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Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
5. A lei estrangeira, aplicada por força de dispositivo de direito
internacional privado (art 9º da LINDB), se equipara a legislação federal
brasileira, para efeito de admissibilidade de recurso especial.
6. A teoria contratual, fundamento do direito das obrigações argentino,
possui entre seus princípios a boa-fé objetiva, a má-fé e a fraude, que
conferem ao juiz diretriz na busca da regra de decisão.
7. A mala fe, no direito portenho, configura-se quando o sujeito tem
conhecimento de determinada situação relevante para o direito, à luz das
particularidades de cada ato jurídico, e, com base nesse conhecimento,
promove ações antifuncionais. Os atos, nesses termos praticados, serão
considerados ilegítimos, dada a manifesta intolerância com esse
comportamento por parte do ordenamento.
8. No sistema jurídico argentino, a fraude, como violação de contrato,
configura-se quando o devedor tem a capacidade de cumprir e não deseja
fazê-lo deliberadamente ou quando o inadimplente está plenamente ciente
da ilegitimidade de suas ações. É a ação qualificada pelo dolo.
9. Nos termos dos arts. 537 e 538 do Código Civil argentino, que tratam
das obrigações condicionais, considera-se realizada a condição
suspensiva, quando há intenção fraudulenta de impedir o cumprimento da
condição pelo interessado que não se beneficia da execução. Sendo
assim, apenas em caso de impedimento doloso ou culposo a condição
será considerada cumprida.
10. Recurso especial improvido.
ACÓRDÃO
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EDITORIAL PERFIL S.A
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO GARCIA LOPES LORENCINI - SP104335
ANDRÉ CAMERLINGO ALVES - SP104857
ANDRÉA CARVALHO RATTI - SP155424
ULISSES SIMÕES DA SILVA E OUTRO(S) - SP273921
RECORRIDO : UNIVERSO ONLINE S/A
ADVOGADOS : RICARDO CHOLBI TEPEDINO - SP143227
FÁBIO TEIXEIRA OZI E OUTRO(S) - SP172594
MARCUS VINICIUS SOUZA MAMEDE E OUTRO(S) - DF016615
IGOR CARNEIRO DE MATOS E OUTRO(S) - DF017063
ALUÍSIO CABIANCA BEREZOWSKI - SP206324
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Adiado o julgamento para a próxima sessão (09/3/2021), por indicação do Sr. Ministro
Relator.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.729.549 - SP (2017/0253182-4)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : EDITORIAL PERFIL S.A
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO GARCIA LOPES LORENCINI - SP104335
ANDRÉ CAMERLINGO ALVES - SP104857
ANDRÉA CARVALHO RATTI - SP155424
ULISSES SIMÕES DA SILVA E OUTRO(S) - SP273921
RECORRIDO : UNIVERSO ONLINE S/A
ADVOGADOS : RICARDO CHOLBI TEPEDINO - SP143227
FÁBIO TEIXEIRA OZI E OUTRO(S) - SP172594
MARCUS VINICIUS SOUZA MAMEDE E OUTRO(S) - DF016615
IGOR CARNEIRO DE MATOS E OUTRO(S) - DF017063
ALUÍSIO CABIANCA BEREZOWSKI - SP206324
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
cláusula terceira do mencionado Acordo dispôs o seguinte: decorridos três anos da
assinatura do pacto e realizada Oferta Pública Inicial (IPO) do UOL Inc. S.A. em uma
importante bolsa de valores dos Estados Unidos da América, a EDITORIAL PERFIL S.A.
poderia notificar a UOL, no prazo de um ano, contado do último desses eventos, para realizar
a troca de todas as suas ações da UOL Argentina por ações do UOL Inc. S.A., hoje sucedida
pela ora recorrida, UNIVERSO ONLINE S.A.
No ano de 2003, o Acordo de Acionistas completou 03 (três) anos de vigência,
primeira condição para o "direito de troca das ações". Em dezembro de 2005, a ora recorrida,
UOL, efetuou a oferta primária de suas ações na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
(BOVESPA), fato considerado pela autora como concretização da segunda condição para o
surgimento do direito à troca de ações.
Disse a autora que assumiu as obrigações descritas no Acordo de Acionistas
por conta da possibilidade futura de vir a participar do capital social da UOL Brasil
(incorporada pela ré), após a abertura da referida companhia, sendo essa sua efetiva
contraprestação. Acrescentou que somente concordou com a inclusão da cláusula 3.1. (que
tratou da abertura futura do capital em Bolsa de Valores), sem a estipulação de prazo para a
realização dessa obrigação, em razão da relação de confiança existente entre as partes, à
época.
Aduziu que a comercialização de ações no mercado norte-americano foi
condição estabelecida pela própria ré e que sua concretização dependia exclusivamente de
sua vontade, não tendo se realizado propositalmente como forma de se esquivar da
obrigação contratual.
Acrescentou que o Código Civil Argentino, diploma legal competente para reger
a contenda, dispõe que, em sendo maliciosamente obstada a condição pela parte a quem
esta desfavorece, reputa-se verificada essa condição.
Analisada a demanda, o sentenciante julgou parcialmente procedente o pedido
(fls. 1850-1858), para, nos termos da cláusula 3.1 do Acordo de Acionistas, declarar o direito
de ser efetuada a "troca das ações", em quantidade correspondente ao mínimo de 2% do
valor de mercado da Companhia ré em 5/12/2006. Ademais, condenou a ré ao pagamento de
dividendos decorrentes dessa posição acionária, com os devidos acréscimos legais.
Houve interposição de apelação por UNIVERSO ONLINE S.A e recurso adesivo
pela autora, julgados pela 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJSP,
oportunidade em que reformou-se a sentença, provendo-se o recurso da ré, negando-se
provimento ao recurso adesivo, nos termos da ementa (fl. 2007):
Sociedade anônima. Acordo de acionistas. Permuta de ações. Ajuste
condicionado a evento não implementado.
