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5 de Fevereiro de 2019

[Modelo] Contestação - Venda de Automóvel

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE


DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE
__________/RS

Processo nº 000-0.0.0.00.00. CONTESTAÇÃO.

FULANO, já qualificado na petição inicial, representado por seu advogado


signatário, respeitosamente, vem a Vossa Excelência, apresentar

CONTESTAÇÃO,

nos autos da ação que lhe move BELTRANO, pelos fatos e fundamentos
que passa a expor:

I – PRELIMINARMENTE

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Em relação ao pedido de inversão do ônus da prova, devemos analisar o


que dispõe efetivamente o Código de Defesa do Consumidor.

O artigo 6º do referido diploma legal, em seu inciso VIII, prevê, in verbis:


“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as
regras ordinárias de experiências;”

Assim, diferente do que postula a parte autora não basta o mero


requerimento para inversão do ônus da prova, devendo seu deferimento,
estar baseado na dificuldade probatória do consumidor, na sua
hipossuficiência ou na verossimilhança de suas alegações, o que não é o
caso, conforme ficará demonstrado abaixo.

Dessa forma, exige-se que o réu comprove minimamente ter direito ao que
alega, no caso ora em discussão, o nexo causal e o dano efetivamente
sofrido.

DA JUSTIÇA GRATUITA

Em que pese a qualificação como comerciante o réu mantém um pequeno


negócio de revenda de (atividade) e, assim, não possui condições de arcar
com as despesas processuais sem prejuízo de seu sustento e de sua família,
pelo que requer lhe seja concedido o benefício da gratuidade da justiça,
conforme declaração firmada, eis que, a crise financeira que abala a
economia, se abateu também sobre os negócios deste.

II – BREVE SÍNTESE DA LIDE

De acordo com o relato da inicial, autor e réu celebraram contrato de


compra e venda de automóvel e reboque, conhecido popularmente por
“carretão”, tendo sido apregoado o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais)
pelo automóvel (marca) (modelo) e R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos
reais) pelo reboque.

Frustrada com a compra realizada a parte autora requer o desfazimento do


negócio, a consequente devolução dos valores já pagos, devolução do
veículo dado em pagamento e indenização por danos morais.
Feita a breve síntese passa-se a análise do mérito.

III – DOS FATOS

Data venia, alguns pontos relatados pelo autor não condizem com a
realidade fática e precisam ser contraditados e esclarecidos.

Vejamos: o autor procurou o réu com objetivo de trocar o seu veículo por
outro. O autor era proprietário de um (marca/modelo) e o trocou por um
(marca) (modelo), comercializado pelo réu, mas de propriedade de terceiro,
ambos os veículos já individualizados na inicial.

Pois bem, o valor cobrado pelo (marca) (modelo) foi de R$ 16.500


(dezesseis mil e quinhentos reais), enquanto o carro do autor foi avaliado
em R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais). Posteriormente o autor
demonstrou interesse na aquisição de um reboque que estava exposto no
pátio do estabelecimento do réu. O valor cobrado pelo reboque foi de R$
4.000,00 (quatro mil reais). Detalhe, o mesmo nunca havia sido utilizado.
A fábrica o havia deixado para exposição, em comodato entre o réu e o
fabricante.

Demonstrado o interesse do autor na compra o réu prontificou-se a vender


o dito reboque pelo valor referido acima. A compra totalizou o valor de R$
20.500,00 (vinte mil e quinhentos reais). Destaque-se que, apesar dos
valores de “tabela FIPE” juntados pelo autor, é faculdade do vendedor
estabelecer o preço de seu produto, desde que este encontre um comprador
disposto a pagá-lo de livre e espontânea vontade, como no caso em tela,
sem que isso caracterize qualquer violação legal.

Além do preço combinado, o réu, por mera permissão e, considerando a


amizade até então existente entre as partes deixou que o autor retirasse
acessórios de seu veículo e instalasse no veículo que estava adquirindo, tais
como, rádio automotivo e bateria.

