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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE APARECIDA
FORO DE APARECIDA
2ª VARA
AV. PADROEIRA DO BRASIL, 180, Aparecida - SP - CEP 12570-000
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001012-21.2018.8.26.0028 e código 7B177DA.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1001012-21.2018.8.26.0028


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Acidente de Trânsito
Requerente: Lucas Santos de Paula
Requerido: Antonio Carlos Sant Anna Junior

Justiça Gratuita

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VIVIAN BASTOS MUTSCHAEWSKI, liberado nos autos em 31/10/2019 às 17:03 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). VIVIAN BASTOS MUTSCHAEWSKI

Vistos.

Trata-se de uma Ação de Indenização proposta por LUCAS SANTOS DE


PAULA em face de ANTÔNIO CARLOS SANT'ANNA JÚNIOR, alegando em síntese às fls.
01/07, que no fatídico dia 17.05.2015, conduzia sua motocicleta na Avenida Sólon Pereira na
comarca de Aparecida, quando então iniciou o procedimento de ultrapassagem. Que ao começar a
manobra o veículo que era conduzido pelo requerido simplesmente virou sem sinalizar, “cortando”
a frente do requerente, ocasionando a colisão. Afirma que o veículo conduzido pelo requerido
estava transitando pela Avenida Sólon Pereira sentido Aparecida/Potim, virando para Rua Jorge
Ferr, sendo que nesse mesmo momento o requerente estava em manobra de ultrapassagem do
veículo do requerido, quando então ocorreu o acidente. Que caberia ao o requerido ter sinalizado,
saído à direta, parado no acostamento, aguardar os veículos passarem em ambos sentidos e assim
virar para a esquerda no sentido à Rua Jorge Ferr, ou ter o mesmo seguido a diante na Avenida
Sólon Pereira até chegar no retorno e voltar na mesma avenida sentido – Potim/Aparecida e então
entrar na Rua Jorge Ferr. Aduz que a conduta imprudente do requerido ocasionou o acidente que o
deixou paraplégico. Acrescenta que em decorrência do ato ilícito praticado pelo réu sofreu fratura
em 5 (cinco) costelas, fratura na coluna lombar e perfuração no pulmão direito sendo submetido a
drenagem torácica de urgência. Que ficou internado na UTI e realizou cirurgia com artrodese, mas
permaneceu paraplégico, com bexiga neurogênica, necessitando utilizar sondas todos os dias. Que
foi realizada perícia pela superintendência da polícia técnico-científica, onde foi constatado que
sua incapacidade vai lhe acompanhar pelo resto de sua vida. Que este fato afetou a sua renda e a
de sua família que já era insuficiente. Alega que não possui meios de custear seu tratamento pois
não aufere renda diante de sua incapacidade. Que necessita fazer Fisioterapia; Hidroterapia;
adquirir aparelhos, como: órtese de reação ao solo (AFO), andador convencional articulado,
espaldar; que necessita ainda de diversos medicamentos e insumos, conforme relacionados na

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exordial. Requereu a procedência da ação com a condenação do requerido ao pagamento de: i)
danos estéticos no valor de 100 salários mínimos; ii) danos morais no valor de 100 salários
mínimos; iii) pensão vitalícia no valor de 1 salário mínimo federal ao mês desde a data do acidente
até seus 70 anos de idade ou o seu falecimento; e danos materiais no montante de R$ 9.161,97
(nove mil, cento e sessenta e um reais e noventa e sete centavos). Juntou procuração, declaração e
documentos (fls. 08/71).
Decisão de fls. 79/80 concedeu os benefícios da justiça gratuita, designou

