Você está na página 1de 14

Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

11/03/2023

Número: 1005990-91.2022.8.11.0004
Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 1ª VARA CRIMINAL DE BARRA DO GARÇAS
Última distribuição : 12/07/2022
Assuntos: Crimes de Tráfico Ilícito e Uso Indevido de Drogas
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO (REPRESENTANTE)
POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO (REPRESENTANTE)
FRANQUINEI BATISTA DE NEGREIROS (DENUNCIADO)
FABIANO REZENDE (ADVOGADO(A))
HENRIQUE RODRIGUES MARTINS DE JESUS (DENUNCIADO)
PAULO ROBERTO BORGES DA SILVA (ADVOGADO(A))

Outros participantes
FRANQUINEI BATISTA DE NEGREIROS (REU)
SOCIEDADE (VÍTIMA)
ADRIANO OLIVEIRA ALVES DE CASTRO (TERCEIRO INTERESSADO)
VALTUIR GOMES DE CARVALHO (TERCEIRO INTERESSADO)
Documentos
Id. Data da Movimento Documento Tipo
Assinatura
112082086 10/03/2023 16:42 Julgado procedente em parte do pedido Sentença Sentença
ESTADO DE MATO GROSSO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA CRIMINAL DE BARRA DO GARÇAS

SENTENÇA

Processo: 1005990-91.2022.8.11.0004.

REPRESENTANTE: POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO, MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE MATO GROSSO

DENUNCIADO: HENRIQUE RODRIGUES MARTINS DE JESUS, FRANQUINEI BATISTA DE NEGREIROS

1. Relatório

Trata-se de ação penal movida pelo Ministério Público em desfavor de Henrique


Rodrigues Martins de Jesus e Franquinei Batista de Negreiros, na qual lhes são imputadas a
prática do crime tipificado no artigo 33, caput, da Lei n. 11.343/06, c/c art. 29, do Código Penal,
conforme narrativa da exordial:

“(...) Consta dos autos que, no dia 5 (cinco) de julho de


2.022, em horário e local não especificado, o denunciado
FRANQUINEI BATISTA DE NEGREIROS, por intermédio de
terceiras pessoas até então não identificadas, mencionada uma como
“Neguinho” e outra como “amigo” do Henrique, agindo em
concurso, com a mesma unidade de propósitos e desígnios, forneceu
droga, sem autorização e em desacordo com determinação legal e
regulamentar, ao denunciado HENRIQUE RODRIGUES MARTINS
DE JESUS, consistente em 6 (seis) tabletes de substância análoga à
pasta base de cocaína com peso total e aproximado de 6,200 kg (seis
quilos e duzentos gramas).

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 1
Consta, ainda, que, na data do dia 5 (cinco) de julho de
2.022, por volta das 18h00min, na rodovia federal BR-070, Km 33,
nesta cidade de Barra do Garças/MT, o denunciado HENRIQUE
RODRIGUES MARTINS DE JESUS, após receber de maneira escusa,
trazia consigo/transportava, com a finalidade de fornecer de
qualquer modo ao consumo de terceiros, droga, consistente em 6
(seis) tabletes de substância análoga à pasta base de cocaína com
peso total e aproximado de 6,200 kg (seis quilos e duzentos gramas),
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, substâncias causadoras de dependência física e
química.

Conforme apurado no decorrer do presente caderno


investigativo, no dia, hora e local supramencionados, uma guarnição
da Polícia Rodoviária Federal, em atividade de fiscalização rotineira,
observou a aproximação de uma motocicleta Yamaha/Fazer 250
Blueflex, placa QBT-5F31, cor azul, em alta velocidade, ocasião em
que foi emanada ordem de parada ao referido veículo, sendo que os
policiais perceberam certa hesitação do motociclista em acatar a
ordem e ao tentar se ocultar atrás de outro veículo, cujo condutor,
por sua vez, reduziu a velocidade, possibilitando, assim, a abordagem
da motocicleta conduzida pelo denunciado.