Ressalta-se que o automóvel (marca) (modelo) foi repassado ao autor em


boas condições, tanto estéticas, quanto mecânicas.
O preço combinado foi pago da seguinte forma: R$ 11.000 (onze mil reais)
em dinheiro, mediante depósito bancário, conforme documento juntado
pelo autor. Destaque-se que desse valor, R$ 10.000 (dez mil reais) foram
repassados como pagamento pelo veículo e reboque, sendo R$4.000,00
(quatro mil reais) pelo reboque e R$6.000,00 (seis mil reais) a título de
entrada pelo veículo. Os R$ 1.000,00 (mil reais) restantes foram
repassados para custear as despesas de transferência do registro de
propriedade e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores –
IPVA e licenciamento do exercício 2017.

Do valor total da negociação: R$ 20.500 (vinte mil e quinhentos reais),


restou ao autor pagar R$ 6.000 (seis mil reais), eis que subtraídos deste
valor os R$ 10.000 (dez mil reais) pagos em dinheiro e os R$ 4.500,00
(quatro mil e quinhentos reais) da avaliação do carro do autor.

Este valor residual foi dividido em 18 (dezoito) parcelas de R$ 390,00


(trezentos e noventa reais) mensais e consecutivas pelo que o autor assinou
as notas promissórias referidas no pedido inicial, que dizem respeito ao
veículo e não ao reboque.

Importante salientar que a taxa de juros aplicada pelo vendedor foi de


1,71% (um vírgula setenta e um por cento) ao mês, taxa menor do que as
praticadas costumeiramente por financeiras ou instituições bancárias.

Em suma, este é o contrato verbal firmado entre as partes, este é o relato


fidedigno da negociação realizada.

O contrato de compra e venda que o autor refere ter assinado e não ter
recebido cópia, foi firmado com valor menor do que o estabelecido, visto
que não inclui o valor da comissão do vendedor, pois o carro era de
propriedade de terceiro. O instrumento firmado serviu exclusivamente para
que o autor pudesse conseguir comprar o veículo utilizando-se de crédito
concedido pelo próprio réu. Tanto que o documento foi firmado em apenas
uma via, que ficou retida junto ao DETRAN/RS para registro do gravame e,
por isso, o réu não apresentou cópia do contrato antes, pois teve que
solicitar a mesma ao órgão de trânsito, o que comprova-se pela juntada do
recibo de emolumentos.
O valor do contrato não condiz com o pactuado, sendo este de R$
13.020,00 (treze mil e vinte reais), referindo que o autor pagou R$
6.000,00 (seis mil reais) como entrada e parcelaria o saldo em 18 (dezoito)
vezes de R$ 390,00 (trezentos e noventa reais), conforme já informado, a
diferença se dá em razão do valor da comissão que não foi acrescido ao
contrato.

Lembrando, o vendedor, ora réu, concordou com essa condição para que o
comprador, ora autor, pudesse adquirir o veículo, na intenção de auxiliar
este numa conquista pessoal, através da aquisição de um carro mais
confortável.

A cláusula de reserva de domínio referida, ou alienação fiduciária,


realmente foi registrada no documento do veículo, considerando o saldo a
ser pago, para que o vendedor tivesse algum resguardo em caso de não
pagamento por parte do comprador, o que efetivamente ocorreu, visto que
das 18 (dezoito) notas promissórias assinadas o autor pagou apenas 3
(três), restando 15 (quinze) prestações no valor de R$ 390,00 (trezentos e
noventa reais) cada a serem adimplidas, totalizando R$ 5.850,00 (cinco mil
oitocentos e cinquenta reais).

Assim, em que pese as alegações da inicial, o autor descumpriu obrigação


assumida e está em mora quanto ao pagamento do valor financiado
diretamente com o réu, pelo que, desde já requer-se a regularização dos
pagamentos, sob pena de atualização dos valores, multa de mora e juros
legais.

