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Nº 1.0000.19.

081267-7/001
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.19.081267-7/001 -
COMARCA DE JUIZ DE FORA - AGRAVANTE(S): PAULO WILLIAM
CALDAS - AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE MINAS GERAIS

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.
Cuida-se de agravo de instrumento interposto por PAULO
WILLIAM CALDAS contra a decisão proferida pelo MM. Juiz de
Direito da Vara da Fazenda Pública e Autarquias Estaduais da
Comarca de Juiz de Fora, Dr. Marcelo Cavalcanti Piragibe
Magalhães (doc. 36), que, nos autos da Ação Civil por Ato de
Improbidade Administrativa c/c Danos Morais Coletivos nº 5009704-
38.2018.8.13.0145, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS, recebeu a petição inicial e
determinou a citação do réu para oferecer defesa.
Inconformado, o Agravante alegou, em síntese, que: a) o
Recorrido ajuizou a ação originária em desfavor do Recorrente,
pleiteando a condenação deste em danos morais coletivos e
despesas processuais, sob a alegação de que o Recorrente no ano
de 2010, cometeu ato improbidade previsto no artigo 11, caput, da
Lei 8.429/92, quando exercia a função de Técnico de Apoio Judicial
deste Tribunal de Justiça, na comarca de Juiz de Fora/MG; b) “O
Insigne Magistrado rejeitou a tese da prescrição aviada pelo
Recorrente em sua manifestação prévia, argumentando a incidência
do artigo 290, 4º, da Lei Complementar 59/01, aplicando para tanto
o prazo previsto no Código Penal, e não aquele insculpido no artigo
23, inciso II da Lei 8.429/92”; c) o Ministério Público, após a defesa
prévia apresentada pelo réu/Agravante, alegou que a análise da
prescrição suscitada se mostrava prejudicada, uma vez que não
havia nos autos nenhuma prova da conclusão do procedimento
administrativo que culminou com a demissão do Recorrente; d)

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restou comprovado nos autos que o requerido/Agravante teve sua
demissão ratificada em 06/06/2012, quando o Tribunal de Justiça
deste Estado, através de sua Presidência, manteve incólume a
decisão de demissão da instância inferior; e) no juízo de origem há
enorme dissenso sobre o termo inicial da contagem do prazo
prescricional; f) nos termos do enunciado do verbete da Súmula 635
do STJ, os prazos prescricionais previstos no artigo 142 da Lei
8.112/1990 iniciam-se na data em que a autoridade competente
para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento
do fato, interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido –
sindicância de caráter punitivo ou processo disciplinar – e voltam a
fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção; g)
acaso rejeitada a incidência da Súmula 635 do STJ, há de ser
reconhecida a incidência do §3º, do artigo 290 da LC Estadual
59/01, que prevê como termo inicial de prescrição a decisão final
sobre o procedimento administrativo disciplinar; h) no caso dos
autos, considerando que a ação originária foi ajuizada somente no
ano de 2018, e que o prazo fatal ocorreu no ano de 2016, deve ser
reconhecida a prescrição; i) a demissão do Requerido não ocorreu
em virtude de crime contra a Administração Pública ou de crime
praticado no exercício da função; j) não há nexo de causalidade
entre o crime objeto da ação penal e o exercício da função pública ;
k) é cediço que a conduta do agente público, para ser caracterizada
como ímproba, deve ser praticada no exercício de função pública; l)
todos os fatos imputados ao Recorrente, foram praticados através
da rede mundial de computadores (internet), e sem nenhum vínculo
com a função pública, bem como as supostas práticas imputadas ao
Agravante foram supostamente perpetradas em sua residência, isto
é, fora do ambiente de trabalho e sem nenhum nexo de causalidade
com o exercício funcional do mesmo; m) o Recorrente foi
condenado por crime praticado contra particulares, logo a

