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EXMO. SR.

JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE GUARULHOS/SP

BANCO ITAÚ S.A., inscrito no CNPJ


60.701.190/0001-04, por sua advogada que esta subscreve (doc. anexo), nos autos
da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, pelo rito ORDINÁRIO que lhe
move ELIOENAI ALVES DA SILVA (processo nº 751/03), oferece sua

CONTESTAÇÃO

consubstanciada nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I – DA TEMPESTIVIDADE

O mandado de citação do réu foi juntado aos autos


em 16/04/2003 (4ª feira). Pelos termos do artigo 184, caput e 241, I e II, do CPC,
a contagem do início do prazo para protocolização da defesa iniciar-se-ia dia
17/07/2003 (5ª feira).
2

Todavia, no Estado de São Paulo, foi promulgada a


Portaria nº 6.473/2003 (de 20/03/2003), informando que não haveria expediente
nos dias 17, 18 e 21 de abril de 2003, respectivamente Endoenças, Sexta-feira da
Paixão.

Destarte, de conformidade com o artigo 173,


parágrafo único, a contagem do prazo só se iniciou no 1º dia útil subseqüente ao
feriado, ou seja, deflagrou em 22 de abril de 2003 (2ª feira).

É certo, assim, que o prazo fatal para apresentação


da defesa do contestante esgota-se em 06/05/2003 (3ª feira), sendo esta peça,
portanto, sido protocolada tempestivamente.

II. - DO OBJETO DA AÇÃO

Trata-se de demanda proposta pela autora com o


objetivo de obter indenização por dano moral em virtude de ter sido barrada pelo
sistema de travamento automático da porta giratória de entrada da Agência 0046-
Guarulhos/SP, no dia 15/06/2001, por diversas oportunidades. Sustenta ter sido
alvo de discriminação racial, por ser de etnia negra, passando por humilhação
diante de inúmeras pessoas que se encontravam na agência.

Pleiteia indenização por dano moral, no valor de


1.000 (um mil) salários mínimos, atuais R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil
reais), pelos danos experimentados.

No entanto, consoante restará demonstrado, a


ação não pode prosperar.

III. – PRELIMINARMENTE

1. – DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE DA EMPRESA


DE SEGURANÇA PROTEGE PROTEÇÃO E
TRANSPORTE DE VALORES S/C LTDA.
3

Impõe-se seja denunciada à lide a empresa


PROTEGE PROTEÇÃO E TRANSPORTE DE VALORES S/C LTDA. (sediada na
Rua Pereira Cardoso, 115, Morungaba/SP), com fundamento no artigo 70, III, do CPC,
já que a esta pertencia e pertence e a responsabilidade pela segurança no interior
da agência bancária em questão (doc. anexo).

O contrato firmado entre o contestante e a


empresa de segurança é claro ao proferir que “a CONTRATADA responsabilizar-se-á
pelos danos materiais e pelos prejuízos causados ao contratante, seja por omissão,
negligência, imprudência, imperícia, despreparo ou conivência de seus funcionários
ou prepostos após apuração dos fatos.” – item 2, do anexo I – Condições Gerais.

Assim, o fornecimento de serviço de segurança é


prestado por empresa contratada. Não pode ser imputada ao contestante,
isoladamente, responsabilidade por ato cometido por empregado de terceiro.

A relação mantida entre o contestante e a empresa


PROTEGE PROTEÇÃO E TRANSPORTE DE VALORES é contratual, não havendo
relação alguma com eventual responsabilização apenas do BANCO ITAÚ S.A.

A firma PROTEGE é a responsável pela contratação


e treinamento dos vigilantes sendo, assim, a competente para responder sobre a
conduta de seus subordinados, consoante reza o artigo 932, III, do novo Código
Civil (ou art. 1521, III, do antigo Código Civil).

Não menos importante, é de se salientar que o


contestante retribui monetariamente a firma contratada. Ou seja, o contrato
firmado com a empresa Protege prevê a contraprestação pelo serviço de segurança
prestado.

Assim, sobrevindo eventual procedência da ação,


inequívoco é o direito do Banco Itaú S.A. de se voltar contra a Protege para
reclamar o que vier a despender nos autos.

E o exercício desse direito de regresso, saliente-se,


é perfeitamente cabível, via denunciação da lide:

“A parte que enceta a denunciação da lide, o


denunciante, ou tem um direito que deve ser garantido
4

pelo denunciado-transmitente ou é titular de


eventual ação regressiva em face do terceiro,
1
porque demanda em virtude de ato deste.”

Ademais, cabe a denunciação da lide ”sempre que,


em face das relações de direito material entre as partes envolvidas, ocorrer a
possibilidade de decisões contraditórias, na demanda principal e na demanda
regressiva, se o terceiro não ficar vinculado à primeira sentença” (Milton Flaks,
Denunciação da Lide, p. 171).

