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Conselho Nacional de Justiça

PJe - Processo Judicial Eletrônico

20/03/2024

Número: 0000976-31.2023.2.00.0000
Classe: PROCEDIMENTO DE CONTROLE ADMINISTRATIVO
Órgão julgador colegiado: Plenário
Órgão julgador: Gab. Cons. Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Última distribuição : 17/02/2023
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Provimento Irregular
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ASSOCIAÇÃO DOS TITULARES DE CARTÓRIO DO DANIEL FONSECA ROLLER (ADVOGADO)
ESPÍRITO SANTO - ATC-ES (REQUERENTE)
CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO - CGJES (REQUERIDO)
PAULO ROBERTO SIQUEIRA VIANNA (TERCEIRO VALERIO RODRIGUES NUNES CRUZ (ADVOGADO)
INTERESSADO) OPHIR FILGUEIRAS CAVALCANTE JUNIOR (ADVOGADO)
EDUARDO FALCETE (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
54115 19/03/2024 20:53 Decisão Decisão
96
Poder Judiciário

Conselho Nacional de Justiça

Gabinete do Conselheiro Marcos Vinícius Jardim

Autos: PCA n. 0000976-31.2023.2.00.0000


Requerente: Associação dos Titulares de Cartório do Espírito
Santo – ATC/ES
Requerido: Corregedoria-Geral de Justiça do Espírito Santo -
CGJES

DECISÃO

Relatório

Trata-se de Procedimento de Controle Administrativo


(PCA), com liminar, proposto pela Associação dos Titulares de Cartório
do Espírito Santo (ATC/ES), no qual requer ao Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) que determine a cassação da decisão/ofício nº
1439467/7007798-25.2022.8.08.0000, que investiu Paulo Roberto
Siqueira Vianna na titularidade do Cartório do 1º Tabelionato de Notas
do Juízo de Vila Velha – ES.

A requerente relata que, em 21/05/1985, Paulo Roberto


foi nomeado titular do 2º Tabelionato de Notas de Vila Velha, por
meio do Decreto do então Governador do Estado de Espírito Santo,
sob a vigência da Constituição Federal de 1967.

Narra que, em 03/05/1999, sob a nova ordem


constitucional (Constituição Federal de 1988 – CF/88), o delegatário

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foi removido mediante permuta para o 1º Ofício de Registro de
Imóveis de Vila Velha.

Referida permuta, porém, foi revertida pelo CNJ, no PCA


n. 0000885-63.2008.2.00.0000, que determinou, de forma geral, a
desconstituição de nomeações efetivadas sem prévia aprovação em
concurso público.

Contra a mencionada determinação do CNJ, o então


registrador impetrou mandado de segurança perante o Supremo
Tribunal Federal (MS n. 27.739/DF- Relatora Ministra Rosa Weber), o
qual restou declarado prejudicado e, posteriormente, improvido o
respectivo agravo regimental.

Ato contínuo, informa que, em procedimento específico


instaurado em face do Paulo Roberto (PCA n. 0000384-
41.2010.2.00.0000), o CNJ declarou nula a delegação do 1º Ofício de
Registro de Imóveis de Vila Velha, por considerar ilegal a permuta
realizada. Decisão que foi reiterada, no mesmo processo, pela então
Corregedora Eliana Calmon, e objeto de novo mandado de segurança
perante o STF, denegado pelo mesmo Tribunal.

Não obstante, a requerente aduz que Paulo Roberto


permanecera na titularidade daquela serventia por mais de 10 anos,
devido à sentença proferida em ação declaratória, que considerou
válida a permuta então tida por irregular administrativamente
(processo n 0037453-02.2016.8.08.0024). O STF, porém, reverteu a
sentença, por considerá-la atentatória à autoridade de suas decisões
(Reclamação n. 31.937/ES).

Prossegue a ATC/ES, alegando que após a declaração


de perda definitiva da delegação do Cartório de Registo de Imóveis de
Vila Velha/ES, Paulo Roberto passou a pretender outras delegações do
Estado. Foi investido em serventia então ocupada por uma interina,
após decisão exarada pelo Conselho da Magistratura do TJES

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(Processo n.0012852-62.2020.8.08.0000). Sua investidura, porém, foi
revertida pelo CNJ, nos autos do PCA n. 0006047-19.2020.2.00.0000.

Contra essa decisão, terceiro novo mandado de


segurança foi impetrado perante o Supremo Tribunal Federal (MS n.
38468). O relator, Ministro Luís Roberto Barroso, negou seguimento
ao mandamus e o posterior agravo regimental foi improvido,
tornando imutável a decisão do CNJ.

Na sequência, a Associação aponta que, em


09/01/2023, a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Espírito
Santo determinou a investidura de Paulo Roberto na titularidade do
Cartório do 1º Tabelionato de Notas do Juízo de Vila Velha – ES
(Decisão/Ofício n. 1439467/7007798-25.2022.8.08.0000), pelo
fundamento de que o referido delegatário estaria em limbo funcional,
fato que, segundo a autora, afrontaria decisões administrativas e
judiciais transitadas em julgado.

