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213/2003-9
RELATÓRIO
HISTÓRICO
3. O presente pedido de reexame foi interposto em sede fiscalização na área de pessoal do
Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT/RN), durante a qual a Secex-RN identificou a
realização de pagamentos de benefícios de auxílio-alimentação a servidores e magistrados daquela
Corte, em cumprimento de sentenças relativas a nove ações judiciais, mesmo após a interposição
de apelações pela Advocacia-Geral da União (AGU).
4. Em cinco dessas ações, o benefício permaneceu sendo pago mesmo após o trânsito em
julgado das lides, com a sucumbência dos autores interessados, e em oito ações, o TRT/RN não
adotou providências para ressarcimento dos valores recebidos precariamente.
5. Em decorrência dos achados, o Plenário do TCU proferiu o Acórdão 1587/2010,
determinando a suspensão cautelar do pagamento dos benefícios, oitivas, audiências e
determinações àquela Corte trabalhista.
6. Após verificar a tomada de uma série de providências por parte do TRT/RN, o Tribunal
não identificou evidências da adoção de medidas que assegurassem o ressarcimento das
importâncias recebidas indevidamente por servidores e magistrados. Ao contrário, identificou-se
uma oposição dos beneficiários à devolução dos valores, sob o argumento de desrespeito à
legislação, à boa-fé dos beneficiários e à segurança jurídica.
7. Refutando as razões dos irresignados responsáveis, com base em vasta jurisprudência
interna, do STJ e do STF, e com fulcro no art. 46 da Lei 8.112/1990, o Tribunal, por intermédio do
Acórdão 1759/2013 -TCU - Plenário (peça 186), determinou ao TRT/RN o desconto em folha dos
valores recebidos por servidores e magistrados daquele Tribunal por força das decisões judiciais
posteriormente tornadas insubsistentes, bem como a suspensão dos pagamentos de benefício com
fundamento nas referidas ações judiciais.
8. O TCU determinou ainda à Corte trabalhista potiguar que efetuasse a cobrança de valores
recebidos a título precário por magistrados que não mais integravam os quadros do TRT/RN. No
mesmo aresto, consignou ordenações semelhantes ao TRT/CE, bem como determinou à Advocacia-
Geral da União o estabelecimento de procedimentos para assegurar a comunicação aos órgãos e
agentes competentes, das decisões judiciais que impliquem em suspensão de pagamentos da espécie
a agentes públicos.
EXAME DE ADMISSIBILIDADE
9. O Exmo Ministro Relator José Jorge, em Despacho à peça 227 conheceu do Pedido de
Reexame interposto pela AMATRA 21 e ANAMATRA (peça 209), suspendendo-se os efeitos dos
itens 9.3.1.1, 9.3.1.2, 9.3.1.3, 9.3.1.4, 9.3.1.6, 9.3.2.1, 9.3.2.2 e 9.3.2.3 do Acórdão 1759/2013 –
Plenário (peça 186), nos termos do exame de admissibilidade realizado pela Serur (peça 225).
EXAME DE MÉRITO
10. A seguir serão apresentados os argumentos dos recorrentes, de maneira sintética,
seguidos da análise de cada um deles.
11. Argumento: Os recorrentes entendem impertinentes as determinações para devolução
dos valores recebidos de forma supostamente irregular, colimando essa convicção à luz da
jurisprudência dos tribunais superiores e do próprio TCU, bem como da necessidade de se
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.213/2003-9
observar o devido processo legal durante a fase instrutória do processo, de forma individual, em
relação aos servidores e magistrados atingidos pela decisão atacada (peça 209, p. 4).
12. Afirmam imprescindível a instauração de relação processual que assegure o
procedimento contraditório para cada magistrado atacado pela decisão do TCU e por notificações
unilaterais exaradas para devolução de valores, fiando-se em relações jurídicas precedentes. Tais
relações diriam respeito ao direito ao crédito, enquanto que no bojo do presente processo, ter-se-ia
estabelecido relação jurídica em torno do direito à indenidade patrimonial, com as consequentes
dimensões jurídicas dali derivadas, tais como recebimento de boa-fé, compensação de créditos,
prescrição da pretensão de repetição, etc (peça 209, p. 5).
