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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


33ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2017.0000876262

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


1024132-56.2014.8.26.0506, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante
DORIVAL PAIVA SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado PREFEITURA MUNICIPAL
DE RIBEIRÃO PRETO.

ACORDAM, em 33ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SÁ


MOREIRA DE OLIVEIRA (Presidente sem voto), SÁ DUARTE E LUIZ EURICO.

São Paulo, 13 de novembro de 2017.

EROS PICELI
RELATOR
ASSINATURA ELETRÔNICA

Apelação nº 1024132-56.2014.8.26.0506 - 33ª Câm. – Direito Privado - TJ


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
33ª Câmara de Direito Privado

Apelação nº 1024132-56.2014.8.26.0506
Comarca: Ribeirão Preto - 1ª Vara da Fazenda Pública
Apelante: Dorival Paiva Santos
Apelada: Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto

Ação de cobrança telefonia prescrição não configurada


interesse de agir presente plano de expansão contrato de
participação financeira do usuário como forma de captação de
recursos leis municipais que reconhecem dever de reembolso
aos assinantes privatização da empresa previsão de reserva
de ações para o valor devido ao usuário procedência da ação
recurso provido.

Voto nº 39.930

Vistos.

Ação de cobrança decorrente de plano de expansão de


telefonia julgada improcedente pelo M. Juiz José Otavio Ramos Barion,
com recurso do autor a pedir a reforma da sentença.

Alega que firmou contrato com a CETERP, dando


anuência em seu financiamento realizado pela Girobank em entregar o
dinheiro da compra da linha telefônica diretamente àquela.

A Prefeitura deveria ter recomprado ou comprado a sua


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linha telefônica, que não ocorreu, além de não ter mais a propriedade
dela a partir da privatização, sendo, assim o único prejudicado na
negociação.

Recurso sem preparo, dada a gratuidade da justiça, e


respondido, em que pede a ré o reconhecimento da falta de interesse de
agir do autor, além ocorrência da prescrição quinquenal.

Caso contrário, que o reembolso se limite ao que foi


efetivamente comprovado, no valor de R$ 360,00, em 7.3.1997, bem
como determinada a devolução do terminal telefônico e também admitida
a compensação entre o valor do empréstimo integralizado e o valor
econômico a ser atribuído ao direito de uso do terminal telefônico.

É o relatório.

Consta da inicial que o autor celebrou contrato de


empréstimo em 7.3.1997, visando a expansão dos serviços telefônicos na
cidade de Ribeirão Preto e que o valor deveria ser restituído, o que não
ocorreu.

No caso concreto, não há prescrição do direito do autor,


tendo em vista que, ao ser editada a lei complementar municipal n°
472/95, houve renúncia expressa a esta, nos termos do artigo 161 Código
Civil de 1916, então vigente, correspondente ao artigo 191 do atual
Código Civil.

A CETERP Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto foi


criada pela lei municipal nº 2.205, de 1969, como empresa pública. Com
base na portaria nº 486, de 17 de maio de 1979, do Ministério das
Comunicações, que regulamentava os serviços de telefonia do País, a lei
complementar nº 3.649, de 27 de julho de 1979, autorizou a prefeitura a
realizar expansão telefônica e previa a captação de recursos sob forma
de empréstimo a ser reembolsado ao usuário.

A empresa foi convertida em sociedade de economia


mista pela lei complementar nº 472, de 7 de agosto de 1995, alterada
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pela lei complementar nº 743, de 2 de abril de 1998, que inseriu o


seguinte parágrafo:

“O município como acionista majoritário das Centrais


Telefônicas de Ribeirão Preto Ceterp, sociedade de economia
mista municipal, adotará plano econômico destinado ao
cumprimento de pactos adjetos de reembolsos dos contratos de
empréstimos e cauções assumidas entre a Prefeitura Municipal e
promitentes assinantes do serviço telefônico urbano, nos termos
das normas baixadas pelo Ministério da Infra-estrutura e
atendendo ao disposto nas Leis Municipais: 3.384, de 09.12.1977;
3.649, de 27.07.79; 5.987, de 10.05.91 e 6.319, de 26.06.92,
mediante a transferência de ações, em compensação, nos termos
da legislação federal pertinente.”

Daí o interesse de agir do autor. Além disso, em 23 de


abril de 1998, a lei complementar 749 autorizou a alienação integral das
ações da CETERP e, para atender à previsão supra e viabilizar o plano
de reembolso aos usuários, o poder público se obrigou a reservar o
mínimo de 35% das ações de titularidade do Município.

A lei complementar 1.059, de agosto de 2.000, regulou a


efetiva transferência das ações, respeitada a reserva descrita e a
empresa foi adquirida pela Telefônica.

No caso, não houve propriamente a devolução do direito


de uso simplesmente porque a empresa municipal de telefonia, única à
época no país, foi totalmente privatizada, transferidas as ações a
particular, com expressa previsão legal de reserva de ações para o
reembolso dos usuários participantes do capital.

O próprio poder púbico reconheceu o dever de


reembolso, tanto aos contratos de empréstimo, regulados pela lei
3.649/79, quanto aos contratos de participação financeira, celebrados
posteriormente.

Negar o pedido do autor significa ofender os princípios da


probidade e moralidade na administração pública, tendo em vista que o
Município foi integralmente remunerado pela venda das ações da
empresa CETERP a particular.
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Apelação nº 1024132-56.2014.8.26.0506 - 33ª Câm. – Direito Privado - TJ


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Lembra-se o voto do desembargador Sá Duarte,


integrante desta câmara, que bem enfrenta a questão:

Imoral, sob qualquer ângulo da discussão, é a não devolução do


que contratualmente foi ajustado com a autora, não existindo
princípio de direito, público ou privado, que possa amparar a
posição adotada pela ré neste processo.
Na verdade, o procedimento da ré vai ao encontro da prática que
vem se repetindo com a administração pública em geral, ou seja,
a da protelação no cumprimento das obrigações, a do calote
generalizado, este sim imoral e contrário ao interesse público.
(Apelação nº 992.383-0/6).

O valor do reembolso deve corresponder ao total de R$


4.413,23, cujo cálculo apresentado a fls. 12/15 não foi impugnado.

O reembolso não está condicionado à devolução do


terminal telefônico, tampouco à compensação pelo seu uso. Vale lembrar
que desde a privatização dos serviços de telefonia as assinaturas
deixaram de ter valor comercial, ademais, o uso do terminal é
remunerado pelo usuário.

Do exposto, dá-se provimento à apelação para julgar


procedente a ação e reconhecer o dever de reembolso ao autor da
quantia de R$ 4.413,23, com correção segundo a tabela deste tribunal
desde o ajuizamento da ação e juros legais decorrentes da mora a partir
da citação, atribuído à ré o pagamento das custas, despesas processuais
e honorários advocatícios de 20% (vinte) do valor da condenação
atualizado.

Eros Piceli
Relator

Apelação nº 1024132-56.2014.8.26.0506 - 33ª Câm. – Direito Privado - TJ

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