Assim, requereu, liminarmente, que se determine a


suspensão dos efeitos da Decisão/Ofício n. 1439467/7007798-
25.2022.8.08.0000, pela qual se investiu o Paulo Roberto Siqueira
Vianna no cargo de titular do Cartório do 1º Ofício Tabelionato de
Notas do Juízo de Vila Velha. No mérito, pede que sejam julgados
procedentes os pedidos para cassar em definitivo a referida
decisão/ofício exarada pela e. Corregedoria-Geral de Justiça do Estado
do Espírito Santo.

O procedimento foi livremente distribuído a esta


relatoria que, previamente à análise do pedido liminar, reputou
necessário instaurar o contraditório no prazo de 5 dias (Id. 5033050).

Devidamente intimada, a Corregedoria-Geral da Justiça


do Estado do Espírito Santo prestou suas informações por meio dos
Ids. 5045904 a 5045979.

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Após, sobreveio pedido de ingresso e manifestação de
terceiro interessado, ambas protocoladas por Paulo Roberto Siqueira
Vianna (Id. 5080823 e 5089552).

Conclusos os autos a este gabinete, deferi o ingresso do


terceiro interessado e concedi o pedido liminar vindicado pela
requerente, para sobrestar a execução da decisão Decisão/Ofício n.
1439467/7007798-25.2022.8.08.0000, e obstar à investidura de Paulo
Roberto Siqueira Vianna em qualquer serventia extrajudicial do
Estado, até decisão final neste expediente (Id. 5113475)

Intimada, a Corregedoria-Geral do Estado do Espírito


Santo prestou informações pertinentes ao expediente (Id. 5116272).
Em seguida, o terceiro interessado interpôs embargos de declaração
da decisão liminar deferida por esta relatoria (Id. 5119562), não
conhecidos em ato proferido no Id. 5122829.

Novas informações foram aviadas pela Corregedoria-


Geral do estado (Id. 5126843). Ato contínuo, a liminar por mim
concedida foi ratificada pela maioria do Plenário, na 8ª Sessão Virtual
do Conselho Nacional de Justiça – ano 2023 (Id. 5166584).

Após, para concluir a instrução do procedimento, as


partes e terceiro interessado foram intimadas para apresentar razões
finais (Id. 5267050), juntadas, respectivamente, nos Ids. 5272343,
5328397 e 5303128.

É o relatório.

Fundamentação

A requerente (ATC/ES) insurge-se, em síntese, contra


ato praticado pela Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Espírito
Santo (CGSC), que investiu Roberto Siqueira Vianna na titularidade do
Cartório do 1º Tabelionato de Notas do Juízo de Vila Velha (ES).

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Eis a íntegra do ato:

Trata-se de expediente instaurado em razão da decisão


proferida pelo Conselho Nacional de Justiça, no âmbito
dos pedidos de providências n. 00086-
39.02.2021.2.00.0000 e 0005826- 02.2021.2.00.0000 e
da Consulta n. 0003413-16.2021.00.0000, por meio da
qual fixou parâmetros para a situação de agentes
delegados denominada de “limbo funcional”. No
referido acórdão, restou decidido que “É possível
ofertar a titularidade de serventias remanescentes de
concursos públicos e de serventias cuja vacância se
aperfeiçoou depois do início do último concurso público
aos delegatários que tiveram as remoções anuladas por
ato deste Conselho e foram impossibilitados de retornar
às delegações de origem (“limbo funcional”),
respeitados os critérios postos na fundamentação deste
voto.” (....) Destaque-se, outrossim, que muito embora
por meio do Ato n. 505/1999, o Sr. Paulo Roberto
Siqueira Vianna tenha permutado com a. Perina Chiabai
Martins assumido o Cartório do 1º Ofício RGI do Juízo de
Vila Velha, referida permuta foi tornada sem efeito
através do Ato n. 396, de 08 de julho de 2019, em
cumprimento à decisão proferida na Reclamação STF n.
31937/ES, pelo em. Ministro Alexandre de Moraes, que
reconheceu a irregularidade do ato praticado pelos
delegatários, o que, inclusive, resultou na atual
situação de “limbo funcional”, já que o 2º Ofício do Juízo
de Vila Velha foi ocupado por delegatário devidamente
aprovado em concurso público. (...) Diante do exposto,
INVISTO o Sr. Paulo Roberto Siqueira Vianna na
titularidade do Cartório do 1º Tabelionato de Notas do
Juízo de Vila Velha – Comarca da Capital, devendo o
MM. Juiz com competência em registros públicos adotar
as medidas necessárias à transmissão e inventário do
acervo da serventia.

Perfunctoriamente, o plenário do CNJ ratificou tutela de


urgência por mim deferida no sentido de obstar a investidura de
Roberto Vianna, dada a possível existência de decisão transitada em
julgado neste conselho para declarar a perda de vínculo daquele
delegatário com a administração pública.