13. Colacionam decisão do STJ para sustentar a tese da observância do devido processo
legal com os consectários da ampla defesa e do contraditório, na cobrança de valores pagos pela
administração (peça 209, p. 5-6).
14. Análise: Com relação à necessidade de se estabelecer o contraditório individualizado
no caso de determinações ao órgão pagador por parte desta Corte, é pacífico o entendimento de
que no presente processo a relação jurídica envolve somente o TCU e os órgãos jurisdicionados,
sendo dispensável o exercício do contraditório pelos interessados no âmbito do TCU, conforme
assentado pelo STF no MS nº 27.539/MC, Relatora Ministra Ellen Gracie, DJe nº 235:
No julgamento de processos de tomada de contas, de prestação de contas ou de
fiscalizações submetidos à apreciação do TCU, a relação se estabelece apenas entre os
órgãos públicos envolvidos, não entre o servidor e o TCU, por se tratar de julgamento das
contas do órgão. Não há que falar, portanto, em participação do impetrante durante a
fiscalização, a análise e o julgamento das contas do órgão público pelo TCU, sendo
razoável o diferimento do exercício do contraditório e da ampla defesa pelo impetrante
para o âmbito do próprio órgão a que se vincula. (grifos não existentes no original)
15. No julgado indicado, a Ministra Relatora do STF externou o entendimento de que, no
julgamento de processos de tomada de contas, de prestação de contas ou de fiscalizações
submetidos à apreciação do TCU, a relação se estabelece apenas entre os órgãos públicos
envolvidos, não entre os servidores e o Tribunal. Não há que falar, portanto, em participação dos
interessados durante a fiscalização empreendida pelo TCU ou em sua fase recursal, sendo
pertinente o exercício do contraditório e da ampla defesa pelos interessados no âmbito dos
próprios tribunais a que se vinculam.
16. No mesmo sentido, o STF se pronunciou ao proferir decisão, nos autos da Reclamação
7.096/MC-RJ – Dje nº 22, de 2/2/2009:
No que concerne às determinações, pelo E. Tribunal de Contas da União, no sentido de que a
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro 'torne sem efeito a Resolução nº 2.492/2003' e
'cesse o pagamento do pagamento de 26,05% a todos os servidores e pensionistas' (fls. 64),
observo que a Corte de Contas, ao proferir tal decisão, agiu em estrita observância ao que
prescreve o art. 71, IX, da Constituição.
Com efeito, compete ao E. Tribunal de Contas da União 'assinar prazo para que o órgão ou
entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade'
(CF, art. 71, IX).
Vê-se, assim, que, no processo em que proferido o ato que ora se impugna, não se estabeleceu
relação alguma com os servidores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, mas,
apenas, entre referida Universidade e a Corte de Contas.
17. Outros julgados da Corte Suprema sedimentam essa interpretação a exemplo Reclamação nº
7000/DF, DJe nº 21, divulgado em 30/1/2009.
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18. No âmbito desta Corte de Contas, é firme a jurisprudência no sentido de considerar que, no
exercício de suas funções constitucionais de controle, não há a obrigação de que todos os eventuais
interessados sejam chamados ao processo. No primeiro momento, a relação processual se dá entre esta
Corte de Contas e o órgão fiscalizado. Contudo, em qualquer etapa do feito, há a possibilidade de ingresso
de terceiro, autorizado pelo Relator ou pelo Tribunal, desde que demonstrada razão legítima para intervir
(art. 144, § 2º, do RI/TCU).