No caso em tela, há essa eventualidade, pois em


ambas as lides – principal e regressiva – a decisão apreciará o envolvimento e a
legalidade dos atos praticados pela denunciada.

Pelo exposto, requer o deferimento da denunciação


e a intimação da empresa denunciada à lide para, querendo, apresentar
contestação nos termos do artigo 75, I, do Código de Processo Civil.

IV. - DO MÉRITO

1. - DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS À


OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR

Conhecidos são os elementos para que um ato


gere responsabilidade civil.

De início, a pretensão indenizatória pressupõe,


necessariamente, uma ação ou omissão ilícita, em regra, culposa, daquele que se
aponta como ofensor.

Além disso, mister comprovar-se a ocorrência de


um dano efetivo e o nexo causal entre esse dano e a conduta do agente.

Ausente um dos pressupostos não há que se falar


em obrigação de indenizar.

1 Luiz Fux, Intervenção de Terceiros, p. 31 - grifamos


5

1.1. - DA INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO


IMPUTÁVEL AO RÉU.

A responsabilidade civil, no direito brasileiro,


norteia-se pelo princípio da culpa, cuja noção tem fundamental importância na
caracterização do ato ilícito e sua responsabilização.

Daí resulta que não basta a prática do ato (ou a


omissão); é necessário que tal prática esteja revestida de ilicitude.

Importante, neste particular, a lição de Pontes de


Miranda2, segundo a qual, “para que a indenização se haja de dar sem ter
havido agente culpável, é preciso que se tire do texto legal”. E
complementa (página 85) “que o simples cometimento de dano patrimonial
em bem de outrem não torna, de regra, responsável pelo dano, a pessoa
que o causou; pois é preciso existir determinado fundamento pessoal da
parte do autor, que justifique o ressarcimento.”

Na espécie, não houve qualquer ato ilícito


imputável ao réu, o que, efetivamente, impede o acolhimento da pretensão
indenizatória.

Definitivamente, o fato de o episódio em questão


ter ocorrido no interior da agência do réu, por si só, não implica responsabilidade
objetiva de sua parte de reparar os danos alegados. Inexiste amparo legal a
embasar entendimento nesse sentido.

No sistema legal brasileiro, o princípio geral da


responsabilidade civil está fundado na culpa lato sensu, vale dizer, em erro de
conduta ou ofensa a uma regra determinada (art. 186 do novo ou art. 159 do
antigo Código Civil). A responsabilidade sem culpa só existe quando expressamente
prevista em lei, hipótese não corrente nos autos.

No lamentável episódio, é de se destacar que não


houve violação de qualquer norma legal por parte do réu. Tanto os seus
funcionários/gerentes quanto os vigilantes envolvidos não agiram, em hipótese
alguma, culposamente.

2Tratado de Direito Privado - volume 53/82


6

A. - DO FUNCIONAMENTO DA PORTA
GIRATÓRIA

Inicialmente, cumpre esclarecer o funcionamento


da aludida porta de segurança e o procedimento que os administradores das
agências e os vigilantes devem observar em caso de travamento automático da
porta giratória.

Essas portas mantêm dispositivo de segurança que


bloqueia seu sistema de funcionamento quando detecta a existência de algum
metal portado por quem esteja, no momento, utilizando o acesso.

Dessa forma, se o funcionamento da porta for


bloqueado, o vigilante da agência, do lado de dentro, indaga ao usuário se ele está
portando algum metal e, caso positivo, que o(s) exiba ou o deposite em
compartimento apropriado imune a esse dispositivo, visível ao vigilante e hoje já
existente em quase todas as lojas bancárias.

Exibido o documento metálico e/ou feito o


depósito, o funcionamento da porta é desbloqueado e o usuário adentra sem
problemas na agência.

Persistindo o bloqueio, o vigilante deve indagar ao


usuário se está ele portando na roupa algum metal. Diante de uma resposta
positiva, o usuário decide pela sua exibição, ou pelo depósito no citado
compartimento ou no retorno posterior à agência, quando se desfizer daquele
impeditivo.

De se frisar que, ainda que fosse da vontade do


vigilante travar a porta giratória para algum cliente, isto seria impossível. A ele só é
permitido destravar a porta, jamais travá-la. Portanto, afastada qualquer tipo de
alegação de racismo ante o travamento automático da porta.

B. - DA NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO DE
PORTA GIRATÓRIA
7

Hodiernamente, como é sabido por toda a


população, instalou-se na sociedade um clima de insegurança exacerbada. O
convívio social atual está eivado do sentimento de pavor por parte dos cidadãos
honestos e trabalhadores, ocasionado pela ação desenfreada de meliantes, que
atacam em plena luz do dia, vitimando, muitas vezes fatalmente, aqueles que
ganham a vida com o suor de sua labuta.

