RODRIGUES MENEZES e THAIS DOS SANTOS
MAYOR propuseram ação em face de CARLA SCHECHTMANN WAISWOL. Aduziram, em
síntese, que o autor trabalha como motorista de aplicativo e que em 09/11/2022 estava conduzindo
o veículo pertencente à sua companheira, também autora, um Chevrolet Cobalt de placa FZH
3A18, na Rua Capote Valente, quando a requerida, conduzindo um Audi Q3 de placa BSX 9918,
invadiu a pista no sentindo contrário e colidiu de frente com seu automóvel. Salientaram que, além
da ré ter invadido a contramão, seu veículo estava em alta velocidade e, após o acidente, evadiu-se
do local sem prestar socorro. Asseveraram que testemunhas presentes no local registraram a placa
do veículo da requerida, que, após o ocorrido, retornou ao local caminhando e se apresentou como
“Carol”, oferecendo auxílio financeiro. Afirmaram que registraram Boletim de Ocorrência, e que,
após diligenciais, descobriram que o real nome da ré seria “Carla”. Defenderam a existência de
danos materiais indenizáveis referentes aos custos de conserto do veículo, conforme a média de
três orçamentos, e relativos à desvalorização do bem. Sustentaram a existência de lucros cessantes,
uma vez que o autor é motorista de aplicativo e, em razão do acidente ora em comento, ficou sem
poder exercer a sua profissão. Pleitearam, ao final, a condenação da autora ao pagamento de
indenização por danos materiais no importe de R$ 20.000,00, relativo ao conserto do veículo, bem
como pela desvalorização do bem, no valor de R$ 7.068,10, e em razão dos lucros cessantes a
serem apurados em cumprimento de sentença, além de danos morais no montante total de R$
30.000,00. Vieram documentos.

A decisão de fls. 108 deferiu o benefício da gratuidade da justiça aos autores.

A ré foi citada às fls. 112 e não apresentou defesa no prazo legal (fls. 113).

Os autores foram intimados para especificar as provas que pretendiam produzir,

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sob pena de preclusão, e requereram a aplicação dos efeitos da revelia à ré, e, subsidiariamente, a
oitiva de testemunhas (fls. 118/119).

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

Julgo antecipadamente a lide, nos termos do artigo 355, inciso II, do Código de

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Processo Civil, em razão da revelia.

A requerida foi devidamente citada por carta com AR às fls. 112 e se quedou
inerte (fls. 113), permitindo, assim, a incidência dos efeitos da revelia, sobretudo o de se
presumirem verdadeiras as alegações de fato formuladas na petição inicial, nos termos do artigo
335, §2º c/c 344 do Código de Processo Civil.

Salienta-se, por cautela, a validade do ato processual perpetrado, porquanto a carta


de citação foi devidamente recebida em condomínio edilício sem ressalvas, nos termos do artigo
248, § 4º, do Código de Processo Civil.

Pois bem, em razão da revelia, presume-se verdadeira a versão autoral dos fatos de
que a requerida, conduzindo um Audi Q3 de placa BSX 9918, em alta velocidade, invadiu a pista
no sentindo contrário da Rua Capote Valente e colidiu de frente com o automóvel conduzido pelo
autor, um Chevrolet Cobalt de placa FZH 3A18, tendo se evadido do local sem prestar socorro.

Importante salientar que o Boletim de Ocorrência de fls. 37/38, bem como as fotos
do veículo dos autores de fls. 39/44, corroboram a sua versão dos fatos, notadamente em vista dos
danos constatados no automóvel se localizarem bem na sua parte lateral dianteira.

A respeito do dever de cuidado, o artigo 28 do Código de Trânsito Brasileiro


(CTB) preconiza que “o condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o
com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito”.

Como se não bastasse, o artigo 186, inciso I, do CTB define como infração grave
transitar na contramão em vias com duplo sentido de circulação, ao passo que o artigo 305 do
mesmo código imputa como crime a conduta do condutor do veículo que se afasta do local do
acidente para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída.

Dessa forma, dadas as circunstâncias do caso concreto e a aplicação dos efeitos da


revelia, patente a responsabilidade da ré condutora no que concerne ao acidente de trânsito em

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questão, e a consequente procedência da pretensão autoral quanto à reparação dos danos materiais
atinentes ao conserto de seu veículo.

