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08/02/2022 16:24 Documento:40002947650

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 5001226-37.2019.4.04.7017/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
APELANTE: MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA (RÉU)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)

RELATÓRIO

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face


de MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA, imputando-lhe a prática do delito
previsto no artigo 334, caput, do Código Penal, pelo fato assim narrado na
exordial (evento 1):

I. RELATO DO FATO CRIMINOSO

No dia 8 de julho de 2017, por volta das 18h52min, na BR 163, km 350, em


frente ao Posto da PRF, neste município de Guaíra/PR, o denunciado
MAURÍLIO PEREIRA DE OLIVEIRA – com vontade consciência e vontade –
importou mercadorias de procedência estrangeira de importação permitida,
quais sejam, 31 (trinta e um) pneus novos, sem a comprovação de seu regular
desembaraço aduaneiro, iludindo totalmente o pagamento dos impostos
federais incidentes devido à entrada das referidas mercadorias neste país.

II. CIRCUNSTÂNCIAS RELEVANTES

Na data e local acima descritos, em fiscalização de rotina, uma equipe da


Polícia Rodoviária Federal efetuou a abordagem do veículo GM/Celta 4p Life,
cor branca, placas KAA-4754, o qual era conduzido pelo denunciado
MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA e tinha como passageiro Cleverson Davi
Da Silva Rocha. Ato contínuo, após vistoria no interior do veículo, foram
encontrados 31 (trinta e um) pneus de origem estrangeira, sem a comprovação
de sua regular importação.

A materialidade e os indícios suficientes de autoria exsurgem dos documentos


contidos na Representação Fiscal para fins penais nº 1936.000001/2018-94,
especialmente do Auto de Infração e Apreensão de Mercadorias n° 0910651-
37573/2017 (fl. 4, Evento 1/PROCADM3), o Boletim de Ocorrência n.º
2152957170708485200 (fls. 6-8, Evento 1/PROCADM3), a Relação de
Mercadorias nº 14586/17 (fl. 11, Evento 1/PROCADM3) e Demonstrativos de
Créditos Tributários Evadidos (fl. 2, Evento 1/PROCADM3) que atesta que as
mercadorias totalizaram o valor de R$ 3.395,74 (três mil, trezentos e noventa e
cinco reais e setenta e quatro centavos), tendo os tributos federais iludidos no
montante de R$ 1.524,69 (um mil, quinhentos e vinte e quatro reais e sessenta e
nove centavos).

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&term… 1/15
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A denúncia foi recebida em 27/09/2019, tendo sido determinada a


designação de audiência para homologação da proposta de suspensão
condicional do processo. Ainda, na oportunidade, foi determinado o
arquivamento dos autos em relação a Cleverson Davi da Silva Rocha
e Elizangela Amario (evento 15).

O réu foi citado e intimado por Oficial de Justiça em 28/01/2020


(evento 47).

Em 14/02/2020 foi realizada audiência, onde o acusado e o seu


defensor manifestaram concordância com as condições da suspensão
condicional do processo (evento 48).

Em 12/03/2021, a suspensão condicional do processo foi


revogada em razão do descumprimento injustificado das condições impostas,
determinando-se o prosseguimento da ação penal (evento 71).

Instruído o feito, sobreveio sentença (evento 98), publicada em


26/08/2021, a qual julgou procedente o pedido formulado na
denúncia para condenar o réu MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA, pela
prática do delito previsto no artigo 334, caput, do Código Penal, à pena de 2
(dois) anos, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de reclusão, a ser cumprida
inicialmente em regime aberto, sem direito à substituição.

A defesa interpôs recurso de apelação (evento 110). Em suas


razões (evento 14), requer, em síntese: a) absolvição do réu, em razão da
atipicidade da conduta, ante a aplicação do princípio da insignificância; b) sejam
consideradas neutras as vetoriais culpabilidade, circunstâncias e conduta social,
na primeira fase da dosimetria da pena; c) caso seja mantida a valoração
negativa das vetoriais, seja fixado o quantum de aumento de cada circunstância
judicial negativada em 1/6; d) substituição da pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direitos; e) aplicação da pena no mínimo legal, com a
substituição da pena privativa de liberdade por apenas uma restritiva de direitos,
na forma do art. 44, § 2º do CP.

A Procuradoria Regional da República, oficiando no feito,


manifestou-se pelo parcial provimento do recurso de apelação, apenas para que
seja afastada a negativação da vetorial conduta social, com o consequente
redimensionamento da pena aplicada, e, seja promovida a substituição da pena
privativa de liberdade por duas restritivas de direito. (evento 17).

