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PODER JUDICIÁRIO DO AMAZONAS


ESTADO DO AMAZONAS

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0746852-84.2022.8.04.0001 e código 97E5174.
PODER JUDICIÁRIO
12º Vara do Juizado Especial Cível

Autos nº: 0746852-84.2022.8.04.0001


Requerente: Carlos Eduardo Garcia Carneiro
Requerido(a): Instituto de Ensino Superior da Amazônia Ltda

SENTENÇA
Vistos e examinados.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO CARLOS MARINHO BEZERRA JUNIOR, liberado nos autos em 16/12/2022 às 10:50 .
Trata-se de ação de rescisão contratual c/c declaração de inexigibilidade de débito e
indenização por dano moral proposta por Carlos Eduardo Garcia Carneiro contra Instituto de Ensino Superior
da Amazônia Ltda, fundada na inclusão indevida de dados pessoais do autor junto a órgão de proteção do
mercado de consumo, a despeito da inexistência de débito pendente que fundamentasse a medida.

Considerando o aumento exponencial dos feitos distribuídos às unidades que integram o


microssistema dos juizados especiais, a exigir o emprego de múltiplas ferramentas de gestão, a fim de elidir o
comprometimento da eficiência do serviço judiciário; primando pelos princípios da razoável duração do
processo, economia processual, efetividade e da instrumentalidade das formas que norteiam a Lei 9.009/95;
que a matéria tratada na presente ação é, em geral, de direito, e em processos semelhantes já se mostrou
remota a possibilidade de acordo, pelo que decido o julgamento no estado que se encontra para a
razoável duração do processo:

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.


PRESCINDIBILIDADE. A sobrecarga das pautas de audiência tem imposto o
abrandamento do rito dos juizados especiais, autorizando-se, com isso, a
dispensa da sessão de conciliação nos casos em que a tentativa de composição
se mostra de antemão inócua, priorizando-se, desse modo, o princípio da
celeridade processual, reinante no sistema da Lei n. 9.099/95.[...] (TJ-SC - RI:
20154002303 Criciúma 2015.400230-3, Relator: Giancarlo Bremer Nones, Data
de Julgamento: 05/04/2016, Quarta Turma de Recursos - Criciúma)

Passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, I, do CPC.

MÉRITO.

Cuida-se de ação de ressarcimento e reparação de dano moral fundada na deflagração


de procedimento abusivo de cobrança após trancamento de matrícula do aluno.

A relação jurídica estabelecida entre as partes é nitidamente consumerista,


presentes os requisitos dos arts. 2° e 3° do CDC. A responsabilidade dos fornecedores de serviço/produto
é objetiva e somente pode ser afastada quando restar demonstrada a inocorrência de falha ou que eventual
fato do serviço/produto decorreu de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, à luz do que preceituam os
arts. 6°, VI e 14 do CDC.

A responsabilidade do fornecedor de serviços da prestação de ensino é, como se sabe,


objetiva e, cabendo a ele, em caráter exclusivo a formação e a administração de contratos, bem como seu
cancelamento, evitando a constituição de vínculos obrigacionais eivados de fraude ou inconsistências
cadastrais que resultem em prejuízo exclusivo do consumidor, parte hipossuficiente (técnica) dessa relação
jurídica.
É, precisamente, esse o panorama que se apresenta do cotejo da relação processual.

A esse respeito, o Réu afirma que o Autor tem contrato com a IES, e que as cobranças
se dão por semestralidade, não havendo irregularidade nas cobranças. Ocorre que, conforme tela de fls. 124,
com registro dos débitos e pagamentos realizados, conforme narra o Autor na sua petição inicial existe o
registro do trancamento da matrícula em novembro/21, senão vejamos:

Rua Alexandre Amorim, nº 285, 1º Andar, Aparecida - CEP 69010-300, Fone: 3212-6208, Manaus-AM - E-mail:
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O valor do pagamento de R$ 976,32, conforme tela acima, foi negociado e pago pelo
Autor (fls. 16), com solicitação e registro do trancamento da matrícula.

A despeito disto, o mês seguinte foi cobrado na integralidade, com inscrição dos dados
do Autor em cadastro restritivo de crédito.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANTONIO CARLOS MARINHO BEZERRA JUNIOR, liberado nos autos em 16/12/2022 às 10:50 .
A conseqüência processual da postura adotada pelo Réu é a confissão quanto á matéria
de fato (arts. 341 e 389, CPC), quanto à presunção de veracidade dos fatos articulados na exordial, por
serem incontroversos (art. 374, II) ,em especial a abusividade na conduta de promover não somente a
cobrança de dezembro/21, mas dos meses subsequentes, e ainda, da inscrição negativa de seus dados, por
mensalidade que não poderia ser cobrada.

