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2. DO DIREITO
2.1. DANOS MORAIS
O direito da Requerente encontra-se amparado pela
Constituição Federal em seu artigo 5º, nos incisos X e XIV,
que informam:
Art. 5º. (...) X – São invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas assegurando o direito
à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação. (...) XIV – é assegurado a todos o acesso à
informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
ao exercício profissional.
Em arrimo a esta preservação a legislação consumerista que
protege a requerente, indo nesta linha de pensamento, o artigo
6º da Lei supracitada, que traça diversos direitos elencados
em prol de salvaguardar o consumidor de abusividades,
exaurindo a referida norma:
“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)
IV – A proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços; (...) VII - A facilitação da defesa de
seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiência; (...) X – A adequada e
eficaz prestação dos serviços públicos em geral.”
3. DESVIO PRODUTIVO
A atitude da Requerida importa em dano moral a
Requerente, já que produz desvio produtivo nas atividades
diárias desta, já que tentava resolver a situação do produto
adquirido, que veio com o defeito mesmo com a garantia.
Para tentar resolver a questão, a Requerente realizou uma
série de contatos com a Requerida, o que não se deu em outras
vezes, mas que são provas cabais que demonstram as diversas
tentativas da parte Requerente solucionar o problema com a
empresa Requerida.
A aplicação da teoria do desvio produtivo do consumidor
vem se tornando cada vez mais comum, pois tratasse do tempo
perdido pelo cliente na tentativa de solucionar um problema
que não deu causa e que acarreta um dano indenizável. Diversos
consumidores têm acionado o Poder Judiciário em busca da
reparação do dano que resulta na injusta perda de tempo, com
embaraços, dificuldades, protelações, demora no atendimento,
consertos sabidamente falhos e outras práticas comerciais
abusivas de fornecedores de produtos e serviços. Sendo a este
dano conhecido como desvio produtivo.
Conforme diz Ricardo Pessoa de Mello Belli, “o desvio
produtivo é caracterizado quando o consumidor, diante de uma
situação de mau atendimento, precisa desperdiçar seu tempo e
desviar as suas competências de uma atividade necessária ou
por ele preferida para tentar resolver um problema criado pelo
fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza
irrecuperável. ”
Essa teoria se encaixa de forma clara na situação da
Requerente já que precisou procurar a Requerida para
solucionar um problema em que NÃO deu causa, tendo em vista
que foi uma falha na prestação dos serviços da Requerida, o
que fere dos princípios fundamentais da Constituição
Brasileira que é a Dignidade da Pessoa Humana.
Conforme Belli afirmou, em uma de suas ações da 19ª Câmara
de Direito Privado, “o episódio descrito lhe trouxe expressivo
sofrimento íntimo, digno de proteção jurídica, já que foi
injustamente cobrada, por débito regularmente satisfeito,
durante longo período. Experimentou desgaste, perda de tempo,
angústias e aflições. ”
Há de se reconhecer o dano moral no caso em comento,
aplicando o desvio produtivo do consumidor como causa deste
dano moral, pela qual a condenação deve considerar também o
desvio de competências do indivíduo para a tentativa de
solução de um problema causado pelo fornecedor, com sucessivas
frustrações diante da ineficiência e descaso deste.
Em acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida
pelo Relator Ricardo Pessoa de Mello Belli, na 19ª Câmara de
Direito Privado, foi decidido que:
Apelação – Ação declaratória c.c. indenizatória –
Prestação de serviços – Telefonia móvel – Sentença de
acolhimento parcial dos pedidos – Autor que alega não ter
contratado os serviços de telefonia móvel, embora seja
cliente da ré em outros serviços – Ré que não se
desincumbe de demonstrar a efetiva contratação daquele
serviço – Ilícito no proceder da ré não mais discutido
nesta esfera recursal – Dano moral também caracterizado –
Ré que inclui o serviço de telefonia móvel na fatura dos
serviços efetivamente adquiridos e utilizados pelo autor,
passando, assim, a realizar o correspondente débito
automático, embora sabedora das reclamações do autor
quanto àquelas cobranças – Situação em que há de se
considerar as angústias e aflições experimentadas pelo
autor, a perda de tempo e o desgaste com as inúmeras
ligações e reclamações para solucionar a questão –
Hipótese em que tem aplicabilidade a chamada teoria do
desvio produtivo do consumidor – Indenização que se
arbitra na importância de R$ 5.000,00, sobretudo à luz da
técnica do desestimulo – Sentença reformada com a
proclamação da procedência integral da demanda e com
alteração da disciplina das verbas de sucumbência.
Dispositivo: Deram provimento à apelação.
EX POSITIS,
Nestes termos,
pede deferimento.