No sistema bancário, a situação não apresenta


nenhuma atenuante. Dia após dia, as pessoas se deparam com o noticiário, tanto
escrito como televisivo, descrevendo as mais horrendas ocorrências em roubos a
bancos, os quais trazem não só amargos prejuízos às Instituições Financeiras,
como também gravosos riscos à integridade física de seus funcionários e clientes.

Dessa forma, com o objetivo de dificultar ações


criminosas, protegendo o patrimônio particular e a vida de funcionários e clientes, o
Banco Itaú S.A. viu-se impingido a desenvolver planos austeros de segurança em
suas agências. Uma das medidas adotadas foi a instalação de portas giratórias -
equipamentos opcionais notoriamente eficazes e, por isso, oficialmente
reconhecidos - que se travam automaticamente quando alguém tenta adentrar em
um estabelecimento bancário portando uma grande massa metálica entre seus
pertences, a qual poderia ser uma arma de fogo portada com finalidades espúrias.

De se mencionar que, em algumas cidades, a


instalação de porta de segurança é obrigatória, através de leis municipais que
determinam às instituições financeiras a instalação destas, sob pena de imposição
de pesadas multas e até de interdição do estabelecimento.

O procedimento de averiguação adotado pela


segurança das agências não tem o escopo de constranger os clientes, nem
tampouco as autoridades, mas tão somente a intenção de proteger os primeiros
dos percalços e das fatalidades que podem ser gerados por um assalto e ajudar os
segundos no combate ao crime organizado.

Observe-se que os acontecimentos têm-se dado de


forma tão caótica, que se tornaram freqüentes os saqueios das agências bancárias
até por indivíduos fardados como policiais militares, pois é comum, atualmente, a
compra indiscriminada da roupagem oficial das instituições policiais por qualquer
pessoa que assim desejar.
8

Aliás, a necessidade de até mesmo os policiais civis


e militares apresentarem a sua carteira funcional, quando do travamento
automático da porta giratória, já foi determinada pela Polícia Militar do Estado de
São Paulo, bem como pela Secretaria de Segurança Pública.

Assim sendo, não há falar-se em discriminação


(quer seja por raça, religião ou classe social), violação de direitos ou abuso de
autoridade por parte dos seguranças, quando do travamento automático da porta
giratória, já que não existiu a vontade livre e consciente de constranger ninguém e
sim apenas a aplicação de normas de segurança - devidamente regulamentadas,
como se verá a seguir - que visam a proteger os clientes e funcionários das
agências, resguardar o numerário das Instituições Financeiras e auxiliar a Polícia e
a Justiça no combate e na prevenção dos roubos a Bancos - delitos violentíssimos
que vêm pressionando e amedrontando a sociedade.

C. - DA LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO DE
AVERIGUAÇÃO

O próprio legislador federal lançou mão de leis


reguladoras do sistema de segurança bancária.

O principal diploma legislativo a respeito da matéria


é a Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, que foi atualizada, devido à premência
dos acontecimentos, pelas Leis nº 8.863, de 29 de março de 1994, e 9.017, de 30
de março de 1995.

O artigo 1º da norma mencionada dispõe que:

“É vedado o funcionamento de qualquer


estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores
ou movimentação de numerário, que não possua
sistema de segurança com parecer favorável à sua
aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na
forma desta Lei.”

Indo adiante, o art. 2º da referida lei determina


cabalmente:
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“O sistema de segurança referido no artigo anterior


inclui pessoas adequadamente preparadas, assim
chamadas vigilantes; alarme capaz de permitir, com
segurança, comunicação entre o estabelecimento
financeiro e outra empresa da mesma instituição,
empresa de vigilância ou órgão policial mais próximo e,
pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos:
I- equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens
que possibilitem a identificação dos assaltantes;
II- artefatos que retardem a ação dos criminosos,
permitindo sua perseguição, identificação ou captura
e
III- cabina blindada com permanência ininterrupta
de vigilante durante o expediente para o público e
enquanto houver movimentação de numerário no
interior do estabelecimento.”

Regulamentando a Lei nº 7.102/83, o Decreto nº


89.056, de 24 de novembro de 1983, que, também em decorrência das pressões
exercidas pelas contínuas ações delituosas dos ladrões de banco, foi atualizado
pelo Decreto nº 1.592, de 10 de agosto de 1995.

O artigo 5º do Decreto acima mencionado


determina que:

“Vigilância ostensiva, para os efeitos deste


Regulamento, consiste em atividade exercida no interior
dos estabelecimentos e em transporte de valores, por
pessoas uniformizadas e adequadamente preparadas
para impedir ou inibir ação criminosa” (grifos do
contestante).