Nesse ponto, importante ressaltar que os autores comprovaram o valor pleiteado a


título de indenização por danos materiais, consubstanciado na média ponderada de três orçamentos
de lugares distintos, devidamente identificados, como de praxe (fls. 45/48), razão pela qual a ré

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deve ser condenada a indenizar os danos materiais causados no veículo dos requerentes no importe
de R$ 19.792,66 (fls. 05).

Do mesmo modo, assiste razão ao pleito autoral de indenização pelos lucros


cessantes decorrentes da interrupção do trabalhado do autor como motorista de aplicativo, durante
o conserto do seu veículo. Isso porque, os demandantes comprovaram satisfatoriamente que o
veículo em comento é utilizado como instrumento de trabalho do requerente, e tendo este ficado
impossibilitado de transitar em razão dos danos causados pelo acidente ora em comento,
procedente a pretensão autoral de percepção dos lucros cessantes experimentados no período em
que seu veículo ficou retido para reparos.

Saliento, nesse ponto, que os lucros cessantes são devidos apenas em relação ao
período necessário de retenção do veículo dos autores para conserto, o que deverá ser comprovado
documentalmente em sede de incidente de cumprimento de sentença, e que para o cálculo do valor
da diária de trabalho do autor, deverá se considerar a média ponderada dos rendimentos da parte
nos três meses anteriores à data do acidente (09/11/2022), nas plataformas UBER e 99, conforme
comprovado às fls. 56/69.

De outra parte, não há que se falar em ressarcimento pela suposta depreciação do


veículo dos autores em razão do acidente, uma vez que a sua desvalorização sequer foi
comprovada, sendo certo que com o conserto do bem, este certamente não terá qualquer
diminuição de valor (Precedentes deste E. TJ-SP: AC 1004519-14.2018.8.26.0020; AC
4001938-43.2013.8.26.0248; AC 1009608-20.2020.8.26.0223).

Por fim, quanto aos danos morais, a situação descrita na inicial é suficiente para o
reconhecimento da ocorrência de aborrecimento que extrapola o mero cotidiano, uma vez que
além da requerida ter causado o acidente de trânsito ora em voga, como já assentado, evadiu-se do
local sem prestar socorro e se apresentou posteriormente com outro nome, possivelmente na
tentativa de enganar os autores e se esquivar de qualquer responsabilidade. Tem-se, portanto, a

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presença de danos morais in re ipsa, em que a situação descrita é presumivelmente ensejadora de
danos morais, sendo desnecessária, portanto, a prova concreta do prejuízo psíquico.

Para a fixação da quantificação da verba, contudo, o magistrado deve ser


cauteloso, impedindo-se o enriquecimento sem causa da parte. O arbitramento deve ser feito com
moderação e razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, de acordo com a

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realidade da vida e peculiaridades de cada caso. Considerando os critérios norteadores
mencionados, fixo a indenização por danos morais na quantia total de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), considerada suficiente para compensar o aborrecimento experimentado pelos autores.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES em parte os pedidos para condenar a


requerida: (i) ao pagamento de indenização pelos danos materiais ocasionados ao veículo dos
autores no importe de R$ 19.792,66 (fls. 05), atualizado de acordo com a Tabela Prática deste E.
Tribunal de Justiça de São Paulo desde a citação, e acrescido de juros moratórios de 1% ao mês
desde o evento danoso; (ii) ao pagamento de indenização por lucros cessantes experimentados pelo
autor referentes ao período necessário de retenção do seu veículo para conserto, o qual deverá ser
comprovado documentalmente em sede de incidente de cumprimento de sentença, atualizado de
acordo com a Tabela Prática deste E. Tribunal de Justiça de São Paulo desde a citação, e acrescido
de juros moratórios de 1% ao mês desde o evento danoso; (iii) ao pagamento de indenização por
danos morais no valor total de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), atualizado de acordo com a Tabela
Prática do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a partir da data do arbitramento (Súmula
nº 362, do STJ), e com a incidência de juros moratórios de 1% ao mês desde a citação. Em
consequência, JULGO EXTINTO o processo, com fundamento no artigo 497, inciso I, do Código
de Processo Civil.

Em razão da sucumbência mínima dos autores, a ré deverá arcar com o pagamento


das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios da parte contrária, ora
fixados em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 2º, c.c 86, parágrafo
único, ambos do Código de Processo Civil.

Oportunamente, arquivem-se os autos procedendo-se às anotações necessárias.

P.R.I.

São Paulo, 13 de junho de 2023.


DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,
CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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