Você está na página 1de 25

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPV B 22023


Disciplina/Matéria: DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Sessão: 07 - Dia 27/07/2023 - 08:00 às 09:50
Professor: VANESSA DE OLIVEIRA CAVALIERI

07 Tema: Justiça da Infância e da Juventude. Aspectos processuais e Procedimentos Especiais.


Competência. Prática de Ato Infracional. Imputabilidade (distinção entre crianças e adolescentes).
Procedimento para apuração de ato infracional atribuído ao adolescente. Garantias processuais.
Oitiva informal. Internação provisória. Resolução 369/2021 - CNJ. Videoconferência. Resolução
330 - CNJ. Representação. Atuação do Ministério Público. Advogado. Defensoria Pública.
Serviços Auxiliares. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança - ONU 20/11/89.

1ª QUESTÃO:
JONAS MARRA praticou ato infracional análogo ao crime de estelionato, aos 17 anos de idade,
sendo-lhe aplicada a medida de semiliberdade. Com o advento da maioridade civil e penal do
adolescente, o Ministério Público requereu a extinção da medida.
Diante do exposto, responda:

a) O posicionamento do Ministério Público encontra-se em consonância com o entendimento


jurisprudencial?
b) A resposta seria a mesma se a medida imposta fosse a de liberdade assistida?

Respostas devidamente justificada.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 1 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
a)
Como o ato infracional ocorreu antes da maioridade, de acordo com o art. 104 e parágrafo único, Lei
8.069/90, o adolescente está sujeito às medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Já
o art. 2º estabelece a possibilidade legal da aplicação do ECA até que se atinja 21 anos. A ultra-
atividade da Lei se dá em benéfico do infrator e da própria sociedade.
Como asseveram inúmeros arestos, a doutrina majoritária vem entendendo que o jovem após os 18
anos, uma vez vinculado antes, permanece sujeito às regras do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Acolhendo-se posição diversa, seria o mesmo que conceder salvo conduto para práticas ilícitas aos
adolescentes prestes a completarem 18 anos, tornando-os impunes, porque não seriam alcançados
pelas medidas penais, nem pelas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Ademais, não se afigura lógico ou coerente que, de um momento para o outro, interrompa-se
bruscamente um trabalho de ressocialização paulatina do adolescente que vem sendo realizado.

Súmula 605, STJ: "A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato
infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos."
(Terceira Seção, julgado em 14/03/2018, DJe 19/03/2018).

"97. Liberação aos 21 anos e modificação da lei: esta compulsoriedade quanto ao término da
medida socioeducativa aos 21 anos abrange a internação, mas também toda e qualquer outra medida
aplicada. Afinal, se o mais (internação) cessa, com muito mais razão o menos (semiliberdade,
liberdade assistida etc.) sofre imediata paralisação; o que foi cumprido, permanece; o que ainda falta,
termina"
(NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: em busca da
Constituição Federal das Crianças e dos Adolescentes. Rio de Janeiro: Forense, 2014, pág. 416).

O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento sedimentado no sentido de que a medida


socioeducativa deve ser aplicada, independentemente da maioridade civil, até os 21 (vinte e um)
anos, a saber:

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. ESTATUTO


DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONALANÁLOGO

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 2 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AOCRIME DE ROUBO. SUPERVENIÊNCIA DA MAIORIDADE PENAL. EXTINÇÃO DA


MEDIDA SOCIOEDUCATIVA APLICADA. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
605/STJ. PACIENTE PRESO PREVENTIVAMENTE PELA APONTADA PRÁTICA DE CRIMES.
AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO DEFINITIVA À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NOS
DEMAIS PROCESSOS. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Com a edição da Súmula 605/STJ, esta Corte pacificou o entendimento de que a superveniência
da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida
socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
2. As instâncias locais, ao se pronunciarem sobre o art. 46, § 1º, da lei do SINASE, apresentaram
fundamentação idônea, ao justificarem a não extinção da execução de medida socioeducativa no fato de
que, não obstante o paciente seja maior de 18 anos e responda pela prática de crimes cometidos após o
atingimento da maioridade penal (encontrando-se preso provisoriamente), não houve ainda condenação à
pena privativa de liberdade em nenhuma das ações, podendo este vir a ser absolvido. Ressaltou, ademais,
que eventual extinção da medida socioeducativa deverá ser analisada pelo Juízo da Execução.
3. Tal manifestação encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte, segundo a qual o mero
ajuizamento de ação penal contra indivíduo maior de 18 e menor de 21 anos não implica a extinção
automática de medida socioeducativa imposta.
4. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 732.634/SC. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca.
Julgamento em 10/05/2022).

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE.ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS.
MAIORIDADE PENAL. EXTINÇÃO DA MEDIDA. INVIABILIDADE. SÚMULA N. 605/STJ.
1. Nos termos da Súmula n. 605/STJ, "a superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de
ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive naliberdade assistida,
enquanto não

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 3 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

atingida a idadede 21 anos".


2. A existência de ação penal em curso contra o agravante, hodiernamente maior de 18 anos de
idade, não justifica a imediata extinção da ação socioeducativa na qual se apura a eventual prática
de ato infracional, pois o menor de 21 anos pode ser absolvido na instância criminal e, assim,
retornar ao cumprimento da medida socioeducativa aplicada em virtude da prática de anterior ato
infracional.
3. Em "razão da necessidade de se definir com clareza o histórico infracional do Recorrido, é necessário o
processamento e julgamento da ação de apuração de ato infracional, reservando-se ao Juízo da Execução,
se for o caso, apurar eventuais causas supervenientes capazes de ensejar a extinção da medida
socioeducativa imposta no caso de procedência da representação" (REsp n. 1.778.248/ES, relatora
Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 5/12/2019, DJe 17/12/2019).
3. Agravo regimental a que se nega provimento."
grifei
(STJ. Sexta Turma. AgRg no HC 682.245/SC. Relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro.
Julgamento em 21/09/2021).