Ato contínuo, os servidores públicos federais realizaram


busca pessoal no condutor em razão de apresentar inquietação na
ocasião e realizaram busca detalhada na motocicleta, na qual havia
uma modificação em seu assento, sendo que policiais constataram
que do mencionado veículo exalava odor característico de tinta
fresca/massa plástica.

Em seguida e em decorrência da fundada suspeita, tirocínio


dos experientes policiais e averiguação da motocicleta, foi localizado
compartimento oculto, no tanque de combustível, denominado
vulgarmente como “mocó”, previamente preparado para o transporte
de substâncias ilícitas, no qual continha 6 (seis) tabletes de droga
(cocaína), conforme Laudo de Constatação nº 300.2.04.2022.007616-
01, da Politec (ID.89708096).

Ainda, durante a abordagem, foi realizada checagem da


motocicleta conduzida pelo increpado, apurando-se que o referido
veículo é de propriedade do denunciado Franquinei Batista de
Negreiros, residente em Pontes e Lacerta/MT, já condenado por
crime de tráfico de drogas e quem, na data do dia 20 (vinte) de junho
de 2022, foi preso pela Polícia Rodoviária Federal no Município de
Primavera do Leste/MT, transportando aproximadamente 18,2 kg
(dezoito quilos e duzentos gramas) de substância análoga à cocaína,
ocultadas em painel de um veículo Fiat/Mobi, utilizando, assim, o
mesmo modus operandi.

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 2
Ao arremate, oportunizado o interrogatório ao denunciado
Henrique, este confessou as imputações que pesam em seu desfavor,
declarando ter sido contratado, pelo valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais), para realizar o transporte por um terceiro de alcunha
“Neguinho”, quem conheceu por meio de um “amigo”, sendo que
“Neguinho” reside na cidade de Pontes e Lacerda/MT.

Por sua vez, o denunciado Franquinei, em interrogatório,


negou qualquer envolvimento com os fatos ora em apuração, dizendo
que não conhecia Henrique, embora conheça algumas pessoas
apelidadas de “Neguinho”, acrescentando que, quando dos fatos, já
havia vendido a motocicleta a “Thiago”, sem dar, contudo, maiores
detalhes da negociação e da identificação do suposto comprador,
esclarecendo, por fim, que em seu aparelho de telefone celular
apreendido quando da sua prisão, possa haver conversas sobre a
negociação da venda da motocicleta.

Destarte, restou delineado que o denunciado Franquinei,


mesmo se encontrando preso, ainda articulava a comercialização de
drogas, e, por intermédio de terceira pessoa declinada como
“Neguinho”, forneceu a motocicleta de sua propriedade e a droga
apreendia ao denunciado Henrique para que este a conduzisse da
cidade de Cuiabá/MT até Barra do Garças/MT, ambos cientes de que
tinham drogas ocultas no veículo alhures.

Em face do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO


ESTADO DE MATO GROSSO denuncia a Vossa Excelência
HENRIQUE RODRIGUES MARTINS DE JESUS e FRANQUINEI
BATISTA DE NEGREIROS, como incursos nas sanções do artigo 33,
caput , da Lei Ordinária de n.º 11.343/2006 c/c o artigo 29, do
Código Penal, com incidência da Lei n.º 8.072/90 e alterações no que
couber, requerendo, desde já, que seja observado o rito processual
adequado e o devido processo legal, para, ao final, realizar audiência
de instrução e julgamento com o fim de colher oitiva das testemunhas
abaixo arroladas até final interrogatório e condenação dos
denunciados, inclusive com o perdimento de bens utilizados na
prática da infração penal. (...)”

A prisão em flagrante do acusado Henrique ocorreu em 05.07.2022, que veio


acompanhado de termos de oitivas, interrogatório e relatório final do Delegado de Polícia.

A denúncia foi oferecida no dia 24.08.2022, em desfavor de Henrique Rodrigues


Martins de Jesus e Franquinei Batista de Negreiros (ID. 93394018).

Em 06.09.2022, foi proferida decisão determinando a notificação dos denunciados


para que, por meio de suas defesas técnicas, apresentassem resposta à acusação.