É o relatório.

À revisão.

Documento eletrônico assinado por LUIZ CARLOS CANALLI, Relator, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
40002947650v6 e do código CRC c8d1232a.

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&term… 2/15
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Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): LUIZ CARLOS CANALLI
Data e Hora: 29/11/2021, às 19:8:41

5001226-37.2019.4.04.7017 40002947650 .V6

Conferência de autenticidade emitida em 08/02/2022 16:11:42.

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 5001226-37.2019.4.04.7017/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
APELANTE: MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA (RÉU)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)

VOTO

1. Síntese do processo

Trata-se de recurso de apelação interposto pela defesa de


MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA em face da sentença que o condenou
pela prática do crime previsto no artigo 334, caput, do Código Penal, à pena
privativa de liberdade de 2 (dois) anos, 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de
reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime aberto, sem direito à
substituição.

2. Preliminar

2.1. Princípio da Insignificância

A defesa requer o reconhecimento da atipicidade da conduta


pela insignificância, já que o valor dos tributos iludidos - R$ 1.524,69 (mil,
quinhentos e vinte e quatro reais e sessenta e nove centavos) -, está aquém do
teto de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), adotado como parâmetro para aplicação
do princípio despenalizante.

Com efeito, o principal critério para aferição da relevância penal


do fato e, em consequência, da tipicidade da conduta no descaminho, é o
interesse fazendário na cobrança do crédito tributário.

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Acerca do ponto, anoto que o Superior Tribunal de Justiça,


revisando o Tema nº 157, firmou tese de que incide o princípio
da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o
débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil
reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações
efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda (Terceira Seção, Resp 1688878/SP, afetação 01/12/2017, j.
04/04/2018).

Todavia, predomina, ainda, no STF e no STJ o entendimento de


que a reiteração na prática das condutas tipificadas constitui circunstância que
lhes confere maior grau de reprovabilidade, impedindo a aplicação do princípio
da insignificância, independentemente do valor dos tributos elididos.

A título exemplificativo, julgados do Supremo Tribunal Federal:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL.


DESCAMINHO. VALOR INFERIOR AO ESTIPULADO PELO ART. 20 DA
LEI 10.522/2002. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HABITUALIDADE
DELITIVA. REPROVABILIDADE DA CONDUTA. 1. A pertinência do
princípio da insignificância deve ser avaliada considerando os aspectos
relevantes da conduta imputada. 2. A habitualidade delitiva revela
reprovabilidade suficiente a afastar a aplicação do princípio da
insignificância (ressalva de entendimento da Relatora). Precedentes. 3.
Agravo regimental conhecido e não provido.
(HC 166099 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado
em 29/11/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-274 DIVULG 10-12-2019
PUBLIC 11-12-2019 - sem destaques no original).

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. REITERAÇÃO DOS


ARGUMENTOS EXPOSTOS NA INICIAL QUE NÃO INFIRMAM OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA: DESCAMINHO. VALOR SONEGADO INFERIOR AO
ESTABELECIDO NO ART. 20 DA LEI 10.522/2002, COM AS
ATUALIZAÇÕES INSTITUÍDAS PELAS PORTARIAS 75/2012 E 130/2012,
AMBAS DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. INAPLICABILIDADE AOS CASOS
DE REINCIDÊNCIA OU COMPROVADA HABITUALIDADE DELITIVA:
ELEVADO GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO AGENTE.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Omissis. II –A jurisprudência
desta Suprema Corte é pacífica no sentido de que o princípio da insignificância
poderá ser aplicado ao delito de descaminho quando o valor sonegado for
inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações
instituídas pelas Portarias 75/2012 e 130/2012, ambas do Ministério da
Fazenda, ressalvados os casos de reincidência ou comprovada habitualidade
delitiva, que impedirão a aplicação desse princípio, em razão do elevado grau
de reprovabilidade da conduta do agente. III – Na espécie, o princípio da
insignificância não foi aplicado ao caso concreto, pois, contra a ré, foi
reconhecida a habitualidade na prática do crime de descaminho, motivo
suficiente para a manutenção dessa decisão, independentemente do valor do
tributo sonegado ser inferior ao que determinado pelo art. 20 da Lei
10.522/2002, com as atualizações instituídas pelas Portarias 75/2012 e
130/2012, ambas do Ministério da Fazenda. IV - Agravo regimental a que se
nega provimento. (HC 161848 AgR-segundo, Relator Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 05/11/2019, DJe-250 DIVULG
12-11-2019, PUBLIC 18-11-2019 - sem destaques no original).