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Administração Pública não é a vítima, bem como o objeto jurídico
dos bens são alheios daqueles previstos na Lei 8.249/92.
Colacionou entendimento jurisprudencial a corroborar suas
alegações.
Pretendeu a concessão de efeitos suspensivo e ativo, para
determinar a suspensão do feito na instância de origem, para
reconhecer a prescrição, julgando o feito com análise do mérito, nos
termos do artigo 487, inciso II do CPC ou, subsidiariamente, para
determinar a emenda da inicial com a mensuração do valor do dano
causado ao erário, em estrita observância ao artigo 322 do CPC/15
(doc. 01).
Os pedidos de antecipação da tutela recursal e de efeito
suspensivo foram indeferidos e, na sequência, oportunizado o
contraditório (doc. 42).
A parte Agravada apresentou contraminuta ao recurso,
requerendo o seu desprovimento (doc. 47).
Intervindo no feito, o ilustre Procurador de Justiça, Dr. Antônio
Sérgio Rocha de Paula, requereu a intimação do Agravante para
recolhimento em dobro do valor do preparo, haja vista não constar
deferimento de Justiça Gratuita perante o juízo a quo, nem mesmo
requerimento (doc. 49).
Regularmente intimada para comprovar o deferimento dos
benefícios da gratuidade da justiça, ou caso inexistente, realizar o
recolhimento em dobro, sob pena de deserção (doc. 50), a parte
Agravante quedou-se inerte.
É o relatório.
DECIDO, MONOCRATICAMENTE.
O presente recurso comporta imediato julgamento
monocrático, na forma do inciso III, do artigo 932, do CPC/15, visto
que manifestamente inadmissível.

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Conforme disposto pelo novo Código de Processo Civil, a
petição do recurso de Agravo de Instrumento deverá estar
acompanhada do comprovante de pagamento das respectivas
custas e do porte de retorno, quando devidos (§ 1º, do artigo 1.017,
do CPC/15). Ainda, nos termos do art. 1.007, caput, do referido
dispositivo legal, o recorrente deverá comprovar, no ato de
interposição do recurso, “o respectivo preparo, inclusive porte de
remessa e de retorno, sob pena de deserção”.
É inequívoco, portanto, que a parte Agravante deverá juntar,
com a peça recursal, a prova do recolhimento do preparo e do porte
de retorno, quando exigível.
A propósito lecionam Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de
Andrade Nery:
2. Preparo. É um dos requisitos extrínsecos de
admissibilidade dos recursos e consiste no
pagamento prévio das custas relativas ao
processamento do recurso, incluídas as despesas
de porte com a remessa e o retorno dos autos. A
ausência ou irregularidade no preparo ocasiona o
fenômeno da preclusão, fazendo com que deva ser
aplicada ao recorrente a pena de deserção, que
impede o conhecimento do recurso. [...] (Código de
processo civil comentado e legislação
extravagante. 11. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010, p. 881).

Noutro norte, a má-formação do instrumento do recurso do


Agravo de Instrumento enseja, por força de expressa previsão legal,
a concessão de prazo para que a parte recorrente complemente a
documentação exigível (§3º, do artigo 1.017 c/c parágrafo único, do
artigo 932, ambos do CPC/15).
Assim dispõe o Código de Processo Civil:

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento


será instruída: [...]
§ 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso
de algum outro vício que comprometa a
admissibilidade do agravo de instrumento, deve o

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relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo
único.

Art. 932. Incumbe ao relator: [...]


Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível
o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco)
dias ao recorrente para que seja sanado vício ou
complementada a documentação exigível.

Neste sentido, esclarece o processualista Daniel Amorim


Assumpção Neves, ao discorrer sobre as peças processuais
necessárias à instrução do Agravo de Instrumento:

O art. 932, parágrafo único, do Novo CPC prevê


que antes de inadmitir o recurso o relator tem o
dever de intimar o recorrente para que tenha a
oportunidade, no prazo de 5 dias, de
complementar documentação exigível. Já é
suficiente para se afastar a preclusão consumativa
diante da ausência de juntada de peça obrigatória
na instrução do agravo de instrumento. Mas o
legislador reforçou o entendimento ao prever no
§3º do art. 1.017 do Novo CPC que na falta de
cópia de qualquer peça o relator deve aplicar o
previsto no parágrafo único do art. 932 do Novo
CPC, ou seja, intimar o recorrente para juntar a
cópia da peça no prazo de 5 dias.
(in Manual de direito processual civil. 8. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1565).