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Justificativa para a ausência de oferta de ações da companhia ré em bolsa
norte americana. Condição não indevidamente obstada. Troca de ações
que não se impôs como remuneração da autora, senão em meio a projeto
da ré, a que a autora se associou e que se frustrou. Indenização, por
conseguinte, indevida, sendo que eventual crédito por serviços prestados
deve ser exigido, em sede própria, da empresa beneficiária.
Sentença revista. Recurso de apelação provido, desprovido o adesivo.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.729.549 - SP (2017/0253182-4)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : EDITORIAL PERFIL S.A
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO GARCIA LOPES LORENCINI - SP104335
ANDRÉ CAMERLINGO ALVES - SP104857
ANDRÉA CARVALHO RATTI - SP155424
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RECORRIDO : UNIVERSO ONLINE S/A
ADVOGADOS : RICARDO CHOLBI TEPEDINO - SP143227
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MARCUS VINICIUS SOUZA MAMEDE E OUTRO(S) - DF016615
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EMENTA
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
Tribunal a quo entendeu pertinente à solução da controvérsia.
Em síntese, os vícios que implicam violação aos arts. 165, 458 e 535, I e II, do
CPC/1973, são aqueles que recaem sobre ponto que deveria ter sido decidido e não o foi, e
não sobre os argumentos utilizados pelas partes, os quais podem ser ilididos por diversa
fundamentação fática e jurídica que tenha sido considerada prevalecente na hipótese.
A propósito:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 1. VIOLAÇÃO
AO ART. 1.022 DO CPC/2015. INEXISTÊNCIA. 2. MEDIDA CAUTELAR DE
ARRESTO. PERICULUM IN MORA NÃO CONFIGURADO. MODIFICAÇÃO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 3.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA
ENTRE OS ACÓRDÃOS EVIDENCIADA PELA APLICAÇÃO DA SÚMULA
7/STJ. 4. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Havendo a apreciação pelo Tribunal de origem de todas as matérias
suscitadas pelas partes, não há que se falar em violação do art. 1.022 do
CPC/2015.
(...)
4. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 1043856/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, DJe 15/09/2017)
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Ao analisar a questão preliminar, o acórdão recorrido manifestou-se nos
seguintes termos (fl. 2011):
Em primeiro lugar, afasta-se a alegação de nulidade do apelo da ré ao
argumento de que subscrito por Advogados impedidos, como tais
entendidos aqueles integrantes do mesmo escritório a que pertencente
Desembargador aposentado, a quem se impõe a chamada quarentena.
Na verdade, a ré vinha sendo patrocinada por outros Advogados,
note-se, que substabeleceram - e não ao Advogado alegadamente
em quarentena - com reservas (fls. 1449) e, um deles, que
subscreveu, também, o recurso de apelação. Daí a ausência da mácula
a reconhecer, posto que abstraída a referência ao Desembargador
aposentado como mero consultor do Escritório.
CONSULTA N. 49.0000.2012.007316-8/COP.
Origem: Conselho Seccional da OAB/Roraima - Ofício n. 116/2012/GP, de
30.07.2012.
Órgão Especial. Assunto: Consulta. Quarentena de magistrado.
Impedimento. Extensão aos demais sócios da sociedade de
advogados. Matéria afetada ao Conselho Pleno (Órgão Especial).
Relator: Conselheiro Federal Duilio Piato Júnior (MT).
EMENTA N. 018/203/COP. Quarentena. Constituição de empresa. Inserção
em empresa já existente, como sócio, associado ou funcionário de
advogado impedido de advogar por quarentena contamina o escritório e
todos os associados com o impedimento no âmbito territorial do tribunal no
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qual atuou como magistrado, desembargador ou ministro. Mesmo que de
forma informal. Escritório de advocacia, sócios e funcionários passam a ter
o mesmo impedimento do advogado que passar a participar do escritório
formal ou informalmente. Qualquer tentativa de burlar a norma
constitucional incide no art. 34, item I, do Estatuto da Advocacia e da OAB.
Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em
referência, acordam os membros do Conselho Pleno do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, por maioria, em acolher o voto do
Relator, parte integrante deste. Brasília, 20 de maio de 2013. Marcus
Vinicius Furtado Coêlho, Presidente. Duilio Piato Júnior, Relator.
(DOU, S.1, 03.09.2013, p. 85)
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1. Ilegitimidade ativa da ANAMATRA e AJUFE para a instauração de
processo objetivo de controle de constitucionalidade contra ato do poder
público cujos efeitos atinjam todos os integrantes da magistratura, ante a
deficitária abrangência do vínculo de representatividade que caracteriza a
identidade associativa de ambas as entidades.
2. A norma impugnada cria impedimento ao exercício da advocacia não
relacionado a requisitos individuais de capacidade técnica, mas a fato de
terceiro (exercício, por outrem, da magistratura), sem qualquer
intermediação legislativa, em conflito com a garantia do livre exercício “de
qualquer trabalho, ofício ou profissão” (art. 5º, XIII).
3. O art. 95, parágrafo único, V, da Constituição Federal estabelece um
importante padrão de moralidade pública, visando a coibir situações de
conflito de interesses que possam ameaçar a credibilidade do Poder
Judiciário.
4. Embora a aplicação dessas vedações pressuponha uma margem de
valoração sobre os comandos contidos no art. 95 da CF, não é possível
acrescentar a eles elementos normativos estranhos, principalmente no que
se refere ao seu alcance subjetivo, pois o estatuto pessoal dos ocupantes
da magistratura não pode ser aplicado a terceiros sem vínculo com a
atividade judicante, sob pena de violação ao princípio da intranscendência
das normas restritivas de direitos.
5. A cláusula constitucional hospedada no art. 5º, XIII, da CF, é
asseguradora de direito fundamental – o exercício de profissões e ofícios –
cuja restrição está submetida à reserva legal qualificada, não podendo ser
formalizada por fonte jurídica diversa da legislativa.
6. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada
procedente.
(ADPF 310, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 18/10/2019, PUBLIC 27-02-2020)
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relacionado não a requisitos de capacidade técnica individuais, mas a um fato de
terceiro (exercício, por outrem, da magistratura) –, sem nenhuma intermediação
legislativa.
Na linha desse raciocínio, asseverou o douto Ministro relator que o ato
impugnado tracionava "em sentido antagônico a uma das liberdades individuais de maior
apelo social da Constituição Federal, que vem a ser aquela prestigiada no seu art. 5º, XIII, a
proteger o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão".
Arrematou com acerto habitual:
A chamada quarentena impõe restrição jurídica gravosa aos seus
destinatários, vinculando-os mesmo após o desligamento da função pública,
independentemente do período de exercício da jurisdição e mesmo que o
afastamento tenha decorrido de exoneração voluntária.
(...)
Por incidir severamente sobre a liberdade profissional, a vedação prescrita
pelo art. 95, parágrafo único, V, da CF jamais poderia ser utilizada como
fundamento normativo para a aplicação de sanções éticas em face
de terceiros, que nunca tiveram vínculo algum com a magistratura,
sob pena de se atentar contra o princípio – medular em nosso
ordenamento – da intranscendência das sanções ou das medidas
restritivas de direitos.
Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 16 de 5
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3.4. Somando-se aos fundamentos já apresentados, saliente-se que, por uma
questão de hermenêutica jurídica, as normas que restringem direitos devem ser interpretadas
restritivamente, não comportando exegese ampliativa.
Por oportuno:
ADMINISTRATIVO. DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL APOSENTADO.
INSCRIÇÃO NA OAB. IMPEDIMENTO DO ART. 30, I, DA LEI 8.906/1994.
INAPLICABILIDADE.
1. Controverte-se a respeito da decisão proferida pela OAB/Seção de Santa
Catarina, que deferiu, com a restrição prevista no art. 30, I, da Lei
8.906/1994, o pedido de inscrição em seus quadros, formulado por
Delegado de Polícia Federal aposentado.
2. A limitação ao exercício profissional possui o seguinte teor: "Art. 30. São
impedidos de exercer a advocacia: I - os servidores da administração direta,
indireta e fundacional, contra a Fazenda Pública que os remunere ou à qual
seja vinculada a entidade empregadora".
3. A recorrente defende a tese de que o legislador não delimitou o termo
"servidores" e que, ademais, a aposentadoria, por si só, não retira "do
interessado sua condição de servidor público" (fl. 238, e-STJ). Por essa
razão, a norma deve ser interpretada no sentido de que inclui tanto os
ativos como os inativos.
4. A interpretação conferida, data venia, é destituída de juridicidade e de
razoabilidade.
5. Em primeiro lugar, por questão de hermenêutica: as normas que
restringem direitos devem ser interpretadas restritivamente, o que,
aplicado ao caso concreto, recomenda que o impedimento parcial do
exercício da advocacia incida apenas em relação aos servidores
ativos.
6. Ademais, o dispositivo legal em análise visa a evitar conflito de ordem
moral e ética que haveria se o servidor pudesse se valer das informações a
que tem acesso, pela sua condição, e, simultaneamente, atuasse no sentido
de promover suas atividades profissionais como órgão integrante do Poder
Público e de, contraditoriamente, patrocinar causas contra o respectivo ente
federativo.1471391 7. A extinção do vínculo estatutário, decorrente da
aposentadoria, faz cessar esse conflito. Nesse sentido, reporto-me ao
entendimento adotado à unanimidade pelo próprio Conselho Federal da
OAB: Recurso nº 0140/2003/PCA-SC, Relator Conselheira Ana Maria Morais
(GO), DJ 24.04.2003, p. 381, S1.
8. Recurso Especial não provido.
(REsp 1471391/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
DJe 26/11/2014)
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reconhecidamente da soberania estatal. Haverá, no entanto, hipóteses em que a expressão
daquela mesma soberania se dará por meio da concessão, pelo ordenamento, da incidência
do direito estrangeiro para solução das demandas.
Nesses casos, o Estado, no exercício de sua soberania, elege situações que
determinarão a incidência de um Direito que não o seu próprio.
Com efeito, a doutrina de direito internacional privado é uníssona em afirmar a
possibilidade da designação da lei de um país estrangeiro para reger determinada situação
jurídica objeto de processo que se desenvolverá no Brasil.
Sobre o tema, pontua Cândido Rangel Dinamarco:
A problemática da competência internacional não coincide nem se confunde
com a da extraterritorialidade do direito substancial. Como expressão do
poder estatal, a jurisdição de um país é exercida exclusivamente nos lindes
territoriais deste e sempre segundo as normas nacionais de direito
processual.
O direito material, ao contrário, vai além-fronteiras em muitos casos,
segundo normas de super direito representadas pelo direito
internacional privado (LICC, arts. 7.º-11).
(...)
O Código de Processo Civil admite claramente que juízes brasileiro julguem
a causa segundo o direito estrangeiro que em cada caso tenha legítima
pertinência (art. 337). É perfeitamente admissível, portanto, que, não
obstante a competência internacional pertença à autoridade judiciária de
dado Estado soberano, esse juiz internacionalmente competente venha a
julgar segundo normas jurídico-substanciais de outro país e até mesmo
dar-lhe efetividade mediante os atos do processo de execução forçada.
(Instituições de direito processual civil. v. 1. 4. ed. São Paulo: Malheiros,
2004).
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julgador brasileiro, afirmando incidência de normas estrangeiras, quando assim determinado
pelas regras de direito internacional privado. Refiro-me ao Resp n. 254.544/MG, de relatoria
do eminente Ministro Eduardo Ribeiro.