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Na mesma perspectiva, veja-se recentes julgados do Superior


Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO.


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. REITERAÇÃO CRIMINOSA.
IMPOSSIBILIDADE. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS FISCAIS EM
CURSO. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica no
sentido da não incidência do princípio da insignificância nos casos em que o
réu é reiteradamente autuado em processos administrativo-fiscais.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1850479/SC,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 16/06/2020, DJe
23/06/2020 - sem destaques no original).

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DESCAMINHO.EXISTÊNCIA DE OUTROS PROCEDIMENTOS FISCAIS.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
HABITUALIDADE DELITIVA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. No
que se refere ao crime de descaminho, a jurisprudência desta Corte Superior
reconhece que o princípio da insignificância não tem aplicabilidade em casos
de reiteração da conduta delitiva, visto que tal circunstância denota maior
grau de reprovabilidade do comportamento lesivo, sendo desnecessário
perquirir o valor dos tributos iludidos pelo acusado. 2. A existência de outras
ações penais, inquéritos policiais em curso ou procedimentos administrativos
fiscais, em que pese não serem aptos para configurar a reincidência, denotam
a habitualidade delitiva do réu e afastam, por consectário, a incidência do
princípio da insignificância. Precedentes.3. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no AREsp 1665418/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
QUINTA TURMA, julgado em 02/06/2020, DJe 15/06/2020 - - sem destaques
no original).

Como se observa, a jurisprudência consolidada atualmente no STJ


afasta a possibilidade de reconhecimento da insignificância não apenas diante de
novos registros criminais mas também quando existentes outros procedimentos
administrativos em desfavor do acusado.

Esta Turma alinha-se a esse entendimento, considerando


inaplicável o princípio da insignificância, de rigor, a partir do terceiro registro -
administrativo ou criminal - de recorrência da conduta nos cinco anos anteriores,
independente do valor dos tributos iludidos.

Nessa situação, encontra-se o réu, visto que apresenta outros


registros de condutas similares à presente nesse intervalo de tempo.

MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA possui 3 autuações


administrativas no período de cinco anos (evento 1, PROCADM3, p. 45).

Portanto, não há falar em atipicidade de sua conduta


por insignificância.

3. Mérito

Com relação à materialidade delitiva, o conjunto probatório não


deixa dúvidas. Os seguintes documentos acostados aos autos são conclusivos:
a) Boletim de Ocorrência nº 2152957170708185200; b) Auto de Infração e

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&term… 5/15
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Apreensão de Mercadorias nº 0910651-37573/2017; c) Relação de Mercadorias


e Demonstrativo de Créditos Tributários Evadidos (evento 1, PROCADM3).

Tais documentos dão conta da procedência estrangeira das


mercadorias apreendidas, as quais encontravam-se desprovidas da respectiva
documentação legal, sendo que o valor dos tributos elididos é de R$ 1.524,69
(mil quinhentos e vinte e quatro virgula sessenta e nove centavos).

Com relação à autoria, repiso que, em abordagem realizada pela


Polícia Rodoviária Federal, na BR 163, km 350, em frente ao Posto da PRF,
em Guaíra/PR, o réu foi surpreendido na posse das mercadorias estrangeiras,
desacompanhadas de documentação comprobatória da regular internalização,
quando era motorista do veículo GM/Celta 4p Life, placas KAA-4754.

Além disso, em juízo, o acusado confessou ter transportado 31


(trinta e um) pneus irregularmente internalizados, dos quais era o proprietário,
praticando o delito de descaminho para obter renda extra (evento 94, VIDEO2).

Neste contexto, devidamente comprovadas a materialidade e a


autoria delitivas, bem assim o dolo da agente, sendo o fato típico, antijurídico e
culpável e considerando a inexistência de causas excludentes, mantenho a
sentença, por seus próprios fundamentos.

4. Dosimetria

A sentença assim fixou as penas e o regime prisional:

2.3. Da individualização da pena

Descaminho (CP: art. 334)

Pena abstrata - reclusão, de 01 a 04 anos.

A culpabilidade (juízo de reprovabilidade da conduta, apontando maior ou


menor censura do comportamento do réu) é vetorial negativa. Em depoimento
prestado em Juízo, o acusado afirmou que os pneus transportados
foram comprados pelo próprio acusado/proprietário da carga. Estas
informações conduzem ao reconhecimento da culpabilidade acentuada do
acusado, o qual demonstra ter know how na prática de delitos
transfronteiriços, desde a negociação das mercadorias até o seu transporte e
destinação comercial, não se tratando de mero transportador de produtos
negociados e adquiridos por terceiros. Assim, justifica-se a exasperação da
pena em 4 meses e 15 dias de reclusão.