Nesse comenos, não demonstrada pelo fornecedor do serviço a incidência de nenhuma


excludente inserta no §3° do art. 14 do CDC, deve ser reconhecida a sua responsabilidade pelo acidente de
consumo.
Quanto à pretensão deduzida na lide, a falta de demonstração da regularidade das
cobranças, deve a Ré registrar o trancamento da matrícula do curso do Autor, com data retroativa a
08.10.21, e ainda, com relação às mensalidades de dezembro/21 e seguintes, por que geradas após
pedido expresso de trancamento da matrícula, devem ser declaradas inexigíveis, devendo a instituição
promover a baixa em seus sistemas e se abster de novas cobranças relativas a estes débitos, e de inscrever
os dados em cadastro restritivo de crédito, sob pena de multa de R$ 1.500,00 por cada nova inscrição
indevida, e mais R$ 300,00 por dia em que a negativação permanecer ativa, até o limite de 30 dias. Ainda, R$
500,00 por cobrança indevida de mensalidade, enquanto a matrícula permanecer em trancamento.

Deve ser declarado inexigível o débito de R$ 1.301,76, relativo à negativação de fls. 17,
devendo o Réu proceder á baixa, sob pena de multa de R$ 500,00 por dia de descumprimento, até o limite de
30 dias, sem prejuízo de majoração e execução forçada.

O dano moral dá-se in re ipsa, pois assente na jurisprudência pátria que a inserção de
dados pessoais de consumidores no cadastro restritivo de crédito, conforme demonstrado pelo Autor às fls.
14, constitui medida excepcional à disposição do credor, configuradora de ofensa à honra e à imagem, em
caso de abuso ou inconsistência da dívida ou do procedimento de cobrança, quando inexistente outro
apontamento restritivo legítimo, inteligência da Súmula 385, STJ.

Na fixação do montante devido, o prudente arbítrio do julgador deve considerar os fins


pedagógico e punitivo da reparação moral, sem embargo de sopesar as circunstâncias próprias do agravo
causado ao consumidor.

No mesmo sentido:

STJ - “a própria inclusão ou manutenção equivocada configura o dano


moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados
são presumidos” (Ag 1.379.761).

STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECUSO ESPECIAL.


INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE INADIMPLENTE. DANO MORAL
PRESUMIDO. IN RE IPSA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. VALOR RAZOÁVEL. SÚMULA
7/STJ. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL A PARTIR DO EVENTO DANOSO. SÚMULA 54/STJ.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior possui entendimento uniforme
no sentido de que a inscrição/manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de
inadimplente enseja o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado a própria existência do ato
ilícito, cujos resultados são presumidos. 2. A quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) não se
mostra exorbitante, o que afasta a necessidade de intervenção desta Corte Superior. Incidência da
Súmula 7/STJ. 3. Os juros de mora são devidos a partir do evento danoso, conforme enunciado da
Súmula 54/STJ. 4. Agravo não provido. (AgRg no AREsp 346089 PR 2013/0154007-5, T4 -
QUARTA TURMA, Publicação: DJe 03/09/2013, Julgamento: 27 de Agosto de 2013, Relator:
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO).

Ainda, sobre a cobrança pós trancamento:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C DANOS MORAIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE CIVIL.
SERVIÇOS EDUCACIONAIS. ALEGAÇÃO DE COBRANÇA INDEVIDA.
PERÍODO POSTERIOR AO TRANCAMENTO DA MATRÍCULA. PROGRAMA DE

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PARCELAMENTO ESTUDANTIL. PERCENTUAL DE 70% (SETENTA POR CENTO) DEVIDO


PELO ESTUDANTE. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (...)13. A sentença recorrida entendeu por declarar inexistentes todos os débitos que a
IES atribuiu ao Recorrido, contudo necessário observar que o acadêmico tem por obrigação saldar o
percentual de 70% (setenta por cento) referente ao semestre que cursou (2018/1), considerando que
o mesmo usufruía do programa PEP. 14. Nesse prisma a sentença deverá ser reformada para

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declarar devida à cobrança referente ao crédito PEP do período de 2018/1. 15. Acerca das
teses recursais a respeito de débitos de PMT (Parcelamento de Matrícula Tardia), necessário
esclarecer que em nenhum momento durante a instrução processual foi levantado o
argumento sobre o tema, configurando-se inovação de tese defensiva. 16. Sentença
reformada. 16. Recurso conhecido e parcialmente provido. (JECMT; RInom
1007414-65.2019.8.11.0040; Turma Recursal Única; Relª Juíza Lamisse Roder Feguri Alves Corrêa;
Julg 15/02/2022; DJMT 18/02/2022)

APELAÇÃO CÍVEL. RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO, OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARATÓRIA POR DANOS MORAIS. Ingresso na
instituição educacional credenciado no FIES. Matrícula trancada. Posterior lançamento de
reprovações e cobranças. Pedido de suspensão do FIES e aditamento. Apelado que retornou
à faculdade sendo surpreendido com cobrança. Sentença de parcial procedência. Apelo da
ré. Pedido de trancamento de matrícula que restou comprovado nos autos. Multa. Cláusula
que se refere a rescisão contratual e não trancamento. Ofício da CEF que demonstra a
liberação de valores para a apelante. Solicitação administrativa comprovada nos autos.
Ausência de impugnação ao documento. Envio da cobrança para endereço diverso do autor.
Requerimento de matrícula e pleito para trancar a matrícula que informam o endereço do
aluno. Dano moral configurado, cujo valor não comporta redução. Honorários recursais.
Negado provimento ao recurso. (TJRJ; APL 0007053-65.2017.8.19.0023; Itaboraí; Décima Quinta
Câmara Cível; Relª Desª Fernanda Fernandes Coelho Arrabida Paes; DORJ 09/08/2021; Pág. 352).