Note-se que toda relação foi transparente e de forma amigável entre as


partes e que em nenhum momento o réu agiu com o intuito de prejudicar o
autor, diferente do que foi alegado pelo autor em suas colocações.

IV – DO REBOQUE

Quanto ao reboque adquirido e acima referido, o autor alega que não


conseguiu regularizar a situação deste junto ao DETRAN/RS, sendo o
motivo um erro na gravação do número do chassi e o mesmo não possuir
nota fiscal.
Excelência, o que realmente ocorreu foi o seguinte: o autor comprou o
reboque e no momento da compra, não tinha condições financeiras de
emplacá-lo e habilitá-lo ao trânsito e por isso o réu não entregou a nota
fiscal, por desleixo do autor, vez que o réu ofereceu a nota fiscal do produto
e, por opção sua, o autor não quis que a mesma fosse emitida. Em nenhum
momento o vendedor negou-se a entregar tal documento.

Quanto ao erro de registro, o mesmo refere-se ao número do chassi, pois


com o número gravado o reboque deveria ter sido emplacado em trinta
dias, sob pena de caducidade do dito registro feito pela fábrica,
necessitando que um novo número fosse gerado e gravado. Nada que não
seja de fácil resolução e que o vendedor não tenha oferecido ao comprador.

Não bastasse este transtorno, o réu soube e inclusive viu o autor


transitando com seu carro com o reboque acoplado. Sim, apesar da
alegação de que o autor está “sem veículo algum” para se locomover, o
mesmo é visto transitando com um veículo (marca/modelo) e o reboque ora
em comento.

Essa situação deixa transparecer, e mais, comprova a má-fé do comprador,


pois o vendedor soube por terceiros que o comprador está fazendo de tudo
para que seja parado pelas autoridades de trânsito e que o “carretão” seja
recolhido ao depósito por não estar apto a rodar, com o único intuito de
vingar-se do réu e causar mais transtorno a este em caso de julgamento de
procedência desta demanda.

V – DA RESPONSABILIDADE CIVIL

O autor fundamenta seu pedido de reparação com base na responsabilidade


civil.

Data venia, o pedido não merece prosperar, pois o Código Civil em seu
artigo 186 define ato ilícito como, in verbis:

“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,


violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.”
Salienta-se que na conduta do réu em nenhum momento pode ser
identificada alguma das condutas referidas pelo diploma legal, eis que, em
todo momento este prestou assistência ao autor, conforme relatado por ele
na exordial e ademais o réu estava agindo dentro da legalidade, exercendo
sua atividade de comerciante, sem qualquer interesse obscuro de prejudicar
um cliente. Assim, conclui-se que, efetivamente, nenhum ato ilícito foi
cometido, motivo pelo qual, não há que se falar em responsabilidade.

O artigo 927, do mesmo diploma legal, também é claro quanto ao instituto


da responsabilidade civil, referindo que:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.”

Assim, não há a presença da ilicitude referida pela legislação e que


embasaria um pretensão indenizatória do autor contra o réu, pois, como já
referido acima, o réu estava praticando normalmente sua atividade de
comerciante e o autor estava procurando um veículo melhor para sua
utilização. Foi um encontro de interesses e não uma negociação com o
intuito de prejudicar a outra parte.

Mais uma vez, necessária se faz a referência ao Código de Defesa do


Consumidor que prevê em seu artigo 26, inciso II o prazo de garantia de
três meses para vícios do produto, contados a partir da entrega, para que
fique claro que o vendedor agiu dentro do que lhe impõe a legislação.

Junta-se comprovantes de que as manutenções referidas pelo autor foram


realizadas de forma efetiva e que o veículo saiu da oficina em perfeito
estado de funcionamento, da mesma forma que foi entregue no momento
da compra.

