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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 5º

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE COPACABANA - RJ.

PROCESSO Nº 0807628-25.2023.8.19.0251

JF VAREJÃO ESTOFADOS LTDA, já devidamente


qualificada nos autos, vem, nos autos da Ação Indenizatória de Danos
Materiais Morais movida por Thais Junqueira Rizzo, já qualificada,
respeitosamente, nos termos do artigo 30 da Lei 9.099/95, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

consoante aos fatos e argumentos apresentados na exordial, requerendo, desde


já, que a presente demanda seja julgada improcedente pelos motivos a seguir
apresentados.
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1 – DA TEMPESTIVIDADE

Visto que o prazo para oferecer Contestação nos Juizados


Especiais Cíveis é até a audiência de Instrução e Julgamento1, que está prevista
para o dia 20 de março de 2024 (quarta-feira), tempestiva é a presente
manifestação.

2 – DA DEMANDA EM APERTADA SÍNTESE:

Trata-se de ação de indenização por danos materiais e morais,


ajuizada por consumidora que, em 10/07/2023, adquiriu o móvel “Home
Suspenso Búzios 1.8 – Off White Matte”.

Em 22.07.23 (data da entrega e montagem), a Autora entrou


em contato com a empresa ré, a fim de informar as avarias do móvel, tais como
vidros quebrados, peças lascadas, painel de LED que não acendia.

A empresa, além da constante demora na resposta, em que


pese tenham dado prazo de 30 dias para reposição do móvel (com prazo final em
25.08.23), somente realizou a efetiva entrega no móvel em 28.08.23. Após, , no
mesmo dia, o painel voltou apresentar defeito, quando o LED novamente não
ligou.

Todavia, a ré se recusou a resolver o novo problema.

Com isso, ajuizou a presente demanda pela qual requereu


obrigação de fornecer com o término da montagem do produto, finalizando a
colocação do LED e a devida contratação. Subsidiariamente, que seja
determinado pelo juízo o custeio da nova montagem mediante apresentação de

1 ENUNCIADO 10 do FONAJE – A contestação poderá ser apresentada até a audiência de Instrução e Julgamento.
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orçamento; e dano moral de R$ 5.000,00 e desvio produtivo do tempo da autora


de R$ 5.000,00.

Esse é, em apertadíssima síntese, o resumo da demanda.

3 – DA PRELIMINAR

3.1 – DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR FACE A PERDA


SUPERVENIENTE DO OBJETO – RESOLUÇÃO DO IMBRÓGLIO
ADMINISTRATIVAMENTE

Primeiramente, cumpre observar que a Ré é um


estabelecimento de comércio varejista de móveis, responsável apenas pelo
produto adquirido pela parte Autora, sendo a entrega realizada por uma
transportadora terceirizada.

Há de se observar que o motivo que levou a parte autora a


ingressar com a presente demanda foi o fato de ter realizado a compra de um
produto, e este teria sido entregue com defeito, sem solução do problema.

Todavia, conforme se depreende em comprovante anexado a


esta presente peça, a autora já teve o vício sanado, sem qualquer objeção na
entrega, com a Ordem de Serviço devidamente assinada.

Logo, a parte autora, com o intuito de se valer de uma


possível indenização, ajuizou a presente demanda mesmo já tendo recebido
o produto novo.
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Não há motivo para a existência da presente demanda em


face do réu, já que a parte autora já teve sua solução administrativamente de seu
problema.

Pelo exposto, não há interesse de agir no que toca aos


pedidos da Autora, o que está constatado e faz falecer seu direito, com base no
art. 330, III do CPC:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: (...)


III - o autor carecer de interesse processual;

Dessa forma, o provimento jurisdicional pleiteado nos


presentes autos é, de todo, desnecessário sendo, portanto, inútil, de maneira que
à Autora falta interesse de agir por não ter esgotado a via adminisrativa antes de
recorrer ao Judiciário para ter seu pleito apreciado, devendo o feito ser extinto
sem julgamento de mérito, conforme se depreende das lições do ilustre
Desembargador Alexandre Câmara que, em sua obra, assim leciona:

Assim, sendo pleiteado em juízo provimento que não traga ao


demandante nenhuma utilidade (ou seja, faltando ao
demandante interesse de agir), o processo deverá ser
encerrado sem que se tenha um provimento de mérito, visto
que o Estado estaria exercendo atividade desnecessária ao
julgar a procedência (ou improcedência) da demanda
ajuizada. Tal atividade inútil estaria sendo realizada em
prejuízo daqueles que realmente precisam da atuação estatal,
o que lhes causaria dano (que adviria, por exemplo, do
acúmulo de processos desnecessários em juízo ou tribunal).
5

Por essa razão, inexistindo interesse de agir, deverá o


processo ser extinto sem resolução de mérito.