Leia-se trecho do voto proferido pelo relator:
Sem que houvesse alegação das partes, a propósito da incidência do direito
estrangeiro, determinou o juiz trouxesse o autor “a prova de todo o direito
americano legal pertinente aos instrumentos objeto da cobrança, fazendo-o
em prazo de sessenta dias “
Não há dúvida alguma de que, em certas circunstâncias, a Justiça
brasileira haverá de aplicar o direito estrangeiro. Isso resulta de
normas de Direito Internacional Privado que, apesar do nome são de
direito interno. Caso deixasse de fazê-lo, estaria negando aplicação
a tais normas, integrantes do ordenamento nacional.
E se assim é, incide também aqui a regra de que o juiz aplica de ofício o
direito. Não carece, pois, de provocação das partes para verificar se o caso
há de ser regido por alguma disposição de direito estrangeiro.
Não tendo o julgador conhecimento do teor daquele direito, deverá
determinar as diligências necessárias a que isso se esclareça.
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A ora recorrente afirma que o tribunal paulista teria dado interpretação
equivocada aos dispositivos do Código Civil Argentino, negando o seu direito.
Afirma que os arts. 528 a 538 do diploma civil Argentino, "Das Obrigações
Condicionais", vão ao encontro de suas alegações no sentido de que, tendo a recorrida
obstado voluntariamente a ocorrência da hipótese prevista na Cláusula 3.1. do Acordo de
Acionistas, considera-se realizada a condição, nascendo o direito de troca das ações.
Argumenta, na mesma extensão, que o art. 1.198 do código argentino positiva a
regra geral de boa-fé objetiva, que deve ser observada na interpretação e execução dos
contratos e que o art. 218 do Código de Comércio estabelece as bases a serem observadas
quando necessária a interpretação de uma cláusula contratual.
Reitera que o tribunal de origem se equivoca ao afirmar que o legislador
argentino exigiria a configuração do dolo do devedor em obstar a ocorrência da
condição suspensiva, para, só nesses casos, considerá-la realizada.
Acerca dos fatos, manifestou-se o acórdão recorrido, nos seguintes termos:
No mais, e respeitada a convicção da MM. Juíza de origem, não se
considera que o pleito inicial merecesse acolhimento, menos ainda para
garantir, à ré, tout court, o mínimo de 2% das ações da ré, veja-se, pelo seu
valor de mercado em 2006, olvidando-se todo o procedimento avaliatório
estabelecido nas cláusulas 3.1, 3.2 e 3.3 do Acordo de Acionistas, ademais
em que se previu a expressa exclusão de alguns negócios (chamados
"Negócios Excluídos"), devidamente especificados (fls. 162).
Mas, seja como for, considera-se que o próprio direito à permuta de
ações não se houvesse de reconhecer, fundamentalmente porque
condicionado e porque, sem causa injustificável atribuível à ré, não
implementado o evento futuro e incerto subordinante, neste ponto,
do ajuste firmado entre as partes.
As empresas litigantes, primeiro em 1.999 e, depois, em 2000,
firmaram negócio por meio do qual constituíram empresa, na
Argentina, para, em parceria, desenvolver os negócios que a ré
explorava, e ainda explora, aqui no Brasil. Constituída assim a UOL
Argentina, com maioria do capital da ré e 25% da autora, o que
depois se reduziu a 6%, em 2001 (fls. 104 e 124).
Pactuou-se Acordo de Acionistas (fls. 160/176), a fim de "estabelecer a
estrutura geral que irá reger a relação entre as partes na qualidade de
acionistas da UOL-Argentina", prevendo-se estimativa de aporte necessário
ao empreendimento na casa dos 20 milhões de dólares americanos, e
durante o período inicial de cinco anos após a subscrição do acordo,
financiado em função da participação dos acionistas no capital social.
Portanto, de pronto cabe assentar que se a autora diz ter investido cerca de
cinco milhões, e por meio da cessão ou créditos de espaços publicitários,
como já se havia previsto no acordo de 1999 (v. fls. 137/138), restaram os
outros quinze a cargo da ré.
Ainda ajustaram as partes que o conteúdo da UOL-Argentina seria
fornecido, nem só pela autora, mas por ambas, mediante as condições da
cláusula 5ª do Acordo de Acionistas. Assim, incumbir-se-ia a ré dos
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conteúdos genéricos em idioma espanhol e a autora dos seus próprios
conteúdos específicos, conforme detalhado na cláusula 5.4 (fls. 164). Tanto
quanto a plataforma e mecanismos de busca, a autora fornecia seus
conteúdos por meio do que no Acordo se chamou de uma divisão de seus
negócios, a UOL-Portal Espanhol (UOL-E), a uma remuneração fixada nas
cláusulas 5.1 e 5.2, enquanto a autora, pelo seu próprio fornecimento, teria
direito também a uma remuneração, prevendo-se na parte final da cláusula
5.4: "em contraprestação às obrigações assumidas pela PERFIL na
presente clausula 5.4, a PERFIL deverá possuir o direito de receber uma
comissão da UOL-Argentina igual a 50% das receitas líquidas da
UOL-Argentina derivadas da publicidade inserida nos sites de produtos da
PERFIL."
Daí já se extraem algumas conclusões que se reputam relevantes.
Primeiro que ambas as partes investiram, e nas forças de sua
participação social, a evidenciar a real parceria que entre elas se
erigiu.
Segundo que o fornecimento de conteúdos, igualmente, coube a
ambas e, por isso, se previram remunerações próprias, em cláusula
própria, distinta da questão da troca das ações, que se vai examinar
adiante. Terceiro que bem se denota, já pela referência, na cláusula
5ª, a uma divisão de negócios da ré para fornecimento de conteúdos
genéricos em espanhol, aludindo a divisões operacionais em idioma
espanhol e, não apenas à UOL-Argentina, mas também à UOL-Chile, à
UOL-México, entre outras (v. fls. 163), um evidente projeto de expansão
para a América Latina. E justamente aí se coloca o problema da
oferta pública de ações da ré em Bolsa norte americana. Frise-se,
evento que se elegeu condicionante do direito de a autora trocar
sua participação acionária na UOL-Argentina por ações da
Companhia ré.
