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seguro e
resseguro
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Edição 2012
© 2012, Elsevier Editora Ltda.
ISBN: 978-85-352-6417-3
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação,
impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à nossa Central de
Atendimento, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens,
originados do uso desta publicação.
Cip-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
G564d
Goldberg, Ilan.
Direito de seguro e resseguro / Ilan Goldberg. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2012.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-6417-3
À Memória do Professor
Marcos Juruena Villela Souto.
Agradecimentos
VII
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VIII
O autor
IX
Prefácio
XI
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
XII
I
Cosseguro e resseguro.
Uma breve análise
1. Decreto Lei nº 73, de 21/11/1966: Art. 42. O IRB tem a finalidade de regular o
cosseguro, o resseguro e a retrocessão, bem como promover o desenvolvimento das
operações de seguro, segundo as diretrizes do CNSP. (...) Art. 44. Compete ao IRB:
I – Na qualidade de órgão regulador de cosseguro, resseguro e retrocessão: a) elaborar e
expedir normas reguladoras de cosseguro, resseguro e retrocessão; b) aceitar o resseguro
obrigatório e facultativo, do País ou do exterior; c) reter o resseguro aceito, na totalidade ou
em parte; d) promover a colocação, no exterior, de seguro, cuja aceitação não convenha aos
interesses do País ou que nele não encontre cobertura; e) impor penalidades às Sociedades
Seguradoras por infrações cometidas na qualidade de cosseguradoras, resseguradoras ou
retrocessionárias; f) organizar e administrar consórcios, recebendo inclusive cessão integral
de seguros; g) proceder à liquidação de sinistros, de conformidade com critérios traçados
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pelas normas de cada ramo de seguro; h) distribuir pelas Sociedades a parte dos resseguros que não
retiver e colocar no exterior as responsabilidades excedentes da capacidade do mercado segurador
interno, ou aquelas cuja cobertura fora do País convenha aos interesses nacionais; i) representar as
retrocessionárias nas liquidações de sinistros amigáveis ou judiciais; j) publicar revistas especializadas
e toda capacidade do mercado nacional de seguros.
2. LC nº 126/2007, Art. 22. O IRB-Brasil Resseguros S.A. fica autorizado a continuar exercendo suas
atividades de resseguro e de retrocessão, sem qualquer solução de continuidade, independentemente
de requerimento e autorização governamental, qualificando-se como ressegurador local.
3. João Marcos Brito Martins, 2003, p. 61: “Independentemente das relações entre ressegurador e
companhia de seguros, determinadas por exigências técnicas, o fato é que o contrato de resseguro
é estranho ao segurado (res inter alios acta). Como também é estranho ao ressegurador o contrato
entre seguradora e segurado. Portanto, os contratos de seguro e de resseguros são autônomos,
independem um do outro. A responsabilidade é da seguradora perante o seu segurado, pois aquele
liame jurídico (resseguro) caracteriza uma relação independente. O segurado não toma parte na
escolha do ressegurador, à exceção de grandes riscos, onde o segurado, em geral, opina. Isto em nada
altera a natureza jurídica referida.”
4. Optou-se por adequar à nova ortografia da língua portuguesa os textos produzidos antes do acordo
ortográfico assinado em 01/01/2009, por outros autores e neste livro utilizados, inclusive aqueles
que se referem às leis e jurisprudências.
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a) Inexistência de solidariedade
(...) Cosseguro caracteriza-se pela inexistência de solidariedade entre os segurado-
res, onde cada um só assume a sua cota de riscos, inexistindo, por conseguinte,
direito de regresso. (TJ-SP; Ag. Inst. 1240613003; Rel. Des. Cristiano Ferreira
Leite; 33ªCâmara de Direito Privado; DJ 16/03/2009. Grifou-se).
Agravo de Instrumento. Ação de indenização por danos materiais e morais. Relação
de consumo. Falha na prestação de serviços médicos e hospitalares. Deferimento de
chamamento ao processo da seguradora contratada pelo hospital. Indeferimento
de pedido da seguradora de denunciação à lide ao IRB e de integração das cosse-
guradoras na relação processual. Resseguro. IRB. Vedação da denunciação da lide.
Norma do artigo 101, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor. Decisão
mantida. Cosseguro. Cosseguro expressamente previsto na apólice celebrada
entre o hospital e a seguradora líder. Inexistência de solidariedade entre as
cosseguradoras. Impossibilidade de execução do total de eventual dívida em
face da seguradora líder (...). Reforma da decisão para deferir o chamamento ao
processo das cosseguradoras. (TJ-SP; Ag. Inst. 6478214000; Rel. Des. Christine
Santini; Quinta Câmara de Direito Privado; DJ 29/07/2009. Grifou-se).
b) Solidariedade
Seguro. Estabelecimento Comercial. Roubo. Tendo a segurada cumprido as obri-
gações assumidas, quanto à segurança, no contrato de seguro, tem direito à inde-
nização pelos prejuízos sofridos com o roubo de valores seus. Obrigação apenas
da seguradora, dita líder, ante a ausência de demonstração de existência de
contrato de cosseguro. (...). (TJ-RJ; Ap. Cível 2004.001.33136; Rel. Des. Jair
Pontes de Almeida; j. 28/04/2009. Grifou-se).
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e) Desenvolver, se for caso disso, as acções previstas nas disposições legais aplicáveis
em caso de falta de pagamento de um prémio ou fracção de prémio.
f) Receber as participações de sinistros e proceder à sua regulação.
g) Aceitar e propor a resolução do contrato.
2 – Poderão ainda, mediante acordo entre as cosseguradoras, ser atribuídas à líder
outras funções para além das referidas no número anterior.
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Referências
ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
MARTINS, João Marcos Brito. Direito de Seguro. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2003.
MARTINS-COSTA, Judith. O co-seguro no Direito Brasileiro. II Fórum de Direito do
Seguro José Sollero Filho. São Paulo: IBDS/EMTS, 2002.
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II
Habilitação e cobertura securitária
Introdução
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2. Nelson Nery Júnior. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do
Anteprojeto. 1999, p. 489-491 e 553-554.
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De fato, o que esta ciência demonstrou, irrefutavelmente, é que para aferir a res-
ponsabilidade civil pelo acidente, o juiz deve retroceder até o momento da ação
ou da omissão, a fim de estabelecer se esta era ou não idônea para produzir
o dano. A pergunta que, então, se faz é a seguinte: a ação ou omissão do presu-
mivelmente responsável era, por si mesma capaz de normalmente causar o dano?
Tal pergunta é uma consequência deste princípio: para se estabelecer a causa de
um dano, é preciso fazer um juízo de probabilidades. Portanto, se se responde
afirmativamente de acordo com a experiência da vida, se se declara que a ação ou
omissão era adequada a produzir o dano, então, este é objetivamente imputável
ao agente. (Grifou-se)
O que se deve indagar, pois, qual dos fatos, ou culpas, foi adequado para o
evento danoso, isto é, qual dos atos imprudentes fez com que o outro, que não
teria consequências por si só, determinasse, adjuvado por ele, o acidente. Ainda
Sergio Cavalieri Filho,4 referindo-se à Aguiar Dias, comenta:
(...) atento a preciosa lição do mestre Aguiar Dias: “se embora culposo, o fato de
determinado agente era inócuo para a produção do dano, não pode ele decerto “...
“o que se deve indagar, é pois, qual dos fatos ou culpa foi decisivo para o evento
danoso, isto é, qual dos atos imprudentes fez com que o outro que não teria
consequências de si só determinasse, completado por ele, o acidente. Pensamos
que sempre que seja possível estabelecer a inocuidade de um ato, ainda que
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4. Considerações finais
Diante de todos os fundamentos apresentados, formulamos as seguintes
conclusões:
a) Segurado/condutor sem habilitação – responsabilidade pela colisão –
sugerimos a redação de cláusulas claras, constantes das condições gerais,
expondo detalhes quanto à perda de direitos – negativa de cobertura legal.
b) Segurado titular de habilitação para categoria veicular diferente da que
ocorreu a colisão; habilitação suspensa; exame de saúde vencido – negativa
de cobertura sujeita a questionamentos concretos em âmbito judicial,
sobretudo se adotada com rigor a teoria da causalidade adequada.
c) Falta de habilitação em matéria de seguro de pessoas – desaconselhável a
imposição de negativa de cobertura.
Referências
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 6. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
NERY JÚNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos
Autores do Anteprojeto. 6. ed. São Paulo: Forense Universitária, 1999.
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III
A ação dos hackers. Repercussões
para o mercado segurador 1
Sumário: Introdução. 1. Hacker: conceito e classificações. 2. Comércio eletrônico.
3. Repercussões sobre o mercado segurador. Dados do mercado norte-americano.
4. Considerações finais. Referências.
Introdução
A Consciência de um Hacker
Prenderam outro hoje, está em todos os jornais. “Adolescente preso no
Escândalo do Crime Informático”, “Hacker preso após invadir banco”...
Malditos garotos. São todos iguais.
Mas você, em sua psicologia de cabeça-de-lata da década de 50 alguma
vez indagou-se sobre o que o move, que forças o formaram, o que teria o
moldado? Eu sou um hacker, entre em meu mundo... Meu mundo é um
mundo que começa na escola... Eu sou mais esperto que a maioria das
outras crianças, (...) Malditos fracassados. São todos iguais.
Fiz uma descoberta hoje. Eu descobri o computador. Espere um segundo,
isto é legal. Ele faz o que eu mando. Se comete um erro, é porque eu o
obriguei a isso. Não porque não goste de mim ... Ou se sinta ameaçado
1. A versão original deste artigo foi redigida em 2003 o que, em princípio, pode revelar
que o tema deixaria de ser atual. Muito ao contrário, apenas para que se tenha a correta
compreensão quanto à sua atualidade e quanto ao agravamento dos riscos eletrônicos,
a revista Veja, edição 2195, de 15/12/2010, publicou em sua capa matéria a respeito de
ataque perpetrado por hackers como represália à prisão de Julian Assange, dono do site
WikiLeaks, e o Periódico Migalhas, tradicional fonte de informação jurídica no Brasil,
divulgou nota informando que: “O semanal britânico The Sunday Times informou que o
grupo de hackers ativistas Anonymous, que já atacou os sites da MasterCard, Visa e PayPal,
ameaça sabotar o sistema Judiciário britânico, caso o fundador do site WikiLeaks, Julian
Assange, seja extraditado para Suécia.” Fonte <http://www.migalhas.com/mostra_noticia.
aspx?cod=123073>, acessado em 13/12/2010.
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por mim... (...) Ou não goste de ensinar e não devesse estar aqui... Maldito garoto.
Tudo o que ele faz é jogar. São todos iguais...
(...)
Este é nosso mundo agora... o mundo do elétron e do switch, a beleza do band.
Usamos um serviço já existente sem pagar por aquilo que poderia ser baratís-
simo e não fosse explorado por especuladores insaciáveis, e vocês nos chamam
de criminosos. Nos exploram e... nos chamam de criminosos. Somos sem cor,
sem nação, sem preconceitos religiosos... e nos chamam de criminosos. Vocês
constroem bombas atômicas, declaram guerras, assassinam, trapaceiam e mentem
para nós e tentam nos fazer crer que é para nosso próprio bem, e ainda assim os
criminosos somos nós.
Sim, sou um criminoso. Meu crime é a curiosidade. Meu crime é julgar as pessoas
pelo que dizem e pensam, não pelo que aparentam ser. Meu crime é ser mais
inteligente que você, algo porque você jamais irá me perdoar.
Eu sou um hacker, e este é meu manifesto. Você pode parar este indivíduo, mas não
poderá parar todos nós... apesar de tudo, somos todos iguais”.2
2. O texto em referência foi objeto de transcrição de artigo redigido por Túlio Lima Vianna,
intitulado “Hackers: um estudo criminológico da subcultura cyberpunk”. Revista do CAAP, Belo
Horizonte, a.6, v.10, p. 387-409, 2001. O texto trata do conhecido ‘manifesto Hacker’, por demais
divulgado na comunidade cyberpunk, escrito em janeiro de 1986, por hacker preso nos Estados
Unidos da América; o original do texto encontra-se redigido na língua inglesa, cuja íntegra pode ser
encontrada no site (www.attrition.org/~modify/texts/ethics/hackers manifesto.html).
3. A história verídica de Frank W. Abagnale foi publicada no Brasil na obra Prenda-me se for capaz,
São Paulo: Record, 2003, tendo dado origem ao longa-metragem de mesmo título, estrelado por
Tom Hanks e Leonardo DiCaprio, dirigido por Steven Spielberg.
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“ofício”, se é que o que este senhor desenvolvia poderia ser classificado como
ofício, consistiu em, por alguns anos, passar-se pelos mais diversos personagens,
desde copiloto de companhia aérea (Pan American Air Ways), advogado com
aprovação em exame de ordem em tradicional universidade norte-americana,
professor de sociologia, médico, tendo se apropriado, no decorrer desses anos,
do equivalente a três milhões de dólares por intermédio de cheques falsificados
e sem fundos.
Atualmente, tem-se conhecimento de crimes, tais como os praticados pelo Sr.
Abagnale, proliferando-se no âmbito da internet. Os hackers, com conhecimentos
incríveis em matérias relacionadas à informática, rompem poderosos sistemas
de segurança das mais diversas empresas (instituições financeiras, por exemplo),
alteram dados, operam transferências de recursos à ordem de milhões de dólares,
sem que para isto precisem sacar uma arma, ou, ao menos, sair detrás de um
simples microcomputador.
Vive-se, atualmente, numa era em que, ao lado do crime organizado, represen-
tado pelo narcotráfico e pelo tráfico de armas, apresentam-se perigosos hackers,
que em frações de segundos, são capazes de provocar adulterações em sistemas
das mais diversas corporações, causando acintosos prejuízos, cujas consequências,
naturalmente, podem desaguar no mercado segurador.
Optamos por uma classificação de ordem objetiva dos hackers que leva tão somente
em conta o seu modus operandi. Em rigor, somente as três primeiras categorias
são de hackers, pois as demais não exigem conhecimento técnico avançado para
agirem, mas resolvemos constá-las para que possamos ter uma classificação geral
dos criminosos informáticos:
i. CRACKERS DE SERVIDORES – hackers que invadem computadores ligados
em rede.
ii. CRACKERS DE PROGRAMAS – hackers que quebram proteções de software
cedidos a título de demonstração para usá-los por tempo indeterminado.
iii. PHREAKERS – hackers especializados em telefonia móvel ou fixa.
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hacker [Ingl., substantivo de agente do v. to hack, “dar golpes cortantes (para abrir
caminho)”, anteriormente aplicado a programadores que trabalhavam por tentativa
e erro.] S. 2 g. Inform. 1. Indivíduo hábil em enganar os mecanismos de segurança
de sistemas de computação e conseguir acesso não autorizado aos recursos destes,
ger. a partir de uma conexão remota em uma rede de computadores; violador de
um sistema de computação.
2. Comércio eletrônico
Diante de um número cada vez maior de usuários da internet, crescendo
dia após dia no mundo todo, o comércio eletrônico ou e-commerce passou a ser
adotado como ferramenta de distribuição de toda espécie de bens e serviços,
desde eletrodomésticos, passando por automóveis, medicamentos, alimentos,
entretenimento, enfim, atualmente é perfeitamente possível consumir bens e
serviços dos gêneros mais diversos através da internet, sem maiores entraves.
Ao lado destes benefícios, vieram problemas decorrentes da má utilização
da grande rede de computadores, sendo de conhecimento público problemas
relacionados à pornografia infantil, violação da propriedade intelectual, fomento
de racismo, antissemitismo, violência e difamação.6
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7. Disponível em http://www.sans.org/reading_room/whitepapers/legal/cyber-risk-insurance_1412.
Acessado em 13/12/2010.
8. Waldo Augusto Sobrino. Op.cit., p. 131 e ss.
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4. Considerações finais
Atualmente, não restam dúvidas de que o progresso da Sociedade na qual
vivemos está intimamente relacionado com o desenvolvimento da informática.
Sob os mais diversos campos de atuação – ciências biomédicas, humanas,
tecnológicas etc. –, a informática assume papel fundamental.
Lamentavelmente, com todo o desenvolvimento costumam surgir problemas
carecedores de soluções e/ou, não sendo estas possíveis, formas de minimizar os
prejuízos decorrentes destes problemas.
É justamente neste particular que tem atuação o mercado segurador, pres-
tando-se para viabilizar na sociedade o seu mais amplo desenvolvimento, dimi-
nuindo, na medida do possível, possíveis perdas que possam vir a ocorrer.
À conta do que se expôs, torna-se imperiosa a necessidade de que se apro-
fundem os estudos sobre as coberturas que podem ser ofertadas no âmbito da
responsabilidade civil decorrente da ação de hackers.
Concretamente, tem-se muito pela frente a discutir quanto à comercialização
das apólices desta natureza, considerando-se, sobretudo, a realidade, a iminência
que este risco representa.
Referências
ABAGNALE, Frank W. Prenda-me se for capaz. São Paulo: Record, 2003.
ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. A Trilogia do Seguro. I Fórum de Seguro “José Sollero Filho”.
São Paulo: Max Limonad, 2001.
______. Programa de Responsabilidade Civil. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
13. Os dados apresentados podem ser colhidos no site a seguir discriminado, através do link
netadvantage: <http://www.aiu.com/BusinessLine/aiuCDA_bizline_cntyprod/0,1793,99-17,00.html>.
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IV
A boa-fé objetiva como elemento essencial
ao contrato de seguro. Repercussões
às apólices de vida, acidentes pessoais
e saúde. Realização de exames
médicos anteriores à contratação.
Necessidade ou desnecessidade?
Introdução
1. O Contrato de Seguro no Código Civil de 1916 vinha disciplinado nos arts. 1.432 e
1.476.
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Com o advento do Novo Código Civil,2 o art. 765 veio reforçar o princípio
que já se encontrava vigente: “O segurado e o segurador são obrigados a guardar na
conclusão e na execução do contrato a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a
respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes”.
Tratando-se o “seguro” de elemento essencial à vida em sociedade, dispo-
nibilizado a cidadãos e a corporações espalhadas por todo o mundo, tem-se
conhecimento de que o meio utilizado para sua contratação trata da oferta de
contratos de adesão, ficando a cargo do segurador a redação das cláusulas que
particularizarão os riscos assumidos e delimitarão as coberturas. Importante
esclarecer que os Seguradores, ao redigirem as cláusulas constantes dos contratos
de seguro, são regulados por órgãos vinculados ao Poder Público, o que no Brasil
é realizado pela Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, Decreto-Lei
nº 73/1966, art. 35.3
Atualmente, a contratação de bens e serviços é realizada de maneira muito
mais flexível do que se procedia no passado. Hoje, contratam-se apólices por
simples contato telefônico, via internet, enfim, viabiliza-se a contratação de
maneira muito mais cômoda, livre de formalismos, o que, necessariamente, gera
como consequência a necessidade de que as contratantes – segurado, segurador e
corretor de seguros – ajam de forma sensata, honesta, reveladora da mais estrita
boa-fé, com enfoque objetivo e não apenas simplesmente subjetivo.4
2. O Novo Código Civil, Lei nº 10.406 de 10/01/2002, entrou em vigor no dia 11/01/2003, após
tramitar no Congresso Nacional por mais de trinta anos.
3. Decreto-Lei nº 73/1966, art. 35. “Fica criada a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP),
entidade autárquica, jurisdicionada ao Ministério da Indústria e Comércio, dotada de personalidade
jurídica de Direito Público, com autonomia administrativa e financeira.”
4. De interessante artigo intitulado “Os Novos Paradigmas da Teoria Contratual: O princípio da
Boa-fé Objetiva e o Princípio da Tutela do Hipossuficiente”, de Alinne Arquette Leite Novais, in:
Problemas de Direito Civil Constitucional. 2000, p. 17-54, colhem-se os seguintes trechos: “[...] A
boa-fé subjetiva corresponde ao estado psicológico da pessoa, à sua intenção, ao seu convencimento de
estar agindo de forma a não prejudicar outrem na relação jurídica. Já a boa-fé objetiva significa uma
regra de conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade, isto é, as partes contratuais devem
agir conforme um modelo de conduta social, sempre respeitando a confiança e os interesses do outro.
(...) Para um estudo mais aprofundado do princípio da boa-fé, ver excelente tese de doutoramento
apresentada à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP, de Judith Martins-Costa,
intitulada Sistema e cláusula geral: a boa-fé objetiva no processo obrigacional. Nesta mesma obra,
a autora especifica as diferenças entre as duas vertentes do princípio da boa-fé, assim dispondo: “A
expressão ‘boa-fé subjetiva’ denota ‘estado de consciência’, ou convencimento individual de obrar
(a parte) em conformidade ao direito (sendo) aplicável, em regra, ao campo dos direitos reais,
especialmente em matéria possessória. Diz-se ‘subjetiva’ justamente porque, para a sua aplicação, deve
o intérprete considerar a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico ou íntima
convicção. Antiética à boa-fé subjetiva está a má-fé, também vista subjetivamente como a intenção
de lesar outrem.” (p. 503-504). (...) Assim, a “boa-fé subjetiva denota, portanto, primariamente, a
ideia de ignorância, de crença errônea, ainda que escusável), que repousam seja no próprio estado
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ELSEVIER IV – A BOA-FÉ OBJE TIVA COMO ELEMENTO ESSENCIAL AO CONTR ATO DE SEGURO...