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 3
Em 26.10.2022, o réu Henrique, por meio de sua defesa técnica constituída,
apresentou resposta à acusação (ID. 102445363).

Em 09.01.2023, o réu Franquinei, por meio de sua defesa técnica constituída,


apresentou resposta à acusação (ID. 107078040).

A denúncia foi recebida em 10.01.2023, sendo designada instrução para o dia


19.01.2023 (ID. 107182987).

Nos atos de instrução que ocorreram nos autos foram inquiridas testemunhas e
interrogados os acusados.

Em alegações finais apresentadas no ID. 110407381, o Ministério Público requereu a


condenação do acusado Henrique Rodrigues Martins de Jesus na sanção do artigo 33, caput,
da Lei n. 11.343/06, bem como postulou a absolvição do acusado Franquinei Batista de
Negreiros, além do perdimento do veículo apreendido.

A defesa do réu Henrique, no ID. 11050723, requereu o reconhecimento da


confissão espontânea, bem como lhe seja aplicada a pena mínima, com o reconhecimento do
privilégio do art. 33, § 4º da lei 11.343/06, o direito de recorrer em liberdade e a substituição da
pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, subsidiariamente, postulou a fixação do
regime aberto.

A defesa do réu Franquinei, no ID.111373602, postulou a absolvição dos delitos


tipificados no artigo 33, caput, da Lei n. 11.343/06, com fundamento no art. 386, incisos V e
VII, do CPP.

Vieram os autos conclusos para sentença.

2. Do mérito

Da materialidade

Os elementos objetivos do tipo penal em branco do art. 33, Lei 11.343/06, foram
comprovados através do laudo de exame pericial em veículo ID. 91041633, laudo de
constatação ID. 89708096, do laudo definitivo juntado no ID. 108779666 e do termo de
apreensão ID. 89707582, no qual foi apreendida a seguinte substância:

“01(uma) unidade de Substância análoga a Pasta Base -


Sendo: 06 (seis) Tabletes, Totalizando Aproximadamente 6,2 Kg.”

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 4
Presentes o laudo definitivo (ID. 108779666) com resultado:

“As alíquotas dos Materiais “A”, “B”, “C”, “D” e “E”


apresentaram resultados POSITIVO para a presença de
COCAÍNA.”

Da autoria e do dolo

No que tange à autoria delitiva e ao dolo, quanto ao acusado Henrique houve


confissão espontânea, além dos demais meios de provas produzidos.

Quando interrogado sob o manto do contraditório, o acusado Henrique Rodrigues


Martins de Jesus confessou o tráfico, alegando que buscou a moto com a droga em Cuiabá com
destino Barra do Garças e que seria pago pelo transporte, bem como relatou que não sabe quem
é o acusado Franquinei e que recebeu a moto de um terceiro:

Henrique: “(...)Que é motorista de “Uber” na cidade de Goiânia/GO


e que, durante uma corrida, recebeu a proposta para transportar o
material entorpecente. Que aceitou porque estava com dificuldades
financeiras. Que buscou a motocicleta Yamaha/Fazer de cor azul
com as drogas em Cuiabá/MT, a fim de ser entregue nesta cidade
de Barra do Garças/MT, e que lhe seria pago o montante de R$
2.000,00 (dois mil reais), todavia, não chegou a receber. Que
recebeu a moto em Cuiabá de alguém com alcunha de
“Neguinho”, mas nem chegou a ler o CRLV. Que não conhece o
acusado Franquinei. (...)”

Quando interrogado sob o manto do contraditório, o acusado Franquinei Batista de


Negreiros negou a prática delitiva, alegando ter vendido a moto para alguém chamado Tiago,
bem como relatou que não conhece o acusado Henrique e que se encontrava recluso na data do
fato:

Franquinei: “(...) que estava preso quando ocorreu a prisão do


acusado Henrique e não podia receber visitas; Que conheceu no
garimpo três pessoas com alcunha de "Neguinho"; Que já foi preso
por tráfico, eis que transportou drogas para terceiros; Que morava em
Pontes e Lacerda/MT, onde trabalhava em um garimpo; Que não
conhece o acusado Henrique e nunca conversou com ele; Que era
proprietário da motocicleta apreendida, no entanto, a vendeu
para a pessoa de Tiago, solicitando-o que transferisse o veículo para
o nome dele; Que não lembra, mas acredita que vendeu a
motocicleta entre o dia 05 a 10.06.2022; Que o seu erro foi não ter
feito a comunicação de venda; Que comprou a motocicleta e

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 5
permaneceu com ela por cerca de 60 (sessenta) dias; Que usou com
frequência o veículo e não havia nenhuma alteração em sua estrutura;
Que a pessoa de Tiago tinha o apelido de "Maranhão". (...)”

Ao ser inquirido em juízo, o PRF Adriano Oliveira Alves de Castro detalhou a


abordagem e o encontro da droga, bem como o comportamento do acusado Henrique, da
seguinte forma:

PRF Adriano: (...) que a sua equipe realizava abordagem rotineira no


KM 33, quando foi avistada de longe uma motocicleta; Que
adentraram na pista para abordar o condutor (réu Henrique), o qual
desceu do veículo; Que notou que o banco da motocicleta estava
meio solto e com forte odor de massa plástica; Que, ao retirar o
banco, verificou a existência de um compartimento oculto; Que
Henrique ficou calado ao ser questionado; Que foi encontrado o
material entorpecente dentro do compartimento; Que não lembra
dele ter falado da origem e destino da droga; Que verificou o nome
do proprietário da motocicleta, cuja pessoa estaria presa; Que
não tem informação a respeito dela; Que não se recorda do acusado
Henrique falar o nome do proprietário da droga ou de quem o teria
auxiliado; Que o motivo da abordagem foi o fato do condutor da
motocicleta permanecer escondido atrás de uma camionete; Que era
visível a alteração do banco da motocicleta; Que o acusado
Henrique esboçou reação normal; Que ele disse ter recebido uma
quantia de dinheiro; Que não lembra se ele portava CRV ou CRLV;
Que, salvo engano, a motocicleta não tinha restrição. (...)

No mesmo sentido foi o depoimento do PRF Valtuir Gomes de Carvalho, que


participou da abordagem e relatou que a motocicleta conduzida pelo acusado Henrique
havia sido previamente preparada para o transporte da droga, bem como localizou os
entorpecentes no tanque de combustível:

PRF Valtuir: “(...) que no dia dos fatos, a sua equipe trabalhava na
Rodovia BR-070, sendo que no KM 33, onde há uma pista reta com
boa visibilidade, percebeu que uma motocicleta (conduzida pelo réu
Henrique) vinha em alta velocidade, passando por uma fila de
caminhões; Que, então, avançou para a pista, mas a motocicleta não
diminuiu a velocidade; Que é comum a fuga de motos, principalmente
dos motoristas que não possuem CNH; Que posteriormente, jogou a
caminhonete e a motocicleta parou no acostamento mais a frente; Que
o condutor (réu Henrique) estava assustado e com um olhar
estranho; Que visualizou a motocicleta e prontamente notou que a
forma do banco estava anormal; Que bateu no tanque de

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 6
combustível e escutou um barulho diferente; Que notou tratar-se
de um “mocó”; Que o condutor não soube dizer o que era; Que
abriu o banco e viu um compartimento com parafuso, onde
estavam os tabletes de drogas; Que não se recorda dele ter
mencionado o local de origem e destino, bem como quanto ganharia;
Que também não lembra do acusado Henrique ter mencionado quem
havia entregado a droga; Que se recorda que a motocicleta não tinha
restrição; Que não questionou a respeito da motocicleta ser
registrada em nome do acusado Franquinei e não sabe se o
acusado Henrique fez menção a ele. (...)”

Os depoimentos dos policiais inquiridos em juízo foram harmônicos, não sendo alvo
de questionamento por parte da defesa.

Quanto ao acusado Henrique Rodrigues Martins de Jesus, diante de sua confissão


espontânea corroborada pelos depoimentos dos policiais inquiridos, encontram-se
axiomaticamente comprovadas a autoria e o dolo.

