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Conselho Nacional de Justiça

PJe - Processo Judicial Eletrônico

01/06/2021

Número: 0004306-41.2020.2.00.0000
Classe: RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR
Órgão julgador colegiado: Plenário
Órgão julgador: Corregedoria
Última distribuição : 04/06/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Apuração de Infração Disciplinar, Comunicação - Res. 135/CNJ
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA (RECLAMANTE)
RAQUEL BRANQUINHO PIMENTA MAMEDE NASCIMENTO
(RECLAMANTE)
RUBENS ROLLO D OLIVEIRA (RECLAMANTE)
ANTONIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO (RECLAMADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
43571 01/06/2021 12:13 Decisão Decisão
57
Conselho Nacional de Justiça

Autos: RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR - 0004306-41.2020.2.00.0000


Requerente: CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA e outros
Requerido: ANTONIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO

RECLAMAÇÃO DISCIPLINAR. JUIZ FEDERAL DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO PARÁ. INDÍCIOS DE VIOLAÇÃO AOS DEVERES
FUNCIONAIS. IMPARCIALIDADE, SERENIDADE, EXATIDÃO,
PRUDÊNCIA E CAUTELA. ATOS PRATICADOS NO EXERCÍCIO
DA JURISDIÇÃO. INTIMAÇÃO PARA DEFESA PRÉVIA.

DECISÃO

Cuida-se de pedido de providências instaurado para cumprimento dos


termos da Resolução CNJ n. 135, de 13/7/2011, iniciado pelo encaminhamento, a esta
Corregedoria Nacional de Justiça, de decisão proferida pela Desembargadora Ângela
Maria Catão Alves, Corregedora do TRF da 1ª Região (Id 4003931), pela qual determinou
o arquivamento de Pedido de Providências manejado pelo Juiz Federal Rubens Rollo
D’Oliveira, titular da 3ª Vara da Seção Judiciária do Pará, em desfavor de ANTONIO
CARLOS ALMEIDA CAMPELO, Juiz Federal Titular da 4ª Vara daquela mesma Seção
Judiciária, ambas localizadas em Belém/PA.
Eis os fatos imputados inicialmente ao magistrado Reclamado, conforme
relatado pelo órgão censor regional na mencionada decisão que arquivou o pedido de
providências que lá tramitou sob n. 0002426-12.2019.4.01.8000:

Sustenta o representante, em linhas gerais, que o juiz federal Antonio


Carlos Almeida Campelo, titular da 4ª vara da SJPA, em substituição
automática ocorrida na 3ª vara da SJPA, no período de 09.01.2017 a
07.02.2017, teria proferido “decisões eticamente censuráveis, por
desconstruírem (sic) o trabalho do juiz titular, da Polícia Federal e do
Ministério Público”, revogando diversas prisões deferidas pelo juiz natural,
sem qualquer fato novo e diante de posicionamento contrário do Ministério
Público Federal. Elenca, para tanto, 05 (cinco) processos, onde, em seu

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sentir, teriam ocorrido essas infundadas revogações, a saber: 1) 30306-


62.2016.4.01.3900; 2) 23223-92.2016.4.01.3900; 3) 20928-
82.2016.4.01.3900; 4) 1591-73.2017.4.01.3900 e 5) 2010.39.00.002392-7.
(Id 4003931, p. 1, destaquei)

A Corregedora Regional arquivou o procedimento “não vislumbrando


qualquer irregularidade nas revogações das prisões levadas a cabo pelo Juiz ANTONIO
CARLOS ALMEIDA CAMPELO (liberdade de decidir), tampouco qualquer desvio
funcional/comportamental na espécie, à míngua de infração disciplinar palpável” (Id
4003931, p. 7).
Por meio de decisão proferida pelo então Corregedor Nacional de Justiça,
Ministro Humberto Martins, arquivou-se o feito sob a motivação de que seriam
“satisfatórios os esclarecimentos prestados sobre a apuração dos fatos na origem, o que
torna desnecessária a atuação da Corregedoria Nacional de Justiça ao caso em comento”
(Id 4006516).
Contra tal decisão, foi interposto recurso administrativo pelo reclamante (Id
4145049).
Ao analisar as razões do recurso, proferi decisão reconsiderando o
arquivamento por entender que, apesar de não ser sindicável, na via correcional, o
conteúdo das mencionadas decisões judiciais, elas chamam a atenção porque praticadas
com ‘modus operandi’ semelhante, por consistirem em decisões, algumas incomuns,
proferidas em causas emblemáticas – que, pela sua natureza, recomendariam ainda
maior rigor de prudência e cautela do magistrado –, muitas delas durante Plantão –
momento de extraordinário exercício da jurisdição, reservado a hipóteses de urgência
normativamente descritas, também, por este motivo, a exigir acurada análise de seu
cabimento pelo juiz – ou ainda em momentos de substituição temporária (Id 4257292).
Neste sentido, compreendi devesse ser investigado o contexto em que
proferidas, por caracterizarem, em tese, violação aos deveres da prudência e cautela de
que tratam os arts. 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do
disposto no inciso I do art. 35 da LOMAN, especialmente no pertinente aos limites da
jurisdição em plantão, a indicar possível infração disciplinar.

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Determinei a reautuação do feito como Reclamação Disciplinar, bem como a


juntada, pela Corregedoria Regional, de cópias da íntegra do Pedido de Providências que
ali tramitou, o que veio aos autos (Ids 4266576 a 4266595).
Das referidas cópias destaco, apenas para facilitar a localização, os
seguintes documentos, conforme os “Ids” em que se encontram nestes autos:

Id 4266576 – páginas:
1/13 – inicial do pleito formulado pelo Juiz Federal RUBENS ROLLO em
desfavor do Juiz Federal ANTONIO CAMPELO;
14/20 – decisões de revogação e reconsideração da prisão preventiva do
acusado FRANCISCO DA SILVA DE MATOS JUNIOR, proferidas nos autos
0023223-92.2016.4.01.3900;
21/80 – restituição de valores bloqueados pleiteada por JOSÉ TADEU
CARDOSO DE SOUZA – autos 0020928-82.2016.4.01.3900 (Principal
0009651-74.2013.4.01.3900) e exceção de incompetência autos 0001591-
73.2017.4.01.3900;
81/86 – restituição de coisas apreendidas requerida por LEDIANY
ARAGÃO PINHEIRO – autos 2010.39.00.00232392-7;
87/172 – revogação de prisões preventivas nos autos 0030306-
62.2016.4.01.3900;
173/174 – decisão do Presidente do TRF1 que indeferiu pedido, feito pelo
reclamante, de exclusão do reclamado da escala da substituição
automática na 3ª Vara da Seção Judiciária do Pará;
175/254 – ação penal 2225-40.2015.4.01.3900;
Id 4266577 – páginas:
1/153 – ação penal 000225-40.2015.4.01.3900;
154/156 – ação penal 0009116.72.2018.4.01.3900 (ver correição parcial no
Id 4266586; p. 25/31)
157/171 – ação penal 0017636-31.2012.4.01.3900 / 0303569-
82.2010.4.01.3900;
Id 4266578 – páginas 1/204 – ação penal 0017636-31.2012.4.01.3900 /
0303569-82.2010.4.01.3900;
Id 4266579 – páginas:

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1/152 – ação penal 0017636-31.2012.4.01.3900 / 0303569-


82.2010.4.01.3900;
153/174 – ação penal 19420-33.2018.4.01.3900.
Id 4266580 – páginas:
1/44 – ação penal 19420-33.2018.4.01.3900;
45/132 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal 0024077-
52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
Id 4266581 – páginas 1/143 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal
0024077-52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
Id 4266582 – páginas 1/141 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal
0024077-52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
Id 4266583 – páginas 1/156 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal
0024077-52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
Id 4266584 – páginas 1/165 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal
0024077-52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
Id 4266585 - páginas:
1/130 – ação penal 2009.39.00.0028693 / ação penal 0024077-
52.2017.4.01.3900 (desmembrado);
131/136 – resumo apócrifo;
137/144 – liberdade provisória a GELSON GOMES DE ANDRADE, autos
0001263-93.2015.4.01.3907;
Id 4266586 - páginas:
1/24 – liberdades provisórias concedidas no plantão de recesso 0001263-
93.2015.4.01.3907; 0003296-71.2015.4.01.3902; 0029980-
39.2015.4.01.3900; 0001843-57.2014.4.01.3900; homologação de prisão
em flagrante de MAÍRA GONÇALVES DE MELO; indeferimento de
revogação de prisão preventiva 0034242-32.2015.4.01.3900;
25/29 – acórdão da correição parcial provida n. 0002979-
59.2019.4.01.8000 referente aos autos da ação penal 009116-
72.2018.4.01.3900;
32/34 – manifestação do reclamado na Corregedoria Regional;
38/44 – manifestação MPF no PP perante a Corregedoria Regional
51/64 – inquirição de dos servidores dos gabinetes de ambos os juízes (a
degravação ou mídia não foram juntados conquanto despacho pág. 71);

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65/93 – manifestação MPF e diligências atendidas (relação de advogados


que atuaram nos processos);
94/138 – manifestação MPF e diligências atendidas (oitiva do Procurador
da República Victor Souza Cunha, juntada de procurações e defesas, bem
como desarquivamento e juntada do PAV 0002231-95.2017.4.01.8000)
Id 4266587 – páginas 1/257 – Manifestação MPF e diligências atendidas
(oitiva do Procurador da República VICTOR SOUZA CUNHA, juntada de
procurações e defesas, bem como desarquivamento e juntada do PAV
0002231-95.2017.4.01.8000);
Id 4266588 – páginas:
1/121 – manifestação MPF e diligências atendidas (oitiva do Procurador da
República VICTOR SOUZA CUNHA, juntada de procurações e defesas,
bem como desarquivamento e juntada do PAV 0002231-
95.2017.4.01.8000); 122/137 – manifestação MPF e reiteração de
diligência (desarquivamento e juntada do PAV 0002231-95.2017.4.01.8000
e oitiva dos Procuradores da República ALAN ROGÉRIO MANSUR SILVA
e PAULO ROBERTO SAMPAIO ALENCAR);
138/148 – manifestação MPF e reiteração de diligência (desarquivamento
e juntada do PAV 0002231-95.2017.4.01.8000);
149/204 – manifestação MPF e diligências (levantamento de revogações
de prisões entre os anos de 2015 e 2016 e sobre os advogados que
atuaram nas causas e indicação dos números de processos);
205/211 – decisão de arquivamento da Corregedora Regional;
216/219 – recurso administrativo do juiz reclamante RUBENS ROLLO;
222/223 – contrarrazões do juiz reclamado ANTONIO CAMPELO;
251/257 – acórdão proferido pela Corte Especial Administrativa do
TRF1, em 14/12/2020, pelo qual, por maioria, manteve o arquivamento
do procedimento.

Depreende-se dos mencionados documentos que, em face da decisão de


arquivamento proferida pelo órgão correcional de origem, foi interposto recurso pelo
Reclamante Juiz Federal Rubens Rollo, ao qual, por maioria de votos, foi negado
provimento pela Corte Especial Administrativa do TRF da 1ª Região, em sessão

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designada para o dia 26.11.2020, acórdão assinado em 14.12.2020 (Id 4266588, p.


251/257). Eis sua ementa:

INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR. RECURSO. INTERESSE


PROCESSUAL. AUTOR DA REPRESENTAÇÃO. PRISÃO.
REVOGAÇÃO. FÉRIAS. SUBSTITUIÇÃO. PREMISSAS. LIBERDADE DE
DECIDIR. REGULARIDADE NA DESIGNAÇÃO. DESVIO
COMPORTAMENTAL/FUNCIONAL. FRAGILIDADE DO APURATÓRIO.
ARQUIVAMENTO. REPRODUÇÃO DE ARGUMENTOS TÉCNICOS DA
REPRESENTAÇÃO EM SEDE RECURSAL. DESPROVIMENTO.
1. O autor da representação possui interesse processual (recursal), nos
termos da Resolução CNJ 135/2011, mais especificamente seu art. 10, que
dispõe: “Das decisões referidas nos artigos anteriores caberá recurso no
prazo de 15 (quinze) dias ao Tribunal, por parte do autor da representação”.
2. Estando a epigrafada representação baseada nas seguintes premissas: a)
liberdade de decidir do juiz substituidor (Dr. Campelo) no atinente à
revogação de prisões, por ocasião da substituição das férias do magistrado
titular (decisões bem fundamentadas, inclusive confirmadas pelo TRF1); 2)
regularidade na designação para a substituição junto à 3ª vara/PA, conforme
provimento e despacho da Presidência do TRF1; e 3) ausência de indicio de
desvio funcional/comportamental do representado, ancorado em ampla
prova testemunhal de servidores e procuradores da República, inequívocos
em afirmar nada saberem de algo ESCUSO por parte do Dr. Campelo,
tampouco de qualquer tratamento diferenciado por ele dispensado a
advogados, o arquivamento do apuratório é medida que se impõe.
3. Mera reprodução em sede recursal de argumentos técnicos então trazidos
na representação, já repelidos na decisão de arquivamento, desautoriza
qualquer êxito recursal.
4. Recurso a que se nega provimento. (Id 4266588, p. 257)

Prossigo e registro que, em paralelo, sobreveio perante esta Corregedoria


Nacional de Justiça, a Reclamação Disciplinar nº 0000879-02.2021.2.00.0000, proposta
em 09.2.2021 pelo Ministério Público Federal, subscrita pela Procuradora Regional da

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República Raquel Branquinho Nascimento, também em desfavor do magistrado


Reclamado, por fatos de natureza semelhante aos inicialmente apurados nestes autos.
Diante da similaridade das questões, por meio da decisão proferida naquela
RD em seu Id 4293823 (cuja cópia foi juntada nestes autos no Id 4295471), determinei a
reunião de ambas as reclamações para serem os fatos apurados conjuntamente no
bojo da presente RD, o que ensejou o respectivo traslado das peças (Ids 4295487 e
4295488).
Na inicial da mencionada RD 879-02 (juntada nestes autos no Id 4295487, p.
4/16), noticia o MPF que o magistrado Reclamado estaria, de forma reiterada, praticando
atos com indícios de ilicitude em processos criminais, com o objetivo de beneficiar, de
maneira ilegítima, suspeitos de integrarem organizações criminosas dedicadas à prática
de crimes ambientais, tráfico de entorpecentes, dentre outros, assim como mantendo
relacionamento indevido com advogados que atuam nesses processos criminais.
Expõe já terem sido apontadas situações como tais perante este Conselho
Nacional de Justiça nos autos da Revisão Disciplinar 0000173-24.2018.2.00.0000, de
Relatoria da Conselheira Candice Lavocat Galvão (processo julgado improcedente e já
arquivado).
Explicita que, apesar da representação anterior, a forma atípica na condução
de feitos tem perdurado, impedindo o adequado processamento criminal de fatos
extremamente graves, o que resulta em sérios prejuízos às investigações e na
inefetividade dos processos criminais.
Elenca diversas decisões tidas como atípicas em que o representado:

a) concedeu de liberdade provisória nos autos nº 0001843-


57.2014.4.01.3908, durante plantão judicial, em favor de Ezequiel Antônio
Castanha e Giovany Marcelino Pascoal, ambos apontados como líderes de
organização criminosa investigada no âmbito da Operação Castanheira, na
qual se apura a prática de crimes ambientais e correlatos, em curso na
Subseção Judiciária de Itaituba/PA. Cumpre registrar que, no curso desta
mesma operação (processo nº 0001843-57.2014.4.01.3900), o magistrado,
após a expedição de uma segunda ordem de prisão, concedeu, sem

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alteração do quadro fático, nova liberdade provisória a Giovany Marcelino


Pascoal;
b) concedeu liberdade provisória no processo nº 0003296-
71.2015.4.01.3902, durante o plantão do recesso judiciário, em favor de
André Luiz da Silva Suleiman, Irio Luiz Orth, Everton Douglas Orth, Rodrigo
Beachini de Andrade, Alcides Machado Júnior, Luiz Bacelar Guerreiro Júnior
e Sidney dos Santos Reis, embaraçando o curso da Operação Madeira
Limpa, na qual se apura a atuação de organização criminosa dedicada a
cometimento de crimes ambientais, corrupção ativa e passiva (processo nº
4713-93.2014.01.3902, em tramitação na Subseção Judiciária de Santarém/
PA);
c) concedeu liberdade provisória no processo nº 0001263-
93.2015.4.01.3907 em favor de Gelson Gomes de Andrade, preso no âmbito
de investigação que apurou os crimes de formação de quadrilha para
extração de madeira, uso de arma de fogo e outros meios de coação,
desmatamento ilegal de área da União e crimes conexos, em trâmite na
Subseção Judiciária de Tucuruí/PA;
d) mesmo declarando-se suspeito nos autos do processo nº
00017636- 31.2012.4.01.3900, absolveu sumariamente Alan Dionísio Sousa
Leão de Sales, Maria da Conceição Oliveira Cunha, Fabiana de Oliveira
Lima Santos Vaughan de Oliveira, Sandra Suely Cecim Mota da Silva e
Elaine Cristina Monteiro Silva, denunciados por fraudar o procedimento
licitatório Pregão Presencial para Registro de Preços nº 280/2009 -
CPL/PMB/FUMBEL, da Prefeitura de Belém/PA. O magistrado declarou-se
suspeito para o julgamento do feito em 10/05/2011, porém, em 19/09/2013,
absolveu sumariamente os denunciados sob o fundamento de que a
denúncia carecia de indícios suficientes e estava amparada em depoimentos
frágeis e provas inconsistentes. A Terceira Turma do TRF/1ª Região deu
provimento à apelação do MPF, acolhendo a preliminar de suspeição, para
declarar nulos todos os atos jurídicos supervenientes à autodeclaração de
suspeição;
e) criou embaraços à apuração dos crimes investigados no âmbito da
Operação Check-in, na qual se busca combater a prática dos crimes contra
o sistema financeiro e de tráfico de pessoas (processo n° 00024077-

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52.2017.4.01.3900). Por intermédio de inspeção promovida pela


Corregedoria deste TRF/1ª Região, constatou-se que, embora a denúncia
no referido processo tenha sido ajuizada em junho/2016, apenas por força
de decisão proferida no curso da inspeção referida inspeção (22/09/2016), a
qual reconheceu a existência de excesso de prazo para o recebimento da
denúncia, o magistrado proferiu decisão de recebimento parcial da denúncia
(19/05/2017);
f) revogou medida cautelar de prisão no processo nº 0030719-
75.2016.4.01.3900, "Caso Ipaset", procedimento em que se apura a prática
de crimes contra o sistema financeiro no Instituto de Previdência dos
Servidores Municipais de Tucuruí/PA, no qual se constatou o desvio milhões
de reais dos cofres públicos da municipalidade sob a justificativa de
prestação de serviços advocatícios. O magistrado, apesar de ter deferido a
prisão preventiva dos denunciados, revogou a medida em menos de uma
semana, acolhendo pedido de liberdade provisória, sem que tenha havido
mudança no panorama fático.
g) concedeu liberdade provisória no processo nº 00019420-
33.2018.4.01.3900, no qual foram presos em flagrante de José Raimundo
Vilhena de Sousa, Francisco Aires de Farias, Delorisano Costa de Vilhena
Filho e Raimundo de Jesus Ferreira Vasconcelos, em virtude do transporte
de 600 Kg de cloridrato de cocaína em duas embarcações, as quais foram
interceptadas no município de Chaves/PA;
h) também atuou em prol dos denunciados no processo 2225-
40.2015.4.01.3900, aproveitando-se do afastamento do Juiz substituto
responsável por esses autos no curto período de dois dias – 03 e 04 de
agosto de 2017 – e, segundo informado, teria buscado os autos que
estavam sem movimentação na secretaria da 4ª Vara desde a redistribuição
e absolveu sumariamente todos os acusados. (Id 4295487, p. 4/16,
destaquei)

Além de tais fatos, o membro do MPF aponta, em sua Reclamação, fato


recente e que entende gravíssimo, o qual lhe foi comunicado em ofício da Procuradoria
Regional no Pará sob n. 323/2020, de 25/01/2021. Relata ter sido deflagrada a Operação

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Handroanthus GLO, realizada em conjunto entre o MPF e a PF do Amazonas, pela qual,


até 22/12/2020, já se havia apreendido mais de 131 mil m³ de madeira “em toras” de
áreas próximas à divisa dos Estados do Pará e do Amazonas.
Reporta que, nos autos do HC 1000552-82.2021.4.01.3900, o Juiz Federal
Substituto Gilson Jader Gonçalves Vieira Filho, da 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Pará, às 11h21 do dia 11.1.2021, havia declinado a competência para a Justiça Federal
do Amazonas, uma vez que a autoridade impetrada é Delegado da Polícia Federal lotado
na Superintendência da Polícia Federal do Estado do Amazonas.
Prossegue sustentando, na referida Reclamação, que após tal decisão, os
autos foram novamente remetidos à conclusão, apesar de inexistir petição. Apenas
posteriormente, teria sido juntado pedido de reconsideração, o qual foi apreciado pelo
magistrado reclamado, em menos de 30 (trinta) minutos, ocasião em que reconsiderou a
decisão anterior do Juiz Substituto que declinava do feito, e fixou a competência naquela
4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará para prosseguimento.
Ato contínuo, segundo também se extrai das alegações do MPF, o
magistrado, sem dar vista ao MPF, teria concedido liminar para determinar a suspensão
do Inquérito Policial em relação ao paciente e sua empresa MDP Transportes Eireli, assim
como determinado a restituição das balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II, PORTO
SEGURO DA AMAZÔNIA III, do empurrador CAJARANA AIUB, dos produtos florestais,
bem como dos demais bens e documentos apreendidos.
Ainda, segundo alega o MPF em sua Reclamação, diante do suposto
descumprimento da decisão pela Polícia Federal, o magistrado reclamado, às 21h37 do
dia 21.1.2021, teria fixado multa diária “no montante de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais), em desfavor do Delegado da Polícia Federal Pablo Michel, ao Superintendente da
Polícia Federal no Amazonas, e a qualquer outro Delegado de Polícia Federal, Agente de
Polícia Federal ou agente de órgão administrativo, que descumprir a decisão, além de
imediata prisão em flagrante, com abertura de inquérito policial, e comunicação ao órgão
corregedor da Polícia Federal ou do respectivo ente administrativo para abertura de
processo administrativo disciplinar”.
Expõe, outrossim, que o magistrado Reclamado, segundo consta no site do
TRF da 1ª Região, estaria de férias entre os dias 11.1.2021 e 9.2.2021, de modo que suas