Ora, apesar do risco da atividade, não há como imputar mau uso ou


inexistência de manutenção ao vendedor, pois, é notório e público que um
veículo usado necessita de mais manutenção do que um veículo novo e,
neste ponto, necessário que tenhamos cuidado em diferenciar o que é
responsabilidade do vendedor, que em nenhum momento, se eximiu desta
e o que é responsabilidade do comprador no que tange a realizar
manutenções periódicas e em oficina mecânica de confiança e reconhecida
qualidade nos serviços prestados, pois não podemos imputar a alguém
responsabilização por ato que não cometeu.

No sentido do que foi exposto acima, junta-se decisão dos Tribunais


Superiores:

Ementa: APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE VALORES


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO. PRAZO DECADÊNCIA DO ART. 26
DO CDC. INAPLICABILIDADE. No caso, pretende a parte autora apenas
reparação civil de indenização por danos morais e materiais, que alega ter
sofrido. Inaplicável o disposto no art. 26 do CDC, porquanto não postulado
nenhum direito potestativo por vício do produto. Lapso prescricional do
art. 27 do CDC não implementado. Decadência não reconhecida. MÉRITO.
Restou comprovado que o autor adquiriu o veículo que sabia ter tido o
motor reformado (conforme notas fiscais por ele mesmo juntadas, oriundas
da empresa Atalanta, em Cachoeirinha) sem tomar as precauções e cautelas
exigíveis no negócio, notadamente a realização de vistoria prévia à compra.
Outrossim, adimpliu valor inferior ao de mercado. Não configurados o agir
ilícito e o nexo de causalidade, inexistente dever dos apelados em indenizar
os pretensos danos materiais e morais. Sentença de improcedência.
REJEITARAM A PRELIMINAR E, NO MÉRITO, NEGARAM
PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível
Nº 70066093758, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em 04/10/2017).

Ementa: DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. APELAÇÃO CÍVEL.


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS,
CUMULADA REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DIREITO DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO. ART. 18 DO CDC.
VEÍCULO. CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR. Versando o caso sub
judice sobre relação de consumo, a responsabilidade pelo vício do produto,
prevista no art. 18 do Código de Defesa do Consumidor, conforme
entendimento doutrinário, é objetiva e solidária em relação ao fornecedor e
ao fabricante. Caso em que não se mostra possível responsabilizar o
fabricante e o fornecedor, pois a perícia técnica atestou que a causa do
problema no motor foi a má instalação do sistema de
refrigeração/aquecimento feita em oficina não autorizada e com
componentes não originais, fato que, também, acarretou a perda da
garantia contratual. Nessas condições, não há falar em de vício de
fabricação do veículo, mas problema posterior causado por culpa exclusiva
do consumidor. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70074523085,
Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Voltaire de
Lima Moraes, Julgado em 28/09/2017).

Do que tratam as decisões acima e que é aplicável ao presente processo é a


conduta do comprador. O vendedor repassou o veículo em totais condições,
inclusive atestado pelo autor no momento da compra, vez que este testou o
veículo, rodou com ele por alguns dias e obteve parecer de profissional
mecânico, sendo que nada de anormal foi percebido no funcionamento do
mesmo. Assim, cabe salientar que a culpa exclusiva da vítima, no caso por
negligência em não realizar as manutenções necessárias, deve ser imputada
somente a esta, que deve arcar com as consequências daí decorrentes.

Assim postula-se a improcedência do pedido de reparação civil.

VI – DO DANO MORAL

Excelência, nas lições doutrinárias e decisões jurisprudenciais recentes,


nota-se que o dano moral, para que se configure deve ocorrer em proporção
gravosa e que realmente seja capaz de causar algum abalo a quem o sofreu.

No caso em tela, apesar do dramático relato do autor, sobre o veículo ter


“parado de funcionar e passado a exalar fumaça em seu interior”, constitui-
se essa situação como mero dissabor do cotidiano, ou seja, qualquer pessoa
que dirija um carro está sujeita a tal situação, com qualquer veículo, diga-se
de passagem. Sim a propensão é mais alta a ocorrer com um carro com
mais tempo de uso, mas problemas mecânicos podem ocorrer em qualquer
veículo.