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5. Faz-se a presente distinção considerando-se que para os seguros de danos, o segurador obriga-se a
prestar garantia sobre o interesse segurado cujo escopo é, em ocorrendo o sinistro, repor o patrimônio
segurado respeitando exatamente o que foi alvo de prejuízo, sendo legalmente vedado o recebimento
de indenização que represente quantia maior do que a representativa do efetivo prejuízo suportado –
art. 781 do Novo Código Civil: “A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado
no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo de garantia fixado na apólice,
salvo em caso de mora do segurador”.
6. Ernesto Tzirulnik. Regulação de Sinistro. 2001. p. 38.
7. A correspondência legislativa no Novo Código Civil encontra-se no art. 186: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
8. Ernesto Tzirulnik et alii. O Contrato de Seguro: Novo Código Civil Brasileiro. 2002. p. 69-70.
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ELSEVIER IV – A BOA-FÉ OBJE TIVA COMO ELEMENTO ESSENCIAL AO CONTR ATO DE SEGURO...
Seguem abaixo alguns trechos do voto exarado pelo e. Rel. Ministro, acom-
panhado, à unanimidade, pelos Ministros integrantes da Terceira Turma:
[...] O dissídio, porém, não está constatado. A leitura destes autos indica que não
houve guarda da boa-fé. Certo que não existe no acórdão referência à expressão má-
-fé, mas a sentença a ela se referiu nessa passagem: “O contrato de seguro de vida,
poderia não ter sido efetivado caso as seguradoras tivessem tomado conhecimento
delas. Ao menos, teriam tido a oportunidade de examinar da sua conveniência.
Se agiu o segurado com dolo ou má-fé ou erro justificado pelas circunstâncias,
a verdade é que todas essas hipóteses determinam o vício do consentimento,
ensejando a anulação do contrato, com fundamento nos arts. 1.443 e 1.444 do
Código Civil.” (...)
Tal decisão não presumiu a má-fé do segurado. Acabou por reconhecê-la, em
face da omissão de prestar “informações sobre a sua saúde, que poderiam levar a
empresa seguradora a não aceitar o seguro ou fazê-lo em outras bases”. Ora, se o
segurado, devendo prestar declarações verdadeiras e completas, não as prestou,
conforme noticiado no acórdão, não procedeu de boa-fé; procedeu, isto sim, de
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má-fé. Logo, sequer há o dissídio com os julgados aqui indicados. Não conheço
do recurso especial. (Grifou-se).
São sinais de alerta. Mostram que, ao contrário do que muitos supõem, as ope-
radoras do seguro-saúde não vivem no melhor dos mundos. Operam dentro de
margens de coragem empresarial e realismo para manter a qualidade dos serviços
contratados, principalmente a partir da entrada em vigor da nova legislação,
que determinou a ampliação de coberturas, redução dos prazos de carência,
eliminação de limites de valor quantidade, nova disciplina dada às doenças ou
lesões preexistentes, entre outros dispositivos que causaram impacto negativo na
performance dos contratos. (...) A operação do seguro-saúde, portanto, em lugar
de ser o suposto “choque entre o lucro das operadoras e os interesses do paciente”,
tem-se mostrado mais como atividade suplementar ao esforço do Estado, propi-
ciando assistência médico-hospitalar a parcela expressiva da população. A análise
isenta e abrangente da situação leva à conclusão de que o quadro, já dramático,
tende a se agravar.
4. Considerações finais
Não se pode negar que o “seguro” desenvolve papel essencial ao desenvolvi-
mento sustentável da sociedade.
O posicionamento, a teoria sustentada por autores apegados ao Código de
Proteção e Defesa do Consumidor, no sentido de que o recebimento do prêmio
por parte do segurador, não importando o caso, traduziria a necessária obrigação
de indenizar, não pode prevalecer.
38
ELSEVIER IV – A BOA-FÉ OBJE TIVA COMO ELEMENTO ESSENCIAL AO CONTR ATO DE SEGURO...
39
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Referências
Jornal O Globo em 05/08/2003.
Judith Martins-Costa. Sistema e cláusula geral: a boa-fé objetiva no processo obrigacional.
Tese (doutorado). Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Universidade de
São Paulo, 1996.
NOVAIS, Alinne Arquette Leite. Os Novos Paradigmas da Teoria Contratual: O princípio
da Boa-fé Objetiva e o Princípio da Tutela do Hipossuficiente. In Problemas de Direito
Civil Constitucional. Gustavo Tepedino (coord.). São Paulo: Renovar, 2000.
TZIRULNIK, Ernesto. Regulação de Sinistro. 3 ed. São Paulo: Max Limonad, 2001.
______ et alii. O Contrato de Seguro: Novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: IBDS, 2002.
40
V
Cláusulas restritivas x cláusulas
abusivas: panorama com enfoque
no direito do seguro
Introdução
erfilha-se uma linha tênue entre cláusulas restritivas de direitos e
1. Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que: I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a
responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e
o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II – subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos
neste código; III – transfiram responsabilidades a terceiros; IV – estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; V – (Vetado); VI – estabeleçam inversão
do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII – determinem a utilização compulsória
de arbitragem; VIII – imponham representante para concluir ou realizar outro negócio
jurídico pelo consumidor; IX – deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,
embora obrigando o consumidor; X – permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente,
variação do preço de maneira unilateral; XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII – obriguem o
consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja
conferido contra o fornecedor; XIII – autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o
conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV – infrinjam ou possibilitem
a violação de normas ambientais; XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção
ao consumidor; XVI – possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias
necessárias. § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I – ofende os
41
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
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ELSEVIER V – CL ÁUSUL A S R E S T R I T IVA S X CL ÁUSUL A S ABUSIVA S:...
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
O destaque pode ser dado de várias formas: a) em caracteres com cor diferente
das demais cláusulas; b) com tarja preta em volta da cláusula; c) com tipo de letra
diferente das outras cláusulas, como, por exemplo, em itálico, além de muitas
outras fórmulas que possam ser utilizadas, ao sabor da criatividade do estipulante.
1. Exame da ementa
A leitura desta ementa permite concluir que a 8ª Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro entendeu que a estipulação da denominada “cláu-
sula perfil”, muito utilizada em seguros de automóveis, traduziria desvantagem
excessiva ao consumidor, acarretando a sua nulidade.
No campo fático, pretendia-se o recebimento do capital segurado, o que foi
negado pela seguradora em âmbito administrativo porque o veículo era guiado
por condutor diferente daquele que fora informado por ocasião do preenchimen-
to da proposta. Considerando que o prêmio do seguro (contraprestação paga para
44
ELSEVIER V – CL ÁUSUL A S R E S T R I T IVA S X CL ÁUSUL A S ABUSIVA S:...
É importante destacar a expressão mais estrita boa-fé, prevista nos dois dis-
positivos. Caso a intenção do legislador não fosse a de qualificar a boa-fé neste
contrato, simplesmente assim não teria procedido. Outros contratos previstos
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Discorrem os autores, entre outros assuntos, acerca das fases nas quais deve
operar a boa-fé entre segurado e segurador, admitindo-se, inclusive, que esta
conduta, traduzida em transparência, honestidade, deve prevalecer antes, durante
e até mesmo após a celebração / execução do contrato.
3. Cláusula perfil
Particularmente quanto à cláusula perfil que, consoante exposto, implica a
utilização de informações pessoais do próprio proponente para fins de se calcular
6. Ernesto Tzirulnik et alii. O Contrato de Seguro: Novo Código Civil Brasileiro. 2002, p. 69-70.
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ELSEVIER V – CL ÁUSUL A S R E S T R I T IVA S X CL ÁUSUL A S ABUSIVA S:...
o prêmio do seguro, sabe-se que esta é plenamente utilizada nos mais diversos
produtos comercializados no mercado de seguros brasileiro.
Em matéria de seguro-auto, o perfil do condutor principal – segurado –
influencia diretamente o valor do prêmio, e já repercute imediatamente sobre
a exposição do segurador.
Exemplificando, basta fazer uma comparação entre os hábitos de um jovem
de 20 (vinte anos) de idade, habilitado há dois anos, e os de seu pai, com 50
(cinquenta) anos de idade, e trinta e dois de habilitação. A estatística comprova
que os acidentes de trânsito ocorrem com frequência muitíssimo maior entre
os jovens do que entre as pessoas de meia idade, não se pretendendo com isso
levantar uma bandeira preconceituosa contra jovens.
Seguro, caso se pense de forma individualista, sem sombra de dúvida repre-
senta a álea, o risco, já que ao celebrarem o contrato, segurado e segurador, caso
estejam agindo de boa-fé, como deve ser, não terão como prever a ocorrência
ou não do sinistro. Por outro lado, a partir do momento no qual se raciocina o
seguro coletivamente, dividindo o grande volume de segurados em faixas etárias,
em locais nos quais tenham residência fixa, em hábitos mais comuns etc., têm-
-se plena noção a respeito dos riscos aos quais o ente segurador estará exposto.
Neste momento, o seguro deixa de ser álea e passa a ser comutativo, fazendo-se
necessário consignar que essa característica converte a gestão dos riscos uma
atividade economicamente viável, já que o que se paga individualmente a título
de prêmio não corresponde à eventual obrigação indenizatória assumida pelo
segurador.
Nestas condições, considerando que a estatística comprova que entre os jovens
o risco é maior, obviamente o prêmio a ser recolhido pelos mesmos deverá ser
maior, raciocinando-se de maneira oposta quanto ao prêmio a ser recolhido por
pessoas mais idosas.
Ilustrando essa tese, leiam-se os trechos abaixo:7
Essa só é uma coisa viável, só é um trato justo, na medida em que essas pessoas
estejam expostas a um risco semelhante: por exemplo, se pegarmos um grupo de
comerciantes que transporta mercadorias de Gênova para Nápoles e esse grupo
fizer um acordo do tipo: “olha, quem tiver a sua mercadoria danificada, a sua
mercadoria perdida nesta viagem, pode vir à sociedade, vir aos membros restantes
do grupo expor as perdas, mostrar as suas perdas e, cada qual, na medida de sua
participação, contribuirá para que você não tenha o seu negócio arruinado”; o
7. Trecho extraído da obra Seguros: uma questão atual. São Paulo: Max Limonad. 2001. Esta obra é
o volume III de uma coletânea de seis volumes, publicados sob a coordenação do Instituto Brasileiro
de Direito do Seguro – IBDS.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
trato é justo, o trato é equânime e o trato vai ter um certo equilíbrio na medida
em que se tratarem de comerciantes que estão, todos eles, levando cargas, nesse
nosso exemplo, de Gênova para Nápoles. Porém, obviamente, o risco de levar
para Buenos Aires é muito maior do que o risco de levar para Nápoles. Aqueles
que transportarem num espaço mais curto, numa distância menor, estarão, de
certa forma, arcando com um risco muito maior, que é o risco de quem está
transportando para mais longe.
Assim, esse acordo deixa de ser justo na medida em que um “subsidiar” o risco
do outro. (...)
Então, é importante considerar o uso que se faz do veículo e é importantíssimo
saber quem é e quais são os atributos e as características ligadas ao condutor do
veículo. Quem conduz aquele veículo? Qual é a idade dele? Qual é o sexo dele?
Qual o estado civil dele? Porque tudo isso, todas essas características são direta-
mente ligadas à mensuração desse risco e, sem a correta mensuração do risco, a
seguradora não consegue decidir: primeiro, se ela deve aceitar esse risco; segundo,
em qual classe tarifária, ou seja, quanto ela cobra para aceitar esse risco. (...)
(...) Com base nessas informações, que serão dadas pelo proponente – não tem
como ser a seguradora, não tem como colocar um investigador atrás de cada
proponente para buscar saber como ele usa o veículo, se usa para trabalhar, se ele
usa para fazer entrega ou se ela usa para passear no fim-de-semana etc. E mais,
por isso devem ser dadas sob o rigor da previsão do art. 1.444 que prevê, expressa-
mente, que sendo omitidas informações ou sendo distorcidas das informações que
impliquem na aceitação do risco ou na fixação da taxa, perde o seguro o direito
a receber qualquer indenização. (...)
Então, voltando ao ponto de vista antes exposto, do transportador de Gênova, não
era justo para ele ser tarifado da mesma forma do que aquele que transportava para
Buenos Aires, como também não é justo para a mulher pagar o mesmo prêmio
de seguro do homem, assim como não é justo, não é equânime, uma pessoa de
60 anos subsidiar o seguro de uma de 18 anos. Para o contrato de seguro ser um
trato justo cada qual vai ter que pagar proporcionalmente ao seu risco, propor-
cionalmente à sua classe de risco, grupo de exposição de risco e esse é um fator
que vai variar não só em função de sexo e idade; (...) Por outro lado, e aí se deve
dar atendimento a todas as disposições do Código de Defesa do Consumidor e
do Código Civil e, inegavelmente, as cláusulas ligadas ao perfil dos segurados
são cláusulas restritivas de direito, como inúmeras outras em qualquer tipo de
contrato de seguro, em qualquer lugar do mundo; deve-se dar ao consumidor a
exata ciência: primeiro, das consequências dos atos dele, as consequências de suas
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ELSEVIER V – CL ÁUSUL A S R E S T R I T IVA S X CL ÁUSUL A S ABUSIVA S:...
4. Considerações finais
Quanto ao caso concreto trazido a exame, por não constarem do acórdão
os elementos necessários à exata compreensão dos fatos envolvidos, entende-se
não ser possível fazer juízo de valor quanto ao acerto ou desacerto do decisum.
Todavia, manifesta-se entendimento segundo o qual em sendo comunicada
ao segurado, no momento anterior à contratação do seguro, a importância com a
qual deverão ser prestadas as informações relacionadas ao seu perfil e, ocorrendo
incongruências nestas informações, ou seja, dados que divirjam da realidade
fática, deve ser tida como válida e eficaz a cláusula perfil, viabilizando através
desta uma forma por meio da qual o segurador não só poderá, como deverá
negar a cobertura, moralizando com isso o mercado de consumo e o próprio
mercado segurador.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Referências
ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999
INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DO SEGURO – IBDS. Seguros: uma questão
atual. São Paulo: Max Limonad, 2001.
NERY JÚNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos
Autores do Anteprojeto. 6. ed. São Paulo: Forense Universitária, 2000.
TZIRULNIK, Ernesto et alii. O Contrato de Seguro: Novo Código Civil Brasileiro. São
Paulo: Instituto Brasileiro de Direito do Seguro – IBDS, 2002.
50
VI
Breves considerações com relação
à aplicação do estatuto do idoso 1
1. Este artigo teve a colaboração de Eduardo Chalfin e Clara Vainboim, advogados, sócios
de Chalfin, Goldberg & Vainboim Advogados.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
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VII
A prescrição e o contrato de seguro1
Introdução
que motiva a prescrição do direito à propositura de determinada
1. Este artigo teve a colaboração de Úrsula Goulart. Mestre em Direito Civil pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do Curso de Extensão de Direito
do Seguro e Resseguro na Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro.
Advogada Associada à Chalfin, Goldberg & Vainboim Advogados Associados.
2. Trecho extraído de Silvio de Salvo Venosa. Direito Civil. 2004. p. 633.
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3. Raul Teixeira. Os reflexos do novo Código civil nos contratos de seguro. 2004, p. 32-33
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
1. Prescrição x decadência
1.1. Os fundamentos da prescrição e da decadência
O decurso do tempo, como acontecimento natural, exerce efeitos sobre as
relações ou situações jurídicas; seja isoladamente ou conjuntamente com outros
fatores.
A lei toma o tempo como causa de (i) aquisição ou (ii) extinção de direitos
ou faculdades jurídicas.
O instituto da prescrição existe por uma questão de necessidade, servindo
para alcançar a estabilidade das relações jurídicas e a paz social, e evitar que as
relações jurídicas de interesses contrapostos perdurem indefinidamente.
A regra da prescrição assume caráter de ordem pública, não podendo ser
derrogada pela vontade das partes.
4. Pedro Alvim. O Contrato de Seguro. 1999, p. 508.
5. Ernesto Tzirulnik et alii. O contrato de seguro: de acordo com o novo Código Civil brasileiro.
2003, p. 218-219.
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6. Clóvis Beviláqua. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 1927, v. 1 apud Carlos
Roberto Gonçalves. Direito Civil – Parte Geral. 2002, p. 180-181.
7. Antônio Luiz da Câmara Leal. Da prescrição e da decadência. 1939, p. 133-134 apud Agnelo
Amorim Filho. Critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as
ações imprescritíveis. Revista dos Tribunais. out. 1997.
8. Caio Mario da Silva Pereira. Instituições de Direito Civil. 2002, v. 1, p. 435.
9. André Fontes. A Pretensão como Situação Jurídica Subjetiva. 2002, p. 9.
10. Constituição Federal de 1988. Art. 5 º, inciso XXXV: “A lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito.”
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
11. , Antônio Luiz da Câmara Leal. Da prescrição e da decadência. p. 133-134 apud Agnelo
Amorim Filho. Critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações
imprescritíveis. out. 1997.
12. Agnelo Amorim Filho. Critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para
identificar ações imprescritíveis. RT, v. 836, jun. 2005.
13. Giuseppe Chiovenda. Instituições de direito processual civil. 1998, p. 15.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
dos conceitos de prescrição e decadência (art. 207),14 aos quais se dedicou regu-
lamentação separada (arts. 207 a 211).15
A prescrição faz extinguir o direito de uma pessoa a exigir de outra uma
prestação (ação ou omissão), ou seja, provoca a extinção da pretensão, quando
não exercida no prazo definido na lei.
Não é o direito subjetivo que desaparece, mas sim o direito de exigir em
juízo a prestação inadimplida que fica comprometida pela prescrição. O direito
subjetivo, embora desguarnecido pela pretensão, subsiste, ainda que de maneira
débil (porque não amparado pelo direito de forçar o seu cumprimento pelas vias
jurisdicionais), tanto que se o devedor se dispuser a cumpri-lo, o pagamento será
válido e eficaz, não autorizando repetição de indébito (art. 882 do CC).
Em resumo, Humberto Theodoro Júnior16 explica que para haver prescrição
é necessário que:
a) Exista direito material da parte a uma prestação a ser cumprida, a seu tempo,
por meio de ação ou omissão do devedor.
b) Ocorra violação desse direito material por parte do obrigado, configurando o
inadimplemento da prestação devida.
c) Surja, então, a pretensão, como consequência da violação do direito subjetivo,
isto é, nasça o poder de exigir a prestação pelas vias judiciais e, finalmente,
d) Se verifique a inércia do titular da pretensão em fazê-la exercitar durante o
prazo extintivo fixado em lei.
14. Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
15. Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I. Art. 209. É nula a
renúncia à decadência fixada em lei. Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando
estabelecida por lei. Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la
em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.
16. Humberto Theodoro Júnior. Comentários ao Novo Código Civil. 2003. v. 3, t.2, p. 154.
60
ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
17. Gustavo Tepedino et alii. Código Civil Interpretado Conforme a Constituição da República. 2004.
p. 420.
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18. Antonio Herman Benjamin et alii. Manual do Direito do Consumidor. 2007. p. 113.
19. Sergio Cavalieri Filho. Programa de Responsabilidade Civil. 2008. p. 509.
62
ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
63
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
mesmo responsabilizado, sem que pudesse utilizar-se de mecanismos voltados à transferência destes
riscos a terceiros, i.e., seguradores.
23. Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
24. Art. 206, § 3º, inciso IX: A pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro
prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
25. Art. 206, § 3º, inciso V: a pretensão de reparação civil (...).
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
Seguro em grupo, acidentes pessoais. Prescrição ânua do art. 178, par. 6, II,
do Cod. Civil. Incidente na ação do segurado contra a seguradora. Posição do
estipulante. Análise do caso concreto. (…) Ao segurado, ou ao beneficiário do
segurado, ocorrido o sinistro, socorre pretensão contra a entidade seguradora,
com base no contrato de seguro. (…) O prazo na ação do segurado contra a
seguradora, tem como termo “a quo” o momento em que aquele teve ciência
inequívoca da ocorrência do sinistro, no caso a incapacitação parcial para o
trabalho. Recurso Especial conhecido, mas não provido. (REsp. 31965/SP; Rel.
Min. Athos Carneiro; Quarta Turma; DJ 09/08/1993; p. 15231REVFOR v. 327
p. 180. Grifou-se).
Esse entendimento, todavia, cedeu espaço a uma nova teoria, que marcava
o termo inicial de contagem do prazo prescricional quando houvesse a negativa
por parte do segurador. Os estudos concluíam que, incorrendo negativa formal
pela seguradora, não haveria razão alguma para o segurado ingressar em juízo
e, nessas condições, seria incongruente iniciar-se a contagem da prescrição.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Mesmo assim, pode-se afirmar que a Súmula 278 não resolveu a questão
conforme se pretendia e ainda é possível encontrar diversas formas de ser iniciar
a contagem do prazo prescricional.
