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24/05/2021 Tebas - Consulta Processual

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Publicado no Diário da Justiça de 16/01/2018

Boletim 2018.000007 - 14a. Vara Federal:

Lista de Advogados constantes nesse boletim:

CRISTYAN DANRAS DE CARVALHO SILVA 0003058-30.2015.4.05.8400


KLEBER MARTINS DE ARAÚJO 0003058-30.2015.4.05.8400
OSWALDO DE SOUZA GOMES 0003058-30.2015.4.05.8400

Juiz Federal FRANCISCO EDUARDO GUIMARAES FARIAS


Diretor de Secretaria: MAGALI DIAS SCHERER

AÇÃO PENAL

0003058-30.2015.4.05.8400 MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (Adv. KLEBER MARTINS DE


ARAÚJO) X JOÃO MARCIO BATISTA RAMOS (Adv. OSWALDO DE SOUZA GOMES, CRISTYAN DANRAS
DE CARVALHO SILVA)
PROCESSO Nº: 0003058-30.2015.4.05.8400 CLASSE 240 - AÇÃO PENAL AUTOR: MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL RÉU: JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS SENTENÇA TIPO "D" I - RELATÓRIO Trata-se
de denúncia ofertada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS,
imputando-lhe a prática do crime de posse e guarda de papéis públicos falsos, figura penal insculpida
no art. 293, § 1º, inciso I, do Código Penal. Acorde descreve a denúncia (fls. 03/03-v), no dia
24/10/2012, a Polícia Federal tomado conhecimento da localização, no quarto 113 do Hotel Olimpo,
em Natal/RN, da quantia de CR$ 1.200.000.000,00 (um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros) em
Letras do Tesouro Nacional, comprovadamente contrafeitas, conforme fls. 06/08 do IPL nº 0897/2012,
as quais teriam sido guardadas, deixadas ou esquecidas naquele local pelo acusado. Detalha o MPF
que uma das camareiras do estabelecimento foi quem primeiro teria visto o material, após o
denunciado ter deixado em definitivo o hotel, sendo que, ao ser ouvida pela autoridade policial, a
funcionária teria afirmando que o hóspede citado chegou a se identificar como policial federal junto à
recepção. Ademais, o Parquet federal destaca que o Laudo Pericial nº 023/2013 (fls. 31/35 do IPL
referido) concluiu que as supostas Letras do Tesouro Nacional realmente foram contrafeitas. Por esses
argumentos, pugnou, então, pela condenação do acusado nas penas do tipo penal acima indicado.
Com a denúncia ofertada, vieram os autos do Inquérito Policial nº 0897/2012, o Pedido de Busca e
Apreensão nº 0000549-63.2014.4.05.8400 e o Pedido de Quebra de Sigilo nº 0003337-
84.2013.4.05.8400. Decisão de fls. 06/09, proferida em 06 de outubro de 2015, recebeu a denúncia,
determinando a citação do acusado. Regularmente citado, o réu apresentou, às fls. 18/29, sua
resposta à acusação, oportunidade em que aduziu, preliminarmente, não terem sido referidos, pelo
órgão de acusação, depoimentos de quatro informantes ouvidos na fase investigatória, ao passo que,
no mérito, rechaçou toda a imputação formulada, ao argumento de que inexistentes provas contra si.
Em face disso, pugnou pela rejeição da denúncia, bem como pela devolução de todo o material
apreendido, juntando, ainda, documentos de seu interesse às fls. 30/79. Instado a se manifestar, o
MPF requereu o prosseguimento do feito (fls. 84/85), o que foi acolhido na decisão de fls. 87/88,
porquanto não reconhecida presente qualquer das hipóteses legais de absolvição sumária. Despacho
de fls. 97 aprazou a audiência de instrução e julgamento, a ser realizada por meio de videoconferência
com a Justiça Federal no Rio de Janeiro, para 18 de maio de 2016. Em petição de fls. 99, o acusado
renovou o requerimento de restituição dos itens apreendidos, alegando serem instrumentos de
trabalho, no entanto, a análise de tal pleito foi postergada para a ocasião da audiência. Realizada a
solenidade em 18 de maio de 2016, foram inquiridas as testemunhas MARIA DO SOCORRO
NOGUEIRA, esta arrolada pela acusação, e JOÃO BAPTISTA PESSOA PEREIRA, RAFAEL ANTONIO
FERNANDES e VICENTE DE SOUZA FILHO, indicados pela defesa. Ato contínuo, foi interrogado o
acusado JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS. Após isso, foi deferido pedido formulado pelo MPF com
vistas à expedição de ofício à Polícia Federal para análise do material apreendido na busca e
apreensão susomencionada, bem como a indicação dos itens de relevância e pertinência ao caso.
(Termo às fls. 137/140 e mídia à fl. 141). Na sequência, a defesa apresentou suas alegações finais em
forma de memoriais às fls. 145/154 insistindo na inocência do acusado, tese supostamente reforçada

