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ESTADO DO AMAZONAS
PODER JUDICIÁRIO

Para conferir o original, acesse o site https://consultasaj.tjam.jus.br/pastadigital/sgcr/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0724332-33.2022.8.04.0001 e código 92D831B.
Comarca de Manaus
Juízo de Direito da 13ª Vara do Juizado Especial Cível

SENTENÇA

Autos n. 0724332-33.2022.8.04.0001
Parte autora: Manoel Belarmino Roque
Parte ré: Banco Bradesco S/A

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CLAUDIA MONTEIRO PEREIRA BATISTA, liberado nos autos em 14/09/2022 às 10:32 .
Dispensado o relatório na forma da lei.
Cuida-se de ação de reparação de danos materiais e morais, em razão
da Instituição bancária requerida alegadamente descontar da conta bancária da
parte autora tarifas bancárias correspondentes a serviços não expressamente
contratados.
Rejeito a preliminar arguída de falta de interesse de agir, pois verifico
a presença do binômio necessidade-utilidade com o dano narrado nos autos,
existindo a necessidade da demanda para a solução do litígio.
O Código de Defesa do Consumidor impõe o princípio da segurança no
fornecimento dos serviços, sob pena de responder independentemente de culpa
pelos danos que causar ao consumidor, estatuindo como direito básico, a efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais decorrentes da má
prestação dos serviços, conforme enuncia o art.6°, inciso VI do referido diploma
legal.
A responsabilidade da parte ré é objetiva, e esta não demonstrou a
segurança do serviço prestado, ou ainda, não trouxe a lume uma das causas
excludentes desta responsabilidade, vez que não apresentou nenhum documento
demonstrando a solicitação ou anuência da parte autora pelo serviço debitado
em conta, sendo o risco inerente ao negócio e este deve ser assumido pelo
detentor do serviço e não pelo consumidor.
Em sede de contestação a parte ré deixou de se comprovar prévia e
expressa autorização do consumidor, mediante contrato com cláusula específica
e destacada, como determina o art. 8º da Resolução n. 3.919/2010 do BACEN e
art. 54, §4º, do CDC. Outrossim, no âmbito do Incidente de Uniformização de
Jurisprudência n. 0000511-49.2018.8.04.9000, a Turma de Uniformização dos
Juizados Especiais do Amazonas firmou as seguintes teses:

Rua Alexandre Amorim, nº 285, 1º Andar, Aparecida - CEP 69010-300, Fone: 3622-6211, Manaus-AM - E-
mail: 13je.civel@tjam.jus.br
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1. É vedado às instiuições financeiras realizar descontos a tíulo de


tarifa de pacote de serviços bancários sem prévia e
expresa autorização do consumidor, mediante contrato com
cláusula específica e destacada, nos termos do art. 54, §4º, do
CDC.

2. O desconto indevido da cesta de serviços bancários não configura


ocorência de danos morais in re ipsa, devendo a repercusão
danosa ser verifcada pelo julgador no caso concreto.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CLAUDIA MONTEIRO PEREIRA BATISTA, liberado nos autos em 14/09/2022 às 10:32 .
3. A reiteração de descontos de valores a tíulo de tarifa de pacote de
serviços bancários não é engano justifcável. Presentes tais
requisitos (má-fé e inexistência de engano justifcável) a
indenização por danos materiais deve se dar na forma do art. 42,
parágrafo único, do CDC.