Igualmente, o Supremo Tribunal Federal já decidiu a questão:

"HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO


CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. ARTIGO 33 DA LEI Nº 11.343/06. PLEITO
DE SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA QUE
EXTINGUE A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. PREJUÍZO DA IMPETRAÇÃO. - Ciência ao
Ministério Público Federal. Decisão: Trata-se de Habeas Corpus impetrado contra acórdão do Superior
Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no habeas corpus lá impetrado, HC nº 456.664, assim
ementado: "ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS. ATO
INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. SENTENÇA.
APLICAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA. CUMPRIMENTO IMEDIATO.
ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A Terceira Seção desta Corte, nos
autos do HC n. 346.380/SP, firmou o entendimento de que condicionar a execução da medida
socioeducativa ao trânsito em julgado da sentença que acolhe a representação constitui verdadeiro
obstáculo ao escopo ressocializador da intervenção estatal, além de permitir que o adolescente permaneça
em situação

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 4 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de risco,exposto aos mesmos fatores que o levaram à prática infracional, mesmo nos casos em que não
tenha sido aplicada medida socioeducativa provisória no curso da instrução, como é o caso dos autos. 2.
Conforme o enunciado da Súmula n. 605 desta Corte ‘A superveniência da maioridade penal não
interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso,
inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.‘ 3. Habeas corpus
denegado."
Consta dos autos que foi imposta ao paciente medida socioeducativa de liberdade assistida em razão da
prática de ato infracional análogo ao crime previsto no artigo 33 da Lei 11.343/06. Em sede de apelação,
o Tribunal de origem negou provimento ao recurso defensivo, determinando o imediato cumprimento da
medida imposta. Em face desse decisum, foi impetrado habeas corpus perante o Superior Tribunal de
Justiça, que denegou a ordem nos termos da ementa supratranscrita. Sobreveio a impetração deste
mandamus, no qual se sustenta a existência de constrangimento ilegal consubstanciado na determinação
de execução da medida socioeducativa antes do trânsito em julgado da decisão judicial. Aduz que foi
determinada "a execução provisória da medida socioeducativa de forma automática, sem nenhuma
justificativa cautelar". Alega que "ao definir a execução imediata da medida socioeducativa antes do
trânsito em julgado dasentença, a autoridade coatora feriu a liberdade de ir e vir do Paciente, previsto no
artigo 5º, caput, da Constituição Federal, assim como também o fez com relação ao devido processo legal,
previsto nos artigos 5º, inciso LIV, da Constituição Federal e 110 do Estatuto da Criança e Adolescente,
tendo em vista que a sentença socioeducativa não é autoexecutável". Argumenta, ainda, ser patente a
ofensa ao princípio da non reformatio in pejus, uma vez que "somente a defesa interpôs apelação e o
acórdão recorrido atendeu o pedido do Ministério público, o qual pleiteou a execução provisória". Ao
final, formula pedido nos seguintes termos: "Ante o exposto, requer o paciente que seja conhecido o
presente remédio constitucional, e no mérito, que seja concedida a ordem, declarando a ilegalidade do
acórdão objurgado e consequente suspensão da execução provisória da medida socioeducativa, até
julgamento final do writ." O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do habeas corpus.
É o relatório, DECIDO. O writ perdeu o objeto. In casu, em petição nº 19.186/2019, a defesa trouxe a
informação de que a medida socioeducativa aplicada ao paciente fora extinta pelo juízo de origem, em
decisão prolatada nos seguintes termos: "Considerando o ingresso do adolescente no sistema penal, bem
como os termos da manifestação do Ministério Público e do Defensor Público,

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 5 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

julgoextinta a medida socioeducativa que lhe foi aplicada, na forma do art. 46, § 1º, da Lei do Sinase.
Comunique-se ao Programa de Medidas Socioeducativas e o juízo criminal competente. Proceda-se à
baixa da Guia de Execução de Medida Socioeducativa junto ao Conselho Nacional de Justiça." Consta,
ainda, dos autos, que o processo 0000217-47.2017.8.24.0020, no qual se apura a ocorrência do ato
infracional, transitou em julgado em 08/03/2019, encontrando-se, portanto, arquivado. Destarte, a decisão
impugnada perante o Tribunal de origem e o Superior Tribunal de Justiça foi substituída pelo decisum
que extinguiu a medida socioeducativa, de sorte que, nos termos do entendimento perfilhado por este
Supremo Tribunal Federal, há o prejuízo da presente impetração. Nessa linha: "Habeas corpus. 2. Tráfico
e associação para tráfico de entorpecentes. 3. Prisão preventiva. 4. Superveniência de sentença absolutória
em relação a uma das pacientes. Prejuízo. 5. Manutenção da custódia na sentença condenatória em
relação à corré. 6. Necessidade de garantir a ordem pública. 7. Constrangimento ilegal não caracterizado.
8. Ordem denegada." (HC 111.513, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 17/08/2012).
"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. TRÁFICO DE DROGAS. GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA.FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. EXCESSO DE PRAZO PARA ENCERRAMENTO DA
INSTRUÇÃO CRIMINAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA
CONDENATÓRIA. SUBSTITUIÇÃO DO TÍTULO PRISIONAL. PERDA DE OBJETO. 1. Contra a
denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico
expresso, o recurso ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a
impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em
manifesta burla ao preceito constitucional. 2. Prisão preventiva decretada forte na garantia da ordem
pública, presentes as circunstâncias concretas reveladas nos autos. Precedentes. 3. Inviável o exame da
tese defensiva não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de indevida supressão de
instância. 4. A superveniência de sentença condenatória em que o Juízo aprecia e mantém a prisão
cautelar anteriormente decretada implica a mudança do título da prisão e prejudica o habeas corpus
impetrado contra a prisão antes do julgamento. Precedentes. 5. Não mais se cogita de excesso de prazo da
prisão ante o julgamento de mérito da ação penal. Precedentes. 6. Agravo regimental conhecido e não
provido." (HC 143.357-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 27/09/2017). Destarte,
tendo em vista que a matéria debatida no presente habeas corpus não mais subsiste ante a extinção da
medida socioeducativa ora impugnada, fica evidenciada a perda superveniente do objeto do writ. Ex
positis, JULGO PREJUDICADO habeas corpus, com esteio no artigo 21, IX, do RISTF. Dê-se ciência ao
Ministério Público Federal. Publique-se."
grifei
(STF. Segunda Turma. HC 165.784/SC. Relator Ministro Luiz Fux. Julgamento