Dessa forma, pode-se depreender que os sistemas


de segurança instalados pelo Banco Itaú S.A., além de servirem aos propósitos de
dar maior proteção aos clientes, aos funcionários e ao numerário das agências,
prestam-se também para cumprir determinações legais, oriundas de legislação
federal, a qual, se não observada, vedaria o funcionamento dos estabelecimentos
bancários.
10

De acordo com esses preceitos, o artigo 1º da Lei


7.102, acima transcrito, é claro quando proíbe o funcionamento de
estabelecimentos bancários sem o sistema de segurança em consonância com o
entendimento do Ministério da justiça. Aliás, devido ao assoberbamento dos
trabalhos na Polícia Federal, ainda não foi possível levarem-se a efeito as
necessárias fiscalizações em todos os estabelecimentos bancários do País. Contudo,
nas agências fiscalizadas, o sistema de segurança composto de porta giratória com
travamento automático foi aprovado.

No que se refere à atuação dos vigilantes de


agências, são-lhes concedidos, por legislação federal, prerrogativas e deveres que
viabilizam a tentativa de manter a ordem interna e a segurança dos
estabelecimentos bancários, sendo que, nesses termos, cabem-lhes a incumbência
da perquirição do porquê a porta giratória travou automaticamente, já que, é
importante repisar, pode ter sido em decorrência da tentativa de algum meliante
adentrar na agência portando arma de fogo, com a intenção de roubar e a
assunção dos riscos de matar para consolidar o seu intento.

Nesse sentido, o reconhecimento oficial, pela


Polícia Federal, da porta giratória de segurança como item opcional eficaz para
prevenção de assaltos nas agências bancárias, está lastreado exatamente na
necessidade de controlar a entrada do público cliente ou usuário e de impedir o
acesso à agência aos criminosos.

Assim sendo, verifica-se que as ações


desenvolvidas pelos seguranças no episódio narrado estão em conformidade com a
Lei e Decretos Federais, que cuidam de regulamentar a proteção do sistema
financeiro nacional, limitando os riscos de roubos e de danos às pessoas que se
utilizam de seus serviços.

Destarte, tem-se que não houve abuso, em


nenhuma de sua modalidades, pois em momento algum a autora foi ameaçado em
sua integridade física ou moral, nem tampouco ficou constrito na porta de
segurança, já que o equipamento permanece aberto, para a volta do indivíduo
impedido de entrar pelo travamento automático da porta.

É importante ressaltar, mais uma vez: não houve


dolo, nem conduta tendente a constrangimento, mas sim apenas o
11

controle de fluxo de entrada da agência. Agiram os envolvidos com o único


intuito de preservar a segurança na agência bancária, sem qualquer intenção de
discriminar ou ofender a autora.

D. - DOS FATOS EM SUA REAL DIMENSÃO

A autora sustenta que, por diversas vezes


seguidas, em 15/06/2001, teria sido impedido de entrar na agência localizada na
Rua Capitão Gabriel, 232, nesta Comarca, em decorrência do travamento da porta
de segurança, muito embora tivesse despojado-se de todos os objetos de metal
que trazia consigo.

Alega, ainda, estar convencida de que a cor de sua


pele teria contribuído para a atitude do vigilante, nitidamente preconceituosa, em
seu entender.

Não houve, absolutamente, nesse episódio, prática


de ato discriminatório ou qualquer outro ilícito por parte dos funcionários do
contestante. Em nenhum momento estes dirigiram qualquer palavra ofensiva à
autora, nem tampouco a agrediram física ou moralmente.

Na realidade, o que se constata é que o fato


ocorrido com a autora – travamento da porta giratória quando de sua passagem –
acontece todos os dias, com uma gama enorme de clientes e usuários das agências
bancárias do réu, sem que, com isso, caracterize-se o preconceito racial delineado
na inicial.

Nesse momento, importa ressaltar que a filosofia


de trabalho do réu não permite atos de discriminação (quer seja por raça, religião
ou classe social); ao contrário, o réu sempre primou pela seriedade e
respeitabilidade no trato com os seus usuários, transmitindo tal filosofia, por óbvio,
aos seus funcionários. E nem poderia ser diferente, já que o réu conta, em seus
quadros, com inúmeras pessoas de etnia negra.

O que se verifica, após a narração dos fatos, é


exatamente a adoção de comportamento, por parte dos funcionários e vigilantes,
estritamente dentro dos parâmetros normais, em cumprimento do dever legal.
12

Verifica-se, assim, que nenhum ilícito perpetrou o


réu.

Importa mencionar decisão do Terceiro Colégio


Recursal dos Juizados Especiais Cíveis da Capital do Estado de São Paulo, no
julgamento do Recurso nº 62, em 02/02/1999, em que era recorrente o ora
contestante e recorrido Benedito José dos Santos, proferida em processo análogo a
este, cuja ementa é a seguinte:

“Cliente de Banco que fica retido em porta automática


de entrada dotada de dispositivo detector de metais.
Não comprovação de que o travamento da porta se deu
por iniciativa do funcionário encarregado da segurança.
Indenização por danos morais indevida. Provimento do
recurso para esse fim.”

