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PODER JUDICIÁRIO TRF/fls.

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO
Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro
AÇÃO RESCISÓRIA (AR) Nº 6983/PE (0005130-72.2012.4.05.0000)
AUTOR : LAUDENICE FABRICIA RALFH TEIXEIRA
ADV/PROC : ROSIMAR MARTINS TEIXEIRA
RÉU : JUSCÉLIO RONALDO RODRIGUES GALVÃO
ADV/PROC : ANTIOGENES CARLOS RODRIGUES DE LIRA E OUTRO
RÉU : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
RÉU : EMGEA - EMPRESA GESTORA DE ATIVOS
ADV/PROC : MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA CARVALHO E OUTROS
ORIGEM : 16ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (COMPETENTE P/
EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO

RELATÓRIO

O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO


NAVARRO: Trata-se de ação rescisória ajuizada por Laudenice Fabrícia Ralfh
Teixeira, em face da Caixa Econômica Federal –CEF, de Juscélio Ronaldo
Rodrigues Galvão e da Empresa Gestora de Ativos - EMGEA, com fulcro no
art. 485, V do Código de Processo Civil, visando a desconstituir sentença
proferida em Ação de rito ordinário, cuja pretensão era a obtenção de
declaração de nulidade da execução hipotecária extrajudicial.
Aduz a requerente que a ação declaratória de nulidade, ajuizada
por Juscélio Ronaldo (mutuário executado), objetivava anular execução
extrajudicial de hipoteca, promovida pela Caixa Econômica Federal, na qual a
requerente foi arrematante do imóvel.
Embora na condição de terceira juridicamente interessada,
conforme consta de cópia do contrato de compra e venda entre ela e a
EMGEA, através da credora fiduciária CEF, registrado no Cartório de Imóveis
da Comarca de Caruaru, alega a autora que não foi citada nos autos da ação
declaratória de nulidade para integrar a relação, o que configura nulidade
absoluta do processo, por violação do art. 47 do CPC.
Contestações da Caixa Econômica Federal e de Juscélio
Ronaldo Rodrigues Galvão às fls. 175/179 e 226/232, respectivamente.
Parecer ministerial às fls. 251/254, no sentido de julgar
procedente o pedido formulado na ação rescisória, para o fim de anular a
sentença rescindenda e remeter os autos ao Juízo da 16ª Vara Federal da
Seção Judiciária de Pernambuco (Caruaru) para novo julgamento.
É o relatório. À revisão.

AR nº 6983-PE 1 NCFDA
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Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro
AÇÃO RESCISÓRIA (AR) Nº 6983/PE (0005130-72.2012.4.05.0000)
AUTOR : LAUDENICE FABRICIA RALFH TEIXEIRA
ADV/PROC : ROSIMAR MARTINS TEIXEIRA
RÉU : JUSCÉLIO RONALDO RODRIGUES GALVÃO
ADV/PROC : ANTIOGENES CARLOS RODRIGUES DE LIRA E OUTRO
RÉU : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
RÉU : EMGEA - EMPRESA GESTORA DE ATIVOS
ADV/PROC : MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA CARVALHO E OUTROS
ORIGEM : 16ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (COMPETENTE P/
EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO

VOTO

O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO


NAVARRO: A citação constitui pressuposto de eficácia de formação do
processo em relação ao réu, posto que é o ato responsável pela transformação
da estrutura do processo, até então linear - integrado por apenas dois sujeitos,
autor e Juiz - em triangular.
Além disso, a regularidade da citação é indispensável ao
desenvolvimento válido e regular do processo, de modo que sua ausência
macula de nulidade absoluta o feito.
Compulsando os autos, observa-se que, na Ação Declaratória de
Nulidade de Leilão Extrajudicial promovida por Juscélio Ronaldo, ora réu, não
houve citação da autora que, na condição de arrematante do imóvel na
execução, por ter interesse jurídico no feito, tinha que ter integrado a lide em
litisconsórcio passivo necessário.
Diante disso, é inegável a ocorrência de violação ao art. 47 do
CPC, visto que, em face da ausência de citação da ora requerente, a sentença
não produz seus efeitos, já que, para tanto, é imprescindível a citação de todos
os litisconsortes no processo.
Nessa esteira, posiciona-se a jurisprudência pátria:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE
PROCESSUAL. INEXISTÊNCIA DA CITAÇÃO.QUERELA
NULLITATIS. CABIMENTO.NULIDADE DA EXECUÇÃO EM
RELAÇÃO AO RECORRENTE.
1. O ponto central da controvérsia cinge-se a pretensão do
Apelante em desconstituir sentença transitada em julgado, ao
argumento de ser a mesma nula, por ausência de citação da
empresa PONTO SERIDÓ LTDA, da qual era quotista, utilizando
como via eleita para tanto, a Ação de declaratória de
nulidade(querela nullitatis), a qual fora tida por inadequada pelo