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pelos depoimentos das testemunhas, razão pela qual pugnou pela absolvição do réu com fundamento
nos incisos I, IV, V e VII do Código de Processo Penal. Subsidiariamente, clamou pela possibilidade de
o acusado apelar em liberdade, bem como pela aplicação da pena no mínimo legal. Às fls. 158/166, a
Polícia Federal encaminhou Auto Circunstanciado de Busca, Certidão e o Auto de Apreensão nº
29/2014, referentes ao Pedido de Busca e Apreensão nº 0000549-63.2014.4.05.8400, sendo, após
isso, enviados os autos ao Parquet federal, que pugnou pela realização de diligências atinentes aos
documentos encartados (fl. 170). Decisão de fls. 172 deferiu o pedido do MPF. Adiante, a Polícia
Federal fez colacionar os Laudos de nº 1702/2016, 1674/2016, 1622/2016, 1745/2016, 1677/2016,
1670/2016, 1625/216, 083/2016, reunidos com suas respectivas mídias às fls. 193/231, bem como o
Memorando nº 083/2016, pleiteando a dilação de prazo para conclusão dos exames
documentoscópicos (fls. 231), e ainda a Informação do PCF Marcelo Coelho Lucena (fls. 232/234),
noticiando a remessa de parte do material questionado ao Instituto Nacional de Criminalística para
melhor elucidação dos fatos. À fl. 237, a Delegacia de Polícia Federal em Macaé/RJ solicitou a este
Juízo a adoção de providências para a retirada do material apreendido, acautelado naquela Unidade.
Com isso, o MPF foi provocado às fls. 238/139 a respeito da liberação do material apreendido
constante do Auto de Apreensão de fls. 163/165, como também a respeito do pedido de dilação de
prazo contido à fl. 231. Em resposta, o órgão ministerial anuiu com a prorrogação do prazo e a
liberação de itens específicos, condicionando a restituição pretendida ao espelhamento ou backup dos
arquivos (fls. 243/245). Decisão de fls. 249/252 deferiu o pleito do acusado de liberação, em seu
favor, dos bens apreendidos no escritório/laboratório onde desempenhava suas atividades, listados no
Auto de Apreensão nº 29/2014 - fls. 163/165, reconhecendo-lhe a propriedade dos bens e o
desinteresse investigativo ou processual. Outrossim, deferiu o pedido de dilação de prazo formulado
pelo setor de perícia da Polícia Federal. O Laudo de Perícia Criminal Federal nº 115/2017-
INC/DITEC/PF foi depositado às fls. 262/268. Às fls. 274/283, o MPF apresentou alegações finais
reiterando o pleito acusatório contra JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS, nos termos esposados na
denúncia, imputando-lhe o cometimento do delito capitulado no art. 293, § 1º, I, do Código Penal.
Outrossim, diante da nova documentação juntada (fls. 262/268), foi oportunizada à defesa uma
segunda apresentação de alegações finais, o que fez às fls. 287/298, reiterando os argumentos
defensivos anteriormente lançados para sustentar a inocência do réu. Novo Laudo de Perícia Criminal
Federal, de nº 224/2017-INC/DITEC/PF, foi atravessado às fls. 305/316. Despacho de fls. 317 baixou o
feito em diligência para o MPF informar a eventual existência de outros materiais apreendidos
pendentes de perícia. Neste ensejo, o MPF apresentou cota pugnando pelo declínio parcial de
competência em favor da Subseção Judiciária de São Pedro da Aldeia/RJ, apenas no concernente aos
fatos relacionados à guarda dos papéis públicos falsos apreendidos por ocasião da Busca e Apreensão
nº 0000549-63.2014.4.05.8400. Ademais, reiterou os termos das alegações finais de fls. 274/283,
requerendo o prosseguimento do feito com a oitiva do acusado acerca dos documentos juntados,
pugnando pela condenação do acusado (fls. 321/324). A seu turno, a defesa ratificou suas alegações
finais nos mesmos moldes do sustentado nas demais peças defensivas, requerendo a absolvição do
réu (fls. 326/328). Ademais, logo em seguida, peticionou para que fossem determinada de medidas de
cautela a ordem de dar efetividade à decisão que lhe concedeu a restituição dos bens apreendidos,
