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PR-SP-MANIFESTAÇÃO-13159/2023

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA - SÃO PAULO
GABINETE DE PROCURADORA DA REPÚBLICA

VCIVEL - VIGESIMA PRIMEIRA VARA CÍVEL DE SÃO PAULO/SP

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Autos n.º 5001890-33.2019.4.03.6100
AUTOR: CHARLOTTE FRANKE FRANCO DE MELLO
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACAO E REFORMA AGRARIA INCRA

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio da Procuradora da
República que esta subscreve, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem,
perante Vossa Excelência, manifestar-se da forma que segue, em atenção ao r. despacho de
ID 278511628.
Trata-se de Cumprimento Provisório de Sentença proferida em Ação de
Desapropriação por Interesse Social para Reforma Agrária n. 0977336-89.1988.4.03.6100,
inicialmente proposta em fase de Raul Franco de Mello e Charlotte Franke Franco de Mello;
vindo o Sr. Raul a falecer no curso da ação.
Requerida a habilitação dos herdeiros, às fls. 246/285 dos autos principais (IDs
10694375, 10694374 e 10694373), foi juntado Formal de partilha, constando que os direitos
sobre a área objeto da expropriação foram partilhados 50 % (cinquenta por cento) para cada
herdeiro, ou seja 50% para Charlotte Franke Franco de Mello e 50 % para seu filho Joaquim
Franco de Mello Neto.
Em petição datada de 31/08/2005, foi noticiado o falecimento da Sra. Charlotte
Franke Franco de Mello (fls. 775/778 dos autos principais (ID 10732685) e em 23/09/2016
foi juntada aos autos certidão de inventariante (fl. 941 dos autos principais (ID
10732696) nomeando o Dr. Paulo Rangel do Nascimento, proponente destes autos, como
inventariante dativo do espolio de Charlotte Franke Franco de Mello.

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O Sr. Joaquim Franco de Mello Neto veio a falecer em 11/10/2015. Dados
obtidos na Certidão de Óbito de Joaquim Franco de Mello Neto, casado com Eurípes Lopes
Franco de Mello, deixou os filhos maiores: Raul Franco de Mello Neto, Rafael Joaquim
Franco de Mello, Helena Beatriz Franco de Mello; Maria Eliza Franco de Mello, com 11
anos, e Viviana Maria Franco de Mello, com 3 anos. Vivia maritalmente com a Sra.
Marinalva Tereza de Souza. (ID 41622539)
Sentença proferida nos autos principais, julgou procedente a desapropriação,
(ID 10732675 – fls. 622/627), foi objeto de recurso, pendente de decisão em sede de Recurso
Especial, em trâmite no C. Superior Tribunal de Justiça.
Na presente inicial, verifica-se que a expropriada (espólio de Charlotte

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Franke Franco de Mello), apresentou cálculo do valor que entende devido a título de
indenização, com os consectários legais, no sentido de que o débito atualizado, naquela
época, era de R$ 64.134.838,51 (sessenta e quatro milhões, cento e trinta e quatro mil,
oitocentos e trinta e oito reais e cinquenta e um centavos) (parecer contábil (IDs 14358710 e
14358712) e inúmeros documentos comprobatórios (Ids. n. 14358713 a 14358812).
Intimado, o MPF manifestou-se pela não intervenção no feito (ID 15039254).

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O INCRA apresentou impugnação (ID 16355579) alegando que: (i) a r.
decisão executada aguarda julgamento definitivo; (ii) a Lei de Diretrizes Orçamentárias –
LDO exige o trânsito em julgado para dotações orçamentárias referentes aos precatórios, e
(iii) o valor devido seria de R$ 27.575.196,63 (vinte e sete milhões, quinhentos e setenta e
cinco mil, cento e noventa e seis reais e sessenta e três centavos).
Paralelamente, em 15.05.2019, em decisão monocrática do Relator Ministro
Benedito Gonçalves, determinou o sobrestamento do feito até o exame da proposta de revisão
de entendimento das teses repetitivas assentadas no REsp 1.114.407/SP, no REsp
1.111.829/SP e no Resp 1.116.364/PI (ID 17651265).
O espólio de Charlotte Franke Franco de Mello pugnou pela suspensão do
procedimento até julgamento definitivo com trânsito em julgado da ADI 2.332
(ID17999556).
Helena Beatriz Franco de Mello, requereu sua habilitação nos autos,
comprovando a qualidade de herdeira, vez que seu falecido pai, Joaquim Franco de Mello
Netto, era filho de Charlotte Franke Franco de Mello (ID 41622535).
Requereram a habilitação nos autos Eurídes Lopes Franco de Mello e Rafael
Joaquim Franco de Mello, alegando serem também herdeiros (ID 142209163).
Sobreveio a decisão de ID 46387315, que reconheceu que os cálculos
apresentados na inicial, e impugnados, correspondem a suposto valor total devido a título de
indenização, sem distinção quanto à cota-parte devida aos os espólios, solicitando
regularização da representação processual.
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O MPF reiterou manifestação de ID 15039254, pela não intervenção no feito
ante a ausência de interesse público na demanda.
O espólio de Charlotte F. Franco de Mello, representando pela Inventariante
Dativa, Dra. Fabiana Frizzo OAB/SP 139.781, nomeada nos autos da ação de inventário e
partilha nº 0098164-21.2005.8.26.0100, em trâmite perante a 12ª Vara de Família e Sucessões
do Foro Central Cível de São Paulo – SP, requereu junto ao MM. Juízo do
inventário autorização para contratar escritório de advocacia hábil a defender os interesses do
espólio na ação em tela, assim como, solicitou prazo (ID 47360928).
O espólio de Joaquim Franco de Mello Neto, representado por sua
Inventariante Dativa, Dra. Fabiana Frizzo OAB/SP 139.781, nomeada nos autos da ação de

