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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO

ESPECIAL ADJUNTO CÍVEL DA COMARCA DE MIGUEL PEREIRA, ESTADO DO RIO


DE JANEIRO

Processo n° 0800276-25.2022.8.19.0033

GURGELMIX MÁQUINAS E FERRAMENTAS S/A, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 29.302.348/0001-15, com sede na Avenida
Alagoas, nº 1.193, Jardim Paulista, CEP: 14.401-402, na cidade de Franca, Estado de São Paulo,
por seus advogados e procuradores que esta subscrevem, vem, respeitosamente, e
tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO à ação que
lhe move WILHELMUS ALBERTUS CORNELIS KOOT, fazendo-o com amparo nos
argumentos fáticos e jurídicos adiante expostos.

1. SÍNTESE DA DEMANDA

O Autor propõe a presente ação alegando, em breve síntese, que


efetuou a compra, junto ao marketplace desta Ré, de uma roçadeira lateral elétrica bipartido
mais um kit de segurança para operador de roçadeira, pelo valor de R$ 558,38 (quinhentos e
cinquenta e oito reais e trinta e oito centavos), e que referidos produtos jamais foram entregues.

Narra, ainda, que após o ocorrido, foi informado pela empresa Ré que
houve problema no processamento do pedido, culminando em seu cancelamento. Informa,
ainda, que a empresa Ré solicitou os dados bancários do Autor para estorno da quantia paga,
o que não foi aceito, tendo em vista o interesse do Autor na entrega dos produtos.
Ao final, requer a condenação da Ré à obrigação de entrega dos
produtos adquiridos, bem como a indenização por danos morais no importe de R$ 1.500,00
(mil e quinhentos reais).

2. PRELIMINARMENTE
2.1 DA ILEGITIMIDADE ATIVA – IMPOSSIBILIDADE DE SE PLEITEAR DIREITO
ALHEIO

A Ré utiliza-se desta preliminar para informar que a compra a qual é


objeto da presente ação, não foi realizada pelo Autor, mas sim por pessoa física alheia
denominada Elidia da Cunha Vieira, inscrita no CPF sob o nº 550.636.087-87, conforme doc.
que ora se anexa e, também, colaciona abaixo:

Pela própria documentação juntada pelo Autor, em Num. 18340944, é


possível verificar que o pedido foi feito por pessoa estranha a lide, já qualificada acima. No
documento referido, verifica-se que a tela em que se apresenta o status do pedido, no canto
superior direito, possui saudação direta à Sra. Elidia, denotando que esta foi a real pessoa que
efetuou o pedido e que, portanto, estava logada no site naquele momento.

Neste sentido, expõe o artigo 18, CPC:


Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo
quando autorizado pelo ordenamento jurídico.

Assim, Excelência, sendo certo que a compra não foi efetuada pelo
Autor, este não possui legitimidade ativa e, portanto, não pode vir a juízo pleitear direito
alheio em nome próprio, sob pena de grave ofensa a lei federal e aos princípios norteadores
do processo.

Diante o exposto, deve a preliminar de ilegitimidade ativa ser acolhida


de ofício por Vossa Excelência, extinguindo-se o feito e arquivando definitivamente os autos.

3. DO MÉRITO
3.1 DA AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO PRATICADO PELA RÉ – NITIDA FALHA
SISTÊMICA – SOLUÇÃO PRONTAMENTE OFERECIDA QUE NÃO TRAZ
PREJUIZO AO AUTOR

Na remota hipótese de não acolhimento da preliminar de ilegitimidade


ativa arguida, o que não se espera, tem-se que, no mérito, a ação deverá ser julgada
improcedente, pelos motivos que adiante restarão demonstrados.

Isso porque, Excelência, o que ocorreu no caso em tela foi um erro


sistêmico no sítio eletrônico da empresa Ré, sendo que tal erro era perceptível, inclusive, no
momento da realização do pedido.

Veja que no doc. de num. 18340944 juntado pelo Autor, é possível


verificar que a soma dos valores dos produtos adquiridos era superior ao valor total indicado
para a compra, em nítida existência de erro sistêmico.

Isso porque a roçadeira possuía valor de R$ 711,00 (setecentos e onze


reais), enquanto o kit de segurança possuía valor de R$ 155,56 (cento e cinquenta e cinco reais
e cinquenta e seis centavos). Se efetuarmos a adição de tais valores, chegamos ao resultado de
R$ 866,56 (oitocentos e sessenta e seis reais e cinquenta e seis centavos). Contudo, em virtude
da falha sistêmica, foi apresentado como “total” o valor de R$ 558,38 (quinhentos e cinquenta
e oito reais e trinta e oito centavos).
Perceba, Excelência, que sequer se trata de desconto concedido, uma
vez que o campo “desconto”, na imagem acima identificado, possui valor expresso de apenas
R$ 55,55 (cinquenta e cinco reais e cinquenta e cinco centavos). Mais uma prova da existência
de falha sistêmica.