Consoante, de fato, se ajustou na cláusula 3.1 do Acordo de
Acionistas, "as partes concordam que, durante o período de um ano
após o que ocorrer por último entre: (1) o último dia do terceiro ano
após a data do presente Acordo de Acionistas e (2) a data da Oferta
Pública Inicial (IOP) da UOL-INC, em uma importante bolsa de valores
dos EUA, a PERFIL LIMITED deverá possuir o direito de notificar, por
escrito, a UOL-INC, sobre a intenção da PERFIL LIMITED de permutar
todas, e não menos do que todas, as suas ações da UOL-Argentina
por ações da UOL-INC." Isto, é certo, mediante as condições de
implementação já acima referidas, com exclusão, ademais, de alguns
negócios na avaliação a que se deveria proceder.
Contudo, no que agora importa, concordaram as partes em ajustar
um direito formativo de a autora trocar suas ações na UOL-Argentina
por ações da ré, dependente, fundamentalmente, do transcurso do
prazo de três anos da data do Acordo de Acionistas ou da oferta
pública inicial que a apelante viesse a fazer em bolsa norte
americana, o que ocorresse por último e a partir de quando fixado
prazo decadencial de um ano para exercício da faculdade.
Pois bem. Firmado o Acordo de Acionistas em 2000, passou-se um ano dos
três iniciais do ajuste, como nele previsto, sem que qualquer opção de troca
das ações se manifestasse. Tal manifestação se fez em dezembro de 2006
(fls. 213), ao fundamento de que no prazo contado desde evento posterior,
o último conforme a previsão da cláusula 3.1, assim o lançamento de ações
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da ré. Mas não em bolsa norte americana, senão na BOVESPA, o que
sucedeu em dezembro de 2005.
A propósito, sustenta a autora, de um lado, que a previsão de permuta das
ações se colocou no contexto de verdadeira retribuição ou contrapartida
pelos conteúdos que, mesmo depois do prazo inicialmente firmado,
permaneceu a fornecer para a UOL-Argentina. Mas, como já se viu, também
a ré, além da própria plataforma e mecanismos de busca, disponibilizava
conteúdo. Depois, igualmente visto que, por isso, ambas as partes tinham
retribuição própria e prevista em cláusula específica.
Segue a autora argumentando que a aquisição das ações constituía
justa expectativa de quem investiu cerca de cinco milhões no
negócio. Mas eram cinco de vinte milhões previstos, o que significa
dizer que nem só ela investiu, e nem a maior parte, ademais da
consideração básica de que o investimento é próprio do negócio
que se quis implementar. Eram empresas sócias no projeto de se
levarem ao solo argentino os serviços de conteúdos virtuais que a
ré explorava no Brasil.
Por fim, defende a autora interpretação extensiva para a condição
ajustada, de modo a se reconhecer que no lançamento das ações na
BOVESPA já se traduzia o implemento do evento futuro e incerto a
subordinar o direito de troca das ações, literalmente previsto como
sendo IPO em mercado bursátil norte americano. A tanto acrescenta
que era notório interesse da ré em fazê-lo e que para isso lançou as ações
no Brasil.
Não se nega, nem se controverte que, quando da entabulação do
negócio em questão, fosse propósito da ré internacionalizar sua
atividade, colocando-se no mercado latino americano por meio da
constituição de empresas, como no caso, na Argentina, mas também
em outros países, como Chile e México, por exemplo, de resto
conforme antes se salientou, e ao que serviria o lançamento de
ações nos EUA. Isto, porém, não significa que esta oferta de ações
em bolsa americana fosse uma certeza. Deu-se caso típico da
chamada condição simplesmente potestativa, ou seja, em que o
evento futuro e incerto que subordina os efeitos do negócio
jurídico depende da vontade de uma das partes, mas ela própria
depende de circunstâncias externas, como, no caso, do mercado.
E o fato é que, quando do lançamento das ações, no Brasil, em 2005, cerca
de cinco anos passados desde o Acordo de Acionistas, a realidade era
outra. Veja-se, a respeito, que, no prospecto de fls. 623, em sua página
112, já se referia o encerramento de outras empresas UOL latino
americanas, retratando-se bem o quadro de insucesso da tentativa de
expansão dos negócios da ré. Do mesmo modo, no documento, agora na
página 134, observa-se a posição da UOL-Argentina no movimento total da
Companhia, decerto que insuficiente, só por isso, a levar a ré a ofertar
ações nos EUA. Aliás, bem ao contrário, incontroversas as dificuldades
enfrentadas pela empresa constituída na Argentina, e mesmo pela própria
ré, demonstrado o processo de "concurso preventivo" que teve trâmite
naquele País vizinho.
Neste cenário, não parece ser possível concluir que o lançamento de ações
na BOVESPA sirva a considerar implementada a condição prevista na
cláusula 3.1 do Acordo de Acionistas, nem mesmo permitindo entrever que
se integrasse a estratégia de oferta inicial (IPO) no mercado americano.
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Aliás, o que parece ter sido reconhecido pela própria autora, logo no ano de
2006, quando firmou negócio - posto que sem interferir no pleito veiculado,
como abaixo referido - sobre as ações da UOL-Argentina com um seu
credor (v. fls. 282).
De igual forma, pelos mesmos motivos, também não se entende
razoável imaginar que a ausência desta oferta em bolsa dos EUA
tenha de algum modo sido motivada pelo propósito de frustrar a
condição em exame, de sorte a se autorizar a conclusão pela sua
ficta implementação (art. 537 do CC argentino). E, acrescente-se,
ainda que se defenda a aplicação do artigo 538 da mesma legislação,
aquela incidente à espécie conforme as condições do negócio
firmado, nem por isso o deslinde se altera.