Em relação ao acusado Franquinei Batista de Negreiros, houve negativa de


conhecimento acerca do acusado Henrique e do transporte do material ilícito no veículo.

Observa-se que o acusado Franquinei encontrava-se recluso na data dos fatos,


bem como alegou que havia vendido a moto para alguém com nome de Tiago entre os dias
05 a 10.06.2022, além disso os policiais inquiridos confirmaram que não houve menção ao
nome do acusado Franquinei durante a abordagem.

O acusado Henrique Rodrigues Martins de Jesus, em seu interrogatório judicial


confirmou que desconhece Franquinei; afirmou, inclusive, que um terceiro lhe entregou o
veículo com os entorpecentes e no momento em que recebeu a documentação do veículo não
verificou o nome do proprietário.

Não basta para fins de condenação o fato de o veículo apreendido com entorpecentes
em posse do acusado Henrique ter como proprietário o acusado Franquinei, sendo necessário
evidenciar e comprovar sua participação dolosa no crime.

Portanto, a análise do conjunto de elementos angariados não permite a formação de


juízo de certeza quanto à autoria e o dolo do acusado Franquinei Batista de Negreiros, de
modo que, quanto a ele, o resultado é a absolvição, nos termos do art. 386, inciso VII, do CPP.

Posto isso, julgo parcialmente procedente a denúncia, pelo que condeno o acusado
Henrique Rodrigues Martins de Jesus pelo delito tipificado no art. 33, caput, da Lei n.
11.343/06, e absolvo o acusado Franquinei Batista de Negreiros, nos termos do art. 386,

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 7
inciso VII, do CPP.

Da dosimetria

Da pena base

Quanto à pena base, os vetores da personalidade, circunstâncias, conduta social,


antecedentes, consequências e motivos, não apresentam elementos concretos para fins de
justificar a elevação da pena.

No vetor culpabilidade, verifica-se que o delito foi praticado em um contexto de


intermunicipalidade, considerando que o réu, quando ouvido em juízo, confessou que recebeu a
motocicleta com os entorpecentes e saiu da cidade de Cuiabá-MT com destino a Barra do
Garças-MT.

E em consonância com julgado do Eg. TJMT:

“Aquele que se propõe a atravessar mais de uma cidade dentro de


um mesmo Estado, criando mecanismos para burlar a fiscalização
policial, correndo inclusive maiores riscos de ser preso, com o
propósito de disseminar o consumo de drogas, expandindo o mercado
malsão local, desvela acentuada pertinácia para a consecução de seus
fins lucrativos ilícitos, merecendo por isso maior reprovação da pena-
base a título de culpabilidade exacerbada. [...]” (TJMT- TCCR, RC n.
1008694-31.2018.8.11.0000, Rel. Des. Juvenal Pereira da Silva,
julgado em 04/10/2018)

Assim, elevo a pena em 1/6 (um sexto), sobre o mínimo cominado, resultando num
aumento de 10 (dez) meses.

O comportamento da vítima não deve apresentar impacto dosimétrico, por não


haver vítima individualizável, tratando-se de crime contra a saúde pública.

Ainda, analisando-se os vetores dosimétricos do art. 42, Lei 11.343/2006, verifico ter
sido apreendido a quantidade total de 6,200 kg (seis quilogramas e duzentos gramas) da
substância de qualidade cocaína, substância que é extremamente nociva à saúde pública.

Conforme entendimento recente do Superior Tribunal de Justiça, as circunstâncias


preponderantes do art. 42, da Lei nº. 11.343/06, devem ser valoradas exclusivamente na
primeira etapa da dosimetria, não havendo margem para a transferência da análise desses
elementos para as etapas posteriores:

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 8
“[...] 5. Não há margem, na redação do art. 42 da Lei n.
11.343/2006, para utilização de suposta discricionariedade judicial
que redunde na transferência da análise desses elementos para
etapas posteriores, já que erigidos ao status de circunstâncias
judiciais preponderantes, sem natureza residual.” [...] (REsp
1887511/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/06/2021, DJe 01/07/2021).

