AO DOUTO JUÍZO DA Nª VARA CIVEL DA COMARCA JUDICIÁRIA DE
ÁGUA BRANCA/ALAGOAS
Processo nº: [XXXXXXXXXXXXXX]
Zé, CPF, estado civil, endereço, e-mail, vem, por
intermédio de sua advogada (cf. procuração em anexo), oferecer
CONTESTAÇÃO E RECONVENÇÃO
à AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS oferecida por Juliana já qualificado nos autos em epígrafe, o que faz com supedâneo no art. 335 e seguintes do Código de Processo Civil e nos argumentos fáticos e jurídicos que a seguir, passa a aduzir:
1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Inicialmente afirma o Réu, sob as penas da lei, ser juridicamente
necessitada, não tendo condições de arcar com as custas judiciais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu sustento próprio, fazendo jus aos benefícios da GRATUIDADE DE JUSTIÇA, na forma do que dispõe o art. 98 do CPC. 2. RESUMO DA INICIAL
No dia 23/06/2021, a autora dirigia seu veículo na Avenida xxx na
Cidade de Água Branca/Alagoas, quando ocorreu uma colisão com o veículo do contestante, que estava estacionado na contramão. A autora alega que o acidente foi ocasionado pelo veículo do contestante estar estacionado em direção oposta, resultando em danos materiais estimados em R$50.000,00(cinquenta Mil reais).
3. DA REALIDADE DOS FATOS
Ao contrário do que tenta fazer crer a autora, é essencial ressaltar que o
verdadeiro desdobramento dos eventos difere substancialmente da narrativa que ela apresenta. A responsabilidade pelo acidente recai totalmente sobre a autora, dadas as circunstâncias em que se encontrava no momento do ocorrido.
Conforme será claramente demonstrado por meio das evidências coletadas
pelas câmeras de segurança dos estabelecimentos locais, a autora estava operando o veículo em questão a uma velocidade superior à permitida pela via, além de estar utilizando o celular enquanto dirigia.
4. DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DO PEDIDO DE DANO MORAL
Inicialmente, vem o requerido, anteriormente a discussão do mérito,
requerer que seja julgado improcedente o pedido autoral, nos termos precisos nos artigos mencionados no CPC: “Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;”
“Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.”
“Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial
ou da reconvenção e será: V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;”
Tal fundamento se dá ao fato de que tal pedido referente à
indenização por danos morais é genérico, e não se enquadra nas exceções previstas no artigo 324, e na segunda parte do inciso II, do § 1º, do artigo 330, ambos do CPC. Como fica claro no artigo 292 do CPC, o pedido deve ser certo e determinado, não se admitindo pedido implícito, ou seja, aquele considerado formulado mesmo sem ter sido expressamente mencionado.
Na peça inicial da Reclamante, não fica evidente o valor proposto a
título de danos morais, apenas demonstrando que o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) é ao destinados aos danos materiais, pois alega que esse seria o custo do conserto do veículo.
Assim, diante da caracterização da INÉPCIA DO PEDIDO DE DANO
MORAL, o processo deverá ser extinto sem resolução de mérito em relação ao referido pedido, com base no artigo 485, inciso IV, do CPC. 5. DO MÉRITO
5.1. DA CULPA EXCLUSIVA DA AUTORA PELO ACIDENTE – DA
NÃO CONFIGURAÇÃO DO NEXO CAUSAL
No presente caso, é fundamental destacar que a vítima, embora
tivesse pleno conhecimento dos procedimentos adequados de condução e dos riscos inerentes, optou por agir de forma imprudente e negligente. Essas ações, por si só, foram os principais catalisadores do evento danoso que resultou no acidente em questão. Primeiramente, a vítima excedeu deliberadamente o limite de velocidade permitido, uma ação que, por si só, é reconhecida como uma violação flagrante das normas de trânsito estabelecidas para garantir a segurança de todos os usuários das vias públicas. Além disso, o uso do celular enquanto dirigia demonstra uma segunda manifestação de irresponsabilidade, pois desvia a atenção do condutor da estrada e aumenta consideravelmente o risco de acidentes. Nesse sentido ressalte-se que autora ao dar causa ao acidente, violou diversas regras de circulação do CTB, a saber:
“Art. 28. O condutor deverá, a todo momento, ter
domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.” (g.n.)
“Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres
abertas à circulação obedecerá às seguintes normas:
II - o condutor deverá guardar distância de segurança
lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo e as condições climáticas;” (g.n.)
“Art. 43. Ao regular a velocidade, o condutor deverá
observar constantemente as condições físicas da via, do veículo e da carga, as condições meteorológicas e a intensidade do trânsito, obedecendo aos limites máximos de velocidade estabelecidos para a via, além de:” (g.n.) Diante disso se a vítima não tivesse cometido qualquer um desses atos imprudentes o acidente em questão não teria acontecido pois o fato do veículo estar parado em uma posição proibida não estabelece, por si só, um nexo causal com a colisão, os fatores estes infringidos pela vítima que determinaram para a ocorrência do acidente. Portanto, é evidente que a culpa pelo incidente recai exclusivamente sobre a vítima, que, ao colidir com um veículo parado, demonstrou sua imperícia ao volante.
Sobre a matéria, merece ser lembrada a precisa lição proferida por Carlos Roberto Gonçalves:
“Quando o evento danoso acontece, por culpa exclusiva
da vítima, desaparece a responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que, no caso de culpa exclusiva da vítima, o causador do dano, é mero instrumento do acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vítima”. (Responsabilidade Civil. Saraiva, 1995, p. 505.).
Diante de que os atos de exclusiva culpa da autora foi determinante
para a ocorrência do dano, não se configura o necessário nexo causal que embasa a responsabilidade civil. Nesse contexto, a pretensão indenizatória não encontra respaldo, devendo ser rejeitada.
5.2. DA INEXISTÊNCIA DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR O
DANO MORAL E MATERIAL
Neste contexto, a contestação aos pleitos de indenização por danos
morais e materiais encontra um fundamento comum: a inexistência da obrigação do réu em indenizar os supostos danos, devido à culpa exclusiva da autora, conforme já evidenciado anteriormente.
Para que se configure o dever de indenizar (conforme artigos 186
c.c. 927 do CCB), especialmente em casos de responsabilidade subjetiva, caberia à autora, nos termos do artigo 373, I, do CPC, provar a conduta ilícita do réu, os danos experimentados e o nexo de causalidade entre eles. A ausência de apenas um desses requisitos já é suficiente para afastar o dever de indenizar.
No presente caso, no que concerne aos danos morais e materiais,
ficou demonstrado que o réu não foi o responsável pelo acidente de trânsito e pelos danos decorrentes do mesmo. Portanto, não possui obrigação de indenizá-los.
Eis uns julgados sobre o tema:
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA
- ACIDENTE DE TRÂNSITO - AUSÊNCIA DE PROVA SOBRE A CULPA EXCLUSIVA DOS RÉUS - BOJO PROBATÓRIO QUE DEMONSTRA A CULPA DA VÍTIMA - IMPROCEDÊNCIA - DANO MORAL - SENTENÇA MANTIDA. 1. A Responsabilidade Civil designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo, em consequência da ofensa a um direito alheio. 2. Para se reconhecer a responsabilidade subjetiva, mostra-se necessária a constatação da culpa, do dano e do nexo de causalidade entre a conduta e o dano. 3. No sistema processual civil brasileiro vigora a regra de que ao autor incumbe a comprovação dos fatos constitutivos de seu direito, conforme disposto no artigo 373, I, do CPC/15. 4. Ocorrendo conflito probatório, resultante da divergência entre as versões das partes, a respeito do acidente de trânsito, e não tendo nenhuma delas ficado suficientemente provada nos autos, a pretensão indenizatória deve ser afastada. 5. Sentença mantida.” (TJMG - Apelação Cível 1.0481.15.017271- 8/001, Relator(a): Des.(a) Pedro Bernardes, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 25/08/2020, publicação da súmula em 03/09/2020)
Repita-se, diante da excludente da responsabilidade, diga-se, culpa
exclusiva do autor para ocorrência do dano, resta afastado o nexo causal que fundamenta a responsabilidade civil, devendo ser rejeitadas as pretensões indenizatórias (danos moral e material).