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decisões teriam sido proferidas durante o afastamento de suas funções, salvo se suas
férias tivessem sido interrompidas.
Em arremate, defende serem graves as condutas do magistrado Reclamado,
“indicando que este mantém o mesmo modus operandi que consiste em atravessar
decisões judiciais em situações já analisadas por outros magistrados, ou revisar sem
alteração do quadro fático decisões que ele mesmo prolatou, sempre de modo a favorecer
investigados e causar uma grave obstrução a investigações e processos em curso contra
integrantes de organizações criminosas que praticam toda sorte de delitos, notadamente
vultosos crimes ambientais na Amazônia legal”.
Ante o conteúdo da referida Reclamação apresentada pelo MPF, requisitei
ao TRF da 1ª Região a cópia dos referidos processos judiciais e certidões contendo os
exercícios de férias do magistrado Reclamado desde 2011, bem como dos plantões
judiciais e substituições automáticas da 3ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará
desde 2011.
Em nova petição, protocolada no dia 05/03/2021, ainda nos autos da
mencionada RD 879-02 (Ids 286830 e 4286831 daqueles autos, juntados nestes autos
no Id 4295488, p. 4/5), o MPF trouxe a esta Corregedoria Nacional de Justiça cópia de
manifestação do Procurador Regional da República JOSÉ JAIRO GOMES, proferida
perante o TRF da 1ª Região nos autos do Conflito Positivo de Competência n. 1002200-
60.2021.4.01.0000 e que, segundo esclarece o Reclamante “retrata, de forma bastante
objetiva, a forma atípica e com violação clara de regras processuais de prevenção de
competência pelo requerido, Juiz Federal Titular da Quarta Vara Federal da Seção
Judiciária do Pará, que atuou para atender provocação direta do advogado Luciano
Ribeiro da Costa, representante da MDP Transportes Eireli e da empresa Agropecuária
Nossa Senhora Aparecida Eireli, não obstante a prevenção do Juízo do Juiz Federal
Criminal da Seção Judiciária do Amazonas” (cópia nestes autos no Id 4295488, p. 6-16).
Na mesma petição, o MPF junta também cópia nova decisão proferida pelo
Reclamado no dia 01.2.2021 nos autos da Medida Cautelar Inominada Criminal 1005918-
05.2021.4.01.3900, de 01.02.2021, ajuizada pelo mesmo impetrante de anterior Mandado
de Segurança em que – não obstante decisão liminar que suspendeu decisões anteriores
prolatadas pelo Reclamado para liberar toda a carga objeto e materialidade dos graves

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crimes apurados pela Polícia Federal –, concedeu em parte medida liminar e determinou
uma série de medidas à Polícia Federal para obstar o envio dos bens apreendidos ao
Juízo competente – Foro Criminal Federal de Manaus-AM (cópia nestes autos no Id
4295488, p. 17-20).
No mais, ainda com referência aos elementos que constam nos presentes
autos, registro que, em cumprimento a decisões que proferi na RD 879-02, o TRF da 1ª
Região juntou diversos documentos, dentre eles cópias dos processos em que proferidas,
pelo Reclamado, as decisões objeto da presente reclamação. Determinei fossem
trasladados tais documentos para este feito, o que foi cumprido nos seguintes “Ids” destes
autos:

Id 4323186 – autos n. 0003296-71.2015.4.01.3902;


Id 4322661 – login e senha de acesso aos autos n. do 0003296-
71.2015.4.01.3902;
Id 4322663/Id 4323898 – autos n. 0003296-71.2015.4.01.3902;
Id 4323899/Id 4324133 – autos n. 0030306-62.2016.4.01.3900;
Id 4324134/Id 4324142 – autos n. 0023223-92.2016.4.01.3900;
Id 4324144; p. 1/72 – autos n. 0020928-82.2016.4.01.3900;
Id 4324144; p. 73/141 – autos n. 0001591-73.2017.4.01.3900;
Id 4324144; p. 142/263 – autos n. 0006148-50.2010.4.01.3900
(2010.39.00.002392-7);
Id 4324145 – manifestação do Magistrado reclamado pugnando pelo
arquivamento da RD 879-02;
Id 4324146 – tabela de férias entre 1.1.2011 e 31.12.2021;
Id 4324147 – comunicação do Juiz MARLLON SOUSA esclarecendo sobre
a juntada dos autos n. 0030719-75.2016.4.01.3900;
Id 4351729, p. 14/18 – link de acesso aos autos n. 0001263-
93.2015.4.01.3907 (p. 14/18);
Id 4351729, p. 21/96 até Id 4355018 – autos n. 0030719-75.2016.4.01.3900
(apenas os anexos);
Id 4355019; p. 18 – interrupção das férias, com remarcação de nova data;
Id 4355019; p. 20/24 – planilha contendo as substituições automáticas do
magistrado reclamado;

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Id 4355226/4355265 – autos n. 0001843-57.2014.4.01.3908.


Id 4370651 – informação do TRF da 1ª Região sobre a data do início da
lotação do juiz federal substituto GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA
FILHO na 4ª Vara Federal
Id 4370844/4370854 – autos 30719-75.2016.4.01.3900
Id 431011 – informação do TRF da 1ª Região sobre as datas dos
afastamentos do juiz federal substituto GILSON JADER GONÇALVES
VIEIRA FILHO na 4ª Vara Federal desde 29/04/2017 a 27/05/2021
Id 4374645 – autos n. 30264-13.2016.4.01.3900

Estes os elementos que constam no presente feito, que, portanto, engloba


fatos trazidos inicialmente nesta Reclamação, proposta pelo magistrado Rubens Rollo
D’Oliveira, bem como aqueles trazidos pelo Ministério Público Federal, em inicial subscrita
pela Procuradora Regional da República Raquel Branquinho P. M. Nascimento (RD 879-
02), todos, doravante, tratados conjuntamente nestes autos.

É, no essencial, o relatório.

De início, cumpre esclarecer o que já foi objeto de análise e julgamento por


este Conselho Nacional de Justiça no que pertine a fatos imputados ao magistrado
ANTONIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO, especificamente com referência a condutas
proferidas no âmbito de processos judiciais em que atuou, conforme pesquisa disponível
no PJe/CNJ.

I – Os procedimentos anteriores que tramitaram no CNJ contendo fatos


imputados ao reclamado sobre os quais se operou a “coisa julgada administrativa”.

a) o Pedido de Providências 0005981-44.2017.2.00.0000:

O primeiro teve início por comunicação feita pelo TRF da 1ª Região


informando o arquivamento, em 13/07/2017, pela Corte Especial Administrativa, de

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representação que lá tramitou sob n. 0002231-95.2017.4.01.8000 em que requerente o


Ministério Público Federal.
Eis os fatos ali tratados segundo consta no relatório do julgamento feito no
TRF da 1ª Região (Id 2231496 do PP/CNJ n. 5981-44):

Cuida-se de representação do Ministério Público Federal em face do


Juiz Federal Antônio Carlos Almeida Campelo, de que “o Magistrado, de
forma reiterada, durante o plantão judiciário, tem, sistematicamente,
concedido liberdade provisória aos investigados/denunciados em operações
policiais de grande relevância sem se atentar para as peculiaridades de
cada caso, pois todas as suas decisões favoráveis aos investigados são
reformadas pelo juiz natural da causa, bem como pelo próprio E. TRF 1ª
Região, quando objeto de impugnação específica pelo parquet”.

Os fatos então apurados se relacionavam à concessão, pelo Reclamado, de


liberdades provisórias, em plantões judiciais, em três específicos processos judiciais. Em
cotejo com os fatos objeto da presente Reclamação, também apresentada pelo MPF,
pode-se constatar que se tratam das mesmas decisões proferidas pelo Reclamado nos 3
(três) primeiros processos listados na inicial deste feito, a saber (Id 4295487):

a) 0001843-57.2014.4.01.3908 - Itaituba/PA;
b) 0003296-71.2015.4.01.0000 (Operação Madeira Limpa) - Santarém/PA
c) um terceiro processo de competência da Vara Federal de Tucuruí/PA, em
relação ao acusado GELSON GOMES DE ANDRADE (cujo número dos
autos judiciais não está informado nas peças encaminhadas pelo TRF-1
naquele PP, mas que por consulta à internet deduz-se tratar-se dos autos n.
0001263-93.2015.4.01.0000).

Como dito, a Corte Especial Administrativa do TRF da 1ª Região arquivou


aquele procedimento em seção de julgamento ocorrida em 13/07/2017 e informou a esta
Corregedoria Nacional nos autos do PP 5981-44, que por sua vez restaram arquivados

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por decisão do então Corregedor Nacional de Justiça Ministro João Otávio de Noronha,
proferida em 15/8/2017.
Não obstante, da decisão do TRF da 1ª Região, houve propositura de
Revisão Disciplinar por parte do Ministério Público Federal, o que foi levado ao Plenário
do CNJ, feito que passo a descrever na sequência.

b) a Revisão Disciplinar n. 0000173-24.2018.2.00.0000:

O Ministério Público Federal apresentou pedido de Revisão Disciplinar da


referida apuração, que restou julgada improcedente pelo Plenário deste Conselho
Nacional de Justiça em 17/04/2020, sob relatoria da Conselheira Candice Lavocat Galvão
Jobim, com a seguinte ementa:

REVISÃO DISCIPLINAR. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO.


ARQUIVAMENTO DE SINDICÂNCIA. ATUAÇÃO EM PLANTÕES
JUDICIÁRIOS. SUPOSTO DESCUMPRIMENTO DOS LIMITES DE
ATUAÇÃO PREVISTOS NO ARTIGO 1º, § 1º, DA RESOLUÇÃO CNJ Nº 71,
DE 31 DE MARÇO DE 2009 E NO ARTIGO 106, CAPUT, III, DO
PROVIMENTO COGER 129, DE 8 DE ABRIL DE 2016. DECISÃO
CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS. NÃO OCORRÊNCIA. PRINCÍPIOS
DA INDEPENDÊNCIA E DA IMUNIDADE DO MAGISTRADO.
IMPROCEDÊNCIA DA REVISÃO DISCIPLINAR.
1. Pedido de revisão disciplinar em face de decisão da Corte Especial do
Tribunal Regional da 1ª Região, que determinou o arquivamento da
representação, indeferindo, dessa forma, o pedido de instauração de
procedimento administrativo disciplinar contra o magistrado requerido.
2. A competência constitucional do Conselho Nacional de Justiça é restrita
ao âmbito administrativo do Poder Judiciário, não lhe cabendo exercer o
controle de atos com conteúdo judicial.
3. Os princípios da independência e da imunidade funcionais, a princípio,
impedem a punição de magistrado pelo teor dos entendimentos
manifestados em seus julgados. Mostra-se possível, no entanto, a

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relativização de tais regras quando a conduta praticada possuir relevância


administrativo-disciplinar.
4. Eventuais erros de procedimento durante a atuação jurisdicional
relacionados à interpretação dos limites de atuação nos plantões judiciários
previstos na Resolução CNJ 71/2009, sem que seja indicado dolo ou desídia
grave em conduta praticada pelo magistrado, impedem a atuação
correcional. Ausência de justa causa para instauração de procedimento
disciplinar.
5. Processo em que não se verifica contrariedade à lei, a ato normativo do
CNJ ou à evidência dos autos.
6. Improcedência do pedido de revisão disciplinar.

Como afirmado, tal apuração se refere às mesmas decisões proferidas pelo


Reclamado nos 3 (três) primeiros processos judiciais mencionados na Reclamação
apresentada pelo MPF ora em análise.
Destarte, necessário pontuar desde já que, quanto aos 3 (três) primeiros
atos ora imputados ao magistrado Reclamado pelo Ministério Público Federal na petição
da lavra da Procuradora Regional da República Raquel Branquinho, cujos fatos coincidem
com aqueles já analisados no PP e na RevDis acima citados, ficam eles excluídos da
presente análise por entender que sobre eles já operada a “coisa julgada administrativa”.
Prossigo quanto aos demais fatos.

II – Observações preliminares sobre os fatos ora imputados ao


magistrado Antonio Carlos de Almeida Campelo.

Trata-se de um total de 12 (doze) fatos, cada um deles materializado no


contexto em que exaradas, pelo Reclamado, uma ou mais decisões judiciais em
determinado processo.
Deste total, como dito, 5 (cinco) fatos foram apresentados pelo juiz Rubens
Rollo à Corregedoria Regional do TRF da 1ª Região e ali arquivada sua apuração, o que
foi confirmado pela Corte Especial daquele tribunal. Ato contínuo, informada esta
Corregedoria Nacional de tal arquivamento, foi ele inicialmente mantido por decisão do

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então Corregedor Nacional Ministro Humberto Martins. Apresentado Recurso


Administrativo pelo Reclamante, acolhi suas razões e reconsiderei a decisão por entender
necessária melhor apuração. Neste momento enfrento cada fato e as razões pelas quais
entendo devam ser afastados os fundamentos que justificaram o arquivamento da
apuração na origem.
Quanto aos demais 7 (sete) fatos, foram eles trazidos diretamente a esta
Corregedoria Nacional de Justiça pelo Ministério Público Federal, em petição subscrita
pela Procuradora Regional da República Raquel Branquinho em 09/02/2021. Do rol total
de fatos constantes na inicial da mencionada Representação, excluo os três primeiros
pelas razões delineadas no item anterior desta decisão, todavia incluo aqueles dois
apresentados pelo MPF em novas petições, porque praticados supervenientemente ao
início da apuração.
Apresentarei cada fato separadamente, explicitando onde entendo nele
reside indício de infração disciplinar, bem como sua imputação.
Ressalto entender relevante, a somar no juízo sobre a necessidade de
aprofundamento nas investigações, a informação constante na inicial da representação do
MPF:

O Juiz Federal ANTÔNIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO, de forma


reiterada e com um modus operandi bastante semelhante, vem, ao longo
dos últimos anos, de forma reiterada, praticando, no exercício da jurisdição
federal criminal, atos com indícios de ilicitudes, posto que sob o mesmo
pairam suspeitas de condução parcial de processos criminais de
forma a beneficiar, de maneira ilegítima, interesses de investigados,
suspeitos de integrarem organizações criminosas que se dedicam à
prática de crimes ambientais, tráfico de entorpecentes, dentre outros e
de manter relacionamento indevido com advogados que atuam nesses
processos criminais.
[…]
Os fartos elementos de informação até então colhidos apresentaram
evidências de que o investigado proferiu diversas decisões judiciais
completamente divorciadas da boa técnica jurídica, em afronta às regras do

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CNJ sobre os limites do plantão judiciário e em desacordo com os


elementos de prova constante de cada um desses casos e que essa forma
de agir está associada a uma vinculação com os causídicos desses
processos. (Id 4295487, p. 4/5, destaquei)

Tais alegações se agregam a um contexto que, se confirmado, leva a graves


consequências, em especial o notório enfraquecimento da instituição, primazia a ser
zelada conforme expresso no art. 2º do Código de Ética da Magistratura Nacional.

II.I. – Fatos apresentados pelo Juiz Federal Rubens Rollo, objeto


análise e arquivamento pelo TRF-1 (inicial no Id 4266576, p. 1/13 destes autos):

Inicialmente, porque importante para a interpretação de alguns dos fatos,


cumpre esclarecer que não se desconhece o disposto no Provimento Geral da
Corregedoria Geral da Justiça Federal da 1ª Região nº 129, de 08/04/2016, o qual prevê o
seguinte, no que se refere à hipótese de substituições automáticas (destaquei):

Capítulo V – Das Substituições Automáticas


Art. 100. O juiz federal e o juiz federal substituto da mesma seção ou
subseção judiciária serão substituídos, automaticamente, na ordem
seguinte:
I – pelo juiz federal substituto ou juiz federal da mesma vara;
II – pelo juiz federal substituto das varas de numeração ordinal subsequente,
observando-se, primeiro, identidade da competência;
III – pelo juiz federal das varas de numeração ordinal subsequente,
observando-se, primeiro, a identidade da competência.
(...)
§ 20. Os juízes federais e os juízes federais substitutos, durante o
período de substituição automática, não podem restringir a sua
atuação tão-somente ao conhecimento de pedidos, ações,
procedimentos e medidas de urgência destinados a evitar perecimento
de direito, assegurar a liberdade de locomoção ou garantir a aplicação

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da lei penal, visto que essa restrição é dirigida tão-somente ao juiz


plantonista.

De fato, em substituição automática, por não se tratar de espécie de plantão,


a atuação dos juízes federais não é restrita tão somente ao conhecimento de pedidos,
ações, procedimentos e medidas de urgência destinados a evitar perecimento de direito,
assegurar a liberdade de locomoção ou garantir a aplicação da lei penal.
Todavia, o caso em apreço é deveras mais grave. O reclamado
aparentemente tem proferido decisões incomuns há anos, em casos de extrema
repercussão social e gravidade a envolver acusados de tráfico internacional, de crimes
ambientais e de crimes contra o INSS, utilizando-se da substituição circunstancial em
determinada vara para revisar questões albergadas pela coisa jugada formal, como são
os fatos noticiados pelo Juiz Federal Rubens Rollo, conforme alega em sua
Representação:

Faço tal pedido indignado com a atuação do ilustre colega durante


minhas substituições, proferindo decisões eticamente censuráveis, por
desconstruírem o trabalho do juiz federal titular, da Polícia Federal e do
Ministério Público, como adiante será relatado.
Com efeito, no período de 09/01/2017 a 07/02/2017 este magistrado
gozou férias. Nessa ocasião, o MM. Juiz Federal da 4 a Vara, mesmo tendo
ao seu dispor centenas de ações judiciais para serem decididas quanto ao
mérito (o que ajudaria nos trabalhos judiciários), apenas dedicou-se, na
maior parte do tempo, a reconsiderar, nesta 3a Vara, sem fatos novos,
pedidos anteriormente indeferidos por este juiz titular (decisões até mesmo
com trânsito em julgado - caso dos processos n°s 2010.39.00.002392-7 e
20928-82.2016.4.01.3900), buscando soltar presos e liberar bens, como se
o trabalho do juiz titular estivesse sujeito a controle interno pelo juiz em
exercício eventual.
Não acredito que estejamos diante de um "super-juiz garantista"
revoltado com os presídios lotados, com inocentes na cadeia, ou com
vítimas de erros judiciários. Mas o que está acontecer só o meu substituto
automático pode explicar, porque os fatos, em si, são de difícil

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compreensão, como a seguir será exposto. (Id 4266576, p. 1, destaques


do original)

A apuração dos fatos noticiados pelo referido magistrado, consoante


relatado, foi realizada pela Corregedoria Regional do TRF da 1ª Região, nos autos que lá
tramitaram sob nº 0002426-12.2019.4.01.8000 (Ids 4266569 a 4266595). Aquele órgão
censor concluiu ser caso de arquivamento, com base nos seguintes fundamentos (Id
4266588, p. 205/211):

Pois bem. Analisando os elementos probatórios coligidos aos autos,


inclusive com reiteradas participações do MPF, ainda assim chega-se à
iniludível conclusão de que o feito não merece mais prosperar. É que as
informações apresentadas pelo Juiz Federal ANTONIO CARLOS ALMEIDA
CAMPELO (id 7982318) apresentam consistência e juridicidade,
encontrando escora na realidade dos fatos.
De fato, dos 05 (cinco) processos mencionados na “representação”,
em dois deles (20.928-82.2016.4.01.3900 e 1591-73.2017.4.01.3900), não
houve qualquer decisão por parte do Dr. Campelo, apenas Ofício dirigido ao
MPF, solicitando devolução dos autos, por extrapolação de prazos; em outro
processo (23.223-92.2016.4.01.3900), o MPF sequer recorreu da decisão,
aquiescendo à visão do juiz representado e, em um quarto processo
(2010.39.00.002392-7), tratou-se de pedido de restituição de coisas
apreendidas, processo esse datado de 2011, sem oportuno recurso do MPF,
cujos fatos remontam a aproximadamente 06 (seis) anos antes da
deflagração do presente procedimento preliminar.
Quanto ao último processo (30.306-62.2016.4.01.3900), em que
pesem as alegativas do representante, igualmente não há como se
vislumbrar – pelo menos à luz deste apuratório – qualquer irregularidade nas
revogações das prisões levadas a cabo pelo Juiz CAMPELO. É que o
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (4ª Turma, em decisão da lavra do
eminente Desembargador Federal OLINDO MENEZES, datada de
11/07/2017), analisando habeas corpus manejado em face do novel decreto
prisional determinado pelo Juiz RUBENS ROLLO a quando do seu retorno

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de férias, em fevereiro de 2017, houve por bem restaurar a prisão então


determinada pelo Juiz ANTONIO CAMPELO, eis que devidamente
fundamentada, pelo que restou confirmada, até prova em contrário, a
regularidade de seu atuar. Por relevante, traz-se à colação o posicionamento
de S. Exa. Desembargador OLINDO MENEZES, proferido no bojo do
Habeas Corpus 0009043-97.2017.4.01.0000/PA (processo originário 30.306-
62.2016.4.01.3900), cuja ementa restou assim redigida: (…) (Id 4266588,
p. 209)

Em Recurso Administrativo apresentado pelo Reclamante (Id 4266588, p.


216/219), a Corte Administrativa do TRF da 1ª Região, por maioria de votos, manteve o
arquivamento pelos mesmos fundamentos (Id 4266588, p. 251/257).
Registro desde já que não concordo com o arquivamento procedido pelo
Tribunal de origem, e compreendendo que o procedimento deve retomar o seu curso,
pelas razões a seguir pormenorizadas.

1º FATO: Autos 0030306-62.2016.4.01.3900. Revogação, durante as


férias do juiz titular da 3ª Vara, em janeiro/2017, de 10 (dez) prisões preventivas por
este decretadas aos 07/11 e 01/12/2016, em investigação por tráfico internacional de
drogas (aquisição de carregamentos de entorpecentes e insumos químicos de
distribuidores baseados na fronteira Brasil/Colômbia e Bolívia). “Operação Sinaá”.
Reforma pura e simples da decisão anterior sem qualquer fundamentação a
respeito da ausência ou desaparecimento dos motivos que ensejaram os decretos
preventivos.

