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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO

JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ...


Autos nº ...
Réu..., CNPJ: ..., com sede na Rua ..., que lhe move ZAQUEL MORAES PEDROZO,
brasileiro, solteiro, garçom, portador da cédula de identidade nº ..., inscrito no CPF
sob nº ..., residente e domiciliado na Rua ..., vêm através de sua advogada que esta
subscreve, respeitosamente, perante a Vossa Excelência, com fundamento no
artigo 300 e seguintes do Có digo de Processo Civil, apresentar CONTESTAÇÃO á
AÇÃ O DECLARATÓ RIA DE RESOLUÇÃ O DE CONTRATUAL C/ RESTITUIÇÃ O DE
VALORES E C/C INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS, o que faz com fundamento
nas razõ es de fato e de direito a seguir aduzidas:
DA TEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO
De acordo com a norma do juizado especial civil, a contestaçã o poderá ser
apresentada até a data da audiência de instruçã o e julgamento.
Portanto, tempestiva a presente contestaçã o.
DA JUSTIÇA GRATUITA
O Réu nã o possui meios de arcar com as custas judiciais sem prejuízo pró prio e de
sua família, razã o pela qual necessita da concessã o dos benefícios da assistência
judiciá ria gratuita, nos termos da Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do
novo CPC/2015, verbis:
“Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.”
Portanto, requer a concessã o da justiça gratuita.
DOS FATOS
O Autor alega que na data de 17 de janeiro de 2021 adquiriu do Réu um veículo
VW POLO 16V, placa DWG-6G76, ano 2002/2003, no valor de R$ 14.000,00
(quatorze mil reais), sendo dado como entrada do negó cio o valor em espécie de
R$ 1.000,00 (um mil reais), e entregue o veículo Corsa Sedan, Placa MBH 6198, ano
2000, avaliado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), financiando o valor remanescente,
em 48 parcelas de R$ 469,14 (quatrocentos e sessenta e nove e quatorze centavos).
Alega ainda que, o Réu afirmou ao Autor que o veículo estava em “perfeitas
condiçõ es”, visto que os mecâ nicos que prestam serviços para o Réu, haviam feito
uma revisã o no mesmo.
Ocorre que, apó s 05 (cinco) meses de uso, o Autor alega que o veículo ano
2002/2003 começou apresentar problemas, como barulho no motor e mistura de
á gua no ó leo do motor.
Por fim, juntou laudo pericial com uma série de problemas encontrado no veículo,
totalizando o valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais), razã o esta que
pleiteia danos materiais sofridos, rescisã o contratual e danos morais.
Diante disso, alega que ao procurar o Réu para a devida assistência, foi lhe negada
com a justificativa de ter decorrido o prazo de garantia do veículo.
DAS PRELIMINARES DA CONTESTAÇÃO
Da concessão indevida da justiça gratuita
Pelo que se depreende das documentaçõ es juntada à inicial, o Autor apenas
requereu o seu pedido de gratuidade da justiça na inicial, juntando tã o somente 1
(um) holetire salarial.
Ocorre que o requerimento gera presunçã o relativa acerca da necessidade da AJG,
cabendo ao Réu contestar e ao Julgador verificar outros elementos para decidir
acerca do cabimento do benefício.
Os tribunais vêm sendo unanimes quanto o entendimento para a concessã o do
beneficio da gratuidade judicial, devendo o Autor comprovar a sua insuficiência
através dos 03 ú ltimos contracheques, ú ltimas 03 declaraçõ es de imposto de
renda, além dos extratos bancá rios a fim de comprovar que o Autor nã o recebe
mais nada além da verba salarial.
No presente caso, nã o há até o momento provas rígidas de que o Autor nã o tem
condiçõ es de pagar as custas, e as meras alegaçõ es de sua necessidade nã o sã o
provas contundentes para deferimento da AJG, assim, que seja o autor intimado a
juntar nos autos declaraçã o do seu ú ltimo imposto de renda, ou, quaisquer outros
documentos que comprovem ser merecedor do deferimento desta benesse, para
verificar se de fato é hipossuficiente.
Desta forma, preliminarmente requer que seja indeferido o benefício da justiça
gratuita a ser apreciado por este Douto Juízo, uma vez, por ser medida de direito, e
com o intuito de nã o banalizar o instituto.