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audiência de conciliação e determinou a citação/intimação da parte ré.
Devidamente citado (fls. 83) o requerido apresentou contestação às fls. 92/101.
Alegou em sua defesa que o autor não trouxe aos autos provas que comprovem a dinâmica do
acidente. Que a sua conduta não foi dolosa e nem culposa, uma vez que a via não possuía
sinalização clara. Que não concorreu para o fato danosos, e por não ter dado causa ao acidente
inexistem os supostos danos alegados pelo requerente. Declara que o requerente ao apresentar a
sentença criminal acaba por demonstrar que não houve culpa ou dolo do requerido, pois referido
processo foi extinto por desistência do autor, ou seja, nada foi provado, nenhuma culpa foi
apontada naqueles autos. Aduz como excludente de sua responsabilidade a culpa exclusiva da
vítima. Requereu a improcedência dos pedidos.
Anoto a presença de réplica às fls. 105/107.
Instadas as partes a especificarem provas (fls. 108), o requerente se manifestou
às fls. 111/112 requerendo a produção de prova testemunhal, bem como expedição de ofício para a
Líder Seguradora a fim de comprovar que restou indeferido o pedido de resgate do seguro
DPVAT. Por outro lado, o requerido não se manifestou nos autos, conforme certidão de fls. 113.
Decisão de fls. 114/115 na fase saneadora fixou os pontos controvertidos,
deferiu a produção de provas pleiteadas pelas partes, designou audiência de instrução, debates e
julgamento e por fim, determinou que as partes apresentassem o rol de testemunhas em até 15
dias, sob pena de preclusão.
Petição intermediária do autor juntando aos autos imagem do local do acidente
às fls. 124/125.
Em audiência de conciliação, instrução e julgamento (fls. 127/129), foi tentada
a conciliação entre as partes, a qual restou infrutífera. Em seguida foi realizada a oitiva das
testemunhas arroladas pelo requerente.
Foram apresentadas alegações finais do requerente às fls. 130/131 e do
requerido às fls. 132/136.

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É o relatório.
Fundamento e decido.
Em se tratando de provas necessárias à instrução processual, vigora no
ordenamento jurídico positivo o principio da livre convicção motivada ou da persuasão racional do
juiz.
Dessa forma, o juiz, destinatário da prova e, em ultima analise, único
legitimado para decidir acerca da suficiência do quadro probatório constante dos autos, entendo

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que a matéria está suficientemente esclarecida. Sendo assim, passo ao julgamento do feito.
Não há preliminares a serem analisadas.
Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo ao exame
direto do mérito.
Busca o requerente indenização pelos danos morais, estéticos, materiais e
lucros cessantes que tiveram como fato gerador a conduta imprudente do requerido que ocasionou
o evento danoso descrito na inicial. Por outro lado, o requerido aduz que não foram produzidas
provas que corroborassem a versão apresentada pelo autor, que sua conduta não foi praticada de
forma dolosa ou culposa, e atribuiu a causa do evento danoso a vítima.
Em juízo foi ouvida a testemunha arrolada pelo requerente, Carla Patrícia de
Souza, que disse: que viu a dinâmica do acidente. Que ela estava na moto com Bruno, e que havia
mais um carro a sua frente e depois o carro do requerido. Que existia sinalização informando a
obrigatoriedade de ser realizada a rotatória, mas que o requerido virou sem nenhuma sinalização,
estando inclusive com som alto e os vidros fechados. Que foi neste momento que Lucas
(requerente) bateu no carro e aconteceu o acidente. Afirma que o requerente trafegava pela via em
velocidade compatível. Que o requerido estava bem devagar, por querer virar, então não tinha
como estar em alta velocidade, mas que não sabe informar com precisão a velocidade em que ele
estava. Que é proibido fazer essa conversão, tendo inclusive uma placa indicando que era
necessário fazer a rotatória lá na frente. Afirma que colocou a mão na vítima, tendo ido até ele
para conversar, perguntar o nome, saber se ele estava acordado, e este reclamava que estava com
muita falta de ar. Que neste momento levantou um pouquinho a sua nuca a colocando sobre sua
perna para que ele pudesse respirar. Mas afirma que outro rapaz já havia colocado “a mão na
vítima” anteriormente. Concluiu afirmando que não é amiga da vítima e que não frequentam a
mesma igreja.
Bruno de Oliveira Rosa, testemunha arrolada pelo autor, disse: que tomou
conhecimento deste acidente, pois estava no trânsito, a um veículo atrás do carro do requerido que

