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Álvaro, brasileiro, solteiro, estudante, primário, 22 anos de idade, foi preso em

flagrante pelo delito de furto tentado. Segundo o APFD, no dia dos fatos,
dirigiu-se até um minimercado Extra do bairro onde mora e pegou uma caixa
de chocolates, uma lata de cerveja e um pacote de salgadinhos. Ao tentar sair
do estabelecimento sem pagar os itens, avaliados em R$20,00 (vinte reais), foi
surpreendido pela segurança, que acionou a polícia. Realizada a audiência de
custódia, foi concedida a liberdade provisória.
O Inquérito Policial foi relatado e encaminhado ao Ministério Público, que
denunciou Álvaro pela prática do crime de furto tentado (art. 155, caput, c.c.
art. 14, inciso II, ambos do Código Penal). Autuada a denúncia, foi rejeitada
pelo juiz da 17ª Vara Criminal da Capital, por falta de justa causa para a ação
penal, com fundamento no art. 395, III, do Código de Processo Penal.
Inconformado, o representante do Ministério Público recorreu requerendo o
afastamento do princípio da insignificância e o recebimento da denúncia. As
razões do recurso já foram oferecidas, restando a manifestação da defesa do
acusado.
Como advogado de Álvaro, elabore a peça diferente de habeas corpus e
cabível ao caso, elencando todas as teses pertinentes, de forma fundamentada.
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DA ______ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE ______

PROCESSO CRIME nº...

ÁLVARO, nacionalidade ..., estado civil ..., portador da


cédula de identidade RG ..., inscrito no CPF sob o Nº ...,
residente e domiciliado à rua ..., Nº ..., bairro ..., cidade ...,
UF..., CEP nº..., por seu advogado, devidamente
constituído pelo instrumento de mandato anexo, com
escritório profissional nesta Comarca, no endereço..., e-
mail.., vem respeitosamente a presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 581, inciso I, do Código
de Processo Penal, ofertar suas CONTRARRAZÕES DE
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO ao Recurso em
Sentido Estrito (RESE) interposto pelo Ministério Público
disposto nas razões anexas, requerendo o normal
processamento da presente e posterior remessa ao
Tribunal ad quem e, ao final, o não provimento do recurso.

Termos em que, pede deferimento.


Local..., Data...
Advogado...
OAB/UF
CONTRARRAZÕES AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
APELANTE: Ministério Público
APELADO: Álvaro
PROCESSO Nº...
ORIGEM...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE...


COLENDA TURMA
EMÉRITOS JULGADORES

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo Ministério


Público, não se conformando com a r. sentença proferida às fls__, que rejeitou
a denúncia de furto tentado (art. 155, caput, c.c. art. 14, inciso II, ambos do
Código Penal) por falta de justa causa para a ação penal, com fundamento no
art. 395, III, do Código de Processo Penal e aplicação do princípio da
insignificância.
Entretanto, não merece acolhida o apelo do Ministério Público, tendo
em vista o acerto da decisão “a quo” que decidiu da forma acima exposta,
conforme passaremos a expor, nas linhas que seguem.

DOS FATOS

O apelado fora denunciado pelo crime de furto tentado, pois, segundo a


acusação, teria subtraído do minimercado Extra localizado no bairro onde
reside, uma caixa de chocolates, uma lata de cerveja e um pacote de
salgadinhos, avaliados em R$20,00 (vinte reais). Ao tentar sair do
estabelecimento sem pagar os itens, foi surpreendido pela segurança, que
acionou a polícia.
Após a realização da audiência de custódia e a concessão de liberdade
provisória, com encaminhamento do inquérito policial ao Ministério Público.
Contudo, o D. Magistrado de primeira instância, entendeu pela rejeição da
denúncia, fundamentando a falta de justa causa para a ação penal, com
fundamento no art. 395, III, do CPP.
Ocorre que, o órgão acusador não se conformando com a respeitável e
acertada decisão, apresentou recurso de apelação requerendo a reforma da
decisão, para que seja afastamento do princípio da insignificância e o
recebimento da denúncia e, em decorrência disso, o apelado seja condenada à
pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa.

MÉRITO

Excelências, em face ao princípio da insignificância, trago à baila os


elementos que orbitam este princípio tão pertinente e frequente em nossos
Tribunais.
O princípio da insignificância tem o condão de afastar a tipicidade
material do fato, tendo como vetores para sua incidência: (a) a mínima
ofensividade da conduta; (b) a ausência de periculosidade social da ação; (c) o
reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e, (d) a inexpressividade
da lesão jurídica.
Tal princípio não é uma causa de excludente da punibilidade, mas sim
da tipicidade (material), o que traz relevantes diferenças no tratamento jurídico
conferido ao acusado. Para que haja o reconhecimento de uma excludente de
punibilidade o fato precisa antes ser punível, e o fato para ser punível, por sua
vez e antes de tudo, precisa ser típico.
Descaracteriza-se o aspecto material do tipo penal, a conduta passa a
ser atípica, o que impõe a absolvição do réu, não lhe restando consequência
penal alguma. No caso em tela, diante do reconhecimento claro do princípio da
insignificância, haja vista que o prejuízo ao estabelecimento fora de ínfimos
R$20,00, o Magistrado acertadamente conferiu absolvição do réu e
arquivamento do processo, não havendo que se falar em condenação do
acusado. Ainda nesta esteira, devemos observar o conhecido julgado HC
98.152 da Segunda Turma do STF com relatoria do Ministro Celso de Mello:

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – IDENTIFICAÇÃO DOS


VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO
DESSE PORTULADO DE POLÍTICA CRIMINAL – CONSEQUENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADE PENAL EM SEU
ASPECTO MATERIAL – TENTATIVA DE FURTO SIMPLES (CP,
ART.155, “CAPUT”) DE CINCO BARRAS DE CHOCOLATE – “RES
FURTIVA” NO VALOR (ÍNFIMO) DE R$ 20,00 (EQUIVALENTE A
4,3% DO SALÁRIO MÍNIMO ATUALMENTE EM VIGOR) –
DOUTRINA – CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
“HABEAS CORPUS” CONCEDIDO PARA ABSOLVER O
PACIENTE. O POSTULADO DA INSIGNIFICÃNCIA E A FUNÇÃO
DO DIREITO PENAL: ”DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR”. – O
sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de
que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo
somente se justificam quando estritamente necessárias à própria
proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que
lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os
valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou
potencial, impregnado de significativa lesividade. – O direito penal
não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo
desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo importante,
seja o titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria
ordem social. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE
COMO FATOR DE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA
TIPICIDADE PENAL. – O princípio da insignificância – que deve ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da
intervenção mínima do Estado em matéria penal – tem o sentido de
excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada esta na
perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Precedentes. Tal
postulado – que considera necessária, na aferição do relevo material
da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma
periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada – apoiou-se, em seu processo de formulação
teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema
penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele
visados, a intervenção mínima do Poder Público. O FATO
INSIGNIFICANTE, PORQUE DESTITUÍDO DE TIPICIDADE PENAL,
IMPORTA EM ABSOLVIÇÃO CRIMINAL DO RÉU. – A aplicação do
princípio da insignificância, por excluir a própria tipicidade material da
conduta atribuída ao agente, importa, necessariamente, na absolvição
penal do réu (CPP, art. 386, III), eis que o fato insignificante, por seu
atípico, não se reveste de relevo jurídico-penal. Precedentes.1

1
(STF – HC: 98152 MG, Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 19/05/2009,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009
EMENT VOL- 02363-03 PP-00584). Disponível
em:<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4124253/habeas-corpus-hc-98152-mg>
Acesso em: 24.09.2021.
Desta forma, o STF vem reconhecendo e aplicando o princípio da
insignificância, conferindo-lhe correta interpretação dogmática.
De outra banda, ainda cumpre discorrer sobre outro instituto que surge
a partir do princípio da insignificância, trata-se da fragmentariedade do direito
penal, da qual, ocupa-se com as ofensas graves aos bens jurídicos tutelados.
Neste caso, há apenas a tipicidade formal, pois são atípicas as ofensas
mínimas ao bem jurídico, afastando a tipicidade material. Sobre o tema Rogério
Sanchez Cunha assevera que:

O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário,


de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das
demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente
os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente
tutelado (caráter fragmentário).2

Nota-se excelência, a relevância da tipicidade material como um dos


componentes formadores do tipo penal incriminador. A espécie em questão
cumpre função de limitar a atuação do Direito Penal. Destarte, constatada a
ausência de tal elemento, não há que se falar em conduta criminosa. Este
princípio deve ser invocado sempre que o comportamento do autor for
considerado irrelevante para o Direito Penal, não justificando o movimento da
máquina estatal a fim de iniciar ou manter a persecução penal.
Por fim, insta frisar que o Ministério Público deixou de aplicar o instituto
do Acordo de Não Persecução Penal, disposto no art. 28-A do CPP, sendo
este um modelo de justiça consensual negociada, que tem o intuito de evitar o
encarceramento de quem comete infrações de menor expressão.

DO PEDIDO

Pelo exposto, requer a essa E. Câmara o que se segue:

2
CUNHA, Rogério Sanches; Manual de Direito Penal – parte geral; Editora Jus Podivm;
pag.67.
a) O recebimento das presentes Contrarrazões ao Recurso em
Sentido Estrito;

b) Que se digne a negar provimento ao Recurso em Sentido Estrito


interposto pelo Ministério Público, mantendo a r. sentença de fls.,

c) Que o acusado seja absolvido sumariamente ante a atipicidade do


fato pela aplicação do princípio da insignificância, nos termos do
artigo 397, III do CPP.

d) Arrolamento de testemunhas, se assim tiver.


1. Xxxxxxxxx
2. Xxxxxxxxx
3. xxxxxxxxx

Termos em que, pede deferimento.


Local..., Data...
Advogado...
OAB/UF

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