De igual forma, dispõe o enunciado de nº 82, do Fórum


Permanente de Processualistas Civis, ao preceituar ser “dever do
relator, e não faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar
o vício ou complementar a documentação exigível, antes de
inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais”.
No caso dos autos, apesar de regularmente intimado, o
Agravante não juntou aos autos comprovante de concessão da
gratuidade da justiça no Juízo de origem, requerimento de
concessão do benefício da gratuidade de justiça nesta instância
revisora, comprovante da alegada hipossuficiência de recursos e
nem mesmo o comprovante de recolhimento do preparo recursal.

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Entrementes, quedou-se inerte, caracterizando-se a deserção do
presente recurso, o que inviabiliza o seu conhecimento.
Registro, nesse particular, que a concessão da justiça
gratuita não tem o efeito de retroagir no tempo, de forma a alcançar
atos processuais consumados (interposição de recurso),
produzindo, sempre, efeitos ex nunc. Nesse sentido, confira os
seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSO CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA.
RETROATIVIDADE. IMPOSSIBILIDADE.
- A concessão do benefício da assistência
judiciário gratuita não possui efeito retroativo.
- Negado provimento ao agravo.
(AgRg no AREsp 48.841/PR, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
18/10/2011, DJe 24/10/2011)
PROCESSUAL CIVIL. GRATUIDADE DA
JUSTIÇA. EFEITOS EX NUNC.
- Os efeitos da gratuidade da justiça operam-se a
partir de seu pedido.
(AgRg no Ag 475.330/SP, Rel. Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA
TURMA, julgado em 26/10/2006, DJ 04/12/2006, p.
294)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS


COMO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, ERRO
MATERIAL OU OBSCURIDADE.
INEXISTÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA. EFEITOS DA
CONCESSÃO. EX NUNC.
1. Consoante a remansosa jurisprudência do STJ,
a eventual concessão do benefício da gratuidade
de Justiça tem efeitos ex nunc, não podendo, pois,
retroagir à data de interposição do recurso de
apelação, sem o devido preparo e sem que tivesse
sido expressamente deferido o benefício, que, no
caso, não foi requerido simultaneamente à
interposição do recurso.
2. A "gratuidade não opera efeitos ex tunc, de sorte
que somente passa a valer para os atos ulteriores
à data do pedido, não afastando a sucumbência
sofrida pela parte em condenação de 1o grau, que
somente pode ser revista se, porventura, acatado o
mérito da sua apelação, quando do julgamento
desta". (REsp 556.081/SP, Rel.

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Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA
TURMA, julgado em 14/12/2004, DJ 28/03/2005, p.
264) 3. Embargos de declaração recebidos como
agravo regimental a que se nega provimento.
(EDcl no REsp 1211041/SC, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
24/06/2014, DJe 01/08/2014)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. PREPARO.
COMPROVAÇÃO. DESERÇÃO.
1. É deserto o recurso interposto para o Superior
Tribunal de Justiça, quando o recorrente não
comprova o recolhimento do preparo no ato de sua
interposição.
2. A concessão dos benefícios da assistência
judiciária gratuita não possui efeito retroativo,
razão pela qual o recorrente não está exonerado
do recolhimento do preparo até que seja deferido
seu pedido.
3. O pedido de assistência judiciária gratuita
formulado no curso da ação deve ser deduzido em
petição a ser atuada em separado e processada
em apenso aos autos principais.
4. Agravo no agravo em recurso especial não
provido. (AgRg no AREsp 361.779/RS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 24/09/2013, DJe 27/09/2013).