A respeito dos antecedentes (fatos penais pretéritos ao crime praticados pelo


réu), a vetorial apresenta-se neutra, conforme certidões anexadas no evento
13, DOC3 e evento 13, DOC4.

A personalidade (boa ou má índole, maior ou menor sensibilidade ético-social,


presença ou não de eventuais desvios de caráter) deve ser considerada neutra,
ante a ausência de elementos em contrário nos autos.

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&term… 6/15
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A conduta social (atividades relativas ao trabalho, seu relacionamento familiar


e social e qualquer outra forma de comportamento dentro da sociedade) é
vetorial negativa. Conforme informações constantes no processo, o réu foi
beneficiado com a suspensão condicional do processo, mas deixou de cumprir
as condições estabelecidas no evento 48, DOC1, dando causa à rescisão do
acordo. O descumprimento das condições impostas configura o espelho da
postura social da agente, incapaz de honrar com o compromisso assumido
perante o Poder Judiciário e o Ministério Público Federal, além de
demonstrar que o réu não tem responsabilidade perante a administração da
justiça e a coletividade. Diante de tais elementos, majora-se a pena-base em 4
meses e 15 dias de reclusão.

O motivo do crime (razões que moveram o agente a cometer o crime) é o


comum à espécie.

As circunstâncias do crime (estado de ânimo do agente, o local da ação


delituosa, o modo de execução do crime, o tempo de sua duração, as condições
e o modo de agir, os instrumentos empregados, a atitude assumida pelo autor
no decorrer da realização do fato) são exponencialmente negativas, haja vista
que (i) o acusado viajava acompanhado de CLEVERSON DAVI DA SILVA
ROCHA, conforme consta no Auto de Infração e Apreensão de Mercadoria
nº 0910651-37573/2017 e confirmado no interrogatório do réu, reconhecendo-
se assim a atuação em concurso de agentes; (ii) prática do fato no período
noturno. Exaspera-se a pena, no particular, em 9 meses de reclusão.

As consequências do crime (extensão do dano produzido pela prática


criminosa) foram minoradas pela apreensão das mercadorias descaminhadas.

Descabe a análise do comportamento da vítima (contribuição da vítima para a


ação delituosa), haja vista a natureza do crime.

Diante do exposto, fixa-se a pena-base em 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de


reclusão.

Em relação à pena intermediária, incide a circunstância legal da confissão


espontânea, justificando-se a diminuição da pena em 4 meses e 15 dias de
reclusão. Assim, a pena provisória resta fixada em 2 (dois) anos, 1 (um) mês e
15 (quinze) dias de reclusão.

Na terceira fase da dosimetria, nada a considerar.

Com isso, a pena privativa de liberdade vai definida em 2 (dois) anos, 1 (um)
mês e 15 (quinze) dias de reclusão.

2.4. Regime inicial de cumprimento da pena

Considerando a pena privativa de liberdade aplicada e a primariedade do


acusado, fixo o regime aberto para o início do cumprimento da pena privativa
de liberdade - CP: art. 33, § 2º.

2.5. Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito

Em que pese a fixação da pena privativa de liberdade em patamar inferior a


quatro anos, as circunstâncias judiciais desfavoráveis - destacando-se a
conduta social negativa, já tendo o sentenciado descumprido as condições
impostas para a suspensão condicional do processo - indicam que a

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&term… 7/15
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substituição da pena por restritivas de direito - CP: art. 44, III - e a suspensão
condicional da pena - CP: art. 77, II, não se mostram suficientes para a justa e
adequada repressão do delito.

2.6. Da suspensão do direito de dirigir

Segundo restou devidamente evidenciado nos autos, para a prática do crime a


ele imputado, o acusado se utilizou de veículo automotor apreendido pela
equipe policial, o qual era por ele conduzido no momento dos fatos.

A Lei n.º 13.804, de 10 de janeiro de 2019, acrescentou o artigo 278-A ao


Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de


receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180 , 334 e 334-A do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado
por um desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá cassado
seu documento de habilitação ou será proibido de obter a habilitação
para dirigir veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos.

Por ser a lei posterior ao fato em julgamento, não pode incidir no caso
concreto.