Sendo assim, diante da solução administrativa pela ré,


corroborada pelos documentos anexos, que ocorreu sem prejuízos a parte autora,
requer a extinção do processo sem resolução do mérito, com fulcro no artigo
485, VI do Código de Processo Civil.

4 - DO MÉRITO

4.1 –DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE


CIVIL

Importante se constatar que, em verdade, na história


apresentada, a autora é incapaz de identificar qualquer ato ilícito que tenha sido
praticado pela peticionante, que pudesse ensejar qualquer dano.

O artigo 186 do Código Civil2 trata dos atos ilícitos como


sendo aqueles que violam direitos e causam danos à terceiro em razão de ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. A responsabilidade civil que
dá origem à obrigação de indenizar é objeto do artigo 927 do CC/023.

A caracterização da responsabilidade civil depende da


verificação de, pelo menos, três fatores: o ato ilícito, o dano, e o nexo de
causalidade entre estes.

Destarte, não há como atribuir à contestante qualquer espécie


de culpa pelo evento, requisito imprescindível para caracterização de sua
responsabilidade no caso, conforme leciona Sérgio Cavalieri Filho:

2 “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
3 “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (Arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
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“Não basta a imputabilidade do agente para que o ato lhe


possa ser imputado. A responsabilidade subjetiva é assim
chamada porque exige, ainda, o elemento culpa. A conduta
culposa do agente erige-se, como assinalado, em pressuposto
principal da obrigação de indenizar. Importa dizer que nem
todo comportamento do agente será apto a gerar o dever de
indenizar, mas somente aquele que estiver revestido de certas
características previstas na ordem jurídica. A vítima de um
dano só poderá pleitear ressarcimento de alguém se conseguir
provar que esse alguém agiu com culpa; caso contrário, terá
que conformar-se com a sua má sorte e sozinha suportar o
prejuízo. Vem daí a observação: “a irresponsabilidade é a
regra, a responsabilidade a exceção”

Sobre a culpa, por si só, ainda que pudesse ser dispensada, há


de se demonstrar a existência do nexo causal entre um ato da ré e os danos que a
autora alega ter experimentado.

No entanto, conforme já demonstrado, a autora não


estabelece o imprescindível nexo causal entre algum ato praticado pelo
peticionante e os danos que alega ter experimentado.

Por fim, considerando a ausência dos requisitos cruciais para


caracterização da responsabilidade civil da peticionante, requer a improcedência
in totum dos pedidos contidos na exordial.

4.2 – DA AUSÊNCIA DE DANO MORAL SUPORTADO PELA PARTE


AUTORA:

Já sobre o dano moral requerido pela parte autora, há de se


destacar alguns pontos cruciais para firmar o entendimento da inocorrência
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destes:
Ora, no presente caso não há qualquer lesão à vida privada, à
intimidade, à honra, à imagem ou à dignidade da parte Autora por conduta
efetivamente imputável à Ré, não havendo razão ensejadora da indenização
pretendida por aquela.

A parte autora não teve qualquer prejuízo na situação narrada


que pudesse ensejar qualquer indenização por danos extrapatrimoniais,
salientando-se que não se trata de produto essencial.

A Constituição se assegurou de não transformar o instituto do


dano moral numa fonte de renda alternativa, mas de instituto capaz de coibir
abusos e violações realmente sérias ao determinar em seu art. 5°, X, que o dano
moral decorre da violação da dignidade humana.

Se não houver violação a pelo menos um daqueles bens da


vida, não há que se falar em dano moral, sob pena de estar-se contrariando o
disposto no art. 5°, X da CRFB/88.

O autor em nenhum momento acosta aos autos qualquer


prova efetiva da existência de lesão a direito integrante de sua
personalidade por conduta da ré.