Sendo assim, considerando que foram apreendidas 6,200 kg (seis quilogramas e


duzentos gramas) de cocaína, quantitativo que exaspera a maioria dos casos submetidos à
análise deste juízo, exaspero a pena-base em 1 (um) ano, eis que a quantidade e qualidade
justificam empiricamente o recrudescimento da pena em sede das circunstâncias específicas do
art. 42, da Lei de Drogas em patamar superior a 1/6.

Nesse sentido tem sido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

“(...)3. Com base no princípio do livre convencimento


motivado, ainda que valorado um único vetor, considerada sua
preponderância, o julgador poderá concluir pela necessidade de
exasperação da pena-base em fração superior à 1/6 se considerar
expressiva a quantidade da droga, sua diversidade e/ou natureza
(art. 42 da Lei n. 11.343/2006).

4. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no HC n. 739.111/RS, relator Ministro João


Otávio de Noronha, Quinta Turma, julgado em 9/8/2022, DJe de
15/8/2022.)

Ponderando tais elementos conforme a necessidade e a suficiência para a reprovação


e prevenção do crime, subordinadas ao princípio da culpabilidade, e utilizando o critério
qualitativo e quantitativo, fixo a pena-base em 06 (seis) anos e 10 (dez) meses de reclusão.

Da pena provisória

Seguindo o critério trifásico do art. 68, CP, passo a fixar a pena provisória.

Presente a atenuante da confissão espontânea, razão pela qual atenuo a pena em 1/6
(um sexto).

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 9
Ausentes as agravantes.

Assim, fixo a pena provisória em 05 (cinco) anos 08 (oito) meses e 10 (dez) dias de
reclusão.

Da pena definitiva

Seguindo o critério trifásico do art. 68, CP, passo a fixar a pena definitiva.

Ausentes as causas de aumento.

Ausentes as causas de diminuição. Inaplicável o reconhecimento do privilégio, eis


que o delito foi praticado com o réu saindo de sua residência em Goiânia-GO, recebendo os
entorpecentes em Cuiabá-MT com destino a Barra do Garças-MT, com motocicleta de terceiro
previamente preparada para o transporte da droga, com ajuda de custo para o trajeto e a prévia
combinação de saídas, destinos, pontos de abastecimento do veículo e valores para o transporte,
todos estes vetores, em conjunto, são incompatíveis com o privilégio.

Há de se destacar que o denunciado fazia uso de veículo modificado para ocultar os


entorpecentes e dificultar eventual fiscalização, conforme laudo pericial de ID. 91041633,
demonstrando assim a sofisticação no meio utilizado para a prática delitiva

Persiste também a fundamentação da impossibilidade de aplicação do privilégio


baseado no Enunciado Orientativo nº 30, do TJMT, a saber:

A quantidade, a forma de acondicionamento da droga


apreendida, como também a existência de apetrechos utilizados para
comercialização de substância entorpecentes, são fundamentos
idôneos a evidenciar dedicação à atividade criminosa, de modo a
afastar a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no
art. 33, § 4°, da Lei n. 11.343/2006. (Redação alterada pelo Incidente
de Uniformização de Jurisprudência nº 100269/2017, disponibilizado
no DJE nº 10257, em 16/05/2018).

Assim, afasto o privilégio do réu e fixo a pena definitiva em: 05 (cinco) anos 08
(oito) meses e 10 (dez) dias de reclusão.

Da multa

Quanto à pena de multa, aplico-a em consonância com a pena fixada, ou seja, 569
(quinhentos e sessenta e nove) dias multa, no importe de 1/30 do salário-mínimo o dia multa

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 10
(art. 43, Lei 11.343/06).

Da substituição

Incabível a substituição nos termos do artigo 44, I, CP.

Do regime

Fixo regime inicial fechado, considerando que a pena fixada é superior a 4 (quatro)
anos e houve valoração negativa da culpabilidade e circunstâncias (artigo 33, § 2º, alínea “a” e §
3º, do CP).