A uma que a doutrina diverge sobre se na compreensão do art. 538
não se exige, também, como no artigo 537, parte final, malícia quanto
à ocorrência do evento condicionante, havendo quem defenda que
a diferença entre os preceitos esteja, antes, no doloso impedimento
a que o evento se realize ou na dolosa provocação de evento que
não se realizaria. Por exemplo, sustenta Alfredo Como que, na regra
do art. 537, quer-se dizer: "se tendrá por no cumplida (o fallida) la
condición, cirando dolosamente se procure (y no se impida) su
cumplimiento por parte del que va a resultar beneficiado por ella. Em el
art. 538 se quiere lo opuesto: la condición será juzgada como cumplida
cuando el que va a resultar perjudicado por su cumplimiento
dolosamente lo impide." (De las obligaciones en general. 2" ed.
Buenos Aires. Lib. Y Casa Ed. de Jesus Menendez. t. I, p. 167). Daí
defender sempre necessária a malícia, não a mera culpa (Idem,
ibidem; no mesmo sentido: Baldomero Llerena. Concordancias y
comentados ao CC argentino. 3" ed. Lib. Y Ed. La Facultad. t. II. p.
471-472)). E sintomático que, no novo Código argentino, ainda a
viger, a matéria, antes tratada no capítulo das obrigações, tenha
sido levada à parte geral e num só artigo que dispõe: "el
incumplimiento de la condición no puede ser invocado por la parte que,
de mala fe, impede su realización." (art. 345)
Porém, mesmo rebatendo-se a tese, sem deixar de reconhecer sua
força, ao argumento de que, literalmente, o CC ainda atual somente
consagrou a hipótese de frustração do evento (por todos: Hector
Lafaille. Derecho civil. Tratado de las obligaciones. Buenos Aires.
Ediar Ed. t. VII. p. 51), de qualquer maneira a condição fictamente
implementada, na hipótese do artigo 538, pressupõe ao menos culpa
da parte, como o reconhece a própria autora, remetendo à lição de
Belluscio e Zannoni, que colaciona (v. fls. 1.529/1530). É dizer então
que o efeito não se opera "si al impedir el cumplimiento de la
condición el obligado há procedido en ejercicio de um derecho"
(Raymundo Salvat. Tratado de derecho civil argentino. Obligaciones en
general. 4ª ed. p. 275), ou, havendo causa bastante a justificar a
conduta da parte, portanto afastando-se mesmo a culpa, senão o
dolo. E tal o que se há de compreender na espécie.
A rigor, insista-se, a ausência de lançamento das ações nos EUA deu-se em
meio à alteração do mercado em relação à expansão pretendida e mesmo
diante da frustração de um projeto que não era somente da ré, mas a que
se associaram seus parceiros nos diversos países, incluída a autora,
destarte ainda aqui sem se cogitar de culpa que autorize considerar
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implementada condição a permitir que a parceira em empresa desvalorizada
se torne titular de dois por cento do capital da ré, no Brasil.
A verdade é que a iniciativa em virtude da qual se associaram as partes não
deu certo e o que, por evidente, deve trazer, como traz, consequência a
ambas, afinal sócias. A autora decerto teve prejuízo, como teve a ré.
Nada nos documentos firmados justifica a conclusão de que não
houvesse risco também para a autora, acaso garantida em qualquer
circunstância pela integração aos quadros da ré no Brasil.
Não houve, como quer a autora, o que seria um calote em crédito
que não se reconhece a si afeto, e muito menos garantido pela troca
de ações. Sua integração ao negócio se deu por meio de participação
societária que lhe poderia trazer lucros ou prejuízos. Insista-se, para ela e
para a ré, aliás, na força da participação de cada qual, e visto que bem
maior a da apelante.
Daí, preservada a convicção da MM. Juíza de origem, e mesmo superada a
questão da titularidade das ações da autora na UOL-Argentina,
especialmente em face da declaração da própria Quebecor, de fls. 1139,
não se justificar a deliberação de permuta das ações, de conseguinte
ausentes dividendos que a ré deva pagar pela posição acionária que não
se reconhece à autora, em seus quadros. E, do mesmo modo, não há
indenização de que se deva cogitar, note-se, na inicial associada à negativa
de troca das ações (fls. 25/26), mas que não se considera ilícita.
Textualmente afirmou a autora que "se o direito de troca das ações tivesse
sido acatado pela ré, restaria encerrado o dever da autora de disponibilizar
conteúdos e, portanto, deve ser ela indenizada do valor equivalente". Ou
seja, pretende-se indenização por ato ilícito, vinculado a causa que não se
pode alterar dado o princípio da estabilização da lide e da adstrição.
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Abaixo a ementa do acórdão:
Recurso extraordinário - Casamento, ação anulatória - matéria de prova - lei
estrangeira, aplicação. - Não cabe recurso extraordinário da decisão da
justiça local que concluiu pela nulidade do segundo casamento em face da
prova de que o anterior não estava dissolvido por qualquer dos meios
legais.
(RE 7076, Relator(a): CASTRO NUNES, julgado em 16/11/1944)
A influência referida acima resultou no fato de quase 1/4 dos 4.908 artigos do
Esbôço de Freitas ter sido "encontrado" nos três primeiros livros da obra argentina e as fonte
da qual se valeu Vélez é facilmente reconhecida, porque, como dito, a cada dispositivo do
Código, seu criador acrescentou "notas explicativas", que diziam respeito, também, às suas
influências. (NOCCHI, Carolina Penna. A influência de Augusto Teixeira de Freitas na
elaboração do Código Civil argentino. Revista do CAAP. Número Especial: I Jornada de
Estudos Jurídicos da UFMG. Belo Horizonte, jul./dez., 2010, pp. 37-48).
