1) O réu contesta a ação movida pelo autor alegando preliminares de incompetência do juízo e indeferimento do pedido de gratuidade da justiça.
2) O réu alega que o autor não comprovou ser hipossuficiente e que eventuais defeitos no veículo não configuram vício redibitório, mas desgaste natural pelo tempo de uso.
3) O réu requer a realização de perícia técnica para aferir a existência de vício oculto e causa dos problemas alegados pelo autor.
1) O réu contesta a ação movida pelo autor alegando preliminares de incompetência do juízo e indeferimento do pedido de gratuidade da justiça.
2) O réu alega que o autor não comprovou ser hipossuficiente e que eventuais defeitos no veículo não configuram vício redibitório, mas desgaste natural pelo tempo de uso.
3) O réu requer a realização de perícia técnica para aferir a existência de vício oculto e causa dos problemas alegados pelo autor.
1) O réu contesta a ação movida pelo autor alegando preliminares de incompetência do juízo e indeferimento do pedido de gratuidade da justiça.
2) O réu alega que o autor não comprovou ser hipossuficiente e que eventuais defeitos no veículo não configuram vício redibitório, mas desgaste natural pelo tempo de uso.
3) O réu requer a realização de perícia técnica para aferir a existência de vício oculto e causa dos problemas alegados pelo autor.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO
JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ...
Autos nº ... Réu..., CNPJ: ..., com sede na Rua ..., que lhe move ZAQUEL MORAES PEDROZO, brasileiro, solteiro, garçom, portador da cédula de identidade nº ..., inscrito no CPF sob nº ..., residente e domiciliado na Rua ..., vêm através de sua advogada que esta subscreve, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, com fundamento no artigo 300 e seguintes do Có digo de Processo Civil, apresentar CONTESTAÇÃO á AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE RESOLUÇÃ O DE CONTRATUAL C/ RESTITUIÇÃ O DE VALORES E C/C INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS, o que faz com fundamento nas razõ es de fato e de direito a seguir aduzidas: DA TEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO De acordo com a norma do juizado especial civil, a contestaçã o poderá ser apresentada até a data da audiência de instruçã o e julgamento. Portanto, tempestiva a presente contestaçã o. DA JUSTIÇA GRATUITA O Réu nã o possui meios de arcar com as custas judiciais sem prejuízo pró prio e de sua família, razã o pela qual necessita da concessã o dos benefícios da assistência judiciá ria gratuita, nos termos da Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, verbis: “Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.” Portanto, requer a concessã o da justiça gratuita. DOS FATOS O Autor alega que na data de 17 de janeiro de 2021 adquiriu do Réu um veículo VW POLO 16V, placa DWG-6G76, ano 2002/2003, no valor de R$ 14.000,00 (quatorze mil reais), sendo dado como entrada do negó cio o valor em espécie de R$ 1.000,00 (um mil reais), e entregue o veículo Corsa Sedan, Placa MBH 6198, ano 2000, avaliado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), financiando o valor remanescente, em 48 parcelas de R$ 469,14 (quatrocentos e sessenta e nove e quatorze centavos). Alega ainda que, o Réu afirmou ao Autor que o veículo estava em “perfeitas condiçõ es”, visto que os mecâ nicos que prestam serviços para o Réu, haviam feito uma revisã o no mesmo. Ocorre que, apó s 05 (cinco) meses de uso, o Autor alega que o veículo ano 2002/2003 começou apresentar problemas, como barulho no motor e mistura de á gua no ó leo do motor. Por fim, juntou laudo pericial com uma série de problemas encontrado no veículo, totalizando o valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais), razã o esta que pleiteia danos materiais sofridos, rescisã o contratual e danos morais. Diante disso, alega que ao procurar o Réu para a devida assistência, foi lhe negada com a justificativa de ter decorrido o prazo de garantia do veículo. DAS PRELIMINARES DA CONTESTAÇÃO Da concessão indevida da justiça gratuita Pelo que se depreende das documentaçõ es juntada à inicial, o Autor apenas