diante de relatadas dificuldades perante a Delegacia de Polícia Federal de Macaé (fls. 330/331). Às fls.
336/337, foi juntado o Ofício nº 677/2017 da Delegacia de Polícia Federal de Macaé expondo a razão
de aquela Unidade não ter procedido, de imediato, à entrega do material apreendido, o que foi
justificado pela possibilidade de erro material no decisum, vez que incluídos na ordem de entrega os
itens contrafeitos. Ao mesmo tempo, foi acostado aos autos, a pedido da Delegacia de Polícia Federal
de Macaé, o Memorando nº 0205/2017-DPF/MCE/RJ, encaminhado referida Unidade à
Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro pedindo providências a respeito da
entrega do material (fls. 340/341). Outro Laudo de Perícia Criminal Federal, de nº 408/2017-
INC/DITEC/PF, foi juntado às fls. 344/354. Às fls. 355, determinou-se a abertura de vistas ao MPF para
falar sobre o relato de eventual descumprimento pela Polícia Federal em Macaé quanto à ordem de
devolução dos bens apreendidos, bem como para se manifestar sobre os esclarecimentos prestados
por aquela Unidade. Além disso, a defesa também foi instada a se manifestar sobre o pedido de
declínio de competência formulado pelo Órgão Ministerial. Em resposta, Parquet federal apresentou
parecer pugnando pela reconsideração de decisão de fls. 249/252, no afã de que fossem restituídos ao
acusado apenas os bens já periciados, bem como os toneres para impressoras e resmas de papel em
razão de não constituírem, por si sós, fatos ilícitos. Pleiteou, ainda, a remessa, ao Juízo da Subseção
Judiciária de São Pedro da Aldeia/RJ, de cópia dos autos e do material apreendido para apuração dos
fatos relacionados à guarda de papéis públicos falsos apreendidos (fls. 360/363). Novos Laudos de
Perícia Criminal Federal, de nºs 115/2017-INC/DITEC/PF, 224/2017-INC/DITEC/PF e 408/2017-
INC/DITEC/PF, foram colecionados às fls. 366/372, 373/384 e 385/395, respectivamente. Na petição
de fls. 397/398, a defesa pugnou pelo indeferimento do pedido ministerial atinente ao declínio de
competência, ao argumento de inafastabilidade da jurisdição, da ampla defesa, do contraditório e,
mormente, do juiz natural. Às fls. 400/404, foi prolatada decisão reconsiderando aquela de fls.
249/252, de modo a indeferir a restituição de todos os bens descritos no Auto de Apreensão nº
29/2014, sendo, ainda, declarada a incompetência parcial desta 14ª Vara Federal/SJRN, em favor de
uma das varas criminais da Subseção Judiciária de São Pedro da Aldeia/RJ, para apreciar a lide no
concernente aos fatos relacionados à guarda de papéis públicos falsos apreendidos por ocasião do
Pedido de Busca e Apreensão nº 000549-63.2014.4.05.8400. Com isso, foi determinada a remessa de
cópia integral dos autos, do material apreendido no Rio de Janeiro e dos laudos originais nº 115/2017,
224/2017 e 408/2017 ao juízo da Subseção Judiciária da Justiça Federal em São Pedro da Aldeia/RJ,
medidas cumpridas pela Secretaria, consoante Certidão de fls. 405. Inconformada com o inteiro teor
da decisão de fls. 400/404, a defesa interpôs Recurso em Sentido Estrito juntando suas razões às fls.
412/416, enquanto que o MPF, por seu turno, depositou suas contrarrazões às fls. 422/427. Decisão
de fls. 446 manteve o aresto impugnado, por seus próprios fundamentos, ordenando a remessa das
peças de interesse ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, onde o Recurso foi protocolizado sob o
nº 0808155-84.2017.4.05.0000, ainda não julgado.1 Mais um Laudo de Perícia Criminal Federal, de nº
870/2017-INC/DITEC/PF, foi depositado às fls. 431/445. Às fls. 448/450, a defesa atravessou nova
petição requerendo que fosse conferido caráter de segredo de justiça ao presente feito em
consequência de prejuízos à imagem do acusado na qualidade de perito judicial. Ademais, às fls.
457/459, interpôs Embargos de Declaração em face da decisão publicada em 28 de agosto de 2017,