No entanto, anteriormente à vigência da referida lei, medida semelhante já era


aplicada como efeito secundário da condenação, nos termos do art. 92, III, do
Código Penal: “a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como
meio para a prática de crime doloso”. O Tribunal Regional Federal da 4.ª
Região reconhece a aplicação da medida:

PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. ART. 334


DO CÓDIGO PENAL. EFEITOS DA CONDENAÇÃO. INABILITAÇÃO
PARA DIRIGIR VEÍCULO. ARTIGO 92, INCISO III, DO CÓDIGO
PENAL. 1. Em razão da prática de crime doloso mediante a utilização
de veículo automotor, é cabível a aplicação do efeito da condenação
previsto no artigo 92, inciso III, do Código Penal, consistente na
inabilitação para dirigir veículo, a fim de desestimular a reiteração no
contrabando, ao privar o agente de instrumento apto a transportar
grande quantidade de mercadorias. Ainda que a inabilitação
para dirigir não impeça a reiteração criminosa, não há dúvida que a
torna mais difícil, além de possuir efeito dissuasório, desestimulando a
prática criminosa sem encarceramento. O efeito da condenação em
questão deve ser aplicado em casos de descaminho, contrabando, bem
como de tráfico de drogas, armas, animais ou pessoas, restando o
agente inabilitado para conduzir veículo, em especial quando
evidenciado que a fruição do direito de dirigir teve importância no "iter
criminis". 2. No silêncio da lei sobre o tempo de duração da medida,
deverá durar pelo tempo da condenação, iniciando-se o prazo a partir
do recolhimento da CNH por parte do Juízo da Execução ou da
autoridade administrativa, até o integral cumprimento das penas
aplicadas. (TRF4, ENUL 5014642-95.2011.4.04.7100, QUARTA
SEÇÃO, Relator MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, juntado aos autos em
10.09.2014, no mesmo sentido: ACR 5014143-12.2014.4.04.7002,
SÉTIMA TURMA, Relator MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, juntado aos
autos em 11.04.2018).

Como regra, não se aplica essa sanção ao motorista profissional. Contudo, a


inabilitação para dirigir imposta a motoristas já foi aplicada pelo TRF4,
sobretudo em casos de reiteração de crimes na condução de veículos. Veja-se:

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PENAL. CONTRABANDO. INÉPCIA DA DENÚNCIA.


INEXISTÊNCIA. NULIDADE DA PROVA ORAL. NÃO ACOLHIDA.
INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. AFASTADA. USO DE DOCUMENTO
FALSO E CONTRABANDO. CONSUNÇÃO. DESCABIMENTO.
MATERIALIDADE E AUTORIA. COMPROVADAS. CONTRABANDO.
VALORAÇÃO NEGATIVA. VETORIAIS CONSEQUÊNCIAS E
CULPABILIDADE. AFASTADA. VETORIAL CIRCUNSTÂNCIAS DO
CRIME. MANTIDA. USO DE DOCUMENTO FALSO. VALORAÇÃO
NEGATIVA. VETORIAIS CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIAS DO
CRIME. AFASTADA. EFEITO SECUNDÁRIO DA CONDENAÇÃO.
INABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO. CABIMENTO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. (...) 9. A apresentação, pelo réu, de proposta de
trabalho como motorista não impede a manutenção da pena acessória
de inabilitação para dirigir veículo em casos nos quais demonstrada
participação em delitos sucessivos justamente nesta qualidade,
tornando-se imperiosa a medida dissuasória. 10. Execução provisória
da pena autorizada, conforme entendimento firmado pelo STF (HC
126.292). Súmula 122 TRF4. (TRF4, ACR 5024332-16.2018.4.04.7000,
SÉTIMA TURMA, Relatora para Acórdão SALISE MONTEIRO
SANCHOTENE, juntado aos autos em 27.03.2019).

PENAL.CONTRABANDO. INABILITAÇÃO PARA DIRIGIR. PRISÃO


PREVENTIVA. MANUTENÇÃO. 1. Demonstrado que o réu utilizava de sua
condição de motorista profissional para a consecução do crime, deve ser
mantida a determinação de inabilitação para dirigir veículo. 2. Se o réu
permaneceu segregado durante toda a instrução processual por força da
prisão preventiva, para garantia da ordem pública, e não verificada qualquer
mudança na situação fática, deve em tal condição permanecer após a prolação
de sentença penal condenatória. (TRF4, ACR 5012932-06.2017.4.04.7205,
SÉTIMA TURMA, Relatora CLÁUDIA CRISTINA CRISTOFANI, juntado aos
autos em 15.02.2019).