19. Esse posicionamento justifica-se pelo diferente impacto da decisão, que atinge de forma mediata o
servidor e imediata o órgão, responsável pela correção do ato ilegal praticado. Caso este Tribunal
chamasse a priori cada um dos afetados por sua decisão, a atividade fiscalizatória tornar-se-ia
inviabilizada, prejudicando, assim, o exercício do controle externo.
20. Nesse sentido, os Acórdãos TCU 868/2008-TCU-Plenário, 0709/2010-Plenário, 0710/2010-
Plenário, 1173/2010-Plenário, 1696/2012-Plenário, 1723/2010-Plenário, 2021/2011-Plenário.
21. Assim, a jurisprudência do TCU e do STF no sentido de que no julgamento de tomada e prestação
de contas e de fiscalizações a cargo deste Tribunal, a relação se estabelece apenas entre os órgãos públicos
envolvidos, não entre o servidor e o TCU, devendo o contraditório e da ampla defesa nesses casos ser
exercido no âmbito interna corporis, entre o órgão pagador e os beneficiários.
22. Desassiste, portanto, razão aos recorrentes neste ponto.
23. Argumento: Salientam os institutos da boa fé objetiva, do caráter alimentar das parcelas
recebidas supostamente de forma irregular, considerando ainda que o TRT 21ª Região não havia sido
comunicado, pela AGU, da posterior decisão do STJ desfavorável aos autores. Nessa linha, colacionam
julgados do STJ que demonstrariam reforçar a tese da irrepetibilidade dos percebimentos de boa fé, em se
tratando de decisões judiciais provisórias (peça 209, p. 6-8).
24. Consignam que os julgados manejados pelos recorrentes foram prolatados posteriormente aos
coligidos pelo TCU para sustentar seu aresto condenatório, e que não teria se configurado, no âmbito do
STJ, a superação jurisprudencial da irrepetibilidade em percebimentos de boa fé, decorrentes de
pagamentos oriundos de decisões judiciais não definitivas, motivos pelos quais a Corte de Contas deveria
aplicar à espécie o teor das Súmulas 106 e 246 (peça 209, p. 8).
25. Aduzem ainda o enunciado 34 da Advocacia-Geral da União, segundo o qual não estão sujeitos à
repetição os valores recebidos de boa-fé pelo servidor público, em decorrência de errônea ou inadequada
interpretação da lei por parte da Administração Pública (peça 209, p. 8).
26. Analisam que, no caso concreto, os magistrados beneficiários não foram responsáveis pela
permanência dos pagamentos, porquanto a medida empreendida pelo TRT 21ª Região não sofreu qualquer
ingerência dos associados, os quais sequer foram cientificados da invalidade ou participaram da ordenação
da despesa mensal. Ademais, a não suspensão dos benefícios após a prolação definitiva das decisões
judiciais teria ocorrido por inércia da própria União, como teria reconhecido o Acórdão atacado, em seu
item 9.3.3 (peça 209, p. 8-9).
27. Análise: O fato de a Corte Trabalhista não ter sido comunicada formalmente pela AGU do
julgamento definitivo das ações em pauta não exime a Corte interessada bem como os beneficiários do
cumprimento das decisões proferidas.
28. Nesse sentido, o Acórdão recorrido determinou ao TRT/RN que adotasse sistemática de
acompanhamento de processos judiciais de interesse da Administração, com fundamento no dever de todo
agente público de zelar pela coisa pública e pelo erário.
29. Em tese, não haveriam de se aplicar ao caso concreto as Súmulas 106 e 249 do TCU, ou mesmo
do art. 2º da Lei 9.784/1999, no tocante à dispensa de ressarcimento dos valores percebidos de boa fé, por
interpretação errônea ou aplicação retroativa de norma legal.
30. Não estão albergados pela segurança jurídica os pagamentos realizados, a título precário, em
decorrência de decisões judiciais desfavoráveis à União, que venham a ser tornadas insubsistentes, em sede
de trânsito em julgado, como nos presentes autos.
