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1 – DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - ABSOLVIÇÃO

Em face do princípio da intervenção mínima, o Direito Penal tutela os bens


mais importantes da sociedade e, desta feita, uma conduta somente tem relevância
para esse segmento do Direito se ofender de forma efetiva um bem jurídico.

Atos mínimos de ofensa são considerados materialmente atípicos pelo


Direito Penal em face da reprovabilidade reduzida da conduta ou ofensa mínima ao
bem jurídico. Nesse contexto, pode-se falar em aplicação do princípio da
insignificância.

Assim, em sendo mínimo o grau de reprovabilidade do comportamento do


acusado, em virtude da inexpressividade da lesão causada, deve ser afastada a
tipicidade de sua conduta, ante a aplicação do princípio da insignificância, medida de
política criminal que melhor se amolda ao presente caso.

Percebe-se que o réu é acusado de ter furtado um dois pacotes de maços


de cigarro, avaliados em R$ 44,00 (quarenta e quatro) reais, fl. 35.

Importante mencionar, ainda, que a reincidência não impede o


reconhecimento e aplicação do princípio da insignificância. Isso porque a tipicidade
penal é fator de avaliação objetiva, importando, neste caso, verificar se houve ou não
lesão suficiente ao patrimônio alheio.

A reincidência, como circunstância subjetiva, tem atuação e reflexo quando


da fixação da pena, art. 61, inc. I, do CP, descabendo antecipar sua apreciação para o
momento da verificação da adequação típica. Nesse sentido:

“EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA -


AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL - RECONHECIMENTO - ABSOLVIÇÃO
QUE SE IMPÕE - CIRCUNSTÂNCIA DE CARÁTER PESSOAL QUE NÃO INFLUI
NA ANÁLISE DA TIPICIDADE MATERIAL. 01. Nos crimes patrimoniais, o
mínimo valor do resultado obtido autoriza o magistrado a absolver o réu,
quando a conduta do agente não gerou prejuízo considerável para o lesado,
nem foi cometida com o emprego de violência ou grave ameaça à pessoa. O
direito penal, por sua natureza fragmentária, só deve incidir quando
necessário à proteção do bem jurídico tutelado pela norma. 02. As
circunstâncias de caráter pessoal do agente, tais como a reincidência,
maus antecedentes e personalidade do agente, não influenciam na
análise da insignificância penal.” (TJMG - Apelação Criminal
nº 1.0693.13.007100-6/001, Relator(a): Des.(a) Fortuna Grion , 3ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 14/07/2014, publicação da súmula em
17/07/2014)”.
“A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a recurso ordinário
em habeas corpus para absolver, com base no princípio da
insignificância, paciente, que possui antecedentes criminais por
crimes patrimoniais, da acusação de furto de um carrinho de mão
avaliado em R$ 20,00 (vinte reais). RHC 174784/MS, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 11.2.2020. (RHC-174784) INFORMATIVO 966 STF, de fevereiro de
2020.”

Isto posto, reconhecida a atipicidade material da conduta por inexistir


lesão jurídica relevante ao bem jurídico protegido, a absolvição do acusado, com base
no art. 386, inc. III, do Código de Processo Penal, é medida que se requer.

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