Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVIL DA COMARCA DE TAQUARI/RS

PROCESSO Nº 5001026-98.2022.8.21.0071

JULIA PEREIRA DA SILVEIRA, devidamente qualificada nos


autos da AÇÃO INDENIZATÓRIA, processo em epígrafe, que move em desfavor de
POSTO DE COMBUSTIVEIS COXILIA LTDA, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por seu procurador infra-assinado, com fundamento no art. 49, da Lei nº
9.099/95, opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, em face da sentença
proferida, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

I – DO CABIMENTO DOS EMBARGOS

A embargante restou intimada acerca da sentença proferida por


esse MM. Juízo, na qual os pedidos da requerente foram julgados improcedentes,
todavia, antes de submeter tal decisão à apreciação do colegiado recursal,
imprescindível se mostra aclarar determinada obscuridade constante no julgado
proferido.

Primeiramente, necessário consignar o que dispõe o art. 49 da Lei nº


9.099/95 e, art. 1.022 do CPC.

Art. 49 da Lei nº 9099/95 - Os embargos de declaração serão


interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias,
contados da ciência da decisão.

Art. 1.022 do CPC - Art. 1.022. Cabem embargos de declaração


contra qualquer decisão judicial para:
I - Esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - Suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual
devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento;
III - Corrigir erro material.

Assim, inicialmente, postula a requerente a interrupção dos prazos


processuais até o julgamento dos presentes aclaratórios.

II – DA SINTESE PROCESSUAL

A embargante promoveu AÇÃO INDENIZATÓRIA em face do


embargado.

Em 06 de março de 2023, a MM. Juíza Leiga proferiu a decisão


juntada ao evento 46, que julgou improcedente os pedidos, no seguinte teor:

“Vistos etc.
Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95.
Trata-se de Indenizatória por danos Materiais e Morais.
Narra a autora que foi induzida a comprar e trocar o
lubrificante do motor do seu carro, quando abastecia no
posto réu. Alega que após informar que o carro havia
passado por revisão o funcionário do réu continuou insistindo
dizendo que o carro poderia estragar na estrada,
oportunidade em que deixou que ele trocasse, haja vista, o
receio de ficar empenhada. Após chegar na cidade soube
que essa prática do réu era conhecida como fraudulenta.
Diante do exposto, requer a procedência da ação para
condenar o réu a devolução do valor, em dobro,
correspondente a troca desnecessária de óleo, bem como
danos morais.
A ré contesta o feito alegando que a autora estava ciente e
que concordou com a
troca de óleo. Disse que a autora não comprovou suas
alegações, bem como a desnecessidade de troca de óleo e
que o carro havia passado por recente revisão. Por fim,
requer a improcedência da ação.
Passo a opinar.
A relação jurídica estabelecida entre as partes está jungida
ao Código de Defesa do Consumidor, o qual atribui
responsabilidade civil objetiva ao Posto de Gasolina por
defeito na prestação do serviço.
Muito embora a inversão do ônus da prova no Código de
Defesa do Consumidor ser da parte ré, à luz do art. 373, inciso
I, do Código de Processo Civil, incumbia à parte autora
comprovar o fato constitutivo de seu direito. De outra
banda, era ônus da parte ré demonstrar fato impeditivo,
modificativo e/ou extintivo do direito da autora, a teor do
art. 373, II, do CPC.
Da análise do conjunto probatório a autora alega a
desnecessidade da troca de óleo e por ser leiga no assunto
aduz que foi enganada. Ocorre que, tais alegações não
prosperam, uma vez que, não traz aos autos nenhuma
comprovação de realização de revisão no veículo anterior à
data dos fatos; ainda o fato de ser leiga no assunto não a
exime do fato de ter concordado em trocar o óleo, eis que
não há provas concretas que realmente foi induzida a erro.
O documento juntado na inicial informa que houve a troca
de óleo por produto não homologado pela montadora, mas
em nada demonstra que não havia necessidade da troca ou
que houve informações insuficiente ou inadequadas.
Logo, mostra-se descabido o pedido de devolução dos
valores pagos, quando o bem sequer apresentou defeito ou
houve comprovação de que as informações foram
insuficientes e inadequadas. Eventual devolução de valores
ensejaria o enriquecimento indevido da parte, o que se
mostra vedado por este ordenamento jurídico.
No tocante ao dano moral da pessoa física, não há no feito
qualquer adminículo de prova do abalo moral sofrido, o que
era imprescindível no caso dos autos, nos termos do art. 373, I,
do CPC, porquanto a questão versada não se trata de
hipótese de dano moral in re ipsa.
Diante do exposto, opino pela IMPROCEDENCIA da ação
postulada por JULIA PEREIRA DA SILVEIRA em face de
POSTO DE COMBUSTIVEIS COXILIA LTDA.
Dispensada as custas, ante art. 54 e 55 da lei 9.099/95.
Submeto o presente à apreciação do (a) Excelentíssimo (a)
Sr. (a) Dr. (a) Juiz (a) Presidente dos Juizados Especiais Cíveis
da Comarca de Taquari para homologação”

Sendo, posteriormente, homologado por Vossa Excelência, julgando


improcedente os pedidos formulados pela Embargante.