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31. Contudo, a análise deste ponto resta prejudicada em virtude da mudança de orientação
jurisprudencial desta Corte em relação ao núcleo meritório da missiva recursal, conforme apontamentos a
seguir.
32. Argumento: Informam os recorrentes que a Constituição Federal, em seu art. 129, §4º, assegurou
simetria de tratamento entre as carreiras do Ministério Público e da Magistratura, ao contrário da anterior
situação, de supremacia destas últimas, não obstante, mesmo após a ulterior modificação do constituinte, os
direitos conferidos aos membros do MP não fossem os mesmos, o que só foi corrigido por meio de decisão
do Conselho Nacional de Justiça - CNJ (peça 209, p. 10).
33. Na referida decisão do CNJ, constaria consignado o reconhecimento da vantagem devida aos
magistrados do auxílio-alimentação, cumulativamente com os subsídios, objeto da controvérsia ora
discutida nestes autos (peça 209, p. 10).
34. Adicionam a esse fato, julgado do STF que ao apreciar a AO 1725 deu interpretação favorável à
magistratura no tocante aos pagamentos concernentes ao auxílio alimentação, benefício esse que não
representaria imoralidade, ilegalidade ou inconstitucionalidade, dado o caráter simétrico entre a
Magistratura e o Ministério Público (peça 209, p. 10).
35. Sustentam que o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, o Conselho da Justiça Federal e o
próprio TCU já teriam reconhecido a legalidade do pagamento retroativo do benefício aos magistrados,
observado o prazo prescricional, e colacionam julgados nesse sentido, em especial o Acórdão 1177/2013-
TCU - Plenário, nos autos da representação TC 044.780/2012-5 (peça 209, p. 10-11).
36. Aduzem, assim, que o Acórdão presentemente atacado instaurou verdadeiro conflito de
prescrições, diante do antagonismo frente à normativa oriunda do CNJ, a ser superado pela prevalência da
orientação do referido Conselho, órgão máximo de controle administrativo do aparato judicial pátrio, o que
já teria sido decidido nos autos do Pedido de Providências 445, do CNJ (peça 209, p. 11-12).
37. Citam ainda situação semelhante onde se verificou conflito entre decisões emanadas do TCU e do
CNJ, e que dizia respeito à alteração de critérios de classificação de candidatos aprovados em concurso
público do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região. No suscitado conflito, o TCU teria reformulado
sua decisão à vista de o CNJ já ter se posicionado com relação à matéria em sentido contrário (peça 209, p.
12).
38. Análise: O entendimento predominante nesta Corte, assim como o nas Cortes judiciais, é o de
que sempre que a administração for obrigada, por força de deliberações judiciais proferidas no âmbito de
ações promovidas por servidores ou magistrados, a pagar quantias que se mostrem, posteriormente,
indevidas, impõe-se aos requerentes a obrigação de recompor o status quo ante, suportando os efeitos da
revogação do benefício, o que abrange, inclusive, a restituição dos valores percebidos durante a vigência da
medida judicial não transitada em julgado.
39. A jurisprudência do TCU consolidou-se nesse sentido, a exemplo dos Acórdãos do Plenário
1909/2003, 1865/2005 e 393/2004, 2237/2006 e 320/2008.
40. Em relação ao pagamento da vantagem do auxílio-alimentação a magistrados, o Supremo
Tribunal Federal e o próprio Tribunal de Contas da União vêm se posicionando pela impossibilidade de
extensão aos magistrados de direitos e vantagens conferidos aos servidores públicos em geral, uma vez que
aqueles são submetidos a regimes jurídicos distintos.
41. Não obstante esse entendimento firmado, decisões mais recentes desta Corte passaram a
reconhecer como adequado o pagamento de auxílio-alimentação aos magistrados.