Destarte, diante da autorização legal e de sua compatibilidade com o caso


vertente, decreto a inabilitação do sentenciado para dirigir veículo automotor
durante o tempo que perdurar o cumprimento da pena que lhe for imposta na
sentença.

A dosimetria da pena submete-se a


certa discricionariedade judicial. O Código Penal não estabelece rígidos
esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas para a fixação da
pena. Cabe às instâncias ordinárias, mais próximas dos fatos e das provas, fixar
as penas. Às Cortes Superiores, no exame da dosimetria das penas em grau
recursal, compete precipuamente o controle da legalidade e da
constitucionalidade dos critérios empregados, com a correção apenas de
eventuais discrepâncias gritantes e arbitrárias nas frações de aumento ou
diminuição adotadas pelas instâncias anteriores (STF, HC n. 107.709, Rel. Min.
ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 04/09/2012).

Todavia, seu exame não é tarefa estanque ao Magistrado, podendo


a Corte de Apelação, diante de particularidades, rever os critérios utilizados e,
ponderando-os, retificar as discrepâncias porventura existentes.

O julgador monocrático fixou a pena-base em 2 (dois) anos e


6 (seis) meses de reclusão, face à valoração negativa de três das oito
circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal:

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culpabilidade, conduta social e circunstâncias.

Para análise da vetorial culpabilidade, há que se aferir o maior ou


menor índice de reprovabilidade do agente pelo fato criminoso praticado, não só
em razão de suas condições pessoais, como também em vista da situação de fato
em que ocorreu a indigitada prática delituosa, sempre levando em conta a
conduta que era exigível do agente, na situação em que o fato
ocorreu (DELMANTO, Celso e outros, Código Penal Comentado, 7ª ed.,
Renovar: RJ, 2007, p. 186).

No presente caso, o juízo a quo exasperou a pena do réu em 4


(quatro) meses e 15 (quinze) dias, pois o acusado teria afirmado que os
pneus transportados foram comprados por ele próprio. Tais informações
conduziriam ao reconhecimento da culpabilidade acentuada do recorrente, pois
demonstraria que ele tinha know how na prática de delitos transfronteiriços,
desde a negociação das mercadorias até o seu transporte e destinação
comercial, não se tratando de mero transportador de produtos negociados e
adquiridos por terceiros.

Contudo, a culpabilidade do réu não extrapola a reprovabilidade


do tipo penal, pois o transporte e a compra de mercadorias estrangeiras pelo
próprio acusado, bem como sua posterior revenda à terceiros, constitui prática
comum do delito de descaminho. Assim, neutralizo a referida vetorial.

Em relação à conduta social, o magistrado valorou negativamente


a circunstância, pelo fato de o réu ter descumprido as condições impostas na
suspensão condicional do processo, o que espelharia uma postura incapaz de
honrar com o compromisso assumido perante o Poder Judiciário e o Ministério
Público Federal, além de demonstrar que o recorrente não teria responsabilidade
perante a administração da justiça e a coletividade.

Todavia, para a negativação desta vetorial, é imprescindível a


demonstração nos autos de elementos informando acerca do comportamento do
réu na comunidade, na vizinhança, no trabalho e na família, sem o qual a
circunstância judicial não desfavorece o acusado. Além disso, o
descumprimento das obrigações prescritas na suspensão condicional do processo
tem consequências próprias, fixadas na Lei nº 9.099/95, não cabendo valorar
novamente a referida vetorial.

Portanto, torno neutra a vetorial conduta social.

As circunstâncias do crime foram negativadas pelos seguintes


fatos:

(i) O réu teria atuado com Cleverson Davi da Silva


Rocha, conforme consta no Auto de Infração e Apreensão de Mercadoria
nº 0910651-37573/2017, o que tornaria inequívoca a execução do fato
em concurso de agentes; e

(ii) A prática do fato se deu no período noturno.

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Nada obstante a referência do concurso de agentes, é plausível que


Cleverson, nesse caso, tenha apenas viajado com o réu. Assim, o vínculo
subjetivo entre eles poderia ser insuficiente para respaldar a negativação da
vetorial, não fosse o fato de o porta-malas do veículo estar abarrotado de pneus,
conforme as fotos anexadas ao procedimento administrativo (evento 1,
PROCADM3, p. 4), o que demonstra a prática do delito em concurso de agentes.

