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Exmº. Sr. Dr. Juiz de Direito do Quarto Juizado Especial Cível da


Circunscrição Judiciária do Distrito Federal.

Autos de nº 2004 01 1 040504-2

BANCO ABN AMRO REAL S.A., devidamente


qualificado nos autos da ação de indenização, que contra si vem sendo
promovida por MARCUS VINICIUS PESSANHA GONÇALVES,
em curso perante esse Ilustrado e Douto Juízo, por sua procurador,
infra-assinado, (mj), vem à digna presença de V.Exa. interpor o presente
recurso contra a v. sentença proferida nestes autos, fazendo-a pelas
razões anexas.

Requer, pois, o recebimento do presente recurso e a


remessa dos autos à instância superior, na forma e prazo legal.

N.T.P.D.
Brasília, 06 de outubro de 2004

Pp. Cristiane Borges Arantes Ayres


-advogada-
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EGRÉGIA TURMA RECURSAL

RAZÕES DO RECORRENTE

Eminente Relator.
Egrégia Turma Recursal.

“Data maxima venia”, deve ser reformada a r. decisão


recorrida pela ilegalidade e injustiça da mesma às partes.

2. Com efeito, ficou reconhecida na r. sentença a existência


de causa para a indenização pleiteada pela recorrido, como se houvesse
dado causa a negativação indevida do nome do autor, ora recorrido, ao
SERASA no cadastro de inadimplentes.

3. Porém, “data venia”, laborou em equívoco a r. decisão,


levando-se em conta a natureza da relação jurídica entre as partes.

4. Com efeito, por força de aquisição de produto pelo


recorrido da empresa AMERICANAS.COM.S.A.COMÉRCIO
ELETRÔNICO através de financiamento pelo recorrente, tornou-se,
pois, existente:

a) a relação de compra e venda entre o recorrido e as


CASAS AMERICANAS;
b) o financiamento do produto adquirido pelo banco, ora
recorrente.

5. Porém, ocorrendo o desfazimento do negócio relativo a


primeira relação – RECORRIDO e CASAS AMERICANAS – haveria,
pois, a vendedora (CASAS AMERICANAS) e o próprio autor, ora
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recorrido, tomar todas as cautelas para que fosse desfeito, de igual


forma, o financiamento do equipamento na forma já mencionada.

6. Assim, não ocorrendo em razão da falta de comunicação


da vendedora e do comprador, ora recorrido, ao banco réu, ora
recorrente, foi o nome do mesmo negativado perante o SERASA pela
falta de pagamento das prestações pactuadas que, até então o pacto
firmado entre os mesmos encontrava-se em vigor.

7. Tem-se, pois, a flagrante ilegitimidade “ad causam”


passiva do recorrente para responder o pedido inicial e não havendo
reconhecida a inexistência desta condição da ação pela r. sentença,
padece o ato judicial de reforma para decretação da extinção do feito, na
forma do disposto no art. 3º c.c. o art. 267, VI do C.P.Civil.

8. Levando-se a questão por outro ângulo, se observada


pela presença da condição da ação – legitimidade – não há como ser
concluída de forma diversa, senão pela inexistência de ação culposa que
pudesse justificar a indenização,na forma do disposto no art. 159 do
antigo CC equivalente ao art. 927 do atual Código Civil.

9. Tem-se, pois, a inexistência de ação culposa do réu-


recorrente e dos danos alegados pelo autor-recorrido, presente fato
impeditivo do direito dos mesmos, segundo a interessante lição de
MARIA HELENA DINIZ, no seu Código Civil Anotado, quando
observa os requisitos da ação de reparação de danos e assevera:

“I – ATO ILÍCITO. O ato ilícito é praticado em


desacordo com a ordem jurídica, violando direito
subjetivo individual. Causa dano a outrem, criando o
dever de repará-lo. Logo produz efeito jurídico, só que
este não é desejado pelo agente, mas imposto pela lei.
............................................................................................

II – ELEMENTOS ESSENCIAIS. Para que se


configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a)
fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência(...); b)
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ocorrência de um dano patrimonial ou moral, sendo que


pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça são
cumuláveis as indenizações por dano material e moral
decorrentes do mesmo fato (...); c) nexo de causalidade
entre o dano e o comportamento do agente (...).”

10. Por outro lado, ainda que assim não fosse, não haveria
nexo causal entre esta ação e os danos que não existiram (ausência de
relação de causalidade entre esta ação culposa e os danos) leva, sem
dúvida, à improcedência da ação.

11. Torna-se interessante recorrer aos ensinamentos de


SILVIO RODRIGUES que assevera:

“Pressupostos da responsabilidade aquiliana: A) ação


ou omissão do agente; B) relação de causalidade: C)
existência de dano: D) dolo ou culpa do agente. –
Pretendendo circunscrever esta sucinta exposição
apenas ao problema da responsabilidade
extracontratual, passo ao exame da regra básica que a
disciplina, ou seja, a do art. 159 do Código Civil.

Do exame deste dispositivo, verifica-se que vários são os


pressupostos necessários para que a responsabilidade
emerja. Com efeito, para se apresentar o dever de
reparar, necessário se faz: que haja uma ação ou
omissão por parte do agente; que a mesma seja causa
do prejuízo experimentado pela vítima; que haja
ocorrido efetivamente um prejuízo; que o agente tenha
agido com dolo ou com culpa.