Importante mencionar, ainda, que os produtos adquiridos pelo Autor,


no site da Ré, hoje, na modalidade de pagamento à vista, são vendidos, respectivamente, por
R$ 699,90 (seiscentos e noventa e nove reais e noventa centavos)1 e R$ 157,90 (cento e cinquenta
e sete reais e noventa centavos)2, contrariando a informação falsa fornecida pelo Autor de que
os produtos estariam sendo vendidos atualmente pelo mesmo preço por ele pago.

1
https://www.lojadomecanico.com.br/produto/94265/33/781/Rocadeira-Lateral-Eletrica-Bi-Partido-1200W-
220V/153/?utm_source=googleshopping&utm_campaign=xmlshopping&utm_medium=cpc&utm_content=9426
5&gclid=Cj0KCQiAg_KbBhDLARIsANx7wAwZQ3UCgu43XTNVWxpOON_tbiRZkIVimHqiiOCza-
EGz5rzJLxM4DQaAuBREALw_wcB – acessado em 22 de novembro de 2022, às 11 horas e 47 minutos.
2
https://www.google.com/search?q=ro%C3%A7adeira+lateral+eletrica+bipartido&rlz=1C1BNSD_pt-
BRBR977BR977&sxsrf=ALiCzsbnuWE5YbWu0rYuacJDZRaIylypeQ%3A1669128404829&ei=1OB8Y9mbM
pDD5OUPqNOO2As&oq=ro&gs_lcp=Cgxnd3Mtd2l6LXNlcnAQAxgAMgQIIxAnMgQIIxAnMgQIIxAnMgQI
ABBDMgQIABBDMgQIABBDMgQIABBDMgsILhCABBCxAxCDATIECAAQQzIECAAQQzoGCCMQJxA
TOgsIABCABBCxAxCDAUoECEEYAEoECEYYAFAAWGlgyQpoAHABeACAAYsBiAGEApIBAzAuMpg
BAKABAcABAQ&sclient=gws-wiz-serp – acessado em 22 de novembro de 2022, às 11 horas e 48 minutos.
Como se não bastasse a nítida falha sistêmica, que por si só já seria
capaz de desconfigurar o direito alegado pelo Autor, tem-se que este, em momento algum,
encontrou-se desamparado pela Ré, que percebendo a existência da falha em seu sistema,
prontamente comunicou o Autor do cancelamento da compra, fornecendo meios alternativos
para resolução do problema, como o pronto estorno da quantia paga, sem que houvesse
qualquer prejuízo.

Tal relato é fornecido pelo próprio Autor em sua peça inaugural, o que
torna incontroverso o aqui narrado.

Fato é que, muito embora tenha a Ré solicitado os dados bancários do


Autor para efetivação da restituição dos valores pagos, este se negou de forma injustificada a
fornece-los. Com isso, com o intuito de não prejudicar o Autor, esta Ré prontamente
disponibilizou um voucher (vale-compra) equivalente ao valor pago pelo Autor, para que este
utilizasse da forma que lhe conviesse no site da Ré. O fato é comprovado pelo doc. de Num.
18340945, que abaixo se colaciona:

Diante do narrado, Excelência, tem-se que (i) houve nítida falha


sistêmica no momento da realização do pedido, passível de ser percebido pelo próprio
consumidor, bastando realizar, apenas, simples cálculo de soma; além disso, (ii) a Ré, de forma
imediata, forneceu meios alternativos ao Autor para resolução do ocorrido, tal como estorno
da quantia paga e, posteriormente, liberação de vale compras.

Em razão do acima esposado é que a pretensão do Autor deve ser


julgada totalmente improcedente.
3.2 ALTERNATIVAMENTE – DO CANCELAMENTO DO VALE COMPRA GERADO

Alternativamente, entendendo Vossa Excelência pela procedência dos


pedidos autorais, deverá ser determinado/autorizado o cancelamento do vale-compra já
disponibilizado, pois entendimento contrário geraria evidente enriquecimento ilícito por parte
do Autor.

3.3 DA AUSÊNCIA DE DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS

O Autor não conseguiu demonstrar que a situação ultrapassa o mero


dissabor cotidiano e que tenha lhe causado severos prejuízos e dores superiores ao
aborrecimento. Sequer argumentou neste sentido, se limitando, apenas, a efetuar o pedido de
forma rasa.

Afinal, em momento algum a Ré agiu de forma abusiva, mas pelo


contrário, ao constatar a falha sistêmica, imediatamente ofereceu fácil resolução ao Autor,
oferecendo o estorno do pagamento e, posteriormente, a utilização do valor pago em forma
de crédito (vale).

Portanto, verifica-se que não houve qualquer ato irregular praticado


pela Ré, motivo pelo qual, não há que se falar em indenização por danos morais.

Revela-se adequada a opinião de Cretella Júnior, na obra


“Comentários à Constituição”:

“(...) o primeiro requisito para que se concretize a reparação ou


indenização por parte de quem deu causa ao prejuízo é a existência de
dano. Sem dano real, nem se cogitaria de equacionamento do problema
da responsabilidade.”