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
(...)
II – A pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado
o prazo:
a)para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, data em que é citado
para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data
que a este indeniza, com a anuência do segurador;
26. Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do
produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir
do conhecimento do dano e de sua autoria.
27. Sergio Cavalieri. Op. cit., p. 473: “Entende-se por fato do produto o acontecimento externo que
causa dano material ou moral ao consumidor, decorrente de um defeito do produto.”
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
28. Segue relação de julgados provenientes do eg. STJ nos quais se entendeu pela inexistência de
revogação do art. 178, § 6º, II do CC/1916 pelo art. 27 do CPDC (REsp. 574947/BA; Rel. Min.
Nancy Andrighi; Segunda Seção; DJ 28/06/2004. * REsp. 590489/RJ; Rel. Min. César Asfor Rocha;
Quarta Turma; DJ 14/06/2004. * AGA 554420/RS; Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito;
Terceira Turma; DJ 07/06/2004. * REsp. 533004/SC; Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior; Quarta
Turma; DJ 10/05/2004. * REsp. 518625/RJ; Rel. Min. Humberto Gomes de Barros; Terceira Turma;
DJ 25/02/2004. * REsp. 242745/MG; Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro; Terceira Turma; DJ
19/12/2003.)
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
Voto:
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo
menor.
Art. 206. Prescreve:
§ 1º Em um ano:
(...);
II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado
o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado
para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data
que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
(...).
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
§ 3 º Em três anos:
(...)
IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
Os agravados não são segurados, mas sim beneficiários. Não se lhes aplica o
prazo ânuo. Não se aplica tampouco o prazo trienal: a hipótese não é de seguro
de responsabilidade civil obrigatório.
O art. 206, § 3º, IX, CC trata apenas da hipótese de prescrição no caso
de seguro de responsabilidade civil obrigatório, não merecendo acolhida a
exegese da agravante de que ali há duas situações: a do beneficiário contra o
segurador e a do terceiro prejudicado no caso de seguro de responsabilidade
civil obrigatória.
Assim, o prazo é o decenal, previsto no art. 205 CC.
E na 5ª Câmara Cível:
70
ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
quais o prazo prescricional é o geral de dez anos (art. 205 do CC/2002). Precedentes
deste órgão fracionário. Inocorrência da prescrição. 3. Orientação sumulada nº 61
do STJ, que autoriza a cobertura do seguro em caso de homicídio não premeditado.
4. Procedência da pretensão indenizatória adstrita à apresentação da documentação
necessária e obrigatória pelos beneficiários para o pagamento do valor indenizatório.
Recurso provido. (TJRJ – Apelação Cível nº 2008.001.40574; 5ª CC.; Rel. Des.
Paulo Gustavo Horta; j. 12/08/2008).
Apelação cível. Ação pelo rito sumário. Direito intertemporal. Cobrança de seguro
de vida pelos beneficiários do segurado. Contrato de natureza complexa ao reunir
no mesmo instrumento seguro e capitalização. Inocorrência de prescrição que,
na hipótese, não é a prevista no art. 27, do Codecon, mas a que está estipulada
no art. 177, do Código Civil de 1916, sob cujo pálio foi celebrado o contrato de
seguro litigioso. Incidência do art. 2028, do Código Civil de 2002, que reduziu
o prazo da prescrição da pretensão resultante da violação do direito para dez anos
nos termos do art. 205, do estatuto civil. Incidência de correção monetária mesmo
71
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
*****
Vamos retomar os termos do art. 206, § 3º, inciso IX: “a pretensão do
beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro
de responsabilidade civil obrigatório”. (Grifou-se)
É preciso ter em vista que o referido inciso IX é claríssimo ao dispor que
prescreve em três anos a pretensão do beneficiário contra o segurador. A parte
final do dispositivo, acima não realçada, contempla uma segunda hipótese,
destinada à pretensão deduzida por terceiro prejudicado contra o segurador
em matéria de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
Ora, refletindo sobre a prescrição no contrato de seguro, sabe-se que o prazo
prescricional para ações entre segurado e segurador é ânuo (art. 206, § 1º, II).
No Código de 1916, realmente a prescrição entre beneficiário e segurador era
a “ordinária”, de 20 anos, o que não se amoldava às peculiaridades do contrato
de seguro.
Reiterando o já explicado quanto à necessidade de que os prazos prescri-
cionais sejam exíguos nos contratos de seguro, sob o ponto de vista atuarial,
não é sustentável que uma seguradora tenha que aguardar por vinte anos para
que um sinistro seja comunicado ou que um direito seja exercido por eventuais
beneficiários. Tamanha espera desvirtuaria completamente a essência do negócio
securitário, cuja viabilidade realmente depende de prazos mais breves, até mesmo
para que as investigações referentes aos sinistros não fiquem prejudicadas.
Suponha-se, por hipótese, um sinistro ocorrido há 19 (dezenove) anos, cuja
reclamação seja realizada somente faltando 01 (hum) ano consumação da pres-
crição. A seguradora, obviamente, enfrentaria sérias dificuldades para regular
o sinistro. Raciocinando um pouco melhor, pode-se dizer que a regulação nem
mesmo teria condições para ser realizada. Impossível analisar documentos, fatos,
provas afetas a algo ocorrido há tanto tempo.
Exatamente por isso é que o Novo Código Civil reduziu o prazo prescricio-
nal para o exercício da ação entre beneficiário e segurador, o que contempla a
hipótese discutida nos autos.
Trazendo um argumento adicional à controvérsia, se o beneficiário perma-
necesse dispondo de 10 (dez) anos para aforar a ação contra o segurador, qual
seria a razão para o Código determinar a imediata comunicação do sinistro, sob
pena de perda da garantia? (Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização,
72
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
30. Ricardo Bechara Santos. Direito de Seguro no Novo Código Civil e Legislação Própria. 2006. p. 461.
31. Raul Teixeira. Op. cit., p. 32-33.
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Por fim, ratificando toda a doutrina consolidada nesse sentido, Frank Larrúbia
Shih,32 ao tratar da prescrição no Novo Código Civil, ensina que:
32. Frank Larrúbia Shih. Temas Relevantes de Direito Securitário. 2003. p. 159.
75
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Seguro de vida. Execução proposta pelo beneficiário. Prescrição. Não tendo decor-
rido mais de metade do prazo vintenário anteriormente previsto no artigo 177 do
Código Civil de 1916 (artigo 2.028 do novo Código Civil), a prescrição rege-se
pelo artigo 206, § 3o, IX do Código Civil de 2002. Sentença mantida. Apelo
improvido.” (TJ/SP – Ap. com Revisão 1.189.889-0/6; 36ª Câmara; Rel. Des.
Dyrceu Cintra; j. 15/01/2009, v.u. Grifou-se).
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O art. 206, § 1o, II, do CC, aplica-se aos casos de pretensão do segurado contra
o segurador. Não é, contudo, a hipótese dos autos. A autora não é a segurada,
mas beneficiária do seguro, ou seja, terceira pessoa a quem deve ser paga a
indenização. E o prazo prescricional para pleitear a indenização é do art.
206, § 3o, inciso IX, do CC: três anos”. (Grifou-se).
Sustenta a autora que passados mais de dez anos do fato, não recebeu o pagamento
dos valores a que tem direito. No caso da autora ela figura como beneficiária
do seguro, pelo qual não se pode deixar de aplicar a regra de prescrição
amparada no Código Civil, que é de três anos. No caso em tela, considerando
a regra de direito intertemporal prevista no art. 2.028 do Código Civil, aplica-se
77
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
(...) Iguais razões se aplicam à suscitação de prescrição, cujo reconhecimento, para que
não reste dúvida, leva, nos termos do art. 269, IV, CPC, ao julgamento com exame
de mérito. De outro turno, a alegação de que se esgotou o lapso prescricional, tal
como formulada pela Agravante, efetivamente depende de se estabelecer, por provas,
quando se deu o alegado conhecimento da recusa de pagamento. (...). Outrossim,
não é manifesta a prescrição, porquanto há de se examinar no curso da instrução
se o Agravado é segurado ou beneficiário – incidindo conforme o caso a regra
o art. 206, §1º, II, CC/02, com prazo de um ano, ou a do § 3º, IX do mesmo
dispositivo, que estabelece prazo prescricional mais longo, de 3 anos. (Grifou-se).
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo,
nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
§ 1º Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do
segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins.
§ 2 ºÉ ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do
segurador, os direitos a que se refere este artigo.
33. Súmula 151, Supremo Tribunal Federal: “Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado
para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio”.
79
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
34. A prescrição também pode ser aquisitiva, dando ensejo à aquisição de propriedade por usucapião
mas, por este não ser o escopo deste trabalho, deixa-se de comentar o assunto com destaque.
35. Carlos Maximiliano. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 1951. p. 277 e 285.
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não tendo ela possibilidade de exercer atividade probatória, dado não ter por isso
protestado na contestação, impõe-se decreto de procedência. 4. Recurso ao qual
se dá provimento, ao tempo em que se julga procedente o pedido. Unânime. (Ap.
Cível 0088445-08.2008.8.19.0002 (2009.001.63849); Rel. Des. Fernando Foch
Lemos; 3 ª Câmara Civil; j. 13/04/2010; Grifou-se).
83
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
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ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
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É certo que a prescrição é instituto de ordem pública e que por isso não compor-
taria interpretação extensiva, caso em que deveria se aplicar o prazo geral de dez
anos previsto no artigo 205 do Código Civil, assim reservado para quando a lei
não lhe haja aplicado prazo menor. Mas é certo também que esse não é o caso
do resseguro, porque a lei previu, para qualquer pretensão decorrente do
contrato de seguro privado, o prazo de um ano, nele se incluindo o seguro
do segurador, isto é, o resseguro, como também o seguro do ressegurador,
ou seja, a retrocessão. (Grifou-se).
86
ELSEVIER V I I – A P R E S C R I Ç Ã O E O C O N T R AT O D E S E G U R O
8. Considerações finais
A prescrição no contrato de seguro é tema complexo que, com certeza, não
se esgota neste simples artigo.
Diversos podem ser os campos de estudo e, consequentemente, essa diversi-
dade aumenta os pontos controvertidos.
Procurou-se demonstrar que o Novo Código Civil foi coerente ao distinguir,
de maneira técnica, os conceitos e os exemplos de prescrição e decadência, o que
facilitou a compreensão da matéria.
Especialmente quanto ao contrato de seguro, as seguintes controvérsias foram
debatidas ao longo desta exposição:
i. O termo inicial de contagem e as diferenças demonstradas a partir dos
Códigos de 1916 e 2002.
ii. A inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor – art. 27 frente
ao Código Civil, nas discussões decorrentes do adimplemento do contrato
de seguro.
iii. A pretensão do beneficiário contra o segurador em matéria de seguro de
vida.
iv. A pretensão da seguradora contra terceiro em ação regressiva.
v. A pretensão do segurador contra o ressegurador e do ressegurador contra
o retrocessionário (e vice-versa).
É necessário seguir pesquisando e buscando atualização constante a fim
de que seja possível obter o posicionamento mais adequado, a depender das
circunstâncias de cada caso concreto.
87
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Referências
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BENJAMIN, Antonio Herman et alii. Manual do Direito do Consumidor. São Paulo: Editora
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BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 3. ed. Rio de
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CÂMARA LEAL, Antônio Luiz da. Da prescrição e da decadência. São Paulo: Saraiva, 1939.
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FONTES, André. A Pretensão como Situação Jurídica Subjetiva, Belo Horizonte: Del Rey,
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MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 5. ed. Rio de Janeiro:
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______. Atípico, acessório e independente. Revista Cadernos de Seguro. Disponível em http://
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TEIXEIRA, Raul. Os reflexos do novo Código civil nos contratos de seguro. Rio de Janeiro:
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TEPEDINO, Gustavo et alii. Código Civil Interpretado Conforme a Constituição da
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THEODORO JÚNIOR. Humberto. Comentários ao Novo Código Civil. Dos atos jurídi-
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TZIRULNIK, Ernesto et alii. O contrato de seguro: de acordo com o novo Código Civil
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
88
VIII
Considerações a respeito da aceitação
do seguro garantia judicial perante
o poder judiciário brasileiro1
Introdução
onquanto instituto internacionalmente aclamado,2 o seguro garantia
89
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
(...), não se pode admitir a substituição da fiança bancária senão por pecúnia
ou por nova carta fidejussória, o que não ocorre aqui. Aliás, saliento que
a fiança caracteriza-se por uma obrigação pessoal incondicionada enquanto o
contrato de seguro pressupõe o pagamento de um prêmio que pode ser frustrado
caso a contratante não cumpra com a contraprestação exigida pela segurado-
ra, circunstância que, ao menos em sede de summaria cognitio parece infirmar
sua liquidez. (TRF – Proc. nº. 2003.03.00.075929-5; Trechos do voto do Des.
Johnson di Salvo; Primeira Turma. Grifou-se).
Constitucional e tributário. Agravo de instrumento. Substituição de penho-
ra em execução fiscal. Centrais telefônicas por seguro garantia judicial.
Descabimento. Depósito integral do quantum devido em dinheiro (art. 151, II,
do CTN e Súmula 112 do STJ). Inocorrência. Não concordância da parte credora
(Lei nº 6.830/80). Portaria nº 232 da Susep. Norma infralegal. Afronta ao
princípio da legalidade (art. 5º, II, Carta Magna). Pretende a empresa agravante
a substituição da penhora dos bens já oferecidos (doze centrais telefônicas de sua
propriedade, com 9.036 terminais instalados, no valor total de R$ 2.974.686,13),
em sede de execução fiscal promovida pelo INSS, relativo à Notificação Fiscal
de Lançamento de nº 35.138.944-0, nos autos originários, por Seguro Garantia
Judicial, no valor total de R$ 3.775.338,75 (três milhões, setecentos e setenta e
cinco mil, trezentos e trinta e oito reais e setenta e cinco centavos), atualizado
para o mês de maio de 2004, ao argumento de que tal seguro equivale a depósito
em dinheiro. A Carta Constitucional de 1988 consagrou no art. 5º, inciso II, o
princípio da legalidade, ao prever que ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. Deste modo, não se pode impor
ao credor, ora agravado, que concorde com a substituição da penhora por apólice
de Seguro de Garantia Judicial ao argumento de que, de acordo com a Portaria
nº 232 da SUSEP (diploma infralegal), tal apólice se equipararia à realização de
4. João Gilberto Possiedi, presidente da J. Malucelli, líder nacional do segmento seguro garantia,
em entrevista publicada no “Jornal dos Corretores de Seguros”, em março de 2003.
90
ELSEVIER V I I I – CONSIDER AÇÕE S A R E SPEI T O DA AC EI TAÇ ÃO DO S EGURO G A R A N T IA ...
A análise das duas ementas acima revela que a resistência à aceitação do seguro
garantia judicial está centrada em dois argumentos principais, quais sejam:
(i) O contrato de seguro pressupõe o pagamento de um prêmio que pode
ser frustrado caso o tomador não cumpra com a sua obrigação.
(ii) Não se pode impor ao credor (segurado) que concorde com a substitui-
ção da penhora por apólice de seguro garantia judicial eis que inexiste
dispositivo na legislação processual civil disciplinando essa exigência.
Por outro lado, convém observar o raciocínio exposto no julgado abaixo, em
prol da aceitação do contrato de seguro garantia judicial:
91
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
1. Respostas
Respondendo à primeira questão suscitada na presente exposição – a indica-
ção do seguro garantia judicial à penhora, em sede de processo executivo, iria ao
encontro do princípio da menor onerosidade possível para o executado? – não
resta dúvida de que o prêmio a ser desembolsado pelo tomador representa quantia
inferior à devida por força da obtenção de uma carta de fiança bancária.5
Com relação ao desembolso de quantia em espécie, não há dúvida, também,
de que o custo a este relacionado, que obriga o executado a alijar-se de vultosas
quantias, dependendo do caso concreto, é infinitamente superior ao valor do
prêmio a ser recolhido no contrato de seguro garantia judicial.
Nessa linha, soa bem claro que a aceitação do seguro garantia judicial como
bem a ser penhorado representa uma alternativa saudável sob a perspectiva
econômico-financeira tanto para o credor quanto para o devedor, sobretudo
considerando a desnecessidade de se desembolsar, à vista, em espécie, vultosas
quantias e, além disso, o elevado custo inerente à obtenção da carta de fiança
bancária.
No que toca à segunda questão – fragilidade do seguro garantia judicial
ante à possibilidade de que o tomador venha a recair em mora, deixando
de pagar o prêmio – a espécie seguro garantia judicial detém característica que
a difere dos contratos de seguro em geral (gênero).
O principal traço distintivo entre o seguro garantia judicial e as demais
modalidades de contratação de seguro consiste no seguinte: caso o tomador
venha a recair em mora, isto é, deixe de arcar com o pagamento do prêmio, o
segurador não poderá, à revelia do segurado, rescindir o contrato e liberar-se da
obrigação de pagar o capital segurado caso ocorra o sinistro. A sistemática dos
contratos de seguro em geral, conforme disciplina o art. 763 do Código Civil, é
que o não pagamento do prêmio implica suspensão de cobertura e, além disso,
92
ELSEVIER V I I I – CONSIDER AÇÕE S A R E SPEI T O DA AC EI TAÇ ÃO DO S EGURO G A R A N T IA ...
não será devido o pagamento da soma segurada caso o sinistro ocorra antes da
purgação da mora.
Corroborando essa assertiva, Gladimir Adriani Poletto6 afirma:
6. Gladimir Adriani Poletto. O Seguro Garantia: em busca de sua natureza jurídica. 2003. p. 50.
7. José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 2005. p. 420.
8. Trecho do art. 35 do Decreto Lei nº 73/1966.
93
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
94
ELSEVIER V I I I – CONSIDER AÇÕE S A R E SPEI T O DA AC EI TAÇ ÃO DO S EGURO G A R A N T IA ...
garantia judicial, razão pela qual não é possível impor ao Exequente a aceitação
de tal substituição, sob pena, novamente, configurar-se ofensa ao princípio da
legalidade.
Mesmo assim, o que importa notar com relação à substituição da penhora
em dinheiro por carta de fiança bancária é que a Lei de Execuções Fiscais, em
comparação ao Código de Processo Civil, é realmente muito mais flexível, já
que este não admite a substituição em referência.
Nessa linha, sendo notórias as prerrogativas da Fazenda Pública em juízo,
e, havendo previsão na Lei de Execuções Fiscais a respeito da equiparação do
depósito em dinheiro à carta de fiança bancária, não se consegue compreender
o motivo pelo qual o Código de Processo Civil ainda não albergou dispositivo
com o mesmo teor.
Assim sendo, é de se concluir que a aceitação do seguro garantia judicial
como instrumento substitutivo da penhora em sede de execução fiscal enfrenta
menores óbices do que ocorre em relação ao procedimento padrão de execução
por quantia certa, posto que a Lei Processual Civil revela-se bem mais rígida
quanto ao tema do que a própria Lei de Execuções Fiscais.
À luz do que se comentou em relação à modificação introduzida no art. 656
do CPC, percebe-se que a sistemática relacionada à Lei de Execuções Fiscais
também deverá seguir o mesmo caminho trilhado no âmbito da execução civil.
Por fim, é oportuno salientar que ainda tramita no Congresso Nacional
projeto de lei cujo escopo é o de justamente viabilizar ainda mais a utilização
do seguro garantia judicial.
O Projeto de Lei nº 543/1999,10 de autoria do Senador Edison Lobão (SF,
PLS 00543/1999), revela alcance amplo, posto que, pretendendo dispor sobre
o seguro garantia, de aplicação no âmbito da União, Estados, Distrito Federal
e dos Municípios, propõe, dentre outras, as seguintes alterações:
10. O referido Projeto de Lei foi remetido à Câmara dos Deputados, em 05/12/2005, para os fins de
revisão, nos termos do art. 65 da Constituição Federal e ainda se encontra em tramitação, conforme
informado pela Secretaria Geral da Mesa do Senado Federal em 13/01/2011. Informações disponíveis
em www.senado.gov.br/atividade.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
2. Considerações finais
O presente artigo objetivou esclarecer, ainda que de maneira resumida, as
principais características do seguro garantia judicial, além de ter abordado
quais são os principais obstáculos encontrados pela jurisprudência para a sua
utilização.
Demonstrou-se que a contratação de seguro garantia judicial representa
ônus econômico-financeiro de menor escala para o tomador em comparação à
obtenção de carta-fiança bancária, o que vai ao encontro do princípio da menor
onerosidade para o executado, previsto no art. 620 do CPC.
Revelou-se, também, que a possibilidade de que o tomador venha a deixar
de pagar o prêmio não terá como consequência a negativa de cobertura em
relação ao segurado, cabendo ao segurador resolver a questão concernente à
impontualidade com o próprio tomador.