O Juiz Federal Rubens Rollo, ao representar contra o Juiz Federal ANTONIO


CAMPELO, destacou o seguinte:

A revista "Primeira Região” n° 73, de novembro de 2016, veículo


informativo do TRF/1a Região noticiou a prisão pela 3 a Vara Federal de 18
suspeitos de envolvimento com tráfico de drogas (vide cópia). Deveria ser
noticiada à época também a ação do substituto automático, que liberou, sem

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fundamentação consistente, até o mesmo traficante preso em flagrante com


26 kg de cocaína. Uma outra enorme quadrilha de estelionatários também
foi beneficiada durante as férias deste titular. São atitudes desse tipo que
desmoralizam o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e da
Justiça Federal. (Id 4266576, p. 7)

Trata-se de procedimento penal, no qual o Juiz Federal Rubens Rollo (Id


4266576, p. 87/132), por meio de decisão extensamente fundamentada (45 laudas), em
7/11/2016, determinou a prisão preventiva de 18 acusados ao fundamento da garantia da
ordem pública pela prática dos crimes previstos nos arts. 33 e 35 combinados com o art.
40, I, da Lei 11.343/2006, fatos investigados pela Polícia Federal na Operação Sinaá, os
quais estariam comprovados por meio de interceptações telefônicas.
As citadas prisões e o desbaratamento da organização foram amplamente
noticiados, inclusive na intranet do TRF 1ª Região, conforme relatado pelo Reclamante.
Todavia, o magistrado Reclamado, em fevereiro de 2017, por meio de
lacônicas decisões (Id 4266576, p. 133/162), utilizando-se basicamente de motivações
abstratas como o argumento de a prisão constituir-se extrema ratio da ultima ratio, a
inexistência de antecedentes criminais e as caóticas prisões brasileiras – e em muitas
delas sem sequer manifestar sobre a desnecessidades de garantia da ordem pública,
fundamento da prisão anteriormente decretada – revogou a prisão de 10 (dez) acusados,
alguns residentes na Colômbia, com a fixação das simplórias medidas cautelares de
manutenção atualizada do endereço e comparecimento a todos os atos do processo. Para
dois acusados, foi acrescida a monitoração eletrônica. Cumpre destacar que um dos
acusados libertados havia sido preso em flagrante, em 26/8/2016, com 26kg de cocaína
(Id 4266576, p. 169).
O magistrado Reclamante, ao retornar de suas férias em 09/02/2017,
proferiu decisão decretando novamente as prisões revogadas (Id 4266576, p 163/171).
A Corregedoria Regional, ao determinar o arquivamento quanto a estes fatos
– não sem deixar de registrar que se tratava de modus operandi já conhecido do
Reclamado – apresentou a seguinte motivação:

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Quanto ao último processo (30.306-62.2016.4.01.3900), em que


pesem as alegativas do representante, igualmente não há como se
vislumbrar – pelo menos à luz deste apuratório – qualquer irregularidade nas
revogações das prisões levadas a cabo pelo Juiz CAMPELO. É que o
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (4ª Turma, em decisão da lavra do
eminente Desembargador Federal OLINDO MENEZES, datada de
1110712017), analisando habeas corpus manejado em face do novel
decreto prisional determinado pelo Juiz RUBENS ROLLO, quando do seu
retomo de férias, em fevereiro de 2017, houve por bem restaurar a prisão
então determinada pelo Juiz ANTONIO CAMPELO, eis que devidamente
fundamentada, pelo que restou confirmada, até prova em contrário, a
regularidade de seu atuar. Por relevante, traz-se à colação o posicionamento
de S. Exa. Descmbargador OLINDO MENEZES, proferido no bojo do
Habeas Corpus 0009043-97.2017.4.01.0000/PA (processo originário 30.306-
62.2016.4.01.3900), cuja ementa restou assin redigida:
PROCESSUAL PENAL HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA.
LIBERDADE PROVISÓRIA DEFERIDA. MEDIDAS CAUTELARES.
REDECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA DE
FATOS NOVOS. ILEGALIDADE. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. O titular da 4ª Vara Federal/PA, no exercício da jurisdição na 3ª
Vara Federal em substituição, por ocasião das férias do titular houve
por bem e de forma fundamentada, em revogar a prisão preventiva
do paciente, impondo medidas cautelares distintas da prisão (art. 319
– CPP). Ao retomar ao exercício da jurisdição, o titular da 3ª Vara
Federal, sem que houvesse fato novo, decretou-lhe novamente a
prisão preventiva, desfeita em limnar no presente habeas corpus.
2. Não faz sentido, e sequer soa bem, que as prisões preventivas de
investigados, ou mesmo acusados, que atentam contra a liberdade
do indivíduo, bem inviolável (art. 5º, caput/CF), sejam decretadas,
relaxadas e depois redecretadas, sem alteração das condições
fáticas que impuseram a liberdade, sugerindo a ideia de uma luta de
egos entre os magistrados.
3. A atuação jurisdicional deve ser propriamente mais dos juízos
(órgãos e institucionalidade) e menos dos juízes (pessoas e

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subjetividade) pelo que, sendo as prisões relaxadas, mediante


fundamentação, o quadro processual, com nova prisão, não deveria
ser alterado sem fatos novos.
4. Concessão da ordem de habeas corpus, em confirmação da
liminar.
Esse "modus operandi” do juiz CAMPELO - revogações de
prisões quando da substituição automática do juiz natural do feito -
não se mostra de todo estranho a este Tribunal já tendo este sodalício
tido a oportunidade de discutir, no bojo do SEI 0002231-
95.2017.4.01.8000 (reclamação disciplinar movida pelo MPF em face do
Juiz CAMPELO), a regularidade ou não de revogações de prisões
levadas a cabo pelo Dr. Campelo quando do exercício de plantões
judiciários da SJPA (anos de 2015 e 2016), tendo esta Corte, por maioria
de votos, decidido arquivar pedido de abertura de Procedimento
Administrativo Disciplinar - PAD proposto pelo então Corregedor, ao
fundamento de que o magistrado dispõe de ampla liberdade e autonomia
para decidir, e que eventual decisão equivocada deveria ser revista
exclusivamente por intermédio dos recursos competentes e não pela via
administrativo-discjplinar. Para melhor esclarecimento dos fatos, traz-se à
colação posicionamento externado pelo Desembargador Federal OLINDO
MENEZES no epigrafado SEI, cujas razões de decidir aplicam-se às inteiras
ao presente procedimento preliminar. Ei-lo, in verbis:
Sei 0002231-95.2017.4.01.8000. Desembargador OLINDO
MENEZES: Isso, e foi substituir na 3ª, e lá existe uma série de
prisões em uma operação chamada Muralha, cujos habeas corpus
estão todos vinculados à minha relatoria. já são praticamente
centenas de habeas corpus, a gente já relaxou um sem-número e
tem outros presos; e aí o Dr. Campeio, nesses quatro casos, vou
citar os números dos habeas corpus e os pacientes, concedeu a
liberdade provisória de maneira fundamentada, alegando
primariedade. bons antecedentes, residência no distrito da culpa.
Muito bem, quatro casos que são em favor de Jones da Silva Santos.
Adevan Freitas de Azevedo. Raimunda Telma da Silva Santos, Isidro
Tubo Salgar Arias e Javier Alfonso Salgar Pineda. Quando o DR.

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Rubens voltou de férias, não gostou, mandou prender de novo os


cinco. Aí vieram cinco habeas corpus - quatro, porque um envolve
dois - para o Tribunal e eu entendi que a liberdade das pessoas não
pode ficar ao sabor do ego dos juízes. Como as decisões estavam
fundamentadas, concedi liminar para restabelecer a decisão do Dr.
Campelo. Terça feira passada, a 4a Turma julgou cinco habeas
corpus dessa extração; os quatro, em que eu havia concedido
liminar. A Turma confirmou; outros cinco, que arguiam isonomia em
relação à decisão do Dr. Campelo, mas que ele não decidira, nós
denegamos. Então, o que e que fica aí: primeiro, essa decisão é
recorrível. O art. 581, inc. V, do Código de Processo Penal diz que
cabe recurso em sentido estrito da decisão que relaxa a prisão ou
concede a liberdade provisória, portanto o Ministério Público, se não
concordou, deveria ter recorrido; em segundo, é uma decisão judicial,
senhor Presidente, se o Ministério Público pretender agora
administrativamente corrigir erros ou acertos que o juiz dá no
exercício da jurisdição, nós iremos muito longe. O plantão tem alguns
parâmetros em termos de resolução, mas o juiz é livre para decidir
no plantão, não é livre, é libérrimo. Se alguém tivesse dito: esse juiz
recebeu dinheiro, aí é diferente; mas. se ele errou ou acertou no ato
de decidir, ele tem imunidade pela Lei Orgânica da Magistratura
Então, Senhor Presidente, parece-me que abrir esse procedimento
administrativo, a despeito das boas intenções do eminente
Corregedor, é uma pura perda de tempo, só vamos infernizar a vida
do juiz. No dia em que os juízes passarem a ter medo do Ministério
Público ou da imprensa ou de quem quer que seja, vamos fechar o
Poder Judiciário (...).
Ora, se nesse SEI 0002231-95.2017.4.01.8000, cujo objeto é até mais
limitado que o dos presentes autos, na medida em que versou sobre a
possibilidade de revogações de prisões em sede de plantão e onde a
atuação do juiz deve restringir-se aos casos de urgência, conforme
Resolução de regência, sendo vedada a reiteração de pedidos já apreciados
pelo juízo natural, e ainda assim o TRF1 decidiu pela proposta de
arquivamento do PAD, imagine no caso em testilha, onde a revogação de

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prisões feitas pelo Dr. CAMPELO ocorreu no estrito cumprimento da


substituição automática (férias), portanto no regular exercício da jurisdição,
com poderes e prerrogativas equivalentes ao do juiz natural do feito. De fato,
se o Mistério Público não concordou com as razões de decidir então
lançadas, o procedimento escorreito seria manejar o recurso competente, a
tempo e modo, o que, cumpre reforçar, acabou fazendo na espécie, porém
de maneira pontual em relação á totalidade dos processos elencados na
representação (juízo próprio e exclusivo do MPF).
Nessa toada, não se vislumbrando qualquer irregularidade na
substituição de Dr. Rubens por Dr. Campelo, como se observa no Despacho
PRESI995 (7566684), da lavra do então Presidente deste Tribunal
Desembargador HILTON QUEIROZ, datado de 1693/17, onde restou
assentado que essas substituições ocorreram e ocorrem nos termos do
Provimento Geral consolidado, a única indagação ainda passível de reflexão
seria em tese a possível existência de algum desvio
funcional/comportamental por parte de Dr. CAMPELO por ocasião das
revogações das prisões. Nessa perspectiva, fazendo esse cotejo, mais uma
vez os elementos apuratórios amealhados neste procedimento preliminar
não permitem inferir qualquer desvio funcional do "representado".
(...)
Com essas considerações, não vislumbrando qualquer irregularidade
nas revogações das prisões levadas a cabo pelo Juiz ANTONIO CARLOS
ALMEIDA CAMPELO (liberdade de decidir), tampouco qualquer desvio
funcional comportamental na espécie, à míngua de infração disciplinar
palpável (CNJ, Recurso Administrativo em Reclamação Disciplinar n°
0006811-44.2016.2.00.0000, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, 49a
sessão, em 14.08.2018), o caminho natural deste procedimento preliminar
deve ser o do arquivamento, o que ora se determina.
Tendo em conta a manifestação esposada no início da presente
fundamentação, no sentido do descabimento da atuação do MPF em
procedimento preliminar, sua intimação revela-se prescindível, até porque,
não sendo o autor da representação, não teria qualquer legitimidade
recursal (Resolução CNJ 135/2011, art. 10).

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Desnecessária igualmente a manutenção da correlação dos


processos (0002231-95.2017.4.01.8000, 0002315-95.2019.4.01.8010 e
0017699-31.2019.4.01.8000) a estes autos, devendo os mesmos ser
arquivados nesta unidade, se por outro motivo não estiverem abertos.
Dê-se ciência aos juízes RUBENS ROLLO D’OLIVEIRA e ANTONIO
CARLOS ALMEIDA CAMPELO, comunicando-se, outrossim. esta decisão
de arquivamento ao Conselho Nacional de Justiça, nos termos do art. 28 da
Resolução CNJ 135/2011. (Id 4266588; p. 205/211, destaquei)

Repito que, a despeito da afirmação que acima destaquei, de que a


Corregedoria Regional do TRF da 1ª Região chega a admitir haver um já conhecido
"modus operandi do juiz CAMPELO”, a meu ver, não andou bem ao determinar o
arquivamento. E nem a Corte Especial do TRF-1 ao mantê-lo.
Conquanto o exercício da plena jurisdição, pelo Reclamado, quando atuando
em plantão automático em substituição das férias de outro magistrado, tal não o exime
dos deveres de imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela.
Da leitura da decisão proferida pelo Juiz Federal Rubens Rollo, observa-se
que as prisões estavam extensamente fundamentadas, em caso a envolver suposta
organização criminosa voltada ao crime de tráfico internacional de entorpecentes.
Sua reforma, por magistrado de mesma instância, dois meses depois, sem o
enfrentamento dos motivos que a justificaram, sem qualquer notícia de fato novo, bem
como sem qualquer indício ou alegação de excesso de prazo, em princípio, parece
ofender os mencionados deveres do juiz.
Cumpre salientar ser o Reclamado à época sabedor de que um dos
indiciados por ele libertados havia sido preso com 16kg de cafeína (insumo por vezes
utilizado na elaboração da cocaína), assim como 26kg de cocaína.
Não bastasse tal fato, verifica-se relevante contradição do Reclamado, ao
revogar referidas prisões. Conforme se verifica na decisão que apreciou a liberdade
provisória dos acusados MARIA ROSILEI, BRUNA, JOÃO MARIA, MAX WILLAMI, JAX
AMARAL, EVERTON LUIZ, ADRIANO SILVA, JACKSON BARROS e JHONES DA SILVA,
o magistrado concedeu liberdade provisória tão somente às indiciadas MARIA e BRUNA

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por não vislumbrar, quanto a elas, “quaisquer antecedentes criminais que possam macular
as vidas pregressas das Peticionantes e nem possibilidade de fuga para impossibilitar a
aplicação de uma eventual sentença condenatória”. Na mesma decisão, a indeferiu a
soltura no que se refere a JOÃO e, quanto aos demais, concedeu prazo para a Defesa
juntar certidões criminais (Id 4266576, p. 145/152, destaquei).
Portanto, nota-se que, na motivação da revogação, pontou que a
periculosidade do agente se revela pela existência de antecedentes criminais ou por
registros de uma vida voltada para o crime.
Posteriormente, noutra decisão, o Reclamado indeferiu os pedidos de
liberdade provisória de EVERTON e JAX. Entretanto, no mesmo ato, concedeu liberdade
provisória para MAX WILLAMI e JHONES DA SILVA, não obstante a notícia de que, este
último, já fora preso portando 26 QUILOS DE COCAÍNA (Id 4266576, p. 158/162).
O que salta aos olhos é a motivação: “não vislumbro quaisquer condenações
criminais transitadas em julgado e nem possibilidade de fuga para impossibilitar a
aplicação de uma eventual sentença condenatória”. Veja-se bem que, neste caso, houve
aparente esforço do magistrado para, mesmo diante dos maus antecedentes, acrescentar
o argumento da ausência do trânsito em julgado sobre eles, como se os maus
antecedentes para servirem de elemento a fundamentar a prisão preventiva, fossem
restritos a casos de condenados com trânsito em julgado (Id 4266576, p. 160).
No mínimo incomum!
Especificamente no que toca ao indiciado JHONES, a liberdade foi
concedida após pleito apresentado pela advogada CAMILA NOGUEIRA LIMA (Id
4324044, p. 38/46 e Id 4324048, p. 18), já no período em que o Reclamado se encontrava
em substituição automática na referida 3ª vara.
Sobre esta decisão referente ao indiciado JHONES, em singela pesquisa no
Google, pode-se verificar o que fora apontado pelo Juiz de Direito Titular da Vara Criminal
da Comarca de Marituba/PA, nos autos 0020507-20.2020.8.14.0401, antes de declinar a
competência para a Justiça Federal, ao indeferir pedido de liberdade provisória do mesmo
JHONES após sua prisão na posse dos multicitados 26kg de cocaína, no dia 26.8.2016,
pedido que havia sido apresentado pela advogada JESSIKA PAULA DOS SANTOS
PEREIRA:

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Evidenciada está a periculosidade do requerente e a necessidade de


seu acautelamento social, não se revelando como suficientes a aplicação de
medidas cautelares diversas da prisão, eis que o réu ostenta
antecedentes criminais (fls.23) em localizadas diversas, tais como em
Tailândia e Parauapebas, o que representa um risco concreto para a
garantia da instrução criminal e da aplicação da lei penal. Registra-se que o
indiciado foi preso em flagrante de delito, por infringir o artigo 33 da lei
11.343/06, sendo este surpreendido por Policiais Federais, portando a
substancia entorpecente conhecida como cocaína. Há de se levar em conta
a grande quantidade de droga encontrada com o indiciado que, segundo o
Laudo realizado na droga, a quantidade é superior a 25 kg conforme aponta
o laudo de perícia criminal realizado na substancia, às fls. 21/22 dos autos.
Ademais, perante a autoridade policial o indiciado confessou a prática
delitiva, alegando que receberia a quantia equivalente a R$ 1000,00 (mil)
reais, por cada peça de droga que transportava, vendo este valor a ser pago
após a entrega da droga, com destino a Belém, tendo conhecimento
também da quantidade de droga que transportaria, o que por si só já
demonstra a periculosidade do agente e a necessidade da medida cautelar.
(https://www.jusbrasil.com.br/diarios/125817907/djpa-20-09-2016-pg-
556) - publicação extraída da página 556 do DJ do Estado do Pará de
20/09/20016 - destaquei

Tal informação inclusive constava nos próprios autos em que o Reclamado


revogou a prisão de JHONES, três páginas antes da juntada de seu pedido de liberdade o
que, entretanto, não serviu de óbice à sua soltura pelo reclamado (Id 4324044, p. 32/35).
Ressalto e repito tratar-se de relevante contradição do magistrado
Reclamado pois, estranhamente, em outras revogações de prisões preventivas, quando
apontou a inexistência de antecedentes, não se referiu de forma tão específica à
inexistência de CONDENAÇÕES (como no caso das liberdades provisórias concedidas
de MARIA ROSILENE e BRUNA CAROLINA as quais foram deferidas 3 dias antes das
liberdades provisórias de JHONES e de MAX), a demonstrar que, em tese, foi

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visivelmente mais flexível para conceder a liberdade a JHONES, não obstante ostentasse
maus antecedentes.
Logo, não se trata de questão exclusivamente jurisdicional. Há indícios do
descumprimento dos deveres de imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e
cautela.
No que pertine aos fundamentos que levaram a Corregedoria Regional do
TRF da 1ª Região a arquivar a apuração quanto a este fato, tenho que a alegada
concessão de habeas corpus pelo TRF da 1ª Região, em face da nova decisão do juiz
Rubens Rollo que buscou redecretar as prisões preventivas revogadas pelo Reclamado,
não é de forma alguma motivo suficiente para justificar o arquivamento da apuração
disciplinar, mormente porque sequer se encontrava em análise judicial a decisão do
Reclamado. O que ali se enfrentou foi a necessidade ou não de nova decretação da
prisão (ou seja, a nova decisão proferida pelo Reclamante), o que se afastou sob o
argumento de que indesejável a insegurança jurídica. Eis trecho daquele julgado que ora
repito:

Não faz sentido, e sequer soa bem, que as prisões preventivas de


investigados, ou mesmo acusados, que atentam contra a liberdade do
indivíduo, bem inviolável (art. 5º, caput/CF), sejam decretadas, relaxadas e
depois redecretadas, sem alteração das condições fáticas que impuseram a
liberdade, sugerindo a ideia de uma luta de egos entre os magistrados.

Portanto, a revisão do arquivamento da apuração em face do Reclamado


sob o aspecto disciplinar é o melhor caminho para o devido escrutínio destes fatos.
Destarte, o conjunto dos fatos extraídos das circunstâncias em que
proferidas, atrelado à informação de possível relação indevida com advogados, deve ser
investigado por caracterizar, em tese, violação dos deveres da imparcialidade,
serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º, 9º, 24 e 25 do
Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do art. 35 da
LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

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2º FATO: Autos 0023223-92.2016.4.01.3900. Revogação, durante as


férias do juiz titular da 3ª Vara, em 13/02/2017, da prisão preventiva de FRANCISCO
SILVA DE MATOS JÚNIOR, por este decretada em 01/9/2016, em investigação por
estelionato previdenciário a partir de provas da “Operação Contumácia”. Maus
antecedentes com prisão anterior pelo mesmo delito. Fatos desprezados pelo
Reclamado.