Assim, seguindo a teoria do risco, ao adentrar em um veículo, o condutor e


seus passageiros estão cientes de que estão sujeitos a falhas mecânicas e até
mesmo acidentes de maior potencial lesivo e não há como alegar abalo
moral nessa situação de mero dissabor ou não contentamento.
O réu, de forma alguma, poderia saber que tal situação se passaria com o
veículo, assim, não sendo possível que lhe seja imputada culpa por tal
acontecimento.

Com o intuito de traduzir o entendimento dos Tribunais Superiores quanto


a este tipo de reparação colacionam-se as seguintes decisões:

Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS.


COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. MANIFESTAÇÃO DE
PROBLEMAS MECÂNICOS E ELÉTRICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 12
ANOS DE USO. DESGASTE NATURAL DO BEM. AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DO VENDEDOR. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA
EXISTÊNCIA DE VÍCIO OCULTO. AUTOR QUE NÃO ADOTOU AS
DEVIDAS CAUTELAS QUANDO DA AQUISIÇÃO. RECURSO PROVIDO.
(Recurso Cível Nº 71007102072, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Luís Francisco Franco, Julgado em 28/09/2017).

Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO


INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMPRA E
VENDA DE VEÍCULO USADO. VALOR ABAIXO DO PREÇO DE
MERCADO DO AUTOMÓVEL MANIFESTAÇÃO DE PROBLEMAS
MECÂNICOS. VEÍCULO COM CERCA DE 20 ANOS DE USO E 250.000
KM RODADOS. DESGASTE NATURAL DO BEM. AUSÊNCIA DE VÍCIO
OCULTO. AUTORA QUE NÃO ADOTOU AS DEVIDAS CAUTELAS
QUANDO DA AQUISIÇÃO. DANO MATERIAL E MORAL INOCORRENTE.
SENTENÇA MANTIDA. A autora postulou a indenização por danos
materiais em decorrência de gastos com reparos em veículo usado
adquirido da ré. Requereu, ainda, indenização a titulo de danos morais, em
face do ocorrido. Com efeito, tratando-se de veículo usado, deveria ter a
autora se certificado das exatas condições do bem, inclusive com vistoria
minuciosa, antes da compra. O adquirente de carro usado deve contar com
a possibilidade de eventuais manutenções e reparos, decorrentes do uso e
desgastes normais. Danos materiais e morais inocorrentes. RECURSO
DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007071061, Segunda Turma Recursal
Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe,
Julgado em 13/09/2017).
O que se pretende esclarecer é que a compra de um veículo usado, está
sujeita à que o carro apresente problemas em caso de inexistência de
manutenção por parte de quem o utiliza, isso é uma situação normal para
qualquer bem de uso durável. Assim, em nenhum momento se pode
imputar tal responsabilidade ao vendedor, quanto mais a título de danos
morais.

Sobre o abalo nas relações familiares, novamente vislumbra-se uma


transferência de responsabilidade, ou seja, qualquer pessoa é suscetível de
fazer “maus negócios” por escolha e mera liberalidade sua, não podendo
imputar a outro culpa pela ação realizada ou pela decisão tomada. A
expressão "maus negócios" foi utilizada pelo autor e, no seu ponto de vista
foi assim, mas não podemos considerar a troca de um veículo ano 0000 por
outro dez anos mais novo como "mau negócio".

Não se trata aqui de abalo moral in re ipsa e sim de abalo que deve ser
minimamente comprovado, não apenas relatado e, além disso, não se
vislumbra qualquer possibilidade de imputar culpa ao réu pelo incômodo
sofrido.

Assim, postula-se a improcedência do pedido de indenização a título de


danos morais.

VII – DA RESCISÃO CONTRATUAL

Excelência, apesar de toda situação relatada, não podemos concordar com o


pedido de rompimento da relação contratual formulado pela parte autora,
vez que a depreciação é algo comum e inerente a veículos automotores e o
rompimento certamente traria prejuízos financeiros maiores a parte ré,
pequeno comerciante, além daqueles que já suportou e comprova com a
juntada das notas de manutenção do veículo.

