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AO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DO FORO DA COMARCA DE

GOIÂNIA/GO.

Processo nº. 9999-2023

JOSÉ DA SILVA, já qualificado nos autos, por meio de seu advogado


que a esta subscreve, vem, perante Vossa Excelência, inconformado com a
sentença de fls. (…), interpor o presente:

RECURSO DE APELAÇÃO

De modo que este, com suas razões anexas, sejam encaminhadas ao


egrégio Tribunal de Justiça de Goiás para a devida apreciação.

Informa, ainda, que o Recorrente litiga sob a gratuidade da justiça.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Goiânia, 29 de novembro de 2023.

ADVOGADO
OAB/GO

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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DE GOIÁS

Processo nº. 9999-2023

Apelante: JOSÉ DA SILVA


Apelado: JOÃO DE SOUZA

Origem: 1ª Vara Cível da Comarca de Goiânia/GO.

RAZÕES RECURSAIS DE APELAÇÃO

Respeitáveis julgadores,

I. RELATÓRIO

JOSÉ DA SILVA, outrora qualificado, ajuizou ação cível contra JOÃO DE


SOUZA, pleiteando, em breve síntese, a reparação por danos patrimoniais e
morais em razão da omissão do Apelado.
Isso porque, em janeiro de 2015, o Apelante, retornando do trabalho de
jovem aprendiz em direção à sua residência, em uma estrada vicinal, foi
atingido pelo coice de uma mula de propriedade do Apelado, sofrendo, por
consequência, graves danos à saúde. Para sanar tais problemas de saúde, o
tratamento revelou-se longo e custoso, causando ao Apelante consideráveis
prejuízos patrimoniais e morais, conforme petição inicial, que superam, em
muito, o mero dissabor do cotidiano.
Recebida e autuada a peça inaugural, procedeu-se à citação do
Apelado, que apresentou contestou, seguindo-se a impugnação e o
saneamento do processo. Finalmente, após realizada audiência de instrução e
julgamento e prolatada a sentença, com publicação no dia 03/07/2023, a
demanda que justificou a provocação do juízo de primeiro grau foi julgada
improcedente.
Argumentou o juízo singular pela ausência de culpa latu senso do
Apelado, fundamentando que este “empregara o devido cuidado, por manter a

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mula amarrada a uma árvore (…), evidenciando-se desde logo a ausência de
culpa, por se tratar de zona rural onde é comum a existência de animais de
grande porte”. Logo, restaria afastada, em teoria, a responsabilidade civil do
apelado e, consequentemente, restaria afastado o dever de indenizar.
Acrescentou o juízo de primeiro grau, como fundamento adicional para a
justificar a improcedência do pedido, que teria ocorrido a prescrição trienal da
presente ação de reparação, seja para os danos morais ou materiais, pois a
lesão ao apelante ocorrera no ano de 2015 e a ação somente foi proposta no
ano de 2019.
Inconformado, vem o Apelante, por seu representante que a esta
subscreve, apresentar recurso de apelação, próprio e tempestivo, cumprindo
todos os requisitos de admissibilidade, pleiteando a reforma da decisão de
primeira instância, pelas razões de fato e de direito que passará a expor em
breves linhas subsequentes.

II. DO DIREITO

A) DO AFASTAMENTO DA PRESCRIÇÃO TRIENAL

No exercício de seu juízo de cognição, deliberou o douto magistrado de


1º grau pela ocorrência da prescrição trienal, prevista no Código Civil de
2002, em seu art. 206, §3º, V, o qual prevê a prescrição, no prazo de 3 (três)
anos, a contar da data da lesão ao direito, da pretensão para a reparação civil
do ilícito, salientando o nobre julgador haver decorrido o referido prazo até o
ajuizamento da ação, em 2019.
Todavia, equivoca-se o magistrado ao desconsiderar a regra de
interrupção do curso prescricional insculpida também no diploma civil.
A despeito da prescrição para pretender a reparação pelo ilícito sofrido
ocorrer em 3 (três) anos (vide Código Civil, art. 206, § 3º, V), é evidente que
não começa a fluir o prazo prescricional enquanto não cessar a causa
impeditiva vivenciada pelo Apelado, qual seja, a incapacidade absoluta.
Com efeito, o apelante era, ao tempo dos fatos, menor de 16 (dezesseis)
anos, pois contava com 14 anos. Portanto, relativamente incapaz de exercer
pessoalmente os atos da vida civil, na forma da lei (CC, art. 3º). Portanto, não

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fluiria contra ele, à época, a prescrição, enquanto durou a incapacidade (CC,
art. 198, I), fato este desconsiderado na sentença prolatada em instância
originária.

A propósito, já decidiu o Tribunal de Justiça de Goiás:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO


(…) Não corre prescrição contra o absolutamente incapaz, menor de
16 anos (CC/02, art. 169, I, e art. 3º) (TJGO – proc.
1.0710.06.012618-6/001, Rel. Des. Renato Dresch, DJ de
19/07/2016)”.

B) DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO APELADO QUANTO AO


DANO

Ainda na atividade judicante, no mérito, indeferiu o juízo de piso a


demanda argumentando que o Apelado, proprietário do animal causador das
graves lesões à saúde do Apelante, “empregou o cuidado devido, pois
mantinha a mula amarrada a uma árvore, evidenciando-se a ausência de
culpa.”
Incontroverso são os seguintes fatos: (i) o Apelante teria sofrido, de fato,
prejuízo patrimonial e moral por ter sido atingido por um coice desferido por um
animal de grande porte; (ii) o apelado o proprietário do referido animal, pois tais
fatos não foram objeto de recurso do Apelado – operou-se, portanto, quanto a
esses fatos, coisa julgada material.
Demonstraremos, por outro lado, o erro do magistrado de primeiro grau
em desconsiderar a responsabilidade civil do apelado pelo dano causado por
sua mula à vítima.
Com efeito, o principal diploma legislativo civil vigente no ordenamento
jurídico pátrio preleciona que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito” (CC, art. 186) – trata-se do dever
reparar o ato ilícito.
Acerca do tema, sabe-se que a responsabilidade civil se subdivide em
subjetiva e objetiva, conforme assevera Carlos Roberto Gonçalves:

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“Diz-se (…) ser ‘subjetiva” a responsabilidade quanto se esteia na
ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto
necessário do dano indenizável. Nessa concepção, a
responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu
com dolo ou culpa. (…) A lei impõe, entretanto, a certas pessoas, em
determinadas situações, a reparação de um dano
independentemente de culpa. Quando isto acontece, diz-se que
a responsabilidade é legal ou ‘objetiva”, porque prescinde da
culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade. Esta
teoria, dita objetiva, ou do risco, tem como postulado que todo dano é
indenizável, e deve ser reparado por quem a ele se liga por um nexo
de causalidade, independentemente de culpa”.

Sabe-se, também, que a obrigação de indenizar não decorre apenas do


dolo, mas também da culpa do agente causador do ilícito, segundo a doutrina:

“A teoria subjetiva desce a várias distinções sobre a natureza e


extensão da culpa. Culpa lata ou ‘grave” é a falta imprópria ao comum
dos homens, é a modalidade que mais se avizinha do dolo. Culpa
‘leve’ é a falta evitável com atenção ordinária. Culpa “levíssima” é a
falta só evitável com atenção extraordinária, com especial habilidade
ou conhecimento singular. (…) A culpa pode ser, ainda, in elegendo:
decorre da má escolha do representante, do preposto; in vigilando:
decorre da ausência de fiscalização; in committendo: decorre de uma
ação, de um ato positivo; in ommittendo: decorre de uma omissão,
quando havia o dever de não se abster; in custodiendo: decorre
da falta de cuidados na guarda de algum animal ou de algum
objeto”.

Não obstante, é evidente que a responsabilidade do dono ou detentor de


animal é objetiva, bastando, para tanto, a comprovação do dano e da relação
de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e o ato do animal, conforme
ensinamento de Carlos Roberto Gonçalves:

“O art. 936 do Código Civil estabelece a presunção juris tantum de


responsabilidade do dono do animal, nestes termos: ‘Art. 936. O
dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se
não provar culpa da vítima ou força maior”. A responsabilidade do
dono do animal é, portanto, objetiva. Basta que a vítima prove o dano
e a relação de causalidade entre o dano por ela sofrido e o ato do
animal”.

No mesmo sentido é a intelecção de Fábio Ulhoa Coelho:

“Danos causados por animal. O dono ou o detentor do animal


responde objetivamente pelos danos por ele causados (CC, art. 936)
(…). Como é objetiva a responsabilidade, não interessa se o dono
teve ou não culpa, se mantinha ou não o bicho sob devida vigilância e

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guarda, se o educara convenientemente ou não. Basta, para sua
responsabilização, que o animal tenha causado dano a outrem”.

É incontroverso nos autos a materialidade do dano; que foi causado pela


mula do Apelado e que tal dano resultou em lesões físicas e prejuízos
patrimoniais e morais ao Apelante.
Em não havendo comprovação de que o Apelante teria dado causa ao
dano nem tampouco a incidência de força maior, impõe-se o reconhecimento
da responsabilidade civil do apelado.

Nesse sentido, já decidiu o Tribunal de Justiça de Goiás:

“AÇÃO DE REPARAÇÃO – CAVALO- COICE- DANOS MORAIS E


MATERIAIS – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO DONO DO
ANIMAL (…) O art. 936, do Código Civil, estabelece a presunção juris
tantum de responsabilidade do dono do animal, pelos danos
causados por este (…) (TJGO – proc. 1.0024.12.331497-3/001, Rel.
Des. Roberto Vasconcellos, DJ de 16/02/2016).

III. CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer o Apelante:

a) O conhecimento e provimento do recurso para reformar a decisão


originária;
b) A condenação do Apelado ao pagamento de indenização por danos
materiais e morais;
c) O atendimento aos demais pedidos constantes em exordial.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Goiânia, 29 de novembro de 2023.


ADVOGADO
OAB/GO

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