requereu o seu pedido de gratuidade da justiça na inicial, juntando tã o somente 1 (um) holetire salarial. Ocorre que o requerimento gera presunçã o relativa acerca da necessidade da AJG, cabendo ao Réu contestar e ao Julgador verificar outros elementos para decidir acerca do cabimento do benefício. Os tribunais vêm sendo unanimes quanto o entendimento para a concessã o do beneficio da gratuidade judicial, devendo o Autor comprovar a sua insuficiência através dos 03 ú ltimos contracheques, ú ltimas 03 declaraçõ es de imposto de renda, além dos extratos bancá rios a fim de comprovar que o Autor nã o recebe mais nada além da verba salarial. No presente caso, nã o há até o momento provas rígidas de que o Autor nã o tem condiçõ es de pagar as custas, e as meras alegaçõ es de sua necessidade nã o sã o provas contundentes para deferimento da AJG, assim, que seja o autor intimado a juntar nos autos declaraçã o do seu ú ltimo imposto de renda, ou, quaisquer outros documentos que comprovem ser merecedor do deferimento desta benesse, para verificar se de fato é hipossuficiente. Desta forma, preliminarmente requer que seja indeferido o benefício da justiça gratuita a ser apreciado por este Douto Juízo, uma vez, por ser medida de direito, e com o intuito de nã o banalizar o instituto. Da preliminar de incompetência Conforme anteriormente exposto, o Autor pleiteia indenizaçã o, resultante de vício redibitó rio existente no veículo por ele adquirido. Como é de curial saber, a regra geral contida no art. 94, do Digesto Processual Civil, determina que o foro competente para o processamento da açã o deve ser o do domicílio do réu. Ocorre que, o açã o foi ajuizada na Comarca de Curitiba, quando na verdade o Réu reside em Uniã o da Vitó ria. Por outro lado, sem a presença de representante do Réu, o Autor realizou laudo técnico veículo com a empresa Maxlaudo, onde constatou uma série de itens que precisam ser trocados, cujo o montante atinge o valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais). Ora, antes de efetuar a compra de um veículo usado, compete ao comprador, proceder à verificaçã o mediante inspeçã o física e ocular através de mecâ nico de sua confiança ou empresas aptas ao mercado a fazer tais verificaçõ es para nã o ser surpreendido. Assim, como nã o há prova documental de garantia quanto à qualidade do veículo usado vendido, nã o se pode imputar para a ré os defeitos alegados pelo autor. Desse modo, a jurisprudência atual corrobora com o entendimento de que se ausente um laudo comprovando o estado que o veículo se encontra no momento de sua venda, é responsabilidade do comprador proceder com à verificaçã o. Senã o vejamos: BEM MÓ VEL VEÍCULO AUTOMOTOR AUTOMÓ VEL USADO - VENDEDOR - VÍCIO REDIBITÓ RIO PROVA DE GARANTIA INEXISTÊ NCIA RESCISÃ O DA VENDA E COMPRA RESSSARCIMENTO DE CONSERTO. Compete ao comprador, antes de efetuar a compra de um veículo usado, proceder à verificaçã o mediante a inspeçã o física e ocular e/ou através de mecâ nico de sua confiança, para nã o ser surpreendido por defeitos ocultos inerentes a veículo usado. Recurso improvido. (TJ-SP - APL: 108021620098260625 SP 0010802-16.2009.8.26.0625, Relator: Cló vis Castelo, Data de Julgamento: 29/08/2011, 35ª Câ mara de Direito Privado, Data de Publicaçã o: 03/09/2011). E ainda: RECURSO INOMINADO. AÇÃ O DE REPARAÇÃ O DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO (APROXIMADAMENTE TRÊ S ANOS DE USO). PROBLEMAS NO FUNCIONAMENTO. REEMBOLSO DE GASTOS PARA CONSERTO. INVIABILIDADE. RISCO INERENTE À COMPRA. DESGASTE NATURAL DO BEM. CONTRATO COM GARANTIA INEXISTENTE. Ô NUS DO COMPRADOR DE VERIFICAR A SITUAÇÃ O DO VEÍCULO, ANTES DA AQUISIÇÃ O. AUSÊ NCIA DE VÍCIO OCULTO. RESPONSABILIDADE CIVIL NÃ O CONFIGURADA. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO DESPROVIDO. "O comprador, ao adquirir veículo usado, deve ser diligente e verificar as reais condiçõ es do bem, tendo em vista o seu natural desgaste diante do tempo de uso" (TJ-SC - RI: 03074637720168240045 Palhoça 0307463-77.2016.8.24.0045, Relator: Marcelo Pizolati, Data de Julgamento: 14/03/2019, Primeira Turma de Recursos - Capital). Pois bem, os problemas alegados pelo autor nã o sã o referentes as previstas na garantia. Assim, ao adquirir o veículo, o autor já tinha prévia ciência de que seria de sua responsabilidade eventuais itens a serem trocados nã o previsto na garantia em caso de mau funcionamento. Diante disso, trata-se de caso em espécie a ser realizado perícia técnica, de forma imprescindível. Desta forma, a perícia técnica, in casu, se mostra necessá ria para aferir de forma segura nã o apenas a existência do vício oculto alegado pelo autor, mas principalmente a causa do suposto defeito apresentado no bem adquirido. A propó sito, vale conferir os seguintes julgados: JUIZADOS ESPECIAIS. CONSUMIDOR. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS ACOLHIDA DE OFÍCIO. COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL USADO. DEFEITO POSTERIOR EM ALGUNS COMPONENTES. NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL PARA CONSTATAÇÃO DO MOTIVO DO DEFEITO . RECURSO CONHECIDO. SENTENÇA CASSADA.1. A preexistência de defeito à compra e venda do veículo nos amortecedores, nas lâmpadas e nos visores deve ser comprovada através de prova pericial para apuração do defeito arguido pelo autor e os verdadeiros motivos de sua causação. 2. Necessidade de perícia para o deslinde da questão torna incompetente o Juizado Especial, nos moldes do artigo 3º da Lei 9.099/95. 3. Preliminar de incompetência dos Juizados Especiais acolhida de ofício. Recurso conhecido. Sentença cassada diante da incompetência dos Juizados. (Acórdão n.551841, 20110110895957ACJ, Relator: FLÁVIO FERNANDO ALMEIDA DA FONSECA 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 22/11/2011, publicado no DJE: 01/12/2011. Pág. 278). Assim, deverá este Douto Juízo reconhecer a sua incompetência relativa em razã o da complexidade, devendo que seja a vertente açã o extinta sem resoluçã o do mérito. DO MÉRITO Diferente do alegado na inicial, o Réu prestou assistência ao Autor apó s a compra do bem, vez que o veículo apresentou problemas no freio e diante disso, o Réu deu toda a assistência necessá ria. E a fim de comprovar o acima exposto, requer a juntada da nota do freio do bem que o Autor se prontificou a arcar com os custos para o concerto. Apó s o ocorrido, o Autor nunca mais contatou o Réu para relatar problemas do veículo, e, foi de grande surpresa o ajuizamento da presente açã o, bem como estranheza todo o alegado na inicial. Vossa Excelência, o veículo adquirido pelo Réu é um Polo ano 2002/2003, no valor bem abaixo da tabela FIPE, justamente pela razã o de ser um carro além de antigo, usado! DA AUSÊNCIA DE DANO MATERIAL Alega o Autor de que o réu negou prestar assistência para resoluçã o do problema, bem como, requereu a restituiçã o dos valores pagos e danos. É de clareza pú blica que um veículo com 20 (vinte) anos de fabricaçã o é normal que apresente alguns desgastes e, que se faça necessá rio à sua manutençã o. Por conta disso, a empresa ré já o vende bem abaixo do mercado. Ora, ao assinar o contrato o autor já tinha conhecimento dos itens que estariam cobertos pela garantia e, é de sua responsabilidade à verificaçã o e inspeçã o do veículo, assim, o aceitou nas condiçõ es que ele se encontrava. A jurisprudência de renomado Tribunal no Brasil tem entendimento de que é diligência ordiná ria do comprador apurar a presença ou a ausência de defeitos que prejudique a sua utilizaçã o. Senã o vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO AUTOMOTOR. VEÍCULO ANTIGO E USADO. DEFEITOS SUPERVENIENTES. DESPESAS COM O CONSERTO. PRESUNÇÃO DE DESGASTE. PREVISÃO DE DESCONTO NO PREÇO PARA A COBERTURA DE EVENTUAIS MANUTENÇÕES. PREQUESTIONAMENTO. Tratando-se de veículo usado, que detinha, quando da compra, cerca de 14 (quatorze) anos de uso, é razoável presumir o desgaste das peças, impondo ao comprador a diligência ordinária de apurar a presença ou a ausência de defeito que prejudique a sua utilização ou o deprecie. As circunstâncias do caso demonstram serem presumíveis os desgastes do veículo usado, e, considerando que o desconto dado ao demandante para cobrir eventuais manutenções de que ele pudesse necessitar não é superado pelo valor total de despesas comprovadas, não se justifica a condenação pretendida na petição inicial. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70057926560, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 13/03/2014) (TJ-RS - AC: 70057926560 RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Data de Julgamento: 13/03/2014, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia Ou seja, tratando-se de um veículo usado, que detêm, quando da compra, cerca de 20 (vinte) anos de uso, é razoá vel presumir que se faria necessá rio a troca de vá rios itens, nã o incumbindo assim ao réu o ressarcimento ao autor do valor pago. Ora, se assim nã o fosse, estaria o Réu obrigado a ressarssir e arcar com os custos de todo problema que o veículo apresente até quando? Salienta-se que na conduta do réu em nenhum momento pode ser identificada alguma das condutas referidas pelo diploma legal, eis que, na unica vez procurado pelo Autor, o Réu prestou assistência e ademais o réu estava agindo dentro da legalidade, exercendo sua atividade de comerciante, sem qualquer interesse obscuro de prejudicar um cliente. Assim, conclui-se que, efetivamente, nenhum ato ilícito foi cometido, motivo pelo qual, nã o há que se falar em responsabilidade. O artigo 927, do mesmo diploma legal, também é claro quanto ao instituto da responsabilidade civil, referindo que: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará -lo. ” Assim, nã o há a presença da ilicitude referida pela legislaçã o e que embasaria uma pretensã o indenizató ria do autor contra o réu, pois, como já referido acima, o réu estava praticando normalmente sua atividade de comerciante e o autor estava procurando um veículo melhor para sua utilizaçã o. Foi um encontro de interesses e nã o uma negociaçã o com o intuito de prejudicar a outra parte. Ora, apesar do risco da atividade, nã o há como imputar mau uso ou inexistência de manutençã o ao vendedor, pois, é notó rio e pú blico que um veículo usado necessita de mais manutençã o do que um veículo novo e, neste ponto, necessá rio que tenhamos cuidado em diferenciar o que é responsabilidade do vendedor, que em nenhum momento, se eximiu desta e o que é responsabilidade do comprador no que tange a realizar manutençõ es perió dicas e em oficina mecâ nica de confiança e reconhecida qualidade nos serviços prestados, pois nã o podemos imputar a alguém responsabilizaçã o por ato que nã o cometeu. No sentido do que foi exposto acima, junta-se decisã o dos Tribunais Superiores: Ementa: APELAÇÃ O CIVEL. AÇÃ O DE RESSARCIMENTO DE VALORES C/C INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊ NCIA. MANUTENÇÃ O. PRAZO DECADÊ NCIA DO ART. 26 DO CDC. INAPLICABILIDADE. No caso, pretende a parte autora apenas reparaçã o civil de indenizaçã o por danos morais e materiais, que alega ter sofrido. Inaplicá vel o disposto no art. 26 do CDC, porquanto nã o postulado nenhum direito potestativo por vício do produto. Lapso prescricional do art. 27 do CDC nã o implementado. Decadência nã o reconhecida. MÉ RITO. Restou comprovado que o autor adquiriu o veículo que sabia ter tido o motor reformado (conforme notas fiscais por ele mesmo juntadas, oriundas da empresa Atalanta, em Cachoeirinha) sem tomar as precauçõ es e cautelas exigíveis no negó cio, notadamente a realizaçã o de vistoria prévia à compra. Outrossim, adimpliu valor inferior ao de mercado. Nã o configurados o agir ilícito e o nexo de causalidade, inexistente dever dos apelados em indenizar os pretensos danos materiais e morais. Sentença de improcedência. REJEITARAM A PRELIMINAR E, NO MÉ RITO, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃ O. UNÂ NIME. (Apelaçã o Cível Nº 70066093758, Vigésima Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em 04/10/2017). Ementa: DIREITO PRIVADO NÃ O ESPECIFICADO. APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MATERIAIS E MORAIS, CUMULADA REPETIÇÃ O DO INDÉ BITO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO. ART. 18 DO CDC. VEÍCULO. CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR. Versando o caso sub judice sobre relaçã o de consumo, a responsabilidade pelo vício do produto, prevista no art. 18 do Có digo de Defesa do