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 6 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

em10/04/2019).

Outro não é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a saber:

"APELAÇÃO (ECA). ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME PREVISTO NO ARTIGO 121,


PARÁGRAFO 2º, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. REPRESENTAÇÃO JULGADA
PROCEDENTE. APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO.
RECURSO DEFENSIVO. PEDIDOS: 1) RECEBIMENTO DO APELO NO DUPLO EFEITO; 2)
EXTINÇÃO DA REPRESENTAÇÃO EM RAZÃO DA MAIORIDADE CIVIL; 3) IMPROCEDÊNCIA
DA REPRESENTAÇÃO POR FRAGILIDADE PROBATÓRIA; 4) ABRANDAMENTO DA MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA APLICADA.
I. Preliminar. Atribuição de efeito suspensivo ao presente recurso que se rejeita, na forma da decisão
exarada às fls. 394/398.
II. Pedido de extinção do procedimento em razão da maioridade civil. Descabimento. Apelante que,
nascido em 30/08/2003, possui atualmente 19 (dezenove) anos de idade. Possibilidade de aplicação e
execução das medidas socioeducativas, seja internação, semiliberdade ou ainda a liberdade
assistida, após o advento da maioridade, conforme sedimentado pelo Superior Tribunal de Justiça
na edição da Súmula n.º 605.
III. Improcedência da representação. Impossibilidade. Materialidade comprovada pelas declarações
colhidas em sede policial, pelo registro de ocorrência e pelo laudo pericial. Autoria revelada pelos
depoimentos das testemunhas em Juízo. Prova satisfatória.
IV. Medida socioeducativa. Internação. Abrandamento pretendido que, na hipótese, mostra-se
desaconselhável, tendo em vista a gravidade concreta da infração cometida. Ato gravíssimo, cometido
mediante violência contra pessoa. Internação que se mantém em face da elevada periculosidade do
adolescente e por ser a única medida socioeducativa capaz de retirá-lo do meio pernicioso em que vivia e
conscientizá-lo sobre a gravidade dos seus atos, possibilitando, assim, uma futura ressocialização.
Inteligência do artigo 122, inciso I e parágrafo 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Desprovimento do recurso."
grifei
(TJRJ. Segunda Câmara Criminal. Apelação Criminal n. 0000055-87.2020.8.19.0084. Relatora Des.
Rosa Helena Penna Macedo

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 7 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Guita. Julgamento em 22/11/2022).

b)
Só há disposição legal expressa para medidas de internação e semiliberdade, medidas essencialmente
caracterizadas pela restrição de liberdade. Mas, dizer que não haveria possibilidade de extensão do
permissivo legal (art. 2º do ECA) a outras medidas seria ofensa à lógica e ao bom senso. Em uma Lei
caracterizada pela tônica ressocializadora, não poderia apenas haver a aplicação de medidas de maior
cunho punitivo deixando o infrator carente de todas as possibilidades de recuperação. Nesse caso, cabe
analogia em bonam partem.

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. ESTATUTO


DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE
TRÁFICO DE DROGAS. EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DO ATO
INFRACIONAL. ALEGADA AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA ATUALIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. SUPERVENIÊNCIA DA MAIORIDADE PENAL. INVIABILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 605/STJ. LAPSO TEMPORAL INSUFICIENTE PARA JUSTIFICAR A
AUSÊNCIA DE ATUALIDADE DA MEDIDA. NECESSIDADE DE REVISÃO FÁTICO
PROBATÓRIA INVIÁVEL NA VIA PROCESSUAL ELEITA. PRECEDENTES. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
- As medidas socioeducativas previstas no ECA têm como escopo a proteção e a reeducação do jovem
infrator, em observância ao princípio da proteção integral do menor. Assim, nos termos do art. 1º, § 2º, I,
da Lei n. 12.594/2012, deve-se buscar, na fase de execução de medidas socioeducativas, a efetiva
responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas que decorrem da prática do ato
infracional.
- Com a edição da Súmula 605/STJ, esta Corte pacificou o entendimento de que a superveniência
da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida
socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
- Embora o instituto da prescrição seja aplicável às medidas socioeducativas, na esteira da Súmula
338/STJ, em princípio, não é possível reconhecer a prescrição de forma antecipada e o princípio da
atualidade nem sequer é parâmetro legal para o reconhecimento da perda da pretensão socioeducativa,
vinculado somente à inércia estatal durante certo limite de tempo (AgRg no HC n. 701.572/SC, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta Turma, julgado em 8/2/2022, DJe 21/2/2022).
- Conforme jurisprudência firmada nesta Corte, "não há violação ao princípio da atualidade, uma vez que,
segundo dispõe

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 8 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

opróprio Estatuto da Criança e do Adolescente, os princípios da proporcionalidade e da atualidade, em


tema de aplicação de medidas socioeducativas, devem ser observados ‘no momento em que a decisão é
tomada‘ (Lei n. 8.069/90, art. 100, parágrafo único, VIII)" (HC n. 354.952/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, Quinta Turma, julgado em 21/3/2017, DJe 27/3/2017); e como bem observado pela Corte
estadual, não transcorreu ainda, lapso temporal demasiado que justifique a ausência de atualidade de
medida socioeducativa eventualmente fixada em sentença de procedência da representação.
- Para se desconstituir tal entendimento, como pretendido, seria necessário o revolvimento da moldura
fática e probatória delineada nos autos, providência incabível na via processual eleita.
Precedentes.
- Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 781.288/SC. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca.
Julgamento em 07/02/2023).