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apontando omissão do juízo porquanto não fora determinada a abertura de prazo para manifestação
da defesa acerca do Laudo de fls. 430/444. Em face disso, pugnou pela suspensão dos autos até
ulterior deliberação quanto aos Declaratórios, bem como pelo saneamento da omissão indicada, de
modo que, somente após isso, fosse enviado, ao TRF da 5ª Região, o Recurso em Sentido Estrito
anteriormente interposto. Despacho de fls. 460 determinou a manifestação das partes a fim de
ratificarem - ou não - as alegações finais pregressamente apresentadas, oportunizando, ainda, ao MPF,
o oferecimento de parecer sobre o pedido de segredo de justiça apresentado pela defesa (fls.
448/450), como também a respeito das alegações contidas nos Embargos de Declaração (fls.
457/459). Atualização de endereço do réu às fls. 462. Mais Laudos de Perícia Criminal Federal, de nºs
1337/2017-INC/DITEC/PF e 969/2017-INC/DITEC/PF, foram acostados às fls. 469/477 e 479/487,
respectivamente. Às fls. 491/494, o Parquet federal rechaçou a omissão do Juízo ventilada nos
Declaratórios, opôs-se à decretação do segredo de justiça e ratificou as alegações finais de cunho
condenatório, antes formuladas. A defesa, por sua vez, repetiu os argumentos postos em suas
alegações finais anteriores, pugnando pelo reconhecimento da improcedência do pleito ministerial
quando à condenação do réu (fls. 498/499). É o que interessa relatar. Fundamento e decido. II -
FUNDAMENTAÇÃO II.1 Preliminarmente II.1.1 Dos Embargos de Declaração (fls. 457/459) A Defesa
interpôs Embargos de Declaração questionando a decisão publicada em 28 de agosto de 2017
porquanto estaria maculada por omissão, vez que este Juízo não teria determinado a abertura de
prazo para manifestação acerca do Laudo nº 870/2017, de fls. 430/445. Nos termos do art. 382 do
Código de Processo Penal, qualquer das partes poderá pedir ao juiz que aclare a decisão questionada,
sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou, ainda, se for omitido ponto sobre
o qual este devia pronunciar-se. Como se vê, o escopo a ser perquirido por tal recurso não pode ir
além do sentido de complementação do ofício judicante, porque a decisão/sentença apresentou-se
obscura, ambígua, contraditória ou omissa. Fora dessas hipóteses, os embargos não se prestam como
oportunidade de demonstração de inconformismo pela parte descontente, devendo esta interpor o
recurso cabível. Ademais, deve-se atentar ao exíguo prazo estabelecido pelo Código de Processo Penal
para sua interposição, qual seja, o de apenas 2 (dois) dias. In casu, observo que a Decisão
questionada, indicada como sendo aquela publicada em 28 de agosto de 2017, corresponde à de fl.
4462, de modo que, por terem sido interpostos os Declaratórios em exame no dia 29 de agosto de
2017, não há se falar em intempestividade, impondo-se, portanto, seu recebimento. No que tange ao
mérito dos Embargos de Declaração propostos pela defesa, reputo não cabível o seu provimento, o
que se pode afirmar sem maiores digressões. É que embora o Embargante aduza o cerceamento do
direito à ampla defesa e ao contraditório, pois que não lhe foi oportunizado manifestar-se a respeito
do Laudo nº 870/2017 (fls. 430/445) antes de proferida a decisão vergastada, está claro que o
documento sequer foi objeto do aresto combatido, o qual se destinou a afastar o juízo de retratação
em sede de recurso em sentido estrito, este tocante à restituição de bens e declínio de competência. É
dizer, não pode ter havido omissão quanto a um documento que, em absoluto, não era pertinente à
decisão prolatada. Ademais, como bem pontuou o MPF, cumpre lembrar que, diante do declínio de
competência em favor da Subseção Judiciária de São Pedro da Aldeia/RJ, já efetivado quando da
prolação da decisão rebatida, o referido Laudo (870/2017), assim como os demais decorrentes de
exame pericial realizado em papéis apreendidos naquela Unidade da Federação, já não mais
interessavam a este feito, podendo servir apenas como possível meio de prova em eventual processo
penal na jurisdição fluminense. Portanto, não se vislumbrando qualquer dos vícios inscritos no art. 382
do Código de Processo Penal, devem ser improvidos os Embargos Declaratórios acostados às fls.
457/459. II.1.2 Do pedido de decretação de segredo de justiça (fls. 448/450) A defesa do acusado
também formula petição (fls. 448/450) postulando que seja conferido caráter de segredo de justiça ao
presente feito em consequência de supostos prejuízos à imagem do acusado na qualidade de perito
judicial. Sabe-se, contudo, que a teor do insculpido no art. 5º, incisos XXXIII e LX e art. 37, caput, da
Constituição Federal, deve prevalecer o princípio geral da publicidade administrativa e processual,
sendo a concessão de caráter sigiloso medida excepcional. Oportuno enfatizar que a Carta Magna é
expressa e de clareza solar ao dispor no art. 5º, inciso LX, que "a lei só poderá restringir a publicidade
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem". Outrossim, o
art. 93, inciso IX, também da Constituição Federal, expressa que "todos os julgamentos dos órgãos do
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a
lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação". Como se percebe, a aposição de sigilo em uma ação
penal, por mais relevante que se mostre à continuidade regular da vida pessoal e profissional do
acusado enquanto não resolvido o processo penal ao qual está submetido, é induvidosamente medida
que desborda o ordinário. Deveras, a legislação infraconstitucional prevê hipóteses em que a
publicidade seja excepcionada. É o que ocorre com a antiga Lei 4.717/76, nos artigos 1º, parágrafo 6º
(hipótese de interesse público devidamente justificado), Código Penal, artigo 325 (violação de sigilo
profissional), Código de Processo Penal, artigo 20 (sigilo na investigação) e a colaboração, mais
conhecida por delação premiada, prevista na Lei nº 12.850, de 2013, artigo 4º, parágrafo 6º
(organizações criminosas), além do previsto no Código de Processo Civil em seu artigo 189. Ora, não
se vislumbra que o pleito do acusado conforme-se a qualquer dessas hipóteses legais de restrição de
publicidade, sendo certo que o questionamento lançado à fl. 451 não é, por si só, capaz de evidenciar
qualquer prejuízo concreto ao réu, a exemplo de um distrato, o que, ainda que ocorresse, não teria
peso suficiente para se sobrepor à finalidade de desmotivar a prática de crimes e preservar a
transparência necessária à vigilância pela sociedade. Pelas razões acima expostas, deve ser indeferido
o pedido de conferência de caráter de segredo de justiça ao presente feito. II.1.3 Da limitação dos
fatos que são objeto da presente Ação Penal Embora o Pedido de Busca e Apreensão nº 0000549-
63.2014.4.05.8400, efetivado na cidade de Cabo Frio/RJ, tenha sido deferido em consequência da
investigação originada pela apreensão de Letras do Tesouro Nacional contrafeitas que estavam
guardadas no quarto 113 do Hotel Olimpo, é imperioso rememorar que, por meio da decisão de fls.
401/404, foi declinada a competência deste Juízo em favor da Subseção Judiciária de São Pedro da
Aldeia/RN para processar e julgar os fatos relacionados à mencionada Busca e Apreensão. Diante
disso, anota-se que todo o exame doravante realizado cingir-se-á aos fatos ocorridos do
estabelecimento de hospedagem localizado em Natal/RN, razão pela qual eventuais menções, por
quaisquer das partes, no tocante aos objetos apreendidos no cumprimento do Pedido de Busca e