O Juiz Federal RUBENS ROLLO, ao representar contra o Juiz Federal


ANTONIO CAMPELO, destacou o seguinte:

Igualmente incompreensível foi a soltura, nos autos supracitados, do


estelionatário FRANCISCO SILVA DE MATOS JÚNIOR, o qual, apesar de
ter tido a prisão preventiva restabelecida por este juízo, também não mais foi
recapturado, pois rompeu a tornozeleira eletrônica colocada por ordem do
MM. Juiz federal substituto automático, como uma das medidas cautelares
diversas da prisão. (Id 4266576, p. 7)

Trata-se de procedimento penal, na qual o Juiz Federal RUBENS ROLLO,


por meio de decisão extensamente fundamentada (55 laudas), em 01/09/2016,
determinou a prisão temporária de 4 acusados e a preventiva de 7, bem como buscas e
apreensões. No que pertine à prisão preventiva, o fez ao fundamento da garantia da
ordem pública pela prática do crime previsto no art. 171, § 3º do Código Penal, em
desdobramento de fatos investigados pela Polícia Federal na Operação Contumácia, os
quais estariam comprovados por meio de interceptações telefônicas (Id 4324134, p.
60/114).
Trata-se de investigação a respeito de crime, em associação, para a
concessão de benefícios previdenciários, mediante fraude, com a utilização de
documentos falsos.
No que respeita ao indiciado FRANCISCO SILVA DE MATOS JÚNIOR, vulgo
“JÚNIOR”, o magistrado Rubens Rollo, ao decretar sua prisão preventiva, fez constar,
além de elementos referentes à autoria e materialidade, o fato de que “urge ressaltar que

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JÚNIOR, tal qual DINHO, também já foi preso em 2009, no curso da Operação Flagelo II,
pelo cometimento do mesmo ilícito” (Id 4324134, p. 70).
Novamente em substituição automática, acolhendo pedido apresentado
pelos advogados LUCIEL CAXIADO e FABIOLA SILVA (Id 4324138, p. 19/28), o
magistrado reclamado, em 10.1.2017, mesmo cônscio de que o réu já havia sido preso na
Operação Flagelo II, sem qualquer fato novo, revogou a prisão preventiva e a substituiu
por fiança no valor de R$ 3.000,00, acrescida de monitoramento eletrônico nos seguintes
termos:

“Trata-se de reiteração de pedido de revogação de prisão preventiva


formulado por FRANCISCO SILVA DE MATOS JÚNIOR, qualificado nos
autos, preso preventivamente desde 06/09/2016, pela prática, em tese, do
crime do art. 171, §30, do Código Penal, em razão de suposto envolvimento
em fraudes de benefícios assistenciais de amparo à pessoa idosa (LOAS).
Alternativamente, pleiteia seja a prisão preventiva substituída pelas medidas
cautelares previstas no art. 319/CPP.
Em síntese, alega o ora Requerente excesso de prazo para a
conclusão do inquérito policial. Sustenta, outrossim, a desnecessidade da
manutenção da custódia cautelar, ao argumento de ser possuidor de
ocupação lícita, domicílio e residência certos, ser primário e ter dois filhos
menores de idade (um de 11 anos, e outro de 6 anos). Alega, ainda, não tem
em seu desfavor sentenças condenatórias com trânsito em julgado (fls.
509/518).
Em manifestação de fls. 528/529, o MPF manifestou-se pelo
indeferimento do pedido de revogação da prisão preventiva, por entender
não ter ocorrido mudança fática ou jurídica na situação ensejadora da
custódia preventiva.
É o relatório.
Decido.
1. Em que pesem os argumentos do MPF, entendo que, decorridos 04
(quatro) meses desde o decreto prisional, a prisão preventiva pode ser
substituída pelas medidas cautelares diversas previstas no art. 319/CPP,
mormente porque, ao que tudo indica, a associação criminosa especializada

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em fraudar benefícios da espécie LOAS restou desarticulada com a prisão


do servidor WILLIAM CLAY BORGES FONSECA e dos demais envolvidos
nos fatos criminosos.
2. Não bastasse a desarticulação da associação criminosa, entendo,
ainda, que a prisão preventiva, por mais de quatro (4) meses, com certeza,
surtiu efeito intimidatório capaz de conter novas e eventuais pretensões
delitivas do ora requerente, sabedor agora que os órgãos de persecução
penal estão atentos às suas atividades, em tese, ilícitas.
3. Com efeito, a princípio, não vejo maiores riscos à ordem pública,
caso o ora requerente seja posto em liberdade, mediante a aplicação de
algumas das medidas cautelares diversas da prisão (art. 319/CPP).
Tampouco vislumbro necessidade da manutenção da custódia preventiva
por conveniência da instrução criminal ou para assegurar à futura aplicação
da lei penal, pois não há qualquer indicativo de que o requerente tenha
intenção de atrapalhar a regular tramitação da ação penal a ser proposta
pelo MPF (em via de ser oferecida, uma vez que o lPL já foi relatado), ou de
que tenha intenção de evadir-se do distrito da culpa.
4. Assim, diante do exposto, entendo, por bem, substituir prisão
preventiva por fiança (art. 319, VIII, do CPP) cumulada com monitoração
eletrônica (art. 319, IX, do CPP), uma vez que há notícia nos autos de que o
custodiado já fora preso em 2009, no âmbito da "Operação Flagelo II", por
envolvimento em fraudes previdenciárias. Nessa linha de raciocínio, sem
dúvida, a monitoração eletrônica se prestará como instrumento de maior
garantia de que a liberdade do requerente não porá em risco à ordem
pública, com a prática de novas infrações penais, em tese. 5. Considerando
a situação econômica da presa, arbitro, desde logo, o valor da fiança em R$
3.000,00 (três mil reais), a teor do art. 325, II, c/c seu §1°, II, todos do CPP.
6. Posto isto, substituo a prisão preventiva de FRANCISCO SILVA DE
MATOS JÚNIOR, por fiança (art. 319, VIII, do CPP), no valor de R$ 3.000,00
(três mil reais), cumulada com monitoração eletrônica (art. 319, IX, do CPP),
sem prejuízo do restabelecimento do decreto de prisão preventiva caso o
requerente descumpra os termos das medidas cautelares ora aplicada.” (Id
4324138, p. 43/44)

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A prisão preventiva foi decretada novamente pelo Juiz Federal Rubens Rollo
entretanto, o acusado FRANCISCO não foi recapturado por supostamente ter rompido
sua tornozeleira eletrônica (Id 4324138, p. 121/125).
A Corregedoria Regional, ao determinar o arquivamento quanto a este fato,
apresentou a seguinte singela motivação (Id 4266588, p. 205/211):

De fato, dos 05 (cinco) processos mencionados na “representação”,


em dois deles (20.928-82.2016.4.01.3900 e 1591-73.2017.4.01.3900), não
houve qualquer decisão por parte do Dr. Campelo, apenas Ofício dirigido ao
MPF, solicitando devolução dos autos, por extrapolação de prazos; em outro
processo (23.223-92.2016.4.01.3900), o MPF sequer recorreu da decisão,
aquiescendo à visão do juiz representado e, em um quarto processo
(2010.39.00.002392-7), tratou-se de pedido de restituição de coisas
apreendidas, processo esse datado de 2011, sem oportuno recurso do MPF,
cujos fatos remontam a aproximadamente 06 (seis) anos antes da
deflagração do presente procedimento preliminar. (Id 4266588, p. 209,
destaquei)

Diversamente de tal compreensão, entendo que o fato de não ter sido


interposto recurso processual da decisão não convola eventual violação dos deveres
funcionais em algo legítimo.
Conforme se observa, mais uma vez se entremostra, em tese, possível
inobservância dos deveres de serenidade, exatidão, prudência e cautela por parte do
Reclamado, ao desprezar completamente os fundamentos de decisões anteriores
rejeitando o pedido de liberdade reiterado, assim como por motivar a revogação com
fundamentos incomuns, para se dizer o mínimo.
Logo, não se trata de questão jurisdicional sendo apreciada em sede
disciplinar.
Destarte, o conjunto dos fatos extraídos das circunstâncias em que
proferidas, atrelado à informação de possível relação indevida com advogados, deve ser
investigado por caracterizar, em tese, violação dos deveres da imparcialidade,
serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º, 9º, 24 e 25 do

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Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do art. 35 da


LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

3º e 4º FATOS: Autos 0020928-82.2016.4.01.3900 e 0001591-


73.2017.4.01.3900. Exigência, durante as férias do magistrado titular da 3ª Vara, de
devolução urgente, “com ou sem parecer”, de dois processos que estavam há
menos de 10 dias em carga ao Ministério Público. Pedido de devolução de valores
elevados (já rejeitado anteriormente) e exceção de incompetência com denúncia
recebida, com pleito de declinação para a vara de que titular o reclamado.

O Juiz Federal Rubens Rollo, ao representar contra o Juiz Federal ANTONIO


CAMPELO, sobre tais fatos, destacou o seguinte:

c) Procs. n°s 20928-82.2016.4.01.3900 e 1591-73.2017.4.01.3900


O pedido de restituição da quantia de R$ 195.000,00 (cento e noventa
e cinco mil) (n° 20298-82.2016.401.3900), tendo como requerente JOSÉ
TADEU CARDOSO DE SOUZA, já havia sido denegado pelo juiz titular em
08/09/2016, e transitado em julgado em 10/10/2016.
Em 20/01/2017, houve renovação, nos autos, do mesmo pedido, com
idêntica petição. Em 02/02/2017, o MM. Juiz substituto automático,
estranhamente, pede do MPF a devolução imediata dos autos com ou sem
manifestação do Parquet, incomodado com a demora na manifestação do
fiscal da lei.
No mesmo ofício acima mencionado, o juiz da 4 a Vara também
solicitou imediatamente a devolução dos autos do Processo n° 1591-
73.2017.4.01.3900 (Exceção de Incompetência Absoluta do Juízo da 3a
Vara),que tinha como excipiente ALMIR DOS SANTOS SOARES, então
acusado da prática de fraude milionária na liquidação extrajudicial da
ASSOCIAÇÃO DE POUPANÇA E EMPRÉSTIMO VIVENDA, por meio do
recebimento de valores excessivos recebidos a título de honorários de êxito
pelo acusado na qualidade de liquidante.
Somente em 08/02/2017 houve a devolução dos autos do MPF,
quando encerrada a substituição, voltando os feitos para a jurisdição do

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titular, que indeferiu a petição dos requerentes (restituição de coisas


apreendidas e exceção de incompetência do juízo). (Id 4266576; p. 9/12)

Quanto ao primeiro processo (autos 0020928-82.2016.4.01.3900), trata-se


de pedido de restituição de valores que totalizavam R$ 195.000,00 (cento e noventa e
cinco mil reais), outrora bloqueados das contas correntes de JOSÉ TADEU CARDOSO
DE SOUZA, representado pelos advogados PEDRO PAULO DA SILVA SANTOS e JOÃO
PAULO BARBOSA CAMPOS, constando ainda na procuração os advogados IVONE
SILVA DA COSTA LEITÃO e PAULO ROBERTO BARBOSA CAMPOS, no âmbito da ação
penal 0009651-74.2013.4.01.3900, o qual foi protocolado em 19.7.2016 (Id 4324144, p.
5/7).
O reclamante, Juiz Federal Titular Rubens Rollo, após manifestação
contrária do MPF, em 08/09/2016, indeferiu o pedido, diante da presença de indícios de
que os valores bloqueados se referiam a produto da atividade ilícita. Confira-se:

1. A inteligência dos artigos 118 e 120 do CPP exige, indubitavelmente,


para que se efetive a restituição da coisa apreendida, seja aferido, em
concomitância, o desinteresse da coisa para o processo e a inexistência de
dúvida quanto ao direito do reclamante em tê-la restituída.
Observe-se que, na espécie, há prova indiciária de sua participação
em associação criminosa, o que demonstra que os valores bloqueados
referem-se a produto da atividade ilícita, não tendo o Requerente se
desincumbido do ônus de provar a origem desses valores, limitando-se a
juntar aos autos extratos bancários das contas e afirmar que se referem a
produto do seu trabalho na comercialização de pescado regional.
Ademais, ademais tendo o Requerente sido denunciado pela prática
de tais crimes, não se pode perder de vista que esses valores bloqueados
deverão ser objeto de perdimento, em caso de eventual sentença penal
condenatória, com vista a garantir a eficácia do provimento jurisdicional não
sendo razoável ao juízo liberar o seu bloqueio.
É nesse sentido, o acórdão exarado na ACR 5001464032012047017,
do E.TRF da 4a Região:
[…]

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2. À vista de todo o exposto, acolho o parecer do MPF, que adoto


como razões de decidir e INDEFIRO a restituição/desbloqueio dos valores
constritos nos autos do IPL 0323/2011. (Id 4324144, p. 31/33)

Durante as férias do juiz titular, no dia 20.1.2017, justamente durante a


substituição automática na 3ª vara pelo Reclamado, apesar da decisão de indeferimento
ter transitado em julgado há meses, a parte repetiu o pedido de restituição anteriormente
indeferido, SEM SEQUER ALTERAR O SEU CONTEÚDO, o que causa estranheza, e o
fez em petição subscrita por novo advogado, MARIO RENAN CABRAL PRADO SÁ (Id
4324144, p. 39/41).
Em 24.1.2017, os autos foram remetidos ao Ministério Público Federal (Id
4324144, p. 45).
Após TÃO SOMENTE 9 (nove) dias no órgão ministerial, em 02/02/2017, o
magistrado reclamando expediu incomum ofício ao órgão ministerial, exigindo a
DEVOLUÇÃO IMEDIATA dos autos COM OU SEM MANIFESTAÇÃO, sob a motivação de
que já teria transcorrido tempo suficiente para a manifestação ministerial. No ponto,
cumpre apontar que lhe restavam apenas 5 dias na substituição, o que indicava um real
interesse pessoal do magistrado Reclamado em proferir uma decisão no referido
processo, o que, mais uma vez, denota grande estranheza (Id 4324144, p. 56).
Conquanto não tenha chegado a proferir decisão (porque o MPF terminou
por devolver a carga dos autos com parecer somente em 07/02/2017, juntado em
10/02/2017, portanto já findo o período de substituição automática do reclamado, sua
incomum diligência quanto ao referido processo pode denotar parcialidade porque não
verificada tal postura proativa nos demais processos em que atuou (Id 4324144, p.
48/53).
Quanto ao segundo processo (autos 0001591-73.2017.4.01.3900), trata-se
de Exceção de Incompetência Absoluta, apresentada em 19/01/2017 (justamente durante
a substituição automática do reclamado naquela 3ª vara), tendo como processo principal
a ação penal n. 0035822-63.2016.4.01.3900, que tinha como excipiente ALMIR DOS
SANTOS SOARES, advogado em causa própria então acusado da prática de fraude
milionária na liquidação extrajudicial da ASSOCIAÇÃO DE POUPANÇA E EMPRÉSTIMO

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VIVENDA, por meio de valores excessivos recebidos a título de honorários de êxito pelo
acusado na qualidade de liquidante (Id 4324144, p. 75/79).
A inicial, após mencionar que a denúncia já fora recebida naquela 3ª vara
em 29/11/2016 em decisão que reconhecera a prevenção decorrente de apreciação
anterior de pedido de quebra de sigilo telefônico, argumentava ser competente a 4ª Vara
(justamente aquela de que titular o Reclamado), por ser ela a especializada em julgar
crimes definidos pela Lei n. 7.492/86.
Em 23.1.2017, os autos foram remetidos ao Ministério Público Federal (Id
4324144, p. 125).
Tal pedido foi tratado pelo Reclamado com a mesma incomum diligência que
tratou o pedido anteriormente mencionado, tanto que, no mesmo ofício em que o
reclamado exigiu a devolução imediata daquele processo, também o fez em relação a
este.
Assim, tão somente após 10 (dez) dias do feito no órgão ministerial,
02/02/2017, o magistrado Reclamando expediu aquele incomum ofício ao órgão
ministerial exigindo a DEVOLUÇÃO IMEDIATA dos autos COM OU SEM
MANIFESTAÇÃO, sob a motivação de que já teria transcorrido tempo suficiente para a
manifestação ministerial, que, repita-se, tratava-se de uma exceção de incompetência, a
qual não haveria urgência para ser decidida em sede de substituição automática (Id
4324144, p. 134).
Conquanto não tenha chegado a proferir decisão (porque o MPF também
terminou por devolver a carga dos autos com parecer somente em 08/02/2017, juntado
em 13/02/2017), portanto já findo o período de substituição automática do reclamado, sua
novamente incomum diligência quanto ao referido processo pode denotar parcialidade
porque não verificada tal postura proativa nos demais processos em que atuou (Id
4324144, p. 128/131).
A Corregedoria Regional, ao determinar o arquivamento quanto a este
processo, apresentou a seguinte motivação:

De fato, dos 05 (cinco) processos mencionados na “representação”,


em dois deles (20.928-82.2016.4.01.3900 e 1591-73.2017.4.01.3900), não
houve qualquer decisão por parte do Dr. Campelo, apenas Ofício dirigido ao

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MPF, solicitando devolução dos autos, por extrapolação de prazos; em outro


processo (23.223-92.2016.4.01.3900), o MPF sequer recorreu da decisão,
aquiescendo à visão do juiz representado e, em um quarto processo
(2010.39.00.002392-7), tratou-se de pedido de restituição de coisas
apreendidas, processo esse datado de 2011, sem oportuno recurso do MPF,
cujos fatos remontam a aproximadamente 06 (seis) anos antes da
deflagração do presente procedimento preliminar. (Id 4266588, p. 205/211,
destaquei)

Novamente afirmo que, embora a conclusão da Corregedoria Regional,


ratificada pela Corte Especial do TRF da 1ª Região, de não haver razões para apurar o
fato porque o magistrado não chegou a proferir decisões nos referidos autos, tenho que a
incomum diligência nos referidos casos, a denotar interesse em julgar (um deles o de
rejulgar!) tais específicos processos sem que neles haja qualquer elemento de urgência a
justificar requisição de autos perante o Ministério Público, mormente sob a exigência de
que tal se dê ainda que sem o parecer do Parquet, demonstra relevante indício de
parcialidade a exigir a correta apuração.
Registre-se ser de sabença que atividade judicial perante uma vara comum
(que dirá do acúmulo de duas varas) é incessante, havendo urgências constantes a se
tratar. Nada justifica, numa análise perfunctória, a atenção personalizada em dois casos
desprovidos de qualquer urgência, a justificar tamanha proatividade do Reclamado.
Destarte, o conjunto dos fatos extraídos das circunstâncias em que
proferidas, atrelado à informação de possível relação indevida com advogados, deve ser
investigado por caracterizar, em tese, nesta hipótese, violação do dever da
imparcialidade de que trata os art. 8º do Código de Ética da Magistratura Nacional a
indicar possível infração disciplinar.

5º FATO: Autos 2010.39.00.02392-7. Reconsideração de decisão,


durante as férias do magistrado titular da 3ª Vara, em janeiro de 2011, autorizando a
restituição de bem apreendido (automóvel), sem qualquer fato novo a justificar a
reforma da decisão anterior. Beneficiária da restituição que era convivente de

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acusado posto em liberdade pelo Reclamado também durante as férias do


reclamante.

O Juiz Federal Rubens Rollo, ao representar contra o Juiz Federal ANTONIO


CAMPELO, destacou o seguinte:

Cumpre destacar que a postura heteróclita do magistrado da 4a Vara


nâo é de hoje, já em 2011, durante as férias deste magistrado no mês de
janeiro, o juiz mencionado reconsiderou decisão já transitada em julgado,
em pedido de restituição de coisa apreendida, liberando, sem qualquer fato
novo, e contrariamente a parecer ministerial, veículo em favor de LEDIANY
ARAGÃO PINHEIRO, companheira do conhecido estelionatário
FRANCISCO SILVA DE MATOS JÚNIOR, o mesmo que, após ter sido posto
em liberdade pelo juiz da 4a Vara, também nas férias deste titular, em
10/01/2017, veio a romper a tornozeleira. (Id 4266576, p. 12/13)

Trata-se de pedido de restituição de coisas apreendidas formulado, em


31/10/2009 por LEDIANY ARAGÃO PINHEIRO, representada pelo advogado ISAAC
PEREIRA MAGALHÃES JUNIOR, pela qual buscava a restituição de um veículo VW/FOX
1.0 ROUTE, ano/modelo 2007/2008, o qual fora apreendido durante a operação Flagelo II,
cujos crimes investigados eram fraudes contra a Previdência Social (Id 4324144, p.
146/148).
Nesse processo, o magistrado Reclamante havia indeferido, em 8.10.2010, a
restituição pleiteada, pois a requerente não teria comprovado renda para adquirir o
veículo, bem como havia indícios de que o mesmo teria sido adquirido pelo seu
companheiro, o qual fora investigado na referida Operação Flagelo II. Eis a decisão:

1. Da análise dos autos firmo a convicção pelo indeferimento ao


pedido, pois vejo sobressair interesse público na manutenção da medida
constritiva do veículo.
Além disso, apesar dos argumentos esposados de que o bem
apreendido, nenhuma ligação teria com os supostos delitos em apuração
(fraudes contra o INSS), a Requerente não conseguiu provar de modo

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idôneo possuir fonte de renda capaz de arcar com a prestação, uma vez
que, segundo suas informações, o veículo é financiado ao Banco
VOLKSWAGEN, conforme CRLV.
A documentação juntada posteriormente de fls. 29/42, com a qual a
Requerente pretendeu convencer que possui renda própria suficiente para
arcar com o financiamento do veículo, não constitui o bastante para tanto.
Enfatizo que a Requerente sequer anexou declaração de renda do ano-base
2009.
Não obstante a argumentação da defesa, no sentido de que a
Requerente é a legítima proprietária do veículo objeto de apreensão peia
Polícia Federal, entendo que, o só fato de referido bem constar em nome da
Requerente e não no nome de FRANCISCO SILVA DE MATOS JÚNIOR,
dada a circunstância de um relacionamento estável entre os dois, não
comprova a origem legal do veículo.
Por enquanto, não há como saber se o bem foi adquirido licitamente,
ou é produto de crime, em vista de veementes indícios apontarem para o
envolvimento do companheiro da Requerente, FRANCISCO SILVA DE
MATOS JÚNIOR, em forte esquema de fraudes contra a Previdência Social.
2. Diante do exposto, indefiro o pedido de restituição. (Id 4324144,
p. 192/193)

Apesar do pleito já ter sido anteriormente decidido pelo magistrado Rubens


Rollo, o Reclamado, em 12.01.2011, atendendo pedido de reconsideração apresentado
pelo mesmo advogado (Id 4324144, p. 197/201), novamente em substituição automática
naquela 3ª vara, proferiu decisão determinando a restituição do veículo, sem que a parte
demonstrasse quaisquer fatos novos, apenas por se entender pessoalmente convicto de
forma diversa daquela anteriormente decidida, em explícito rejulgamento da questão:

A despeito da manifestação contrária do MPF, bem como da decisão


que indeferiu o pedido de restituição, do estudo dos autos torno-me convicto
de que cabe deferir o pedido de reconsideração, ora em exame.
Minha convicção baseia-se em constatações dos autos as quais tenho
como relevantes juridicamente.