42. Com efeito, a Resolução 133/2011 do CNJ viabiliza o pagamento do auxílio-alimentação aos
magistrados, fixando o termo a quo do direito ao benefício em 19 de maio de 2004. Reconheceu-se, ali, a
prescrição quinquenal prevista no art. 54 da Lei do art. 4º, parágrafo único, do Decreto nº 20.910/1932,
tendo como marco temporal o dia 19/5/2009, data do pedido administrativo para o pagamento da verba
indenizatória.
43. Já o Conselho Superior da Justiça do Trabalho – CSJT, no bojo do processo n° CSJT-PCA-6633-
22.2011.5.90.0000, deliberou pelo reconhecimento aos magistrados da Justiça do Trabalho do direito ao
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14. Desse modo, vê-se que não se mostra mais adequado determinar ao TRT da 17ª Região
que providencie a restituição da referida verba [auxílio alimentação], mesmo porque a
questão se refere a ato declaratório de direito, de tal sorte que se mostra necessário
apenas dar ciência de que a determinação originalmente contida no item 1.6.1.6 do
Acórdão 374/2009-TCU-1ª Câmara encontra-se atualmente prejudicada, vez que o
pagamento de auxílio-alimentação a magistrados tem se mostrado adequado segundo o
mais recente posicionamento jurisprudencial.
54. Cabe destacar, também, a manifestação deste Tribunal no âmbito do Acórdão
2.346/2012-TCU-Plenário, proferido em sede de processo de representação (TC 015.427/2005-3),
que tratou de pagamentos de determinadas parcelas remuneratórias a magistrados de Tribunais
Superiores. No que se refere ao auxílio alimentação, a deliberação foi no sentido de considerar
regular sua percepção pelos membros daquelas Cortes.
55. Argumento: Por fim, os recorrentes suscitam questão à guisa de preliminar que diz
respeito à suposta prescrição quinquenal, especialmente em face de precedentes judiciais que
discutem a imprescritibilidade das ações de ressarcimento, com base no art. 37, §5º da CF/88
(peça 209, p. 13-14).
56. Nessa vertente, citam precedentes judiciais do STJ (RE 406545/SSP), bem como
dispositivos do Decreto Lei 20.910/1932, da Lei 4.717/1965 (Lei da Ação Popular), da Lei
5.172/1966 (Código Tributário Nacional), e da Lei 9.784/1999 (Lei do Processo Administrativo),
os quais sustentariam a tese aplicável ao presente caso, de prescrição quinquenal consumada
(peça 209, p. 12-14).
57. Análise: Enfrentando a tese albergada pelo recorrente, a fim de reforçar o entendimento
dominante nesta Corte, solidamente embasado na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
tem-se que os institutos da decadência e da prescrição administrativa não se amoldam às hipóteses
de ressarcimento de valores aos cofres públicos determinados por esta Corte de Contas.
58. Isso porque o instituto da prescrição, sempre a depender de prescrição normativa que o
sustente, não se aplica aos processos em que se determine o ressarcimento ou débito pelo Tribunal
de Contas da União. A inocorrência de prescrição deriva mesmo da ausência normativa específica
para a espécie.
59. Tem-se que o caso em apreço amolda-se, perfeitamente, ao disposto no § 5º do art. 37 da
CF, segundo o qual a lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízo ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
60. Também o Supremo Tribunal Federal assentou não ser aplicável instituto da decadência
administrativa em face na não incidência do disposto no art. 54 da Lei nº 9.784/1999 aos processos
em que o Tribunal de Contas da União está a exercitar o controle externo que lhe foi atribuído pela
Constituição Federal, em seu art. 71, inciso III.
61. Entende ainda a Corte Maior incabível também falar-se de prescrição administrativa,
uma vez que esta é sempre dependente de lei, inexistente na espécie, não se podendo também
aplicá-la por analogia, seja com o Decreto 20.910/1932, seja com a Lei 4.717/1965, a Lei
5.172/1966 ou a Lei 9.784/1999 conforme pretendem os recorrentes.