No que respeita ao caso dos autos, indispensável se faz uma leitura, com base
no sistema jurídico portenho, dos princípios e institutos intimamente ligados à teoria
contratual, mormente a boa-fé, que tomou lugar de destaque no código argentino,
considerado por Teixeira de Freitas, na Consolidação das Leis Civis, como a "alma do
comércio", sem a qual ele não pode subsistir.
Conforme documentado por Aurélio Agostinho da Bôaviagem, Doutor em direito
pela UFPE, cuida-se aqui da boa-fé objetiva, lealdade negocial, que orienta as partes a "agir
com honradez, denodo, lealdade, honestidade e confiança recíprocas, isto é, proceder de
boa-fé tanto na tratativa negocial, formação e conclusão do contrato como em sua execução
e extinção, impedindo que uma dificulte a ação da outra". (Sobre princípios dos contratos
internacionais de comércio. Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife. v. 88, n. 2,
jul./dez. 2016).
Na mesma linha, a doutrina de Juan Manuel Aparicio:
el principio de buena fe enuncia los criterios que permiten colmar los vacíos
susceptibles de generarse en la resolución de los casos concretos,
planteados en la vida económica y social, permitiendo la función integradora
derivada, secundaria y complementaria que debe operar dentro del marco
del sistema. (Contratos en general, Observaciones al Proyecto de Código
Civil y Comercial. La Ley, 5.12.2012, p. 4).
Por sua vez, Pascual Eduardo Alferillo, Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Universidad de Mendoza e Diretor do Instituto Regiòn Cuyo de la Academia Nacional de
Derecho de Córdoba, leciona que a "mala fe" se configura quando o sujeito tem
conhecimento de determinada situação, circunstâncias, dados ou condições, relevantes
para o direito, à luz das particularidades de cada ato jurídico, e, com base nesse
conhecimento, promove ações antifuncionais. Os atos, nesses termos praticados, serão
considerados ilegítimos, dada a manifesta intolerância com esse comportamento por parte do
ordenamento. (Reflexiones sobre la mala fe. Revista del Notariado. set. 2003.
https://ar.ijeditores.com/articulos.php?idarticulo=21047&print=2).
Elucida o mesmo doutrinador portenho que o indivíduo que tem, ou deva ter,
esse "conhecimento significativo", contraria o princípio da boa-fé, se o retiver sem notificar o
outro sujeito do ato, ao celebrar, executar ou interpretar o negócio, pois estará transgredindo
a confiança e a lealdade que devem ser regra em todos os atos jurídicos.
Na mesma linha de intelecção, o espanhol Francisco Jordano Fraga esclarece
que a condenação das condutas realizadas nos moldes acima descritos fundamenta-se no
reconhecimento da existência dos deveres tutelares secundários ao (principal) dever de
provisão e visa preservar cada uma das partes dos danos que possam decorrer do
cumprimento da obrigação: "los deberes de protección tienen un contenido autónomo
respecto al deber de prestación, de modo que, desde la perspectiva del deudor, estos
deberes operan con independencia de que la prestación principal se haya cumplido". (La
responsabilidad contractual. Editorial Civitas S. A. Madrid, 1987, p. 141).
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Seguindo no rumo da doutrina argentina já referida, e em complemento à teoria
da mala fe, a Cámara Nacional de Apelaciones en lo Criminal y Correcional de la Capital
Federal apresentou o conceito de fraude, caracterizando-a como a violação de contrato que
se configura quando o devedor tem a capacidade de cumprir e não deseja fazê-lo
deliberadamente ou quando o inadimplente está plenamente ciente da ilegitimidade de suas
ações, agindo de má-fé, violando deliberadamente suas obrigações. (Autos n. 46.914/95
Servicios Petroleros Fueguinos S.A. Transportes Pampeanos SACIFA s/Incumplimiento de
contrato. 18/6/1996)
Aprofundando no estudo dos institutos da teoria civilista, acerca da fraude, o
Professor Alberto Spota, ao analisar a recepção da norma legal da boa-fé no Código Vélez,
vigente à época dos fatos deste processo, compreende que a má-fé dela se aproxima, mas
com ela não se identifica e esclarece que a disparidade substancial entre os dois
institutos centra-se no fato de que, para se configurar fraude é imprescindível que
haja intenção de causar prejuízo, condição não essencial no caso de má-fé. (Spota,
Alberto G. Instituciones de Derecho Civil - Contratos. v.III, punto f. 2. reimpresión. Buenos
Aires: Depalma, 1980, p. 338).
Na mesma direção, Guillermo Borba, citado na obra de Pascual Alferillo, citado
na obra já referida de Pascual Alferillo, leciona: "en materia contractual existe un dolo
(intención de no cumplir) calificado por la malicia del deudor; es un no cumplir-o, lo que es lo
mismo, cumplir defectuosamente, de mala fe-, desinteresándose de las consecuencias que
ese incumplimiento podrá causar al acreedor más allá de la órbita propia del contrato"
(ALFERILLO, Pascual E. Op. cit).
Uma vez mais, Pascual Alferillo, mas em obra diversa, que compara a
compreensão da má-fé nos ordenamentos argentino e peruano, orienta que, no sistema
jurídico argentino ela pode existir independentemente da finalidade de prejudicar o outro
sujeito, não significando, entretanto que, quando ocorrer, deva ser reparada. E, na sequência,
orienta o professor para a compreensão da fraude, nos seguintes termos: quando o sujeito
pratica determinada conduta, consciente de seu desacordo com a realidade e, valendo-se do
desconhecimento do mandante, somando-se à intenção de prejudicar a outra parte de
uma negociação, o ato pode ser revogado, por fraude, dando lugar à respectiva
indenização". (La "Mala Fe" en Argentina y Perú (Disponível:
https://revistas.ulima.edu.pe/index.php/Advocatus/article/view/4282/4218)
Na linha desse raciocínio, ainda que se reconheça a existência de estudiosos
que relativizam a diferenciação aqui destacada, estabelecendo a sinonímia entre a má-fé e a
fraude, concluiu-se que o entendimento da doutrina argentina majoritária, é no sentido de que,
em matéria contratual, existe fraude (intenção de descumprimento), quando qualificada
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pelo dolo daquele que descumpre certa obrigação.