E, no corpo do acórdão, o Juiz Macedo Leme,


atuando como relator, bem explicita:

“Ninguém, na verdade, se alegra em ser barrado na


porta de estabelecimentos bancários, mas compreende-
se a existência dela. O fator único desencadeante do
travamento, que é automático, é a existência de objeto
de metal em poder do cliente, não se podendo cogitar
de nenhum preconceito resultante de raça ou cor, (...),
até porque, como observou o recorrente em sua
contestação, conta em seu quadro funcional com
inúmeras pessoas de etnia negra (fl. 26). Aliás, é
comum avistar-se pessoas dos mais variados matizes no
interior de agências bancárias, o que significa que
transpuseram a porta de segurança porque não
portavam ou desapossaram-se momentaneamente de
seus pertences de metal.”

Não havendo a configuração de qualquer ato ilícito


por parte do réu, despiciendo cogitar-se sobre o elemento culpa. Só por isso é de
rigor julgar-se improcedente o feito.

1.2. - DA AUSÊNCIA DE NEXO DE


CAUSALIDADE
13

Das considerações formuladas abstrai-se que, se


não há ilícito imputável ao réu, os eventuais danos reclamados não podem ter
como causa sua esfera de ação.

De fato, como observa ORLANDO GOMES:

“Indispensável é a conexão causal. Se o dano provém


de outra circunstância, ainda que pela atitude culposa
do agente tivesse que ocorrer, este não se torna
responsável, uma vez que não há a relação de causa e
efeito. Não basta, com efeito, que o dano pudesse
sobrevir por efeito da conduta do agente, mas é preciso
que se produza na realidade como conseqüência desta,
e não de outro acidente.” (Obrigações, p. 368).

Infere-se, pois, que, ainda que verdadeiras fossem


as alegações da autora, e tivesse ela experimentado o prejuízo moral aventado,
primordial seria o estabelecimento do nexo causal entre o alegado dano e a
conduta do réu e, ainda, para que surgisse a obrigação de indenizar, necessário
far-se-ia a prova do procedimento ilícito deste, que nem de longe logrou a autora
demonstrar.

Afastada a presença, na hipótese, de dois


requisitos exigidos pelo art. 186 do novo Código Civil, resta, então, tecer-se
considerações acerca do terceiro pressuposto, vale dizer, a comprovação dos danos
alegados.

1.3. - DA INEXISTÊNCIA E DA FALTA DE


COMPROVAÇÃO DOS DANOS ALEGADOS.

Sustenta a autora, sem nenhum fundamento, ter


passado por situação vergonhosa e humilhante perante inúmeras pessoas ao ser
barrada e discriminada na porta de segurança que dá acesso à agência do réu e
que, diante de tal constrangimento e desmoralização pública, teve lesada sua
honra, fato esse ensejador de dano moral.

In casu, a autora limitou-se a fazer alegações, mas


prova alguma fez quanto ao prejuízo experimentado.
14

José de Aguiar Dias (“Responsabilidade Civil em


Debate”, 1ª edição, Forense, pág. 159), ao discorrer sobre a necessidade da
comprovação do dano, aduz com brilhantismo:

“Em qualquer espécie de dano, cumpre ao prejudicado


a prova de sua ocorrência. Mesmo quando o dano
genérico se possa deduzir do fato atribuído ao réu, na
ação, ainda assim continua o autor obrigado a fazer
prova do dano específico.
Como assevera Mazeaud et Mazeaud (traité, vol. 2,
página 623), o prejudicado deve, na ação, provar o
dano, podendo deixar para a liquidação a fixação do seu
quantum. Não basta, porém, que o autor mostre que o
fato de que se queixa seja capaz de produzir dano. É
preciso que se prove o dano concreto, assim entendida
a realidade e não a simples potencialidade do dano que
experimentou ...”

E prossegue o ilustre jurista: “o dano é, dos


elementos necessários à configuração da responsabilidade civil, o que suscita
menos controvérsia. Com efeito, a unanimidade dos autores convém em que não
pode haver responsabilidade sem a existência de um dano, e é verdadeiro truísmo
sustentar esse princípio, porque, resultando a responsabilidade civil em obrigação
de ressarcir, logicamente não pode concretizar-se onde nada há que reparar” (“Da
Responsabilidade Civil”, 7ª ed., pág. 792).

Como sabido, no Direito Pátrio não se indenizam


danos potenciais, eventuais, supostos ou abstratos, sendo de rigor que o
prejudicado prove a efetividade e a extensão dos danos sofridos.