62. Nesse sentido, são do Supremo Tribunal Federal as seguintes deliberações:
Preliminarmente, no que concerne à decadência administrativa, frise-se que esta Corte já
decidiu não ser aplicável o contido no art. 54 da Lei nº 9.784/1999 aos processos em que o
Tribunal de Contas da União está a exercitar o controle externo que lhe foi atribuído pela
Constituição Federal, em seu art. 71, inciso III (Mandado de Segurança nº 24.859/DF, rel.
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Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 27/8/2004). (STF. MS nº 27.539 MC / DF. Rel. Min.
Ellen Gracie. Julg. 3/12/2008. Public. 11/12/2008).
Não incidência da decadência administrativa em face da inaplicabilidade do art. 54 da Lei
nº 9.784/1999 aos processos por meio dos quais o TCU exerce a sua competência
constitucional de controle externo, consoante asseverado, por unanimidade, pelo Plenário
do STF no MS nº 24.859-DF. 4. Incabível também falar-se, no caso, de prescrição
administrativa, tendo em vista que o direito de invalidar, conforme a doutrina, não é
dotado de pretensão e por isso não é passível de prescrição, mas só de decadência,
inaplicável ao caso. Além disso, a prescrição é sempre dependente de lei, inexistente na
espécie, não se podendo também aplicá-la por analogia, conforme pretende o Impetrante.
Não ocorrência da prescrição e/ou decadência administrativa. Inaplicabilidade do
Decreto nº 20.910/1932’. (STF. MS nº 27.580 MC / DF. Rel. Min. Menezes Direito. Julg.
15/10/2008. Public. 23/10/2008)
63. Ainda nessa vertente, cite-se o MS nº 24.859/DF, rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ
de 27/8/2004.
64. Tendo em vista o exposto, não assiste razão aos recorrentes, neste ponto.
65. Argumento: Em sede de pedidos, requerem a proscrição plena e imediata das
notificações unilaterais de juízes do Trabalho associados para ressarcirem valores pagos a título
de auxílio-alimentação, exigindo-se que, no plano regional, todo e qualquer procedimento
administrativo de cobrança observe concreta e individualmente o devido processo legal, para além
da discussão daquilo que os recorrentes nomeiam de “acessórios da dívida” (peça 209, p. 15).
66. Requerem ainda o provimento do recurso, com a aplicação do Enunciado 34 da AGU, e
das súmulas 106 e 246 desta Corte, à luz dos princípios da confiança legítima e da boa fé objetiva,
para que não se determinem quaisquer descontos nos estipêndios dos magistrados trabalhistas
associados, estabilizando-se os efeitos decorrentes dos pagamentos já realizados a título de
auxílio-alimentação (peça 209, p. 15).
67. Caso não acatada a reconsideração do julgado, requerem prevaleça a prescrição
normativa do CNJ, por intermédio da Resolução 133, que entendeu ser o auxílio alimentação
direito inconteste dos magistrados, inclusive com e feitos pecuniários retroativos da parcela. Por
último, alternativamente, requerem seja observado o marco prescricional quinquenal (peça 209, p.
15).
68. Análise: Conforme já exposto, o entendimento assentado nesta Corte no caso de
julgamento de tomada e prestação de contas e de fiscalizações a cargo do TCU é o de que a
relação processual se estabelece apenas entre os órgãos públicos envolvidos, não entre
magistrados e o Tribunal de Contas, devendo o contraditório e da ampla defesa nesses casos ser
exercido no âmbito dos Tribunais trabalhistas.
69. Além disso, não há que se falar da aplicação do Enunciado 34 da AGU, ou das súmulas
106 e 246 desta Corte. Conforme mencionado acima, não estão ao abrigo da segurança jurídica os
pagamentos realizados, a título precário, em decorrência de decisões judiciais desfavoráveis à
União que, posteriormente, venham a ser tornadas insubsistentes.
70. Nada obstante, propõe-se o provimento do recurso no que diz respeito ao pagamento de
auxílio alimentação aos magistrados, tendo em vista a nova jurisprudência do TCU sobre o
assunto, que está em consonância com o disposto na Resolução 133/2011 do CNJ.