Da preliminar de incompetência
Conforme anteriormente exposto, o Autor pleiteia indenizaçã o, resultante de vício
redibitó rio existente no veículo por ele adquirido. Como é de curial saber, a regra
geral contida no art. 94, do Digesto Processual Civil, determina que o foro
competente para o processamento da açã o deve ser o do domicílio do réu.
Ocorre que, o açã o foi ajuizada na Comarca de Curitiba, quando na verdade o Réu
reside em Uniã o da Vitó ria.
Por outro lado, sem a presença de representante do Réu, o Autor realizou laudo
técnico veículo com a empresa Maxlaudo, onde constatou uma série de itens que
precisam ser trocados, cujo o montante atinge o valor de R$ 7.500,00 (sete mil e
quinhentos reais).
Ora, antes de efetuar a compra de um veículo usado, compete ao comprador,
proceder à verificaçã o mediante inspeçã o física e ocular através de mecâ nico de
sua confiança ou empresas aptas ao mercado a fazer tais verificaçõ es para nã o ser
surpreendido.
Assim, como nã o há prova documental de garantia quanto à qualidade do veículo
usado vendido, nã o se pode imputar para a ré os defeitos alegados pelo autor.
Desse modo, a jurisprudência atual corrobora com o entendimento de que se
ausente um laudo comprovando o estado que o veículo se encontra no momento
de sua venda, é responsabilidade do comprador proceder com à verificaçã o. Senã o
vejamos:
BEM MÓ VEL VEÍCULO AUTOMOTOR AUTOMÓ VEL USADO - VENDEDOR - VÍCIO
REDIBITÓ RIO PROVA DE GARANTIA INEXISTÊ NCIA RESCISÃ O DA VENDA E
COMPRA RESSSARCIMENTO DE CONSERTO. Compete ao comprador, antes de
efetuar a compra de um veículo usado, proceder à verificaçã o mediante a inspeçã o
física e ocular e/ou através de mecâ nico de sua confiança, para nã o ser
surpreendido por defeitos ocultos inerentes a veículo usado. Recurso improvido.
(TJ-SP - APL: 108021620098260625 SP 0010802-16.2009.8.26.0625, Relator:
Cló vis Castelo, Data de Julgamento: 29/08/2011, 35ª Câ mara de Direito Privado,
Data de Publicaçã o: 03/09/2011).
E ainda:
RECURSO INOMINADO. AÇÃ O DE REPARAÇÃ O DE DANOS MATERIAIS E MORAIS.
COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO (APROXIMADAMENTE TRÊ S ANOS DE
USO). PROBLEMAS NO FUNCIONAMENTO. REEMBOLSO DE GASTOS PARA
CONSERTO. INVIABILIDADE. RISCO INERENTE À COMPRA. DESGASTE NATURAL
DO BEM. CONTRATO COM GARANTIA INEXISTENTE. Ô NUS DO COMPRADOR DE
VERIFICAR A SITUAÇÃ O DO VEÍCULO, ANTES DA AQUISIÇÃ O. AUSÊ NCIA DE VÍCIO
OCULTO. RESPONSABILIDADE CIVIL NÃ O CONFIGURADA. SENTENÇA
CONFIRMADA. RECURSO DESPROVIDO. "O comprador, ao adquirir veículo usado,
deve ser diligente e verificar as reais condiçõ es do bem, tendo em vista o seu
natural desgaste diante do tempo de uso" (TJ-SC - RI: 03074637720168240045
Palhoça 0307463-77.2016.8.24.0045, Relator: Marcelo Pizolati, Data de
Julgamento: 14/03/2019, Primeira Turma de Recursos - Capital).
Pois bem, os problemas alegados pelo autor nã o sã o referentes as previstas na
garantia. Assim, ao adquirir o veículo, o autor já tinha prévia ciência de que seria
de sua responsabilidade eventuais itens a serem trocados nã o previsto na garantia
em caso de mau funcionamento.
Diante disso, trata-se de caso em espécie a ser realizado perícia técnica, de forma
imprescindível.
Desta forma, a perícia técnica, in casu, se mostra necessá ria para aferir de forma
segura nã o apenas a existência do vício oculto alegado pelo autor, mas
principalmente a causa do suposto defeito apresentado no bem adquirido.