Nesse cenário, tanto a corregedoria-geral quanto o


terceiro interessado, principal atingido com o resultado da
controvérsia, rejeitam a tese de perda superveniente de vínculo com
a administração pública, e, com efeito, sustentam que a situação
vivenciada por Paulo Roberto Siqueira Vianna se amolda àquela
descrita como limbo funcional.

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Entendem ambos que a declaração de ilegalidade de
permuta/remoção não importa em rompimento do liame com o Poder
Judiciário, assim como o eventual vínculo efetivo alcançado pelo
delegatário, ainda que por decreto (vigência da constituição Federal
de 1967), não é desfeito em razão do eventual reconhecimento da
mesma nulidade.

Contudo, em que pese louváveis os argumentos


apresentados, entendo que tanto a corregedoria local quanto o
terceiro interessado não lograram superar a tese principal, que
fundamenta inclusive o anterior deferimento de medida liminar, qual
seja: a existência de decisão plenária do CNJ que
expressamente declarou a perda do vínculo de Paulo Roberto
Siqueira Vianna com o serviço público (PCA n° 0006047-
19.2020.2.00.0000).

Eis a certidão de julgamento consignada no supracitado


processo (Id. 4613091):

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

CERTIFICO que o PLENÁRIO VIRTUAL, ao apreciar o


processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão:

"O Conselho, por maioria, julgou procedente o pedido, nos


termos do voto do Conselheiro Emmanoel Pereira (então
Relator). Vencidos, parcialmente, os Conselheiros Marcio Luiz
Coelho de Freitas e Luiz Fernando Bandeira de Mello, que
votavam no sentido de não declarar a perda do vínculo do
serviço público do ex-titular de serventia extrajudicial que
teve a remoção por permuta anulada e possibilitar ao
Tribunal a oferta de delegações remanescentes de concursos
públicos. Refluíram dos votos proferidos em assentada
anterior e acompanharam a divergência parcial, as
Conselheiras Maria Thereza de Assis Moura e Tânia Regina
Silva Reckziegel. Presidiu o julgamento o Ministro Luiz Fux.
Plenário Virtual, 11 de fevereiro de 2022."

Votaram os Excelentíssimos Conselheiros Luiz Fux, Maria


Thereza de Assis Moura, Emmanoel Pereira (então Relator),
Luiz Fernando Tomasi Keppen (então Conselheiro), Rubens
Canuto (então Conselheiro), Tânia Regina Silva Reckziegel,
Mário Guerreiro (então Conselheiro), Marcio Luiz Coelho de
Freitas, Flávia Pessoa, Sidney Madruga, Ivana Farina
Navarrete Pena (então conselheira), André Godinho (então

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Conselheiro), Maria Tereza Uille Gomes (então Conselheira) e
Luiz Fernando Bandeira de Mello.

Não votou, em razão da vacância do cargo, o Conselheiro


representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil.

Brasília, 11 de fevereiro de 2022.

CARLA FABIANE ABREU ARANHA

Coordenadora de Processamento de Feitos

Logo, naquela assentada (99ª Sessão Virtual do CNJ), o


colegiado, majoritariamente, entendeu, em consonância com o voto
do relator (então Conselheiro Emmanoel Pereira), que, em razão da
declaração de nulidade da permuta realizada e da impossibilidade de
seu retorno para a serventia de origem, o delegatário deveria
suportar o ônus do ato irregular, ou seja, a possível perda de
seu vínculo com o serviço público, como de fato ocorreu.

Vale notar que o acórdão do mencionado processo não


foi alterado ou cassado em razão de ulterior decisão judicial, razão
pela qual seu conteúdo permanece válido, eficaz e cogente a todos
submetidos a esta esfera administrativa, inclusive a este relator.

Assim, a despeito da compreensão diversa manifestada


pela egrégia CGSC, inescapável a incidência de coisa julgada
administrativa no caso em apreço, em especial, em relação ao
reconhecimento da perda de vínculo de Paulo Roberto Vianna com o
Poder Judiciário.

Com efeito, declarada a perda superveniente de


vínculo com a administração pública pelo CNJ, em decisão transitada
em julgado administrativamente, não há falar em limbo funcional no
caso concreto.

Dispositivo

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Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado
pela requerente, para tornar definitiva a tutela de urgência
anteriormente concedida, de forma a declarar sem efeito a
Decisão/Ofício n° 1439467/7007798-25.2022.8.08.0000, editada pela
egrégia Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Santa Catarina,
que investia Paulo Roberto Siqueira Vianna na titularidade do Cartório
do 1º Tabelionato de Notas do Juízo de Vila Velha (ES), e para que
referido órgão censor se abstenha de investi-lo em qualquer outra
serventia extrajudicial, devido à perda superveniente de seu vínculo
com o Poder Judiciário.

Intimem-se as partes.

À Secretaria Processual do CNJ para as providências de


que lhe competem.

Intimem-se as partes.

Brasília, 08 janeiro de 2024.

Conselheiro Marcos Vinícius Jardim

Relator

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