A parte Agravante, em sede de sua petição recursal,


argumenta que deixou de preparar o presente recurso em virtude de
haver pugnado perante o juízo de origem a gratuidade da justiça,
apresentando declaração de hipossuficiência financeira. Todavia,
repita-se, não restou comprovada, nos autos do presente recurso de
Agravo de Instrumento, o deferimento do pedido, nem tampouco a
alegada hipossuficiência de recursos, o que obriga o Recorrente a
proceder ao correto recolhimento do preparo recursal.
No entanto, apesar de intimado para complementar a
documentação exigível (doc. 50), a parte Agravante não regularizou
a formação do instrumento recursal, razão pela qual se revela
inadmissível o recurso interposto.
Este Tribunal de Justiça já decidiu neste sentido, conforme se
verifica dos seguintes julgados:

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AGRAVO INTERNO - AGRAVO DE
INSTRUMENTO - AUSÊNCIA DE PEÇAS
OBRIGATÓRIAS E ESSENCIAIS - INTIMAÇÃO DA
PARTE AGRAVANTE PARA COMPLEMENTAÇÃO
DA DOCUMENTAÇÃO - NÃO CUMPRIMENTO -
NÃO CONHECIMENTO - APLICAÇÃO DE MULTA
PREVISTA NO ART.1.021, §4º, NCPC - MEDIDA
QUE SE IMPÕE. Se a parte agravante foi intimada
para complementar a documentação exigível, nos
termos do art. 932, parágrafo único, do CPC/2015,
contudo, não o fez, impõe-se o não conhecimento
do recurso de agravo de instrumento interposto
sem as peças obrigatórias e essenciais à sua
formação, a teor do art. 1.017, I, do CPC/2015.
Constatando-se o não provimento do agravo
interno, por unanimidade, deve-se aplicar a multa
prevista no artigo 1.021, §4º, do CPC/2015. (TJMG
- Agravo Interno Cv 1.0145.12.029875-0/004,
Relator(a): Des.(a) Luciano Pinto, 17ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 09/03/2017, publicação da
súmula em 21/03/2017)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - PEÇAS


NECESSÁRIAS - AUSÊNCIA - PRAZO PARA
JUNTADA - INÉRCIA - NÃO CONHECIMENTO. 1.
É ônus do agravante formar o instrumento com as
peças obrigatórias e também com as necessárias
ao exato exame das questões discutidas. 2. Impõe-
se o não conhecimento do recurso quando o
recorrente, embora intimado para juntar aos autos
as peças faltantes, deixa de atender o comando
judicial, no prazo fixado. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv1.0525.14.019411-5/001,
Relator(a): Des.(a) Maurílio Gabriel, 15ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 26/01/2017, publicação da
súmula em 03/02/2017)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO.


AUSÊNCIA DE PREPARO. INTIMAÇÃO PARA
EFETUAR O PAGAMENTO EM DOBRO. INÉRCIA.
DESERÇÃO CARACTERIZADA. ART. 1.007, §4º,
NCPC - RECURSO NÃO CONHECIDO.
O Recorrente deve comprovar o recolhimento do
preparo, inclusive porte de remessa e de retorno
no ato da interposição do recurso, sob pena de ser
intimado para pagá-lo em dobro.
Quedando-se inerte, o não conhecimento do
recurso é medida que se impõe, diante da
deserção configurada, nos termos do art. 1.007,
§4º, do CPC/2015.  (TJMG -  Agravo de
Instrumento-Cv  1.0301.16.010494-1/001,

Fl. 8/9
Nº 1.0000.19.081267-7/001
Relator(a): Des.(a) Aparecida Grossi , 16ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2017,
publicação da súmula em 22/11/2017)

Portanto, não tendo o Agravante recolhido o preparo quando


da interposição do recurso ou da sua intimação para sanar o vício
apontado, e nem sendo beneficiado, nos autos originários, pela
justiça gratuita, o recurso não merece seguimento.
Com tais considerações, com fulcro no disposto no inciso III,
do artigo 932, c/c caput do artigo 1.007, ambos do CPC/2015, NÃO
CONHEÇO do recurso, por restar configurada a deserção.
Custas recursais ex lege.
Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2019.

DESA. ANA PAULA CAIXETA


Relatora

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