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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do Juizado Especial Cível

da Comarca de XXX-MG.

Processo nº. XXXXX

SCALA JF COMERCIO DE CALCADOS,


ROUPAS E ACESSORIOS LTDA - ME, devidamente qualificada nos
autos do processo em epígrafe, neste ato representada por sua sócia
gerente XXX, brasileira, divorciada, empresária, CPF nº XXX, Carteira
Nacional de Habilitação nº XXX, residente e domiciliada na XXXX,
comparece perante Vossa Excelência, por seu procurador abaixo-assinado,
para oferecer, tempestivamente, CONTESTAÇÃO, ao processo que
lhe move CARLOS DE BARROS SOARES consoante os seguintes
termos:

SÍNTESE DA PETIÇÃO INICIAL

Trata-se de ação de indenização em que o autor alega


ter comprado um par de sapatos na loja ré e, ao chegar em casa, teria
observado que a peça estava com dois pés esquerdos na caixa. Pretende,
assim, que a ré seja condenada à rescisão contratual da compra e venda,
sendo devolvido o valor de R$ 299,90 (duzentos e noventa e nove reais e
noventa centavos) pagos pelo bem. Além disso, intenta a condenação da ré
a fim de reparar os danos morais supostamente sofridos pelo autor na
situação, em valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Pede,
ainda, a inversão do ônus da prova, baseado no art. 6º, VIII, do Código de
Defesa do Consumidor.

PRELIMINAR DE NÃO CABIMENTO


DO RITO SUMARÍSSIMO
Independente da discussão de mérito, certo é que o
procedimento (rito) adotado pelo autor é incompatível com a natureza da
demanda, a qual tem por imprescindível a realização de prova pericial
no sentido de verificar se existiriam defeitos no calçado que alega ter
adquirido da empresa ré.

Sendo assim, diante da necessidade de


procedimento mais complexo, que não se amolda à natureza informal
e dinâmica dos Juizados Especiais, não pode prosperar o presente
processo, devendo ser extinto sem julgamento do mérito em razão de
eleição de rito/via inadequado, independente de qualquer outra
consideração.
DO MÉRITO

Em primeiro lugar, por força do art. 373 do CPC, o


ônus da prova cabe a quem alega. Nesse sentido cabe ao autor o ônus de
provar os fatos constitutivos do seu direito (inciso I), ônus do qual não se
desincumbiu, tendo em vista que não apresenta sequer a nota fiscal e/ou
recibo de compra do referido calçado.

Nesse sentido, não é o caso de inversão de ônus da


prova, vez que não são verossímeis as alegações do autor que sequer
faz prova da compra, a teor do inciso VIII, do art. 6º do CDC. Ora,
sem a apresentação de prova da aquisição do produto a própria ré
não tem como saber se, realmente, o produto foi adquirido em seu
estabelecimento comercial.

É o que basta para improcedência da ação!!!

Não obstante isso, apenas por amor ao debate e


excesso de zelo do signatário da presente ação, na remota hipótese de se
entender ser cabível o presente processo, certo é que não há provas nem
mesmo da compra do produto, pela falta de nota fiscal ou recibo de
compra, não sendo, portanto, de responsabilidade da ré arcar com os
supostos danos morais e materiais alegados, vez que não existem
provas mínimas nem sequer do negócio jurídico realizado.

Na realidade, o autor fez contato telefônico com a loja


ré alegando ter supostamente comprado um calçado que teria vindo
trocado, tendo sido informado que a troca ou devolução de produtos exige
a apresentação da nota de compra. Foi informado, ainda, que, se fosse o
caso, como a compra teria sido presencial e não por meio virtual ou fora
do estabelecimento, da mesma forma como afirmou ter adquirido o
produto, deveria proceder para trocá-lo ou devolvê-lo e que, nesse caso,
seria necessário comparecimento pessoal, munido de documentos
pessoais, do produto e do respectivo cupom fiscal.

A partir daí, tentando forçar situação inexistente, o


autor enviou os emails constantes dos autos, os quais não foram
respondidos por não corresponderem as políticas de troca/devolução da
empresa, sendo, portanto, absolutamente unilaterais, não havendo
qualquer resposta que conste dos autos, muito menos prova de que a loja
teria se comprometido a realizar troca ou devolução fora de sua própria
política de atendimento ao consumidor.

Alias, como já se afirmou, não há prova sequer de


que o autor realmente tenha adquirido produtos junto a requerida,
vez que não apresenta nota fiscal ou outro documento qualquer.

Por fim, mesmo que assim não fosse, o que se admite


por amor ao debate, mas sem qualquer transigência, toda a situação
narrada não ultrapassa o mero aborrecimento, não se enquadrando
como hipótese caracterizadora de dano moral.

Ora, se comprovar o autor ter realmente adquirido


produto junto à empresa requerida e que tal produto encontra-se com
defeito, teria, quando muito, o direito de devolução da quantia paga e não
direito a suposta indenização por inexistentes danos morais.

