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Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão : 5ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 19990110387764APC
(0031538-64.1999.8.07.0001)
Apelante(s) : MIGUEL PEPE FILHO
Apelado(s) : JOSE EVERALDO RODRIGUES FERREIRA
Relatora : Desembargadora MARIA DE LOURDES
ABREU
Revisor : Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA
Acórdão N. : 890721

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. CHEQUE. CITAÇÃO. AUSÊNCIA.
INOCORRÊNCIA DA INTERRUPÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL. PRESCRIÇÃO CONSUMADA. DEPÓSITO
JUDICIAL. RENÚNCIA TÁCITA DA PRESCRIÇÃO.
1. A ausência de citação válida ou qualquer outra causa de
suspensão ou interrupção do prazo impõe o reconhecimento da
prescrição, a qual, por se tratar de matéria de ordem pública,
pode ser decretada de ofício.
2. No caso, o insucesso na citação não pode ser imputado ao
Poder Judiciário, porquanto todas as diligências requeridas
foram prontamente atendidas, razão pela qual se torna
incabível a aplicação do enunciado n.º 106 da súmula do STJ.
3. Com fulcro no art. 191 do Código Civil, a prescrição pode ser
renunciada expressa ou tacitamente pela parte interessada,
desde que após consumada e sem prejuízo de terceiro.
4. O executado, ao realizar o depósito judicial, renunciou
tacitamente à prescrição, pois tal ato é com ela incompatível.
5. Recurso conhecido e provido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, MARIA DE LOURDES ABREU
- Relatora, SANDOVAL OLIVEIRA - Revisor, ANGELO PASSARELI - 1º Vogal,
sob a presidência do Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI, em proferir a
seguinte decisão: CONHECER. DAR PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo com a
ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 18 de Junho de 2015.

Documento Assinado Eletronicamente


MARIA DE LOURDES ABREU
Relatora

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RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta por MIGUEL PEPE FILHO em face


da r. sentença de fls. 538/539, proferida pelo d. Juízo da Décima Terceira Vara
Cível de Brasília, que, nos autos da ação de execução promovida contra JOSÉ
EVERALDO RODRIGUES FERREIRA, pronunciou a prescrição do título e,
resolvendo o mérito, julgou extinto o feito com espeque no art. 269, IV, do Código
de Processo Civil.
Irresignado, o apelante sustenta a aplicação do art. 191 do Código
Civil, argumentando que houve renúncia tácita da prescrição por parte do apelado,
que, espontaneamente, reconheceu a dívida ao realizar o depósito judicial de fl. 396.
Requer assim o provimento do presente recurso, para se cassar a r.
sentença e se determinar o prosseguimento da ação na instância inaugural.
Preparo à fl. 550.
Sem contrarrazões, pois não houve citação no feito originário.
É o relatório do necessário.

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VOTOS

A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - Relatora


Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de
admissibilidade recursal.
Consoante relatado, cuida-se de apelação interposta por MIGUEL
PEPE FILHO em face da r. sentença de fls. 538/539, proferida pelo d. Juízo da
Décima Terceira Vara Cível de Brasília, que, nos autos da ação de execução
promovida contra JOSÉ EVERALDO RODRIGUES FERREIRA, pronunciou a
prescrição do título e, resolvendo o mérito, julgou extinto o feito com espeque no art.
269, IV, do Código de Processo Civil.
Em suas razões recursais, o apelante sustenta a aplicação do art.
191 do Código Civil, argumentando que houve renúncia tácita da prescrição por
parte do apelado, que, espontaneamente, reconheceu a dívida ao realizar o depósito
judicial de fl. 396.
Razão assiste ao recorrente.
Com efeito, a prescrição é instituto que visa à estabilização das
relações sociais, a fim de que não se prolonguem indefinidamente os litígios.
Assim, a pretensão, que é, em verdade, o direito de ação nascido no
momento em que determinado direito é violado, deve ser exercida ao longo do prazo
pré-estabelecido por lei, sob pena de prescrição.
Sobre o tema, o art. 202, I, do Código Civil estabelece que a
prescrição é interrompida pelo despacho do juiz que ordena a citação, desde que o
interessado a promova no prazo e na forma da lei processual.
Ao seu turno, preconiza o art. 219, § 1º, do Código de Processo Civil
que a interrupção da prescrição decorrente da citação válida retroage à data da
propositura da ação.
Na hipótese dos autos, a ação de execução de título executivo
extrajudicial foi proposta em 21/06/1999, com lastro em cheque emitido em
02/02/1999 (fl. 5-A).
Contudo, até a presente data, mesmos passados mais de 15
(quinze) anos desde a propositura da ação, os exeqüentes não lograram localizar o
executado, para efetivar a citação.
Ressalte-se, no ponto, que o insucesso na citação do executado não
pode ser imputado ao Poder Judiciário, porquanto todas as diligências requeridas
pelo ora apelantes foram prontamente atendidas, razão pela qual se torna incabível
a aplicação do enunciado n.º 106 da súmula do Superior Tribunal de Justiça,