A propó sito, vale conferir os seguintes julgados:
JUIZADOS ESPECIAIS. CONSUMIDOR. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS ACOLHIDA DE OFÍCIO. COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL
USADO. DEFEITO POSTERIOR EM ALGUNS COMPONENTES. NECESSIDADE DE
PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL PARA CONSTATAÇÃO DO MOTIVO DO DEFEITO
. RECURSO CONHECIDO. SENTENÇA CASSADA.1. A preexistência de defeito à compra
e venda do veículo nos amortecedores, nas lâmpadas e nos visores deve ser
comprovada através de prova pericial para apuração do defeito arguido pelo autor e
os verdadeiros motivos de sua causação. 2. Necessidade de perícia para o deslinde da
questão torna incompetente o Juizado Especial, nos moldes do artigo 3º da Lei
9.099/95. 3. Preliminar de incompetência dos Juizados Especiais acolhida de ofício.
Recurso conhecido. Sentença cassada diante da incompetência dos Juizados.
(Acórdão n.551841, 20110110895957ACJ, Relator: FLÁVIO FERNANDO ALMEIDA DA
FONSECA 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de
Julgamento: 22/11/2011, publicado no DJE: 01/12/2011. Pág. 278).
Assim, deverá este Douto Juízo reconhecer a sua incompetência relativa em razã o
da complexidade, devendo que seja a vertente açã o extinta sem resoluçã o do
mérito.
DO MÉRITO
Diferente do alegado na inicial, o Réu prestou assistência ao Autor apó s a compra
do bem, vez que o veículo apresentou problemas no freio e diante disso, o Réu deu
toda a assistência necessá ria.
E a fim de comprovar o acima exposto, requer a juntada da nota do freio do bem
que o Autor se prontificou a arcar com os custos para o concerto.
Apó s o ocorrido, o Autor nunca mais contatou o Réu para relatar problemas do
veículo, e, foi de grande surpresa o ajuizamento da presente açã o, bem como
estranheza todo o alegado na inicial.
Vossa Excelência, o veículo adquirido pelo Réu é um Polo ano 2002/2003, no valor
bem abaixo da tabela FIPE, justamente pela razã o de ser um carro além de antigo,
usado!
DA AUSÊNCIA DE DANO MATERIAL
Alega o Autor de que o réu negou prestar assistência para resoluçã o do problema,
bem como, requereu a restituiçã o dos valores pagos e danos.
É de clareza pú blica que um veículo com 20 (vinte) anos de fabricaçã o é normal
que apresente alguns desgastes e, que se faça necessá rio à sua manutençã o. Por
conta disso, a empresa ré já o vende bem abaixo do mercado.
Ora, ao assinar o contrato o autor já tinha conhecimento dos itens que estariam
cobertos pela garantia e, é de sua responsabilidade à verificaçã o e inspeçã o do
veículo, assim, o aceitou nas condiçõ es que ele se encontrava.
A jurisprudência de renomado Tribunal no Brasil tem entendimento de que é
diligência ordiná ria do comprador apurar a presença ou a ausência de defeitos que
prejudique a sua utilizaçã o. Senã o vejamos:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. VEÍCULO ANTIGO E USADO. DEFEITOS SUPERVENIENTES. DESPESAS
COM O CONSERTO. PRESUNÇÃO DE DESGASTE. PREVISÃO DE DESCONTO NO PREÇO
PARA A COBERTURA DE EVENTUAIS MANUTENÇÕES. PREQUESTIONAMENTO.
Tratando-se de veículo usado, que detinha, quando da compra, cerca de 14
(quatorze) anos de uso, é razoável presumir o desgaste das peças, impondo ao
comprador a diligência ordinária de apurar a presença ou a ausência de
defeito que prejudique a sua utilização ou o deprecie. As circunstâncias do caso
demonstram serem presumíveis os desgastes do veículo usado, e, considerando que o
desconto dado ao demandante para cobrir eventuais manutenções de que ele
pudesse necessitar não é superado pelo valor total de despesas comprovadas, não se
justifica a condenação pretendida na petição inicial. RECURSO DESPROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70057926560, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em 13/03/2014) (TJ-RS - AC:
70057926560 RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Data de Julgamento:
13/03/2014, Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do
dia
Ou seja, tratando-se de um veículo usado, que detêm, quando da compra, cerca de
20 (vinte) anos de uso, é razoá vel presumir que se faria necessá rio a troca de
vá rios itens, nã o incumbindo assim ao réu o ressarcimento ao autor do valor pago.
Ora, se assim nã o fosse, estaria o Réu obrigado a ressarssir e arcar com os custos
de todo problema que o veículo apresente até quando?