O sistema abraçado pelo vigente Código Civil, em


seu artigo 403, não alimenta dúvidas a respeito:

“Art. 403 - Ainda que a inexecução resulte de dolo


do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por
efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.” (grifos do réu)
15

E, ainda que de dano moral se tratasse, convém


lembrar que não é qualquer dano moral que é indenizável.

José Osório de Azevedo Júnior, ilustre


Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em trabalho
intitulado “O dano moral e sua avaliação” 3, enfatiza:

“Os aborrecimentos, percalços, pequenas


ofensas, não geram o dever de indenizar. O nobre
instituto não tem por objetivo amparar as
suscetibilidades exageradas e prestigiar os
chatos.
(...)
Por outras palavras, somente o dano moral
razoavelmente grave deve ser indenizado.” (pág.
11).

Logo, o dano, mesmo moral, tem de ser provado,


não havendo nenhuma razão jurídica para se estabelecer derrogações aos
princípios gerais probatórios e aos da responsabilidade civil.

Nesse sentido é a jurisprudência dominante,


inclusive do Superior Tribunal de Justiça:

“Para que haja pagamento da indenização pleiteada,


além da prova do dolo do agente, é necessário
comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou
moral” (RT 436/97, 433/88, 368/181, 458/20, 434/101;
RTJ-39/38, 41/844; RF 221/200)(grifos do contestante).

“Indenização - Responsabilidade Civil - Dano Moral -


Hipótese de absoluta falta de provas do prejuízo sofrido
- Verba Indevida - Recurso provido para esse fim.
2 - É de se excluir a indenização por danos morais, por
absoluta falta de provas do prejuízo sofrido.
(...)
Se o autor entende que o dano moral desaparece com
uma paga em dinheiro - aliás, na nossa opinião, este
não tem preço e jamais pode ser resgatado - cumpre-
lhe demonstrar no que consiste, fixando-lhe limites,
3 Revista do Advogado nº 49, dezembro/96, AASP
16

permitindo, inclusive, ao Juiz estabelecer um ‘quantum’


satisfatório à parte e exequível ao mesmo tempo; caso
contrário poder-se-ia requerer qualquer soma, por mais
absurda que fosse, o que, evidentemente, refoge aos
princípios mais elementares da Justiça e do Direito.”
(RJTJESP - LEX nº 110, pág. 169/170)

“Tangente ao apelo dos autores vem o inconformismo


despido de juridicidade. Pretendem a indenização pelos
danos morais sem, contudo, esclarecer sequer em que
consistiram esses danos ou a forma como poderiam ser
economicamente estimados. A indenização pelo praetim
doloris deve resultar de critérios objetivos, não
bastando meras alegações feitas de forma
absolutamente inconsistentes.” (1º TACSP, Ap. Sum.
309.803, 6ª C., j. 9.8.83, v.u., Rel. Minhoto Júnior)

De qualquer sorte, a autora não demonstrou os


supostos prejuízos sofridos e o dano apontado sequer veio aos autos com alguma
sustentação probatória.

Nessa esteira, nada há a indenizar.

V. - DA PRETENSÃO INDENIZATÓRIA

Admitindo-se, apenas pelo princípio da


eventualidade, a existência efetiva do dano e sua comprovação, insurge-se o réu
contra o pedido de indenização absurda, formulada pela autora.

O dano moral deve ser mensurado mediante a


conjugação de diversos elementos, entre os quais, o grau de culpa, a
gravidade, a extensão e a repercussão da ofensa, bem como a
intensidade do sofrimento acarretado à vítima.

Consigne-se que a orientação jurisprudencial tem


se valido dos critérios estabelecidos pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei

4117/62, art. 84, § 1º), que limita a indenização por dano moral entre 5 e 100 salários
17

mínimos, e pela Lei de Imprensa (Lei 5250/67, arts. 51 e 52), que prevê o valor de 5 a
200 salários mínimos:

“Considerando-se, porém, as dificuldades da


positivação, traços, contornos do “dano moral”, bem
como passo a acompanhar a orientação recente da
Câmara (Ap. 498.097/0 - 4ª C., Rel. Walter Guilherme;
Ap. 404.563/6, 6ª C., Rel. Carlos Gonçalves; Ap.
446.553/0, 2ª C., Rel. José Rodrigues de Carvalho; Ap.
512.593/1, de Pereira Barreto, Rel. Morato de Andrade),
consistente em partir-se da regra do artigo 84 do CBT
(Lei 4117/62) que prevê a reparação do dano moral de
5 a 100 salários mínimos, por injúria, difamação e
calúnia, considerando-se ainda o art. 52 da Lei de
Imprensa (Lei 5.250/67), que permite o arbitramento
do dano moral até 200 salários mínimos.
(...)
Pelo dano moral, arbitra-se em 50 salários
mínimos, partindo-se da exegese analógica e
parâmetros da legislação retro-citada, sendo também
matéria de ponderação os dispositivos dos arts. 4º e 5º
da LICC.” (RT 698/104)

“RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO ORDINÁRIA


OBJETIVANDO INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
Cliente de supermercado que teve uma cédula de R$
50,00 recusada pela caixa do estabelecimento. Não
comprovado por prova idônea e convincente ter sido
imputada à autora a suposta falsificação da nota, mas
tendo sido a mesma submetida a vexame, diante do
tumulto surgido na ocasião, há que ser reformada em
parte, a sentença, para reduzir a indenização a
vinte salários mínimos.” (j. 11/08/98 - Apelação Cível
6585/98 - TJRJ - 18ª Câmara Cível - unânime – Relª.
Desª. Helena Bekhor – AASP nº 2090) - grifamos

“RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. LESÕES GRAVES. DANOS MORAL
E ESTÉTICO. CUMULABILIDADE.
POSSIBILIDADE. ORIGENS DISTINTAS.
FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. CRITÉRIO.
18

PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE


PROVIDO.
I - Nos termos em que veio a orientar-se a
jurisprudência das Turmas que integram a Seção de
Direito Privado deste Tribunal, as indenizações pelos
danos moral e estético podem ser cumuladas, mesmo
quando derivadas do mesmo fato, se inconfundíveis
suas causas e passíveis de apuração em separado.
II - Na fixação da indenização a esse título,
recomendável que o arbitramento seja feito com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao
nível sócio-econômico dos autores e, ainda, ao porte
econômico da ré, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de
cada caso.”
(RESP 228244/SP ; RECURSO ESPECIAL 1999/0077417-
5 - Fonte DJ DATA:17/12/1999 PG:00381 – Relator Min.
SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA - Data da Decisão
09/11/1999 - Órgão Julgador 4ª TURMA) – grifos
nossos

“Responsabilidade civil. Cheque (devolução).


Dano moral. Indenização (valor). Honorários
advocatícios.
1. Conforme a instância ordinária, o sacado deixou de
pagar sem justa causa, pois o sacador "dispunha de
fundos necessários para suportar o saque da
importância constante do referido cheque". Matéria
atinente à prova, irrevisível na instância especial ("A
pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial", Súmula 7).
2. No dano moral, a indenização há de ser arbitrada
moderadamente, certo que sempre em atenção a
peculiaridades de cada caso. Precedentes do STJ. Na
espécie, entendeu a Turma que houve excesso.
3. Ora, se se deixou à autoridade judiciária a tarefa de
arbitrar a indenização, não há aqui então de vir a pêlo o
caput do art. 21 do Cód. de Pr. Civil. Montante dos
honorários (Súmula 389/STF).
4. Recurso especial conhecido e provido em parte.”
19

(RESP 208797/AM ; RECURSO ESPECIAL


1999/0025755-3 - Fonte DJ DATA:22/11/1999
PG:00158 – Relator Min. NILSON NAVES - Data da
Decisão 05/08/1999 – Órgão Julgador 3ª TURMA) -
grifamos

Na tentativa de obter vantagens, pede a autora o


arbitramento indenizatório em equivalente a R$ 240.000,00 (pasme Vossa
Excelência) o que, além de inconcebível, sugere inegavelmente o intuito de
locupletamento ilícito à custa do contestante.

Pelo quantum pretendido, o que se percebe, na


realidade, é um oportunismo deveras condenável, que, inclusive, tem sido objeto
de rejeição por parte do Poder Judiciário.

A despeito da inexistência de critérios para a


fixação do dano moral, há certa uniformidade na jurisprudência quanto à
razoabilidade das indenizações, em especial do E. Superior Tribunal de Justiça
que, mostrando-se cauteloso, reiteradamente tem afastado os ressarcimentos
vultosos, recomendando o arbitramento com moderação, independente da
intensidade da culpa ou do dano.

Veja-se:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. LOJAS DE


DEPARTAMENTOS. CONTRANGIMENTO ILEGAL E
CÁRCERE PRIVADO. INDENIZAÇÃO. QUANTUM.
RAZOABILIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. INTERESSE RECURSAL
ALTERAÇÃO DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA. RECURSO
DESACOLHIDO.
(...)
III - A indenização por danos morais deve ser
fixada em termos razoáveis, não se justificando
que a reparação venha a constituir-se em
enriquecimento sem causa, com manifestos
abusos e exageros, devendo o arbitramento
operar-se com moderação, proporcionalmente ao
grau de culpa e ao porte econômico das partes,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela
20

doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,


valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.
Ademais, deve ela contribuir para desestimular o ofensor
a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica.
IV - Em face dos manifestos e freqüentes abusos
na fixação do quantum indenizatório, no campo
da responsabilidade civil, com maior ênfase em se
tratando de danos morais, lícito é ao Superior
Tribunal de Justiça exercer o respectivo controle.
(...).”
(STJ – Resp 265133/RJ; RECURSO ESPECIAL
(2000/0064103-0) – j. 19/09/00 – DJ
DATA:23/10/2000, PG:00145 - LEXSTJ 138/233 -
RSTJ 137/485 – Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA - QUARTA TURMA) - grifamos