Consumidor, conforme entendimento doutriná rio, é objetiva e solidá ria em relaçã o ao fornecedor e ao fabricante. Caso em que nã o se mostra possível responsabilizar o fabricante e o fornecedor, pois a perícia técnica atestou que a causa do problema no motor foi a má instalaçã o do sistema de refrigeraçã o/aquecimento feita em oficina nã o autorizada e com componentes nã o originais, fato que, também, acarretou a perda da garantia contratual. Nessas condiçõ es, nã o há falar em de vício de fabricaçã o do veículo, mas problema posterior causado por culpa exclusiva do consumidor. Apelaçã o desprovida. (Apelaçã o Cível Nº 70074523085, Décima Nona Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Voltaire de Lima Moraes, Julgado em 28/09/2017). Do que tratam as decisõ es acima e que é aplicá vel ao presente processo é a conduta do comprador. O Réu repassou o veículo em totais condiçõ es, inclusive atestado pelo autor no momento da compra, vez que este testou o veículo, rodou com ele por 05 (cinco) meses e o fato de nã o ter tido parecer de um mecâ nico de sua confiança é de sua responsabilidade, sendo que nada de anormal foi percebido no funcionamento do mesmo. Assim, cabe salientar que a culpa exclusiva da vítima, no caso por negligência em nã o realizar as manutençõ es necessá rias, deve ser imputada somente a esta, que deve arcar com as consequências daí decorrentes. Mais uma vez, necessá ria se faz a referência ao Có digo de Defesa do Consumidor que prevê em seu artigo 26, inciso II o prazo de garantia de três meses para vícios do produto, contados a partir da entrega, para que fique claro que o vendedor agiu dentro do que lhe impõ e a legislaçã o. Assim postula-se a improcedência do pedido de reparaçã o material. DA RESCISÃO CONTRATUAL Excelência, apesar de toda situaçã o relatada, nã o podemos concordar com o pedido de rompimento da relaçã o contratual formulado pela parte autora, vez que os problemas alegados é algo comum e inerente a veículos automotores usados e o rompimento certamente traria prejuízos financeiros maiores a parte ré, pequeno comerciante. Além disso, no direito contratual, vige o princípio da livre manifestaçã o de vontade entre as partes, assim o interesse é algo determinante para qualquer pacto entre duas ou mais partes. No momento da compra os interesses convergiram, porém neste momento, o réu prestou toda a assistência ao autor estipulada em contrato e nã o pode mais suportar qualquer prejuízo que nã o foi causado por conduta sua. Com base no que foi dito acima, nã o basta a mera insatisfaçã o para que haja o rompimento de uma relaçã o contratual, é preciso que haja um efetivo descumprimento de alguma obrigaçã o assumida. Assim, nã o podemos concordar com o pedido de rescisã o contratual. DA AUSÊNCIA DE DANO MORAL A parte autora menciona ter sofrido abalo moral, ao ponto de querer que seja deferida a seu favor a título de indenizaçã o a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Urge destacar que a jurisprudência utilizada pelo autor para fundamentar o quantum indenizató rio nã o se aplica no presente caso, isto porque, lá se tratasse de atraso na entrega de veículo a ser utilizado como sustento pró prio, no presente caso, nã o ocorreu nenhum atrasado por parte da Ré. Excelência, nas liçõ es doutriná rias e decisõ es jurisprudenciais recentes, nota-se que o dano moral, para que se configure deve ocorrer em proporçã o gravosa e que realmente seja capaz de causar algum abalo a quem o sofreu. No caso em tela, apesar do relato do autor, sobre o veículo ter tido defeito no motor como apontado no laudo realizado, constitui-se essa situaçã o como mero dissabor do cotidiano, ou seja, qualquer pessoa que dirija um carro modelo 2002/2003 está sujeita a tal situaçã o, com qualquer veículo, diga-se de passagem. Sim a propensã o é mais alta a ocorrer com um carro com mais tempo de uso, mas problemas mecâ nicos podem ocorrer em qualquer veículo. Assim, seguindo a teoria do risco, ao adentrar em um veículo, o condutor e seus passageiros estã o cientes de que estã o sujeitos a falhas mecâ nicas e até mesmo acidentes de maior potencial lesivo e nã o há como alegar abalo moral nessa situaçã o de mero dissabor ou nã o contentamento. O réu, de forma alguma, poderia saber que tal situaçã o se passaria com o veículo, assim, nã o sendo possível que lhe seja imputada culpa por tal acontecimento, até porque, só teve conhecimento dos problemas relatados com a presente demanda ajuizada. Com o intuito de traduzir o entendimento dos Tribunais Superiores quanto a este tipo de reparaçã o colacionam-se as seguintes decisõ es: Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃ O DE REPARAÇÃ O DE DANOS. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. MANIFESTAÇÃ O DE PROBLEMAS MECÂ NICOS E ELÉ TRICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 12 ANOS DE USO. DESGASTE NATURAL DO BEM. AUSÊ NCIA DE RESPONSABILIDADE DO VENDEDOR. INEXISTÊ NCIA DE PROVA DA EXISTÊ NCIA DE VÍCIO OCULTO. AUTOR QUE NÃ O ADOTOU AS DEVIDAS CAUTELAS QUANDO DA AQUISIÇÃ O. RECURSO PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007102072, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luís Francisco Franco, Julgado em 28/09/2017). Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃ O INDENIZATÓ RIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. VALOR ABAIXO DO PREÇO DE MERCADO DO AUTOMÓ VEL MANIFESTAÇÃ O DE PROBLEMAS MECÂ NICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 20 ANOS DE USO E 250.000 KM RODADOS. DESGASTE NATURAL DO BEM. AUSÊ NCIA DE VÍCIO OCULTO. AUTORA QUE NÃ O ADOTOU AS DEVIDAS CAUTELAS QUANDO DA AQUISIÇÃ O. DANO MATERIAL E MORAL INOCORRENTE. SENTENÇA MANTIDA. A autora postulou a indenizaçã o por danos materiais em decorrência de gastos com reparos em veículo usado adquirido da ré. Requereu, ainda, indenizaçã o a titulo de danos morais, em face do ocorrido. Com efeito, tratando-se de veículo usado, deveria ter a autora se certificado das exatas condiçõ es do bem, inclusive com vistoria minuciosa, antes da compra. O adquirente de carro usado deve contar com a possibilidade de eventuais manutençõ es e reparos, decorrentes do uso e desgastes normais. Danos materiais e morais inocorrentes. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007071061, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana Clá udia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em 13/09/2017). O que se pretende esclarecer é que a compra de um veículo usado, está sujeita à que o carro apresente problemas em caso de inexistência de manutençã o por parte de quem o utiliza, isso é uma situaçã o normal para qualquer bem de uso durá vel. Assim, em nenhum momento se pode imputar tal responsabilidade ao vendedor, quanto mais a título de danos morais. Nã o se trata aqui de abalo moral in re ipsa e sim de abalo que deve ser minimamente comprovado, nã o apenas relatado e, além disso, nã o se vislumbra qualquer possibilidade de imputar culpa ao réu pelo incô modo sofrido. Assim, postula-se a improcedência do pedido de indenizaçã o a título de danos morais. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA É cediço que a produçã o de provas é fator central para a soluçã o do litígio, pois capaz de demonstrar os fatos alegados pelas partes, amparando as pretensõ es colocadas pelas partes. O Có digo de Processo Civil em seu artigo 373, distribui o ô nus da prova a partir da posiçã o processual em que a parte se encontra: Art. 373. O ô nus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Nota-se que à quele que interessa sejam reconhecidos como verdadeiros os fatos alegados, incumbe provar suas afirmaçõ es. A parte Autora reclama seja declarada, em seu favor, a inversã o do ô nus da prova com base nas regras de proteçã o ao consumidor. O Có digo de Defesa do Consumidor em seu artigo 6º, VIII, determina a inversã o do ô nus da prova para facilitar a defesa do consumidor em juízo desde que, a critério do juiz, sejam identificadas a verossimilhança e a hipossuficiência do consumidor. Portanto, a inversã o do ô nus nã o é inerente aos processos que envolvem relaçõ es de consumo, tão pouco obrigatória, especialmente em casos como o dos autos. Humberto Theodoro Junior, em valiosa liçã o, ressalta ser inconcebível que a “inversã o do ô nus da prova, quando autorizada por lei, seja