Nesse sentido, vem decidindo os Tribunais pátrios, de


cuja jurisprudência se colaciona:

Processo: Apelação Cível 1.0569.13.002009-6/001


Relator(a): Des.(a) Marco Aurelio Ferenzini
Data de Julgamento: 29/01/2015
Data da publicação da súmula: 06/02/2015
EMENTA: AÇÃO ORDINÁRIA - INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - PRESENÇA DE CORPO ESTRANHO -
MAÇO DE CIGARROS - ÔNUS DA PROVA -
COMPROVAÇÃO DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO
DIREITO DA AUTORA - DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO - MERO ABORRECIMENTO. Ainda que
tenha sido aplicado o instituto da inversão do ônus da prova,
a parte autora não estará dispensada de comprovar os fatos
constitutivos de seu direito. Os fatos narrados na inicial que,
per si, não ultrapassaram a esfera do mero aborrecimento,
pois ficaram limitados à indignação da pessoa, sem qualquer
repercussão no mundo exterior, o que importa em
reconhecer a inexistência da obrigação de indenizar.

Processo: Apelação Cível 1.0145.12.032937-3/001


0329373-02.2012.8.13.0145 (1)
Relator(a): Des.(a) Domingos Coelho
Data de Julgamento: 03/12/2014
Data da publicação da súmula: 12/12/2014
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO
DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO - COMPRA E VENDA DE
MERCADORIA - PAGAMENTO EFETUADO - PRODUTO
NÃO ENTREGUE - DANO MORAL - CARACTERIZAÇÃO -
AUSÊNCIA - MERO ABORRECIMENTO.
- O atraso na entrega de produto adquirido e devidamente
pago pelo consumidor, apesar de caracterizar serviço
defeituoso a impor reparação material, não atinge a esfera
dos direitos da personalidade do consumidor a render
prejuízos morais indenizáveis.
- A dor moral, que decorre da ofensa aos direitos da
personalidade, apesar de ser deveras subjetiva, deve ser
diferenciada do mero aborrecimento, a qual todos estamos
sujeitos e que pode acarretar, no máximo, a reparação por danos
materiais, sob pena de ampliarmos excessivamente a
abrangência do dano moral, a ponto de desmerecermos o
instituto do valor e da atenção devidos.
Preliminar rejeitada; recurso principal parcialmente provido;
recurso adesivo prejudicado quanto ao mérito.

Processo: Apelação Cível


1.0153.10.006221-2/001
0062212-03.2010.8.13.0153 (1)
Relator(a): Des.(a) Cabral da Silva
Data de Julgamento: 18/11/2014
Data da publicação da súmula: 28/11/2014
EMENTA: FATO DO PRODUTO. GARANTIA EM VIGOR.
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE.
INOCORRÊNCIA. DEVER DE INDENIZAR. REPARAÇÃO
MATERIAL. VALOR DO PREJUÍZO E LUCROS
CESSANTES. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL. MERO
ABORRECIMENTO. IMPROCEDÊNCIA. Se não é
comprovada a incidência de qualquer hipótese que exclua a
responsabilidade do fornecedor e, concomitantemente, há a
demonstração o dano infligido ao consumidor, estando o
produto no prazo de garantia, deve ser acolhido o pedido de
indenização material, correspondente ao valor do produto
defeituoso e lucros cessantes comprovados. Meros
aborrecimentos e chateações não configuram dano de cunho
moral, sendo indevido o pagamento de indenização a tal título.

Processo: Apelação Cível


1.0145.13.007402-7/002
0074027-16.2013.8.13.0145 (1)
Relator(a): Des.(a) Otávio Portes
Data de Julgamento: 13/11/2014
Data da publicação da súmula: 24/11/2014
EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO
CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE
CIVIL POR VÍCIO DO PRODUTO. MICROCOMPUTADOR
DEFEITUOSO. DANO MORAL. NÃO CONFIGURAÇÃO NA
ESPÉCIE. SENTENÇA MANTIDA. 1. O só fato da aquisição
de microcomputador defeituoso pelo consumidor junto ao
fornecedor de bens e serviços, em princípio, não configura dano
moral indenizável, por não transbordar a barreira do mero
aborrecimento, cuidando-se de evento ordinário e intrínseco ao
cotidiano da convivência social, não tendo o condão da arranhar,
com a profundidade exigida, a dignidade humana e os direitos
da personalidade.

DOS REQUERIMENTOS

Diante do exposto, lídimo o direito da ré requerer:

a) Seja acolhida a preliminar suscitada, no sentido de reconhecer


a inadequação do procedimento utilizado, extinguindo o
processo sem julgamento de mérito;
b) No mérito, caso até ele se pudesse chegar, seja julgada
totalmente improcedente a presente ação rejeitando-se
todos os pedidos contidos na petição inicial, ou, caso Vossa
Excelência assim não entenda, o que se admite por absurdo,
seja afastada qualquer condenação em danos morais, pelos
motivos antes expostos;
c) Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos em
especial prova pericial;
d) Seja o autor condenado nas despesas processuais e honorários
sucumbenciais, em caso de recurso inominado;

Termos em que, respeitosamente,


pede deferimento

Juiz de Fora, XXXX.

______________________________________
ADVOGADO OAB

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