Já está pacificado por este Tribunal de Justiça4 que o mero


aborrecimento, embora resulte desconforto ou sensação de irritação, não tem o
condão de criar o dever reparatório por dano moral, principalmente se as
circunstâncias fáticas não demonstram a situação pretendida pela parte autora,
respeitando, em sua totalidade, as normas regulamentadoras, vejamos:

4 Disponível em:
http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0003BE1D20DE2F9B9A782D30F0CBE9
9AE9AEDBC4023F6438&USER= . Acesso em 05 de março de 2018;
8

“Dano moral inexistente. Somente situações extremas e


graves podem justificar o reconhecimento de dano moral, o
que não foi demonstrado nos autos, mas sim a ocorrência de
mero aborrecimento, que não geram o dano pretendido, uma
vez que não se verifica no caso em tela, que a conduta do réu
tenha causado qualquer ofensa a personalidade da autora,
abalo psíquico ou transtornos que fujam à normalidade.
Incidência da Súmula 75 do TJ/RJ. Manutenção da sentença.
Desprovimento do recurso. (AC 0107272-70.2008.8.19.0001.
Rel. Des. Cláudio Brandão – julg.02/03/2010 – 19ª Câmara
Cível)” – Grifou-se.

Cumpre destacar, de forma derradeira, que a reparação do


dano moral há de ser imposta a partir do mesmo fundamento da
responsabilidade civil, que não visa a criar fonte injustificada de lucros e
vantagens sem causa.

Portanto, com o fito de se evitar o enriquecimento sem causa


e desproporcional da parte autora, é absolutamente descabida a fixação de
condenação em danos morais pretendida.

4.3 AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA QUANTO AO FATO


CONSTITUTIVO DO DIREITO DO AUTOR

Deve-se atentar que cabe ao autor provar a narrativa fática


descrita na inicial, o dano e o nexo causal entre aqueles dois elementos. A lei nº
13.105 de 2015 impôs, a exemplo do artigo 333, inciso I do Código de Processo
Civil, de 1973, o ônus da prova ao autor da demanda, no que tange ao direito
que pleiteia no processo:

“Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
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modificativo ou extintivo do direito do autor.


§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades
da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário,
poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus
que lhe foi atribuído. encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.”

É pertinente destacar que o parágrafo 1º do referido artigo do


Código de Processo Civil consagrou um instituto de extrema relevância, no
tocante ao dever da prova inerente ao processo, qual seja, a chamada
“distribuição dinâmica” da prova.

Assim, é facultado ao magistrado incumbir a prova do modo


menos gravoso, a quem entende ter condições de produzi-la. Em outras palavras,
o novo Código de Processo Civil abraçou o fato de que é materialmente
impossível a prova de fato negativo indefinida, ao distribuir o ônus da prova a
quem entenda que o possa produzir sem maior gravidade.

A ausência de provas pelo autor contraria súmula do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a qual segue abaixo:

Súmula Nº. 330 – TJ-RJ "Os princípios facilitadores da


defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão
do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a
seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado
direito."
10

Nossas Cortes entendem ser imperioso que o Demandante


produza prova mínima de suas alegações, conforme julgado abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AÇÃO INDENIZATÓRIA. DEFEITO DO PRODUTO.
AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO DO JULGADO. A
presunção de ser o consumidor hipossuficiente
tecnicamente não o exime de produzir prova mínima
quanto aos fatos que alega. Inteligência da Súmula 330 do
TJRJ. Apelante que, apesar da inversão do ônus da
prova, deveria ter feito prova mínima de suas alegações,
contudo não trouxe aos autos, mesmo que minimamente,
provas do fato constitutivo de seu direito, descumprindo
os termos do art. 373, I, do CPC. Acertada, portanto, a
sentença de improcedência ora recorrida, que deve ser
mantida em sua integralidade. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

(TJ-RJ - APL: 00085646420178190002, Relator: Des(a).