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inventário e partilha nº 1105454-21.2015.8.26.0100, em trâmite perante a 11ª Vara de Família
e Sucessões do Foro Central Cível de São Paulo – SP manifestou interesse em intervir nos
presentes autos (ID 47364271), sendo esse reconhecido pela decisão de ID 170243610.
O espólio de Raul Franco de Mello Neto, representado por sua Inventariante,
Cláudia Amorim Cavalcante, nomeada e compromissada nos autos 1001325-
02.2017.8.26.0356, que tramita pela 1ª Vara Cível da Comarca de Mirandópolis (SP),

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manifestou interesse em acompanhar o feito e solicitou habilitação nos autos (ID 142225702).
Em despacho de ID 170243610, o Ilmo. Juízo remeteu os autos ao SEDI para
retificação da autuação para inclusão do espólio de Joaquim Franco de Mello Neto, solicitou
regularização da representação processual dos espólios e dados atualizados dos respectivos
inventários e partilha dos bens, assim como, comprovação da condição de herdeiros de
Charlotte Franke Franco de Mello e Joaquim Franco de Mello Netto.
Incra ciente (ID 171709404).
Espólio de Charlotte F. Franco de Mello Netto e Espólio de Joaquim Franco de
Mello Netto, em manifestação de ID 243250290, esclareceram que as Ações de Inventários nº
0098164-21.2005.8.26.0100 e 1105454-21.2015.8.26.0100 ainda não haviam sido finalizadas.
Também informaram que a inventariante dativa contratou os advogados para a representação
processual dos espólios.
Sobreveio decisão de ID 246448965, que frente ao decurso do prazo para
regularização processual, o MM Juízo indeferiu a intimação e intimou as partes a se
manifestarem sobre o prosseguimento do feito.
Por sua vez, o Incra, em ID 248305656, reiterou o exposto em sua impugnação
ao cumprimento de sentença de id. 16355579, reforçando que a ausência de trânsito em
julgado do título judicial formado na ação de desapropriação, haja vista a pendência de
julgamento do REsp n. 1.698.124/SP, impediria o cumprimento provisório, diante da
inexistência de valores incontroversos a serem executados. Pugnou pelo sobrestamento do
presente feito, até o exame, pelo C. STJ, da proposta de revisão de entendimento das teses

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repetitivas assentadas no REsp 1.114.407/SP, no REsp 1.111.829/SP e no Resp 1.116.364/PI.
O Espólio de Charlotte F. Franco de Mello Netto e o Espólio de Joaquim
Franco de Mello Netto, em manifestações de IDs 249567449 e 249567439, pugnaram pelo
prosseguimento do feito. Embora o julgamento da ADI 2332, pelo STF, ainda não tenha sido
concluído, pendente de julgamento de Embargos de Declaração, sustentam que a ordem de
sobrestamento decorrente da revisão das teses firmadas pelo STJ em relação à forma de
incidência dos juros sobre o valor da indenização restou, já a esta altura, superada porque a
Egrégia Primeira Seção do C. STJ concluiu o julgamento da PET 12344/DF. Assim, requerem
o que segue:
A. Deferir o processamento do pagamento do valor reconhecido pelo
INCRA, no importe de R$ 27.575.196,63, válido para a data base do

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cálculo; e
B. Determinar ao INCRA que, em prazo não superior a 30 dias, apresente
nos autos novos cálculos (i) observando os limites de seus pedidos recursais
endereçados no RE e no REsp acima referidos, (ii) condicionados às teses
firmadas pelo STF e pelo STJ nos julgamentos indicados na fundamentação.
Após, os Exequentes requerem deferimento de prazo para manifestação
sobre a impugnação (cf. Id 17999556) e sobre os novos cálculos, a fim de