5.2. Diante desse cenário, voltando ao caso em análise, penso que a
interpretação do tribunal paulista conferida aos dispositivos da lei argentina impugnados
deu-se de forma consentânea com a leitura realizada pela doutrina daquele país.
É que, não havendo na redação dos arts. 537 e 538 do CC Argentino,
referência expressa à dispensa do dolo na prática da conduta para que, numa relação
obrigacional, considere-se aperfeiçoada a condição suspensiva, não estaria o juiz
autorizado a concluir nesse sentido.
Acerca da atividade interpretativa, Ricardo Lorenzetti, Juiz da Corte Suprema de
Justicia de la Nación Argentina, elucida que a doutrina e a jurisprudência desenvolveram,
durante os anos de vigência do Código Vélez, regras básicas de interpretação contratual, que
se dirigem tanto às partes, quanto ao juiz ou árbitro incumbido de resolver uma disputa
contratual e interpretar o que as partes acordaram. (La interpretación de los contratos.
Suplemento especial contratos, La Ley, 2015, pp. 198-199).
Na mesma linha, Diego Serrano Redonnet acrescenta que a "interpretação
contextual" como regra de hermenêutica, orienta que as cláusulas de um contrato sejam
interpretadas umas por intermédio das outras, atribuindo o sentido adequado ao ato como um
todo, ou seja, "interpretando el contrato como un todo coherente, armónico y orgánico, como
lo ha indicado la jurisprudencia". (La interpretación de los contratos en el nuevo Código Civil y
Comercial.
Disponível:http://mail.abogados.com.ar/la-interpretacion-de-los-contratos-en-el-nuevo-codigo-
civil-y-comercial/16420).
Ademais, esclarece o advogado portenho acima referido que, quando o
significado das palavras interpretadas contextualmente não for suficiente, devem-se levar em
consideração as circunstâncias em que o contrato foi celebrado; a conduta das partes,
inclusive após sua conclusão; a finalidade do contrato, por exemplo, expressa em
negociações prévias, assumindo essas circunstâncias grande relevância por imprimirem
autenticidade à atividade interpretativa.
Salienta, por fim, a importância da regra interpretativa específica ou restritiva,
inclusive positivada no novo Código Civil e Comercial da Argentina, consistente no
direcionamento do intérprete pela literalidade dos termos utilizados na expressão da vontade
documentada nos pactos realizados.
Saliente-se, conforme mencionado pelo julgador a quo, que o atual Código Civil
e Comercial da Argentina possui artigo com disciplina correlata à apresentada acima,
dispondo nos seguintes termos:
Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 38 de 5
Superior Tribunal de Justiça
ARTICULO 345. Inejecución de la condición. El incumplimiento de la
condición no puede ser invocado por la parte que, de mala fe, impide su
realización.
Art. 345. Não cumprimento da condição. O descumprimento da condição
não pode ser invocado pela parte que, de má-fé, impede a sua realização.
Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 39 de 5
Superior Tribunal de Justiça
esa misma consecuencia era aplicable a la parte que culposamente.
(Op. cit)
Sendo assim, a meu ver, é certo reconhecer que tendo em vista o fato de a
condição (oferecimento da ações da ora recorrida em uma importante Bolsa de Valores dos
EUA) não se ter realizado por circunstâncias as quais não podem ser atribuídas à recorrida,
mas, ao revés, por acontecimentos externos, enumerados no acórdão, mostra-se inviável o
deferimento do pedido de troca das ações.
De fato, na linha do que afirmou o acórdão, não se configurou conduta dolosa,
fraude, por parte da UNIVERSO ONLINE, no que respeita à não realização da condição
suspensiva, já que as razões para que acontecesse a abertura das ações deveram-se a
circunstâncias objetivas de inconveniência mercadológica, questões, aliás, sobre os quais
não cabe a esta instância extraordinária debruçar-se.
Ademais, na mesma linha da conclusão alcançada pelo Tribunal de Justiça de
São Paulo, entende-se que a concessão das ações UOL Brasil, por meio de troca, em favor
da recorrente, de fato não eram contrapartida ou parte da remuneração devida em razão do
negócio ajustado entre as empresas, mas possivelmente uma espécie de bônus pela
concretização do sucesso daquela, caso ocorresse.
6. Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.
É o voto.
Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 40 de 5
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ BONIFÁCIO BORGES DE ANDRADA
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EDITORIAL PERFIL S.A
ADVOGADOS : MARCO ANTONIO GARCIA LOPES LORENCINI - SP104335
ANDRÉ CAMERLINGO ALVES - SP104857
ANDRÉA CARVALHO RATTI - SP155424
ULISSES SIMÕES DA SILVA E OUTRO(S) - SP273921
RECORRIDO : UNIVERSO ONLINE S/A
ADVOGADOS : RICARDO CHOLBI TEPEDINO - SP143227
FÁBIO TEIXEIRA OZI E OUTRO(S) - SP172594
MARCUS VINICIUS SOUZA MAMEDE E OUTRO(S) - DF016615
IGOR CARNEIRO DE MATOS E OUTRO(S) - DF017063
ALUÍSIO CABIANCA BEREZOWSKI - SP206324
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ULISSES SIMÕES DA SILVA, pela parte RECORRENTE: EDITORIAL PERFIL S.A
Dr(a). RICARDO CHOLBI TEPEDINO, pela parte RECORRIDA: UNIVERSO ONLINE S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira votaram
com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Marco Buzzi.
Documento: 2027120 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/04/2021 Página 41 de 5