Considerando a legislação processual civil atualmente em vigor, não há qual-
quer restrição à aceitação pelo executado do seguro garantia judicial em subs-
tituição a outros bens penhorados, a partir do advento da Lei nº 11.382/2006.
Demonstrou-se que não seria admissível a equiparação entre a fiança bancária
e seguro garantia judicial, tendo em vista o expresso teor do art. 15, inciso II, da
Lei de Execuções Fiscais, não obstante encontrar-se delineado caminho rumo à
sua aceitação também em sede de executivos fiscais.
Por derradeiro, foram apresentados comentários relacionados ao Projeto de
Lei 543/1999 – em tramitação no Congresso Nacional, cuja aprovação, caso
venha a ocorrer, representará avanço ainda maior na utilização do seguro garantia
judicial como instrumento substitutivo de penhora em espécie.
96
ELSEVIER V I I I – CONSIDER AÇÕE S A R E SPEI T O DA AC EI TAÇ ÃO DO S EGURO G A R A N T IA ...
Referências
POLETTO, Gladimir Adriani O Seguro Garantia: em busca de sua natureza jurídica. Rio
de Janeiro: Funenseg, 2003.
______ . A regulamentação do seguro-garantia judicial. In: Valor Econômico. São
Paulo, 18/09/2003. x. Pasta nº 1, Doc. 23 Extraído do Clipping Capitólio de Seguros
de 18/09/2003
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
Anexo
VANTAGENS DO SEGURO GARANTIA EM RELAÇÃO À FIANÇA
BANCÁRIA, TÍTULO PÚBLICO E CAUÇÃO EM DINHEIRO
97
IX
Uma visão realista da boa-fé
no contrato de seguro 1
99
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Com relação às perguntas formuladas pelo segurador, estas, por seu turno,
também deverão ser claras, de fácil compreensão, justamente a fim de evitar
divergências de interpretação quanto à informação pretendida.
Até aqui, nenhuma novidade.
O problema surge a partir do momento em que interpretações distorcidas
vêm diminuindo a importância e o significado que a boa-fé deve ter no seio da
formação de um contrato de seguro.
Com o pretenso propósito de proteger o segurado, parte teoricamente
hipossuficiente em cotejo com o segurador, infelizmente não têm sido pou-
cas as decisões que temperam a boa-fé de maneira muito branda, quase que
desinfluente à formação desse ajuste, o que culmina com a obrigação de que o
segurador tenha que arcar com o pagamento do capital segurado mesmo em
hipóteses nas quais, evidentemente, o segurado tenha deixado de agir com a
necessária boa-fé.3
Não se pretende escrever de maneira tendenciosa a nenhuma das partes que
formam a relação jurídico-securitária. Pretende-se, apenas, enxergar de maneira
realista, livre de quaisquer visões preconcebidas, qual será a consequência, a
médio ou longo prazo, de cada vez mais mitigar a importância da boa-fé no
contrato de seguro. Este é o objetivo que se pretende alcançar.
Por que a boa-fé é tão importante no contrato de seguro?
Anteriormente à celebração de qualquer contrato dessa natureza, o prepo-
nente presta informações referentes ao seu perfil ou à sua atividade profissional
ao segurador, a fim de que este possa analisar o risco que subscreverá caso se
interesse pelo negócio em exame.
Essas informações constituem o único alicerce sobre o qual o segurador
realizará a sua análise, favoravelmente ou não à celebração do contrato.
Por isso, não importando o ramo do seguro que se esteja analisando (vida,
saúde, automóvel, residencial, acidentes pessoais ou responsabilidade civil),
as informações prestadas pelo segurado ganham grande relevância já que é
3. Seguro. Saúde. Contrato de Adesão. Cobertura dos Riscos Assumidos. Recurso Especial. Matéria de
Prova. Interpretação de Cláusulas Contratuais. Abusividade reconhecida pelas instâncias ordinárias.
Incidência do enunciado das súmulas 5 e 7 do STJ. Agravo interno improvido. I – A empresa que
explora plano de seguro-saúde e recebe contribuições de associado sem submetê-lo a exame, não
pode escusar-se ao pagamento da sua contraprestação, alegando omissão ou má-fé nas informações
do segurado. II – Contratos de seguro médico, porque de adesão, devem ser interpretados em favor
do consumidor. III – Análise de matéria de prova e interpretação de cláusulas contratuais refogem
ao âmbito do recurso especial, por expressa vedação dos enunciados 5 e 7 das Súmulas desta Corte.
Agravo improvido. (AgRg no Ag 311.830/SP; Min. Castro Filho; Terceira Turma; DJ 01/04/2002.
No mesmo sentido os seguintes acórdãos: REsp. 86095-SP ; REsp. 244841-SP; REsp. 229078-SP;
REsp. 272830-SE; REsp. 198015-GO).
100
ELSEVIER I X – U M A V I S Ã O R E A L I S TA D A B O A - F É N O C O N T R AT O D E S E G U R O
justamente com base nestas que será cotado o risco e calculado o prêmio a ser
pago ou, ainda, será recusada a proposta.4
A fim de tornar fácil a compreensão do motivo pelo qual essas informações
são realmente muito importantes, nada melhor do que observar alguns simples
exemplos.
O primeiro deles pode ser colhido no seguro automóvel. O questionário
usualmente utilizado para esta espécie de seguro traz questões relacionadas ao
condutor, à utilização do veículo (comercial ou apenas para passeio), à guarda
do veículo (garagem ou estacionamento na rua), à existência de alarme, à qui-
lometragem anual, entre outras.
O preponente, ao responder a essas questões, suponha-se que tenha informado
que seu veículo é guiado por pessoa com 60 (sessenta) anos de idade (reconhe-
cidamente mais prudente do que um jovem de 18 anos, recém-habilitado);
a utilização do veículo seria exclusivamente para passeio; a guarda seria feita
integralmente em garagem monitorada e vigiada; o veículo dispõe de alarme; a
quilometragem anual seria de 10 mil km.
Apenas com base nessas informações é que o segurador avaliará o risco a que
estaria sujeito e, consequentemente, o prêmio a ser pago pelo segurado.
Subscrito o risco e encaminhadas as boletas para pagamento do prêmio,
suponha-se que 6 (seis) meses após o início da vigência tenha ocorrido sinistro
com perda total do veículo. Os documentos são encaminhados à seguradora que,
por imposição legal – Circular Susep nº 256, de 16/06/2004, art. 33,5 regulará
o sinistro a fim de identificar se há ou não cobertura técnica.
Quando da regulação do sinistro, a seguradora conclui, divergindo totalmente
das informações originalmente prestadas pelo preponente, o seguinte: o condutor
do veículo tem 18 (dezoito) anos; a utilização do veículo é comercial; o veículo
fica estacionado na via pública; não há alarme disponível; quilometragem anual
de 30 mil km.
Numa hipótese como essa, pergunta-se: as informações prestadas pelo pre-
ponente foram carreadas de boa-fé? Seria aplicável a sanção prevista no art. 766
do CC – perda da garantia securitária?
Adentrando na questão concernente à verificação das informações prestadas
pelo preponente, haveria condições de uma seguradora contratar investigadores
4. Circular Susep nº 251, de 15/04/2004. (...) Art. 2º A sociedade seguradora terá o prazo de 15
(quinze) dias para manifestar-se sobre a proposta, contados a partir da data de seu recebimento, seja
para seguros novos ou renovações, bem como para alterações que impliquem modificação do risco.
5. Circular Susep nº 256, de 16/06/2004. (...) Art. 33. Deverão ser informados os procedimentos para
liquidação de sinistros, com especificação dos documentos básicos previstos a serem apresentados
para cada tipo de cobertura, facultando-se às sociedades seguradoras, no caso de dúvida fundada e
justificável, a solicitação de outros documentos.
101
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
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Em razão de ter confiado nas informações que lhe foram prestadas, sob o
manto da mais estrita boa-fé e, assim, ter anuído com a celebração do contrato
e, consequentemente, recebido o prêmio, seria coerente interpretação no sentido
de que o segurado não deverá ser sancionado em razão de sua conduta omissiva?
O recebimento do prêmio, por si só, importaria numa compulsória assunção
de todos os riscos do negócio, independentemente das informações prestadas
pelo segurado? A partir do que dispõem os arts. 765 e 766 do CCB, poder-se-ia
cogitar dessa perigosa relativização da boa-fé no contrato de seguro?
Como foi anteriormente colocado, é preciso refletir com muito cuidado.
Para responder de maneira adequada a essas instigantes indagações, nada
melhor do que recorrer à doutrina, iniciando com as palavras de Sérgio Cavalieri:6
Pedro Alvim:7
E Rubén S. Stiglitz:8
Iniciadas las tratativas, las partes recíprocamente se deben dar noticia de todo dato
transcendente, pues aun el marco de la libertad contractual, la reticencia o la falsa
declaración desnaturaliza la autenticidad de la voluntad declarada, que debe ser
105
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
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Civil e processual. Seguro. Ação que postula cobertura indenizatória por morte
de segurado. Óbito ocorrido logo após a contratação. Má-fé reconhecida
pelas instâncias ordinárias. Omissão patente na declaração sobre o estado
de saúde. Internação anterior. Matéria de fato. Súmula nº 7-STJ. I. Patenteada a
deliberada omissão do segurado quanto à grande precariedade de seu estado
de saúde quando da contratação, ocorrendo o óbito poucos dias após, torna-
-se indevida a pretendida cobertura indenizatória, pelo reconhecimento da
má-fé. II. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”
– Súmula nº 7-STJ. III. Recurso especial não conhecido. (STJ – REsp. 617287/
PR; Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior; Quarta Turma; DJ 14/11/2005. Grifou-se).
107
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Referências
ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
CAVALIERI, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Malheiros,
2004.
PEREIRA, Regis Fichtner. A Responsabilidade Civil Pré-Contratual. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001.
STIGLITZ, Rubén S. Derecho de Seguros. 4. ed. Buenos Aires: La Ley, 2004. Tomo I.
108
A realistic view of good faith
in insurance contracts
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
to pay the insured amount even in cases where the insured may have failed to
act with the necessary good faith.
The intention here is not to write tendentiously about either of the parties
to an insurance relationship. The intention is only to take a realistic view, free
of any preconceived notions, of the consequences in the medium and long term
of this increasing trend to diminish the importance of good faith in insurance
contracts.
Why is good faith so important in insurance contracts?
Before executing any contract of this nature, proponents must provide infor-
mation about their profiles or professional activities to the insurance company,
so that it can analyze the risk it will underwrite if it accepts.
This information is the only tangible way the insurer can analyze whether
or not to underwrite the policy. No matter type of insurance is involved (life,
health, car, residential, personal injury, or civil liability), the information pro-
vided by the insured has great relevance precisely because it serves to analyze
the risk and calculate the premium or to refuse the policy.
In order to facilitate understanding the relevance of providing accurate infor-
mation, some examples will be illustrative.
The first example comes from car insurance. The questionnaire usually
employed has questions about the driver, use of the vehicle (commercial or purely
personal), place where the car is kept (garage or street parking), existence of an
alarm, mileage, among others.
Supposing the potential policyholder answers that the car is driven by a 60
year old person (known to be more prudent than a youth of 18 year old who
has just received his license); the vehicle will be personally used; it will be kept
in a guarded garage; it has an alarm; and will be driven 7,000 miles a year.
Based only on this information, the insurer will analyze the risk and calculate
the premium.
Imagine one year later after accepting the risk there is a claim filed for total
loss of the vehicle. While adjusting the claim, the insurer finds out that the
information was totally incorrect: the driver was 18; used the car for business;
it was parked on the streets; had no alarm; and had been driven 25,000 miles.
In a case like this, the question naturally arrises: Was the information pro-
vided in good faith? Will the penalty contained in the Brazilian Civil Code
(loss of the coverage) be applicable?
Going further into the question of checking the information supplied by the
insured, does the insurer really have the means to hire people to investigate all
the information provided by the thousands of applicants for insurance every
day? Would it be reasonable to hire an investigator for each possible contract?
110
ELSEVIER A RE ALIS TIC VIEW OF GOOD FAITH IN INSUR ANCE CONTR AC T S
In this hypothetical case, the investigator would have had to stake out the car,
take photographs and gather other evidence to find out whether the car was
for commercial or personal use. Should the insurance company check the mile-
age every year to make sure the policyholder is telling the truth? What about
investigating the age of the driver? To what extent should the insurer go to
check the details given by the policyholder? What would be the costs of all these
measures? Multiply these costs per thousands, perhaps millions of contracts,
not unreasonable for a country with 170 million people like Brazil. Would car
insurance be financially viable or would it be restricted to a small elite? From
this viewpoint, teorically protecting the interests of the insured, would the social
purpose of insurance be met, namely to distribute losses among the greatest
number of people in order to protect each citizen from bearing the risk alone?
It’s important to think about all these aspects before reaching a suitable
conclusion. It seems technically inappropriate to issue a decision and simply
transfer the burdens of the transaction to the insurer, as if these burdens could
be absorbed without any consequences.
Consider now health or life insurance.
As mentioned before regarding car insurance, the insurer will also send a
questionnaire to the potential insured, asking questions related to his health
condition. The potential insured must answer telling the truth, reporting the
known diseases.
The discussion is not about a disease that has not yet become evident, so is
surely unknown. In this hypothetical situation, if the potential insured doesn’t
know about the disease, he would not be obligated to inform insurer about it.
This is only good sense.
The hypothesis to be discussed is quite different. Imagine the potential
insured knows about a serious disease that he is suffering while answering
the questionnaire. Instead of telling the truth, he insists on omitting this
information.
Then, after the insurer underwrites the policy, the insured gets sick because
of the disease.
Imagine the policyholder dies because of this disease. In a regular situation,
his beneficiaries would have a right to receive the indemnity. The insurance
company while adjusting the claim concludes that the insured omitted relevant
information and denies coverage (articles 766 and 765 of Brazilian Civil Code).
Analyzing these facts, would the insurer be obligated to pay the indemnity?
Considering the omitted information, would it be legal to deny the insurance
coverage?
111
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Suppose that the insurer does not submit the potential insured to a medical
exam and receives the premium, would this represent an obligation for this
party, even if the policyholder acts with bad faith, verified later?
The examples mentioned are absolutely real. Hypotheses like these happen
frequently and deserve special attention, in order to avoid bad faith in insurance
contracts.
The last example is related to civil liability insurance.
Repeating the same procedures of car, life and health insurance, the potential
policyholders answer a questionnaire concerning their personal characteristics,
life habits and professional activities.
Consider a professional malpractice policy for law firms. Before signing the
proposal, the law firm search for an insurance company in order to answer the
questionnaire with the utmost good faith.
The questionnaire has questions concerning the professional activities of
the law firm. The insurer needs to know whether or not the potential insured
represents a good risk. All relevant information must be supplied, regarding,
for example, missing judicial deadlines, client complaints etc.
If the law firm knows about a complaint, this must be affirmed. Suppose
that a simple complaint becomes a lawsuit, discussing the law firm’s procedures.
This, for sure, must be disclosed to the insurer. This is a question of good faith.
The importance of the information provided by the potential insured has
already been explained. A law firm that has been sued by clients will have a
different analysis of its risk, compared with a law firm never sued before.
Reconsidering the example, the potential insured reports that no lawsuit
has ever been filed against it, omitting a complaint recently filed by a client.
The insurer considers that the information provided is true and accepts
the risk, underwriting the policy. Six months afterward, the insured informs
the company about a suit filed exactly one year before the questionnaire was
answered, asking for damages.
In this case, it is easy to conclude that the policyholder knew about the suit
before answering the questionnaire. Would the insurer be obligated to pay
indemnity?
The insurer believes the information provided and receives the premium.
Afterward, it discovers that the insured behaved with bad faith. Should the
insured be made to suffer for his/her omission? Considering articles 765 and 766
of the Brazilian Civil Code, would it be acceptable to diminish the importance
of good faith in insurance contracts?
As said earlier, it is important to reflect.
112
ELSEVIER A RE ALIS TIC VIEW OF GOOD FAITH IN INSUR ANCE CONTR AC T S
Pedro Alvim:10
The insurance contract is not only a contract of bonae fidei, but instead one of
uberrimae fidei. The celerity of economic activity, increased by the communi-
cations network introduced by progress, cannot depend on lethargic oversight
procedures or research by insurers, which are required to provide immediate
coverage for huge and complicated commercial and industrial risks. Either they
must be able to trust insured’s information or their activity becomes impractical.
In discussing the terms, both parties must reciprocally disclose all information,
because in a framework of contractual freedom, the omission or false declaration
removes the authenticity of the declared will, which must be expressed in con-
sideration of the legitimate expectations of the contracting parties, because of
the trust they must place in each other. Information meted out with reticence or
falsehood is a violation of the duty to the duty to behave in good faith. For this
reason, it affects the validity of the act if it was a determining factor of the consent.
The three authors are unanimous in stressing the importance of good faith
on insurance contracts. The reasons, as shown, are obvious. Either insured must
be able to rely on the information provided to them by prospective policyholders
or there will simply be no contracts.
Reflecting on the costs that would be added if investigators had to be hired
to certify all the pieces of information provided (thousands, perhaps millions
9. Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. 2004, p. 428.
10. Pedro Alvim. O Contrato de Seguro, 1999, p. 131.
11. Rubén S. Stiglitz. Derecho de Seguros. 2004. p. 355.
113
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
per day), if complex medical exams were required before executing the contract,
the premiums would be unbearably more expensive, which would be harmful
for the huge majority of the population, the true beneficiaries of mass insurance
contracts.
As pointed out above, one must consider whether the theoretical protection
of the interests of the insureds, which can lead to instances of clear bad faith of
the insureds, benefit or harm policyholders as a group.
This is why insurance contracts cannot be considered in isolation. They need
to be viewed from a mutual standpoint, of the entire group of policyholders,
and pondering the impacts improper court decisions against insurers will have
on the collective interest.
The effect of undue findings against insurers, fruit of the referred mistaken
interpretation of good faith, will only increase their costs, which will be trans-
ferred to insureds through higher premiums.
Unfortunately, this is a vicious circle, that will harm insurance companies
first, and policyholders in the final analysis.
Therefore, it can be seen that failing to emphasize good faith is bad for
policyholders themselves. The simple fact that an insurer trusts the information
provided to it, and based on this underwrites the policy, receiving the premium
in return, cannot mean there is no duty to act with the utmost good faith. Any
other reasoning runs counter to the essence of insurance.
In order to illustrate the legal relevance of good faith, the following prec-
edents from the Superior Tribunal of Justice12 and the Rio de Janeiro State
Court of Appeals:
12. The Superior Tribunal of Justice in Brasília is the highest court for nun-constitutional matters
in Brazil.
13. A sumula is a statement of jurisprudence constant.
114
ELSEVIER A RE ALIS TIC VIEW OF GOOD FAITH IN INSUR ANCE CONTR AC T S
115
X
A violação ao mutualismo no contrato de
seguro e a consequente repercussão geral
Introdução
ara aqueles que acompanham o dia a dia do Poder Judiciário
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
118
ELSEVIER X – A V I O L A Ç Ã O A O M U T U A L I S M O N O C O N T R AT O D E S E G U R O ...
3. Ofensa indireta à CF. Inadmissibilidade do RE. Alegação de ofensa indireta à CF não dá margem
ao cabimento do recurso extraordinário. (STF – AgRgAg 210550-7-MG; Rel. Min. Moreira Alves;
Primeira Turma; v.u.; j. 24/04/1998; DJU 26/06/1998, p. 5).
4. STF – Súmula 282: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada na decisão
recorrida, a questão federal suscitada”.
5. STF – Súmula 279: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
6. STF – Súmula 454: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso
extraordinário”.
7. “Repercussão geral é conceito legal indeterminado, cuja concretude deve ser dada em razão
a algo “que diga respeito a um grande espectro de pessoas ou a um largo segmento social, uma
decisão sobre assunto constitucional impactante, sobre tema constitucional muito controvertido, em
relação à decisão que contrarie decisão do STF; que diga respeito à vida, à liberdade, à federação, à
invocação do princípio da proporcionalidade (em relação à aplicação do texto constitucional) etc.;
ou, ainda, outros valores conectados ao Texto Constitucional que se alberguem debaixo da expressão
repercussão social”. (Arruda Alvim, a ED nº 45 e o instituto da repercussão geral, in Wambier,
119
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Reforma do Judiciário, p. 63). Essa repercussão geral pode ser jurídica, econômica, social, política
etc. Serão de repercussão geral para os efeitos da CF 102, § 3º, por exemplo, questões atinentes
aos direitos humanos (CF 5º); dignidade da pessoa humana (CF 1º III); cidadania, nacionalidade
e direitos políticos; soberania nacional; ordem econômica etc.” (Nelson Nery Júnior e Rosa Maria
de Andrade Nery. Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 2007. p. 938-939).
8. A fundamentação original à edição das súmulas vinculantes encontra-se no art. 2º da Emenda
à Constituição nº 45, de 08/12/2004, que introduziu o art. 103-A ao texto constitucional. “Art.