https://consulta.jfrn.jus.br/consultatebas/lista_publ.asp?CodRelac=2018000007&NumRelac=2018.000007&DtPubl=16/01/2018&NomeLocFis=14a. Vara Feder… 3/7


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Apreensão nº 0000549-63.2014.4.05.8400 não serão consideradas na formação da convicção deste
magistrado, uma vez que agora são de interesse apenas da justiça federal fluminense. II.2 Do mérito
II.2.0 Do crime de Guarda de Papéis Falsificados: II.2.1 Materialidade O Ministério Público Federal
denunciou JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS pela prática do delito previsto no art. 293, § 1º, I, do
Código Penal, que assim dispõe: Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I - selo destinado
a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de
tributo; II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; III - vale postal; IV - cautela
de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por
entidade de direito público; V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a
arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; VI
- bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1o Incorre na mesma pena quem: I -
usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo; (grifo
acrescido) II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário; (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) III -
importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria: (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) a) em
que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado; (Incluído pela Lei nº
11.035, de 2004) b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a
obrigatoriedade de sua aplicação. (...) Bem analisando os autos, verifica-se que há elementos
concretos a demonstrar a materialidade delitiva. O Auto de Apresentação e Apreensão acostado às fls.
06/08 do IPL nº 0897/2012 relaciona o material arrecadado no quarto 113, do Hotel Olimpo, onde o
acusado JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS esteve hospedado, a saber, 30 (trinta) documentos
intitulados LETRAS DO TESOURO NACIONAL, em envelopes plásticos lacrados, com o timbre da
República Federativa do Brasil e as inscrições - REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
-1.200.000.000,00 (um bilhão e duzentos milhões de cruzeiros), entre outras, além de um
"CERTIFICADO DO TESOURO NACIONAL", em nome de Ubiratan Salgado Figueiredo, no mesmo valor,
e um recibo constando como emitente o Tesouro Nacional. A comprovação da falsidade deste material
também é patente, como se vê do Laudo de Perícia Criminal Federal nº 026/2013 - SETEC/SR/DPF/RN
(fls. 31/35 do IPL referido), no qual o setor técnico-científico da Polícia Federal lançou suas conclusões
acerca dos 30 (trinta) documentos intitulados LETRA DO TESOURO NACIONAL, pontuando que I)
todos os papéis examinados haviam sido impressos com impressora jato de tinta e que II) pesquisas
sobre a história do desenvolvimento da tecnologia da impressão informam que a produção desse tipo
de impressora teve início na década de 80, marco incompatível com a data constante das supostas
Letras do Tesouro Nacional, que estampam o ano de 1972. Ademais, é válido transcrever informação
disponível no sítio do Tesouro Nacional, alertando sobre fraudes com Letras do Tesouro Nacional,
supostamente emitidas nos anos 70, objetos de laudos periciais que falsamente atestam sua
autenticidade, no fito de viabilizar fraudes tributárias:3 "O Tesouro Nacional tem recebido frenquentes
consultas a respeito da possibilidade de resgate, troca, conversão (em NTN-A ou outros títulos),
pagamento de dívidas tributárias ou operações diversas envolvendo Letras Tesouro Nacional - LTN,
supostamente emitidas nos anos 70 e sob a forma impressa (cartular). O Tesouro Nacional informa
que NUNCA existiram LTN "roxas", "verdes", "azuis", "diamante", "H, I, J, K, M" ou com qualquer outro
atributo de cor ou letra, mesmo que acompanhadas de "documentos" supostamente assinados por
servidores do Tesouro Nacional. Esses "títulos" também NUNCA foram "repactuados",
"reestruturados", "revalidados", "CETIPADOS" ou "SELICADOS". Não existem LTN cartulares, isto é,
em cártulas, impressas em papel, que sejam válidas. Todas as LTN emitidas nos anos 70 tinham prazo
máximo de 365 dias e foram todas resgatadas nos respectivos vencimentos, sem qualquer exceção." É
bastante rotineira a oferta de LTN e de outros títulos da Dívida Pública Federal, com a falsa promessa
de que poderão ser utilizados na suspensão e/ou extinção de débitos tributários, assim como garantia
em execuções fiscais. A possibilidade prevista no art. 6º da Lei nº 10.179/2001, limita-se aos títulos ali
mencionados e na prática, como não existem LTN, LFT ou NTN vencidas, na prática, não há como
utilizar tais títulos para o pagamento de tributos. Em geral, referidos títulos são acompanhados por
laudos periciais na tentativa de atestar sua autenticidade, além de cálculos atribuindo-lhe valores
muito elevados, decorrentes de uma suposta correção monetária e/ou cambial que, na realidade, não
existe. O Tesouro Nacional enfatiza a total impossibilidade de resgate, em moeda nacional, dos títulos
da Dívida Pública Federal externa regulados pelo Decreto-Lei nº 6.019/43, quando ainda válidos,
destacando que os referidos títulos não se enquadram na situação prevista no art. 6º da Lei nº
10.179/2001. Pedidos ou requerimentos nesse sentido, quando protocolados nesta Secretaria, são
sumariamente indeferidos, por falta de amparo legal, encaminhando-se à Secretaria da Receita
Federal, para fins de cobrança dos tributos devidos. NUNCA existiram LTN "roxas", "verdes" "azuis",
"diamante" ou com qualquer outro atributo de cor e os mencionados títulos nunca foram repactuados,
reestruturados, revalidados, CETIPADOS ou SELICADOS. TODAS as LTN em papel, com as
características acima SÃO FALSAS, mesmo quando acompanhadas de correspondências supostamente
assinadas por servidores da Secretaria do Tesouro Nacional." (...) "Quanto às Letras do Tesouro
Nacional - LTN, as emitidas no início da década de 1970 apresentavam prazos de, no máximo, 365
dias. Não houve qualquer exceção a essa regra, nem repactuação dos seus prazos de vencimento. Não
obstante, observa-se a tentativa de oferta de LTN falsas, supostamente emitidas na década de 1970,
com prazo superior a 365 dias, cujos vencimentos teriam sido supostamente repactuados para datas
mais atuais. Alega-se, por fim, tratarem de títulos ainda válidos, inclusive já escriturados. Cabe-nos
destacar que as LTN válidas atualmente em circulação são todas escriturais, emitidas posteriormente
ao ano de 2000, sendo ofertadas ao público de duas formas distintas: - Por meio do Tesouro Direto; -
Em seus leilões semanais." Diante desses elementos, reputo comprovada a materialidade do delito de
guarda de papéis falsificados, capitulado no art. 293, § 1º, I, do Código Penal. II.2.2 Da autoria
criminosa Da análise dos fatos delituosos apresentados pelo Ministério Público Federal em cotejo com
os argumentos da defesa verifica-se que a controvérsia nos presentes autos reside, sobretudo, na
autoria criminosa do delito imputado. Sucede que, o detido exame dos elementos reunidos no
Inquérito Policial nº 0897/2012, associados ao teor dos depoimentos prestados em juízo, dirimem
eventuais dúvidas e realmente comprovam a autoria criminosa do acusado JOÃO MÁRCIO BATISTA
RAMOS quanto ao cometimento do delito de guarda de papéis falsos. Antes de tudo, cumpre realçar