Salienta-se que na conduta do réu em nenhum momento pode ser identificada
alguma das condutas referidas pelo diploma legal, eis que, na unica vez procurado
pelo Autor, o Réu prestou assistência e ademais o réu estava agindo dentro da
legalidade, exercendo sua atividade de comerciante, sem qualquer interesse
obscuro de prejudicar um cliente. Assim, conclui-se que, efetivamente, nenhum ato
ilícito foi cometido, motivo pelo qual, nã o há que se falar em responsabilidade.
O artigo 927, do mesmo diploma legal, também é claro quanto ao instituto da
responsabilidade civil, referindo que:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará -lo. ”
Assim, nã o há a presença da ilicitude referida pela legislaçã o e que embasaria uma
pretensã o indenizató ria do autor contra o réu, pois, como já referido acima, o réu
estava praticando normalmente sua atividade de comerciante e o autor estava
procurando um veículo melhor para sua utilizaçã o. Foi um encontro de interesses e
nã o uma negociaçã o com o intuito de prejudicar a outra parte.
Ora, apesar do risco da atividade, nã o há como imputar mau uso ou inexistência de
manutençã o ao vendedor, pois, é notó rio e pú blico que um veículo usado necessita
de mais manutençã o do que um veículo novo e, neste ponto, necessá rio que
tenhamos cuidado em diferenciar o que é responsabilidade do vendedor, que em
nenhum momento, se eximiu desta e o que é responsabilidade do comprador no
que tange a realizar manutençõ es perió dicas e em oficina mecâ nica de confiança e
reconhecida qualidade nos serviços prestados, pois nã o podemos imputar a
alguém responsabilizaçã o por ato que nã o cometeu.
No sentido do que foi exposto acima, junta-se decisã o dos Tribunais Superiores:
Ementa: APELAÇÃ O CIVEL. AÇÃ O DE RESSARCIMENTO DE VALORES C/C
INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊ NCIA.
MANUTENÇÃ O. PRAZO DECADÊ NCIA DO ART. 26 DO CDC. INAPLICABILIDADE. No
caso, pretende a parte autora apenas reparaçã o civil de indenizaçã o por danos
morais e materiais, que alega ter sofrido. Inaplicá vel o disposto no art. 26 do CDC,
porquanto nã o postulado nenhum direito potestativo por vício do produto. Lapso
prescricional do art. 27 do CDC nã o implementado. Decadência nã o reconhecida.
MÉ RITO. Restou comprovado que o autor adquiriu o veículo que sabia ter tido o
motor reformado (conforme notas fiscais por ele mesmo juntadas, oriundas da
empresa Atalanta, em Cachoeirinha) sem tomar as precauçõ es e cautelas exigíveis
no negó cio, notadamente a realizaçã o de vistoria prévia à compra. Outrossim,
adimpliu valor inferior ao de mercado. Nã o configurados o agir ilícito e o nexo de
causalidade, inexistente dever dos apelados em indenizar os pretensos danos
materiais e morais. Sentença de improcedência. REJEITARAM A PRELIMINAR E,
NO MÉ RITO, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃ O. UNÂ NIME.
(Apelaçã o Cível Nº 70066093758, Vigésima Câ mara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em 04/10/2017).
Ementa: DIREITO PRIVADO NÃ O ESPECIFICADO. APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE
INDENIZAÇÃ O POR DANOS MATERIAIS E MORAIS, CUMULADA REPETIÇÃ O DO
INDÉ BITO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO
PRODUTO. ART. 18 DO CDC. VEÍCULO. CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR.
Versando o caso sub judice sobre relaçã o de consumo, a responsabilidade pelo
vício do produto, prevista no art. 18 do Có digo de Defesa do Consumidor, conforme
entendimento doutriná rio, é objetiva e solidá ria em relaçã o ao fornecedor e ao
fabricante. Caso em que nã o se mostra possível responsabilizar o fabricante e o
fornecedor, pois a perícia técnica atestou que a causa do problema no motor foi a
má instalaçã o do sistema de refrigeraçã o/aquecimento feita em oficina nã o
autorizada e com componentes nã o originais, fato que, também, acarretou a perda
da garantia contratual. Nessas condiçõ es, nã o há falar em de vício de fabricaçã o do
veículo, mas problema posterior causado por culpa exclusiva do consumidor.
Apelaçã o desprovida. (Apelaçã o Cível Nº 70074523085, Décima Nona Câ mara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Voltaire de Lima Moraes, Julgado em
28/09/2017).