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A princípio, a Requerente não figura como ré no processo criminal,


ao qual responde seu ex-companheiro, e sequer é investigada por supostas
fraudes contra a Previdência Social. O bem vindicado é objeto de
financiamento em nome da Requerente, restando comprovada a
propriedade do veículo, conforme se verifica a fl. 12. Por fim, não há prova
de que o referido bem tenha sido adquirido por meios ilícitos.
O fato de a Requerente conviver ou haver convivido com alguém que
responde a processo criminal por suposta atuação em atividade ilícita,
consubstanciada em fraudes contra a Previdência Social, a meu juízo, não
tem o condão de colocá-la incontinente na condição de Ré, nem materializa
causa justa para privá-la de um bem, cuja aquisição pela Requerente, até
que haja prova em contrário, tem natureza lícita.
Diante do exposto, acolho o pedido de reconsideração, e em
consequência, determino a imediata restituição do veículo VW/FOX1.0
ROUTE, ano/modelo 2007/2008, cor amarela, placa JVM-9478/PA. (Id
4324144, p. 207/208)

Pelo contido no relatório das duas decisões, não há elementos novos a


corroborar essa incomum decisão. Ao contrário, pode-se deduzir que há menos alegações
do que fora peticionado anteriormente. Confira-se:
Relatório juiz Rubens Rollo:

A Requerente, em síntese, sustenta que o veículo em questão não


seria produto de crime. Ao contrário, constituiria fruto de atividade lícita e
honesta, e integraria seu patrimônio pessoal. Por isso a pretensão deduzida
em juízo teria amparo legal para ser deferida. Além disso, a Requerente
informa que o veículo foi adquirido com alienação fiduciária
mediante financiamento do Banco VOLKSWAGEN S/A. (Id 4266576, p.
81/82)

Relatório juiz ANTONIO CAMPELO:

A Requerente, em síntese, sustenta que o veículo em questão não


seria produto de crime. Ao contrário, constituiria fruto de atividade lícita e

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honesta, sendo parte de sou patrimônio pessoal desvinculada de atividade


Ilícita supostamente atribuída ao seu companheiro. (Id 4266576, p. 83/84)

De mais a mais, cumpre destacar a ligação existente entre a requerente


LEDIANY ARAGÃO PINHEIRO, e o seu companheiro FRANCISCO SILVA DE MATOS
JÚNIOR, o qual, conforme se verificou em fato anterior, teve sua prisão preventiva
revogada pelo magistrado reclamado, nos autos da ação penal 0023223-
92.2016.4.01.3900, motivando a liberdade de forma incomum.
A Corregedoria Regional, ao determinar o arquivamento quanto a este
processo, apresentou a seguinte motivação:

De fato, dos 05 (cinco) processos mencionados na "representação",


em dois deles (20.928-82.2016.4.01.3900 e 1591-73.2017.4.01.3900). não
houve qualquer decisão por parte do Dr. Campeio, apenas Ofício dirigido ao
MPF, solicitando devolução dos autos, por extrapolação de prazos; em outro
processo (23.223-92.2016.4.01.3900), o MPF sequer recorreu da decisão,
aquiescendo à visão do juiz representado e, em um quarto processo
(2010.39.00.002392-7), tratou-se de pedido de restituição de coisas
apreendidas, processo esse datado de 2011, sem oportuno recurso do MPF.
cujos fatos remontam a aproximadamente 06 (seis) anos antes da
deflagração do presente procedimento preliminar. (Id 4266588, p. 209,
destaquei)

De fato, a incomum decisão foi proferida em janeiro de 2011, fato que


remonta aproximadamente 06 (seis) anos antes da deflagração do presente procedimento
preliminar conforme apontado pela Corregedoria Regional. Todavia, isso não indica
automaticamente que eventual pretensão de análise disciplinar da Administração tenha
prescrito, uma vez que o termo inicial da prescrição disciplinar se inicia com o
conhecimento dos fatos pela autoridade competente para aplicar a sanção (Res.-CNJ
135/2011, art. 24), o que ocorreu em 17/01/2019, com o encaminhamento das denúncias
pelo Juiz Federal Rubens Rollo.
Por outro lado, o fato de o Ministério Público Federal não ter recorrido contra
a decisão, não afasta a eventual ocorrência de infração disciplinar.

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Logo, o arquivamento deve ser rejeitado.


Neste ponto novamente a circunstância em que proferida tal decisão,
atrelada à informação de possível relação indevida com advogados, deve ser investigada
por caracterizar, em tese, violação dos deveres da imparcialidade, serenidade,
exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º, 9º, 24 e 25 do Código de Ética
da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do art. 35 da LOMAN a indicar
possível infração disciplinar.

II.II. – Fatos apresentados pelo Ministério Público Federal diretamente à


Corregedoria Nacional de Justiça em petição subscrita pela Procuradora Regional
da República Raquel Branquinho (inicial no Id 4295487, p. 4/16 destes autos):

A seguir, passo a transcrever o relato do Ministério Público Federal,


apresentado inicialmente nos autos da RD 0000879-02-2021.2.00.0000 diretamente a
esta Corregedoria Nacional de Justiça, trasladado para estes autos, em que enumera um
rosário de decisões incomuns proferidas pelo magistrado reclamado, que, a meu ver,
entremostram afronta aos deveres de imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência
e cautela por parte do magistrado reclamado (Id 4295487, p. 4/16).
Reitero que excluo, dos referidos fatos, os 3 (três) primeiros, porque já foram
objeto de análise pelo CNJ em RevDis.

6º FATO: Autos 00017636-31.2012.4.01.3900 (Ipl) – 0303569-


82.2010.4.01.3900 (Ação Penal). Mesmo tendo anteriormente se declarado suspeito
nos autos, o Reclamado absolveu sumariamente cinco réus, denunciados por
fraudar procedimento licitatório. Pregão Presencial para Registro de Preços nº
280/2009 - CPL/PMB/FUMBEL, da Prefeitura de Belém/PA.

Alega o MPF que o magistrado se declarou suspeito para o julgamento do


feito em 10/05/2011, porém, em 19/09/2013, absolveu sumariamente os denunciados
ALAN DIONÍSIO SOUSA LEÃO DE SALES, MARIA DA CONCEIÇÃO OLIVEIRA CUNHA,
FABIANA DE OLIVEIRA LIMA SANTOS VAUGHAN DE OLIVEIRA, SANDRA SUELY

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CECIM MOTA DA SILVA e ELAINE CRISTINA MONTEIRO DA SILVA sob o fundamento


de que a denúncia carecia de indícios suficientes e estava amparada em depoimentos
frágeis e provas inconsistentes. A Terceira Turma do TRF da 1ª Região deu provimento à
apelação do MPF, acolhendo a preliminar de suspeição, para declarar nulos todos os atos
jurídicos supervenientes à autodeclaração de suspeição.
De fato, conforme cópia do processo juntada nos presentes autos, trata-se
do Inquérito Policial n. 30356-98.2010.4.01.3900 (denúncia no Id 4266577, p. 157-171 e
Id 4266578, p. 1-23), e posteriormente, quando recebida a denúncia aos 21/06/2012,
convolado na Ação Penal n. 0017636-31.2012.4.01.3900 (Id 4266578, p. 119 e 121).
Distribuído o feito inicialmente à 3ª Vara Federal de Belém, o magistrado
titular Rubens Rollo se declarou suspeito em decisão datada de 06/05/2011 e remeteu os
autos ao substituto legal, o Reclamado (Id 4266578, p. 109). Este, recebendo os autos,
também se deu por suspeito por motivo de foro íntimo em decisão datada de
10/05/2011 encaminhado os autos ao juiz por substituição automática (Id 4266578, p.
109). Passaram a conduzir a ação o magistrado Rafael Araújo Torres (Id 4266578, p. 111)
e, na sequência, o magistrado Bruno Teixeira de Castro (Id 4266578, p. 119).
Dois meses depois de se dar por suspeito para atuar naquele inquérito, em
07/07/2011, o Reclamado, em feito de natureza cautelar também em tramitação na 4ª
Vara, da qual titular (autos 22846-97.2011.4.01.3900), decreta a quebra do sigilo bancário
dos mesmos investigados, sem nada mencionar sobre sua suspeição. Na mesma decisão
determina o retorno dos autos do inquérito em que se declarara suspeito, o que faz da
seguinte forma, conforme tópico final da decisão: “Tendo em vista a conexão, solicite-se
ao Juízo da 3ª Vara Federal a remessa dos autos do processo relativo aos delitos
antecedentes (processo nº 30356-98.2010.4.01.3900), para que sejam processados e
julgados por esta Vara Especializada” (Id 4266578, p. 115/117).
Dali em diante, voltou a atuar no feito, em despacho de mero expediente, o
magistrado Reclamado, em 10/08/2013, sem nada consignar sobre sua suspeição
anteriormente reconhecida (Id 4266579, p. 18). Na sequência, proferiu sentença
absolvendo sumariamente os acusados em 19/09/2013, novamente sem nada mencionar
sobre suspeição (Id 4266579, p. 21/25).

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Foram advogados nos autos PATRÍCIA LAMARÃO, CARLOS AUGUSTO DE


PAIVA LEDO, CLODOMIR ASSIS ARAÚJO e GIL HENRIQUE MENDONÇA FARIA (Id.
4266578, pgs. 177, 196 e 197), bem como MARCELO PEREIRA DA SILVA e RÔMULO
FONTENELLE MORBACH (Id 4266579, pgs. 14 e 17).
Houve interposição de apelação pelo Ministério Público tendo como uma das
alegações a nulidade da sentença pela suspeição do magistrado por ele mesmo antes
reconhecida (Id 4266579, p. 33/58).
No julgamento do recurso o TRF da 1ª Região anulou a sentença acolhendo
a preliminar de suspeição do Reclamado. Eis trechos dos votos proferido no acórdão da
apelação:

Quando o juiz declara-se suspeito, não pode continuar dirigindo o


processo, a menos que na decisão de reconsideração decline os motivos
que tornaram insubsistente a suspeição anteriormente declarada.
[…]
De fato, tal postura, sem nenhuma justificativa plausível, macula a
imparcialidade necessária à própria validade das decisões futuras.
[…]
É certo que, não obstante o Magistrado que anteriormente se deu por
suspeito possa rever sua decisão e voltar a atuar no processo, em
desparecendo o motivo determinante, tal retratação, contudo, deve ser
acompanhada das razões que alteraram a situação previamente
reconhecida, ou seja, devem ser explicitados os fundamentos que
ensejaram o fim da condição de suspeito, o que não ocorreu no caso em
análise, motivo pelo qual é de ser reconhecida a suspeição arguida pelo
Ministério Público Federal, sob pena de violação ao princípio da
imparcialidade do juiz. (Id 4266579, p. 131/132 e 135)

Referido acórdão transitou em julgado em 21/7/2016 (Id 4266579, p. 142).


Retornando os autos à 4ª Vara Federal de Belém, encaminhado o feito ao
magistrado substituto GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA FILHO, este proferiu decisão
afastando a absolvição sumária assim concluindo em seu tópico final: “analisando os fatos

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e circunstâncias carreados aos autos não vislumbro a ocorrência de nenhuma hipótese


que autorize este juízo pelo reconhecimento da absolvição sumária” (Id 4266579, p.
147/150).
Destarte, os atos do magistrado retomando a condução do feito em que se
declarara suspeito, culminando com o ato de proferir sentença de absolvição sumária sem
qualquer observação sobre a suspeição, sentença esta depois anulada pelo TRF da 1ª
Região justamente por tal motivo, atrelada à informação de possível relação indevida com
advogados, deve ser investigado por caracterizar, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

7º FATO: Autos 2009.39.00.002869-3 (Ipl) – 00024077-52.2017.4.01.3900


(ou 00024079-22.2017.4.01.3900) - (Ação Penal) Alegada criação de embaraços à
apuração dos crimes investigados no âmbito da Operação Check-in, na qual se
busca combater a prática dos crimes contra o sistema financeiro e de tráfico de
pessoas.

Aponta o MPF que o reclamado criou embaraços à apuração dos crimes


investigados no âmbito da Operação Check-in, a qual busca combater a prática dos
crimes contra o sistema financeiro e de tráfico de pessoas, processo n° 00024077-
52.2017.4.01.3900 (Id 4295487, p. 7/8).
Extrai-se de suas alegações que, por intermédio de inspeção promovida pela
Corregedoria do TRF da 1ª Região, constatou-se que, embora a denúncia no referido
processo tenha sido oferecida em junho/2016, apenas por força de decisão proferida no
curso da inspeção – a qual reconheceu a existência de excesso de prazo para o
recebimento da denúncia – é que o magistrado proferiu decisão de recebimento parcial da
denúncia, em 19/05/2017.
Pelas provas coligidas a estes autos constata-se que em inspeção
promovida pela Corregedoria do TRF da 1ª Região pelo Juiz Auxiliar em Auxílio à COGER
FRANCISCO RENATO CODEVILA PINHEIRO FILHO, em 05/06/2017, foi constatado

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“excesso de prazo entre o oferecimento da denúncia (22/09/2016) e seu recebimento


(30/05/2017)” (Id 4266583, p. 3).
Nota-se que realmente a denúncia no referido processo foi oferecida em
23/06/2016 (Id 4266580, p. 59 a Id 4266583, p. 2), e o Reclamado proferiu decisão de
recebimento parcial da referida denúncia apenas em 19/05/2017 (Id 4266580, p. 45/57).
Assim, diante da delonga constatada em inspeção feita pela Corregedoria
Regional do TRF da 1ª Região, atrelada à informação de possível relação indevida com
advogados, deve ser investigado por caracterizar, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

8º FATO: Autos 0030719-75.2016.4.01.3900 (Ação Penal) – 0030264-


13.2016.01.3900 (Prisões Preventivas). Revogação de prisões preventivas em
10/11/2016, decretadas em 25/10/2016. "Caso Ipaset". Procedimento em que se
apura a prática de crimes contra o sistema financeiro no Instituto de Previdência
dos Servidores Municipais de Tucuruí/PA por desvio de mais de um milhão de reais.
Processo instruído e de competência do Juiz Substituto da 4ª Vara. Reclamado
profere sentença absolutória em 13/4/2018, durante as férias do magistrado
competente.

Trata-se de ação penal em face de RONALDO LESSA VOLOSKI,


ADEMILDO ALVES DE MEDEIROS e ELSIMAR ROBERTO PACKER pelo suposto desvio
de valores milionários em favor do denunciado ELSIMAR, nos termos dos arts. 4º e 5º da
Lei 7.492/86.
Sustenta o MPF que o magistrado, apesar de ter deferido a prisão preventiva
dos denunciados, revogou a medida em menos de uma semana, acolhendo pedido de
liberdade provisória, sem que tenha havido mudança no panorama fático.
Trata-se de prisões preventivas pleiteadas pelo MPF em 10/10/2016 nos
autos n. 0030264-13.2016.01.3900.

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Conforme cópias juntadas a estes autos, em 25/10/2016 o magistrado


Reclamado decretou aos seguintes e robustos fundamentos:

Diante dos elementos probatórios até então carreadas aos autos


do correspondente procedimento investigatório criminal, atual ação penal n°
30265-95.2016.4.01.3900, não restam dúvidas acerca da existência dos
delitos, bem como de robustos indícios de que os denunciados, com
unidade de desígnios, associaram-se com o fim específico de praticar
os delitos de gestão fraudulenta e desvio financeiro no âmbito do
Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Tucuruí -
IPASET, em Tucuruí/PA, o que vem ocorrendo desde abril de 2015 até
os dias atuais, cujo montante, até julho de 2016, já alcançou o valor de
R$ 2.565.000,00 (dois milhões, quinhentos e sessenta e cinco mil
reais).
RONALDO e ADEMILTON, na qualidade de superintendente e
de diretor financeiro do IPASET, respectivamente, atuam, em tese,
desviando vultosas quantias em benefício, supostamente, de ELSIMAR, o
qual não possuiria qualquer vínculo formal com o IPASET, nem mesmo
como parte em processo licitatório/contrato ou documento congênere, que
pudesse justificar os repasses do IPASET em favor de ELSIMAR e/ou de
suas empresas. Inexiste, ademais, como frisado pelo MPF, qualquer
documento que justifique a transferência dessas vultosas quantias ao
advogado ELSIMAR e às suas empresas.
As condutas dos gestores do IPASET configuram-se, em tese,
por meio de autorizações ilícitas de inúmeras transações bancárias, como
transferências eletrônicas e emissões/saques de cheques em favor de
ELSIMAR e de empresas da qual é sócio.
Os vínculos entre os três denunciados nas práticas delitivas em
questão encontram-se bem evidenciados nos autos do procedimento
investigatório criminal objeto da ação penal, consubstanciados, entre outros,
pelo fato de ter ELSIMAR acompanhado RONALDO, na qualidade de
advogado, quando RONALDO compareceu ao MPF para prestar
esclarecimento (fl. 68 do PIC), bem como no fato de o denunciado
ADEMILDO ter comparecido à agência bancária do BANPARÁ, em Tucuruí/

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PA, para realizar saques/compensação de cheque, endossado por


ELSIMAR, conforme relatado no RIF - Relatório de Informações Financeiras
n° 23711, de setembro /2016 (fls. 413/417 do PIC).
Ademais, como informado pelo MPF, os denunciados RONALDO e
ADEMILDO são os únicos responsáveis pelas movimentações financeiras
do IPASET e, portanto, todo e qualquer repasse de dinheiro do IPASET
somente, pode ocorrer com a anuência deles, como assim declarou o
próprio denunciado RONALDO (fls, 68-v do PIC).
Nesse contexto, afigura-se plenamente presente a materialidade
delitiva, bem como os fortes indícios de autoria em direção aos
denunciados, nos autos do PIC objeto da ação penal 30265-
95.2016.4.01.3900, bem como da cautelar de quebra de sigilo bancário e
fiscal n° 1381-35.2016.4.01.3907.
Acrescente-se que, conforme o relatado pelo MPF, os denunciados,
atualmente, ainda estariam desfalcando os cofres do IPASET, cuja prática
reiterada comprometerá seriamente os pagamentos de aposentados e
pensionistas municipais.
Releva acentuar, nos termos relatados pelo MPF, que os denunciados,
além de continuarem dilapidando o patrimônio do IPASET, promovem
desfalques em outros órgãos públicos. A exemplo, cita o Inquérito Civil
Público 1.23.007.000034/2015-79, atualmente em tramitação no MPF, em
que RONALDO, o qual, além de Superintendente do IPASET é chefe de
gabinete do Prefeito de Tucuruí/PA, de modo que, no bojo desse inquérito,
verificou-se, segundo o MPF, que RONALDO chancelou o contrato
006/2010 e quatro termos aditivos, com um valor total na ordem de R$
58.204.188,00 (cinqüenta e oito milhões, duzentos e quatro mil, cento e
oitenta e oito reais), cuja contratação perdurou do ano de 2010 até o ano de
2015, sendo cessada por determinação da Justiça Federal da Subseção
Judiciária de Tucuruí/PA, nos autos do processo n. 2129-04.2015.4.01.3907,
por terem sido vislumbrados graves indícios de desvio de verbas públicas.
Relata, ainda, o MPF, que ADEMILDO, como se vê no PIC
antes citado, às fls. 205/207 e 210/213, já foi condenado pela Justiça
Federal no Maranhão, em ação civil pública de improbidade administrativa,
por desvio de recursos oriundos do FUNDEB e FUNDEF, no Município de

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Barra do Corda, no Maranhão (processo 0007504-06.2007.4.01.3700), e,


também, foi denunciado na Justiça Estadual de Novo Repartimento/P A,
pela prática do crime previsto no Decreto-Lei 20Í/67, sendo, Contudo, neste
caso, absolvido, em face à extinção de suá punibilidade, pela prescrição.
A reiteração delitiva a ser obstada encontra-se latente na hipótese dos
autos, cujos envolvidos, na ânsia de obterem lucro fácil, não se intimidam à
vista dos manifestos riscos existentes.
Vale anotar que a delimitação conceitual de ordem pública não
se restringe a prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas, também
deve funcionar como acauteladora do meio social e da própria credibilidade
da Justiça. A conduta dos denunciados afronta o bem estar social e a ordem
econômica, ofende, em concreto e significativamente, os valores tutelados
pela norma incriminadora.
Assim, além de restar incontroversa a existência da materialidade
delitiva e dos fortes indícios de autoria em relação aos três
denunciados, verifica-se plenamente evidenciado, pelo MPF, o periculum
libertatis, haja vista os indicadores nos autos de que os três denunciados
continuam com suas atividades criminosas, de modo que, soltos,
certamente continuarão a dilapidar o patrimônio dos servidores públicos do
Município de Tucuruí/PA.
No ponto, para corroborar tal assertiva, como ressaltado pelo
MPF, o Relatório de Inteligência Financeira realizado há menos de 1 (um)
mês, indica que os saques indevidos de dinheiro da conta do IPASET
continuam ocorrendo.
Restam, assim, consubstanciados os pressupostos da medida
cautelar extrema, bem como sua fundamentação jurídica, diante da
concreta gravidade das condutas dos denunciados, de modo a justificar a
decretação da custódia preventiva, para a garantia da ordem pública, da
ordem econômica e para assegurar a aplicação da lei penal.
A adoção de outras medidas cautelares diversas da prisão
apresentam-se, no caso, inócuas e manifestamente insuficientes ao
interesse da Justiça, diante da reiteração e contumácia na prática do
delito, impondo-se a aplicação da medida de prisão preventiva nos
termos do art. 312, 313,I, c/c art. 282, § 6 o, todos do CPP, inclusive para

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cessar a grave atividade criminosa, obstando a reiteração delitiva, que, ao


que tudo indica, continuará a ser empreendida caso continuem os
denunciados em liberdade. Para ilustrar. Segue o aresto:[…]
Ante o exposto, considerando presentes o fumus comissi delicti e
o periculum libertatis, DEFIRO o pedido do Ministério Público Federal, para
DECRETAR A PRISÃO PREVENTIVA de RONALDO LESSA VOLQSKI,
ADEMILDO ALVES DE MEDEIROS e ELSIMAR ROBERTO PACKER,
com fundamento no art. 312 c/c art. 313,I, ambos do CPP. (Id 4374645, p.
15-19, destaquei)

Em audiência de custódia realizada no dias 09/11/2016 o Reclamado negou


pedido de revogação de prisão preventiva feito pelo indiciado ELSIMAR ROBERTO
PACKER aos seguintes fundamentos:

"Reafirmo que se trata de audiência de custódia, recomendada pelo


CNJ, para que o Juízo aprecie a regularidade da prisão e o cumprimento
dos seus preceitos constitucionais. A prisão decorreu de decisão deste
Juízo em 25/10/2016, a pedido do MPF. O pedido do MPF veio
acompanhado de quatro volumes de um procedimento investigatório
criminal n° 1.23.007.000108/2016-58, desenvolvido na Procuradoria da
República no município de Tucuruí/PA. O PIC traz vários documentos
inclusive estratos bancários, com autorização judicial. Portanto, a
decisão de decretação de prisão preventiva amparou-se no pedido do
MPF e no anexo com ampla documentação. Os pedidos de revogação
da prisão preventiva feitos pelos advogados presentes na Subseção
de Blumenau/SC trouxeram argumentos sem qualquer documentação,
mesmo porque a audiência está sendo realizada por videoconferência.
Neste momento não há como se confirmar qualquer argumentação
constante do pedido da defesa. Nestes termos, INDEFIRO o pedido de
revogação da prisão preventiva e MANTENHO a prisão preventiva do preso
pelo inteiro teor da decisão de fls. 10/14, com o complemento de que
consiste na garantia da ordem pública para que cesse o prejuízo aos cofres

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públicos e pela garantia da aplicação penal diante do elevado valor


envolvido, segundo o pedido do MPF. (Id 4374645, p. 80-81, destaquei)

Em 10/11/2016, portanto cerca de 15 (quinze) dias depois de decretá-las,


o Reclamado revoga as prisões atendendo a pedido dos indiciados, sob os seguintes
fundamentos:

Tratam-se de PEDIDOS DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA


MEDIANTE SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS,
formulados por RONALDO LESSA VOLOSKI, ADEMILDO ALVES DE
MEDEIROS e ELSIMAR ROBERTO PACKER, por meio de advogados
habilitados, nos autos de pedido de decretação de prisão preventiva,
formulado pelo MPF, pela suposta prática dos delitos previstos no art. 4.°,
caput, e art. 5.°, caput, ambos da Lei n.° 7.492/86.
Aduziram que se tratam de réus primários, sem antecedentes
criminais e com residências fixas. E ainda que estarão sempre dispostos a
colaborar com o deslinde processual.
Argumentaram que não há mais necessidade na manutenção de sua
prisão preventiva e pediram substituição por outras medidas cautelares
diversas da prisão em face de suas condições subjetivas favoráveis.
Juntaram diversos documentos, dentre eles contrato de prestação de
serviço às fls. 96/100.
Em manifestação de fls. 73/74, o MPF opinou pelo indeferimento do
pedido.
Brevemente relatados. DECIDO.
Inicialmente, ressalto que a decretação das prisões preventivas dos
Requerentes foi decidida por este Juízo em 25/10/16, com fundamento na
garantia da ordem pública, da ordem econômica e para assegurar a
aplicação da lei penal. O pedido do MPF ressaltou que houve gestão
fraudulenta de recursos do Instituto de Previdência dos Servidores do
Município de Tucuruí - IPASET no montante de R$ 2.565.000,00 (dois
milhões e quinhentos e cinquenta e cinco mil reais), sendo que RONALDO e

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ADEMILDO atuavam como superintendente e diretor financeiro do Instituto


respectivamente:
As ações delituosas consistiriam em transferências bancárias para
ELSIMAR ROBERTO PACKER, advogado, que não teria vínculo algum com
o IPASET.
Nesse particular, observo que, às fls. 96/100, foi juntado contrato de
prestação de serviços entre o IPASET e o advogado ELSIMAR.
Neste exame preambular, descabe ingressar na análise da
materialidade dos crimes apontados no pedido do MPF, mas a juntada
dessa documentação refuta o argumento de que não haveria vínculo jurídico
entre o IPASET e o advogado ELSIMAR.
Além disso, ressalto que as condutas delituosas apontadas — gestão
fraudulenta e desvio de recursos — somente podem ser cometidas por
pessoa que exerce efetivamente a gestão de instituição financeira ou
equiparada.
Destarte, caso os Requerentes RONALDO e ADEMILDO não exerçam
cargos no IPASET doravante, em nada poderão interferir na gestão
financeira do Instituto e nem poderão desviar recursos públicos. ELSIMAR,
por sua vez, exerce a atividade de advogado, tem residência fixa e trabalho
regular.
Assim, considero, no momento, que se revela adequada e suficiente a
aplicação de medidas cautelares diversas da prisão.
A prisão preventiva deve ser medida excepcional mormente quando
não cabível a aplicação de outras medidas cautelares, conforme
entendimento dos Tribunais Superiores brasileiros, em especial o TRF-1ª
Região, na esteira do exemplo em seguida:
[…]
Ante o exposto, REVOGO as prisões preventivas dos Requerentes
RONALDO LESSA VOLOSKI, ADEMILDO ALVES DE MEDEIROS e
ELSIMAR ROBERTO PACKER.
Em substituição à prisão preventiva, por considerar, no momento,
como adequadas e suficientes, APLICO-LHES as medidas cautelares
diversas da prisão, nos termos do art. 319 do CPP, consistentes em:

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1) proibição de alterar seus endereços sem prévia comunicação ao


Juízo;
2) proibição de se ausentarem de suas respectivas residências, por
mais de 30 (trinta) dias, sem autorização prévia deste Juízo.
3) proibição de exercício de cargos ou quaisquer outros vínculos com
o Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Tucuruí —
IPASET até o final deslinde da ação penal.
Ficam os réus cientes que o descumprimento de quaisquer dessas
cautelares implicará na IMEDIATA conversão em prisão preventiva.
EXPEÇAM-SE OS ALVARÁS DE SOLTURAS. (Id 4374645, p. 133-
136, destaquei)

Representaram os indiciados no processo os advogados DIEGO


CORDEIRO PINHEIRO, WAGNER LEÃO SERRÃO, HONÓRIO NICHELATTI JÚNIOR,
FELIPE LORENZON RONCONI e GLEISA CRISTINE SCHREINER (Id 4374645, p. 36,
52, 64 e 97).
Nota-se, portanto, incomum mudança de opinião do Reclamado, sem sequer
afastar a presença dos requisitos que ele mesmo vislumbrou para decretar as prisões.
No mais, trata-se da ação penal n. 30719-75.2016.4.01.3900, derivada do
PIC-MP que tramitou perante aquela 4ª Vara sob n. 0030265-95.2016.4.01.3900. Ambos
são processos que tem o último algarismo “ímpar” antes dos dígitos (Ids 4370849 a
4370854).
Tal fato leva a competência do caso para o Juiz Substituto da vara.
A denúncia foi oferecida em 19/10/2016 (Id 4370850, p. 01/10). Recebeu-a o
Reclamado em 25/10/2016 (Id 4370853, p. 112/113).
Neste ponto, cumpre registrar, inicialmente que, segundo informações
prestadas pelo TRF da 1ª Região, o juiz federal substituto GILSON JADER
GONÇALVES VIEIRA FILHO se encontra lotado perante a 4ª Vara (de que titular o
Reclamado) desde o dia 29/04/2017 (Id 4370651). A partir de então, passou a ser o
competente para apreciar os processos com numeração com final “impar”.
Isto porque assim dispõe a Resolução n. 001/2008 do Conselho da Justiça
Federal – CJF (destaquei):

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Art. 7º A divisão de trabalho nas varas deve ser equânime, segundo as


classes processuais, para o que obedecerá aos seguintes critérios, se
outros não forem adotados pelo Tribunal Regional Federal:
a) aos Juízes Federais titulares caberão os processos cujos autos
tenham numeração final par, desconsiderando-se o dígito verificador;
b) aos Juízes Federais Substitutos caberão os processos cujos
autos tenham numeração final ímpar, desconsiderando-se o dígito
verificador.

O juiz substituto da 4ª Vara, GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA FILHO,


passou a conduzir o feito, proferindo os despachos e decisões regularmente, como nas
decisões em que afastou a absolvição sumária em 19/05/2017, redesignou audiências em
05/07/2017 e 04/09/2017, realizou audiências de instrução em 22/11/2017 e em
07/03/2018, homologou a desistência da oitiva de testemunhas (Id 4370855, p. 93/95,
128, 150, 185 e 202 ), mas depois, no dia 13/04/2018 (justamente no período das férias
do juiz substituto, gozadas entre 19/03 e 17/04/2018 (segundo informa o TRF da 1ª
Região, Id 4370651) o Reclamado atua no feito e profere sentença de absolvição sumária,
mormente em hipótese em que ausente qualquer necessidade de provimento urgente (Id
4370855, p. 237/244).
Advogaram na ação penal HONÓRIO NICHELATTI JÚNIOR e GLEISA
CRISTINE SCHREINER (Id 4370855, p. 27), bem como FELIPE LORENZON RONCON,
LEONARDO CATETE RODRIGUES e WAGNER LEÃO SERRÃO (Id 4370855, p. 62, 92
e 235).
Destarte, tanto a mudança repentina de posicionamento para justificar a
soltura dos acusados, quanto a atuação incomum, nas férias do juiz competente, para
proferir sentença absolutória, atrelada à informação de possível relação indevida com
advogados, devem ser investigados por caracterizar, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

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9º FATO: Autos 00019420-33.2018.4.01.3900. Concessão de liberdade


provisória no feito em que presos em flagrante José Raimundo Vilhena de Sousa,
Francisco Aires de Farias, Delorisano Costa de Vilhena Filho e Raimundo de Jesus
Ferreira Vasconcelos, em virtude do transporte de mais de 500 KG DE COCAÍNA em
duas embarcações, as quais foram interceptadas no município de Chaves/PA.
Revogação da decisão de ofício no dia seguinte, com a decretação da prisão
preventiva (em decisão extensamente fundamentada) supostamente após receber
e-mail de Delegado por ele próprio instado a pedir tal revogação. Negativa, 8 dias
depois, de revogação da prisão preventiva a pedidos feitos pelos indiciados (em
decisão com mais fundamentos). Posterior revogação das prisões de todos os
indiciados, cerca de um mês depois, atendendo a pedido de nova advogada de
todos eles (decisão lacônica sem afastar os motivos antes vislumbrados e sem fixar
qualquer medida cautelar).

Sustenta o MPF que “o magistrado, em decisões de precária e duvidosa


fundamentação, acolheu os pedidos de reconsideração formulados pela defesa após a
decretação da prisão preventiva”.
Ainda conforme o MPF, na oportunidade, o magistrado valeu-se dos
seguintes argumentos: “[...] Neste momento processual, restou provado que o réu tem
residência fixa e trabalho lícito, não tem antecedentes criminais, não está ameaçando
testemunhas e nem destruindo provas e não demonstra pretender se evadir do distrito da
culpa. Além disso, os documentos de fls. 122/123 demonstram que o requerente faz uso
de medicação de uso contínuo”; e, “[...] Neste momento processual, entendo também que
restou provado que os réus têm residência fixa, trabalho lícito, não têm antecedentes
criminais, não estão destruindo provas nem ameaçando testemunhas e não demonstra
ânimo para se evadirem do local onde residem. E que a decisão anteriormente concedida
a Francisco pode ser estendida aos demais réus”.
De fato, pelos documentos que constam no presente feito, ocorreu a prisão
em flagrante dos indiciados no dia 03/09/2018 (segunda-feira), no município de Chaves,
PA, por volta das 23 horas, com duas balsas contendo mais de 500kg de cocaína que
supostamente se deslocavam do Suriname para Abaetetuba/PA (Id 4266579, p. 153).

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A prisão foi comunicada à Justiça Federal e autuada no processo n. 19420-


33.2018.4.01.3900. Consta no presente feito que o Reclamado então realizou audiência
de custódia com os indiciados em 11/09/2018 (terça-feira) e ali fez constar que o flagrante
já fora homologado por juiz plantonista em 07/09/2018 e que, em consonância com o
parecer ministerial (posicionamento também incomum do Parquet, registre-se), impunha
medidas cautelares diversas da prisão, dentre elas comparecimento obrigatório aos atos
do processo, bem como fiança no valor de R$ 200.000,00 para cada um, além da
colocação de tornozeleiras eletrônicas tão logo recolhidas as fianças (Id 4266579, p.
160/161). Concedeu-lhes, portanto, a liberdade.
Em 12/09/2018 (ou seja, no dia seguinte), o magistrado “chama o feito à
ordem” e profere nova decisão nos seguintes termos (Id 4266579, p. 162/165):

Chamo o feito à ordem.


Trata-se de COMUNICAÇÃO DE PRISÃO EM FLAGRANTE, de
Delegado de Polícia Federal, de JOSÉ RAIMUNDO VILHENA DE SOUSA,
FRANCISCO AIRES DE FARIAS, DELORISANO COSTA DE VILHENA
FILHO e RAIMUNDO DE JESUS FERREIRA VASCONCELOS, presos
em 03/09/2018, no município de Chaves/PA, com cerca de 600 Kg de
entorpecente com aparência de cocaína.
Houve decisão pelo Juiz Plantonista, no dia 07/09/2018, homologando
o flagrante.
Foi realizada audiência de custódia em 11/09/2018, na qual o membro
do MPF requereu a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão e
foi acompanhado pelo advogado de defesa.
Na ocasião, deferi o pedido do MPF e determinei a aplicação de
diversas medidas cautelares diversas da prisão, dentre as quais fiança.
Verifico que a decisão de fls. 66/67 merece reparos. ASSIM,
REVOGO-A POR COMPLETO E PASSO A PROFERIR NOVA DECISÃO.
DECLARO a regularidade das prisões efetuadas, posto que foram
obedecidos todos os procedimentos legais e constitucionais e ainda que
todos os presos confirmaram que não houve violência policial e que foram
bem tratados pelos militares da Marinha e pelos agentes federais.

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O crime de tráfico de drogas, segundo o art. 44 da Lei n.°


11.343/2006, é inafiançável, portanto não cabe a imposição da referida
medida cautela de fiança no caso.
Além disso, verifico que estão presentes os pressupostos para a
decretação da prisão preventiva, quais sejam: a materialidade do delito e
indícios suficientes de autoria.
A materialidade do crime de tráfico de drogas revela-se pelo Laudo de
Perícia Criminal Federal n. 396/2048, de fls. 33/36, que atestou resultado
POSITIVO para o alcaloide COCAÍNA de 436 (quatrocentos e trinta e seis )
pacotes que resultaram em 502,85 Kg (quinhentos e dois quilos e oitocentos
e noventa e cinco gramas).
A autoria dos quatro (quatro) presos resta confirmada pelos militares
da Marinha e pelos agentes federais que a aprenderam a droga em uma
embarcação em que um deles estava e os outros três estavam em uma
embarcação menor escoltando a embarcação com drogas.
Na verdade, a utilização da embarcação menor visava despistar as
autoridades policiais da embarcação maior e até possibilitar uma fuga mais
rápida por entre os pequenos canais que existem na Região.
Também verifico estarem presentes os fundamentos para a
decretação da prisão; a garantia da ordem pública e a garantia da aplicação
da lei penal.
A garantia da ordem pública se configura quando o juiz quer evitar a
reiteração criminosa em um crime de considerável gravidade.
Verifico que houve o crime de tráfico de substancial quantidade de
drogas, cerca de meia tonelada, o que abasteceria o mercado nacional,
causando um prejuízo considerável na saúde pública do Brasil ao ser
consumida por milhares de jovens adultos.
Além disso, houve a fuga de mais três pessoas envolvidas, sendo que
o Delegado de Polícia Federal ainda está investigando o grupo criminoso
responsável pelo crime.]
Além disso, os presos residem em várias cidades do estado do Pará e
do Amapá, tudo indicando que foram arregimentados para a empreitada
pelos verdadeiros proprietários da droga apreendida. E não somente para
este crime e sim para uma série de outros transportes de drogas em uma

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nova rota do tráfico. Assim, revela-se presente o fundamento da garantia da


ordem pública para o decreto da prisão preventiva.
Na mesma sorte, vislumbro a presença da garantia da aplicação da lei
penal, posto que os presos podem se evadir do distrito de culpa, amparados
por um grande esquema internacional de tráfico de drogas, para evitarem o
cumprimento das penas se aplicadas. Assim como foram arregimentados,
poderiam ser retirados do País a qualquer momento.
Em que pese o parecer ministerial, verifico que, no caso em concreto,
não se revela suficiente a aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão.
Além disso, novo posicionamento jurisprudencial do Superior Tribunal
de Justiça, em especial o proferido no HC 449717/RS, da lavra da Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, na 6ª Turma, de 19/06/2018, registra que: “A
impossibilidade de decretação da prisão preventiva ex officio pelo juiz na
fase de investigação não se confunde com a hipótese vertente nos autos,
retratada no art. 310, inciso II, do Código de Processo Penal, dispositivo que
permite ao magistrado, quando do recebimento do auto flagrancial e
constatando ter sido formalizada a prisão nos termos legais, converter o
encarceramento em flagrante do acusado na custódia preventiva, diante da
presença dos requisitos constantes do artigo 312 do Estatuto Processual
Repressivo, situação em que se mostra cabível o atuar de ofício pelo juiz...”
Ao ser instado por este Juízo, o Delegado da Polícia Federal Davi
Jacobs de Souza encaminhou e-mail, nesta data, requerendo a
conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva.
Ante o exposto, DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA DE JOSÉ
RAIMUNDO VILHENA DE SOUSA, FRANCISCO AIRES DE FARIAS
DELORISANO COSTA DE VILHENA FILHO e RAIMUNDO DE JESUS
FERREIRA VASCONCELOS pelos fundamentos da garantia da ordem
pública e garantia da aplicação da lei penal. (Id 4266579, p. 162/165 -
destaquei)

Observe-se que não bastasse a surpreendente e inusitada revogação da


liberdade concedida no dia anterior pelo próprio Reclamado, este ainda fez constar na

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decisão que INSTOU, POR E-MAIL, DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL A REQUERER


A CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA !! Ao que se
depreende, tudo leva a crer que o magistrado saiu da inércia – que deve observar – para
buscar provocação da autoridade policial que pudesse servir de justificativa para “calçar”
uma nova decisão de revogação da medida decretada na véspera, seja por
arrependimento, seja pelo que for!!
Mas não é só! Na sequência, pleiteada, pelos indiciados, a revogação da
prisão, esta foi negada pelo Reclamado em mais uma decisão fundamentada, proferida
em 20/09/2018 (ou seja, cerca de uma semana depois), pela qual ainda acrescenta
argumentos para manter as prisões. Eis alguns deles:

Somente o fato de não responderem a outros crimes e terem


residências fixas não elimina o fundamento da garantia da ordem
pública, diante da apreensão de grande quantidade de droga
apreendida – mais de meia tonelada – segundo precedentes do
Superior Tribunal de Justiça, conforme exemplo a seguir:
[…]
Assim, revela-se presente o fundamento da garantia da ordem pública
para o decreto da prisão preventiva.
Na mesma sorte, vislumbro a presença da garantia da aplicação da lei
penal, posto que os presos podem se evadir do distrito de culpa, amparados
por um grande esquema internacional de tráfico de drogas, para evitarem o
cumprimento das penas se aplicadas. Assim como foram arregimentados,
poderiam ser retirados do País a qualquer momento.
Deve ser ressaltado que outros membros do grupo criminoso não
foram presos e ainda se encontram em liberdade, sendo que há fortes
diligências da Polícia Federal na captura dos demais membros
foragidos e dos chefes e verdadeiros proprietários da droga.
Há também interesse na colaboração premiada por parte da
Autoridade Policial, que está envidando esforços nesse sentido.
Em que pese o parecer ministerial, verifico que, no caso concreto, não
se revela suficiente a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão.
(Id 4266579, p. 172 a Id 4266580, p. 4, destaques do original)

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Impetrado habeas corpus perante o TRF da 1ª Região (HC 1028705-


93.2018.4.01.0000), a Desembargadora Monica Sifuentes negou a liminar em decisão
lavrada em 02/10/2018 (Id 4266580, p. 26-27).
O indiciado FRANCISCO AIRES DE FARIAS, por intermédio da advogada
LEILA BANIA BASTOS RAIOL, ingressa em 15/10/2018 (ou seja, 20 dias depois),
diretamente nos autos do processo perante a 4ª Vara Federal, com pedido de revogação
da prisão preventiva (Id 4266579, p. 28/31). O magistrado reclamado então REVOGA! sua
prisão preventiva em decisão proferida em 15/10/2018 ao seguinte e singelo fundamento,
sem a imposição de qualquer medida cautelar:

Neste momento processual, restou provado que o réu tem residência


fixa e trabalho lícito, não tem antecedentes criminais, não está ameaçando
testemunhas e nem destruindo provas e não demonstra pretender se evadir
do distrito da culpa.
Além disso, os documentos de fls. 122/129 demonstram que o
Requerente faz uso de medicação de uso contínuo. (Id 4266580, p.
35/36)

Ato contínuo, em petição datada de 22/10/2018 (ou seja, uma semana


depois), a mesma advogada requer a revogação da prisão preventiva dos demais
indiciados (Id 4266580, p. .37/41).
Foi então que, em nova decisão igualmente singela, assinada digitalmente
pelo Reclamado em 30/10/2018, este REVOGOU A PRISÃO PREVENTIVA DE TODOS
OS DEMAIS INDICIADOS! com o exclusivo e singelo fundamento:

Neste momento processual, entendo também que restou provado que


os réus têm residência fixa, trabalho lícito, não tem antecedentes criminais,
não estão destruindo provas e nem ameaçando testemunhas e não
demonstram ânimo para se evadirem do local onde residem. E que a
decisão anteriormente concedida a FRANCISCO PODE SER ESTENDIDA
AOS DEMAIS RÉUS.

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Ante o exposto, DEFIRO O PEDIDO E REVOGO A PRISÃO


PREVENTIVA DE […] (Id 4266580, p. 43/44).

Em resumo, o magistrado colocou os indiciados em liberdade mediante


fiança em 11/09; em 12/09 revogou a decisão e decretou suas prisões preventivas; em
20/09, negou pedido de revogação e acresceu os argumentos para mantê-las; em 15 e
30/10, atendendo a pedido subscrito por nova advogada, revoga todas as prisões.
Portanto, apenas cerca de 1 (um) mês e meio depois de decretar a prisão
preventiva de todos os indiciados, presos em flagrante com mais de 500 kg de cocaína
transportada em barcas, o que fez por decisão fundamentada, revogando decisão da
véspera que, em audiência de custódia, aplicava medidas cautelares diversas da prisão,
bem como após negada liminar em habeas corpus pelo TRF da 1ª Região, o magistrado
Reclamado revoga as prisões preventivas em singelos e lacônicos argumentos proferidos
em um parágrafo, sem se dar ao trabalho de afastar, sequer, os argumentos que ele
mesmo impôs para decretá-las, bem como sem aplicar qualquer medida cautelar diversa
da prisão.
Destarte, absolutamente incomum na hipótese o magistrado (i) conceder
liberdade, ainda que mediante fiança, a pessoas presas em flagrante com mais de 500 kg
de cocaína; (ii) revogar tal decisão no dia seguinte e decretar suas prisões preventivas de
ofício, sem sequer fazer constar os motivos pelos quais mudava de opinião
repentinamente; (iii) justificar que o fazia porque “ao ser instado por este Juízo, o
Delegado da Polícia Federal Davi Jacobs de Souza encaminhou e-mail, nesta data,
requerendo a conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva” ou seja, dando a
entender que “instou” um Delegado a requerer a conversão da prisão em flagrante em
prisão preventiva com a finalidade de ser provocado pra rever a decisão da véspera pela
qual concedera liberdade aos presos mediante medidas cautelares; (iv) a negativa
fundamentada a pedido de revogação da prisão, com mais argumentos a justificar sua
manutenção; (v) a surpreendente revogação de todas as prisões preventivas cerca de um
mês depois, atendendo a pedido de nova advogada, com lacônicos fundamentos de um
parágrafo, sem afastar os motivos da preventiva por ele mesmo vislumbrados quando da
decretação.

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Trata-se de uma sucessão de fatos processuais absolutamente incomuns,


praticados num processo em que apreendida mais de meia tonelada de cocaína, que
entendo de gravidade ímpar a merecer investigação.
As inexplicadas idas e vindas do posicionamento do magistrado no caso,
bem como a estranha e explicitada notícia de sua postura ativa de “instar” um delegado a
requerer decretação de prisão de indiciados; sua sucessiva decretação fundamentada e,
por fim, sua revogação trinta dias depois com exangues fundamentos, são condutas que
em tese configuram descumprimento de deveres funcionais.
Tais fatos, atrelados à informação de possível relação indevida com
advogados, devem ser investigados por caracterizarem, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

10º FATO: Autos 2225-40.2015.4.01.3900. Alegada atuação em prol dos


denunciados no processo aproveitando-se do afastamento do Juiz substituto,
competente para conduzir o feito, no curto período de dois dias – 03 e 04 de agosto
de 2017 – e, segundo informado, teria buscado os autos que estavam sem
movimentação na secretaria da 4ª Vara desde a redistribuição e absolveu
sumariamente todos os acusados.