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE


CIVIL. IMPRENSA. NOTÍCIA JORNALÍSTICA IMPUTANDO
LEVIANA E INVERÍDICA A JUÍZA FEDERAL.
(...)
DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
CONTROLE PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRECEDENTE. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
(...)
II - O valor da indenização por dano moral
sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de
Justiça, sendo certo que, na fixação da
indenização a esse título, recomendável que o
arbitramento seja feito com moderação,
observando as circunstâncias do caso, aplicáveis a
respeito os critérios da Lei 5.250/67.
III - Sem embargo da leviandade da notícia jornalística,
a atingir a pessoa de uma autoridade digna e
respeitada, e não obstante se reconhecer que a
condenação, além de reparar o dano, deve também
contribuir para desestimular a repetição de atos desse
porte, a Turma houve por bem reduzir na espécie o
valor arbitrado, inclusive para manter coerência com
seus precedentes e em atenção aos parâmetros legais.”
21

(STJ - RESP 295175/RJ; RECURSO ESPECIAL


(2000/0138885-1) - DJ DATA:02/04/2001, PG:00304 -
LEXSTJ 143/231 - j. 13/02/01 - Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA - QUARTA TURMA) - grifamos

Se não bastasse a ausência de critérios norteadores


capazes de mensurar as indenizações nas ações de reparação por danos e, visando
coibir o enriquecimento indevido, o Superior Tribunal de Justiça tem se preocupado
em arbitrar, em última instância, o quantum devido ao ofendido.

Assim, tolhendo um agravamento das situações


hodiernas é que o STJ, tem chamado para si o controle dos valores das
indenizações por dano moral, à consideração de que “na fixação da
indenização, tem-se que, necessariamente, observar um padrão de
razoabilidade, e isso, em verdade, constitui questão jurídica, sendo passível, pois,
de exame por esta Corte.” (do voto do Min. Costa Leite, no Resp 53.321/RJ, j.
16/09/97,publ. 24/11/97 – RSTJ 105/230)

Na sua declaração de voto o Min. CARLOS


ALBERTO MENEZES DIREITO, ponderadamente, consignou que “ à medida que o
Tribunal se vê diante de uma fixação que foge a qualquer parâmetro e que violenta
o razoável, é evidente que a sua intervenção se faz necessária, até mesmo pela
função política que tem a Corte Superior, qual seja, a de estabelecer um padrão de
razoabilidade para a fixação do dano moral.”

No julgamento do Recurso Especial nº 171.084-MA


(j. 18/08/98, publ. em 05/11/98) , utilizando a mesma linha de raciocínio, o rel. Min.
SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA enfatizou que “a indenização deva ser fixada
em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em
enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, recomendando-se
que o arbitramento se opere com moderação, proporcionalmente ao grau de
culpa, ao porte empresarial das partes, suas atividades comerciais, e, ainda, ao
valor do negócio, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atendo à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual, e às
peculiaridades de cada caso, sendo certo que o arbitramento do valor
indenizatório por dano moral se sujeita ao controle desta Corte (REsps
53.321-RJ e 173.366-SP).” (grifamos)
22

Destarte, se devida fosse a indenização, esta


deveria ser suficiente apenas para restabelecer o status quo ante, em coerência
aos princípios que norteiam a obrigação de indenizar, que não tolera o
enriquecimento sem causa. Vê-se, portanto, que em contraposição à desmedida e
infundada ambição da autora, o réu apresenta critérios lógicos que, na
eventualidade de condenação, devem obrigatoriamente, ser aplicados para a justa
composição de interesses.

VI. - DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, aguarda-se o


deferimento da denunciação da lide e, apreciando-se o mérito, a decretação da
improcedência da demanda, ante a inexistência de ato ilícito imputável ao réu, da
ausência da comprovação dos danos e falta de nexo causal.

Protesta-se, outrossim, pela produção das provas


admissíveis, notadamente o depoimento pessoal da autora, juntada de novos
documentos , expedição de ofícios e oitiva de testemunhas.

Termos em que, requerendo que as publicações


sejam feita em nome da subscritora desta e do Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA
ARRUDA (OAB/SP 32.247),
pede deferimento.
De São Paulo para Guarulhos, 6 de maio de 2003

RENATA MALUF MARTINS


OAB/SP 122.502

2003/11
BJ 030200034475

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