Do que tratam as decisõ es acima e que é aplicá vel ao presente processo é a
conduta do comprador. O Réu repassou o veículo em totais condiçõ es, inclusive
atestado pelo autor no momento da compra, vez que este testou o veículo, rodou
com ele por 05 (cinco) meses e o fato de nã o ter tido parecer de um mecâ nico de
sua confiança é de sua responsabilidade, sendo que nada de anormal foi percebido
no funcionamento do mesmo. Assim, cabe salientar que a culpa exclusiva da vítima,
no caso por negligência em nã o realizar as manutençõ es necessá rias, deve ser
imputada somente a esta, que deve arcar com as consequências daí decorrentes.
Mais uma vez, necessá ria se faz a referência ao Có digo de Defesa do Consumidor
que prevê em seu artigo 26, inciso II o prazo de garantia de três meses para vícios
do produto, contados a partir da entrega, para que fique claro que o vendedor agiu
dentro do que lhe impõ e a legislaçã o.
Assim postula-se a improcedência do pedido de reparaçã o material.
DA RESCISÃO CONTRATUAL
Excelência, apesar de toda situaçã o relatada, nã o podemos concordar com o pedido
de rompimento da relaçã o contratual formulado pela parte autora, vez que os
problemas alegados é algo comum e inerente a veículos automotores usados e o
rompimento certamente traria prejuízos financeiros maiores a parte ré, pequeno
comerciante.
Além disso, no direito contratual, vige o princípio da livre manifestaçã o de vontade
entre as partes, assim o interesse é algo determinante para qualquer pacto entre
duas ou mais partes. No momento da compra os interesses convergiram, porém
neste momento, o réu prestou toda a assistência ao autor estipulada em contrato e
nã o pode mais suportar qualquer prejuízo que nã o foi causado por conduta sua.
Com base no que foi dito acima, nã o basta a mera insatisfaçã o para que haja o
rompimento de uma relaçã o contratual, é preciso que haja um efetivo
descumprimento de alguma obrigaçã o assumida.
Assim, nã o podemos concordar com o pedido de rescisã o contratual.
DA AUSÊNCIA DE DANO MORAL
A parte autora menciona ter sofrido abalo moral, ao ponto de querer que seja
deferida a seu favor a título de indenizaçã o a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).
Urge destacar que a jurisprudência utilizada pelo autor para fundamentar o
quantum indenizató rio nã o se aplica no presente caso, isto porque, lá se tratasse
de atraso na entrega de veículo a ser utilizado como sustento pró prio, no presente
caso, nã o ocorreu nenhum atrasado por parte da Ré.
Excelência, nas liçõ es doutriná rias e decisõ es jurisprudenciais recentes, nota-se
que o dano moral, para que se configure deve ocorrer em proporçã o gravosa e que
realmente seja capaz de causar algum abalo a quem o sofreu.
No caso em tela, apesar do relato do autor, sobre o veículo ter tido defeito no
motor como apontado no laudo realizado, constitui-se essa situaçã o como mero
dissabor do cotidiano, ou seja, qualquer pessoa que dirija um carro modelo
2002/2003 está sujeita a tal situaçã o, com qualquer veículo, diga-se de passagem.
Sim a propensã o é mais alta a ocorrer com um carro com mais tempo de uso, mas
problemas mecâ nicos podem ocorrer em qualquer veículo.
Assim, seguindo a teoria do risco, ao adentrar em um veículo, o condutor e seus
passageiros estã o cientes de que estã o sujeitos a falhas mecâ nicas e até mesmo
acidentes de maior potencial lesivo e nã o há como alegar abalo moral nessa
situaçã o de mero dissabor ou nã o contentamento.
O réu, de forma alguma, poderia saber que tal situaçã o se passaria com o veículo,
assim, nã o sendo possível que lhe seja imputada culpa por tal acontecimento, até
porque, só teve conhecimento dos problemas relatados com a presente demanda
ajuizada.