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segundo o qual "proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na
citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento
da argüição de prescrição ou decadência".
Conclui-se assim que o despacho que determinou a citação do
executado não se revestiu do efeito interruptivo da prescrição, a qual se consumou
no curso da presente ação.
Ocorre, no entanto, que a prescrição, com fulcro no art. 191 do
Código Civil, pode ser renunciada expressa ou tacitamente pela parte interessada,
desde que consumada e sem prejuízo de terceiro. In verbis:

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá,


sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar;
tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado,
incompatíveis com a prescrição.

No caso, a prescrição da pretensão executória estava consumada


quando o apelado, em 01/02/2011, realizou o depósito judicial do valor de face do
título executivo (fl. 396), confessando e reconhecendo a dívida por tal ato.
Dessa forma, não há que se olvidar que o apelado renunciou
tacitamente à prescrição ao realizar o depósito judicial, pois tal ato é
indiscutivelmente com ela incompatível.
Nesse sentido, é a jurisprudência desta Corte:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


NOTA PROMISSÓRIA. NULIDADE DA SENTENÇA. OFENSA AO
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO. NÃO OBSERVADO. CITAÇÃO
EDITALÍCIA TARDIA. PRESCRIÇÃO CONSUMADA. INAPLICABILIDADE
DA SÚMULA 106 DO STJ. TERMO DE ASSUNÇÃO E CONFISSÃO DE
DÍVIDA APÓS A CONSUMAÇÃO DA PRESCRIÇÃO. RENÚNCIA TÁCITA.
ART. 191 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA CASSADA.
1. O d. juízo a quo abriu vistas dos autos, pelo prazo de 10 dias, para que a
recorrente se manifestasse sobre a exceção de pré-executividade. Assim,

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não há que se falar em ofensa ao princípio do contraditório


2. O prazo prescricional para o ajuizamento da ação executiva fundada em
nota promissória é de três (03) anos, a contar do vencimento, conforme
previsto nos arts. 70 c/c 77, ambos da Lei Uniforme.
3. O prazo prescricional se interrompe com o despacho que determina a
citação, desde que o interessado promova a citação no prazo e na forma da
lei processual.
4. Em que pese o exequente tenha envidado esforços no sentido de
promover a citação, não se pode concluir pela interrupção da prescrição, na
forma preconizada no art. 219, §§ 2º e 3º, do CPC. Isso porque, a citação
editalícia somente foi requerida após 2 anos da propositura do processo
executivo. Portanto, fora dos prazos previstos na legislação processual (art.
219, §§ 2º e 3º, do CPC).
5. Para que se proceda a citação por edital basta a afirmação, ou a
declaração expedida por oficial de justiça, de que o réu encontra-se em local
incerto ou ignorado, prescindindo, portanto, de comprovação do
esgotamento das diligências para a localização do requerido.
6. Ademora na citação não pode ser imputada ao Poder Judiciário, não se
aplicando, in casu, o teor da Súmula 106/STJ, tendo em vista que todas às
vezes que o juízo a quo foi provocado, este apreciou e decidiu, de forma
razoavelmente célere, os pedidos que lhe foram dirigidos.
7. O devedor atual, nos termos do art. 191 do CC/2002, renunciou
tacitamente a prescrição da pretensão executiva, pois ao assumir
pagar dívida prescrita, juntando, nos autos, Termo de Confissão e
Assunção de Dívida, adotou comportamento incompatível com a
prescrição. Precedente: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. CHEQUE. CITAÇÃO QUE NÃO SE
EFETUA NO PRAZO LEGAL. EFEITO INTERRUPTIVO.
IRRETROATIVIDADE. PRESCRIÇÃO CONSUMADA NO CURSO DA
AÇÃO. POSTERIOR RENÚNCIA TACITA À PRESCRIÇÃO. ARTIGO 191
DO CÓDIGO CIVIL. RECONHECIMENTO E PARCELAMENTO DA DÍVIDA.
[...] VI. Uma vez consumada, a prescrição acaba por incrementar o
patrimônio do devedor e, como valor eminentemente patrimonial,
torna-se passível de renúncia. VII. O devedor, a despeito de não estar
jungido à satisfação da pretensão deduzida pelo credor, pode abdicar
da prescrição que lhe favorece e que poderia ser arguida em sede
defensiva. VIII. A renúncia pressupõe o exaurimento do prazo

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prescricional, mas pode ser exteriorizada expressa ou tacitamente. IX.


