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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL E DO TRIBUNAL DO

JÚRI DO NÚCLEO BANDEIRANTE/DF

Autos sob o nº 0000007-55.2021.8.07.0011

HAYANNE DE JESUS TAVARES DA SILVA, já qualificada nos presentes autos,


através de seus procuradores ao final subscritos, vem, respeitosamente, à presença
de V.
Excelência., com fulcro no art. 403, §3º do Código de Processo Penal, oferecer suas

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

em razão da presente ação penal movida pelo Ministério Público do Distrito Federal.

I. DOS FATOS

No dia 06/11/2020, entre 16h00 e 16h10, no Km 26 da Estrada Parque Núcleo


Bandeirante - EPNB/DF, HAYANNE DE JESUS TAVARES DA SILVA, já qualificada,
na condução do veículo FIAT/SIENA, placa JDV-1602/DF, teria colidido contra as
6(seis) motocicletas que encontravam-se estacionadas debaixo da passarela
enquanto seus condutores buscavam se abrigar da chuva que ocorria no momento,
causando o arrastamento e a morte do motociclista FRANCINALDO JOSÉ DA SILVA
e ferimento, tipo fratura exposta, na motociclista GISELMA MONTEIRO CONRADO
SANTOS, ambos também devidamente qualificados.
São breves os fatos.

II - No mérito
2.1. QUANTO AO IMPUTADO CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO COM
AUMENTO DE PENA
(CT, art. 302 e Inc. III)

( a ) Nexo de causalidade
Ausência de nexo de causalidade entre a morte da vítima e alguma atitude ilícita da
acusada.
Falta justa causa para a instauração da ação penal em destaque, em face da ausência de
nexo de causalidade entre a morte da vítima e qualquer omissão atribuída à Acusada.
Fora demonstrado que a Ré transitava dentro dos limites de velocidade permitido à via
de tráfego em referência.

Como se observa, a vítima comportou-se contrariamente ao esperar debaixo de um


viaduto movimentado sem os cuidados necessários. Certo que seria um motoqueiro a
espera do tempo chuvoso, mas nem por isso a Denunciada pode responder por este ato
voluntário da vítima.

Não há ação imputável à Acusada (teoria da imputação objetiva). Afinal de contas:

CÓDIGO PENAL
Art. 13 – O resultado, de que depende a existência de crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa.

Não há mínima presença de nexo de causalidade entre a conduta da


Denunciada e a morte da vítima.
Na própria denúncia encontramos tal desiderato, porquanto a Acusada agiu
com diligência, inclusive com equipamento de controle de velocidade no veículo.
Ainda que existisse relação de causalidade entre a conduta da Acusada e a
morte da vítima, faz-se necessária a demonstração da criação por aquela de situação de
risco não permitido, o que não ocorrera no caso em evidência.
Por outro ângulo, com respeito ao aumento da pena almejado pelo Parquet,
respeitante à pretensa omissão de socorro (CT, art. 302, inc. III), esse, também, não
deve prosperar.
Devemos sopesar, primeiramente, que o aumento da pena em questão requer
o dolo na figura delitiva.
Nesse azo, não há uma única passagem na peça acusatória que delimite a
intenção da Acusada em querer o resultado em questão. Inexiste, de outra banda,
qualquer depoimento nos autos nesse sentido.
Muito pelo contrário, há, sim, passagens nos depoimentos dando conta da
justa causa para que a Acusada pudesse deixar de prestar socorro à vítima.
Na hipótese, existiu obstáculo grave, e sério, que, efetivamente, impediu-a de
dar assistência. Com efeito, a Ré, na ocasião do sinistro, tinha a possibilidade de sofrer
risco pessoal, visto que, como a vítima era um motoqueiro,com clareza nos autos,
prometiam linchar aquela.
Não bastasse isso, verifica-se que a então condutora do veículo, ora acusada,
tivera o cuidado de solicitar auxílio à autoridade pública.
A propósito vejamos o que reza diretriz fixada na legislação em comento:

CÓDIGO DE TRÂNSITO

Art. 302 – Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


(...)
Parágrafo único – No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a
pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:
(...)
III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

De outro compasso, a Acusada, que, além de não possuir condições de socorrer


diretamente a vítima, recebera notícias de que essa “já estava sendo amparada”;
nada tinha a fazer, pois houvera morte instantânea da batida que ocorreu muito
forte e foi arremessado muito distante.

III. DOS PEDIDOS

Antes o exposto, a defesa requer a Vossa Excelência:

a) ABSOLVIÇÃO por existir circunstâncias que tornam insuficientes as provas


apresentadas, com base no artigo 386, VII do CPP.
b) A retirada das qualificadoras, por falta de preservação do local do suposto
crime.
c) A retirada da reincidência, visto que a condenação com trânsito em julgado,
ocorreu após o suposto crime.
d) Em caso de condenação, que ocorra a fixação da pena no mínimo legal, com
base no artigo 59 do CP.
e) A substituição da pena por restritiva de direitos, fundamentada no Art. 44
doCódigo Penal.
Nestes termos, em que pede deferimento.

Brasília - DF,.................

OAB xxxxx

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