utilizada como instrumento de transferência para o réu do encargo da prova de fato argü ido pela parte autora que se revela, intrinsecamente, insuscetível de prova.” Nesse sentido, a jurisprudência se assenta: EMENTA: AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O. APELAÇÃ O ADESIVA. CORRELAÇÃ O COM A MATÉ RIA TRATADA NO APELO PRINCIPAL. INEXIGÊ NCIA. INOVAÇÃ O RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. INVERSÃ O DO Ô NUS DA PROVA. PRESSUPOSTOS NÃ O VERIFICADOS. DEMORA NO CONSERTO DO VEÍCULO. ILÍCITO NÃ O DEMONSTRADO. RESTITUIÇÃ O DA QUANTIA PAGA. IMPOSSIBILIDADE. DANO MORAL NÃ O CONFIGURADO. (...) Ainda que se trate de relaçã o consumerista, a inversã o do ô nus da prova nã o é automá tica, ou seja, condiciona-se à verossimilhança das alegaçõ es do consumidor ou à sua hipossuficiência com relaçã o à produçã o da prova. Compete à parte autora comprovar a prá tica de ato ilícito capaz de ensejar a reparaçã o de eventuais danos sofridos (art. 333, I do CPC). APELAÇÃ O CÍVEL Nº 1.0313.11.012278-2/002 - COMARCA DE IPATINGA - APTE (S) ADESIV: SÉ RGIO KOGI EDAMURA - 1º APELANTE: FOCO AUTOMOVEIS LTDA - 2º APELANTE: FORD MOTOR COMPANY BRASIL LTDA - APELADO (A)(S): FOCO AUTOMOVEIS LTDA, FORD MOTOR COMPANY BRASIL LTDA, SÉ RGIO KOGI EDAMURA (TJMG/ Apelaçã o Cível 1.0313.11.012278-2/002/ Relator: Des. Manoel dos Reis Morais/Data do julgamento: 29/11/2016/Data da publicaçã o: 16/12/2016) O contrá rio seria, sob o pretexto de garantir a materializaçã o da igualdade formal das partes, impor um ô nus impossível de se suportar. A decretaçã o de inversã o do ô nus como critério de julgamento em casos como o dos autos certamente surpreenderá a parte que aduz decisivamente sua impossibilidade de produzir a prova diabó lica e suprimirá a defesa. Por isso, acertadamente tem se expressado, no que tange aos pedidos indiscriminados e inadvertidos, a inadmissibilidade da inversã o do ô nus, reconhecendo-se a impossibilidade de que se atribua à fornecedora o dever de produçã o de prova negativa. Desta forma, o Réu contesta o pedido de inversã o do ô nus da prova, que nã o encontra esteio legal, devendo ser atendido o preceito contido no art. 373, inciso I do CPC, bem como o artigo 6º, VII, da Lei 8.078/90, sob pena de ferir o princípio da isonomia entre as partes. Por fim, o Réu pretende prova o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito, especialmente pela oitiva de testemunhas, juntada de documentos, e tudo o quanto se fizer necessá rio à cabal instruçã o do feito. DIANTE DO EXPOSTO, REQUER A PARTE RÉ: a) Seja recebida a presente contestaçã o; b) Seja acolhida a preliminar de indevida concessã o da justiça gratuita por este Douto Juízo, nos termos do artigo 337, inciso XXII do CPC; c) Seja acolhida a preliminar de incompetência deste Juízo em razã o da complexidade da causa e/ou domicilio do Réu, devendo o caso ser extinto em sua relaçã o, sem resoluçã o do mérito, nos termos dos artigos 485, inciso VI e 337, inciso XI, ambos do CPC; d) Caso a preliminar de concessã o de gratuidade da justiça conforme mencionada acima nã o seja acolhida, requer a juntada da declaraçã o de renda do autor, para se verificar se este é carecedor da benesse pleiteada; e) Requer seja a presente julgada totalmente improcedente os pleitos iniciais, e, de qualquer forma, com as cominaçõ es de praxes, em vista da excludente de responsabilidade da parte Ré, especialmente quanto a reparaçã o civil e, indenizaçã o por danos materiais e morais; f) Seja mantida a relaçã o contratual anteriormente firmada; g) Requer seja indeferida o pedido de conversã o de ô nus da prova, vez que cabe ao Autor provar todo o alegado; h) Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, em especial documental e pericial médico, para constar possíveis sequelas do autor, conforme alegado; i) Requer que todas as intimaçõ es sejam publicadas com EXCLUSIVIDADE, em nome da Advogado Sarah Gabriela Sampaio Moreira de Catrilho, OAB sob o nº 90.713, sob pena de serem considerados nulos os atos praticados, nos termos do art. 277, § 2 do CPC. Termos em que, pede e aguarda deferimento. Local..., 26 de janeiro de 2022. Advogada... OAB/...