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS.
MAIORIDADE PENAL. EXTINÇÃO DA MEDIDA. INVIABILIDADE. SÚMULA N. 605/STJ.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. Nos termos da Súmula n. 605/STJ, "a superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de
ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos".
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, "a extinção da internação ante a superveniência de processo-
crime após adolescente completar 18 anos de idade constitui uma faculdade, devendo o julgador
fundamentar sua decisão, nos termos do art. 46, § 1º, da Lei 12.594/2012" (HC 551.319/RS, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 12/5/2020, DJe 18/5/2020).
3. A existência de ação penal em curso contra o agravante, hodiernamente maior de 18 anos de idade, não
justifica a imediata extinção da ação socioeducativa na qual se apura a eventual prática de ato infracional,
pois o menor de 21 anos pode ser absolvido na instância criminal e, assim, retornar ao cumprimento da
medida socioeducativa aplicada em virtude da prática de anterior ato infracional.
4. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 653.918/SC. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgamento em
14/12/2021).

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro recentemente proferiu julgado no mesmo


sentido do adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, a saber:

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PERÍ... 11/08/2023 - Página 9 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

“APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Ato infracional análogo ao art.


33, caput, da Lei 11.343/06. Apelado trazia consigo, guardava e tinha em depósito, para fins de
tráfico: 12,20g de Cannabis Sativa L., substância entorpecente conhecida como "maconha", na forma
de erva seca, acondicionados em 04 sacos transparentes, sem inscrições; e 2,40g de Cloridrato de
Cocaína, substância entorpecente conhecida como "cocaína", na forma de pó, acondicionados em 16
(dezesseis) tubos plásticos embalados por sacos plásticos de cor azul, sem inscrições. COM RAZÃO
O MP: Da impossibilidade da extinção do procedimento sem resolução do mérito. STJ tem
entendimento firme no sentido de que para aplicação da medida socioeducativa, é de ser
considerada a idade do autor ao tempo do fato, sendo irrelevante o advento da maioridade civil
ou penal mesmo no decorrer de seu cumprimento, eis que o limite para sua execução é o de 21
anos de idade. Nos termos da Súmula n. 605/STJ, "a superveniência da maioridade penal não
interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em
curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos". O ato
infracional ocorreu em 25/05/2021, tendo o apelado atingido a maioridade apenas em
31/03/2022. Assim, não há que se falar em extinção do feito. Materialidade e autoria do ato
infracional restaram sobejamente demonstradas pelo conjunto probatório carreado aos autos. Policiais
ouvidos em Juízo foram harmônicos e coerentes entre si, relatando a prática infracional perpetrada
pelo apelado. Apesar do apelado ter negado a pratica do ato infracional, sua genitora narrou que o
mesmo atuava no tráfico de drogas, inicialmente para sustentar seu vício e, posteriormente, em razão
de dívida contraída por uma carga perdida. A quantidade, a natureza da substância entorpecente e a
forma de acondicionamento, aliadas as demais circunstâncias em que se deu a apreensão, trazem
acerteza de que a droga efetivamente s

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 10 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e destinava ao vil comércio de entorpecentes. Plenamente comprovada a prática do ato infracional


análogo ao delito do art. 33, caput, da Lei 11.343/06. Medida socioeducativa de internação. Trata-se de
segunda passagem do adolescente pelo Juizado Menorista, igualmente por ato análogo ao crime de
tráfico, o que revela que o representado insiste em reiterar na prática de atos infracionais. PROVIMENTO
DO RECURSO MINISTERIAL."
grifei
(TJRJ. Quarta Câmara Criminal. Apelação Criminal 0001030-93.2021.8.19.0078. Relatora Des.
Gizelda Leitão Teixeira. Julgamento em 18/10/2022).

"APELAÇÃO - MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA - EXTINÇÃO


DAEXECUÇÃO PELO ATINGIMENTO DA MAIORIDADE PENAL - IMPOSSIBILIDADE -
SÚMULA 605 DO STJ - EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO POR DECURSO DE LONGO LAPSO
TEMPORAL (CINCO ANOS) ENTRE O ATO INFRACIONAL E O INÍCIO DA EXECUÇÃO DA
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA - POSSIBILIDADE - PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO PRECOCE,
DA PROPORCIONALIDADE E DA ATUALIDADE (ART. 100, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISOS VII
E VIII, DA LEI 8.069/90). NCESIDADE DE SE TER BREVIDADE DA MEDIDA EM RESPOSTA AO
ATO COMETIDO (ART. 35, INCISO V, da LEI 12.594/12) - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA
EXTINTIVA - RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO.
grifei
(TJRJ. Primeira Câmara Criminal. Apelação Criminal 0028092-48.2017.8.19.0014. Relator Des.
Marcelo Oliveira da Silva. Julgamento em 06/09/2022).