Portanto, a reiteração dos descontos não representa engano


justificável. A Instituição bancária promovida, a exemplo do caso em análise,
tem a prática comercial recorrente e lucrativa de cobrar tarifas sem prévia e
expressa autorização do consumidor mediante contrato com cláusula específica
e destacada, manifestando-se sua má-fé.
Desta maneira, em se tratando de responsabilidade objetiva o ônus da
prova é da parte ré, e esta não demonstrou a legalidade dos descontos
realizados, corroborando a má prestação dos seus serviços, sendo ainda
considerada com uma prática abusiva à luz do disposto no art. 39, inciso III, do
CDC. Logo, o serviço prestado sem o consentimento da parte autora deve ser
considerado como amostra grátis, nos termos do parágrafo único do dispositivo
mencionado.
Assim, considerando a confiança e a credibilidade que o consumidor
deposita no serviço, houve ofensa aos princípios da transparência e boa-fé que
devem reger todas as relações de consumo, com o desprestígio das legitimas
expectativas do consumidor.
Caracterizado está o dano moral pelo aborrecimento, incômodo,
angústia, sentimento de impotência ante a diminuição do seu saldo em conta, e
toda insatisfação suportada pela parte autora, que passou a ter descontos
mensais e automáticos em sua conta corrente, indevidamente, e não
conseguindo resolver o problema administrativamente, precisou buscar tutela
jurisdicional para resolver o problema e reparar o seu dano.

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Ressalto ainda, que além do aspecto compensatório do dano moral,


deve ser levado em conta o seu aspecto punitivo observando a capacidade
econômica da parte causadora do dano, conforme precedentes do STJ, eis que
sua conduta afronta o previsto no ordenamento, devendo ser coibida, visando o
valor arbitrado para o dano servir também para desestimular a reincidência da

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conduta praticada pela parte ré.
No tocante ao dano material, aplica-se o prazo prescricional do art.
206, §3º, inciso IV, Código Civil (trienal) à indenização por vício do serviço (Resp
1602681/ES). Logo, declaro prescritos os descontos que ultrapassam os 03
(três) anos anteriores a data do ajuizamento da presente demanda, sendo
devida a restituição dos demais valores não prescritos, em dobro, nos termos do
art. 42, parágrafo único, do CDC.
Dessa forma, comprovada conduta, nexo causal, e o dano, a demanda
deve ser julgada parcialmente procedente, devendo a parte autora ser
compensada pelos danos morais e restituída dos danos materiais sofridos ante a
má prestação do serviço.
Por fim, os valores pertinentes a nomeclatura "extrato mes", são
legitimos por se tratar de cobrança individualizada do serviço utilizado, até
porque a parte autora não informa que contratou o pacote de serviço que
engloba todos os descontos, logo, deve efetuar o pagamento individual por cada
serviço usufruído.
Posto isso, julgo parcialmente procedente o pedido para condenar a
parte ré, a título de compensação por danos morais, a pagar o valor de
R$ 5.000,00 (Cinco mil reais), incidindo juros e correção monetária a partir desta
data.
Julgo parcialmente procedente o pedido para condenar a parte ré, a
titulo de dano material, a pagar o valor correspondente à devolução em dobro da
importância indevidamente descontada até o cancelamento da operação,
acrescidos de correção pelo INPC e juros de 1% (um por cento) ao mês a partir
da citação, salvo os valores fulminados pela prescrição trienal (art. 206, p. 3º,
IV, CC).
A par disso, determino que a parte ré se abstenha de efetuar novos

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descontos na conta da parte autora, referente a cesta básica de serviços,


podendo, no entanto, cobrar individualmente por cada serviço caso
ultrapassados os limites da gratuidade prevista na Resolução 3.919 do BACEN.
Fixo o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento, sob pena de multa de
R$ 200,00 (duzentos reais) para cada desconto indevido, até o limite de 5

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(cinco) descontos, sem prejuízo da restituição em dobro do valor descontado.
Oficie-se a parte ré.
Sem custas e honorários, ex vi legis.
Havendo apresentação de recurso no prazo legal e realizados os
recolhimentos legais previstos no art. 54, parágrafo único da Lei 9.099/95,
recebo o recurso em ambos os efeitos, proceda a intimação da parte recorrida
para contrarrazoar, no prazo de 10 (dez) dias. Transcorrido o referido prazo,
remetam-se os autos à Egrégia Turma Recursal.
Após o trânsito em julgado, fica a parte autora ciente que deverá se
manifestar sobre o disposto no art. 52, inciso IV, da Lei n. 9.099/95, no prazo de
05 (cinco) dias. Transcorrido o referido prazo sem manifestação, arquivem-se.
P.R.I.

Manaus, 14 de setembro de 2022.

Cláudia Monteiro Pereira Batista


Juíza Titular da 13ª J.E.Cível

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