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MM.Juiz a quo, extinguindo este o processo sem resolução de
mérito, diante do acolhimento da preliminar de falta de interesse
de agir, com base no art.267,VI,CPC.
2. Na realidade a nulidade postulada é de uma ação de despejo
que o autor afirma não ter sido citado para respondê-la, situação
que o julgador entendeu em sentido diverso.
3. Alguns equívocos resultaram do julgado da ação de despejo. O
Recorrente e a empresa de que era sócio nunca foram citados no
feito. Chegou a ser citada a pessoa de Odilon Carlos Ferreira, na
condição de ocupante do imóvel locado. A afirmativa de que o
SR.Odilon representava a sociedade não é tão real como foi
sustentado.Na realidade, o SR.Odilon disse para o oficial de
Justiça que não era representante da empresa e tinha adquirido o
ponto comercial de uma outra pessoa.
4. Assim, não poderia a empresa e o Recorrente serem tidos
como citados. O próprio INSS havia solicitado a citação de outras
pessoas, porém o julgador não levou em consideração tal fato por
ocasião do julgado. Desconsiderou por completo essas pessoas
que haviam sido citadas na ação de despejo.
5. A nulidade da sentença pode ser declarada em ação própria de
nulidade, eis que, sem a citação, o processo, vale falar, a relação
jurídica processual não se constitui nem validamente se
desenvolve.(Precedentes do Colendo STJ).
6. O instituto da querela nullitatis possibilita retirar do mundo
jurídico sentenças decorrentes de ato processual nulo, entre eles
a ausência de citação, que é pressuposto de existência do
processo, não sofrendo o efeito da coisa julgada, em relação a
quem não foi citado para o feito.
7. Com efeito, a nulidade de citação, e, conseqüentemente do
processo, por ser absoluta, pode ser arguida em ação rescisória,
embargos à execução e em ação declaratória de nulidade.
8. Apelação provida para declarar a nulidade da execução em
relação ao Apelante.
(TRF 5ª Região, AC407118/PE, RELATOR: DESEMBARGADOR
FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS, Segunda Turma, DJE
21/01/2010).
PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. NULIDADE DA
SENTENÇA E DE TODOS OS ATOS PROCESSUAIS, ATÉ O
MOMENTO EM QUE O INSS DEVERIA TER SIDO CITADO.
VIOLAÇÃO AOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. RETORNO DOS
AUTOS AO JUIZO DE ORIGEM.

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- Como se vê nos autos, o AR de fls. 37 apresenta assinatura
sem identificação de quem a postou, além de constar data bem
anterior a data em que foi determinada a citação (fls. 36), não
havendo, portanto, como considerar válido o referido documento.
- Considerando que a sentença foi proferida sem que o INSS
tivesse sido citado para contestar a ação, se impõe o
reconhecimento da nulidade processual por afronta aos principios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Precedente:
Tribunal Regional Federal - 5ª Região; EDAC544485/01/PE; Data
do Julgamento: 06/11/2012; Segunda Turma; Relator:
Desembargador Federal Francisco Barros Dias; Diário da Justiça
Eletrônico TRF5 (DJE) - 08/11/2012 - Página 137.
- Apelação provida, para anular a sentença, bem como todos os
atos processuais, até o momento em que o INSS deveria ter sido
citado, determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem para
o regular prosseguimento do feito, com a citação do INSS para
contestar a presente ação.
(TRF 5ª Região, AC524535/PB, RELATOR: DESEMBARGADOR
FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA
(CONVOCADO), Segunda Turma, DJE 13/12/2012).
Ante o exposto, julgo procedente o pedido da presente ação
rescisória, para o fim de rescindir a sentença proferida nos autos da Ação
Declaratória de Nulidade de Leilão Extrajudicial, bem como determinar a
prolação de nova decisão com a realização prévia da citação dos
litisconsortes.
Defiro o benefício da Justiça gratuita.
Fixo honorários em desfavor dos réus no valor de R$ 2.000,00
(dois mil reais) solidariamente.
É como voto.
Recife, 21 de agosto de 2013.

Desembargador Federal MARCELO NAVARRO


RELAT O R

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RÉU : JUSCÉLIO RONALDO RODRIGUES GALVÃO
ADV/PROC : ANTIOGENES CARLOS RODRIGUES DE LIRA E OUTRO
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RÉU : EMGEA - EMPRESA GESTORA DE ATIVOS
ADV/PROC : MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA CARVALHO E OUTROS
ORIGEM : 16ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO (COMPETENTE P/
EXECUçõES PENAIS) - PE
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL.AÇÃO RESCISÓRIA.
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. AUSÊNCIA DE
CITAÇÃO. NULIDADE. OCORRÊNCIA.
1. A citação constitui pressuposto de eficácia de formação do
processo em relação ao réu, bem como é indispensável ao
desenvolvimento válido e regular do processo, de modo que sua
ausência macula de nulidade absoluta o feito.
2. Na Ação Declaratória de Nulidade de Leilão Extrajudicial
promovida pelo réu desta demanda, não houve citação da ora
autora que, na condição de arrematante do imóvel na execução,
por ter interesse jurídico no feito, tinha que ter integrado a lide em
litisconsórcio passivo necessário.
3. Violação ao art. 47 do CPC, visto que, em face da ausência de
citação da ora requerente naqueles autos, a sentença
rescindenda não produz seus efeitos, já que, para tanto, é
imprescindível a citação dos litisconsortes no processo.
4. Procedência do pedido da ação rescisória.
ACÓRDÃO
Decide o Pleno do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por
unanimidade, julgar procedente o pedido da ação rescisória, nos termos do
voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos
autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Recife, 21 de agosto de 2013.

Desembargador Federal MARCELO NAVARRO


RELAT O R

AR nº 6983-PE 5 NCFDA

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