"ECA. APELAÇÃO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME PREVISTO NO ARTIGO 163,


PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO III, DO CÓDIGO PENAL. RECURSOS DEFENSIVOS
POSTULANDO, PRELIMINARMENTE, A DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO PROCESSO POR
INÉPCIA DA REPRESENTAÇÃO, POR VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO,
EM RAZÃO DOS REPRESENTADOS NÃO TEREM SIDO INQUIRIDOS EM JUÍZO, POR PERDA
DO INTERESSE PROCESSUAL EM RELAÇÃO AO REPRESENTADO VITOR EM RAZÃO DA
SUA IMINENTE MAIORIDADE. NO MÉRITO, PUGNA PELA ABSOLVIÇÃO PELA
INOCORRÊNCIA DO ATO INFRACIONAL EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE DOLO E DE
MATERIALIDADE E, SUBSIDIARIAMENTE, PELO ABRANDAMENTO DA MSE INFLIGIDA. A
representação observou os requisitos legais previstos no artigo 182, §2º, da Lei nº 8.069/90. Observa-se
da leitura da peça inaugural, que seu subscritor foi minudente na descrição do ato infracional imputado.
Ademais, diante da superveniência de sentença julgando procedente a pretensão socioeducativa em
desfavor dos representados, ficam superadas as alegações de inépcia da representação. Precedente do STJ.
Observa-se do caderno processual, que os adolescentes infratores foram inquiridos sobre os fatos perante
o membro do parquet e em juízo, oportunidade em que confessaram o ato infracional. Nesta toada, o
pleno exercício de defesa foiofertado e utilizado pelos representados,

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 11 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

restando observadas todas as garantias processuais. Este órgão julgador, em consonância com a
jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça no enunciado nº 605, tem se
posicionado no sentido de que "a superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de
ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive naliberdade
assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos". REJEITO AS PRELIMINARES. Conquanto o
perito tenha asseverado que a análise da constatação do dano estivesse prejudicada em razão da não
preservação de vestígios de interesse criminalístico relacionados ao fato, consignou a existência de uma
janela na dispensa da cozinha do local com fraturas, porém sem esquirolas vítreas no piso ou no entorno.
Não obstante, constata-se pelas fotografias colacionadas aos autos e pela confissão judicial dos
adolescentes a ocorrência do ato infracional, restando demonstrada sua materialidade e autoria. A
dinâmica apresentada, tanto pelos adolescentes infratores como pelas testemunhas inquiridas, demonstra
que aqueles atuaram com o dolo exigido do tipo. A medida socioeducativa mais recrudescida não deve
ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio de proteger e possibilitar ao adolescente em
conflito com a lei atividades educacionais que lhe forneçam novos parâmetros de convívio social,
retirando-lhe do contato pernicioso com o meio criminoso em que está inserido. Desta forma, deve-se
levar em consideração as condições particulares do adolescente e a natureza do ato infracional perpetrado
para fixação da medida socioeducativa, sendo princípio basilar desta a proporcionalidade entre o bem
jurídico atingido e a medida imposta. No caso em exame, conquanto o ato infracional imputado não tenha
sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, observa-se do relato da testemunha Maria
Helena, coordenadora do abrigo à época, que os representados eram contumazes em desrespeitar as regras
do abrigo, estando sempre em embate com os funcionários, bem como colocavam-se em risco frequente
ao fugir da instituição de acolhimento para consumir drogas. Pontue-se, como delineado na sentença, a
existência de episódio em que homens armados foram até o abrigo em busca de Natasha. À luz de tais
sustentáculos, considerando, ainda, possuir o representado Vitor outras ações socioeducativas em seu
desfavor, conforme se observa da FAI acostada ao indexador 00189, se mostra premente a retirada dos
representados do meio social em que vivem, deve ser a mantida a MSE aplicada. RECURSOS
CONHECIDOS E DESPROVIDOS."
grifei
(TJRJ. Oitava Câmara Criminal. Apelação n.0003585-90.2019.8.19.0066. Relatora

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 12 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Des. Suely Lopes Magalhães. Julgamento em 22/09/2021).

2ª QUESTÃO:
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro representou o adolescente ARI pela suposta prática
de ato infracional análogo ao crime do art. 33, caput, da Lei 11.343/2006.
Ao receber a representação, o magistrado determinou a citação do adolescente para que apresentasse
resposta à representação, em 3 (três) dias, seguindo-se os atos de saneamento, audiência de instrução
com apresentação do adolescente, alegações finais e sentença.
Contra essa decisão, o Ministério Público interpôs recurso de agravo de instrumento, no qual requereu
que a audiência de apresentação e oitiva do adolescente ARI fosse o primeiro ato processual
instrutório, de acordo com o previsto nos arts. 184 e 186 da Lei 8.069/90.
A partir da situação hipotética acima descrita, esclareça, fundamentadamente, se o recurso ministerial
deve ser provido. Aborde, para tanto, a evolução jurisprudencial acerca do tema em debate, bem
como o(s) dispositivo(s) legal(is) aplicável(eis) ao caso.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 13 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
art. 152, Lei 8.069/90: "Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as
normas gerais previstas na legislação processual pertinente."

art. 400, CPP: "Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código ,
bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado."

art. 184, Lei 8.069/90: "Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de
apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo."

art. 186, Lei 8.069/90: "Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade
judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado."

O Superior Tribunal de Justiça, recentemente, reviu o seu antigo posicionamento, para aplicar
o entendimento do Supremo Tribunal Federal, no sentido da aplicabilidade do art. 400 do
Código de Processo Penal também ao procedimento especial previsto no Estatuto da Criança e
do Adolescente, como se infere do julgado abaixo transcrito:

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE. ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AOS CRIMESDE TRÁFICO DE
DROGAS

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 14 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

E POSSE IRREGULAR DE MUNIÇÕES DE USO PERMITIDO. TESE DE NULIDADE.