103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois
terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula
que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual
e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. § 1º
A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º
Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula
poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º
Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente
a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o
ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida
com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso”.
120
ELSEVIER X – A V I O L A Ç Ã O A O M U T U A L I S M O N O C O N T R AT O D E S E G U R O ...
121
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
12. Rubén S. Stiglitz explica as diferenças da seguinte maneira: La apuesta es un contrato en virtud
del cual unas personas que no están de acuerdo sobre una cuestión, que consideran diferentemente esta o
la otra eventualidad, una que afirma y otra que niega un hecho determinado, se prometen recíprocamente
una ganancia consistente en una suma de dinero o en una prestación determinada, que obtendrá aquella
de las dos que resulte que tenía razón, una vez comprobado el hecho de que se trate. La ganancia en la
apuesta depende de la simples comprobación de un hecho ya producido o todavía futuro, pero que no
habrá de ser obra de las partes. Como se advierte, la apuesta tiene por finalidad o función la de obtener
un lucro, cuestión ajena y extraña a contrato de seguro que cumple una función resarcitoria con motivo de
la realización (siniestro) de un evento dañoso. Este último no es querido en el seguro, por ello el asegurado
se cubre de sus consecuencias dañosas. En cambio, el la apuesta el evento condicionante de la ganancia
ha sido deliberadamente elegido por las partes y, de verificarse el hecho, el ganador obtiene un lucro y no
la reparación de un daño. Por lo demás, los derechos que derivan del contrato de seguro son civilmente
exigibles, no existen limites a su proponibilidad. En cambio, en la apuesta el Código Civil prohíbe el
ejercicio de la pretensión judicial por deudas de juego o apuesta que no provengan de fuerza, destreza de
armas, corridas, etcétera (art. 2055, Código Cível).” (Ruben S. Stiglitz. Derecho de Seguros. 2004. p.
31-32). Em tradução livre do autor: “Diferenças entre o contrato de seguro e a aposta. A aposta é
um contrato em virtude do qual pessoas que não estão de acordo sobre uma questão, que consideram
diferentemente esta ou a outra eventualidade, uma que afirma e outra que nega um determinado
aspecto, prometem-se, reciprocamente, um ganho consistente numa soma em dinheiro ou em uma
prestação determinada, que obterá a parte que tenha razão, uma vez comprovado o aspecto de que
se trate. O ganho na aposta depende da simples comprovação do aspecto já produzido ou todavia
futuro, mas que não poderá ser realizada pelas partes. Como se adverte, a aposta tem por finalidade
ou função a obtenção de lucro, questão alheia e estranha ao contrato de seguro, que cumpre uma
função ressarcitória em decorrência do sinistro. Este último não é desejado no seguro, mas suas
consequências danosas são cobertas. Por outro lado, na aposta o evento condicionante do ganho é
escolhido pelas partes e, verificando-o, o ganhador obtém o lucro e não a reparação de um dano.
Adicionalmente, os direitos que derivam do contrato de seguro são civilmente exigíveis, não existindo
limites à sua execução. Por outro lado, na aposta o Código Civil proíbe o exercício da pretensão
judicial por dívidas de jogo ou aposta que não decorram de força, destreza de armas, corridas etc.
(art. 2055, Código Cível).”
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ELSEVIER X – A V I O L A Ç Ã O A O M U T U A L I S M O N O C O N T R AT O D E S E G U R O ...
13. Fábio Ulhôa Coelho. Apresentação à obra O Contrato de Seguro, de Ernesto Tzirulnik et alii.
RT, 2003.
14. Rubén S. Stiglitz. Op. cit., p. 8-9.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
15. Em tradução livre do autor: “Acontece que não é concebível o seguro entre aquele que esteja
submetido à potencial verificação de apenas um evento incerto, futuro e danoso, se pretende transferir
os efeitos prejudiciais do mesmo decorrentes a uma seguradora que tomaria a seu cargo, isoladamente,
os efeitos desse sinistro e de nenhum outro. Assim delineado o tema, tratar-se-ia de uma operação
meramente especulativa, se bem que com transferência de risco, mas com a insegurança que a
insolvência do segurador provoque pelo descumprimento da sua obrigação. Avançando na afirmação
anterior, cabe enfatizar que não se deve confundir a aleatoriedade do seguro com o contrato de
seguro. O primeiro, visualizado em sua concepção técnica, requer sua exploração comercial e sua
administração por uma empresa cuja função consiste em eliminar ou diminuir as consequências
do azar. Na outra mão, o contrato de seguro, por essência, constitui um contrato aleatório, ao
qual é inerente o azar. E o modo de eliminar os efeitos decorrentes da álea se alcança mediante
o agrupamento de uma mutualidade de segurados que contribuam proporcionalmente com cada
um de seus respectivos prêmios a um fundo comum de uma mesma empresa. Desse fundo se
extraem as somas de dinheiro com as quais são pagos os sinistros, em benefício dos integrantes da
mutualidade. Esta última que, consoante exposto, implica agrupamento de pessoas, comunidade de
riscos e contribuições a um fundo, é que permite amortizar os efeitos da álea, neutralizar os sinistros,
fracionar ou diluir suas consequências. Do que foi exposto, cabe concluir que o contrato de seguro
não pode ser considerado um contrato meramente especulativo, pois, sem prejuízo do benefício da
seguradora, seu objetivo deve ser a satisfação de legítimas expectativas de solidariedade e cooperação
que se conjugam no princípio da mutualidade, base da noção do seguro.”
124
ELSEVIER X – A V I O L A Ç Ã O A O M U T U A L I S M O N O C O N T R AT O D E S E G U R O ...
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
3. Questões constitucionais
Entrando na discussão constitucional, objeto precípuo do artigo, convém
analisar o conceito de ato jurídico perfeito. Na lição de José Afonso da Silva,16
consta:
A diferença entre direito adquirido e ato jurídico perfeito está em que aquele
emana diretamente da lei em favor de um titular, enquanto o segundo é negócio
fundado na lei. ‘O ato jurídico perfeito, a que se refere o art. 153, § 3º [agora, art.
5º, XXXVI], é o negócio jurídico, ou o ato jurídico stricto sensu; portanto, assim as
declarações unilaterais de vontade, como os negócios jurídicos bilaterais, assim os
negócios jurídicos, como as reclamações, interpretações, a fixação de prazo para a
aceitação da doação, as comunicações, a constituição de domicílio, as notificações,
o reconhecimento para interromper a prescrição ou com sua eficácia (ato jurídico
stricto sensu)’. Ato jurídico perfeito, nos termos do art. 153, § 3º [art. 5º, XXXVI],
é aquele que sob o regime da lei antiga se tornou apto para produzir os seus efeitos
pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável. É perfeito ainda que
possa estar sujeito a termo ou condição.
Considerando que o ato jurídico perfeito é aquele que, sob a égide de deter-
minado regime legal, tornou-se apto à produção de efeitos, não há dúvida de que
o mencionado clausulado contratual, que desobrigue a seguradora da cobertura
para danos morais por expressa opção do segurado, classifica-se dessa exata
maneira.
Nessa linha, a eventual condenação que imponha à empresa a obrigação de
pagar por cobertura não contratada representaria contrariedade direta a um ato
jurídico perfeito, a viabilizar o Recurso Extraordinário.
16. José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 2005, p. 436.
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17. “A autonomia privada constitui-se, portanto, no âmbito do direito privado, em uma esfera de
atuação jurídica do sujeito, mais propriamente um espaço de atuação que lhe é concedido pelo direito
imperativo, o ordenamento estatal, que permite, assim, aos particulares, a autorregulamentação de
sua atividade jurídica. Os particulares tornam-se, desse modo e nessas condições, legisladores sobre
sua matéria jurídica, criando normas jurídicas vinculadas, de eficácia reconhecida pelo Estado.”
(Francisco Amaral. A Autonomia privada como princípio fundamental da ordem jurídica –
Perspectivas estrutural e funcional. in Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 102, 1989, p. 213).
18. “O livre exercício da vontade individual, que tantas iniquidades gerava nas relações entre agentes
econômicos desiguais, deixa de ser aceito como expressão fundamental do direito privado, para
passar a ser tutelado apenas quando e na medida em que se mostre em consonância com a dignidade
humana, entendida sob uma ótica solidarista.”(Anderson Schreiber. A Proibição de Comportamento
Contraditório. Tutela da confiança e venire contra factum proprium. 2007. p. 60-61).
19. Gilmar Ferreira Mendes et alii. Curso de Direito Constitucional. 2008. p. 487-489.
127
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menos precisa e, por isso mesmo, mais abrangente, que é o princípio da segurança
jurídica enquanto postulado do Estado de Direito. (...)
Assim, ainda que não possa invocar a ideia de direito adquirido para a proteção das
chamadas situações estatutárias ou que se não possa reivindicar direito adquirido
a um instituto jurídico, não pode o legislador ou o Poder Público em geral, sem
ferir o princípio da segurança jurídica, fazer tabula rasa das situações jurídicas
consolidadas ao longo do tempo. (...)
Em verdade, a segurança jurídica, como subprincípio do Estado de Direito, assume
valor ímpar no sistema jurídico, cabendo-lhe papel diferenciado na realização da
própria ideia de justiça material. (...)
O tema da segurança jurídica tem assento constitucional (princípio do Estado
de Direito).
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5. Considerações finais
É preciso enxergar o contrato de seguro muito além das fronteiras represen-
tadas pelas partes contratantes.
Caso a essência do negócio fosse, por exemplo, similar a uma compra e
venda de um imóvel, em que a ciência atuarial não exerce influência alguma,
eventual desequilíbrio contratual provocado por uma decisão judicial não teria
nenhuma repercussão geral, já que o problema se restringirá às partes envolvidas
e prejudicadas.
Tratando do contrato de seguro (gênero), do qual são espécies o seguro saúde
e outros diversos seguros privados, o mutualismo, representado pelo conjunto de
prêmios depositados pelos segurados, gerido pelo segurador, definitivamente é o
elemento propulsor do negócio, de maneira que desfalques indevidos, indubita-
velmente, prejudicam todo o grupo, não apenas os implicados em determinada
contenda judicial.
Nesses termos, assim como o Supremo Tribunal Federal reconheceu a reper-
cussão geral numa decisão sobre o adimplemento de obrigação não avençada em
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contrato de seguro saúde, espera-se que as linhas traçadas neste artigo colaborem
à formação de um convencimento mais amplo nesse sentido.
A partir do mencionado acórdão, sob a relatoria da Ministra Carmem Lúcia,
que seja possível caminhar para um entendimento no sentido de que em matérias
de seguros privados decisões que arranhem o clausulado originalmente enta-
bulado pelas partes efetivamente representam violações a todo o mutualismo,
o que, em escala mais ampla, representará sérios problemas à estabilidade do
sistema de seguros nacional.
Espera-se, a partir do que foi exposto, que o Supremo Tribunal Federal,
estudando cautelosamente a matéria e compreendendo a sua relevância sob as
perspectivas jurídica, política, social e econômica, definitivamente compreenda
a sua repercussão geral e, por ocasião do exame do mérito, elimine as, infeliz-
mente, não mais incomuns decisões que impõem às seguradoras e operadoras
o cumprimento de obrigações que passam muito longe do clausulado ajustado
com seus consumidores.
Referências
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dica – Perspectivas estrutural e funcional. Revista de Informação Legislativa, Brasília,
vol. 102, 1989, p. 213.
COELHO, Fábio Ulhôa. Apresentação à obra O Contrato de Seguro, de TZIRULNIK,
Ernesto et. alii. 2. ed. São Paulo: RT, 2003.
MENDES, Gilmar Ferreira et alii. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2008.
NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado
e legislação extravagante. 10. ed. São Paulo: RT, 2007.
SCHREIBER, Anderson. A Proibição de Comportamento Contraditório. Tutela da confiança
e venire contra factum proprium. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25. ed. São Paulo:
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SITE: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=97962&caix
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STF – Súmula 279.
STF – Súmula 282.
STF – Súmula 454.
STF – AgRgAg 210550-7-MG; Rel. Min. Moreira Alves; Primeira Turma; v.u.; j.
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STIGLITZ, Ruben S. Derecho de Seguros. 4. ed. Buenos Aires: La Ley, 2004. Tomo I.
131
XI
A empresa brasileira de seguros – (EBS).
Necessidade? 1
133
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de provedor,4 por que se cogitar da criação de uma estatal para atividade tão
especial e complexa, como é o seguro?
Por mais que se tenha afirmado que a EBS poderá atuar em todos os ramos
dos seguros, o discurso pró-Estado foi centrado nas necessidades de coberturas
para grandes projetos de infraestrutura (seguro garantia) e vultosas obras – riscos
de engenharia – o que demonstra, ainda mais, quão técnicas e complexas são
essas modalidades de garantia.
Com efeito, não se trata de, por exemplo, oferecer mais apólices de vida,
acidentes pessoais ou automóveis, para ampliar a fatia da população que regu-
larmente contrata o seguro. Definitivamente, essa não é a pretensão do Governo.
Quer-se, em verdade, oferecer garantias complexas sob o ponto de vista opera-
cional sem as necessárias exigências praticadas pelo mercado segurador privado,
impostas pelo próprio Estado, por seu agente fiscalizador – a Susep.
Ao examinar a questão sob a ótica do resseguro, anteriormente à sanção
da Lei Complementar nº 126, posicionamo-nos5 pela necessidade de que o
Estado deixasse de exercer funções na qualidade de protagonista, assim como
se procedeu em diversos outros segmentos da economia nacional (petróleo e gás,
telecomunicações, energia elétrica, navegação de cabotagem, entre tantos outros).
Foi-se o tempo em que o País experimentou a necessidade de proteger as
suas divisas explorando atividades econômicas. As Constituições da República
de 1934 e de 1937, expressamente, dispunham em seus títulos relativos à ordem
econômica e social, que caberia à lei providenciar a nacionalização das empresas
de seguros em todas as suas modalidades, devendo constituir-se em sociedades
brasileiras as estrangeiras que à época estivessem em operação, assim como que as
sociedades em atuação no Brasil não poderiam dispor de acionistas estrangeiros
em seus quadros.
O programa de nacionalização do seguro alinhava-se, perfeitamente, às carac-
terísticas do Estado empresário, desenvolvimentista, sendo certo que a exploração
4. Floriano Azevedo Marques Neto ensina que há incidência da regulação tanto nos serviços
públicos quanto nas atividades econômicas, variando a intensidade da intervenção estatal de acordo
com a maior ou menor necessidade de que esta se faça presente: “Tanto nos serviços públicos
como nas atividades econômicas (em sentido estrito) há alguma incidência de regulação estatal.
O que irá variar é a profundidade e a intensidade da carga regulatória. Porém, mesmo na menos
condicionada das atividades econômicas – onde vicejar liberdade de empresa e não houver nenhuma
incidência de regulação estatal – haverá, residual e reativamente, alguma incidência de regulação
estatal seja no âmbito da proteção à concorrência (intervenção das autoridades antitruste), seja no
âmbito da proteção ambiental, seja ainda no tocante à defesa do consumidor.” (Floriano de Azevedo
Marques Neto. Limites à Abrangência e à Intensidade da Regulação Estatal, p. 7. Disponível em
http://www.direitodoestado.com/revista/redae-4-novembro-2005-floriano_azevedo.pdf. Acessado
em 05/08/2006).
5. Ilan Goldberg. Do Monopólio à Livre Concorrência. A Criação do Mercado Ressegurador
Brasileiro. 2008. p. 45-47.
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Referências
ALVIM, Pedro. O Contrato de Seguro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
GOLDBERG, Ilan. Do Monopólio à Livre Concorrência. A Criação do Mercado Ressegurador
Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2008.
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. Limites à Abrangência e à Intensidade da
Regulação Estatal. p. 7, disponível em http://www.direitodoestado.com/revista/redae-4-
-novembro-2005-floriano_azevedo.pdf. Acessado em 05/08/2006.
139
Empresa brasileira de seguros (EBS).
Is it necessary?
I n recent weeks there have been many stories in the press about the
Lula administration’s intention to create its twelfth state-owned com-
pany, this one to provide insurance, to be called Empresa Brasileira
de Seguros (EBS).
The Ministry of Finance claims a new government-owned company
is essential to correct the distortions created by the private insurance
market, which will be unable to cover all the risks resulting from the
rapidly expanding economy. In the words of the finance minister, Guido
Mantega1 “We’re making up for a deficiency in the Brazilian insurance
sector. There’s a lack of clarity, particularly because the way things are now,
the insurance sector cannot meet the need created by the investments the
government is making. We’re going to correct these distortions.”
Believing the matter to be urgent and relevant, the government ini-
tially intended to create the company through a provisional measure.2
The choice of this route raised protests about the legality of creating a
state-owned company using a provisional measure.
The announcement of this intention brought withering fire from
representatives of the insurance industry and other observers, even
more so because of its presentation through a provisional measure. The
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CNSeg and its members do not accept the arguments regarding performance
bonds, where the government alleges the private sector does not have the capacity
to meet the huge demand to insure construction projects under the PAC and for
the sports events in 2014 and 2016.
Incontestable proof of this is provided by the sector’s numbers, which demonstrate
the great potential of this industry. In 2009 it took in R$ 109.2 billion in pre-
miums, representing 3.56% of the country’s GDP. Its accrued technical reserves
amount to some R$ 237.1 billion – fundamental to assure the second great role
of insurers, which is to act as institutional investors – along with consolidated net
equity of R$ 68.8 billion and investments of R$ 310 billion, an amount equal to
9.7% of GDP. The sector also paid R$ 8.34 billion in taxes last year. This year
it should grow by 10% to 15%. Besides these solid numbers, it also employs 70
thousand people directly in the country. (...)
The insurance market has full capacity to offer financial protection to all the large
infrastructure projects under way or in the tendering phase.
Many other arguments for and against the creation of this state-owned com-
pany have been appearing in the press lately.
3. Capitalização is a product that is unique to the Brazilian insurance market, and combines lottery-
based drawings with an incentive savings product.
4. Information available at http://www.fenaseg.org.br/main.asp?View=%7B1B5D9E10%2D3C95%
2D4411%2DB428%2D42911752AB67%7D&Team=¶ms=itemID=%7BFAD4EC31%2D79
87%2D4D71%2D9197%2DF1A428FF29EA%7D%3B&UIPartUID=%7BD90F22DB%2D05D
4%2D4644%2DA8F2%2DFAD4803C8898%7D. Accessed on August 30, 2010.
141
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Another argument against the creation of EBS is that it is a step back from
the recent ending of the reinsurance monopoly of IRB – Brasil Resseguros S.A.,
which happened at the start of 2007 with the enactment of Complementary
Law5 126 and the subsequent regulation during that year of the law’s provisions
by the Superintendent Office of Private Insurance (Susep) and the National
Council of Private Insurance (CNSP), through the issuance of various norma-
tive acts.
To illustrate the development of the reinsurance market after the end of the
government monopoly regime, at present Brazil has 90 active reinsurers, of which
6 are classified as local reinsurers, 24 are admitted ones and 60 are occasional
reinsurers, with more to come based on the applications for authorization pend-
ing analysis by SUSEP.
From this standpoint, there can be no doubt Brazil’s primary insurance
market, after the end of the monopoly, is able to access international coverage
by means of agents established in the country directly, without the bureaucratic
bottlenecks characteristic of the monopoly regime.
Besides the arguments for and against the idea on economic grounds, there
are constitutional issues involved in the question. To understand these it is
necessary to take a look back at the reasons that prompted the government itself
to eliminate the antiquated monopoly of IRB – Brasil Resseguros S.A.
The Economic Policy Secretariat (part of the Finance Ministry) of the Lula
administration, in stimulating and conducting the process that culminated in
ending IRB’s monopoly, repeatedly affirmed that such a regime produced inef-
ficiencies, hindered competition and prevented innovations in the insurance
market. To illustrate the panorama of that recent past (2007, just four years ago),
it is enlightening to cite some excerpts of a study published by the Secretariat:
3.1.3 Improvement of the Regulatory Framework of the Insurance Sector. (...) for
these reasons, the government placed on its agenda for 2004-2005 the revision
of the regulatory framework of the insurance and reinsurance sector, favored
by the alteration of Article 192 of the Federal Constitution by Constitutional
Amendment 40 of May 29, 2003, which permitted the National Financial System
to be regulated by more than one complementary law. With protection of consu-
mers as the central objective of the action of the state, the policy for the sector
will be based on three main tenets: i) institutional improvement; ii) improved
oversight; and iii) improved consumer guarantees. The aim of this policy is
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to remove the bottlenecks that exist today hampering the emergence of new
products and services, to promote increased competitiveness in the sector,
improve the rules on prudence and enhance the activity of the regulatory
and oversight entity. (...). (emphasis added)
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144
XII
Os riscos eletrônicos e as
coberturas securitárias
Sumário: Introdução. 1. Fatos. Aspectos atuais com relação aos riscos eletrônicos. 2. A
apólice propriamente dita. 2.1. As coberturas específicas. Comentários individualizados.