Com o intuito de traduzir o entendimento dos Tribunais Superiores quanto a este
tipo de reparaçã o colacionam-se as seguintes decisõ es:
Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃ O DE REPARAÇÃ O DE DANOS. COMPRA E
VENDA DE VEÍCULO USADO. MANIFESTAÇÃ O DE PROBLEMAS MECÂ NICOS E
ELÉ TRICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 12 ANOS DE USO. DESGASTE NATURAL DO
BEM. AUSÊ NCIA DE RESPONSABILIDADE DO VENDEDOR. INEXISTÊ NCIA DE
PROVA DA EXISTÊ NCIA DE VÍCIO OCULTO. AUTOR QUE NÃ O ADOTOU AS
DEVIDAS CAUTELAS QUANDO DA AQUISIÇÃ O. RECURSO PROVIDO. (Recurso Cível
Nº 71007102072, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luís
Francisco Franco, Julgado em 28/09/2017).
Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃ O INDENIZATÓ RIA POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. VALOR
ABAIXO DO PREÇO DE MERCADO DO AUTOMÓ VEL MANIFESTAÇÃ O DE
PROBLEMAS MECÂ NICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 20 ANOS DE USO E 250.000
KM RODADOS. DESGASTE NATURAL DO BEM. AUSÊ NCIA DE VÍCIO OCULTO.
AUTORA QUE NÃ O ADOTOU AS DEVIDAS CAUTELAS QUANDO DA AQUISIÇÃ O.
DANO MATERIAL E MORAL INOCORRENTE. SENTENÇA MANTIDA. A autora
postulou a indenizaçã o por danos materiais em decorrência de gastos com reparos
em veículo usado adquirido da ré. Requereu, ainda, indenizaçã o a titulo de danos
morais, em face do ocorrido. Com efeito, tratando-se de veículo usado, deveria ter a
autora se certificado das exatas condiçõ es do bem, inclusive com vistoria
minuciosa, antes da compra. O adquirente de carro usado deve contar com a
possibilidade de eventuais manutençõ es e reparos, decorrentes do uso e desgastes
normais. Danos materiais e morais inocorrentes. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso
Cível Nº 71007071061, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator:
Ana Clá udia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em 13/09/2017).
O que se pretende esclarecer é que a compra de um veículo usado, está sujeita à
que o carro apresente problemas em caso de inexistência de manutençã o por parte
de quem o utiliza, isso é uma situaçã o normal para qualquer bem de uso durá vel.
Assim, em nenhum momento se pode imputar tal responsabilidade ao vendedor,
quanto mais a título de danos morais.
Nã o se trata aqui de abalo moral in re ipsa e sim de abalo que deve ser
minimamente comprovado, nã o apenas relatado e, além disso, nã o se vislumbra
qualquer possibilidade de imputar culpa ao réu pelo incô modo sofrido.
Assim, postula-se a improcedência do pedido de indenizaçã o a título de danos
morais.
DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
É cediço que a produçã o de provas é fator central para a soluçã o do litígio, pois
capaz de demonstrar os fatos alegados pelas partes, amparando as pretensõ es
colocadas pelas partes.
O Có digo de Processo Civil em seu artigo 373, distribui o ô nus da prova a partir da
posiçã o processual em que a parte se encontra:
Art. 373. O ô nus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu
direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
Nota-se que à quele que interessa sejam reconhecidos como verdadeiros os fatos
alegados, incumbe provar suas afirmaçõ es. A parte Autora reclama seja declarada,
em seu favor, a inversã o do ô nus da prova com base nas regras de proteçã o ao
consumidor.
O Có digo de Defesa do Consumidor em seu artigo 6º, VIII, determina a inversã o do
ô nus da prova para facilitar a defesa do consumidor em juízo desde que, a critério
do juiz, sejam identificadas a verossimilhança e a hipossuficiência do consumidor.
Portanto, a inversã o do ô nus nã o é inerente aos processos que envolvem relaçõ es
de consumo, tão pouco obrigatória, especialmente em casos como o dos autos.
Humberto Theodoro Junior, em valiosa liçã o, ressalta ser inconcebível que a
“inversã o do ô nus da prova, quando autorizada por lei, seja utilizada como
instrumento de transferência para o réu do encargo da prova de fato argü ido pela
parte autora que se revela, intrinsecamente, insuscetível de prova.”