Além disso, no direito contratual, vige o princípio da livre manifestação de


vontade entre as partes, assim o interesse é algo determinante para
qualquer pacto entre duas ou mais partes. No momento da compra os
interesses convergiram, porém neste momento, o réu está prestando toda a
assistência ao autor e não pode mais suportar qualquer prejuízo, que não
foi causado por conduta sua.
Com base no que foi dito acima, não basta a mera insatisfação para que
haja o rompimento de uma relação contratual, é preciso que haja um
efetivo descumprimento de alguma obrigação assumida. Ora o único
descumprimento que vislumbra-se aqui foi de parte do autor em não
honrar os pagamentos que se comprometeu a fazer e, mesmo assim, o réu
não exerceu o direito que lhe assistia, prezando pela manutenção da relação
contratual firmada.

Inclusive, o réu reitera o seu interesse em prestar assistência ao autor e


dispõe-se a levar o veículo em oficina mecânica de sua confiança para que
seja consertado e entregue ao autor em pleno funcionamento, como já
ocorreu das vezes anteriores em que o comprador constatou problemas de
funcionamento no veículo.

Ainda, o autor, por meio do contrato assinado deveria permitir que o réu
verificasse o veículo periodicamente, o que não ocorreu, visto que após o
último conserto o autor retirou o veículo e o ocultou, para dificultar
qualquer tentativa de solução amigável do conflito.

Assim, não podemos concordar com o pedido de rescisão contratual.

Além disso, o pedido de devolução exposto na exordial é impossível


juridicamente, vez que o Código Civil, em seus artigos 527 e 528 garante ao
vendedor, em contrato de compra e venda com reserva de domínio, abater
do valor a ser devolvido a depreciação sofrida pela coisa e demais despesas
autorizadas pela lei.

Assim, ainda que entenda Vossa Excelência, pela rescisão do contrato


verbal firmado entre as partes, há que se observar as cláusulas especiais
atinentes a este tipo de negócio, para que o vendedor não arque com ônus
superior àquele que a legislação lhe impõe.

VIII – IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS JUNTADOS

Vê-se que o autor junta orçamento para conserto do carro, porém os


mesmos não passam credibilidade ou mesmo legitimidade, pelo que desde
já ficam impugnados pela parte ré.
E, além disso, todas as manutenções feitas no veículo até o momento, que
não foram baratas, foram suportadas pelo réu, as suas expensas, o que mais
uma vez, nos leva a identificar a má-fé presente na conduta do autor.

IX – DAS PROVAS

Pretende o réu provar o aqui alegado através de documentos, testemunhas


e depoimento pessoal do autor da ação.

X – DOS PEDIDOS

Diante do exposto acima, requer o réu:

a) seja recebida a presente contestação;

b) seja acolhida a preliminar para que, neste caso, não ocorra a inversão do
ônus da prova, cabendo ao autor comprovar os fatos que alega,
constitutivos de seu direito;

c) seja acolhida a preliminar, para conceder o benefício da gratuidade da


justiça ao réu e que este englobe todos os atos do processo, inclusive
recurso, se interposto;

d) sejam julgados improcedentes todos os pedidos formulados pelo autor,


especialmente quanto a reparação civil, indenização por danos morais e
rescisão contratual;

e) seja mantida a relação contratual anteriormente firmada e, caso entenda


pela rescisão, que a mesma observe todas as orientações legais quanto ao
contrato de compra e venda com reserva de domínio;

f) seja o autor condenado ao pagamento das parcelas em atraso, descritas


acima, com a devida atualização monetária, multa de mora e juros legais.

Nestes termos, pede deferimento.

Local/RS dd de outubro de AAAA


Advogado

OAB/RS 0000

Disponível em: http://maicovolkmer.jusbrasil.com.br/modelos-pecas/608307336/modelo-contestacao-


venda-de-automovel

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