MOMENTO DA OITIVA DO ADOLESCENTE. RECENTES PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DESTA CORTE SUPERIOR DE
JUSTIÇA. PREVALÊNCIA DO ART. 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL SOBRE O
REGRAMENTO ESPECIAL. OITIVA AO FINAL DA INSTRUÇÃO. CONCRETIZAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PROIBIÇÃO DE
TRATAMENTO MAIS GRAVOSO AO ADOLESCENTE. AGRAVO PROVIDO.
1. O Supremo Tribunal Federal, em recentes decisões monocráticas, tem aplicado a orientação
firmada no HC n. 127.900/AM ao procedimento de apuração de ato infracional, sob o fundamento
de que o art. 400 do Código de Processo Penal possibilita ao representado exercer de modo mais
eficaz a sua defesa e, por essa razão, em uma aplicação sistemática do direito, tal dispositivo legal
deve suplantar o estatuído no art. 184 da Lei n. 8.069/1990.
2. Nessa conjuntura, propõe-se a revisão do entendimento consolidado no Superior Tribunal de
Justiça para adequá-lo à jurisprudência atual da Suprema Corte, no sentido de que a oitiva do
representado deve ser o último ato da instrução no procedimento de apuração de ato infracional.
Assim, o adolescente irá prestar suas declarações após ter contato com todo o acervo probatório
produzido, tendo maiores elementos paraexercer sua autodefesa ou, se for caso, valer-se do direito ao
silêncio, sob pena

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 15 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de evidente prejuízo à concretização dos princípios do contraditório e da ampla defesa.


3. Tal conclusão se justifica também porque o adolescente não pode receber tratamento mais
gravoso do aquele conferido ao adulto, de acordo com o art. 35, inciso I, da Lei n. 12.594/2012
(Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e o item 54 das Diretrizes das Nações Unidas
para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad).
4. Agravo regimental provido para restabelecer a decisão do Juízo de primeiro grau que fixou a oitiva
do adolescente ao final da instrução."
grifei
(STJ. Sexta Turma. AgRg no HC 772.228/SC. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgado em
28/02/2023 - Informativo 766).

"Habeas corpus. Penal e processual penal militar. Posse de substância entorpecente em local sujeito à
administração militar (CPM, art. 290). Crime praticado por militares em situação de atividade em lugar
sujeito à administração militar. Competência da Justiça Castrense configurada (CF, art. 124 c/c CPM, art.
9º, I, b). Pacientes que não integram mais as fileiras das Forças Armadas. Irrelevância para fins de fixação
da competência. Interrogatório. Realização ao final da instrução (art. 400, CPP). Obrigatoriedade.
Aplicação às ações penais em trâmite na Justiça Militar dessa alteração introduzida pela Lei nº
11.719/08, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69. Precedentes. Adequação do
sistema acusatório democrático aos preceitos constitucionais da Carta de República de 1988.
Máxima efetividade dos princípios do contraditórioe da ampla defesa (art.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 16 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

5º, inciso LV). Incidência da norma inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum aos
processos penais militares cuja instrução não se tenha encerrado, o que não é o caso. Ordem
denegada. Fixada orientação quanto a incidência da norma inscrita no art. 400 do Código de
Processo Penal comum a partir da publicação da ata do presente julgamento, aos processos penais
militares, aos processos penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos por legislação
especial, incidindo somente naquelas ações penais cuja instrução não se tenha encerrado.
1. Os pacientes, quando soldados da ativa, foram surpreendidos na posse de substância entorpecente
(CPM, art. 290) no interior do 1º Batalhão de Infantaria da Selva em Manaus/AM. Cuida-se, portanto, de
crime praticado por militares em situação de atividade em lugar sujeito à administração militar, o que
atrai a competência da Justiça Castrense para processá-los e julgá-los (CF, art. 124 c/c CPM, art. 9º, I, b).
2. O fato de os pacientes não mais integrarem as fileiras das Forças Armadas em nada repercute na esfera
de competência da Justiça especializada, já que, no tempo do crime, eles eram soldados da ativa.
3. Nulidade do interrogatório dos pacientes como primeiro ato da instrução processual (CPPM, art.
302).
4. A Lei nº 11.719/08 adequou o sistema acusatório democrático, integrando-o de forma mais
harmoniosa aos preceitos constitucionais da Carta de República de 1988, assegurando-se maior
efetividade a seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa (art. 5º,inciso
LV).
5. Por ser

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 17 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

mais benéfica (lex mitior) e harmoniosa com a Constituição Federal, há de preponderar, no


processo penal militar (Decreto-Lei nº 1.002/69), a regra do art. 400 do Código de Processo Penal.
6. De modo a não comprometer o princípio da segurança jurídica (CF, art. 5º, XXXVI) nos feitos já
sentenciados, essa orientação deve ser aplicada somente aos processos penais militares cuja instrução não
se tenha encerrado, o que não é o caso dos autos, já que há sentença condenatória proferida em desfavor
dos pacientes desde 29/7/14.
7. Ordem denegada, com a fixação da seguinte orientação: a norma inscrita no art. 400 do Código
de Processo Penal comum aplica-se, a partir da publicação da ata do presente julgamento, aos
processos penais militares, aos processos penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos
por legislação especial incidindo somente naquelas ações penais cuja instrução não se tenha
encerrado."
grifei
(STF. Tribunal Pleno. HC 127.900/AM. Relator Ministro Dias Toffoli. Julgamento em 03/03/2016).