Entretanto, com relação a prática do crime em período


noturno, verifica-se que, conforme consta na exordial, o crime foi praticado por
volta das 18 horas e 52 minutos. Desse modo, tal fator somente justifica o
desvalor das circunstâncias delitivas se a análise do modus operandi, no
contexto dos autos, permite concluir pelo consequente embaraço à atuação
policial, o que não ocorreu no presente caso, pois os policiais conseguiram, com
êxito, efetuar a abordagem e a apreensão das mercadorias estrangeiras na posse
do réu.

Diante disso, viável manter a negativação da vetorial


circunstâncias somente com relação ao concurso de agentes. Assim, reduzo o
quantum de aumento para 3 (três) meses.

Portanto, fixo a pena-base em 1 (um) ano e 3 (três) meses de


reclusão. Registro que a exasperação nesse quantitativo reflete melhor resposta
estatal ao ato pelo qual responsabilizado o agente, dado seu vulto e natureza,
porque mais se aproxima a exasperação do termo médio do crime ora
examinado.

Na segunda fase da dosimetria, foi reconhecida, corretamente,


a circunstância atenuante da confissão espontânea (artigo 65, inciso III, d,
do Código Penal). Desse modo, fixo a pena provisória em 1 (um) ano de
reclusão. Registro estar a fração de decréscimo pouco acima do usual 1/6,
porque o dado negativador da vetorial circunstâncias, na basilar, não ostenta
envergadura suficiente para inibir um decréscimo hábil a permitir fique a
reprimenda física, na provisória, no mínimo abstratamente cominado. Trata-se
de um quantitativo adequado para reprimir de forma adequada e suficiente a
conduta de importar, ilicitamente, cerca de trinta e um pneus.

Ausentes causas especiais de aumento ou de diminuição, a


pena definitiva permanece em 1 (um) ano de reclusão. Para início do
cumprimento da pena, mantenho o regime inicial aberto, nos termos do
artigo 33, § 2º, c, do Código Penal.

A defesa requer a substituição da pena privativa de liberdade por


apenas uma restritiva de direitos, na forma do art. 44, § 2º do CP.

Com efeito, tendo sido fixada a pena definitiva no patamar


mínimo de 1 (um) ano de reclusão, e, diante da primariedade e ausência de
antecedentes, cabível a substituição por uma pena restritiva de direitos.

Logo, substituo por uma pena restritiva de direitos, consistente em


prestação prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, à razão
de uma hora de tarefa por dia de condenação, em entidade para a qual o réu
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deverá ser encaminhada na fase de execução da pena.

Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial,


a prestação de serviços à comunidade é a modalidade que melhor atinge as
finalidades da substituição, porquanto afasta o condenado da prisão e exige dele
um esforço em favor de entidade que atua em benefício do interesse público.

Assim, tem eficácia preventiva geral, pois evidencia publicamente


o cumprimento da pena, reduzindo a sensação de impunidade, além de ser
executada de maneira socialmente útil. Ainda, tem eficácia preventiva especial e
retributiva, pois seu efetivo cumprimento reduz os índices de reincidência.

5. Conclusão

Condenação mantida.

Vetoriais culpabilidade e conduta social neutralizadas.

Mantida a negativação da vetorial circunstâncias somente com


relação ao concurso de agentes e, consequentemente, diminuído o seu quantum
de aumento.

Regime inicial aberto mantido.

Substituição da pena privativa de liberdade por uma pena


restritiva de direitos, consistente em prestação de serviços à comunidade.

6. Dispositivo

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento à apelação.

Documento eletrônico assinado por LUIZ CARLOS CANALLI, Relator, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
40002947651v27 e do código CRC c9dc55c2.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): LUIZ CARLOS CANALLI
Data e Hora: 1/2/2022, às 18:12:41

5001226-37.2019.4.04.7017 40002947651 .V27

Conferência de autenticidade emitida em 08/02/2022 16:11:42.

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&ter… 12/15
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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 5001226-37.2019.4.04.7017/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
APELANTE: MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA (RÉU)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)

EMENTA

PENAL. DESCAMINHO. ARTIGO 334, CAPUT, DO


CÓDIGO PENAL. PRELIMINAR. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. MATERIALIDADE, AUTORIA E
DOLO COMPROVADOS. DOSIMETRIA. AJUSTADA.
VETORIAIS CULPABILIDADE E CONDUTA SOCIAL
NEUTRALIZADAS. DIMINUÍDO O QUANTUM DE
AUMENTO DA VETORIAL CIRCUNSTÂNCIAS.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
POR RESTRITIVA DE DIREITOS.

