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0056
RECLAMANTE: LUCAS FERNANDES PIANOVSKI
RECLAMADOS: UNIAO NORTE DO PARANA DE ENSINO LTDA
PROJETO DE SENTENÇA
I. RELATÓRIO
Dispensado nos termos do artigo 38 da Lei 9.099/95.
II. FUNDAMENTAÇÃO
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor
Aplica-se, in casu, o contido no Código de Defesa do Consumidor, haja
vista que se trata de relação de consumo. Deve-se considerar que o CDC traz normas de
ordem pública e interesse social (artigo 1º), em atenção ao mandamento constitucional
exposto no artigo 5º, XXXII, CF, direito fundamental do cidadão. Por tal razão, a
incidência da legislação consumerista pode ser analisada de ofício e a qualquer tempo
pelo Magistrado.
Analisando detidamente os autos, conclui-se que as partes qualificam-se
como consumidor e fornecedor, formando uma relação de consumo.
A parte reclamante é destinatária final e usuária do serviço prestado pelo
reclamado, amoldando-se, por certo, ao conceito de consumidor exposto no artigo 2º do
mesmo diploma legal. Sendo assim, reconheço a relação de consumo entre as partes.
Julgamento antecipado
Inicialmente, cabe ressaltar que o presente feito comporta julgamento
antecipado, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil de 2015, porquanto
as provas trazidas aos autos são suficientes para o julgamento da lide. Ademais, o
magistrado como destinatário da prova, tem o dever de indeferir as diligências inúteis
ou protelatórias (art. 370, parágrafo único, do CPC), garantindo, assim a razoável
duração do processo (arts. 5°, LXXVIII, da CF e 4° e 6° do CPC).
Da retificação do polo passivo
Não verificando qualquer prejuízo para a parte autora e nem sendo
impugnado, defiro o pedido da parte ré para que sua denominação passe a constar como
“EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S/A”.
MÉRITO
Trata-se de ação de indenização por danos morais c/c repetição de indébito,
em dobro de LUCAS FERNANDES PIANOVSKI em face de UNIAO NORTE DO
PARANA DE ENSINO LTDA.
O ponto controvertido nos autos reside nas supostas cobranças indevidas
sofridos pelo autor que resultaram na sua inscrição nos órgãos de proteção ao crédito.
O reclamante alega que após realizar um pagamento no mês de janeiro,
pensando que este se referia as suas disciplinas pendentes, começou a ser cobrado como
se tivesse feito uma nova matrícula.
Alega também que tentou diversas soluções administrativas, mas que todas
foram infrutíferas.
A ré, por sua vez, resumidamente, alegou que a inscrição indevida foi por
culpa do autor uma vez que o mesmo não cancelou a sua matrícula.
Analisados os autos verifico que a pretensão do autor deve prosperar.
Não é cabível exigir do consumidor que o mesmo, após terminar o seu
curso, tenha que cancelar a sua matrícula. Tal ônus de controle é de responsabilidade da
instituição de ensino.
O que a ré tenta realizar é transferir a sua responsabilidade para o autor.
Entretanto, totalmente descabida tal pretensão, afinal os fatos aqui discutidos estão
dentro da atividade econômica/comercial da instituição de ensino.
Nesse sentido, são práticas comerciais abusivas todas as condutas tendentes
a ampliar a vulnerabilidade do consumidor. O comportamento do fornecedor tanto na
esfera contratual quanto à margam dela, abusam da boa-fé e da situação de inferioridade
econômica/técnica do consumidor.
Ao exigir que o consumidor tome providências que não são de sua
responsabilidade e falhar na prestação da solução administrativa, o reclamado age em
desconformidade com os padrões mercadológicos de boa conduta e demonstra uma
tentativa de agravar o desequilíbrio da relação jurídica om o consumidor, impondo sua
superioridade e vontade, que se traduz na eliminação do direito do consumidor .
A preocupação central do código de defesa do consumidor é a de
proporcionar o equilíbrio da relação de consumo, a partir do reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor, estabelecendo uma série de normas protéticas que
buscam equilibrar a relação de consumo.
Uma das mais importantes finalidades do código de defesa do consumidor é
a prevalência da boa-fé objetiva, a fim de evitar que o fornecedor abuse de sua
preponderância técnica, jurídica e econômica, importando ao consumidor condições
injustas de contratação. É “um conjunto de padrões éticos de comportamento, aferíveis
objetivamente, que devem ser seguidos pelas partes contratante (...)”. (GARCIA,
Leonardo de Medeiros. Direito do consumidor: código comentado e jurisprudência, op.
Cit., p. 46.). Consubstancia, portanto, no dever de lealmente e confiança que precisa ser
buscado em todas as fases da relação comercial, principalmente analisando a
vulnerabilidade do consumidor.
A parte fornecedora, em nenhum momento buscou demonstrar suas
alegações por meio de prova, não contribuindo para a estabilidade da relação de
consumo em comento. Ficou demonstrado o desinteresse do reclamado em atender as
necessidades do reclamante, configurando a quebra dos princípios de boa-fé e lealdade
que devem nortear essas relações.
Por outro lado, o autor juntou provas (seqs. 1.5 a 1.14) de que tentou
resolver o problema de forma administrava.
Da inscrição nos órgãos de proteção ao crédito
Quanto as inscrições nos órgãos de proteção ao crédito, tenho que as
mesmas foram indevidas. De forma abusiva a ré cobrou mensalidades do autor que
sequer estava cursando qualquer graduação.
O sistema da ré falhou ao dar a opção de rematrícula para o autor e não dar a
opção de somente pagar os valores referentes as disciplinas pendentes. E, ainda,
continuou cobrando as mensalidades como se o autor fosse aluno. Portanto totalmente
indevidas foram as cobranças e por consequência as inscrições referentes a elas.
Do quantum indenizatório
III. DISPOSITIVO
Por todo o exposto e pelo que consta nos autos, com fulcro nos artigos 5º e
6º da Lei 9.099/95, bem como no art. 487, I do CPC, no mérito, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para:
Juiz Leigo