Conforme cópias juntadas neste feito, trata-se da ação penal que tramitou
perante a 4ª Vara Federal sob n. 2225-40.2015.4.01.3900 em face dos réus GERSON
FRANCO BUENO JÚNIOR, JOÃO FRANCO DA SILVEIRA BUENO e LINCOLN
LAFAIETE DA SILVEIRA BUENO pelo delito descrito no art. 337-A, I do Código Penal
(supressão ou redução de contribuição previdenciária), em valores superiores a R$ 11
milhões (Id 4266576, p. 175 a Id 4266577, p. 153).
Denúncia oferecida em 15/12/2014. O Reclamado proferiu decisão
recebendo a denúncia em 15/01/2015; inspecionou o feito em 19/05/2015; deferiu
suspensão do prazo para resposta; fixou novo dia de fluência do prazo para resposta;

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determinou novas intimações para resposta em 02/03/2016 e 31/01/2017(Id 4266576,


pags. 184, 188, 193, 194, 202, 212).
O magistrado HUGO LEONARDO ABAS FRAZÃO, da 12ª Vara Federal mas
respondendo pela 4ª Vara, proferiu despacho de mero expediente em 10/07/2015 (Id
4266576, p. 197).
O magistrado Reclamado de fato proferiu sentença no processo absolvendo
sumariamente os três acusados em 03/08/2017 (Id 4266576, p. 133/136).
Ocorre que desde o dia 29/04/2017, já se encontrava lotado na 4ª vara o juiz
substituto GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA FILHO, conforme informa o TRF da 1ª
Região (Id 4370651).
Como já demonstrado num dos itens anteriores, tratando-se de um processo
cujo algarismo final da numeração, anterior aos dígitos, é o “5”, “ímpar”, pela regra do
Conselho da Justiça Federal já mencionada anteriormente, confere-se competência para
sua apreciação ao Juiz Substituto da Vara.
Coincidentemente, o magistrado substituto GILSON se encontrava afastado
nos dias 03 a 05/08/207 por motivo de “interesse particular”, segundo informa o TRF da
1ª Região (Id 4371011).
Necessário apurar, portanto, se, conforme sustenta o MPF nesta
Reclamação, de fato o Reclamado teria “buscado os autos na secretaria da 4ª Vara
aproveitando-se do afastamento do Juiz substituto responsável no curto período de dois
dias – 03 e 04 de agosto de 2017”, para neles proferir a sentença absolutória datada de
03/08/2017 (quinta-feira).
Caso confirmada a hipótese de “escolha” de um processo de competência
de outro magistrado, sem urgência legal – ainda que cumulando tal competência por
eventual ausência do magistrado –, para nele proferir uma sentença absolutória em caso
de crime a envolver valores milionários, entendo cuidar-se de mais uma situação que, em
tese, pode configurar infração disciplinar.
Atuaram no processo os advogados THAIS PIRES DE CAMARGO REGO
MONTEIRO, RODRIGO FILIPPI DORNELLES, ALEXANDRE SINIGALLIA PINTO,
GUILHERME PINHEIRO AMARAL (Id 4266576, p. 191, 195, 251).

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Tais fatos, atrelados à informação de possível relação indevida com


advogados, devem ser investigados por caracterizarem, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

11º FATO: Autos do HC 1000552-82.2021.4.01.3900 em tramite na 4ª Vara


Federal do Pará, em que titular o Reclamado. Operação Handroanthus GLO, tida como a
“maior operação de apreensão de madeira da história” (mais de 131 mil m³ de madeira em
tora em áreas na divisa dos Estados do Pará e Amazonas). Em pedido de liberação de bens
apresentado no primeiro dia de suas próprias férias (dia 11/01/2021), após, pela manhã, o
magistrado substituto ter apreciado o feito e declinado da competência em favor da JF/AM,
o Reclamado, no mesmo dia, no período da tarde, aprecia “pedido de reconsideração”
protocolado por volta das 13hs, nele decide em menos de meia-hora revogando a decisão
anterior sobre o declínio da competência e, no mesmo dia, mais tarde, defere os pedidos
para liberar os bens apreendidos (balsas carregadas de madeira).

Alega o MPF que no Habeas Corpus 1000552-82.2021.4.01.3900, impetrado em


favor de LUCIANO RIBEIRO DA COSTA, representante da empresa MDP TRANSPORTES
EIRELI em face da Polícia Federal do Amazonas, o impetrante buscava sobrestar, em relação ao
paciente, o Inquérito Policial n. 2020.0123872-SR/PF/AM (Id 4295487, p. 09/15).
Sustenta que, segundo informações colhidas do MPF/AM, os fatos objeto da
investigação estão inseridos na Operação Handroanthus GLO, realizada em conjunto entre o
Ministério Público Federal e a Polícia Federal do Amazonas, que, até 22 de dezembro de 2020,
havia apreendido mais de 131 mil m³ de madeira “em tora” na divisa dos Estados do Pará e do
Amazonas. As apreensões, segundo alega, são de “magnitude histórica”.
Alega mais que, não obstante as investigações estivessem sob controle ministerial
e judicial do MPF e da JF no Estado do Amazonas, o remédio constitucional foi impetrado perante
a Seção Judiciária do Pará, ao argumento de que esta seria a jurisdição competente, por terem os
fatos apurados em relação ao paciente supostamente ocorrido no Pará.
Aduz que, desde a petição inicial, o impetrante advogou a distribuição do feito
especificamente à 4ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará, competente para julgar crimes de
organizações criminosas, justamente aquela titularizada pelo magistrado Reclamado.

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Informa que, em primeira apreciação jurisdicional, no dia 11/01/2021, às 10:31:39


horas, o Juiz Federal Substituto GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA FILHO, da 4ª Vara, em
decorrência das férias do titular ora Reclamado –, decidiu pela incompetência da Seção Judiciária
do Pará em favor do Seção Judiciária do Amazonas, pois a autoridade supostamente coatora é
Delegado Federal lotado naquele Estado. Eis o teor da decisão:

Trata-se de HC impetrado de Delegado Federal lotado na


Superintendência Regional de Polícia Federal do Amazonas, em razão do
em razão do suposto constrangimento ilegal que sofre por força de
instauração do IPL n. 2020.0123872-SR/PF/AM.
Embora o impetrante alegue que este Juízo é competente para o
processamento e julgamento do presente processo, vez que o fato
investigado teria ocorrido no Estado do Pará, o que determina a
competência para processar e julgar o habeas corpus é a sede da
autoridade apontada como coatora, que, no presente caso, é o Estado do
Amazonas, devendo este processo ser encaminhado ao Juízo que possui
jurisdição naquele Estado.
Ante o exposto, declino da competência em favor da Seção Judiciária
do Amazonas, por ser o juízo competente para processar e julgar o feito.
Intime-se. Cumpra-se. (Id 4295487, p. 10)

Alega que, na mesma data em que proferida esta primeira decisão de


declínio de competência, dia 11/01/2021, às 12:21 horas, consta no PJE que os autos
foram novamente remetidos à conclusão. Posteriormente à conclusão, às 13:18:56
horas, foi protocolado “pedido de reconsideração” pelo impetrante.
Informa que em seguida, ainda no mesmo dia 11/01/2021, às 13:44:26
horas – menos de meia hora após o protocolo do pedido de reconsideração –, o
Reclamado Juiz Titular Antônio Carlos Almeida Campelo – retornando inesperadamente
de suas férias porque, segundo o site do TRF da 1ª Região, estava em gozo de
férias de 11/01/2021 a 09/02/2021 –, despachou o feito e decidiu acatar as considerações
do paciente e determinar a permanência do processo na Seção Judiciária do Pará nos
seguintes termos:

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“Tendo em vista o pedido de Reconsideração interposto e acatando os


seus argumentos, REVOGO o despacho anterior (ID 411871900), exarado
na presente data” (id. 412609892).”

Segundo o Representante, o Reclamado, em seguida, sem dar vista ao


MPF (Id 418184890 – do processo judicial), após a reiteração de pedido (Id 414855368 do
processo judicial), decidiu por conceder a liminar, dando-se por competente e
determinando a suspensão do Inquérito Policial em relação ao paciente e sua empresa
MDP Transportes Eireli.
Outrossim, ainda segundo o Representante, o Reclamado determinou a
restituição das balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II, PORTO SEGURO DA AMAZÔNIA III,
do empurrador CAJARANA AIUB e dos produtos florestais, bens e documentos
apreendidos, ao requerente ou seu procurador, sem sequer nomeá-los como depositários
fiéis, tudo nos seguintes termos:

“Assim, tenho que as provas coligidas revelam, em juízo prévio,


ilegalidade à ameaça ao direito de ir e vir do Paciente, restando presente o
fumus boni iuris e do periculum in mora, em decorrência das provas
acostadas aos autos.
Ante o exposto, DEFIRO, EM PARTE, a liminar para:
a) determinar a competência desta 4ª Vara Criminal Federal
Especializada da Seção Judiciária do Estado do Pará, nos termos do art.
109, IV, da Constituição Federal c/c arts. 70 e 78, II, a, ambos do CPP, para
processar e julgar o presente feito.
b) determinar a imediata suspensão do andamento do Inquérito
Policial em relação ao Paciente e sua empresa MDP Transportes Eireli, até
decisão final;
c) determinar a restituição das balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II,
PORTO SEGURO DA AMAZÔNIA III e do empurrador CAJARANA AIUB e
dos produtos florestais, bens e documentos apreendidos, ao Requerente ou
seu procurador;
d) tornar sem efeito os termos de apreensão 1768455/2020,
1772664/2020, 1774261/2020 e 1768803/2020;

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e) esta decisão serve como salvo conduto para as tripulações e as


embarcações supra, que poderão transportar os produtos florestais até o
destino final, estando livres para comercialização após autorização da
SEMAS/PA;
f) determinar a abstenção da Autoridade Coatora a constranger a
exploração do Projeto de Manejo Florestal Sustentável - PMFS da Fazenda
Imbaúba I, bem como o transporte e comercialização dos produtos
florestais.
Oficie-se a Autoridade Coatora para tomar conhecimento desta
decisão e para adotar as medidas pertinentes referente a restituição dos
bens apreendidos, com urgência.” (Id 4295487, p. 11/12)

Ainda, conforme alega o MPF por petição (Id 420676350 do processo


judicial), os Advogados DANIEL DE CARVALHO MACHADO e VITOR DE ASSIS
VOSS comunicaram o suposto descumprimento da decisão.
Ato contínuo, no dia 21/01/2021, às 21:37:40 horas (Id 421311371 do
processo judicial), o Reclamado fixou multa diária “no MONTANTE DE R$
200.000,00 (duzentos mil reais) POR DIA de descumprimento, pessoalmente, e
separadamente, ao Delegado de Polícia Federal Pablo Michel, ao Superintendente
da Polícia Federal no Amazonas, e a qualquer outro Delegado de Polícia Federal,
Agente de Polícia Federal ou agente de órgão administrativo, que descumprir a
decisão, além de imediata prisão em flagrante, com abertura de inquérito policial, e
comunicação ao órgão corregedor da Polícia Federal ou do respectivo ente
administrativo para abertura de processo administrativo disciplinar”. (Id 4295487, p.
12).
Já no dia seguinte, 22/01/21, às 17:37:09 horas, o Reclamado
proferiu nova decisão nos seguintes termos:

“Diante das novas informações contidas nos autos, através da petição


de ID 422044867, onde os Advogados Daniel de Carvalho Machado e Vitor
de Assis Voss informam que foram impedidos, nesta data, de utilizarem o
salvo conduto concedido através de liminar, pelos APFs Bandeira,

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Cavalcante e Mosqueiro, e que estariam agindo sob a expressa


determinação do Superintendente da Policia Federal do Amazonas,
Delegado Alexandre Silva Saraiva, DEFIRO, em parte, o pedido, para
REQUERER informações do Superintendente da Polícia Federal no
Amazonas, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas interruptos, acerca de:
a) houve orientação do Superintendente da PF no Amazonas para não
cumprir a decisão?
b) houve atuação efetiva dos APFs para o não cumprimento da
decisão?
c) nome completo dos APFs acima para aplicação da multa e outras
medidas cabíveis?
d) os APFs estavam agindo sob orientação de qual Autoridade
Policial?
REITERO que o não cumprimento da decisão já acarretará a
aplicação da multa correspondente, A CADA DIA DE DESCUMPRIMENTO,
ao Superintendente da Polícia Federal no Amazonas e a todos delegados
federais e agentes, que descumprirem a decisão judicial.
Comunique-se com URGÊNCIA, via e-mail à Superintendência da PF
no Amazonas.” (Id 4295487, p. 12/13)

Pois bem!
Especificamente sobre este fato imputado ao Reclamado, tem-se uma
sucessão de atos que demonstram incomum empenho de sua atuação em processo que
coincidentemente se refere a uma operação policial de enorme magnitude, voltada a
crimes ambientais e interesses comerciais certamente milionários de pessoas e
empresas.
A anormalidade da participação do Reclamado no caso se escancara
especialmente quando nele proferiu a primeira decisão, no dia 11 de janeiro de 2021, dia
em que estaria em férias, e após provimento judicial do magistrado competente em
substituição já proferido pela manhã!
Neste aspecto, limito-me a transcrever, porque didaticamente muito bem
exposto pelo Procurador da República José Jairo Gomes (ao proferir parecer perante o
TRF da 1ª Região em Conflito de Competência n. 1002200-60.2021.4.01.0000, tratando

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justamente do caso em tela – Id 4295488, p. 6-16), trechos em que descreve as


circunstâncias em que o pleito chegou ao Poder Judiciário (inicialmente perante o Estado
do Amazonas), e a sucessão de atos anormais praticados pelo Reclamado que de fato
chamam a atenção, em seu todo, pelo inusitado:

3. Compulsando os autos, verifica-se que a Polícia Federal do


Amazonas realizou, no dia 18/11/2020, a abordagem e a apreensão de um
caminhão com toras de madeira, tendo sido lavrado o TCO (Termo
Circunstanciado de Ocorrência) 2020.0115434- SR/PF/AM. De igual modo,
em 15/12/2020, realizou a apreensão de 03 (três) balsas pertencentes à
empresa, com base no Laudo Pericial nº 966/2020 - SETEC/SR/PF/AM,
formalizada nos termos de números 1761333/2020, 1768455/2020,
1772664/2020, 1774261/2020 e 1768803/2020. Segundo consta, tais fatos
deram origem ao IPL nº 2020.0123872-SR/PF/AM.
Em 21/12/2020, a empresa MDP TRANSPORTES EIRELI (inscrita no
CNPJ sob o n. 10.169.211/0001-06) representada por seu sócio
administrador Luciano Ribeiro da Costa, impetrou, perante o Juízo da 9º
Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado do Amazonas, o
mandado de segurança nº 1022351-84.2020.4.01.3200, no qual teve o
pedido liminar negado em 28/12/2020 (id. 407740873 daqueles autos).
Após essa negativa, em 25/01/2021 a referida empresa formulou pedido
de desistência da ação (id. 424078893 daqueles autos).
Pouco tempo depois, Luciano Ribeiro da Costa - mesmo impetrante
do mandado de segurança em trâmite na Seção Judiciária do
Amazonas - na qualidade de paciente, estranhamente também impetrou
habeas corpus perante a 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do
Pará em 08/01/2021 (Processo nº 1000552-82.2021.4.01.3900). Em
primeira apreciação jurisdicional, foi proferida decisão no dia 11/01/2021, às
10:31:39, pelo Juiz Federal Substituto Gilson Jader Gonçalves Vieira
Filho, pela incompetência da 4ª Vara da SJ/PA em favor da Seção
Judiciária do Amazonas, pois “o que determina a competência para
processar e julgar o habeas corpus é a sede da autoridade apontada como
coatora, que, no presente caso, é o Estado do Amazonas, devendo este

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processo ser encaminhado ao Juízo que possui jurisdição naquele Estado”


(id. 411871900 daqueles autos).
Contudo, na mesma data em que proferida a primeira decisão com o
declínio de competência, dia 11/01/2021, à s 12:21 (menos de duas horas
após aquela decisão), consta no PJE que os autos foram novamente
remetidos à conclusão - sem que houvesse qualquer novo
requerimento fundamentando essa providência. Às 13:18:56 hs, foi
protocolado “pedido de reconsideração” pelo impetrante. Logo em
seguida (cerca de 30 minutos depois), ainda no mesmo dia 11/01/2021, às
13:44:26, o Juiz Titular Antônio Carlos Almeida Campelo - registre-se,
com incomum diligência pela agilidade e pronta revogação da decisão
do substituto - decidiu acolher as considerações do paciente e determinar
a permanência do processo na Seção Judiciária do Pará (id. 412609892
daqueles autos). Tal mudança implicou a revogação da decisão
anteriormente proferida pelo Juiz Federal Substituto Gilson Jader Gonçalves
Vieira Filho e a satisfação da pretensão do impetrante, a qual, frise-se, fora
rechaçada na Seção Judiciária do Estado do Amazonas.
Apenas à guisa de registro, não se pode deixar de estranhar o fato de
dois juízes - um substituto e outro titular - responderem simultaneamente
pelos mesmos feitos na mesma vara judicial. Mais ainda quando se verifica,
a partir de documento naquela época extraído do sítio eletrônico do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 26/01/2021, que o Juiz Titular
Antônio Carlos Almeida Campelo estaria, inclusive, no gozo férias entre os
dias 11/01/2021 e 09/02/2021. Confira-se:
[…]
Subsequentemente, em decisão exarada aos 19/01/2021 (id.
418184890 daqueles autos), sem ao menos aguardar a juntada das
informações da autoridade supostamente coatora, o Juiz Titular Antônio
Carlos Almeida Campelo concedeu, em caráter liminar no bojo do aludido
habeas corpus:
(i) a suspensão do andamento do Inquérito Policial em relação ao
paciente e sua empresa MDP Transportes Eireli;

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(ii) a restituição das balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II, PORTO
SEGURO DA AMAZÔNIA III e do empurrador CAJARANA AIUB e dos
produtos florestais, bens e documentos apreendidos;
(iii) tornar sem efeito os termos de apreensão 1768455/2020,
1772664/2020 1774261/2020 e 1768803/2020; (iv) salvo conduto para as
tripulações e as embarcações supra, que poderão transportar os produtos
florestais até o destino final.
[…]
Conforme visto acima, o Juízo da Seção Judiciária do Estado do
Amazonas, em mandado de segurança nº 1022351-84.2020.4.01.3200 -
impetrado pelo mesmo advogado e sócio da pessoa jurídica
investigada que figurou como paciente no habeas corpus em questão -,
houve a negativa do pedido liminar em 28/12/2020 (id. 407740873) daqueles
autos), ocasião na qual operou-se a prevenção daquele órgão julgador.
Vale frisar que o primeiro ato perpetrado pelo Juízo da 4º Vara da
SJ/PA foi aos 11/01/2021, às 10:31:39, justamente pela incompetência em
favor da Seção Judiciária do Amazonas.
Acertado, portanto, o decisum primevo de declínio, uma vez que se
encontra prevento juízo diverso e, ainda, o órgão jurisdicional do Estado
do Pará sequer ostenta competência para suspender ou revogar ato
praticado por autoridade da Polícia Federal do Estado do Amazonas, a
qual não se sujeita a sua jurisdição.
E mais, sendo o objeto do writ justamente o trancamento de
inquérito policial instaurado no Amazonas (IPL nº 2020.0123872-SR/PF/
AM), bem como dos demais procedimentos instaurados pela
autoridade policial do mesmo estado, é indubitável que o ato
supostamente coator - qual seja, a instauração do procedimento
investigativo e dos demais correlatos aos fatos em apuração - ocorreu
naquela entidade federativa.
[…]
A desistência do writ - após decisão desfavorável - impetrado na
Seção Judiciária do Estado do Amazonas sugere a ocorrência de eleição do
foro da 4ª Vara Federal de Belém do Pará pela defesa, o que causa
perplexidade ante a evidente afronta ao princípio do juiz natural.

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A propósito, vale transcrever trechos da manifestação formulada pela


Procuradoria da República do Estado do Pará nos autos do mandado de
segurança nº 1004447-51.2021.4.01.3900, que trata dos mesmos fatos, in
verbis:
[…]
Primeiramente, deve-se registrar que causa espécie a este
órgão ministerial que a impetrante utilize o argumento da
ocorrência de crime de organização criminosa
especializada no tráfico nacional e internacional de
madeira contra si própria, justamente para fixar a
competência da 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de
Belém.
Com efeito, a indicação dos crimes sob investigação no
inquérito policial pelo Delegado de Polícia não prescinde da
avaliação do membro do Ministério Público com atribuição
para controle externo da atividade policial respectiva para a
definição da imputação jurídico-penal a ser formulada e,
assim, também para a definição de eventual competência
ratione materiae. No caso dos autos, a definição sobre a
existência de justa causa, ou não, para o crime de
organização criminosa incumbe ao membro do MPF
oficiante no Amazonas, porquanto dali partiram as
investigações e porque os documentos trazidos pela
impetrante demonstram os vínculos de pessoas
investigadas com o Estado do Amazonas.
Além disso, verifica-se também da Informação de Prevenção
de ID 445076868, que o feito em epígrafe possuía o seguinte
processo como possivelmente prevento: 1004447-
51.2021.4.01.3900.
Consultando-se mencionados autos (cópia parcial anexa),
consta o registro no ID 444375386: “Segue inicial e
respectivos documentos do Mandado de Segurança, que
deve ser distribuído para a 4a vara federal/PA, por
prevenção”. Não obstante, não há qualquer feito indicado

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como determinante da prevenção na 4ª Vara Federal. O feito


fora distribuído à 3ª Vara Federal da Seção Judiciária de
Belém/PA, considerando os elementos preenchidos pela
parte no PJE.
No dia seguinte ao protocolo do mandamus, a Dra. ANNA
CAROLINA MIRANDA DANTAS protocolou, em favor do
impetrante, pedido de desistência do feito (IDs 444914983
e 444938955), realizado em 12/02/2021, às 11:51:21 . Pela
sentença de ID 445034509, o Juízo da 3ª Vara Federal
homologou a desistência do mandado de segurança (em
12/02/2021 14:13:53).
Tão logo o pedido de desistência foi protocolado, a Dra.
ANNA CAROLINA MIRANDA DANTAS, em 12/02/2021,
13:05:30, distribuiu o presente feito, conforme se extrai
da petição inicial de ID 445047865, com o registro
“SEGUE ANEXO MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL,
COM PEDIDO LIMINAR A SER DISTRIBUÍDO À 4ª VARA
FEDERAL DA SJPA.”.
Portanto, verifica-se que a parte elegeu não apenas a
Seção Judiciária do Pará para processar o seu feito,
contrariando a definição de competência com base na
sede funcional da autoridade que exerceu o ato coator,
mas também elegeu a 4ª Vara Federal a tanto, não
permitindo sequer a apreciação, pelo Juízo da 3ª Vara
Federal, de sua própria competência.
Desse quadro, extrai-se o esforço envidado pelos advogados para
fixação da competência para processamento dos feitos na 4ª Vara Federal
Criminal da Seção Judiciária do Pará, já que, ao menos em tese, o órgão
julgador (qualquer que seja ele) deve ser imparcial e equidistante às partes.
Não há razão visível para que haja interesse na fixação de um juízo
específico para conhecimento e julgamento de uma causa, mas apenas na
estrita observância ao ordenamento jurídico.
Ressalta-se que os demais delitos porventura investigados (Lei 9.605,
art. 45) também deverão ser processados no Juízo do Estado do Amazonas

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ante a evidente conexão existente entre eles, notadamente, a instrumental


(CPP, art. 76, III; art. 78, II, "a").
Competente, portanto, o Juízo Federal da Seção Judiciária do
Amazonas para processar e julgar os feitos relacionados ao IPL nº
2020.0123872-SR/PF/AM. (Id 4295488, p. 6/16, destaques do original).