2.2. Riscos excluídos. 2.3. Prêmio. Breves considerações. 2.4. Franquia. 2.5. Obrigações
gerais do segurado e do segurador. 3. Responsabilidade civil no âmbito da internet. Os
possíveis interessados na contratação das coberturas securitárias voltadas para os
riscos eletrônicos. 4. Considerações finais. Referências.
Introdução
ão é preciso retroagir muito no tempo para que se possa formular
1. Túlio Lima Vianna, em artigo de sua autoria, denominando “HACKERS: um estudo criminólogico
da subcultura cyberpunk”, Revista do CAAP, Belo Horizonte, a.6, v.10, p. 387-409, 2001, adota
a seguinte conceituação quanto ao termo hackers: “Optamos por uma classificação de ordem
objetiva dos hackers que leva tão somente em conta o seu modus operandi. Em rigor, somente as três
primeiras categorias são de hackers, pois as demais não exigem conhecimento técnico avançado para
agirem, mas resolvemos constá-las para que possamos ter uma classificação geral dos criminosos
informáticos: 1) crackers de servidores – hackers que invadem computadores ligados em rede; 2)
crackers de programas – hackers que quebram proteções de software cedidos a título de demonstração
para usá-los por tempo indeterminado; 3) phreakers – hackers especializados em telefonia móvel ou
fixa; 4) desenvolvedores de vírus, worms e trojans – programadores que criam pequenos softwares que
causam algum dano ao usuário; 5) piratas – indivíduos que clonam programas, fraudando direitos
autorais; 6) distribuidores de warez – webmasters que disponibilizam em suas páginas softwares
sem autorização dos detentores dos direito autorais”.
2. Aurélio Buarque de Holanda, em seu Dicionário Eletrônico, assim define o verbete hacker: hacker .
[Ingl., substantivo de agente do v. to hack, ‘dar golpes cortantes (para abrir caminho)’, anteriormente
aplicado a programadores que trabalhavam por tentativa e erro.] S. 2 g. Inform. 1. Indivíduo hábil em
enganar os mecanismos de segurança de sistemas de computação e conseguir acesso não autorizado
aos recursos destes, ger. a partir de uma conexão remota em uma rede de computadores; violador
de um sistema de computação.
3. Em www.irmi.com/Expert/Articles/2001/Popups/Rossi02-1.aspx. Acessado em 26/01/2011,
disponibiliza-se uma pesquisa que divulga os principais produtos (apólices) comercializadas por
Companhias Seguradoras estabelecidas nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Desenvolvendo-
se uma análise comparativa entre as coberturas oferecidas, a pesquisa examina, dentre cada uma
dessas coberturas, o oferecimento ou não de garantias para: crimes cometidos por terceiros (3rd party
crimes), condutas desonestas praticadas por empregados (employee dishonesty), (business interruption
and Internet insurance), extorsão (extorsion), responsabilidade civil profissional (Prof. Svcs. Liability)
e erros e omissões relacionados à mídia (Media E & O Liability).
4. A título exemplificativo, em www.chartisinsurance.com/us-network-security-and-privacy-
insurance_295_182553.html, constam informações detalhadas acerca do produto Network, Security
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and Privacy and ID Theft (netadvantage). No mesmo sentido, em www.zurichna.com (site oficial da
Zurich American Insurance Company, que comercializa o produto chamado E-RiskEdge, abrangendo,
justamente, os riscos eletrônicos), www.swissre.com (site oficial da Swiss Reinsurance Company, no
qual está disponível artigo denominado “Law, Insurance and the Internet”) e www.lloyds.com (site
oficial do Lloyd´s of London, no qual se encontram disponíveis artigos voltados à matéria “riscos
eletrônicos”). Todos os sites foram acessados em 26/01/2011.
5. O seguro para riscos eletrônicos foi trazido ao Brasil por iniciativa da United Insurance
Brokers – UIB, no início de 2004 e a seguradora que, à época, demonstrou maior interesse pelo
produto foi a Mapfre. Informações detalhadas a respeito do produto disponíveis em http://www.
rossetmintz.com.br/apresesurance.pdf, acessado em 26/01/2011.
6. As perdas causadas pelo próprio homem e as provocadas por fenômenos naturais foram estudadas
por Niklas Luhmann e, especialmente quanto aos riscos eletrônicos, despertam grande atenção
justamente na medida em que estes são exclusivamente provocados pelo próprio homem. Inocorrerá
enchente, tornado, terremoto ou furacão capaz de atacar os servidores de determinada empresa e,
ilegalmente, destruir arquivos, enviar e-mails indesejados, apropriar-se de senhas etc. As palavras
a seguir explicam essa diferença de conceituação para risco/perigo: “Escreveremos as palavras risco
e perigo unidas/separadas por uma barra (/) para mostrar que constituem uma diferença. (...) A
diferença risco/perigo indica que, para ser definido o conceito de risco, precisamos do conceito de
perigo e o oposto. Por exemplo, uma inundação é um perigo, porém, aquele que constrói sua casa
no leito de um rio expõe-se a um risco. Um furacão é um perigo, mas quem provoca o aquecimento
global se (e nos) expõe a um risco. A inundação, o terremoto e o furacão são o mesmo fenômeno,
147
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Na mitologia: após Helena haver sido raptada por Páris, filho do rei Príamo, de
Troia, durante dez anos (de 1090 a 1080 a.C.), gregos e troianos protagonizaram
sangrentas batalhas, onde os dois lados acusaram perdas expressivas, como o grego
Aquiles e o guerreiro troiano Heitor, também um dos filhos do rei.
Uma noite, Sínon, orientando por Ulisses e primo deste, ferido e maltrapilho,
busca asilo no lado troiano e consegue hospitalidade. O rei Príamo não desconfia
de que Sínon estaria atuando como um espião.
Na manhã seguinte, para espanto de todos, não havia mais presença de tendas e
navios gregos; contudo, à entrada da cidade, encontrava-se uma enorme construção
de madeira, em forma de cavalo.
Interrogado a respeito do que aquilo significava, Sínon respondeu ser aquele
cavalo um meio de garantir segurança às embarcações gregas, desde que ficasse
fora da cidade.
Os troianos caíram na armadilha e introduziram o cavalo na cidade, apesar de
Cassandra, pitonisa e filha de Príamo, ter avisado que, se os troianos tomassem
o cavalo, aconteceriam catástrofes.
De noite, após a frota ter sido avisada por meio de uma fogueira (talvez por Sínon
ou Helena), do ventre do cavalo, idealizado por Ulisses e fabricado por Epeu,
saíram trinta guerreiros que abriram as portas de Troia, permitindo ao exército
grego ingressar na cidade promovendo saques e extermínio.
No mundo natural, um pequeno búfalo pasta despreocupadamente, na ilha de
Flores, situada na Indonésia, sem imaginar que está sendo observado por um
enorme dragão de Komodo. Este réptil é considerando o maior dragão de todos
os lagartos atuais, chegando a medir 3,5 metros e a pesar cento e dez quilos.
De repente, este lagarto lança-se sobre a sua presa, morde-lhe em qualquer parte
e se afasta, porém, mantém sua vítima no campo visual. A mordida foi profun-
da, mas não o suficiente para matar o búfalo. Este andará cada vez com mais
dificuldades, pois a saliva do dragão é repleta de bactérias, portanto altamente
tóxica, gerando um processo infeccioso que tomará conta do seu corpo, levando-o
lentamente à morte.
mas podem ser contemplados a partir de dois pontos de vista. (...)”. José Luis Serrano. A diferença
risco/perigo. Revista NEJ, v. 14, n. 2, p. 233, 2 º Quadrimestre, 2009. Disponível em https://www6.
univali.br/seer/index.php/nej/article/viewFile/1776/1416. Acessado em 26/01/2011.
7. Gustavo Henrique W Azevedo. De Ílion à web: o ataque viral dos ‘cavalos de Troia’. Revista
Cadernos de Seguro, setembro/2003, p. 43-51.
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10. Em tradução livre do autor, “esse censo demonstra um quadro realmente preocupante em virtude
dos prejuízos que começam a ser calculados ante à má utilização da internet. O que ainda é mais
alarmante é que sem coberturas securitárias apropriadas para o comércio eletrônico aqueles prejuízos
continuarão crescendo, a não ser que sejam adotadas melhores medidas voltadas à segurança nas
operações realizadas através da internet pelas empresas estabelecidas no Reino Unido. No último
mês, o vírus Love Bug foi responsável por prejuízos da ordem de bilhões de libras-esterlinas ao redor
do mundo, além de massificada interrupção de negócios, o que irá se repetir constantemente, as
empresas não aprendam a lição: melhor segurança, melhor relacionamento com os profissionais de
internet e de gerenciamento de riscos e o reconhecimento de que coberturas securitárias específicas
são vitais para que as perdas sejam evitadas”.
11. O nome da matéria em referência é: “Tripwire and lloyd´s of London to offer cyber insurance”.
12. O nome da matéria em referência é: “Australian businesses unprotected against the cost of
cyber-vandalism”.
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que a preocupação com os riscos eletrônicos deve ser adotada por todos, como
forma de minimizar os eventuais prejuízos que poderão surgir.
Em notícia publicada no noticiário da National Underwriter Company,16
com data de 06/05/2003, comentou-se a respeito de estudo desenvolvido por
companhia de seguros estabelecida nos Estados Unidos, relacionado aos riscos
eletrônicos e à busca de respectivas coberturas naquele País. Com relação às
pequenas e médias empresas, pelo menos um terço das mesmas, nos últimos três
anos, já havia sofrido perdas decorrentes da infiltração de vírus em seus sistemas,
constatando-se, também, que a maioria das empresas pesquisadas ainda não
dispunha de cobertura para os riscos de natureza eletrônica.
Outra constatação aferida nesse estudo revela que grande parte das empresas
pesquisadas afirma que, por não se utilizarem da internet como mecanismo para
comercializar produtos e serviços, não haveria necessidade de ser contratadas
as coberturas oferecidas para os riscos eletrônicos. Divulgou-se que dois terços
dos participantes – 225 empresas norte-americanas – dispõem de seus sites na
internet. No entanto, menos da metade dos entrevistados até mesmo sabe que são
oferecidas coberturas securitárias para riscos eletrônicos, e, mais ainda, dentre
aqueles que têm conhecimento a respeito dessas coberturas, mais de 70% ainda
não cuidaram de sua contratação.
Em 13/08/2003, o Insurance Information Institute17 publicou interessante
notícia18 sob a perspectiva das empresas americanas que, preocupadas com as
possíveis perdas decorrentes dos riscos eletrônicos, começaram a procurar as
coberturas mais adequadas às suas necessidades, destacando o referido instituto
que a maioria das empresas tem problemas (falhas) com relação às garantias
contratadas.
Da notícia em referência, convém transcrever os seguintes trechos:
Most Companies Have Cyber-Risk Gaps in Their Insurance Coverage, States The I.I.I.
-- Traditional Insurance Policies Not Adequate For Cyber Exposures.
New York, August 13, 2003 – As companies become more dependent on their computer
networks for vital data, business continuity and communications, their vulnerability
to cyber catastrophes increases.
Unfortunately, most companies are operating in a 21st century threat environment
with 20th century insurance coverage,” states John Spagnuolo, spokesperson for the
Insurance Information Institute (I.I.I.).
16. <www.nationalunderwriter.com>.
17. Instituto de Informações de Seguros. <www.iii.org>. Acessado em 26/01/2011.
18. <www.iii.org/media/updates/press.731722_content.print/>. Acessado em 26/01/2011.
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19. Em tradução livre do autor: A maioria das empresas tem falhas em suas coberturas securitá-
rias, afirma o Instituto de Informações de Seguros. Apólices tradicionais não oferecem coberturas
adequadas à exposição a riscos eletrônicos. Nova Iorque, 13/08/2003. Ao mesmo tempo em que as
empresas tornam-se mais dependentes das inovações tecnológicas, sua vulnerabilidade aos riscos
eletrônicos também sofre incrementos. Infelizmente, as empresas estão operando no século XXI
com cobertura securitária pertinente ao século XX, afirma John Spagnuolo. O mercado de seguros
desenvolveu produtos para assessorar as empresas com os riscos eletrônicos, relacionados à destruição
de informações importantes, apropriação indevida de informações de consumidores etc. De acordo
com um recente censo elaborado pela Ernst & Young tendo como base 1.400 empresas, apenas 7% das
entrevistadas tinha conhecimento a respeito das coberturas específicas para riscos eletrônicos. Aproxi-
madamente 1/3 (33%) pensou ter coberturas que, na realidade, não tinham. Outros 34% realmente
sabiam não dispor dessas coberturas, enquanto que 22% não souberam responder. Ernst & Young
considerou realmente muito baixo o percentual das empresas que detinham as coberturas específicas,
considerando-se, sobretudo, os riscos a que estão expostas e o fato de que as coberturas tradicionais
não dispõem de garantia para riscos dessa espécie. De fato, o número de incidentes comentado teve
um crescimento vultoso entre os anos de 2000 e 2002, da ordem de 21.756 para 82.094 casos, de
acordo com o CERT – Instituto de Engenharia de Softwares da Universidade de Carnegie Mellon. O
Instituto de Segurança dos Computadores, em parceria com o a Divisão de Informática do FBI de São
Francisco, apresentou os resultados do censo colhido no ano de 2003 acerca dos crimes e da segurança
no âmbito da informática. Mais de 250 dos entrevistados, que incluíram empresas especializadas
em segurança na internet, agentes do Governo, instituições financeiras, hospitais e universidades,
acusaram prejuízos superiores a 200 milhões de dólares. O número de invasores (hackers) cresce a cada
dia e são muito diferentes dos que existiam há dez anos. Um hacker não tem que ser um programador
sofisticado para estar apto a intervir num sistema de computação. Esses invasores podem se utilizar
da internet para se educarem, havendo sensível facilitação no que toca aos procedimentos necessários
ao sofrimento de prejuízos por todos aqueles que se utilizam da rede de computadores. A segurança
na internet depende de esforços de agentes públicos e privados. De acordo com a estratégia nacional
para tornar o espaço virtual mais seguro, divulgada pelo Governo Bush, ataques cibernéticos podem
ter sérias consequências como, por exemplo, impedir operações sérias, causando perda de receita e
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de propriedade intelectual ou até mesmo perda de vidas... Não existe tecnologia específica que torne
um empreendimento absolutamente seguro, não importando quanto dinheiro seja empregado pelas
empresas com esse propósito. O mercado segurador pode ter um papel muito importante no que toca
à segurança do espaço cibernético, a partir do momento em que crie ferramentas através das quais
ocorra a transferência do risco ao qual as empresas estão submetidas.
20. <www.vsantivirus.com/cell-phone.htm>.
21. As quadrilhas de hackers brasileiras já haviam chamado a atenção do jornal The New York Times,
na edição de 27 de outubro. Com o título “Brasil se torna um laboratório do cybercrime”, o jornal
publicou uma longa reportagem dizendo que proliferavam no país hackers especializados em “roubo
de dados e identidade, fraude, pirataria com cartão de crédito e vandalismo online”. O repórter Tony
Smith afirmou que o crescimento desse tipo de crime é possível porque as leis para punir crimes
digitais são “poucas e ineficazes”. A reportagem do New York Times citou uma empresa de consultoria
de risco digital londrina, a mi2g Intelligence Unit, segundo a qual, no ano passado, os dez grupos mais
ativos de vândalos e criminosos da internet eram brasileiros. Este ano, segundo a empresa, perto de
96 mil ataques na internet tiveram sua origem no Brasil. O jornal também abordou as dificuldades
da polícia para combater as quadrilhas de hackers. Smith contou que os 20 policiais trabalhando
para a divisão de crimes eletrônicos da polícia de São Paulo capturaram cerca de 40 criminosos
digitais por mês, mas o número era apenas uma fração do cada vez maior número de bandidos que
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After four years of sitting on the sidelines, insurance for cyber-risks is now showing
signs of breaking into the mainstream in the US. (...) Insurance brokers report they
have underwritten more cyber-policies in the tree months from December to February
this year than in any other three month period. (...) Insurance carriers concur that is
has been a seller´s market of late. “We´re selling more policies and to a more diverse
client base”, says Robert Parisi, senior vice-president of AIG Business Risk Solutions
in New York. “When we introduced cyber-insurance in 1999, the reason was the
proliferation in dot-coms, wich were expected to change the world and certainly did.
But, over the last six months, we´ve seen coverage requests coming in from what we
used to call the old economy – manufacturers, utilities, retailers, financial institutions,
you name it. As technology is utilized across a wider spectrum of businesses activities,
the risks to that activity are becoming known. A fire or flood isn´t going to jeopardize
your customer relationship management system, but some hacker will”. (...) There are
host of reasons for this growth in new business. These include the stabilizing property/
casualty marketplace, greater knowledge and awareness of the financial impact of
cyber-risks and various government regulations implying that cyber insurance is an
appropriate mechanism for mitigating these risks. (...) Zurich, AIG, three Lloyd´s of
London syndicates (Ace, Hiscox and Beazley) and Chubb are the cyber-insurance
market leaders in the US. Chubb vice-president Tracey Vispoli says its cyber insurance
policy sales are up 25% since the third quarter of 2003. Chubb´s primary market is
financial institutions. (...) The belief that traditional property/casualty policies cover
usam computadores em São Paulo. A avaliação do jornal era baseada em uma declaração do próprio
delegado encarregado do combate a crimes por computador, Ronaldo Tossuniam.
22. Publicação da Primavera de 2004, v. 1. (www.usinsurer.com, p. 10/14).
23. Em tradução livre do autor, “Cobertura para riscos eletrônicos finalmente se desenvolve”.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
cyber-exposures was wide-spread in the late nineties. Several court casenow seem to
have cleared up the matter (...).24
24. Em tradução livre do autor: “Após quatro anos fora do centro das atenções, seguros para riscos
eletrônicos agora começam a mostrar sinais de que exercerão papel principal nos Estados Unidos.
(...) Corretores de seguros informam que eles comercializaram mais apólices para riscos eletrônicos
nos últimos três meses, desde dezembro até fevereiro deste ano (2004), do que em quaisquer outros
períodos de três meses que tenham sido reportados. (...) Seguradoras concordam que isto se apresenta
como um mercado favorável aos fornecedores. ‘Nós estamos comercializando mais apólices para uma
clientela mais diversificada’, afirma Robert Parisi, Vice-Presidente da AIG Business Risk Solutions
em Nova York: ‘Quando nós introduzimos o seguro para riscos eletrônicos em 1999, o motivo era
o desenvolvimento das empresas ligadas à internet – dot.coms, cujas expectativas eram de mudar
o mundo e que, certamente, o fizeram. Mas, nos últimos seis meses, nós temos visto pedidos de
cobertura formulados por aquilo que nós costumamos chamar de economia antiga, como industriais,
fabricantes, fornecedores de serviços públicos, varejistas, instituições financeiras etc. Ao passo que a
tecnologia é utilizada numa envergadura maior de negócios, os riscos para essas atividades começam
a se tornar conhecidos. Um incêndio ou inundação não irão colocar em risco sua relação com os seus
clientes, mas um hacker irá’. (...) Existem diversos motivos para esse crescimento em novos negócios.
Isso inclui a estabilização do mercado de seguro de danos, melhor conhecimento e precaução do
impacto financeiro decorrente dos riscos eletrônicos e diversas regulações do mercado dispondo
que os seguros para riscos eletrônicos são um mecanismo apropriado para mitigar esses riscos. (...)
Zurich, AIG, três corretores do Lloyd´s of London (Ace, Hiscox and Beazley) e Chubb são os líderes
de mercado nesse segmento de riscos eletrônicos. Tracey Vispoli, Vice-Presidente da Chubb, afirma
que as vendas tiveram incremento de 25% no terceiro quadrimestre de 2003 e que o mercado ao qual
essa Cia dedica-se é o de instituições financeiras. (...) O entendimento de que apólices tradicionais
de seguros de danos disponibilizam cobertura para riscos eletrônicos foi bem esclarecido nos anos
noventa. Diversas decisões judiciais parecem ter esclarecido o problema”.
25. www.migalhas.com/mostra_noticia.aspx?cod=123073. Acessado em 13/12/2010.
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26. Em tradução livre do autor: “O guia definitivo para questões de seguro e resseguro no âmbito
da Internet, comércio eletrônico e perigos cibernéticos”.
27. Trata-se de “braço” da Seguradora americana AIG – American International Group que, após a
grave crise financeira ocorrida em 2008, deixou de usar o nome AIG e passou a chamar-se Chartis
Insurance.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
management needs through the development of detailed expertise and the creation of
specialized products and services to manage those risks.28
28. Em tradução livre do autor: “Somente avanços tecnológicos não são suficientes para promover a
segurança dos ativos digitais de uma empresa. Para que seja possível gerenciar os riscos decorrentes
da inseminação de vírus em computadores, o furto de informações confidenciais ou a perda de
negócios ante à interrupção do funcionamento de todo o sistema, torna-se necessário um programa
completo de gerenciamento dessa espécie de risco, o que reúne o melhor em tecnologia, informações
sobre esses riscos e seguro. Felizmente, a indústria securitária começou a mapear as necessidades
relacionadas à gestão desses riscos, desenvolvendo produtos (coberturas) específicos”.