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que, a despeito de a defesa tentar afastar a autoria imputada, qualificando a denúncia como eivada de
nulidade, pois que não teria sequer citado os depoimentos de quatro informantes convocados pela
autoridade policial, tais pessoas foram arroladas no interesse do acusado como depoentes para a
audiência de instrução e julgamento, oportunidade em que 2 (duas) delas foram inquiridas, Rafael
Antônio Fernandes e Vicente de Souza Filho, e outras duas dispensadas a pedido do advogado do
acusado, sendo elas Nieli Araújo Fernandes e André Adeilton Pereira, tudo de acordo com o Termo de
fls. 137/138. Superado este ponto, anota-se, em primeiro lugar, no diz respeito à comprovação da
autoria criminosa, que todo o material contrafeito, a saber, os 30 (trinta) documentos nomeados como
LETRAS DO TESOURO NACIONAL foram encontrados no quarto 113 do Hotel Olimpo, em Natal/RN,
onde o réu esteve hospedado entre 12/09/2012 e 28/09/2012. Enfatiza-se, neste vértice, que, ouvida
em Juízo, a encarregada operacional do Hotel, Maria do Socorro Nogueira, confirmou tudo o que havia
narrado perante a autoridade policial (fls. 04/05 do IPL), reafirmando que o acusado, no início de sua
estada, pediu para que seu quarto não fosse arrumado enquanto ele estivesse lá, o que ela estranhou,
dizendo tratar-se de comportamento atípico entre os hóspedes. Maria do Socorro ainda contou que
uma camareira, não tendo sido avisada desta restrição, chegou a fazer a limpeza do local em um dos
dias em que o réu esteve lá hospedado, o que gerou um comportamento brusco do denunciado ao
reclamar pelo ocorrido (mídia à fl. 141). Outrossim, a depoente asseverou que, ao fazer o check in no
Hotel Olimpo, o acusado chegou a se identificar como policial federal, qualidade sobre a qual não há
nos fólios nenhuma confirmação, tendo, inclusive, solicitado sala para receber outras pessoas, também
supostos policiais federais. Tal comportamento evidencia que o acusado pretendia impor respeito ou
temor e distanciamento, como forma de evitar o risco de ser percebido o caráter ilícito de suas
atividades. Quanto aos argumentos da defesa, os questionamentos levantados em suas peças de
resposta à acusação e alegações finais não são capazes de inquinar a comprovação da autoria que ora
se extrai. Alega, primeiramente, que a apreensão ocorreu somente 20 (vinte) dias após sua saída do
estabelecimento, mas o esperado seria que, na realização do procedimento de check out, os
documentos tivessem sido encontrados e, de imediato, devolvidos ao hóspede. Referido argumento,
certamente, não subsiste, pois, como afirmado pela testemunha Maria do Socorro Nogueira, o Hotel
Olimpo não dispõe de mensageiro, sendo estes procedimentos de verificação de saída realizados pela
camareira do andar apenas quando possível, em razão de outras atividades e a depender do número
de hóspedes no momento. Ademais, como também afirmado pela mencionada testemunha, nenhuma
outra pessoa se instalou no quarto 113 do Hotel Olimpo após a saída do denunciado até a localização
do material. A defesa também põe em cheque o conhecimento da camareira que posteriormente
localizou as LTN's, aventando que a funcionária não teria capacidade de perceber a fraude ora
imputada. Todavia, igualmente se equivoca, haja vista que não há nos autos qualquer informação no
sentido de que a camareira tenha afirmado a falsificação dos documentos encontrados, mas apenas a
iniciativa em apresentá-los à supervisora do estabelecimento, que repassou para a encarregada
operacional do Hotel, Maria do Socorro Nogueira, a qual, por determinação do proprietário,
compareceu à Polícia Federal em 24 de outubro de 2012 para fazer a entrega do material e relatar o
ocorrido. Com relação à aventada existência de 2 (dois) supostos inquéritos instaurados e até mesmo
ajuizados (sic), mas arquivados (sic) por falta de provas, não se extrai, do mesmo modo, qualquer
conclusão que milite em favor da inocência do réu. Na verdade, o que talvez pretenda afirmar é que a
autoridade policial, no Relatório formulado no Inquérito Policial nº 0897/2012 (fls. 161/166 do IPL),
anotou que "não há qualquer provas (sic) de que tenha - o investigado - efetivamente oferecido os
documentos falsificados a terceiros nesta cidade". Percebam-se, contudo, dois pontos: primeiro, o
Delegado de Polícia Federal, após encerrada a apuração, não deixa de confirmar a falsidade dos
documentos; e, segundo, sua assertiva menciona não haver prova de tentativa de comercialização,
elementar que não se confunde com as do tipo penal ora imputado, o da guarda de papéis
falsificados. Relevante acentuar, da mesma forma, que é consideravelmente frágil a alegação da
defesa pretendendo demonstrar que a numeração de 11 (onze) dígitos dos envelopes plásticos em
que estavam as letras contrafeitas apreendidas diverge daquelas fornecidas pela Empresa ELC
PRODUTOS DE SEGURANÇA IND. E COMÉRCIO, que seria sua habitual fornecedora desse tipo de
material, consoante cópias de notais fiscais juntadas às fls. 40/49, a qual utilizaria sequências de
apenas 7 dígitos. Isto porque nada impediria o acusado de ter adquirido os envelopes localizados no
Hotel Olimpo com qualquer outro fornecedor, em qualquer lugar do Brasil, diante das atuais facilidades
de circulação de produtos e vendas não presenciais. Por fim, é de todo incompreensível a justificativa
esboçada pela defesa em afirmar que, pelo princípio da eventualidade, se foram encontrados os tais
títulos no apartamento ocupado pelo denunciado, os mesmos estavam incompletos e deles não
constava nenhum laudo pericial de sua lavra, mormente porque, até então, o acusado vinha
aguerridamente negando qualquer vínculo com os papéis apreendidos, sustentando que teria vindo a
Natal no intuito de periciar, pela segunda vez, papéis ou títulos históricos pertencentes a JOÃO
BAPTISTA PESSOA PEREIRA. Inquirido em juízo, o suposto contratante negou que os papéis
apreendidos no Hotel Olimpo lhe pertencessem (mídia à fl. 141). No mais, os outros argumentos
apresentados pelo acusado foram no sentido de se defender de uma suposta imputação de falsificação
de letras do tesouro nacional e não da conduta penal tipificada de guarda de papéis falsos (art. 293, §
1º, I, do Código Penal), tanto é assim que, às fl. 145, 151 e 152 de suas alegações finais, o advogado
subscritor assinala que a denúncia imputa ao réu o cometimento do crime do art. 2º e seguintes da
Lei nº 7.492/19864, o que efetivamente não corresponde ao exposto na peça acusatória. Neste
diapasão, são realmente inservíveis as alegações de que não foram localizadas impressoras no quarto
onde se hospedou, bem como de que a testemunha VICENTE DE SOUZA FILHO confirmou que o réu
chegou trazendo apenas uma bagagem pequena. Diante destes fartos elementos, reputo comprovada
a materialidade do delito de guarda de papéis falsificados, capitulado no art. 293, § 1º, I, do Código
Penal. II.2.3 Da Análise estrutural do crime In casu, a conduta do acusado JOÃO MÁRCIO BATISTA
RAMOS é típica, no sentido formal, correspondendo perfeitamente ao tipo penal descrito no art. 293, §
1º, I, do Código Penal, haja vista que guardou consigo, é dizer, tomou conta, cuidou para que
ficassem seguras, letras do tesouro nacional contrafeitas, consoante leciona NUCCI (2014)5. Por
outras palavras, manteve-as sob o seu poder e a sua vigilância. A tipicidade material decorre da lesão
ou ameaça de lesão da conduta ao bem jurídico tutelado, no caso, a fé pública. O dolo (tipicidade
subjetiva) está presente, uma vez que os elementos fático-probatórios deixam ver que o acusado
possuía consciência da sua conduta, assim como aponta que tinha livre vontade de realizá-la. Com
efeito, o fato de negar que as LTN's contrafeitas estavam consigo no quarto do Hotel Olimpo, todavia,