Contudo, data vênia, a r. decisão se mostra obscura quanto aos seus


fundamentos, e, antes de submeter tal decisão à apreciação do colegiado recursal,
requer-se que Vossa Excelência explicite o ponto obscuro a seguir:

II – DO CONJUNTO PROBATÓRIO - DA OBSCURIDADE

Entendeu o Douto Magistrado que, no caso presente, a parte autora


não trouxe aos autos prova do fato constitutivo de seu direito, e, tampouco trouxe
comprovação sobre a realização de revisão no veículo anterior à data dos fatos.

(...) “Da análise do conjunto probatório a autora


alega a desnecessidade da troca de óleo e por
ser leiga no assunto aduz que foi enganada.
Ocorre que, tais alegações não prosperam, uma
vez que, não traz aos autos nenhuma
comprovação de realização de revisão no
veículo anterior à data dos fatos (...)”

Primeiramente, é incontroverso a relação de consumo entre as


partes, não existindo dúvidas acerca da aplicação do Código de Defesa do
Consumidor ao caso presente.

Seguindo nessa perspectiva e, de acordo com o CDC, todos os


consumidores se encontram em posição de vulnerabilidade, por outro lado, a
hipossuficiência deve ser demonstrada no caso concreto.

Quando a alegação do consumidor for verossímil e, quando o


consumidor for hipossuficiente, é totalmente cabível a inversão do ônus da prova, a
teor do artigo 6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor.

No caso presente, trata-se do “famoso GOLPE DO ADITIVO”, tal


prática fraudulenta realizada por redes de postos de gasolina é de conhecimento
público e notório.

O fato público e notório é aquele de conhecimento geral por toda a


coletividade, tanto que o próprio Código de Processo Civil, no art. 334, inciso I,
estabelece que o fato notório independe de prova.

Adiante, na audiência de instrução, quando do depoimento de


Daniel Vianna Reis (testemunha da parte autora), profissional com anos de
experiência em mecânica automotiva, e mecânico responsável pelas revisões do
veículo Volkswagen Polo, foi questionado acerca da regularidade de revisão no
veículo.

(...)

Dr. Paulo de Tarso: o carro está sempre em

dia? As revisões sempre corretas?


Daniel Vianna Reis: Sim, mantem todos os

carros em dia.

(...) (EVENTO 24, VÍDEO 01 - 00:06:54 -


00:07:00)

Nota-se que ao feito, Vossa Excelência entendeu que não houve


comprovação de realização de revisão no veículo anterior à data dos fatos, contudo,
o mecânico responsável pelas revisões do automóvel em questão, ao ser questionado
sobre a regularidade de revisão do mesmo, respondeu: “Sim, mantem todos os
carros em dia”.

Muito embora o magistrado não tenha que enfrentar, adentrar,


todos os argumentos explanados ao feito pelas partes para decidir o litígio, em
decorrência do princípio do livre convencimento motivado, sabível que não pode
deixá-lo de fundamentar.

A obscuridade presente na sentença proferida, se encontra no


seguinte trecho: “ (...) tais alegações não prosperam, uma vez que, não traz aos autos
nenhuma comprovação de realização de revisão no veículo anterior à data dos fatos (...).

Independente de revisão ou manutenção preventiva do automóvel,


requer-se que Vossa Excelência, complete e explicite por qual motivo a falha na
prestação de serviços estaria condicionada a revisão do veículo anterior à
data dos fatos?

Tal fundamentação, data vênia, apresenta-se de forma lacônica,


gerando pouca clareza e, prejudicando a própria essência da Lei Consumerista, que
visa proteger o consumidor de eventuais abusos.
III – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer sejam acolhidos os presentes


Embargos de Declaração para suprimento da obscuridade apontada, para o fim de
que Vossa Excelência explicite por qual razão a falha na prestação de serviços estaria
condicionada à uma situação anterior a data dos fatos.

Nestes termos,

pede deferimento.

Taquari, 22 de março de 2023.

Paulo de Tarso Pereira


OAB/RS 11814

Você também pode gostar