CIVIL. CONSUMIDOR. FACULDADE. SEMESTRE. TRANCADO. INDEVIDA NEGATIVAÇÃO.


DANO MORAL (IN RE IPSA) CONFIGURADO. VALOR PROPORCIONAL DA CONDENAÇÃO.
RECURSO IMPROVIDO. I. Interesse recursal da reforma da sentença para excluir a condenação
por danos extrapatrimoniais, ao argumento de ser devida a cobrança em razão do vínculo contratual
entre as partes. Alternativamente, pede a diminuição do quantum estabelecido. II. A questão de
direito material deve ser dirimida à luz das normas protetivas do CDC (Arts. 6º e 14). III.
Devidamente comprovado o trancamento da matrícula pela recorrida, em 3.7.2017 (ID
10566133), a suspender o vínculo contratual entre as partes, bem como a inscrição do nome
da consumidora nos cadastros negativadores por débito no valor de R$ 943,25, com
vencimento em 2.10.2017 (ID 10566126), data posterior ao pedido de trancamento de
matrícula. lV. Nesse quadro, a recorrente não se desincumbiu do ônus probatório
próprio (CPC, Art. 373, II), acerca da legitimidade da negativação do nome da recorrida, o que
subsidia a reparação por danos extrapatrimoniais (in re ipsa), por ofensa aos atributos da
personalidade da recorrida/requerente (CF, Art. 5º, V e X). V. Em relação ao quantum, deve-se
manter a estimativa proporcionalmente fixada (R$ 5.000,00), uma vez que guardou
correspondência ao gravame sofrido pelo consumidor (CC, Art. 944). Não verificada ofensa à
proibição de excesso a legitimar a pretendida minoração. Ademais, a estimativa é condizente
à adotada pelas Turmas Recursais do TJDFT: 1ª TURMA RECURSAL, Acórdão 1101929; 2ª
TURMA RECURSAL, Acórdão 1104525; 3ª TURMA RECURSAL, Acórdão 1116471. VI. Recurso
conhecido e improvido. Sentença confirmada por seus fundamentos. Condenada a recorrente ao
pagamento das custas processuais. Sem honorários advocatícios, à míngua de contrarrazões (Lei n.
9099/95, Art. 55 e CPC, Art. 98, § 3º). (JECDF; RIn 0704056-85.2018.8.07.0017; Terceira Turma
Recursal dos Juizados Especiais; Rel. Juiz Fernando Antônio Tavernard Lima; Julg. 27/08/2019;
DJDFTE 02/09/2019; Pág. 458)

Na fixação do montante devido, o prudente arbítrio do julgador deve considerar os fins


pedagógico e punitivo da reparação moral, sem embargo de sopesar as circunstâncias próprias do agravo
causado ao consumidor, como o grau de culpa pelo evento danoso, a extensão do dano e duração de seus
efeitos, e condições das partes.

CONCLUSÃO.

Forte nesses argumentos, no mérito, JULGO PROCEDENTES os pedidos deduzidos


na inicial, termos em que:
1) DETEMRINO à Requerida que proceda ao registro do trancamento da matrícula
do curso do Autor, com data retroativa a 08.10.21, e ainda, com relação às mensalidades de
dezembro/21 e seguintes, por que geradas após pedido expresso de trancamento da matrícula, devem
ser declaradas inexigíveis, devendo a instituição promover a baixa em seus sistemas e se abster de novas
cobranças relativas a estes débitos, e de inscrever os dados em cadastro restritivo de crédito, sob pena de

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multa de R$ 1.500,00 por cada nova inscrição indevida, e mais R$ 300,00 por dia em que a negativação
permanecer ativa, até o limite de 30 dias. Ainda, R$ 500,00 por cobrança indevida de mensalidade, enquanto
a matrícula permanecer em trancamento;

2) DECLARO inexigível o débito de R$ 1.301,76, relativo à negativação de fls. 17,


devendo o Réu proceder á baixa, sob pena de multa de R$ 500,00 por dia de descumprimento, até o limite

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de 30 dias, sem prejuízo de majoração e execução forçada;

3) CONDENO a Ré ao pagamento de indenização por dano moral, que arbitro em R$


7.000,00 (sete mil reais), sobre a qual deverão incidir juros, a partir da citação, e correção monetária a contar
do arbitramento, consoante fundamentação supra.

Isento de custas e honorários, ex vi do art. 54 da Lei n. 9.099/95.

P. R. I. C.

Manaus, 15 de dezembro de 2022.

Antônio Carlos Marinho Bezerra Júnior


Juiz de Direito

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