5.3. DA CULPA CONCORRENTE
O artigo 945, do CCB, assim disciplina a culpa
concorrente:
“Se a vítima tiver concorrido culposamente para o
evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.” (g.n.)
Pelo princípio da concentração ou da eventualidade, na hipótese de
não ser reconhecida a culpa exclusiva da autora no acidente narrado na inicial, seria pertinente reconhecer sua culpa concorrente. Tal responsabilidade decorreria do fato de trafegar em velocidade superior ao permitido para aquela via e do uso do celular enquanto dirige, violando as regras de circulação do CTB. Um julgado relevante sobre o tema ilustra essa abordagem:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE
DE TRÂNSITO. CULPA CONCORRENTE. INCAPACIDADE COMPROVADA DA VÍTIMA. DANOS MORAIS E ESTÉTICOS. EXISTÊNCIA. VALOR. PROPORCIONALIDADE. PENSÃO MENSAL. CABIMENTO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. - Nos termos do art. 945 do Código Civil, se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. - Tendo-se em vista a concorrência de culpa, aplica-se o disposto no art. 945 do Código Civil, fixando-se a indenização de forma proporcional à reprovabilidade das condutas verificadas e de sua contribuição para a ocorrência do dano. - Devem ser ressarcidos os danos morais e estéticos oriundos de acidente automobilístico gerador de grave dano à vítima. - A indenização deve ser fixada com observância da natureza e intensidade do dano, da repercussão no meio social, da conduta do ofensor, bem como da capacidade econômica das partes envolvidas, evitando-se enriquecimento sem causa da parte autora. - Em razão da igual concorrência de culpa das partes, e comprovada a incapacidade permanente da vítima, devida a pensão mensal no valor correspondente a meio salário mínimo. (TJMG - Apelação Cível 1.0439.14.016102-7/001, Relator(a): Des.(a) José Marcos Vieira, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/06/2020, publicação da súmula em 10/07/2020) (g.n.) 6. DA RECONVENÇÃO
Extrai-se do art. 343, do Código de Processo Civil, que “na
contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa”.
O autor reitera os fatos descritos infra no tópico 5.1 E 5.2.
Com isso, se restado comprovado que a responsabilidade civil é
exclusiva da requerente, o requerido deve ser indenizado pela prática danosa ocasionada pela requerente, conforme dispõe o artigo 927 do Código Civil: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
Por ocasião a reconvenção, requer:
a) Os benefícios da gratuidade de justiça, na medida em que o
Requerido não possui condições de custear o processo sem prejudicar seu sustento ou de sua família, nos termos do art. 5º, LXXIV, da CRFB/88 e do art. 98 e seguintes, do CPC/15;
b) Seja reconhecida a preliminar de inépcia da petição inicial relativa ao
pedido de dano moral.
c) Sejam julgados improcedentes todos os pedidos formulados
pela Requerente na exordial, pelos motivos e fundamentos colacionados;
d) Subsidiariamente, requer a procedência parcial em razão da
responsabilidade concorrente e) Seja acolhida a presente reconvenção com total procedência, determinando que a requerente efetue indenize o requerido ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de dano material pelo evento danoso causado deforma exclusiva pela requerente;
f) Seja a requerente condenada em custas processuais e
honorários advocatícios, estes últimos no percentual de 20% (vinte por cento) do valor da causa.
Atribui-se à reconvenção o valor de R$ 5.000,00 [cinco mil reais].