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estabilizar o valor da dívida como ato preparatório para a expedição do
precatório, quando sobrevier o trânsito em julgado da fase de conhecimento.
O espólio de Raul Franco de Mello Neto apresentou regularização processual
em ID 254018060.
Em decisão de ID 259878382, o Ilmo. Juízo determinou a inclusão dos
sucessores, como terceiros interessados.
Em decisão de ID 260177132, o Ilmo. Juízo solicitou informações à
inventariante, intimou os sucessores à constituírem advogados e incluiu o MPF no feito,
diante da presença de menor entre os sucessores.
Informações acrescentadas pela inventariante dos espólios de Charlotte F. F. de
Mello Netto e Joaquim Franco de Mello Netto ID 260634223.
O Incra manifestou-se em ID 264804621, em resumo:
" Adicionalmente, deve ser salientado que embora seja verdadeiro que o STJ
já tenha finalizado o julgamento da PET 12.344/DF, cabe agora àquele C.
Superior Tribunal de Justiça aplicar o entendimento que restou fixado ao
Recurso Especial interposto pelo INCRA nos autos de origem do
feito expropriatório (REsp n. 1.698.124), o que até o presente momento não
ocorreu, conforme consulta processual atualizada que juntamos nesta
oportunidade.

Além disso, deve ser acrescido que o E. STF incluiu na sua Pauta Virtual de
07/10/2022 a 17/10/2022 o julgamento dos Embargos de Declaração
interpostos para a eventual modulação dos efeitos advindos do julgamento

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de mérito da ADI 2332/DF (consulta anexada).

Assim, torna-se imprescindível aguardar-se o julgamento do REsp


1.698.124, interposto pelo INCRA nos autos de origem do feito
expropriatório, bem como o julgamento dos embargos
declaratórios interpostos na ADI 2332/DF, para que se alcance a
definitividade das questões que gravitam em torno da correta fixação dos
percentuais de juros compensatórios que devem incidir neste cumprimento
de sentença.

Seja como for, os autos do Recurso Especial n. 1.698.124 permanecem


sobrestados por expressa determinação do Ministro Relator. E, enquanto não
restarem definidos todos os aspectos acima enfocados, resta prejudicado o
pedido dos requerentes para a apresentação de novos cálculos quanto a

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qualquer valor que se possa considerar incontroverso."
Proferido despacho de ID 278511628, intimando os sucessores de MAria Eliza
Franco de Mello e da menor V.M.F.D.M, na pessoa de sua representante legal, a constituírem
advogado.
Vieram os autos para análise do MPF sobre a impugnação do INCRA (id
16355579), sobre o pedido de sobrestamento (id 17651265 e id 17999556) e demais

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manifestações das partes.
É o relatório.
O art. 127, caput, da Constituição da República de 1988, define os parâmetros
de atuação do Parquet, nos seguintes termos: “O Ministério Público é instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
Com efeito, na seara cível, o Ministério Público tem legitimidade para atuar
nas hipóteses previstas em lei, e desde que se revelem compatíveis com o novo
perfil constitucional da instituição, tal como se verifica, por exemplo, na atuação em prol
do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
Nessa linha, o art. 178 do Código de Processo Civil estabelece
a obrigatoriedade da intervenção ministerial, como fiscal da ordem jurídica, nas
hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal, bem como causas em que envolvam (i)
interesses de incapazes; (ii) interesse público ou social; (iii) litígios coletivos pela posse de
terra rural ou urbana.
No presente caso, observa-se que passou a fazer parte da demanda como
terceiro interessado, a menor V. M. F. D. M. , brasileira, solteira, portadora da cédula de
identidade RG nº 58.845.109-5, residente e domiciliada na Rua Fraternidade, n. 430, Santo
Amaro, São Paulo (SP), representada por sua mãe, Marinalva Teresa de Souza, brasileira, do
lar, portadora da cédula de identidade RG nº 29.180.891-8 e do CPF/MF nº 158.045.578-66,
filha de Joaquim Franco de Mello Netto, devidamente intimada a constituir advogado.
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Embora a defesa de interesses de incapazes esteja no rol das atribuições deste
órgão ministerial, a atuação ministerial justificar-se-ia somente diante do fato de a execução
ser decorrente de desapropriação por motivo de reforma agrária.
Com efeito, o caso em questão trata-se de cumprimento de sentença de
desapropriação que tem como exequente o espólio de pessoas físicas capazes, com a devida
inclusão da menor em questão, a fim de garantir os seus devidos direitos, e de futuros
herdeiros, se houver.
Considerando, assim, que as partes do presente processo estão devidamente
representadas, bem como o direito discutido é meramente patrimonial, não se justifica a
intervenção ministerial. Ademais, a Recomendação nº 34, de 05 de abril de 2016, do

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Conselho Nacional do Ministério Público, prescreve, em seu artigo 1º, inciso IV, que
o Ministério Público deve direcionar sua atuação na defesa dos interesses da sociedade.
Diante do exposto, o MPF reitera o parecer de ID 15039254, e deixa de se
manifestar sobre o mérito da presente ação por entender inexistente interesse público,
requerendo o natural e regular prosseguimento da ação.

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São Paulo, 22 de março de 2023.

ANA LETICIA ABSY


PROCURADORA DA REPÚBLICA

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