Inocorrendo um destes pressupostos não aparece, regra


geral, o dever de indenizar.”

(DIREITO CIVIL, parte geral, pág. 303)


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12. Não é outro o entendimento do Colendo SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA, como se vê da ementa transcrita à frente,
“verbis”:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


RIP:00001508 DECISÃO:08.03.1993
PROCESSO:RESP NUM:0031560 ANO:93 UF:SP
TURMA:03

RECURSO ESPECIAL
FONTE: DJ DATA:12.04.1993 PG: 06070

“EMENTA:

CIVIL. DANO MORAL. CAUSALIDADE. NÃO


HAVENDO RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ENTRE
O FATO E O PRETENSO DANO MORAL, NÃO HA
LUGAR PARA A SUA INDENIZAÇÃO.

RELATOR:
MINISTRO DIAS TRINDADE

DECISÃO:
POR UNANIMIDADE, NÃO CONHECER DO
RECURSO ESPECIAL.

13. Verifica-se, por outro lado, que não houve conduta


ilícita do preposto do recorrente e nem danos sofridos pelo autor-
recorrido, repita-se. Portanto, não houve MÁ-FÉ, TEMERIDADE ou
DOLO na conduta do(s) preposto (s) do réu.

14. Ainda que assim não fosse, a jurisprudência do


Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, já apontada linhas
volvidas, socorre o entendimento expressado pelo recorrente. “Ipsis
verbis”:

ACÓRDÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


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RECURSO ESPECIAL Nº 39.236 - RJ


(Registro nº 93.0027003-6)

Relator: O Sr. Ministro Waldemar Zveiter


Recorrente: Sérgio Franklin Quintela
Recorrido: Nélson Roberto Bornier de Oliveira
Advogados: Drs. Sérgio Mazzillo e outros, e José Lopes
Pereira e outros

EMENTA: Civil - Dano moral.


............................................................................................

II - Quando como causa de reparação pretendida pelo


ofendido exige a doutrina e tem se mantido rigorosa a
jurisprudência de nossos Tribunais, a caracterização do
ato ilícito condicionando a responsabilidade civil à
ocorrência de dolo, temeridade ou má-fé do agente;

...................................................................................”

(RSTJ 106/227, CPC e Legislação processual em vigor,


nota 6 ao art. 459)

15. No RECURSO ESPECIAL 20.386-0/RJ, em que


figurou como Relator o Eminente MINISTRO DEMÓCRITO
REINALDO, ementado da seguinte forma:

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA


VISANDO O RESSARCIMENTO DE PREJUÍZOS.
INEXISTÊNCIA DA COMPROVAÇÃO EFETIVA DO
DANO. IMPROCEDÊNCIA.

Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento


de prejuízos, a prova da existência do dano
efetivamente configurado é pressuposto essencial e
indispensável.
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Ainda, mesmo que se comprove a violação de um direito


jurídico, e que tenha existido culpa ou dolo por parte do
infrator, nenhuma indenização será devida, dês que,
dela, não tenha decorrido prejuízo.

A satisfação, pela via judicial, de prejuízo inexistente,


implicaria em relação à parte adversa, em
enriquecimento sem causa. O pressuposto da reparação
civil está, não só na configuração de conduta “contra
jus”, mas, também, na prova efetiva dos ônus, já que se
não repõe danos hipotético.

Recurso improvido.”

(STJ – 1ªTurma, R.Esp. 20.386 (9200067387),Rel.


MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO, DJU 27.5.94, p.
16.894, RSTJ 63/251).

16. O Eminente Relator, ao proferir seu brilhante voto,


asseverou, ainda, quanto a inexistência da prova dos danos, invocando
ao seu abono os ensinamentos de AGOSTINHO ALMIN, “in”, Da
Inexistência das Obrigações e Suas Consequências, p. 181, quando
assinalou:

“..........................................................................................

O primeiro requisito ou pressuposto do dever de


indenizar, ensinam os juristas, “é a existênca de um
dano. Como regra geral, deve-se ter presente que a
inexistência de dano é óbice à pretensão de uma
reparação, aliás, sem objeto. Ainda mesmo que haja
violação de um dever jurídicoe que tenha existido culpa
ou, até mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma
indenização será devida, uma vez que se não tenha
verificado prejuízo” (Conf. Agostinho Almin, Da
Inexistência das Obrigações e Suas Consequências,
pág.181).
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“In casu”, o prejuízo, para ser ressarcível, há de estar


suficientemente provado. A satisfação, pela via judicial,
de prejuízo inexistente, implicaria, em relação à parte
adversa, em enriquecimento sem causa.
..........................................................................................”

17. Salta aos olhos a ilegalidade da r. sentença e, por isso,


deve ser reformada por essa Eg. Turma Julgadora.

ISSO POSTO, requer o recorrente seja conhecido este


recurso e provido para reformar a r. sentença recorrido para inversão da
sucumbência, por todos os seus termos.

N.T.P.D.

Brasília, 06 de outubro de 2.004

Pp. Cristiane Borges Arantes Ayres.


-advogada-

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