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CONCLUSÃO
71. Em virtude das colocações já exaradas, não se mostra mais adequado determinar ao TRT
21ª Região (RN) e ao TRT 7ª Região (CE) que efetuem a suspensão do pagamento das verbas de
auxílio-alimentação, bem como de sua restituição, de sorte que se mostra necessário alterar o
teor das determinações contidas nos subitens 9.3.1.1, 9.3.1.2, 9.3.1.3 do acórdão recorrido,
endereçadas ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região – TRT/RN, com vistas
a excluir as ações ordinárias cujo objeto é o pagamento de benefício alimentação a magistrados,
quais sejam Ações Ordinárias nº 96.009220-6; 97.00.00651-4; 97.0001887-3; 97.00.00576-3, e
tornar sem efeito as determinações constantes dos subitens 9.3.2.1; 9.3.2.2; 9.3.2.3 e 9.3.5,
dirigidas ao Presidente do TRT da 7ª Região.Dessa forma, propõe-se o acolhimento parcial dos
presentes Pedidos de Reexame.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
72. Por todo o exposto, elevamos o assunto à consideração superior, propondo:
a) conhecer dos pedidos de reexame interpostos pela AMATRA 21 – Associação dos
Magistrados do Trabalho da 21ª Região e pela ANAMATRA – Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho contra o Acórdão 1759/2013 - TCU - Plenário, com
fundamento no art. 48 da Lei nº 8.443/92, e, no mérito, dar-lhes provimento parcial, para:
a.1) em substituição às determinações contidas nos subitens 9.3.1.1, 9.3.1.2, 9.3.1.3 do
acórdão recorrido, determinar ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região –
TRT/RN que:
9.3.1.1. abstenha-se de realizar pagamentos de benefícios com fundamento na Ação
Ordinária 2001.84.00.12106-5 e desconto do Imposto de Renada na forma estabelecida na
liminar concedida no âmbito do Mandado de Segurança 2001.84.00.000129-1, tendo em
vista a superveniência de decisão judicial transitada em julgado favorável à União;
9.3.1.2. no prazo de 30 (trinta) dias, contados da notificação, adote as medidas
necessárias a promover o desconto dos valores pagos a título precário, e eventualmente
ainda não restituídos, na forma estabelecida nos §§ 1º e 3º do art. 46 da Lei 8.112/1990,
com a redação dada pela MP 2.225-45/2001, nos vencimentos, proventos de
aposentadoria e pensões instituídas por servidores e magistrados daquele Tribunal,
relativos às quantias indevidamente percebidas pelos beneficiários, desde a implantação
até a suspensão definitiva, em decorrência de decisões exaradas nos autos das Ações
Ordinárias 2001.84.00.12106-5 e 2000.84.00.012416-4 e Mandados de Segurança nºs
2001.84.00.006954-7 e 2001.84.00.004939-1, tendo em vista a superveniência de decisões
judiciais transitadas em julgado favoráveis à União, assegurando-lhes o contraditório e a
ampla defesa, limitados à discussão de parcelas acessórias da dívida;
9.3.1.3. com relação aos servidores e magistrados que não mais integram os quadros do
TRT/RN, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da notificação, adote as medidas
necessárias a promover a cobrança dos valores percebidos a título precário, e
eventualmente ainda não restituídos., desde a implantação até a suspensão definitiva ou
até o desligamento do órgão, em decorrência de decisões exaradas nos autos das Ações
Ordinárias nºs 2001.84.00.12106-5 e 2000.84.00.012416-4 e Mandados de Segurança nºs
2001.84.00.006954-7 e 2001.84.00.004939-1, tendo em vista a superveniência de decisões
judiciais transitadas em julgado favoráveis à União, assegurando-lhes o contraditório e a
ampla defesa, limitada a discussão às parcelas acessórias da dívida;
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a.2) tornar sem efeito as determinações constantes dos subitens 9.3.2.1; 9.3.2.2; 9.3.2.3 e
9.3.5;
b) dar ciência às partes e aos órgãos/entidades interessados.”