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bateu na moto. Que o trânsito estava lento, e que de repente teve uma parada, pois o carro da
frente foi virar à esquerda, em uma faixa de dupla contínua, quando ocorreu a colisão. Que a moto
fez uma ultrapassagem em uma situação de trânsito tranquilo, mas a manobra do carro foi de
forma repentina, que não dava para prever. Afirma que a moto foi ultrapassar a fila de carro que
havia se formado, devido à lentidão do trânsito. Acredita que a moto estava dentro da velocidade
compatível à via, pois no momento o trânsito se encontrava muito lento, o que acredita ser o
motivo do requerido fazer a manobra. Que é proibido virar à esquerda no local, até porque é uma

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dupla contínua e o certo seria seguir até a rotatória, fazer o retorno e voltar para entrar no bairro.
Alega que acredita que exista sinalização informando que seja proibido esse tipo de manobra, por
não ser área de cruzamento naquele “pedaço” e por existirem várias ruas no sentido
Aparecida/Potim, para entrar no bairro do Jardim Paraíba, não sendo permitido em nenhuma
dessas a ultrapassagem da linha dupla contínua para poder virar. Concluiu afirmando que não é
amigo da vítima e que não viu se o requerido sinalizou que iria fazer a manobra à esquerda.
Pois bem.
Para que se reconheça a responsabilização civil de alguém em indenizar outra
pessoa, em regra, denominada responsabilidade subjetiva, necessário analisar todos os seus
requisitos, quais sejam, (a) ação ou omissão do agente, (b) culpa, em sentido lato, do agente, (c)
nexo causal e (d) dano experimentado pela vítima.
Das provas produzidas nos autos, não restam dúvidas de que o acidente
decorreu de uma conversão efetuada de maneira imprudente e negligente pelo réu, que interceptou
a trajetória da motocicleta que transitava em mão de direção contrária. A manobra de fato ocorreu
sem que fossem tomadas as cautelas necessárias para a conversão do veículo e em local proibido.
Nesse sentido, os artigos 34 e 35 do Código de Trânsito Brasileiro estabelecem
que cabe ao condutor, ao realizar uma manobra, assegurar-se da viabilidade de sua execução sem
perigo a terceiros. “In verbis”:
Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra deverá certificar-se de
que pode executá-la sem perigo para os demais usuários da via que o seguem, precedem ou vão
cruzar com ele, considerando sua posição, sua direção e sua velocidade.
Art. 35. Antes de iniciar qualquer manobra que implique um deslocamento
lateral, o condutor deverá indicar seu propósito de forma clara e com a devida antecedência, por
meio da luz indicadora de direção de seu veículo, ou fazendo gesto convencional de braço.
Parágrafo único. Entende-se por deslocamento lateral a transposição de
faixas, movimentos de conversão à direita, à esquerda e retornos.

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Infringindo as regras de trânsito o requerido deu causa ao acidente ocasionando
as lesões de natureza grave descritas na exordial e comprovadas pelo laudo pericial de fls. 26/27 e
pelo conjunto probatório amealhado aos autos.

No mesmo sentido é a jurisprudência, senão vejamos:

RESPONSABILIDADE CIVIL- Indenização Acidente de trânsito

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Ocorrência de manobra infeliz e desastrada do autor, que,
atabalhoadamente, derivou para a esquerda, foi a responsável pelo
evento danoso Culpa exclusiva do autor pelo evento danoso- Ação
sumária desacolhida Sentença mantida Recurso improvido. (...) O
laudo da Polícia Científica é conclusivo: “Cumpre ressaltar finalmente
que deu causa ao acidente o condutor da Camioneta de placas BN-
8113, por tentar convergir à esquerda em momento inoportuno,
interceptando a trajetória do Gol.” (cf. fls. 82). (....) A chamada teoria
de causalidade adequada é a teoria norte-americana da causa próxima,
“the last clear chance”, em face da qual a parte que teve por último a
oportunidade de evitar o dano, inobstante a negligência e imprudência
da outra, é responsável pelo evento. (...) (9113786-35.2001.8.26.0000/
Relator (a): Silveira Paulilo; Comarca: Comarca não informada; Órgão
julgador: 11ª Câmara (Extinto 1º TAC); Data do Julgamento:
09/05/2002; Data do registro: 24/05/2002; Outros números:
1044795300).