1. A existência de outras ações penais, inquéritos policiais em


curso ou procedimentos administrativos fiscais, é suficiente para caracterizar
a habitualidade delitiva e, consequentemente, afastar a incidência do princípio
da insignificância, ainda que o valor dos tributos iludidos seja inferior ao limite
legal.

2. Devidamente comprovados a materialidade e a autoria delitivas,


bem assim o dolo da agente, sendo o fato típico, antijurídico e culpável e
considerando a inexistência de causas excludentes, fica mantida a condenação
do réu pelo crime de descaminho.

3. A culpabilidade não extrapola a reprovabilidade do próprio tipo,


pois nada de excepcional foi praticado, sendo o transporte e a compra das
mercadorias estrangeiras pelo próprio acusado comum à prática do crime de
descaminho. Afastada, pois, a negativação da vetorial culpabilidade.

4. Para a negativação da conduta social, é imprescindível a


demonstração nos autos de elementos informando acerca do comportamento do
réu na comunidade, na vizinhança, no trabalho e na família, sem o qual a
circunstância judicial não desfavorece o acusado. Além disso, o
descumprimento das obrigações prescritas na suspensão condicional do processo
tem consequências próprias, fixadas na Lei nº 9.099/95, não cabendo valorar
novamente a referida vetorial. Portanto, neutralizada a vetorial conduta social.

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40002947652&versao_gproc=5&crc_gproc=3e07d840&ter… 13/15
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5. Nada obstante a referência do concurso de agentes, é plausível


que Cleverson, nesse caso, tenha apenas viajado com o réu. Assim, o vínculo
subjetivo entre eles poderia ser insuficiente para respaldar a negativação da
vetorial, não fosse o fato de o porta-malas do veículo estar abarrotado de pneus,
conforme as fotos anexadas ao procedimento administrativo (evento 1,
PROCADM3, p. 4), o que demonstra a prática do delito em concurso de agentes.

6. Com relação a prática do crime em período noturno, verifica-se


que o crime foi praticado por volta das 18 horas e 52 minutos. Desse modo,
tal fator somente justifica o desvalor das circunstâncias delitivas se a análise
do modus operandi, no contexto dos autos, permite concluir pelo consequente
embaraço à atuação policial, o que não ocorreu no presente caso, pois os
policiais conseguiram, com êxito, efetuar a abordagem e a apreensão das
mercadorias estrangeiras na posse do réu.

7. Logo, mantida a negativação da vetorial circunstâncias


somente com relação ao concurso de agentes, e, consequentemente, reduzido o
seu quantum de aumento.

8. Fixada a pena definitiva no patamar mínimo de 1 (um) ano de


reclusão, e, diante da primariedade e ausência de antecedentes, cabível a
substituição da pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direitos,
consistente em prestação de serviços à comunidade.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima


indicadas, a Egrégia 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
decidiu, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nos termos do
relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.

Porto Alegre, 01 de fevereiro de 2022.

Documento eletrônico assinado por LUIZ CARLOS CANALLI, Relator, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
40002947652v5 e do código CRC 3e07d840.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): LUIZ CARLOS CANALLI
Data e Hora: 1/2/2022, às 18:12:41

5001226-37.2019.4.04.7017 40002947652 .V5

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08/02/2022 16:24 Documento:40002947650

Conferência de autenticidade emitida em 08/02/2022 16:11:42.

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO TELEPRESENCIAL DE


01/02/2022

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 5001226-37.2019.4.04.7017/PR


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
REVISOR: JUIZ FEDERAL DANILO PEREIRA JÚNIOR
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
PROCURADOR(A): CARLA VERISSIMO DA FONSECA
APELANTE: MAURILIO PEREIRA DE OLIVEIRA (RÉU)
ADVOGADO: RICARDO HENRIQUE ALVES GIULIANI (DPU)
APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)

Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Telepresencial do dia
01/02/2022, na sequência 43, disponibilizada no DE de 21/01/2022.

Certifico que a 7ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a


seguinte decisão:
A 7ª TURMA DECIDIU, POR UNANIMIDADE, DAR PARCIAL PROVIMENTO À
APELAÇÃO.

RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI


VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS CANALLI
VOTANTE: JUIZ FEDERAL DANILO PEREIRA JÚNIOR
VOTANTE: DESEMBARGADORA FEDERAL SALISE MONTEIRO SANCHOTENE
PAULO ANDRÉ SAYÃO LOBATO ELY
Secretário

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