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Rita, já qualificada nos autos, vem, por intermédio de seu advogado, interpor recurso de APELAÇÃO,
com fulcro no art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal – CPP.
Requer seja recebida e processada a apelação e encaminhada, com as inclusas razões, ao Tribunal de
Justiça do Estado X.
Termos em que,
Advogado/OAB
RAZÕES DE APELAÇÃO
Apelante: Rita
Colenda Câmara,
A recorrente, não conformada com a sentença condenatória proferida pelo juiz de direito da 41ª Vara
Criminal da Comarca do Estado X, requer a sua reforma pelas razões a seguir:
I – DOS FATOS
A ré foi presa em flagrante no dia 10/11/2011, após o cometimento do furto de cinco tintas para cabelo
em uma rede de farmácias. Os itens furtados foram estimados no valor de R$ 49,95 (quarenta e nove reais e
noventa e cinco centavos).
II – DO DIREITO
O princípio em tela decorre do entendimento de que o direito penal não deve se preocupar com
condutas em que o resultado não é suficientemente grave a ponto de não haver necessidade de punir o agente
nem de se recorrer aos meios judiciais tutelados pelo direito penal.
Como ensina Cézar Roberto Bitencourt, “a tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos
bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para
configurar o injusto típico”.
Nesse contexto, O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que alguns crimes
são incompatíveis com o princípio da insignificância, quando imbuídos de violência ou grave ameaça à pessoa;
o tráfico de drogas e os crimes de falsificação.
Para que haja adequação ao princípio da insignificância, devem ocorrer, de forma simultânea, o
cumprimento de quatro condições essenciais: mínima ofensividade da conduta, inexistência de periculosidade
social do ato, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão provocada.
Como demonstrado abaixo, tais requisitos não se mostraram presentes no caso em análise
A conduta da apelante foi classificada com incurso no crime disposto no art. 155, §4º, inciso I do Código
Penal-CP, furto qualificado pelo rompimento de obstáculo.
Contudo, o delito cometido pela apelante não colocou em perigo ou provocou situação de potencial
perigo à sociedade, à pessoas ou ao patrimônio da ofendida, bem como, não ofendeu moral ou fisicamente a
ofendida e nem a sociedade.
Apesar de a conduta delitiva ter se dado com o arrombamento do cadeado para a prática do furto, não
existe nos autos qualquer indício da existência de outras pessoas no ambiente, não podendo, então, ter havido
O comportamento no ato praticado pela apelante possui baixo grau de reprovabilidade, pois tratou-
se de um crime comum decorrente das mazelas sociais presentes no nosso país.
Existem diversas decisões judiciais que versam sobre o princípio da insignificância e seus requisitos.
Neste sentido, a jurisprudência:
Nesse sentido, quando das especificações dos itens furtados, observa-se que foram avaliados no valor
de R$ 49,95 (quarenta e nove reais e noventa e cinco centavos), o que representa um valor ínfimo quando
comparado ao faturamento da empresa ofendida, que cabe ressaltar-se, integra uma grande rede de
farmácias.
Conclui-se, então, pelo exposto até aqui, que estão presentes ao caso todos os requisitos para que se
permita aplicar o princípio da insignificância, o que gera, claramente, a ausência da tipicidade material do
delito sentenciado.
Embora a sentença tenha avaliado a conduta delitiva da apelante adequadamente ao tipo penal, tal
conduta não resultou em efetiva lesão ao patrimônio da empresa, além de se enquadrar na aplicação do
princípio da insignificância. É na tipicidade material que observamos a existência de lesão ou exposição de
perigo do bem jurídico penalmente tutelado. No furto de cinco tintas para cabelo não há tipicidade do fato,
pois analisando a relação entre conduta do réu e os seus resultados não há de se falar em crime. Ademais
Pela gravidade, solta-se aos olhos o fato de a apelante não ser reincidente, condição ignorada pelo
juízo primário. A certidão apresentada pelo MP, que atestou a condenação em trânsito em julgado de crime
praticado pela apelante, ocorreu em 15/05/2012, ou seja, em data posterior ao cometimento da conduta em
tela, que ocorreu em 10/11/2011, contrariando diretamente o estabelecido no art. 63 do CP, que estabelece
que a reincidência é verificada quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que o tenha condenado por crime anterior.
A sentença proferida, data vênia, contrariou súmula do STJ quando da dosimetria da pena, pois, no
momento do cálculo da pena, o magistrado se equivocou e utilizou a reincidência da apelante, tanto na
primeira, como na segunda fase da dosimetria, caracterizando-se o chamado bis in idem, sendo vedado sua
aplicação no direito penal brasileiro.
Assim estabelece a Súmula 241 do STJ: “a reincidência penal não pode ser considerada como
circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”.
Portanto, pelo fato de a apelante ser primária, deveria, data vênia, a sentença ter observado o disposto
no art. 155, §2º do CP, classificando o furto como privilegiado, devendo-se substituir a pena de reclusão pela
de detenção e ainda, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
Ainda, como a apelante não é reincidente, a fixação do regime inicial como semiaberto está errada,
pois a mesma faz jus ao regime aberto, conforme disposto no art. 33, §2º, “C”, do CP.
Por fim, em decorrência de sua primariedade, existe a possibilidade de a apelante ver substituída sua
pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direito, pois presentes os requisitos estabelecidos no
art. 44 do CP.
a) A absolvição da apelante pela atipicidade da conduta, conforme art. 386, III, do CPP;
b) Subsidiariamente, caso não seja a absolvição reconhecida pela Colenda Turma, que seja então:
i) aplicado o furto privilegiado (art. 155, §2º do CP);
Advogado/OAB