29. Ty R. Sagalow. Op. cit. p. 34.
30. Em tradução livre do autor: “No ‘mundo real’, as apólices voltadas para danos (seguro de danos)
oferecem cobertura para prejuízos ou destruição de bens tangíveis (como um edifício), assim como
a um perigo físico (como um incêndio). Furto de ativos tangíveis (comumente dinheiro e ações)
também é objeto de cobertura de um seguro de danos, em apólices especificamente chamadas de
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fidelidade ou que ofertem cobertura para furtos praticados por empregados. Interrupção de negócios
nas apólices tradicionais oferece cobertura para perda de receita relacionada ao sinistro em referência.
Por exemplo, a perda dos lucros decorrentes da não realização da venda de um livro em virtude de
um incêndio da loja em que seria realizada a venda. O conceito de prejuízo em material de seguro de
danos e em interrupção de negócios estão alinhados e, de fato, estão tipicamente na mesma apólice.
No universo das apólices voltadas para os riscos eletrônicos, as coberturas para danos significam as
perdas financeiras decorrentes dos prejuízos, destruição e corrupção dos ativos intangíveis, i.e., data.
(Data não é geralmente coberto nas apólices tradicionalmente comercializadas nos seguros de danos).
31. Acerca da delimitação dos riscos, atividade essencial ao balizamento do que será ou não coberto
pelo segurador e, consequentemente, à cotação do prêmio a ser despendido pelo segurado, convém
observar: “Art. 760, Novo Código Civil: a apólice (....) e mencionarão os riscos assumidos, o início
e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do
segurado e o do seu beneficiário”. Orlando Gomes, em sua conhecida obra Contratos, 5. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 1975, p. 492, ensina: “A noção de seguro pressupõe a de risco. Na precisa definição
de Messineo, por tal deve entender-se o fato de estar o indivíduo exposto a eventualidade de um
dano à sua pessoa ou ao seu patrimônio motivado pelo acaso”. Washington de Barros Monteiro, em
Curso de Direito Civil, 5 v., 2ª parte, p. 353, comenta: “Em primeiro lugar, portanto, a apólice que
é o instrumento usual do contrato, deve consignar os riscos assumidos pelo segurador. O risco é
precisamente o objeto da convenção; é o perigo a que está sujeito o objeto segurado, em consequência
de um acontecimento futuro, alheio à vontade das partes. A apólice deve especificar esse risco,
indicando-lhe a natureza, extensão e limites”. Pedro Alvim, em O Contrato de Seguro, p. l25 e ss.,
após distinguir com absoluta propriedade os riscos ordinários e os riscos extraordinários, justifica a
exclusão de certos riscos da seguinte forma: “As observações anteriores, embora de natureza técnica,
ajudam a esclarecer porque as apólices contêm geralmente uma cláusula de cobertura ampla dos riscos
de determinada espécie, seguida de outra onde se faz a exclusão de todos os riscos extraordinários e de
outros que injunções de ordem técnica ou comercial desaconselharam sua cobertura no mesmo plano”.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
32. Em sede acadêmica, não obstante ter sido promulgada a Súmula 227 pelo eg. Superior Tribunal
de Justiça, “A Pessoa jurídica pode sofrer dano moral”, ainda persiste discussão acerca da possibilidade
de que a pessoa jurídica possa ter reconhecido o direito a auferir indenização por danos de natureza
moral, em virtude de abalos à sua imagem no mercado. Do Código Civil Interpretado Conforme a
Constituição Brasileira, de Gustavo Tepedino, Heloísa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de
Moraes, 2004. p. 338, colhe-se: “Questão também controvertida tem sido a da aplicabilidade do dano
moral à pessoa jurídica. Compreendendo-se o dano moral como dor, sofrimento ou humilhação,
relativamente à lesão à dignidade da pessoa humana, afasta-se a sua aplicação em favor das pessoas
jurídicas. Isto porque qualquer lesão à pessoa jurídica com finalidade econômica, ainda que dirigida
à sua imagem, converte-se sempre em perdas pecuniárias, patrimoniais (Gustavo Tepedino. A Pessoa
Jurídica. p. 559-561). (...) Contudo, não tem sido esta a tendência da doutrina e jurisprudência
pátrias. Com efeito, a dificuldade para a sua comprovação e liquidação e o intuito louvável de se
assegurar o mais amplo ressarcimento resultaram na aplicação às pessoas jurídicas do conceito de
dano moral. O entendimento foi unificado com a Súmula 227 (1999) do STJ (...)”. Reservando
para um segundo plano essa discussão acadêmica, tem-se como certo que a apólice objeto de estudo
confere garantia relacionada às perdas que a imagem do segurado possa sofrer no mercado em
decorrência dos riscos de natureza eletrônica.
33. Ty R. Sagalow. Op. cit., p. 21.
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seu banco de dados que tenha culminado com a perda de informações sigilosas
de milhares de clientes. Sem contar os prejuízos decorrentes da utilização ilegal
de, por exemplo, cartões de créditos tendo como base as senhas de sua clientela,
é certo que esse banco enfrentará dificuldades para restabelecer o seu bom nome
no mercado, já que a divulgação da notícia pela mídia causará a perda da con-
fiança dos investidores, de um modo geral, nos serviços pelo mesmo oferecidos,
causando danos institucionais à empresa.
Estabelecida a premissa acima, relacionada aos first party financial risk, third
party financial risk e ao reputation risk, passa-se a discorrer, ainda de maneira
sucinta, a respeito das coberturas básicas que deverão constar de uma apólice
voltada especificamente para os riscos eletrônicos – cyber risks.
• Web Content Liability (conteúdo dos sites divulgados na internet):
oferta-se cobertura para possíveis demandas decorrentes de informações
divulgadas na internet.
• Internet Professional Liability (responsabilidade civil das empresas
cujos negócios estão relacionados com a Internet): oferta-se cobertura para
prejuízos decorrentes de demandas propostas por terceiros, baseadas em
erros e omissões do segurado no âmbito da Internet. Seriam beneficiários
potenciais dessa cobertura os “ISP” – Internet Service Providers (prove-
dores de Internet), “ASP” – Applications Service Providers (provedores de
software), host (hospedagem de sites), web design (elaboração de sites), entre
outras empresas.
• Network Security Coverage
(i) Third party coverage: demandas (claims) propostas por “terceiros”.
Essa cobertura dirige-se às condutas praticadas pelo segurado (erros e
omissões) que culminem com prejuízos de terceiros, sendo exemplos clás-
sicos a transmissão de vírus pela internet, o furto de informações sigilosas
geridas pelo banco de dados do segurado (administradoras de cartões de
crédito), o “DOS” – denial of service – ataque aos servidores do segurado
que culmine com a interrupção de todos os seus serviços relacionados à
internet (exemplos: envio de e-mails, hospedagem de sites das mais variadas
empresas – grandes corporações inclusive, apenas para que seja possível
dimensionar o volume dos prejuízos envolvidos etc.).
(ii) First Party Coverage (prejuízos sofridos pelo próprio segurado, sem
relação com reclamações apresentadas por terceiros): Esta cobertura dirige-
-se às perdas que o próprio segurado poderá experimentar. A infecção
de sua rede interna por vírus, a destruição de seus softwares, a perda de
informações sigilosas havidas por funcionários desonestos, entre outros
elementos.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
Do que se expôs até esse ponto, convém frisar que as coberturas oferecidas
giram em torno das três premissas básicas antes comentadas, quais sejam, first
party financial risks, third party financial risks e reputation risks. Partindo das
mesmas, delimitam-se as garantias, conforme comentários que virão em seguida.
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We shall pay on your behalf those amounts, in excess of the applicable retention, you
are legally obligated to pay, including content-based liability and liability assumed
under contract, as damages, resulting from any claim(s) made against you for your
wrongful act(s) in the display of Internet media. Such wrongful act(s) must occur
during the policy period.35
34. O oferecimento de cobertura para quaisquer empresas que possuam relação societária com o
segurado poderá atrelar-se ao recolhimento de um adicional de prêmio ao segurador, emitindo-se,
por consequência, um endosso à apólice originalmente emitida.
35. Em tradução livre do autor: “Cobertura para Responsabilidade Civil decorrente da Utilização de
Mídia: nós deveremos pagar em seu favor aquelas quantias que, superando a participação obrigatória
do segurado, esteja este legalmente obrigado a pagar, incluindo responsabilidade civil pelo conteúdo
exposto em seu website e responsabilidade assumida de acordo com o contrato, assim como prejuízos
decorrentes de demandas propostas contra o segurado em virtude de seus erros e omissões no que
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
(1) We shall pay on your behalf those amounts, in excess of the applicable retention,
you are legally obligated to pay, as damages, resulting from any claim(s) first made
against you and reported to us in writing during the policy period or extended reporting
period (if applicable), for your wrongful act(s). Such wrongful act(s) must occur on or
after the retroactive date and be in your performance of.
se refere ao conteúdo disponibilizado em seus sites. Esses erros e omissões deverão ser praticados
durante o período de vigência da apólice”.
36. Ty R. Sagalow. Op. cit., p. 39.
37. Ação cautelar inominada. Liminar. Contrafação de produto vendido através da internet. Mesmo
que a propriedade da marca não lhe pertença, porque ainda não deferido o registro, ao depositante
do pedido é assegurado o direito de zelar pela sua integridade material ou reputação. Art. 130 da Lei
nº 9.279/96. Caso em que o produto, objeto de contrafação, era comercializado em site na Internet,
sob a denominação de réplica do original, fabricado pela agravada. Suspensão da atividade. Requisitos
cautelares demonstrados. Legitimidade passiva da proprietária do domínio eletrônico. Agravo desprovido.
(TJ/RS – Ag. Instrumento nº 70006298582; Rel. Des. Leo Lima; 5ª Câmara Cível; j. 25/09/2003).
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(2) We shall pay on your behalf those amounts, in excess of the applicable retention,
you are legally obligated to pay, including content-based liability and liability assumed
under contract, as damages, resulting from any claim(s) made against you for your
wrongful act(s) in your performance of Internet media services. Such wrongful
act(s) must occur during the policy period.39
38. Responsabilidade relacionada a serviços profissionais: Nós deveremos pagar em seu favor aquelas
quantias que, superando a participação obrigatória do segurado, esteja este legalmente obrigado a
pagar, como prejuízos decorrentes de quaisquer reclamações realizadas e que nos sejam reportadas
por escrito durante o período de vigência da apólice ou durante o período de extensão de reclamações
(se disponível), por seus erros e omissões. Esses erros e omissões deverão ocorrer durante ou depois
da data retroativa e estarem relacionados com: a) serviços tecnológicos de internet; ou b) serviços
profissionais de internet (diferentes dos serviços de mídia relacionados à internet).
39. Nós deveremos pagar em seu favor aquelas quantias que, superando a participação obrigatória
do segurado, este esteja legalmente obrigado a pagar, incluindo responsabilidade pelo conteúdo
do seu website e responsabilidade assumida em contrato, como prejuízos decorrentes de quaisquer
reclamações apresentadas contra o segurado em virtude de seus erros e omissões relacionados com
seus serviços de mídia na internet. Esses erros e omissões deverão ocorrer durante o período de
vigência da apólice.
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D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
médica que apenas divulga o seu endereço e serviços médicos oferecidos, será
adequada a cobertura para web content or media liability coverage.
Portanto, as diferenças são marcantes levando em consideração o nicho, o
foco empregado pelo segurado para com as suas atividades. Caso se esteja tra-
tando de, por exemplo, um site institucional de uma clínica médica, conforme
acima ressaltado, a cobertura adequada será a exposta no item 2.1.1 – web content
or media liability -, ao passo que caso se esteja tratando de serviços profissional-
mente oferecidos através da internet, aí sim será adequada a cobertura descrita
neste item (2.1.2).
Convém, ainda distinguir as coberturas disciplinadas nos itens 2.1.2.1
(serviços tecnológicos prestados na internet) e 2.1.2.2 (serviços prestados na
internet, mas sem essa nuance tecnológica). Como exemplos de empresas que
se adequariam às coberturas ora tratadas, raciocina-se, com relação à primeira
cobertura, acerca dos provedores de acesso, os provedores de hospedagem de
sites, as empresas cuja atuação concentre-se na criação de páginas para clientes
na web, enfim, empresas exclusivamente com cunho tecnológico.
Para a segunda cobertura ora tratada, qual seja, dos serviços também presta-
dos na grande rede de computadores só que sem conotação tecnológica, sendo
exemplos os sites de busca, de compra e venda de produtos e serviços, entre outros,
afigura-se adequada a cobertura enfocada no item 2.1.2.2.
We shall pay on your behalf those amounts, in excess of the applicable retention, you
are legally obligated to pay, as damages, resulting from any claim(s) first made against
you and reported to us in writing during the policy period of extended reporting period
(if applicable), for your wrongful act(s). Such wrongful act(s) must occur on or after
the retroactive date set forth in the declarations and result in a failure of security of
your computer system.40
Para essa cobertura, o termo wrongful act está relacionado a condutas comis-
sivas ou omissivas por parte do segurado que impliquem violação ao seu siste-
ma de segurança, e que dessa violação resultem prejuízos (damages) para si ou
40. Em tradução livre do autor: “Nós deveremos pagar em seu favor aquelas quantias que, superando
a participação obrigatória do segurado, esteja este legalmente obrigado a pagar, como prejuízos
decorrentes de quaisquer reclamações realizadas e que nos sejam reportadas por escrito durante o
período de vigência da apólice ou durante o período de extensão de reclamações (se disponível), por
seus erros e omissões. Esses erros e omissões deverão ocorrer durante ou depois da data retroativa
mencionada nas declarações e que resultem de falhas do sistema de segurança do segurado”.
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We shall indemnify you for those amounts, in excess of the applicable retention, you
pay as extortion monies resulting from an extortion claim first made against you and
reported to us in writing during the policy period.41
2.1.6. Cobertura para ativos e receita – asset and income protection coverage
We shall pay direct loss, wich you suffer, in excess of the applicable retention, resulting
from injury to your information assets occuring during the policy period. We will also
pay direct loss on the form of Internet business interruption and Internet extra expense.
41. Cobertura para extorsão praticada no âmbito da internet. Em tradução livre do autor: “Nós
deveremos indenizar o segurado pelas quantias que, superando sua participação obrigatória, sejam
pagas em decorrência de extorsão pelo mesmo sofrida, comunicadas ao segurador por escrito durante
o período de vigência da apólice.”
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In all cases, such loss must first occur during the policy period and result from a failure
of security of your computer system that also first occurs during the policy period.42
42. Cobertura para proteção de ativos e da receita. Em tradução livre do autor: “Nós deveremos pagar
diretamente os prejuízos sofridos pelo segurado, que sejam superiores à sua capacidade de retenção,
resultantes de prejuízos ocorridos com os seus ativos, na vigência da apólice. O segurador também
arcará com o pagamento correspondente aos prejuízos sofridos pelo segurado em decorrência da
interrupção dos seus negócios desenvolvidos na internet. Em todos os casos, esses prejuízos deverão
ocorrer na vigência da apólice e serem consequência de falhas no seu sistema de segurança, também
ocorridas na vigência da apólice”
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e o prêmio pago pelo segurado. A seguir, temos, ainda, o art. 1460 (Código Civil), que é claro em
permitir a limitação dos riscos, ao dispor: “Quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do
seguro, o segurador não responderá por outros que venham a ocorrer”. Sendo assim, parece-me
induvidosa a legalidade e validade da cláusula limitativa de risco como meio legítimo para manter
o equilíbrio do contrato.” Grifou-se.
45. Ty R. Sagalow, p. 54-55.
46. Em tradução livre do autor: “qualquer perda ou prejuízo decorrentes das práticas de um empre-
gado ou quaisquer condutas fraudulentas, criminais ou maliciosas praticadas por um empregado”.
47. Ty R. Sagalow, pp. 54: “Given that at least half of computer attacks are brought by insiders, this
could exclude a considerable amount of coverage”. Traduzindo esse trecho: “Considerando que pelo
menos a metade dos ataques é decorrente da ação de empregados, essa exclusão representará uma
considerável porção da cobertura oferecida”.
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48. Apelação cível. Contrato de transporte. Dano moral: valor. Na espécie, a reparação se afasta da
ilação de fonte de lucro, face seu caráter punitivo-pedagógico, desestímulo à reincidência. Contrato
de transporte. Passageira que embarca em ônibus e sofre lesões em seu interior, por negligência e
imperícia do condutor do veículo, sofre dano moral, a ser indenizado. Apelo parcialmente provido.
(Ap. Cível 2004.001.00796; Des. Ronaldo Rocha Passos; 3ª Câmara Cível; j. 04/05/2004). Grifou-se.
49. Anderson Schreiber. Arbitramento do Dano Moral no Novo Código Civil. In: Revista Direito,
Estado e Sociedade, n. 20, jan./jul. 2002, p. 28.
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Nesse sentido, a presente exclusão para os danos punitivos deverá ser objeto de
esclarecimento por parte do segurador quando de sua inserção no clausulado da
apólice, já que, em princípio, não há espaço no ordenamento jurídico brasileiro
para os danos punitivos puros, tal como ocorre no ordenamento americano.
2.2.4. Território
Ocorre a exclusão de cobertura quando a demanda surge a partir de um
determinado lugar no País, no continente ou no mundo, podendo-se encontrar
nos Estados Unidos cláusulas que excluem a cobertura para quaisquer demandas
surgidas no território americano, ou, alternativamente, para quaisquer demandas
surgidas fora dos Estados Unidos.
Com relação a essa exclusão, convém esclarecer que quão maior for o espectro
da cobertura, sem limitações em função do território, melhor estará resguardado
o interesse segurado, considerando, sobretudo, que, sob a perspectiva da inter-
net, as fronteiras são absolutamente virtuais, isto é, em instantes pode-se estar
no continente asiático, no Leste Europeu, assim como na América Latina, de
maneira que o ataque provocado por um novo vírus poderá ser prejudicial para
uma coletividade de países, o que revela a necessidade de que não haja exclusões
de cobertura por conta do território.
Deverá o proponente redobrar a sua cautela ao notar cláusula excluindo os
riscos por conta do território (do local que represente a sua origem), tendo em
vista os argumentos acima apresentados.
50. Maria Celina Bodin de Moraes. Danos à Pessoa Humana. Uma leitura civil-constitucional dos
danos morais. 2003, p. 238-239.
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2.4. Franquia
2.4.1. Participação mínima obrigatória do segurado em dinheiro (retentions)
51. Ty R. Sagalow, p. 55. Em tradução livre do autor: “O chamado social engineering deverá excluir
ataques realizados por qualquer um que obtenha acesso sem autorização diretamente à posse física
de qualquer senha ou outro código de segurança”.
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Por mais óbvio que isso possa parecer, a prática demonstra que, em não raras
ocasiões, os segurados, lamentavelmente, contrariando o seu dever de máxima
boa-fé – uberrimae fides –, acabam por desejar o risco e provocá-lo, praticando
típicas condutas criminosas (fraudes), o que tem como efeito a nulidade do
contrato de seguro, por força do que dispõe o art. 762 do Novo Código Civil
Brasileiro.
52. José Augusto Delgado. Comentários ao Novo Código Civil – Das Várias Espécies de Contrato.
Sálvio de Figueiredo Teixeira (coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. XI, T. I. p. 281 e ss.
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53. Omissão do prazo – não fixação de prazo fechado para que o segurado comunique o sinistro
ao segurador, diferentemente do que ocorre nas legislações de Portugal e França. (José Afonso
Delgado. Op. cit. p. 293).
54. Trata-se, no Comércio Internacional, de um dos mais conceituados órgãos através dos quais
são solucionados conflitos de interesses sem que se faça necessário recorrer ao Poder Judiciário.
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— Fernando Coelho dos Santos: Professor, minha questão é sobre a área específica
do direito do seguro. Existem contratos de seguros com apólices independentes
e existem programas de seguros que englobam várias apólices. Como seria a
redação a respeito da cláusula arbitral dentro de contratos e dentro de programas
de seguros? Ou seja, numa apólice de seguros podem ocorrer divergências com o
segurador, ou inclusive com o ressegurador. Poderia haver uma cláusula compro-
missória numa apólice de seguros? E dentro de um programa de seguros, poderia
acontecer a mesma coisa, quer dizer, já se estipular que quando houver uma
divergência entre o segurado e o segurador esta será resolvida através de arbitragem?