Importa em renúncia tácita à prescrição a posterior confissão da dívida
executada e o compromisso de saldá-la parceladamente, bem como o
pagamento parcial realizado. X. Recurso conhecido e provido. (Acórdão
n.738053, 20080111279927APC, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA,
Revisor: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento: 20/11/2013,
Publicado no DJE: 29/11/2013. Pág.: 159)
8. Recurso conhecido e provido. Sentença cassada.
(Acórdão n.838513, 20070110724669APC, Relator: ALFEU MACHADO,
Revisor: FÁTIMA RAFAEL, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento:
10/12/2014, Publicado no DJE: 20/01/2015. Pág.: 616) (grifo nosso)
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXECUÇÃO POR
QUANTIA CERTA. CHEQUE. CITAÇÃO QUE NÃO SE EFETUA NO
PRAZO LEGAL. EFEITO INTERRUPTIVO. IRRETROATIVIDADE.
PRESCRIÇÃO CONSUMADA NO CURSO DA AÇÃO. POSTERIOR
RENÚNCIA TACITA À PRESCRIÇÃO. ARTIGO 191 DO CÓDIGO CIVIL.
RECONHECIMENTO E PARCELAMENTO DA DÍVIDA.
I. Nos termos do artigo 59 da Lei 7.357/85, prescreve em seis meses,
contados da expiração do prazo de apresentação, a ação de execução
assegurada ao portador do cheque.
II. O despacho que recebe a execução aciona o gatilho da interrupção da
prescrição, contanto que a citação seja realizada dentro do figurino previsto
na legislação processual.
III. Se a citação não é concluída no prazo legal, o despacho que a determina
resta desprovido de eficácia interruptiva e a prescrição, que não tem seu
fluxo afetado, pode se consumar durante o desenvolvimento da relação
processual.
IV. Apenas a demora imputável exclusivamente aos serviços judiciários
pode salvar a parte da prescrição verificada após a propositura da
demanda.
V. Se a frustração do ato citatório não decorreu de nenhuma ação ou
omissão que possa ser atribuída aos serviços judiciários, senão ao
descumprimento do ônus processual do exequente de fornecer o endereço
do executado, descabe cogitar da incidência da norma que poderia livrá-lo
da fatalidade da prescrição.
VI. Uma vez consumada, a prescrição acaba por incrementar o
patrimônio do devedor e, como valor eminentemente patrimonial,

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torna-se passível de renúncia.


VII. O devedor, a despeito de não estar jungido à satisfação da
pretensão deduzida pelo credor, pode abdicar da prescrição que lhe
favorece e que poderia ser arguida em sede defensiva.
VIII. A renúncia pressupõe o exaurimento do prazo prescricional, mas
pode ser exteriorizada expressa ou tacitamente.
IX. Importa em renúncia tácita à prescrição a posterior confissão da
dívida executada e o compromisso de saldá-la parceladamente, bem
como o pagamento parcial realizado.
X. Recurso conhecido e provido.
(Acórdão n.738053, 20080111279927APC, Relator: JAMES EDUARDO
OLIVEIRA, Revisor: CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento:
20/11/2013, Publicado no DJE: 29/11/2013. Pág.: 159) (grifo nosso)
AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE - ARTIGO 191 DO CÓDIGO CIVIL - RENÚNCIA
TÁCITA - RECURSO DESPROVIDO.
- Com supedâneo no artigo 191 do Código Civil, é possível ao devedor
renunciar a prescrição de maneira expressa ou tácita.
- O encaminhamento de proposta de pagamento é ato incompatível
com a prescrição, razão pela qual merece ser mantida a decisão
agravada que concluiu pelo prosseguimento da execução em razão de
renúncia tácita ao prazo prescricional.
(Acórdão n.465267, 20100020153865AGI, Relator: LECIR MANOEL DA
LUZ, 5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 17/11/2010, Publicado no DJE:
24/11/2010. Pág.: 170) (grifo nosso)

Destarte, com o depósito judicial realizado pelo apelado, impõe-se


reconhecer a renúncia à prescrição e, por conseguinte, a inteireza do crédito
estampado no cheque que embasa a pretensão executória.
Diante de todo o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para
cassar a r. sentença e autorizar o prosseguimento da execução.
É o meu voto.

O Senhor Desembargador SANDOVAL OLIVEIRA - Revisor


Com o relator.

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O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - Vogal


Com o relator.

DECISÃO

CONHECER. DAR PROVIMENTO. UNÂNIME

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