A questão a ser apreciada se refere à ausência de documentos


suficientes a consubstanciar o tripé da responsabilidade civil, qual seja, a ocorrência de ato
ilícito, nexo causal e os supostos danos suportados pelo Autor.
É cediço que, pelo sistema processual civil, a prova deve ser feita por
quem afirma um fato, sendo a regra exarada no artigo 373, I, do Código de Processo Civil e
igualmente pelo artigo 434 do mesmo diploma legal, que determina a imprescindibilidade do
Autor do pedido fazer a prova constitutiva do seu direito já com a inicial.

A vulnerabilidade e eventual hipossuficiência não retira do


consumidor a obrigação de provar o fato constitutivo do seu direito, o que não ocorreu, ainda
mais quando se está diante de prova de fácil alcance, bastando, portanto, que apresentasse
qualquer documento que demonstrasse a efetiva ocorrência de danos morais.

Neste tópico, mesmo que se fale na inversão do ônus da prova,


caberia a Autora fazer a prova mínima do dano moral sofrido e, assim, demonstrar a efetiva
ofensa a seu direito.

Fato é que não resta verificado os pilares basilares da responsabilidade


civil, aptos a ensejar o dano moral pleiteado, visto que o Autor não se desincumbiu de seu
ônus probatório, estipulado no artigo 373, I, do Código de Processo Civil, deixando de
comprovar quais foram os prejuízos que teria sofrido efetivamente, que pudessem ensejar
a indenização por danos morais.

Tanto é verdade, Excelência, que não há na exordial qualquer


argumentação estabelecendo a linha de raciocínio do Autor capaz de culminar na
indenização por danos morais pretendida, resumindo-se o Autor apenas em realizar o pedido
de forma parca e rasa.

Para o caso específico em tela, há entendimento pacificado pelos


Tribunais Estaduais:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS


MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. COMPRA CANCELADA, COM
DEVOLUÇÃO DAS MERCADORIAS. DESCONTO INDEVIDO DO
VALOR DA COMPRA NÃO IMPLEMENTADA. FALHA
SISTÊMICA. ESTORNO DOS VALORES DESCONTADOS
INDEVIDAMENTE NA ESFERA ADMINISTRATIVA.
INAPLICABILIDADE DO ART. 42 DO CDC. DANO MORAL
INOCORRENTE. AUSÊNCIA DE DANO AOS ATRIBUTOS DA
PERSONALIDADE. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº
71007250889, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,
Relator: Cleber Augusto Tonial, Julgado em 30/01/2018).
(TJ-RS - Recurso Cível: 71007250889 RS, Relator: Cleber Augusto
Tonial, Data de Julgamento: 30/01/2018, Terceira Turma Recursal
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 31/01/2018)

Assim sendo, diante da ausência de qualquer prova da existência de


danos morais, de rigor a improcedência integral dos pedidos.

Entendimento contrário ocasionaria enriquecimento ilícito por


parte do Autor, o que é vedado pelo ordenamento jurídico pátrio, conforme artigo 884 do
Código Civil.

4. ALTERNATIVAMENTE - DA REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Embora se saiba que o pedido indenizatório não prospera, vale-se a Ré


deste tópico para, por apego ao debate e ao princípio da eventualidade, ofertar defesa quanto
ao valor pedido para condenação a título de danos morais.

Ora, se o ressarcimento pelo dano moral é uma forma de compensar o


mal causado, não pode, porém, ser desproporcional ao real dano sofrido pela vítima, se é
que houve algum.

Nesse sentido, o E. Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente se


manifestado e reduzido as indenizações despropositadas:

“A indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se


justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento
sem causa, com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento
operar-se com moderação, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da
vida e às peculiaridades de cada caso”. (STJ, Resp 267529, 4a Turma,
Rel Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ:18/12/2000, p.208)

Na linha do entendimento proferido pelo Egrégio Superior Tribunal


de Justiça acima citado, temos que a pretensão do Autor é absolutamente destoante do quanto
se verifica e contradiz a melhor jurisprudência sobre o tema, devendo o arbitramento do dano
moral atender a circunstância do fato, sopesando as condições das partes e não fazendo da
sentença um meio de enriquecimento ilícito.

Portanto, apenas em respeito ao princípio da eventualidade, caso


Vossa Excelência entenda pela configuração dos danos morais, o que não se espera,
imprescindível que estes sejam arbitrados em valor condizente com a realidade fática.

5. DOS REQUERIMENTOS

É, pois, a presente contestação ofertada para afastar integralmente


todos os argumentos fáticos e jurídicos constantes da inicial, requerendo, por consequência:

a) Seja acolhida a preliminar de ilegitimidade ativa, extinguindo o


processo e arquivando-se definitivamente os autos;
b) Em não sendo acolhida referida preliminar, que seja julgada
TOTALMENTE IMPROCEDENTE a presente demanda;

Pugna, por fim, que todas as publicações e intimações do presente feito


sejam feitas exclusivamente e sob pena de nulidade, em nome do Dr. Júlio Christian Laure,
(OAB/SP 155.277).

Termos em que, pede e aguarda deferimento.


Ribeirão Preto/SP, 22 de novembro de 2022.

JÚLIO CHRISTIAN LAURE LEONARDO BARROS ZAMPIERI


OAB/SP 155.277 OAB/SP 444.565

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