FABIO UCHOA PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO,
Data de Julgamento: 27/01/2022, QUARTA CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 31/01/2022)

“APELAÇÃO CÍVEL. ALEGAÇÃO DE COBRANÇA


INDEVIDA. SERVIÇO DE RÁDIO, TELEFONIA E
INTERNET MÓVEL. AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA
DOS FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO DO
AUTOR. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. 1. Pretende
o apelante seja reconhecida a falha na prestação dos serviços
da apelada, consistente em cobranças indevidas, acima do
valor contratado, após a migração de planos. 2. A partir da
análise dos autos, verifica-se que o recorrente não logrou
11

êxito em comprovar, minimamente, os fatos constitutivos


do seu direito, ônus que lhe incumbia por força do art.
373, I, do CPC. Incidência do enunciado 330 da súmula
do TJRJ. 3. Acolhimento da tese defensiva no sentido de
que o consumidor utilizou serviços, além da franquia
contratada, tendo a apelada agido em exercício regular de
direito. 4. Recurso desprovido, nos termos do voto do
desembargador relator.”
(TJ-RJ – APL: 01320136220178190001, Relator: Des(a).
RICARDO RODRIGUES CARDOZO, Data de Julgamento:
07/05/2019, DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL)

Direito do Consumidor. Autor que alega ter contratado


empréstimo consignado perante o banco réu, passando a
receber descontos em seu contracheque referentes a
encargos relativos a crédito rotativo de cartão de crédito que
nunca contratou. Sentença de improcedência, fundada na
falta de prova mínima dos fatos constitutivos do direito
do autor. Análise do contracheque do demandante que não
permite verificar a ocorrência de descontos no valor
mencionado na exordial, sendo certo que os descontos
efetivamente realizados não foram impugnados nestes autos.
Contradição entre a narrativa feita na inicial e a que foi
desenvolvida em sede de apelação, quando o autor assumiu
já ter, de fato, utilizado cartão de crédito da empresa ré,
afirmando, contudo, que os valores já descontados teriam
sido suficientes para a quitação da dívida. Demandante que
não se desincumbiu do ônus que lhe é atribuído pelo artigo.
373, I, do CPC/15, que repete a redação do artigo 333, I, do
CPC/73. Sentença mantida. Recurso desprovido.
(TJ-RJ – APL: 00217894620168190210 RIO DE JANEIRO
LEOPOLDINA REGIONAL 5 VARA CIVEL, Relator:
12

Des(a). MARCO ANTONIO IBRAHIM, Data de


Julgamento: 19/09/2018, QUARTA CÂMARA CÍVEL)

VOTO Nos termos do art. 515, §1 do CPC, passo a análise


do mérito. E neste contexto, entendo pela reforma da
sentença nos termos do voto abaixo delineado. Trata-se de
recurso inominado em face da sentença que julgou
procedente em parte os pedidos autorais, condenando os
réus, solidariamente, a procederem a substituição do
produto, bem como ao pagamento de R$ 8.000,00, a título
de danos morais. Argumenta a parte autora que, no dia
08/03/2014, adquiriu uma geladeira, no valor de R$
2.201,46, na loja do primeiro réu, tendo aguardado por 20
dias o recebimento do produto. Afirma que ao recebê-lo,
constatou a presença de um defeito, estando a geladeira
amassada. Em contato com a loja ré, sustenta que nada fora
resolvido. Logo após, alega que novo defeito restou
evidente, o que motivou novamente o contato do autor,
tanto com a loja ré, quanto com a fabricante, ora segunda ré,
visando a troca do produto. Por fim, sustenta que, até a data
do ajuizamento da presente ação, nada fora resolvido. No
caso, ouso divergir do ilustre magistrado sentenciante. Isto
porque, a despeito de se tratar de relação de consumo e
responsabilidade objetiva da ré, não isenta o consumidor
da comprovação mínima dos fatos constitutivos de seu
direito, nos moldes do art. 333, I do CPC, comprovando,
com isso, os pressupostos da responsabilidade civil, a
saber: fato lesivo, dano e nexo de causalidade, ônus do
qual o autor não se desincumbiu com êxito, na medida
em que não comprovou, nos autos, ainda que
minimamente, a ocorrência dos alegados defeitos. O fato
da responsabilidade em questão ser objetiva não afasta o
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ônus da parte autora de comprovar os fatos constitutivos de