Assim, resta comprovado, portanto, a ilicitude do ato cometido pelo réu,


negligente ao efetuar a conversão, bem como sua responsabilidade civil de reparar os danos
decorrentes de tal ato.
Passo, portanto, à análise dos danos sofridos pela parte autora e do
“quantum indenizatório”.

a) Indenização por Danos Estéticos


Consigne-se que este se caracteriza como “qualquer modificação permanente
na aparência externa de uma pessoa, modificação esta que lhe acarreta um “enfrentamento” que

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lhe causa humilhação e desgostos, dano origem, portanto, a uma dor moral”. Os danos estéticos,
embora cumuláveis com os danos morais (súmula 387 do STJ), somente se verificam nos casos em
que a lesão é permanente, ou seja, não são reconhecidos nos casos em que a alteração da imagem é
transitória. Na seara Civil, o principal elemento é que a lesão não possa ser superada por
tratamentos ou operações; caso isso aconteça estaremos diante de dano estético transitório.
No caso vertente, restou demonstrado que o autor sofreu uma alteração
morfológica, ou seja, transformação sofrida em seu corpo suficiente a causar repugnância e

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constrangimento e, assim, caracterizar o dano estético que “implique sob qualquer aspecto um
afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de
exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua
capacidade laborativa”. (Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, Saraiva, 10ª ed.,
VII, 61).
Portanto, fixo a indenização pelos danos estéticos em R$ 30.000,00, pois as
lesões decorrentes geram aversão ou repulsa social ou individual.

b) Indenização por danos morais

Os danos morais, decorrem do próprio ato ilícito, independendo de outras


provas, uma vez patente a existência do nexo de causalidade entre o fato praticado pelo requerido
e o dano suportado pelo autor, em razão da incontestável sensação desagradável e inoportuna em
sua psique e a dor sofrida pelas lesões que lhe acometeu.
O dano morais ocorre in re ipsa, do próprio registro do ilícito civil.
Nesse sentido, “Já assentou a Corte que 'não há falar em prova do dano moral,
mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam'.
Provado assim o fato, impõe-se a condenação, sob pena de violação ao art. 334 do Código de
Processo Civil' (STJ, REsp 318.099/SP, 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j.
06.12.2001, DJ 08.04.2002).
O dano moral, segundo doutrina classifica-se em dano que afeta a parte social
do patrimônio moral (honra, reputação, etc.); dano que molesta a parte afetiva do patrimônio
moral (dor, tristeza, saudade,etc); dano moral que provoca direta ou indiretamente dano
patrimonial (cicatriz deformante) e dano moral puro (dor, tristeza, etc.)
O caso em julgamento trata do dano moral puro caracterizado nos efeitos
dolorosos da lesão ocasionada pelo ato ilícito, no sofrimento pessoal, corporal e seus reflexos de

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ordem psíquica.
Ora, é evidente que as lesões sofridas pelo autor, qual seja, fratura em 5
costelas, fratura na coluna lombar e perfuração do pulmão direito, a drenagem torácica de urgência
a que foi submetido, os dias internado na UTI, a cirurgia com artrodese realizada e principalmente
o fato de permanecer paraplégico, com bexiga neurogênica, necessitando utilizar de sondas todos
os dias, causaram-lhe dor incomensurável, a ocasionar abalo moral, sofrimento e desgosto.
Ocorrendo, pois, o dano moral, deve-se verificar a respectiva reparação por