Entretanto, anteriormente o Superior Tribunal de Justiça entendia que o procedimento a ser


observado para oitiva do adolescente infrator era o previsto na legislação especial, vale dizer, no
Estatuto da Criança e do adolescente, a saber:

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO


ESTUPRO DE VULNERÁVEL. OITIVA DOS MENORES. INAPLICABILIDADE DO ART.
400DO CPP. PREVALÊNCIA DO REGRAMENTO

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 18 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ESPECIAL. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO


REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Como é de conhecimento, a jurisprudência desta Corte Superior orienta no sentido de que, nos
termos do art. 184 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não há nulidade na oitiva do
adolescente como primeiro ato no procedimento de apuração de ato infracional ou na ausência
de repetição da oitiva ao final da instrução processual, pois aquela norma especial prevalece
sobre a regra prevista no art. 400 do Código de Processo Penal (AgRg no REsp n. 1.977.454/PR,
relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 19/4/2022, DJe de 25/4/2022).
2. Na hipótese, verifica-se que o entendimento da Corte local encontra-se em harmonia com a pacífica
jurisprudência do STJ no sentido de que o art. 400 do CPP não é aplicável ao procedimento
estabelecido na Lei n. 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente -, em razão do princípio da
especialidade, motivo pelo qual não há nulidade a ser sanada nesta impetração.
3. Agravo regimental a que se nega provimento."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 787.993/GO. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca.
Julgamento em 07/02/2023).

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 19 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPV B 22023


Disciplina/Matéria: DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Sessão: 08 - Dia 27/07/2023 - 10:10 às 12:00
Professor: VANESSA DE OLIVEIRA CAVALIERI

08 Tema: Remissão como forma de exclusão do processo, de extinção do processo e de suspensão


do processo. Aplicação de medidas de proteção e medidas socioeducativas. Execução de medidas
socioeducativas. Regressão. Substituição. Detração. Extinção. Prescrição. Da execução antecipada
da medida socioeducativa - Resolução 165/2012 - CNJ e Resolução 367/2021 - CNJ. Regras do
Sinase - Lei 12.594/2012.

1ª QUESTÃO:
JOÃO, de 15 anos, a quem já haviam sido impostas anteriormente 4 (quatro) medidas de liberdade
assistida por atos infracionais análogos a crimes de furto qualificado, comete novo furto e é
apreendido em flagrante. Nesse processo, é imposta a JOÃO medida socioeducativa de
semiliberdade. JOÃO é encaminhado para cumprimento da medida e, 5 (cinco) dias depois de iniciar
o cumprimento da semiliberdade, é mandado para casa, uma vez que a execução das medidas de
semiliberdade foi suspensa em razão da pandemia.
O processo de execução da medida socioeducativa imposta a JOÃO ficou, então, sem andamento.
Dezoito meses depois, antes mesmo da finalização do Plano Individual de Atendimento, o magistrado
determina ao cartório que abra conclusão do processo e, exclusivamente com base no princípio da
atualidade, extingue a medida socioeducativa e o processo de execução, intimando o Ministério
Público para ciência da decisão. Pergunta-se:

a) É cabível, na hipótese, a aplicação de medida socioeducativa de semiliberdade?


b) É possível a extinção da medida socioeducativa com fundamento no princípio da atualidade?
c) No presente caso, quais os documentos necessários para embasar a sentença de extinção da medida
socioeducativa?
d) Como deve se manifestar o Promotor de Justiça ao receber o processo para tomar ciência da
decisão de extinção?

RESPOSTAS OBJETIVAMENTE JUSTIFICADAS.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 20 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
XXXVI CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

GABARITO FORNECIDO PELA BANCA:

a) O candidato deve discorrer sobre os requisitos previstos no artigo 120 do ECA para aplicação da
medida socioeducativa de semiliberdade, abordando a insuficiência das medidas anteriormente
aplicadas para socioeducação do adolescente e prevenção de sua reiteração infracional. Espera-se que
o candidato demonstre conhecimento sobre a controvérsia acerca da incidência do rol taxativo
previsto no artigo 122 do ECA à hipótese; bem como aborde a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça que versa sobre a reiteração de infrações graves.

b) O candidato deve discorrer sobre as hipóteses de extinção de medida socioeducativa, nos termos do
artigo 46 da Lei 12.594/2012, em especial o inciso II, segundo o qual a medida será extinta pela
realização de sua finalidade. Sobre a finalidade da medida socioeducativa, prevista no artigo 1º, §2º,
da Lei do Sinase, espera-se especial ênfase na responsabilização do adolescente quanto às
consequências lesivas do ato praticado e a desaprovação da conduta infracional, o que perpassa pelo
princípio da proporcionalidade previsto artigo 35, IV, da Lei 12.594/2012.
Nesse sentido, observa-se que princípio da atualidade informa que a intervenção estatal deve ocorrer
no momento em que a decisão de extinção da medida foi proferida. Para tanto, a decisão deve ser
precedida da reavaliação, conforme disposto no artigo 42 da Lei do Sinase, que tem por objetivo
verificar a ressocialização do adolescente e a consecução dos objetivos traçados no plano individual
de atendimento.

c) O candidato deve discorrer sobre a relevância do Plano Individual de Atendimento, enquanto


instrumento para individualização da medida. Trata-se de documento que deve se ocupar do
desenvolvimento das habilidades do adolescente, destacando seu protagonismo, como sujeito de
direitos em peculiar situação de desenvolvimento. (artigos 53 e artigo 35, VI, da Lei 12.494/2012). O
candidato deve destacar o objetivo pedagógico da medida, bem como a intersetorialidade na
construção do PIA e a relevância do envolvimento da família.
De acordo com os artigos 42, §1º, e 58 da Lei do Sinase, a reavaliação da medida socioeducativa deve
ser precedida da apresentação dos relatórios da equipe técnica, documentos imprescindíveis para que
se verifique o alcance de sua finalidade. À equipe técnica, cumpre reportar como o adolescente
responde às atividades e aos objetivos traçados no PIA, observando-se se tais atividades estão sendo
suficientes ou não para reflexão e conscientização acerca das consequências nocivas da prática
infracional com o escopo de evitar a reiteração.
Por fim, o candidato deve abordar a possibilidade de prévia oitiva do adolescente, de sua família e de
outros documentos relevantes para análise da situação atual do adolescente (folha de antecedentes
infracionais, histórico escolar).