Nesse sentido, a jurisprudência se assenta:
EMENTA: AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O. APELAÇÃ O ADESIVA. CORRELAÇÃ O COM A
MATÉ RIA TRATADA NO APELO PRINCIPAL. INEXIGÊ NCIA. INOVAÇÃ O RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. INVERSÃ O DO Ô NUS DA PROVA. PRESSUPOSTOS NÃ O
VERIFICADOS. DEMORA NO CONSERTO DO VEÍCULO. ILÍCITO NÃ O
DEMONSTRADO. RESTITUIÇÃ O DA QUANTIA PAGA. IMPOSSIBILIDADE. DANO
MORAL NÃ O CONFIGURADO. (...) Ainda que se trate de relaçã o consumerista, a
inversã o do ô nus da prova nã o é automá tica, ou seja, condiciona-se à
verossimilhança das alegaçõ es do consumidor ou à sua hipossuficiência com
relaçã o à produçã o da prova. Compete à parte autora comprovar a prá tica de ato
ilícito capaz de ensejar a reparaçã o de eventuais danos sofridos (art. 333, I do
CPC). APELAÇÃ O CÍVEL Nº 1.0313.11.012278-2/002 - COMARCA DE IPATINGA -
APTE (S) ADESIV: SÉ RGIO KOGI EDAMURA - 1º APELANTE: FOCO AUTOMOVEIS
LTDA - 2º APELANTE: FORD MOTOR COMPANY BRASIL LTDA - APELADO (A)(S):
FOCO AUTOMOVEIS LTDA, FORD MOTOR COMPANY BRASIL LTDA, SÉ RGIO KOGI
EDAMURA (TJMG/ Apelaçã o Cível 1.0313.11.012278-2/002/ Relator: Des. Manoel
dos Reis Morais/Data do julgamento: 29/11/2016/Data da publicaçã o:
16/12/2016)
O contrá rio seria, sob o pretexto de garantir a materializaçã o da igualdade formal
das partes, impor um ô nus impossível de se suportar. A decretaçã o de inversã o do
ô nus como critério de julgamento em casos como o dos autos certamente
surpreenderá a parte que aduz decisivamente sua impossibilidade de produzir a
prova diabó lica e suprimirá a defesa.
Por isso, acertadamente tem se expressado, no que tange aos pedidos
indiscriminados e inadvertidos, a inadmissibilidade da inversã o do ô nus,
reconhecendo-se a impossibilidade de que se atribua à fornecedora o dever de
produçã o de prova negativa.
Desta forma, o Réu contesta o pedido de inversã o do ô nus da prova, que nã o
encontra esteio legal, devendo ser atendido o preceito contido no art. 373, inciso I
do CPC, bem como o artigo 6º, VII, da Lei 8.078/90, sob pena de ferir o princípio da
isonomia entre as partes.
Por fim, o Réu pretende prova o alegado por todos os meios de provas admitidos
em direito, especialmente pela oitiva de testemunhas, juntada de documentos, e
tudo o quanto se fizer necessá rio à cabal instruçã o do feito.
DIANTE DO EXPOSTO, REQUER A PARTE RÉ:
a) Seja recebida a presente contestaçã o;
b) Seja acolhida a preliminar de indevida concessã o da justiça gratuita por este
Douto Juízo, nos termos do artigo 337, inciso XXII do CPC;
c) Seja acolhida a preliminar de incompetência deste Juízo em razã o da
complexidade da causa e/ou domicilio do Réu, devendo o caso ser extinto em sua
relaçã o, sem resoluçã o do mérito, nos termos dos artigos 485, inciso VI e 337,
inciso XI, ambos do CPC;
d) Caso a preliminar de concessã o de gratuidade da justiça conforme mencionada
acima nã o seja acolhida, requer a juntada da declaraçã o de renda do autor, para se
verificar se este é carecedor da benesse pleiteada;
e) Requer seja a presente julgada totalmente improcedente os pleitos iniciais, e, de
qualquer forma, com as cominaçõ es de praxes, em vista da excludente de
responsabilidade da parte Ré, especialmente quanto a reparaçã o civil e,
indenizaçã o por danos materiais e morais;
f) Seja mantida a relaçã o contratual anteriormente firmada;
g) Requer seja indeferida o pedido de conversã o de ô nus da prova, vez que cabe ao
Autor provar todo o alegado;
h) Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, em
especial documental e pericial médico, para constar possíveis sequelas do autor,
conforme alegado;
i) Requer que todas as intimaçõ es sejam publicadas com EXCLUSIVIDADE, em
nome da Advogado Sarah Gabriela Sampaio Moreira de Catrilho, OAB sob o nº
90.713, sob pena de serem considerados nulos os atos praticados, nos termos do
art. 277, § 2 do CPC.
Termos em que, pede e aguarda deferimento.
Local..., 26 de janeiro de 2022.
Advogada...
OAB/...

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