Além disso, conforme já destacado anteriormente, o acusado transportava 6,200kg


(seis quilogramas e duzentos gramas) de cocaína. A quantidade excessiva de droga também
serve de fundamento idôneo para a adoção de regime mais gravoso para início do cumprimento
da pena, nos termos do Enunciado 47, da Jurisprudência Consolidada do Eg. TJMT:

A valoração negativa da quantidade e natureza do entorpecente


constitui fundamento idôneo para a determinação de regime mais
gravoso para o cumprimento inicial da pena privativa de liberdade.
(INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA Nº
101532/2015, Disponibilizado no DJE Edição nº 9998, de 11/04/2017,
publicado em 12/04/2017).

Assim, em consonância com a jurisprudência do Eg. TJMT fixo regime inicial


fechado ao réu.

Do direito de recorrer em liberdade

Considerando a quantidade elevada e a qualidade do entorpecente (cocaína); a prática


do tráfico visando atingir dois municípios; a quantidade da pena; o regime fixado; ter o réu
respondido todo o processo em reclusão; persistindo as razões da prisão preventiva, nego ao
acusado o direito de recorrer em liberdade.

Nesse sentido é o entendimento do Eg. TJMT sedimentado no Enunciado nº. 25, da


Jurisprudência:

A expressiva quantidade e/ou variedade de drogas ensejam garantia


da ordem pública para decretação ou manutenção de prisão
preventiva. (INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA Nº 101532/2015, Disponibilizado no DJE

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 11
Edição nº 9998, de 11/04/2017, publicado em 12/04/2017).

Da perda dos valores e bens apreendidos

Considerando que o denunciado foi flagrado transportando entorpecente com o veículo


apreendido, decreto a perda do veículo e dos valores apreendidos, em favor da União.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal fixou a seguinte tese da repercussão


geral:

“É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico


apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a
necessidade de se perquirir a habitualidade e reiteração do uso do bem
para tal finalidade, a sua modificação para se dificultar a descoberta
do local ou do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito
além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único
da Constituição Federal." (RE 638491, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 17/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-186 DIVULG 22-08-2017 PUBLIC 23-08-2017).

3. Dispositivo

a) Absolvo o acusado Franquinei Batista de Negreiros, com fundamento no art.


386, VII, do CPP;

b) Condeno o denunciado Henrique Rodrigues Martins de Jesus, na sanção do art.


artigo 33, caput, §4°, da Lei n. 11.343/06, aplicando-lhe a pena de 05 (cinco) anos 08 (oito)
meses e 10 (dez) dias de reclusão e fixo 569 (quinhentos e sessenta e nove) dias multa, no
regime fechado, sem direito de recorrer em liberdade;

c) Destruam-se os entorpecentes;

d) Decreto a perda do veículo Yamaha/Fazer 250 Blueflex, placa QBT-5F31, cor


azul, em favor da União;

e) Decreto a perda do valor apreendido, referente a R$115,00 (cento e quinze reais)


em espécie, em favor da União;

f) Quanto ao demais objetos lícitos, proceda-se ao leilão. Não havendo pretendentes,


doem-se. Não havendo donatários, destruam-se;

g) Expeça-se guia de execução provisória;

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 12
h) Concedo gratuidade ao acusado, nos termos do art. 5º, da CF, art. 98, da Lei nº
13.105/15, e da Lei nº. 1.060/50;

i) Com o trânsito em julgado, comunique-se à Justiça Eleitoral (art. 15, inc. III,
CF/88), forme-se o Executivo de Pena, remeta-se ao Juízo da Execução Penal e, ao fim, arquive-
se.

j) Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se. Arquive-se, após o trânsito em


julgado e ultimadas as determinações supra.

Barra do Garças-MT, 10.03.2023

Douglas Bernardes Romão

Juiz de Direito

Este documento foi gerado pelo usuário 589.***.***-87 em 11/03/2023 08:39:19


Número do documento: 23031016425898800000108638368
https://pje.tjmt.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23031016425898800000108638368
Assinado eletronicamente por: DOUGLAS BERNARDES ROMAO - 10/03/2023 16:42:59
Num. 112082086 - Pág. 13

Você também pode gostar