d) Deve o candidato discorrer acerca da interposição de recurso de apelação, com fulcro no artigo 198
da Lei 8.069/90; sobre a nulidade da decisão por ausência de prévia manifestação

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 21 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

doMinistério Público, nos termos dos artigos 204 do ECA e 37 da Lei do Sinase; sobre o error in
judicando, resultante da equivocada apreciação pelo Juízo das questões de direito acima indicadas,
pleiteando-se, em consequência, a reforma da decisão.

2ª QUESTÃO:
O Ministério Público ofereceu representação pela prática de ato infracional equiparado ao crime
previsto no artigo 157, § 2º, II, do Código Penal em face de CHAVES, tendo o magistrado julgado
procedente a representação e aplicado medida de internação ao adolescente.
Posteriormente, CHAVES, já com 20 (vinte) anos, passou a responder a processo por crime de roubo
triplamente majorado, praticado quando já atingida a maioridade penal, tendo sido decretada a prisão
preventiva nesse processo.
Diante da notícia do envolvimento do jovem adulto em nova prática delitiva, o juízo de 1º grau
determinou a extinção da medida socioeducativa de internação, já que os esforços da socioeducação
não lograriam êxito na reeducação de CHAVES, não restando presentes os objetivos pedagógicos da
execução da medida socioeducativa.
O Ministério Público estadual interpôs recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça, que foi
provido para desconstituir a sentença e determinar o retorno dos autos à origem, estabelecendo a
suspensão da execução da medida de internação enquanto CHAVES estiver preso preventivamente
pela prática do crime.
Com base na situação hipotética acima descrita, esclareça, fundamentadamente, se o tribunal de
origem decidiu corretamente, apontando, ainda, o(s) dispositivo(s) legal(is) aplicável(eis) ao caso em
comento.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 22 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
art. 46, §1º, Lei 12.594/2012: "A medida socioeducativa será declarada extinta:
...
§1º - No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder
a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução,
cientificando da decisão o juízo criminal competente."

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.


EXTINÇÃO. MAIORIDADE. MATÉRIA JULGADA SOB O RITO DOS RECURSOS
REPETITIVOS. SÚMULA 605/STJ. INQUÉRITO POLICIAL EM CURSO.
FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao analisar os REsps 1.705.149/RJ e
1.717.022/RJ (Tema 992), sob a sistemática dos recursos repetitivos, firmou a tese de que "A
superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na
aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não
atingida a idade de 21 anos, confirmando o teor da Súmula 605/STJ, com a mesma redação".
2. Nos termos da jurisprudência desta Corte, "a extinção da internação ante a superveniência
de processo-crime após adolescente completar 18 anos de idade constitui uma faculdade,
devendo o julgador fundamentar sua decisão, nos termos do art. 46, § 1º, da Lei
12.594/2012" (HC 551.319/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
12/05/2020, Dje 18/05/2020).
3. Não obstante a possibilidade da incidência da medida socioeducativa mesmo após o adolescente ter
completado a idade de 18 anos, o primeiro grau fundamentou a extinção das medidas no fato de o
adolescente ter alcançado a maioridade penal e na existência de auto de prisão em flagrante em
apuração nos autos do inquérito policial5022033-35.2020.8.24.0039,

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 23 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

entendendo não existir utilidade/necessidade na medida socioeducativa.


4. Não se verifica manifesta ilegalidade na decisão impugnada, pela ausência de fundamentação da
decisão que extinguiu o feito que apurava ato infracional análogo ao tráfico de drogas. Desse modo,
considerando a ausência de motivação idônea na decisão que extinguiu o processo de apuração de ato
infracional, não há falar em desnecessidade da medida, porquanto ainda subsiste a finalidade
socioeducativa.
5. Agravo regimental improvido."
grifei
(STJ. Sexta Turma. AgRg no HC 685.432/SC. Relator Ministro Olindo Menezes. Julgamento em
07/12/2021).

"HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL


EQUIPARADO AO ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. EXTINÇÃO DA MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. SUPERVENIÊNCIA DE CRIME.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO DA INTERNAÇÃO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. É válida a extinção da internação quando o Juízo da execução aponta que o paciente maior de 20
anos teve o seu perfil pessoal agravado, o que permite concluir que os esforços da socioeducação
não logram êxito na reedução dele, haja vista a prática de fato delituoso enquanto estava em
liberdade, e a decretação de prisão preventiva, e, portanto, não restam objetivos pedagógicos na
execução de medida socioeducativa.
2. No caso, não se verifica manifesta ilegalidade na decisão visto que a extinção da internação ante a
superveniência de processo-crime após adolescente completar 18 anos de idade constituí uma faculdade,
devendo o julgador fundamentar sua decisão, nos termos do art. 46, § 1º, da Lei 12.594/2012.
3. Habeas corpus concedido para restabelecer a sentença exarada peloJuízo de 1º grau, e determinar a

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 24 de 25


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

extinção da medida socioeducativa de internação."


grifei
(STJ. Sexta Turma. HC 551.319/RS. Relator Ministro Nefi Cordeiro. Julgamento em 12/05/2020
- Informativo 672).

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CP18 - 01 - CPV - 2º PE... 11/08/2023 - Página 25 de 25

Você também pode gostar