seu direito (art. 333, I, do CPC), em especial em sendo a
prova fácil produção, como a juntada de uma foto do
produto amassado ou de um laudo técnico indicando a
presença de defeitos no bem. Ademais, a inversão do ônus
da prova é um direito do consumidor, mas seu deferimento
não é automático, podendo o Magistrado, ao avaliar o caso
concreto, entender que não há hipossuficiência técnica a
justificar a inversão, o que ocorreu no caso em tela.
Entendo, portanto, que o autor não se desincumbiu de seu
ônus probatório no que se refere ao vício do produto,
especialmente por se tratar de comprovação mínima e de
fácil produção. Sendo assim, VOTO pelo acolhimento e
provimento do recurso do réu para fins de julgar
improcedente o pedido autoral, nos moldes do art. 269, I do
CPC. Sem ônus sucumbenciais por se tratar de recurso com
êxito. P.R.I. Rio de Janeiro, 03 de junho de 2015ADRIANA
MARQUES DOS SANTOS LAIA FRANCO Juíza Relatora
PODER JUDICIÁRIO QUINTA TURMA RECURSAL
Recurso nº 0010023-58.2014.8.19.0212 Sessão 11/06/2015
Recorrente: WHIRPOOL S/A Recorrido: EDUARDO
AUGUSTO GRANJA
(TJ-RJ – RI: 00100235820148190212 RJ 0010023-
58.2014.8.19.0212, Relato: ADRIANA MARQUES DOS
SANTOS LAIA FRANCO, Quinta Turma Recursal, Data
de Publicação: 22/07/2015 00:00)

Como se observa, a parte autora jamais comprovou o


evento danoso, nem mesmo qualquer nexo causal para que pudesse ser
constatada a responsabilidade civil da ré no presente caso.

Assim, por não estarem presentes no caso em comento os


requisitos necessários para o deferimento da inversão do ônus da prova, previsto
14

no artigo 6º, inciso VIII, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, pugna


a parte ré pela improcedência do pedido de inversão do ônus probandi, face a
ausência de provas mínimas pela autora.

4.4 – DA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Ainda que este d. Magistrado(a) entenda que a Ré causou


algum abalo de ordem moral à parte autora, o que só se admite por amor ao
debate, se deve considerar que o decreto condenatório necessita se pautar em
harmonia com os princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade.

O artigo 944, do Código Civil preceitua o critério equitativo e


proporcional à fixação do valor indenizatório, prevendo, que o quantum
indenizatório se mede pela extensão do dano, veja:

“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a
gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.”

Assim, tendo em vista a suposta conduta irregular da Ré,


ainda que o prejuízo moral sofrido tenha sido grave e desproporcional frente à
atividade desenvolvida e executada com total lisura, se faz necessária a redução
da verba indenizatória, como de direito.

A diretriz assente na jurisprudência e doutrina aponta a justa


apreciação e arbitramento do valor indenizatório, fixando-o de forma moderada
segundo o princípio da razoabilidade, de maneira a evitar enriquecimento sem
causa e a coibir os abusos que estimulam a multiplicação de pleitos de
indenização assimétricos à pretensão proposta no judiciário.
15

Neste sentido, ultrapassadas as alegações apresentadas,


quanto ao mero aborrecimento vivenciado pela parte autora, a fixação do
quantum indenizatório, caso ocorra, merece ser fixado em patamar justo.

5 – DOS PEDIDOS:

Diante do exposto requer:

1. O acolhimento da preliminar de mérito, qual seja, perda do objeto, com a


devida extinção do processo sem resolução do mérito, com base no artigo 485,
VI do Código de Processo Civil;

2. por amor ao debate, caso não seja acolhida a preliminar, sejam julgados
improcedentes todos os pedidos formulados na inicial face aos argumentos
deduzidos na presente Defesa, com base no art. 487, I, do Novo CPC, posto que
não houve qualquer nexo causal da conduta da Ré para com os danos causados
ao autor,

3. Eventualmente, caso seja outro o entendimento deste juízo, seja a


indenização fixada em observância aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, a fim de evitar o enriquecimento sem causa.

Requer, também, que todas as futuras publicações e


Intimações sejam feitas exclusivamente em nome da patrona, Dra. Viviane
Corrêa, brasileira, advogada, inscrita na OAB/RJ 95.235, com endereço
eletrônico intimacaoeajjoc@eajjoc.com.br e escritório situado na Avenida
Marechal Floriano, nº 19, 9º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20080-003,
sob pena de nulidade absoluta.

Protesta pela produção de todas as provas admitidas em


Direito, especialmente documental.
16

Termos em que,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 18 de março de 2024.

VIVIANE CORRÊA
OAB/RJ - 95.235

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