— Donaldo Armelin: Isto é perfeitamente possível, mas deverá ser observado o
disposto no art. 4º, § 2º,56 da lei de Arbitragem. Isto porque a inserção de cláusula
compromissória em contrato de adesão gerou um possível atrito com o Código de
Defesa do Consumidor, solucionado pela redação desse parágrafo, no qual se estipula
que a cláusula compromissória em contrato de adesão – o contrato de seguro parece
ser dessa natureza – somente terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir
a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito
em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula. Evidentemente esta regra é aplicável a todos os contratos de adesão, embora
incida com maior ênfase nas avenças versando relação de consumo. (…)
— Therezinha Corrêa: No contrato de resseguro, que é uma prática internacional,
já existe previamente a cláusula de arbitragem, ou seja, as partes já se comprometem,
com antecedência que havendo algum problema, ele será dirimido prioritariamente
através de um Tribunal de Arbitragem. Isto é uma prática comum no exterior. Agora,
como nós temos aqui um resseguro monopolizado, a prática de arbitragem nesta área
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Under coverage E, you and we each have the right to demand that amount of loss be
determined by appraisal. If either you or we make a written demand for appraisal, each
will select a competent independent appraiser and notify the other of the appraiser’s
identity within 20 days of the receipt of the written demand. The two appraisers will
then select a competent, impartial umpire. The appraisers will then determine and
state separately the amount of each loss. If the appraisers submit a written report and
there is an agreement to use the same, the amount agreed upon will be the amount
of loss. If the appraisers fail to agree, within a reasonable time, they will submit only
their differences to the umpire. Written agreement so itemized and signed by any two
of these three set the amount of loss. Each appraiser will be paid by party selecting the
appraiser. Other expenses of the appraisal and the compensation of the umpire will
be paid equally by you and us. If there is an appraisal, we will still retain or right to
deny coverage.60
exemplo a perda de discos rígidos de microcomputadores, software etc., avaliadas em quantias fixas,
ao passo que também ficará sujeita a perda de difícil mensuração, como soem ser as características à
propriedade intelectual, consistentes de arquivos anteriormente armazenados, nos quais, por exemplo,
poderiam ter sido despendidas horas de trabalho por parte de empregados desta suposta vítima”.
59. Pedro Alvim, na obra O Contrato de Seguro, Rio de Janeiro: Forense, p. 78-79, ensina que: “É da
maior importância a divisão de seguros de dano e de pessoas. Constituem dois grupos com estru-
turação técnica diferente. Não coincidem também os seus objetivos. Um tem caráter indenitário, o
outro não. A peculiaridade de cada grupo reflete na sua disciplina jurídica. Os seguros de dano são
também conhecidos como seguros de coisa, denominação que tem sido abandonada pelos autores,
porque se refere apenas a algumas espécies de seguros do grupo. São seguros de coisa ou de incêndio,
de transportes, de automóveis, etc., mas não se incluem aí os de responsabilidade civil, de garantia, de
fidelidade e outros. A expressão ‘seguros de dano’ é mais abrangente e envolve todos eles. Referem-se
tanto aos prejuízos materiais como à perda de valores patrimoniais. Há um princípio que domina
todos os seguros de dano, qualquer que seja sua modalidade de cobertura: ninguém pode lucrar
com o evento danoso ou tirar proveito de um sinistro. Deverá receber em dinheiro ou espécie
aquilo que perdeu. O pagamento a mais pode servir de estímulo à fraude ou à especulação, por isso
a legislação de todos os povos fulmina de nulidade o seguro de valor superior ao do bem. Figura em
nosso Código Civil: ‘não se pode segurar uma coisa por mais do que valha, nem pelo seu todo mais
de uma vez’(art. 1.437). Eis porque se diz que os seguros de dano têm por objetivo uma indenização,
isto é, uma reparação, compensação ou satisfação de um dano sofrido. O segurado deverá receber o
que for necessário para repor a situação anterior à ocorrência. Ressarcir-se de seus prejuízos.”
60. Em tradução livre do autor: “Mediante a cobertura ‘E’, segurado e segurador têm o direito de
requerer que o montante das perdas seja determinado por avaliação. Se ambas as partes formularem
um pedido formal de avaliação, cada um irá escolher um avaliador competente, e notificará o outro
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• Valor de investimento:
É o valor para um investidor em particular, baseado em interesses particulares no
bem em análise. No caso de avaliação de negócios, este valor pode ser analisado
por diferentes situações, tais como sinergia com demais empresas de um investidor,
diferentes percepções de risco e desempenhos futuros, diferentes planejamentos
tributários etc. Este valor é adequado quando o avaliador é contratado para auxiliar
uma tomada de decisão (opção de compra) por parte de um investidor, em que são
analisados diferentes cenários com premissas particulares e mesmo estratégicas.
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62. Gustavo Henrique W. de Azevedo. De Ílion à Web: o ataque viral dos ‘cavalos de troia’. Revista
Cadernos de Seguro nº 120, Funenseg, set. 2003, p. 47, apresenta os seguintes comentários com
relação à pirataria: “A pirataria tornou-se a maior inimiga das patentes, permitindo cópias não
autorizadas de materiais e descobertas já patenteadas, como também, e muito mais grave, o roubo
antes da divulgação destas descobertas. Isto quer dizer que anos de pesquisa podem ser desfeitos
em segundos, caso ocorra a pirataria, sem que houvesse registro da descoberta. Imaginemos uma
indústria farmacêutica detentora de uma fórmula praticamente acabada sobre um certo remédio
e que algum hacker ‘penetra’ nesta empresa e rouba essa fórmula, permitindo a outro laboratório
farmacêutico concluir a pesquisa e patentear o novo medicamento. O resultado prático disso significa
anos de pesquisa em vão para a empresa precursora da descoberta e, além do mais, o prejuízo poderá
chegar a ordem de grandeza de milhões de dólares. Um outro exemplo mais cotidiano refere-se à
pirataria na indústria musical. Para as grandes gravadoras, cópias de músicas protegidas por direitos
autorais, mediante download ilegal, produzem custos superiores a quadro bilhões de dólares por
ano, no mundo”.
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67. “O valor do ativo é igual ao valor presente do fluxo de caixa descontado, oriundo da criação de
lucro pelo ativo ou tecnologia, gerado por maior lucratividade que a média setorial. Determinados
produtos vendidos pelo mesmo preço têm um custo de fabricação inferior à média do setor devido
a um processo moderno de fabricação ou à produtividade da equipe de trabalho. Esta vantagem
competitiva valoriza a empresa, possibilitando maiores lucratividades.” Ana Cristina França Souza.
Op. cit., p. 12
68. “A avaliação global de uma empresa ou negócio reflete todos os ativos neles contido. Por essa
abordagem, o valor do ativo é então o valor presente do fluxo de caixa descontado da empresa ou
linha de negócio, segregados os ativos monetários e tangíveis. Este fluxo é gerado a partir dos dados
disponíveis e projetado em condições compatíveis com a taxa de desconto utilizada”.
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— André Jacques Luciano Uchôa Costa: Professor, eu gostaria de fazer uma per-
gunta ao senhor no seguinte sentido. Quando você fala de Internet e “E-commerce”,
você tem o problema da excludente de caso fortuito e força maior. Quer dizer, eu
posso argumentar que eu não estava contando com isso, que entrou um “cracker”
no meu sistema e por isto eu passei este vírus ou eu tive uma quebra das informa-
ções de meus clientes etc. Só que um dos elementos desta doutrina é a imprevisi-
bilidade e certamente, apesar de talvez você não conseguir deter estes “crackers”,
é previsível que o seu sistema será invadido de alguma maneira. Eu gostaria que
o senhor comentasse estas excludentes, com base nesta previsibilidade, porque na
verdade este é um problema previsível, mas muitas vezes não pode ser evitado.
70. Waldo Augusto Sobrino. As Novas Responsabilidades Legais derivadas da Internet e do Comércio
Eletrônico e os Novos Desafios para o Seguro. Instituto Brasileiro de Direito do Seguro – IBDS. p.
119-148.
71. No Brasil, acredita-se que essa “Teoria de Exner” se assemelhe à questão relacionada ao fortuito
externo e ao fortuito interno, entendendo que apenas o fortuito externo, ou seja, aquele que não guar-
da relação com o negócio desenvolvido tem o condão de excluir o nexo causal e evitar o surgimento
da obrigação de indenizar. Nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, em Programa de Responsabilidade
Civil, 2003, p. 298: “Entende-se por fortuito interno o fato imprevisível e, por isso, inevitável, que
se liga à organização da empresa, que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo
transportador. O estouro de um pneu do ônibus, o incêndio do veículo, o mal súbito do motorista
etc. são exemplos do fortuito interno, por isso que, não obstante acontecimentos imprevisíveis, estão
ligados à organização do negócio explorado pelo transportador. A imprensa noticiou, faz algum
tempo, que o comandante de um Boeing, em pleno voo, sofreu um enfarte fulminante e morreu.
Felizmente, o copiloto assumiu o comando e conseguiu levar o avião são e salvo ao seu destino.
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dos “crackers”, e “hackers”, eu acho que não seria propriamente um caso fortuito
porque não teria agilidade, é muito conhecido. A questão do direito do futuro é
quem assume os riscos, uma grande empresa ou o consumidor? Então, em primeiro
lugar, eu acho que os “crackers” e os “hackers” não podem ser considerados caso
fortuito. Por isso, em princípio, eles têm que ser responsáveis, porque senão o único
responsável seria o consumidor. De outra maneira, existe uma teoria muito sutil
que fala de caso fortuito extraordinário, isto é, que sejam coisas realmente não
conhecidas. Então, por exemplo, se surgir um “cracker” não via computador, mas
via satélite ou algo parecido, como é uma situação absolutamente incomum e não
previsível, aí sim pode ser como cláusula de exclusão de responsabilidade. Nos
outros casos, eu acho que não.
Eis, aí, um típico caso de fortuito interno. O fortuito externo é também fato imprevisível e inevitável,
mas estranho à organização do negócio. É o fato que não guarda nenhuma ligação com a empresa,
como fenômenos da natureza – tempestades, enchentes etc. Duas são, portanto, as características
do fortuito externo: autonomia em relação aos riscos da empresa e inevitabilidade, razão pela qual
alguns autores o denominam força maior (Agostinho Alvim. Op. cit., p. 314-315).”
72. Responsabilidade civil. Contrato de transporte. Fortuito interno. Dano moral. 1. Caracteriza-se o
descumprimento da obrigação do transportador e enseja o dever de indenizar os danos daí decorrentes
quando, em virtude da colisão do ônibus em que era transportado, o passageiro não chega incólume
ao seu destino. 2 O fato do acidente ter ocorrido por culpa de terceiro não ilide a responsabilidade
da apelante, pois trata-se de fortuito interno, ou seja, fato que se relaciona com os riscos da atividade
desenvolvida pelo transportador, que se liga à organização da sociedade empresarial. 3. A indeniza-
ção por dano moral deve representar compensação razoável pelo constrangimento experimentado,
cuja intensidade, aliada a outras circunstâncias peculiares de cada caso, deve ser considerada para
a fixação do seu valor. 4. É devida a constituição do capital, já que é condição de solvabilidade da
dívida, que não se confunde com a inclusão do nome dos beneficiários na folha de pagamento do
apelado. 5. Dá-se parcial provimento ao segundo recurso. Nega-se provimento ao primeiro apelo.
(Ap. Cível 2004.001.13125;, Des. Antonio Saldanha Palheiro; 2ª Câmara Cível; j. 30/06/2004).
73. Ratificando entendimento de que as empresas prestadoras de serviços tecnológicos (provedores de
acesso à internet, hospedagem de sites, criação de páginas [sites], entre outras) não poderão se eximir de
eventuais obrigações indenizatórias com base nas excludentes de caso fortuito e força maior à hipótese
de serem prejudicadas por riscos eletrônicos, convém examinar o posicionamento de Adalberto Simão
Filho, em “Dano ao consumidor por invasão do site ou da rede: inaplicabilidade das excludentes de
191
D IR E I T O D E S E G U R O E R E S S E G U R O ELSEVIER
caso fortuito ou força maior”, publicado em obra coletiva pelo mesmo coordenada em conjunto com
Newton de Lucca, denominada Direito & internet – Aspectos Jurídicos Relevantes, 2000, p. 101-115: “1.
A invocação da excludente de caso fortuito e força maior para fins de não responsabilização daquele
prestador de serviços e/ou fornecedor de bens em ambiente de internet, a nosso ver, não se adapta nem
à natureza jurídica específica do instituto e nem tampouco à visão compartimentada desenvolvida
pela doutrina sobre os elementos que compõem as excludentes. 2. No momento atual de desenvol-
vimento tecnológico, segundo se apura através de notícias e informes de órgãos especializados, não
é possível se obter a certeza absoluta de que a invulnerabilidade de um site ou de uma rede seja fato
concreto. (...) 5. Aqueles que operam sites de serviços e/ou vendas ao consumidor, devem apresentar
no interior do site, informes claros e precisos sobre os aspectos relativos à segurança da operação em
vias de desenvolvimento, de tal forma que o consumidor possa exercitar seu livre arbítrio. 6. Mesmo
com estes cuidados, não se acredita que o fornecedor possa ter eximida totalmente a sua eventual
responsabilidade por prejuízos causados ao consumidor, mas se reflete o cumprimento de normas
que levam ao direito do consumidor ser devidamente informado dos riscos a que está exposto como
menciona o art. 31 do Código de Defesa do Consumidor, fato que poderá também ser objeto de
exame pelo Poder Judiciário por ocasião de um julgamento de caso desta natureza.”
74. Demócrito Reinaldo Filho, em artigo denominado “Responsabilidade do Provedor (de Acesso
à Internet) por Mensagens Difamatórias Transmitidas pelos Usuários”, disponível em <www.inter-
netlegal.com.br/artigos>, acesso em novembro de 2004, comenta: “Em sua primeira manifestação
sobre a questão da responsabilidade dos provedores pelo conteúdo das mensagens que trafegam em
seus sistemas, a Corte de Apelações do Estado de Nova York (New York State Court of Appeals)
adotou uma decisão que certamente vai servir de precedente para casos futuros. Na decisão, tomada
pouco antes do final do ano passado (02/12/99), a Corte reconheceu o provedor de acesso à Internet
como um mero conduto para o tráfego da informação, em situação equivalente à da companhia
telefônica quando ocorre transmissão de mensagens difamatórias por meio de suas linhas. O Juiz
Albert M. Rosenblatt, relator do caso (Lunney vs. Prodigy Services, nº 164), asseverou que não se
pode compelir o provedor a examinar milhões de e-mails em busca de mensagens difamatórias.
Descrevendo o e-mail como uma evolução híbrida da tradicional linha de telefone com o sistema
regular de correio, enfatizou que na transmissão de mensagens eletrônicas o provedor comercial não
exercita controle editorial, e que, portanto, não pode vir a ser responsabilizado como se editor fosse
de potenciais mensagens difamatórias.”
75. Demócrito Reinaldo Filho, em excelente artigo denominado “A responsabilidade do proprietário
de Site que utiliza ‘Fóruns de Discussão’ – Decisão da Corte Argentina”, disponível em <www.
internetlegal.com.br/artigos>, tece comentários a respeito do ineditismo dessa decisão no âmbito
da jurisprudência latino-americana, antevendo na mesma a orientação que deverá ser seguida em
questões semelhantes que, futuramente, virão a julgamento.
192
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Há dois anos, hackers invadiram o site da Caixa Seguros, que é “parceira da Caixa
Econômica Federal e oferece serviços como seguro de vida, residência e automóvel,
tanto para os clientes com para pessoas que não possuem ligação com a CEF. Em
seu site, também há informações sobre previdência e planos de capitalização”.
Aconteceu que “membros do grupo Anti Security Hackers conseguiram, em um
servidor da empresa, centenas de informações de clientes, como nomes, endereços,
CPF, grau de escolaridade, profissão, telefones comerciais e endereço de e-mail”.
Na época, a empresa afirmou ter tomado medidas para evitar a repetição do fato.
4. Considerações finais
De maneira objetiva, pretendeu-se demonstrar ao longo deste trabalho que
os riscos eletrônicos vêm cada vez mais despertando a atenção da sociedade,
em virtude de seu ineditismo e, sobretudo, em razão das severas perdas pelos
mesmos provocadas.
Na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, as coberturas são disponibili-
zadas de maneira regular, havendo, inclusive, concorrência entre as seguradoras
locais, algumas oferecendo coberturas mais amplas e em melhores condições
do que as outras.
Através de notícias colhidas em jornais brasileiros, também restou demons-
trado que aqui no Brasil as perdas provocadas pela ação de hackers, pela dissemi-
nação de vírus na internet, entre outros males, já causam prejuízos de naturezas
diversas ao empresariado local, o que justifica a relevância deste trabalho.
No que se refere às coberturas propriamente ditas, foram trazidos comentários
com relação ao conteúdo dos sites, aos serviços profissionalmente prestados por
intermédio da internet (de cunho tecnológico e não tecnológico), à segurança nas
operações realizadas através da web, envolvendo riscos para o próprio segurado
(first party risk) e riscos para terceiros (third party risk), à extorsão praticada no
âmbito da internet e, por fim, à cobertura destinada aos riscos à imagem do
segurado – reputation risk.
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Foram, ainda, observadas algumas hipóteses de exclusão dos riscos, entre atos
praticados por empregados, furto de informações confidenciais de consumidores,
danos punitivos, território e às perdas ocorridas por acesso não autorizado a
informações confidenciais.
Com relação à franquia, foram observadas a participação obrigatória mínima
em dinheiro do segurado, assim como a carência – waiting period -, na qual
o segurado deverá arcar, por si, com as perdas ocorridas, somente ocorrendo a
responsabilização do segurador a partir do momento em que se esgote a carência
(prazo) contratualmente ajustada.
Observaram-se, também, algumas obrigações de ambas as partes, traduzidas
na necessidade de que pelo segurado, tão logo tome conhecimento a respeito
de eventos que possam se materializar em sinistros, estabeleça imediata comu-
nicação ao segurador, sob pena de sofrerem a perda da garantia securitária, na
possibilidade e conveniência de que se estabeleçam meios alternativos para a
solução de conflitos – arbitragem, na avaliação de intangíveis, sugerindo-se o
estabelecimento de critério mais claro e seguro do que o adotado na apólice
americana e quanto à rescisão e à resolução do contrato.
Por fim, sob o campo da responsabilidade civil, demonstrou-se que a vulne-
rabilidade em matéria de riscos de natureza eletrônica é inerente a todos aqueles
que militam pela internet, desde as empresas mais sofisticadas em matéria de
segurança e gerenciamento de riscos (instituições financeiras, seguradoras,
entre outras), até usuários domésticos, que pelo simples encaminhamento de
uma mensagem infectada podem sofrer as consequências de sua responsabi-
lização civil.
Referências
Documentos jurídicos e notícias
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 227 – “A Pessoa jurídica pode sofrer
dano moral”.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 302 – “É abusiva a cláusula contratual
de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”.
JURISPRUDÊNCIA: Ação cautelar inominada. Liminar. Contrafação de produto vendido
através da internet. Mesmo que a propriedade da marca não lhe pertença, porque ainda
não deferido o registro, ao depositante do pedido é assegurado o direito de zelar pela
sua integridade material ou reputação. Art. 130 da Lei nº 9.279/96. Caso em que o
produto, objeto de contrafação, era comercializado em site na internet, sob a denomi-
nação de réplica do original, fabricado pela agravada. Suspensão da atividade. Requisitos
cautelares demonstrados. Legitimidade passiva da proprietária do domínio eletrônico.
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Agravo desprovido. (TJ/RS – Ag. Instrumento nº 70006298582; Rel. Des. Leo Lima; 5ª
Câmara Cível; j. 25/09/2003).
JURISPRUDÊNCIA: Apelação cível. Contrato de transporte. Dano moral: valor. Na espécie,
a reparação se afasta da ilação de fonte de lucro, face seu caráter punitivo-pedagógico,
desestímulo à reincidência. Contrato de transporte. Passageira que embarca em ônibus
e sofre lesões em seu interior, por negligência e imperícia do condutor do veículo, sofre
dano moral, a ser indenizado. Apelo parcialmente provido. (Ap. Cível, 2004.001.00796;
Des. Ronaldo Rocha Passos; 3ª Câmara Cível; j. 04/05/2004). Grifou-se.
JURISPRUDÊNCIA: Responsabilidade civil. Contrato de transporte. Fortuito interno.
Dano moral. 1. Caracteriza-se o descumprimento da obrigação do transportador e
enseja o dever de indenizar os danos daí decorrentes quando, em virtude da colisão do
ônibus em que era transportado, o passageiro não chega incólume ao seu destino. 2.
O fato do acidente ter ocorrido por culpa de terceiro não ilide a responsabilidade da
apelante, pois trata-se de fortuito interno, ou seja, fato que se relaciona com os riscos
da atividade desenvolvida pelo transportador, que se liga à organização da sociedade
empresarial. 3. A indenização por dano moral deve representar compensação razoável
pelo constrangimento experimentado, cuja intensidade, aliada a outras circunstân-
cias peculiares de cada caso, deve ser considerada para a fixação do seu valor. 4. É
devida a constituição do capital, já que é condição de solvabilidade da dívida, que
não se confunde com a inclusão do nome dos beneficiários na folha de pagamento
do apelado. 5. Dá-se parcial provimento ao segundo recurso. Nega-se provimento
ao primeiro apelo. (Ap. Cível 2004.001.13125; Des. Antonio Saldanha Palheiro; 2ª
Câmara Cível; j. 30/06/2004).
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