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assumindo, em outros momentos, que, se tal fato ocorreu, "os títulos estavam incompletos e sem
qualquer laudo emitido pelo acusado, tornando-os meros papéis sem valor" evidencia claramente que
o dolo - no mínimo eventual - de sua conduta de realizar a guarda dos papéis apreendidos. A
tipicidade, uma vez constatada, já carrega um indício de ilicitude. Essa ilicitude (ou antijuridicidade)
deve ser entendida como a relação de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento
jurídico, que se dá quando não concorrem quaisquer das causas de exclusão da ilicitude, sejam as
legais do art. 23 do CP, sejam quaisquer outras causas que a doutrina chama de supralegais. No caso,
não vislumbro a presença de qualquer dessas causas de justificação da conduta, de modo que se
impõe caracterizá-las como antijurídicas, ou seja, criminosas. Diante de todos os elementos descritos,
estão sobejamente demonstradas a materialidade e a autoria do crime tipificado no artigo 293, § 1º,
inciso I do Código Penal imputado a JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS. II.5 - Da análise do Pressuposto
de Aplicação da Pena: Culpabilidade A culpabilidade do réu, por sua vez, decorre do fato de ser ele
penalmente imputável à época dos fatos, de ser-lhe exigível conduta diversa daquela que adotou, bem
como por ser, no mínimo, potencialmente consciente da ilicitude de sua conduta. Em razão disso,
incide sobre o acusado um juízo de reprovabilidade que tem como consequência a imposição de uma
sanção, de uma pena, como resposta estatal ao desvio de conduta por ele praticado. III -
DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão deduzida na denúncia para condenar
JOÃO MÁRCIO BATISTA RAMOS pelo cometimento do crime plasmado no art. 293, § 1º, inciso I, do
Código Penal. Em consequência, passo a DOSAR A PENA, nos seguintes termos: III.1 - Da
determinação da pena a) culpabilidade: aqui não se trata de culpabilidade em sentido estrito, esta já
analisada na fundamentação para compor o delito ora reconhecido, mas sim de culpabilidade em
sentido amplo, ou seja, a reprovabilidade social gerada pelo fato delituoso. No caso dos autos,
verifica-se que a qualidade de perito judicial do acusado intensifica a culpabilidade inerente ao tipo,
notadamente em razão do maior grau de censura pessoal que deveria ter diante da situação, pois que
tem por profissão, justamente, a realização de análises técnicas com a finalidade de rechaçar
documentos e outras peças maculados de falsidade ou outros vícios. Neste sentido, STJ. 5ª Turma.
REsp 39920-RJ. b) antecedentes: o condenado não possui maus antecedentes, razão pela qual deixo
de valorar negativamente este quesito; c) conduta social: não há nada nos autos que possa levar à
conclusão de que o acusado se comporte inapropriadamente em sociedade. Não reputo essa
circunstância de forma negativa; d) personalidade: não há elementos suficientes para se concluir por
uma personalidade má ou voltada para o crime, de forma que não valoro esta circunstância de forma
negativa; e) motivo: do mesmo modo, não ressai dos autos elemento concreto relacionado à
realização do delito que seja hábil a conduzir à valoração negativa desta circunstância; f)
circunstâncias: o fato de o acusado ter-se deslocado de seu local de residência, a grande distância, ou
seja, em outro Estado da Federação, assumindo riscos e consideráveis custos para aqui desenvolver
temporariamente atividade criminosa, denuncia um grau de delinquência que supera o normalmente
previsto no tipo, o que impõe uma valoração negativa dessas circunstâncias; g) consequências: não
foram apuradas as consequências extrapenais do crime, sendo, portanto, neutras na espécie; h)
comportamento da vítima: a vítima em nada contribuiu para o cometimento do ilícito, não havendo o
que valorar, positiva ou negativamente. Dessa forma, FIXO a pena-base em 02 (dois) anos e 09 (nove)
meses de reclusão. Não incidem no presente caso circunstâncias atenuantes nem agravantes, de
forma que mantenho a pena média no patamar anterior. Por fim, não concorrem causas de diminuição
ou de aumento de pena, de modo que torno CONCRETA e DEFINITIVA a PENA de 02 (dois) anos e 09
(nove) meses de reclusão, que devem ser cumpridos inicialmente em regime aberto, na forma do
prescrito no art. 33, § 2º, "a", do Código Penal. CONDENO, ainda, o acusado, levando em conta as
considerações já esposadas acima, ao pagamento de multa correspondente a 53 (cinquenta e três)
dias-multa, sendo que, diante de sua condição econômica, FIXO o valor do dia-multa em 1/30 (um
trigésimo) do salário-mínimo em vigor na data do crime6, que deverá ser paga no prazo de 10 (dez)
dias após o trânsito em julgado desta sentença. O valor encontrado ficará sujeito à correção
monetária, devendo ser liquidado por cálculo da Contadoria do Juízo, extraindo-se, após o trânsito em
julgado desta decisão, certidão da sentença para fins de execução do valor devido, nos termos da Lei
de Execução Fiscal (art. 51 do Código Penal, com a redação determinada pela Lei nº 9.268, de 1º de
abril de 1996). Tendo em vista que o réu não foi preso cautelar ou temporariamente por fatos
relacionados a este processo, NÃO SE APLICA A DETRAÇÃO PENAL na sentença, nos moldes
preconizados no § 2º do artigo 387 do Código de Processo Penal. III.2 - Da Substituição da Pena
Privativa de Liberdade por Pena Restritiva de Direitos De outra parte, uma vez satisfeitos os requisitos
do art. 44 do Código Penal pátrio, pois a pena aplicada não é superior a quatro anos; o crime não foi
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa; o réu é primário; os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do condenado, bem como as circunstâncias do delito indicam que a
substituição ali prevista é suficiente à repressão do delito perpetrado, SUBSTITUO a pena privativa de
liberdade fixada por duas penas restritivas de direito, nos termos do referido art. 44, § 2º, 2ª parte,
quais sejam: a) prestação de serviços à comunidade (art. 43, inciso IV, do Código Penal), pelo período
de 02 (dois) anos e 09 (nove) meses, em entidade a ser fixada pelo Juízo da Execução, à razão de 01
(uma) hora de tarefa por dia de condenação, ressalvando-se ao réu cumprir a pena substitutiva em
menor tempo, nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada, nos termos do art. 46,
§§ 3º e 4º, do Código Penal; b) doação mensal em pecúnia, no montante a ser definido em audiência
admonitória, durante o período de 02 (dois) anos e 09 (nove) meses, considerando-se todas as
circunstâncias judiciais e a condição econômica do acusado. Fica advertido, desde já, que o não
cumprimento injustificado das medidas ensejará conversão em pena privativa de liberdade (art. 44, §
4º, do C.P.), com imediata expedição de mandado de prisão. III.2 Do valor mínimo indenizável No que
tange ao valor mínimo a ser indenizado pelo réu, em que pese a determinação contida no art. 387,
inciso IV, do Código de Processo Penal, deixo de proceder porquanto ausentes nos autos elementos
hábeis a viabilizar a liquidação necessária à aplicação da medida. III.3 Da análise da necessidade de
imposição da prisão preventiva Em razão do disposto no parágrafo único do art. 387 do Código de
Processo Penal, o juiz decidirá (na sentença condenatória), fundamentadamente, sobre a manutenção
ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do
conhecimento da apelação que vier a ser interposta. Na hipótese dos autos, não há notícia de que o
réu esteja ou tenha sido preso preventivamente por fatos relacionados aos apurados nestes autos, ao
passo que também não se verifica fundamento legal para a decretação da prisão preventiva, a teor do
disposto no artigo 312 do CPP, tampouco necessidade de aplicação de qualquer das medidas