À luz de tais fatos, requisitei ao TRF da 1ª Região a escala de Férias do


Reclamado. Eis o teor:

INFORMAÇÃO
Senhor Presidente,
Em atenção ao Despacho Presi 12754335, informo que consta do
Sistema SARH que o Juiz Federal ANTONIO CARLOS ALMEIDA
CAMPELO marcou na escala do ano de 2021 férias para fruição de
11/01 a 09/02/2021 (2020/2).
Consta ainda do Sistema SARH que o magistrado solicitou via
Sistema de Magistrados (trf1.jus.br), no portal do Tribunal na internet, no dia
27/01/2021, a interrupção das férias a partir de 18/01/2021, com
remarcação do saldo para fruição de 05 a 27/04/2021. Tal solicitação foi
indeferida pelo Juiz Federal CLÁUDIO HENRIQUE FONSECA DE PINA,
Vice-Diretor do Foro da Seção Judiciária do Pará, no dia 28/01/2021, ao
fundamento de "concomitância do período de remarcação (05/04/2021 -
27/04/2021) com as férias do MM. Gilson Jader, JFS da 4ª VF, marcadas
para o período de 22/04/2021 a 11/05/2021."
Posteriormente, em 1º/02/2021, o Juiz Federal ANTONIO CARLOS
ALMEIDA CAMPELO solicitou novamente a interrupção das férias a
partir de 18/01/2021, sob a seguinte justificativa: "Necessidade de
atividades judicantes em face da Correição Ordinária de 2021 na SJPA",
com a remarcação do novo período para 29/03 a 20/04/2021.
A interrupção das férias, com remarcação para nova data, foi deferida
no dia 02/02/2021 pelo Juiz Federal CLÁUDIO HENRIQUE FONSECA DE
PINA, Vice-Diretor do Foro da Seção Judiciária do Pará, ao seguinte
fundamento:

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Atende às diretrizes dos Incisos VI-a e VII do Art. 172 do


Provimento Coger nº 10126799, quanto ao não afastamento
simultâneo de ambos os juízes da Vara e de que "em cada
mês deverão permanecer em exercício, na sessão ou
subseção judiciária, pelo menos metade do número efetivo de
juízes, desconsiderando-se a fração". Relatório de
concomitância de férias para o período de remarcação
requerido pelo magistrado (29/03/2021 - 20/04/2021) alcança
26% no presente momento.
São essas as informações que submeto à consideração superior.
Márcia Bittar Bigonha
Chefe da Assessoria de Assuntos da Magistratura ( no Id 4355019, p.
18, destaquei)

Portanto, segundo tal informe oficial, o magistrado Reclamado iniciou o gozo


das férias por ele mesmo marcadas em 11/01/2021.
Estava em férias e assim prosseguiu até 27/01, quando resolveu pedir sua
interrupção estranhamente com efeitos “a partir de 18/01”. Tal pedido foi indeferido mas
depois, em “pedido de reconsideração”, deferido pelo magistrado Vice-Diretor do Foro.
Este fato, por si só, reputo incomum a justificar também, apuração, o que determinarei ao
final, em separado, no que respeita ao magistrado que assim deliberou. Lado outro, sobre
a conduta do Reclamado em pedir interrupção “retroativa” das férias, tal fato deve fazer
parte da presente apuração.
Sobre tal questão, registro o que dispõe a Resolução CJF 130/2010, no que
se refere à interrupção de férias de magistrado:

Art. 10. As férias poderão ser interrompidas, de ofício, por estrita


necessidade de serviço, a critério do corregedor regional ou do
presidente do tribunal, conforme a competência estabelecida nesta
resolução.
§ 1º A interrupção das férias deverá ser formalizada por ato convocatório
motivado, do qual deverá ter ciência o magistrado afetado.

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§ 2º O gozo do saldo remanescente das férias interrompidas ocorrerá de


forma contínua, seguida a ordem cronológica dos períodos aquisitivos.

Da mesma forma, assim prevê o Provimento COGER 10126799, de


19/04/2020, da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 1ª Região:

Art. 176. As férias somente poderão ser interrompidas por estrita


necessidade do serviço, devidamente explicitada, vedada a interrupção
fundamentada em excesso de processos ou em função de eventos
corporativos ou cursos de aperfeiçoamento não obrigatórios.
§ 1º A interrupção das férias deverá ser formalizada por requerimento ou
ato convocatório motivado, do qual deverá ter ciência o magistrado
afetado.
§ 2º O gozo do saldo remanescente das férias interrompidas ocorrerá de
forma contínua, seguida a ordem cronológica dos períodos aquisitivos.
[...]
Art. 204. Incumbe ao diretor do foro da seção judiciária:
[...]
II – na área de recursos humanos, relativamente aos magistrados vinculados
à seção judiciária, inclusive nos casos de jurisdição prorrogada, analisar e
decidir os pedidos de:
[…]
c) alteração e marcação de férias fora do período da escala;

De todo modo, as férias do Reclamado foram interrompidas apenas em 2 de


fevereiro de 2021, por ato do Vice-Diretor do Foro, com efeitos tão somente a partir
do dia 18 de janeiro, sob a justificativa de “necessidade de atividades judicantes em face
da Correição Ordinária de 2021 na SJPA”.
Portanto, para fins deste específico processo em que atuou anomalamente,
desde o primeiro ato praticado no processo em 11/01/2021, o magistrado se encontrava
em férias e, conquanto já despachado o feito pela manhã daquele dia pelo magistrado
substituto GILSON JADER GONÇALVES VIEIRA FILHO, o Reclamado, em ação

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totalmente incomum, passou a atuar no feito para, na mesma data, revogar a decisão do
substituto, conhecer do feito e acolher a pretensão da parte.
Repita-se, durante o exercício de suas férias, sem estar no exercício da
jurisdição, proferiu diversas decisões, sem a devida prudência e cautela, entremostrando
parcialidade. E mais: em férias, revogou decisão do juiz substituto proferida na mesma
data, horas antes.
Outrossim, em seu pedido de interrupção das férias, ao menos do
documentos coligidos, não se verifica demonstração de estrita necessidade do serviço,
devidamente explicitada, o que pode vir a caracterizar, em tese, desvio de finalidade no
ato, justamente para lhe possibilitar prosseguir na condução daquele feito.
Tais fatos, atrelados à informação de possível relação indevida com
advogados, devem ser investigados por caracterizarem, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

12º FATO: Autos 1005918-05.2021.4.01.3900. Medida Cautelar Inominada


Criminal. Nova decisão proferida pelo Reclamado em favor dos indiciados na
Operação Handroanthus GLO referida no item anterior. Mesmo cônscio de que o habeas
corpus (no qual o Reclamado deferiu a liberação da madeira) estava sob reexame
do TRF da 1ª Região, mormente no que tange à competência do Juízo Federal do
Pará, e ainda consciente de decisão suspendendo o mencionado HC, proferida por
Desembargador Federal em plantão no TRF da 1ª Região, o Reclamado deferiu nova
liminar em “medida cautelar” em favor dos indiciados.

Alega o MPF que o Reclamado proferiu decisão nos autos da Medida


Cautelar n. 1005918-05.2021.4.01.3900 ajuizada pelo mesmo impetrante anteriormente
direcionado a esse Juízo, o qual, não obstante decisão liminar que suspendeu decisões
anteriores por ele prolatadas para liberar toda a carga objeto e materialidade dos graves
crimes apurados pela Polícia Federal, concedeu em parte medida liminar e determinou
uma série de medidas por parte da Polícia Federal para obstar o envio dos bens

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apreendidos ao Juízo competente – Foro Criminal Federal de Manaus-AM (cópia nestes


autos no Id 4294588, p. 17-20).
Pelo exame perfunctório da mencionada decisão, assinada eletronicamente
em 01/03/2021, nota-se que o magistrado a proferiu ciente de que tratava-se de medida
cautelar atrelada ao habeas corpus que se encontrava sob exame perante o TRF da 1ª
Região, cujo andamento foi suspenso por determinação do Desembargador Federal
plantonista.
Eis o teor da decisão do Reclamado:

Trata-se de MEDIDA CAUTELAR INOMINADA, com pedido de liminar,


ajuizada por LUCIANO RIBEIRO DA COSTA e MDP TRANSPORTES
EIRELI, destinada a impedir ações ilegais da Superintendência Regional de
Polícia Federal do Amazonas, no âmbito da Operação Handroanthus-GLO.
Informou que a mesma operação policial está sendo questionada no
habeas corpus nº 1000552- 82.2021.4.01.3900, que, por sua vez, foi
distribuído a este Juízo titular da 4ª Vara Federal da SJPA, em 08/01/2021, e
encontra-se, atualmente, no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Arguiu que, em 15/12/2020, equipes da Polícia Federal do Amazonas,
capitaneadas pelo DPF LEANDRO ALMADA DA COSTA, estavam vigiando
uma balsa de combustível também apreendida e localizada na boca do Rio
Mamuru, quando teriam identificado que a embarcação
rebocador/empurrador CAJARANA AIUB teria iniciado deslocamento com as
balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II e PORTO SEGURO DA AMAZÔNIA III,
todas carregadas com toras de madeira do PMFS FAZENDA IMBAÚBA I (de
propriedade dos Peticionantes), o qual – de acordo com o Laudo nº
966/2020 SETEC/SR/PF/AM – estaria irregular. Posteriormente, procedeu-
se a apreensão das embarcações, do produto vegetal e abertura do
Inquérito Policial nº 2020.0123872-SR/PF/AM.
Alegou que os peticionantes impetraram o citado habeas corpus para
suspender o IPL e, em consequência, transportar a carga vegetal
apreendida até seu destino, onde então seria vistoriada pelo órgão
licenciador (SEMAS-PA). Contudo, mesmo com conhecimento acerca da
decisão que deferiu a liminar, a Autoridade Policial recusou-se a cumpri-la.

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Tendo, posteriormente, o Ministério Público Federal arguido conflito de


competência teratológico entre essa 4ª Vara Federal Criminal da SJ/PA
com a 7ª Vara Federal Cível da SJ/AM.
No TRF/1ª Região, o Desembargador Federal plantonista
determinou a suspensão do andamento do processo do Habeas
Corpus até definição, pelo Desembargador Relator natural, de qual
seria o Juízo competente para julgamento do feito.
Ainda, alega que à Polícia Federal do Amazonas continua na posse
dos bens apreendidos, que encontravam-se sob a guarda de fiéis
depositários nas localidades dos respectivos PMFS, e os encaminhado para
Manaus-AM, bem como tem procedido a novas apreensões de bens e os
transportando sem qualquer flagrante ou ordem judicial.
Por fim, arguiu que um Ferryboat capitaneado pela Polícia Federal
está na região de ParintinsAM para recolher os bens da empresa MDP,
inclusive aqueles nas balsas apreendidas, para Manaus, há mais de 7 dias
de viagem do destino final da carga (Belém-PA).
Acostam aos autos diversos documentos para corroborar com as
alegações (fls. 13/117). Conclusos,
DECIDO.
O poder geral de cautela encontra-se previsto no art. 3º do CPP c/c o
art. 798 do CPC. Deste modo, presentes os requisitos fundamentais das
cautelares, é viável a utilização de medidas cautelares inominadas, haja
vista ser irrazoável ao magistrado quedar-se inerte, permitindo lesão à
ordem jurídica, por ausência de previsão legal da medida.
Embora na ação cautelar não se proceda a apreciação e decisão
acerca da ação principal, mister se faz que, para que se julgue a ação
cautelar fiquem demonstrados os aspectos de verossimilhança do direito
cautelar perseguido e um juízo de probabilidade de vitória da tese suscitada
na ação principal. É o que se denomina de fumus boni iuris (elementos da
impetração que indiquem a existência de ilegalidade no constrangimento) e
periculum in mora (a probabilidade de dano irreparável).
Não restam dúvidas acerca da legitimidade do pedido formulado pelos
peticionantes, uma vez que os documentos acostados aos autos

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demonstram patente arbitrariedade por parte da Autoridade Policial na


apreensão dos bens informados nos autos.
Segundo alegação dos impetrantes, a Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Sustentabilidade do Pará - SEMAS/PA expediu Guia Florestal
para Transporte de Madeira em Toras - GF1 nº 628129, tendo como
Remetente MDP Transportes EIRELI - Faz. Imbaúba I (com sede em Juruti),
tendo como destinatário Rio Negro Ind. Comércio e Exportação EIBERELI -
ME (com sede em Belém/PA), para o transporte de Hymenolobium petraeum
Ducke, com nome popular de Angelimpedra, Tora, quantidade de 41,4834,
unidade M3, com datas de emissão em 20/11/2020 e de vencimento em
04/01/2021.
Conforme Laudo nº 966/2020 (fls. 52/70), o processo integral referente
ao Projeto de Manejo Florestal Sustentável da Fazenda Imbaúba I não foi
objeto de perícia. Não constando, desta forma, prova quanto a eventual
irregularidade ou ilegalidade por parte do Paciente.
Assim, tenho que as provas coligidas revelam, em juízo prévio,
ilegalidade à ameaça ao direito de ir e vir do Paciente, restando presente o
fumus boni iuris e do periculum in mora, em decorrência das provas
acostadas aos autos.
Ante o exposto, CONCEDO, EM PARTE, A MEDIDA LIMINAR para
determinar que:
a) não seja realizada nenhuma alteração do estado dos bens
apreendidos, até decisão final do Tribunal Regional Federal da 1ª Região no
Habeas Corpus nº 1000552-82.2021.4.01.3900, devendo, assim, qualquer
Autoridade Policial se abster de conduzir ou transportar qualquer bem
relacionado à atividade extrativista, como toras de madeira em pátio,
insumos, maquinário, bens de transportes, etc. da empresa MDP
TRANSPORTES EIRELI, de seus funcionários e prestadores de serviço,
bem como aqueles que são objeto do HC nº 1000552-82.2021.4.01.3900,
quais sejam: a embarcação rebocador/empurrador CAJARANA AIUB, as
balsas COPA 2014 I, COPA 2014 II e PORTO SEGURO DA AMAZÔNIA III,
as toras de madeira sobre as balsas e qualquer bem no PMFS Fazenda
Imbaúba I;

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b) seja a Superintendência da Polícia Federal do Amazonas intimada


através de seus e-mails institucionais: protocolo.selog.sram@pf.gov.br
(protocolo), gab.sram@pf.gov.br (gabinete do Superintendente), sendo
considerada intimada na data e horário de envio do email;
c) a comunicação ao Delegado Geral da Polícia Federal, acerca do
teor desta decisão, através de ofício encaminhado ao endereço SAUS
Quadra 6, Bloco A, Lotes 9/10 - Edifício-Sede da PF, 9º Andar, 916, Brasília,
DF, CEP 70037-900 e pelos e-mails protocolo.sera.dlog@pf.gov.br (Direção
Geral) e direx@dpf.gov.br (Diretoria Executiva);
d) a intimação do Comando Militar do Norte, na pessoa do General de
Brigada Marcelo Pereira Lima de Carvalho, através do endereço Avenida
Coronel Teixeira, 6800 - Ponta Negra - Manaus (AM) - CEP 69.037-000, e
pelo e-mail institucional chem@2gpte.eb.mil.br, para que se abstenha de dar
qualquer tipo de apoio (logístico, operacional ou de pessoal) à Polícia
Federal no que tange a apreensão e remoção de bens relativos a Operação
Handroanthus-GLO no Pará;
Notifique-se à Autoridade Policial acerca desta decisão, bem como
para apresentar resposta a inicial, no prazo de 5 (cinco) dias.
Ciência ao Ministério Público Federal. (Id 4295488, p. 18-20,
destaquei)

Destarte, mesmo sabedor o Reclamado de que sua decisão que liberou as


mercadorias em habeas corpus estava sob reexame do TRF da 1ª Região, mormente no
que tange à competência do Juízo Federal do Pará, e ainda consciente também da
existência de decisão suspendendo o mencionado HC, proferida por Desembargador
Federal em plantão, não titubeou em conceder medida cautelar em favor dos mesmos
interessados no HC, cujo teor lhes beneficiava.
Tais fatos, atrelados à informação de possível relação indevida com
advogados, devem ser investigados por caracterizarem, em tese, violação dos deveres da
imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam os arts. 8º,
9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no inciso I do
art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.

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III – Conclusão e determinações.

Como já destaquei em decisão (Id 4257292), in casu, todas essas condutas


chamam a atenção, porque praticadas com modus operandi semelhante, por consistirem
em decisões, algumas incomuns, proferidas em causas emblemáticas – que, pela sua
natureza, recomendariam ainda maior rigor de prudência e cautela do magistrado – ,
muitas delas durante Plantão – momento de extraordinário exercício da jurisdição,
reservado a hipóteses de urgência normativamente descritas, também, por este motivo, a
exigir acurada análise de seu cabimento pelo juiz – ou ainda em momentos de
substituição temporária.
Registro ainda que o MPF argumenta que a apuração poderá também
revelar supostos relacionamentos de amizade do magistrado com determinados
advogados que atuam nessas causas e, sobre esses fatos sugere o Parquet seja ouvida a
Sra. KARINA CORREIA, Delegada de Polícia Civil no Estado do Pará e ex-esposa do
Magistrado (Id 4295487, p. 9).
Conforme ainda alega o MPF, realmente os fatos acima são suficientes,
diante do histórico de situações semelhantes que envolvem a atuação do Juiz CAMPELO,
para ensejar ampla apuração que poderá analisar todos os autos acima indicados.
Cumpre explicitar os limites da atuação disciplinar, quando questionada a
legitimidade de decisões judiciais. Em regra, em atenção ao disposto no art. 41 da Lei
Orgânica da Magistratura Nacional, salvo os casos de impropriedade ou excesso de
linguagem o magistrado não pode ser punido ou prejudicado pelas opiniões que
manifestar ou pelo teor das decisões que proferir.
Entretanto, como muito bem leciona a Ministra NANCY ANDRIGHI 1, é
legítima a apuração, quando fatores externos ao processo possam gerar dúvida razoável
e concreta sobre a devida atuação imparcial e independente. Aponta-se, como exemplos
de fatores externos, as decisões tomadas em plantão judicial, fora do horário normal de
expediente, em situações de substituição do juiz ou em atuações questionáveis sob a
ótica do juiz natural, assim como possíveis ligações das partes e/ou advogados com o
juiz.
1
Corregedoria Nacional de Justiça: Organização e Procedimentos. / Adílio Tonet [el. aI.];
coordenação Nancy Andrighi. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017; p. 35/36.

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Dito isso, compulsando os autos, tenho que estão devidamente instruídos,


devendo o Reclamado ser intimado para que apresente Defesa Prévia, em atenção ao
disposto no art. 70 do Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça.
Ainda que, por certo, não seja sindicável na via correcional o conteúdo
individual de cada uma dessas decisões, o conjunto dos fatos extraído das circunstâncias
em que proferidas, durante o gozo de férias, ou em processos em que atuava
excepcionalmente, durante férias ou mesmo curta ausência de outro magistrado,
acrescido da magnitude dos casos, e ainda atrelado à informação de possível relação
indevida com advogados, devem ser investigados por caracterizar, em tese, violação dos
deveres da imparcialidade, serenidade, exatidão, prudência e cautela de que tratam
os arts. 8º, 9º, 24 e 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional, além do disposto no
inciso I do art. 35 da LOMAN a indicar possível infração disciplinar.
Destarte, faz-se necessário o aprofundamento das investigações, tanto dos
fatos trazidos pelo Juiz Federal Rubens Rollo e já apurados pela Corregedoria Regional
do TRF da 1ª Região, quanto aqueles trazidos pelo Ministério Público Federal, e ainda,
em separado, as circunstâncias em que suspensas as férias do reclamado pelo juiz
federal CLÁUDIO HENRIQUE FONSECA DE PINA, Vice-Diretor do Foro da Seção
Judiciária do Pará.

Ante o exposto, determino:

a) a expedição de CARTA DE ORDEM ao Presidente do Tribunal Regional


Federal da 1ª Região, com prazo de 5 dias, para que promova a intimação pessoal do
Reclamado ANTONIO CARLOS ALMEIDA CAMPELO, a fim de que, querendo, apresente
defesa prévia, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 70, caput, do RICNJ, c/c o
art. 14 da Resolução n. 135/CNJ e art. 27, § 1º, da LC 35/79 (Loman), relativamente a
todos os fatos descritos na presente na presente decisão, encaminhando-lhe cópia desta
e garantindo-lhe pleno acesso aos autos.
b) a intimação da Corregedoria Regional do TRF da 1ª Região, para que
instaure um procedimento para apurar, pormenorizadamente, a forma com que
autorizada, pelo magistrado CLÁUDIO HENRIQUE FONSECA DE PINA, Vice-Diretor do

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Foro da Seção Judiciária do Pará, a interrupção das férias do Reclamado que


originalmente as havia escalado para 11/01 a 09/02/2021 (2020/2), o que teria sido
inicialmente indeferido mas, posteriormente, deferido e ainda com “data retroativa”,
encaminhando o resultado da apuração em Pedido de Providências autônomo
exclusivamente para este fim perante esta Corregedoria Nacional de Justiça no prazo de
30 (trinta) dias.
Intimem-se.
Brasília, data registrada no sistema.

Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


Corregedora Nacional de Justiça

A46/Z09/Z06/Z01

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