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Não há de se aplicar ao caso concreto as Súmulas 106 e 249 do TCU ou mesmo o art. 2º,
XIII, da Lei 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal), quanto à dispensa dos
valores recebidos de boa-fé por escusável exegese ou por aplicação retroativa de norma
legal. Não estão ao abrigo da segurança jurídica os pagamentos realizados, a título
precário, em decorrência de decisões judiciais desfavoráveis à União que, posteriormente,
venham a ser tornadas insubsistentes, como no caso destes autos.
Sempre que a Administração é obrigada, por força de deliberações judiciais proferidas no
âmbito de ações promovidas por servidores, a pagar quantias que, posteriormente,
mostraram-se indevidas, impõe-se aos requerentes a obrigação de recompor o status que
ante, suportando os efeitos da revogação do benefício.
A dispensa de restituição, nesse contexto, corresponde a permitir que a Administração
Pública seja onerada por ato de terceiro e configura enriquecimento sem causa do
servidor, o que é vedado em nosso ordenamento jurídico. Nesse sentido, são irrelevantes
considerações a respeito de boa-fé, errônea interpretação ou má aplicação da lei e
aplicação retroativa de nova interpretação.
8. Saliento que não se faz necessária a análise dos argumentos recursais referentes ao
direito dos magistrados ao auxílio-alimentação, uma vez que tal questão não foi objeto de
discussão no acórdão recorrido, conforme dito anteriormente, motivo pelo qual eventual
procedência nessas alegações, consoante entendeu o auditor instrutor, não tem o condão de
modificar o decidido por este Tribunal.
9. Por fim, as alegações atinentes à suposta prescrição quinquenal deveriam ter sido
arguidas em juízo e não no âmbito deste processo de auditoria.
À vista dessas considerações, remeto os autos à consideração superior com a proposta de
negativa de provimento ao presente pedido de reexame.”
É o relatório.
VOTO
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Diante do exposto, com as vênias por discordar em parte da unidade técnica, manifesto-me
pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 27 de agosto de
2014.
JOSÉ JORGE
Relator
1. Processo nº TC 019.213/2003-9.
2. Grupo II – Classe I – Assunto: Pedido de reexame (Relatório de Auditoria)
3. Recorrentes: Anamatra - Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(00.536.110/0001-72) e Amatra 21 - Associação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região
(40.986.218/0001-81).
4. Órgão: Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região/RN.
5. Relator: Ministro José Jorge
5.1. Relator da deliberação recorrida: Ministro Walton Alencar Rodrigues.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Recursos (Serur).
8. Advogado constituído nos autos: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de pedido de reexame interposto pela
Associação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região - Amatra 21 e Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho – Anamatra, contra o acórdão 1759/2013 - Plenário;
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão plenária,
diante das razões expostas pelo relator, com fundamento nos arts. 32, 33 e 48 da Lei 8.443/1992, em:
9.1. conhecer do pedido de reexame para dar-lhe provimento parcial, para excluir dos
subitens 9.3.1.1, 9.3.1.2 e 9.3.1.3 a menção às ações ordinárias 96.009220-6, 97.00.00651-4,
97.00.00576-3 e 97.00.001887-3 e tornar sem efeito as determinações constantes dos subitens 9.3.2.1,
9.3.2.2, 9.3.2.3 e 9.3.5, todos do acórdão 1759/2013 – Plenário;
9.2. dar ciência dessa deliberação às recorrentes, ao Presidente do Tribunal Regional do
Trabalho da 21ª Região – TRT/RN, ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região –
TRT/CE e ao Presidente do Tribunal Regional Federal da 6ª Região – TRT/PE.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
PAULO SOARES BUGARIN
Procurador-Geral
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