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vias adequadas, em que avulta a atribuição de valor que atenue e mitigue os sofrimentos impostos
ao lesado, além da capacidade financeira do requerido.
A dificuldade inerente a tal questão reside no fato da lesão a bens meramente
extrapatrimoniais não ser passível de exata quantificação monetária, vez que seria impossível
determinar o exato valor da honra, do bem estar, do bom nome ou da dor suportada pelo ser
humano.
Não trazendo a legislação pátria critérios objetivos a serem adotados, a
doutrina e a jurisprudência apontam para a necessidade de cuidado, devendo o valor estipulado
atender de forma a justa e eficiente a todas as funções atribuídas à indenização.
Na fixação do quantum indenizatório pelo dano moral, cabe ao juiz nortear-se
pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, estabelecendo-se em valor nem tão grande
que se converta em fonte de enriquecimento ao lesado, nem tão pequena que se torne inexpressiva
ao causador do dano.
Tomando-se por base aspectos do caso concreto, extensão do dano, condições
socioeconômicas e culturais das partes, condições psicológicas e grau de culpa dos envolvidos, o
valor pleiteado é excessivo e não encontra respaldo no ordenamento jurídico, que veda o
enriquecimento sem causa e o abuso de direito. Assim, fixo a indenização pelos danos morais
em R$30.000,00.

c) Lucros Cessantes

O laudo pericial (26/27) identificou que a parte autora sofreu lesões e possui
sequelas que reduzem consideravelmente sua capacidade laboral. Assim, evidencia-se o direito do
autor à indenização por lucros cessantes, na medida em que as sequelas resultantes do acidente
impõem uma incapacidade, de modo que a dificultar-lhe o exercício da sua atividade laborativa,

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sendo lícito a conclusão de que terá de dedicar certo esforço pessoal para prosseguir uma nova
função de trabalho.
Logo, o pleito de condenação ao pagamento de pensão mensal comporta
acolhimento, consoante disposição do art. 950 do Código Civil, in verbis:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa
exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de

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trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros
cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que
ele sofreu.

Conforme ensinamento de Arnaldo Rizzardo: “As consequências da lesão


trazem prejuízos duradouros à capacidade laborativa do ofendido, e, às vezes, vão ao ponto de
impedir totalmente o exercício do trabalho. Dependendo do grau de limitação, variará a
indenização, “que será sempre correspondente à inabilitação para o trabalho, ou à depreciação
sofrida, conforme a hipótese”. Mesmo se o trabalho desempenhado não sofrer, na prática
diminuição na qualidade e intensidade, o dano precisa ser ressarcido, eis que a limitação para as
atividade humanas é inconteste. Talvez continue no mesmo trabalho, mas é viável que resulte a
impossibilidade para a admissão em outro que propicie igual padrão de rendimentos.” (in A
reparação nos acidentes de trânsito: Lei 9.503/97 – 11ª ed. rev, atul. e ampl. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010, p.158).
Em casos em que inexistem elementos de prova acerca dos rendimentos da
parte demandante, eventual vínculo empregatício ou percepção de benefício previdenciário, colhe-
se de doutrina de escol o seguinte excerto: “Cumpre ao ofendido comprovar os rendimentos que
auferia por ocasião do evento danoso, para apuração da percentagem da depreciação de sua
capacidade laborativa. À falta de tal prova, ou se demonstrado que vivia de trabalhos eventuais,
sem renda determinada, toma-se por base o salário mínimo para a fixação da referida
porcentagem. Esse mesmo critério é adotado quando o lesado não consegue demonstrar qualquer
renda porque não se encontrava exercendo atividade alguma, sendo, no entanto, pessoa apta para
o trabalho.” (Carlos Roberto Gonçalves, in Direito civil brasileiro, vol 4: responsabilidade civil –
8ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013, p 452)
No mesmo sentido, trilha a jurisprudência: “O direito à indenização, sob forma

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de pensão vitalícia que compensa aquela incapacidade, independe da prova de que a vítima
exercia atividade remunerada, pois decorre, de um lado, do direito-dever, inerente a todo homem,
de prover à sua subsistência no nível das suas possibilidades, e, de outro lado, da expectativa
normal de que para tanto todos estão capacitados” (RT 427/224)
Portanto, relativamente ao quantum do pensionamento, a base de cálculo da
pensão deve recair sobre o salário mínimo vigente à época do evento danoso, porquanto não
demonstrado pela parte autora que mantinha vínculo empregatício e não comprovado seus