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cautelares diversas da prisão estampadas no art. 319 do mesmo Codex. III.4 Da Inelegibilidade A
Constituição Federal determina a suspensão dos direitos políticos de quem seja criminalmente
condenado por sentença irrecorrível, enquanto durarem os efeitos da condenação (art. 15, III, CF/88).
Além disso, o art. 1º, inciso I, alínea "e", da Lei Complementar nº 64, de 1990 (Lei das
Inelegibilidades), considera inelegíveis por oito anos após o cumprimento da pena, os que hajam sido
condenados pelos crimes nela previstos. Neste sentido, a Lei das Inelegibilidades dispõe: Art. 1º São
inelegíveis: I - para qualquer cargo: (...) e) os que forem condenados, em decisão transitada em
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8
(oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes: 1. contra a economia popular, a fé pública, a
administração pública e o patrimônio público; 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o
mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência; 3. contra o meio ambiente e a saúde
pública; 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; 5. de abuso de
autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício
de função pública; 6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; 7. de tráfico de
entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos; 8. de redução à condição
análoga à de escravo; 9. contra a vida e a dignidade sexual; e 10. praticados por organização
criminosa, quadrilha ou bando; (grifo acrescido) Assim, depois do cumprimento da pena imposta em
caso de condenação por algum dos crimes previstos no art. 1º, inciso I, alínea "e", da LC 64/90,
segue-se o prazo de 08 (oito) anos de inelegibilidade, não ocorrendo, todavia, quando se tratar de
crimes culposos, crimes sujeitos à ação penal privada ou em caso de infrações penais de menor
potencial ofensivo. No presente caso, vislumbra-se que o acusado deverá permanecer inelegível pelo
período de 08 (oito) anos após o cumprimento da pena, vez que foi condenado por crime contra a fé
pública (art. 293, § 1º, I, do Código Penal). IV - PROVIDÊNCIAS FINAIS Tendo em vista o declínio
parcial de competência em favor da Subseção Judiciária de São Pedro da Aldeia/RJ, para apreciar a
lide no que concerne aos fatos relacionados à guarda de papéis públicos falsos, apreendidos no bojo
do Pedido de Busca e Apreensão nº 000549-63.2014.4.05.8400 (Decisão de fls. 400/404), determino a
remessa dos laudos originais de nº 870/2017 (fls. 431/435), 1337/2017 (fls. 469/477) e 969/2017 (fls.
479/487) ao Juízo para o qual foi distribuído o feito. No tocante ao material apreendido listado às fls.
06/08, encaminhado a esta 14ª Vara em 10/09/2015, conforme protocolo às fls. 169/170 do IPL nº
0897/2012, a saber, 30 (trinta) documentos com as inscrições "República Federativa do Brasil - Letra
do Tesouro Nacional" (itens 01 e 02), 01 (um) documento nomeado "Certificado do Tesouro Nacional"
(item 03) e 01 (um) último documento intitulado "Recibo", constando como emitente o Tesouro
Nacional em favor de Ubiratan Salgado Figueiredo (item 04), providencie-se o envio à Secretaria do
Tesouro Nacional, que deverá dar a destinação cabível conforme seus normativos. Excetua-se desta
determinação o item descrito como "frasco contendo líquido reabastecedor para marcador
permanente", o qual, por seu valor irrisório e provável expiração de validade, deverá ser destruído.
Quanto aos Embargos de Declaração interpostos às fls. 457/459, com esteio na fundamentação
lançada no item "II.1.1 Dos Embargos de Declaração", conheço-os, contudo, NEGO-LHES
PROVIMENTO. Outrossim, com amparo nos fundamentos expostos no item II.1.2 Do pedido de
decretação de segredo de justiça", INDEFIRO o requerimento fls. 448/450, mantendo, assim, a
publicidade do presente feito. Após o trânsito em julgado: a) lance-se o nome do réu no Rol dos
Culpados; b) comunique-se ao TRE/RN para os efeitos do art. 15, III, da CF/88, e do art. 1º, inciso I,
alínea "e", nº 1, da LC 64/90; c) remetam-se os autos à Distribuição para que seja alterada a situação
do acusado para "condenado-solto"; d) Oficie-se à Polícia Federal neste Estado da Federação
informando o teor desta sentença, para os fins de atualização da base de dados do INFOSEG,
mediante comando via SINIC; Custas pelo réu. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Natal/RN, 11 de
dezembro de 2017. FRANCISCO EDUARDO GUIMARÃES FARIAS Juiz Federal da 14ª Vara SJ/RN (bbrm)
1 Cf. consulta ao PJE em 28/11/2017. 2 Cf. consulta ao Sistema Tebas: 28/08/2017 00:00 - Publicado
Intimação em 28/08/2017 00:00. D.O.E, pág.34 Boletim: 2017.000330. 3 Disponível em
http://www.tesouro.fazenda.gov.br. Acesso em 30/11/2017. 4 Art. 2º Imprimir, reproduzir ou, de
qualquer modo, fabricar ou pôr em circulação, sem autorização escrita da sociedade emissora,
certificado, cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário: Pena - Reclusão,
de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem imprime, fabrica,
divulga, distribui ou faz distribuir prospecto ou material de propaganda relativo aos papéis referidos
neste artigo. 5 4.NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 14. ed. rev., atual. e ampl. -
Rio de Janeiro: Forense, 2014. 6 Como data do crime, considera-se o dia de saída do acusado do
Hotel Olimpo, qual seja, 28/09/2012, cf. fls. 31 do Pedido de Quebra de Sigilo 00003337-
84.2013.4.05.8400. Valor do Salário Mínimo: R$ 622,00 (seiscentos e vinte de dois reais), cf. Decreto
7.655/2011. ?? ?? ?? ?? PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU SEÇÃO
JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE 14ª VARA FEDERAL 3 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA
FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE 14ª VARA FEDERAL
Proc. n. 1677-26.2011

TOTAL DE SENTENCA: 1

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