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rendimentos. Assim sendo, fixo pensão equivalente a 50% do salário mínimo federal.
Deixo de incluir no cálculo do pensionamento, a condenação a quantia
referente ao 13.º salário, porque não comprovado vínculo empregatício (mutatis mutandis: REsp
299.690/RJ; REsp 115.9409/AC; REsp 612.613/RJ e REsp 853.921/RJ).
Os valores são devidos desde a data do acidente e até que a vítima complete 70
anos (ou até a data do óbito do autor, caso ocorra antes), tida aqui como a expectativa de vida
média do brasileiro ao nascer.
As prestações vencidas no curso da lide deverão ser pagas de uma só vez e
corrigidas monetariamente mês a mês, de acordo com os índices da Tabela Prática deste Tribunal
de Justiça, acrescidas de juros moratórios desde a data do evento danoso, nos termos das Súmulas
43 e 54 do STJ e do artigo 398 do Código Civil, por se tratar de responsabilidade civil decorrente
de ilícito extracontratual.

d) Reembolso

Os danos materiais consistentes nos gastos com hidroterapia, fisioterapia,


exames e medicamentos estão devidamente comprovados nos autos, sendo devido como reparação
o montante de R$9.161,97 (nove mil, cento e sessenta e um reais e noventa e sete centavos), valor
este que deve ser corrigidos monetariamente desde a data de cada desembolso realizado pelo autor
para custear o seu tratamento, os medicamentos e insumos, observando-se o mesmo termo para os
juros de mora.

Dispositivo.
Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos
iniciais e condeno o requerido ao pagamento de pensão mensal no percentual de 50% sobre
o salário mínimo federal vigente, desde a data em que ocorreu o acidente e até a data em

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fls. 146

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE APARECIDA
FORO DE APARECIDA
2ª VARA
AV. PADROEIRA DO BRASIL, 180, Aparecida - SP - CEP 12570-000
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1001012-21.2018.8.26.0028 e código 7B177DA.
que a vítima completaria 70 anos (ou até a data do óbito da parte autora, caso ocorra antes),
devendo ser paga da seguinte forma: (i) o total das parcelas vencidas de uma só vez,
incidindo correção monetária pela tabela prática deste Tribunal de Justiça a partir de cada
vencimento, mais juros de mora desde a data do evento danoso (Súmula 54 do STJ); e (ii)
as parcelas vincendas deverão ser corrigidas anualmente na oportunidade de ajuste do
salário mínimo e no mesmo percentual de variação deste. Condeno o requerido, ainda, ao

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por VIVIAN BASTOS MUTSCHAEWSKI, liberado nos autos em 31/10/2019 às 17:03 .
pagamento de indenização por dano moral e estético no valor de R$30.000,00, cada um,
cujo valor deve ser corrigido monetariamente a partir do arbitramento, com incidência de
juros de mora de 1% ao mês, a contar do evento danoso, e ao pagamento de indenização
por dano material no valor de R$9.161,97, cujo valor deve ser corrigido monetariamente a
partir da data de cada desembolso efetuado, com incidência de juros de mora de 1% ao
mês, observando-se igual termo inicial.
Não comprovado nos autos a hipossuficiência do requerido, isto é, que este
não possui condições de arcar com os custos do processo judicial, deixo de deferir a gratuidade de
justiça.
Diante da sucumbência mínima do autor, condeno somente o réu ao pagamento
das custas judiciais, despesas processuais e honorários de advogado, que fixo em 10% do valor da
condenação (correspondente às parcelas de pensão mensal vencidas até a presente data e as
indenizações fixadas a título de dano moral, estético e material)

Com o trânsito em julgado, nada mais sendo requerido, arquivem-se os autos


observadas às formalidades legais.

P.I.C.

Aparecida, 15 de outubro de 2019.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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