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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO E.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL vem, respeitosamente, com


fundamento nos arts. 103, V, 125, §2o, da Constituição Federal, 8°, I, “n” da Lei Federal n.
11.697/2008 e nas razões a seguir aduzidas, ajuizar

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE,


com pedido de concessão de medida cautelar,

contra a Resolução 304, de 7 de março de 2017, do Tribunal de Contas do Distrito Federal, a


qual concede, sem previsão em lei distrital, vantagem remuneratória ao Ministério Público que
atua junto àquele Tribunal, em ofensa aos artigos 1º, 19, IX e XII, 71, IV, 84, IV, da Lei Orgânica
do Distrito Federal.

Requerente: Governador do Distrito Federal


Objeto: Íntegra da Resolução 304, de 07 de março de 2017 - TCDF.
Parâmetro de controle: artigos 1º, 19, caput, IX e XII, 71, IV, 84, IV, da LODF.

I – NORMA IMPUGNADA

A presente ação objetiva a declaração de inconstitucionalidade da Resolução


304/2017 - TCDF, que possui o seguinte teor:
RESOLUÇÃO Nº 304, DE 7 DE MARÇO DE 2017.
Dispõe sobre a gratificação pelo exercício cumulativo de ofícios no
âmbito do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do
Distrito Federal, nos termos da Lei nº 13.024/2014.
A PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO
FEDERAL, no uso da competência que lhe confere o art. 16, inciso
L, do Regimento Interno, tendo em vista o decidido pelo egrégio
Plenário na Sessão Administrativa nº 917, realizada em 7 de março
de 2017, bem como o constante do Processo nº 10175/16-e, e
Considerando o art. 130 da CF/88, o art. 52 do Regimento Interno
do TCDF e as disposições da Lei nº 13.024/2014, resolve:
Art. 1º A gratificação de que trata a Lei nº 13.024/2014 será devida
aos Procuradores do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas
do Distrito Federal que forem designados em substituição por
período superior a 3 (três) dias úteis.
§ 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se também no caso de
acumulação decorrente de vacância.
§ 2º A percepção da gratificação dar-se-á sem prejuízo das outras
vantagens cabíveis previstas em lei.
§ 3º As designações para substituição, para fins do caput, deverão
recair em Procurador específico, vedados o pagamento em caso de
designação simultânea e o rateio da gratificação.
§ 4º Não será devido o pagamento de mais de uma gratificação pelo
acúmulo simultâneo de ofícios.
Art. 2º O valor da gratificação corresponderá a 1/3 (um terço) do
subsídio do Procurador designado para cada 30 (trinta) dias de
substituição e será pago pro rata temporis, computado todo o tempo
de substituição cumulativa.
Art. 3º Não será devida a gratificação nas seguintes hipóteses:
I - substituição em feitos determinados;
II - atuação conjunta;
III - atuação em regime de plantão;
IV - atuação durante o período de gozo do abono pecuniário de que
trata o § 3º do art. 220, segunda parte, da Lei Complementar nº
75/93.
Art. 4º Não será devido pagamento de mais de uma gratificação
pelo acúmulo simultâneo de mais de uma Procuradoria.
Art. 5º O Colégio de Procuradores estabelecerá em ato próprio a
forma de substituição de Procuradorias no âmbito do Ministério
Público junto ao Tribunal de Contas do Distrito Federal, para fins de
aplicação desta Resolução.
Art. 6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Como se observa, por ato administrativo, estendeu-se vantagem remuneratória
dos integrantes do Ministério Publico da União aos membros do Ministério Público junto ao
TCDF, sem previsão em lei distrital.

II – CABIMENTO DA ADI

Nos termos do artigo 8º, I, “n”, da Lei Federal nº 11.697/2008, compete a esse e.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) julgar ação direta de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal, quando o parâmetro de
controle é a Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF).[1]
No presente caso, o objeto da ação é a Resolução 304/2017 - TCDF, que se
qualifica como ato normativo, na medida em que cria vantagem remuneratória a determinada
categoria de servidores – membros do Ministério Público de Contas –, em indevido exercício da
função reservada com exclusividade ao Poder Legislativo.
O ato administrativo em questão é passível, portanto, de impugnação em ação
direta de inconstitucionalidade, conforme jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal,
ilustrada pelos seguintes precedentes:

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Ato normativo


baixado pela Presidência do Superior Tribunal de Justiça, em
18 de dezembro de 1997, nos autos do Processo STJ nº 2400/97.
Instituição de gratificação de representação mensal
correspondente ao percentual de 85% (oitenta e cinco por cento) do
valor das remunerações das funções comissionadas FC-6, FC-5 e
FC-4, considerando-se, para efeito de cálculo dos valores anuais da
representação mensal, os valores constantes dos anexos V, VI e VII,
bem como o disposto no art. 4º, § 2º, todos da Lei nº 9.241/96.
Aumento remuneratório. Vício formal. Ausência de lei específica.
Ação julgada procedente. 1. A instituição de gratificação
remuneratória por meio de ato normativo interno de Tribunal
sempre foi vedada pela Constituição Federal de 1988, mesmo antes
da reforma administrativa advinda com a promulgação da Emenda
Constitucional nº 19/1998. 2. A utilização do fundamento de
isonomia remuneratória entre os diversos membros e servidores dos
Poderes da República, antes contida no art. 39, § 1º, da Constituição
Federal, não prescindia de veiculação normativa por meio de lei
específica, mesmo quando existente dotação orçamentária
suficiente. Ofensa ao art. 96, II, b, da Constituição Federal.
Precedentes. 3. Ação que se julga procedente. (ADI 1776,
Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
04/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-196 DIVULG 07-10-
2014 PUBLIC 08-10-2014)
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de liminar.
Arguição de inconstitucionalidade da Decisão Administrativa
16.117/91 do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
que determinou o pagamento, aos magistrados e funcionários da
referida Corte, da diferença acumulada do reajuste de vencimentos
de julho de 1987 pelo IPC, índice de 26,06% retroativo ao período
de julho de 1987 a novembro de 1989. - Caráter normativo da
Decisão Administrativa em causa. - Não-ocorrência da perda do
objeto do pedido de liminar. - Ocorrência, no caso, de relevância do
fundamento jurídico do pedido e do requisito da conveniência em se
conceder a liminar. Liminar deferida, para suspender, "ex nunc", a
eficácia da Decisão Administrativa nº 16.117 do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e Territórios, publicada no DJU de 06.08.92.
(ADI 1352 MC, Relator(a): MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno,
julgado em 05/10/1995, DJ 14-05-2001 PP-00189 EMENT VOL-
02030-01 PP-00177 REPUBLICAÇÃO: DJ 18-05-2001 PP-00063).

Depreende-se, ainda, do acórdão que julgou procedente o pedido formulado na


ADI 1352:
“Registre-se, preliminarmente, que as decisões administrativas que
concedem aumento de vencimentos de forma geral, dando
efetividade à função normativa ordinariamente imputável aos atos
estatais em favor de todos os membros e servidores integrantes do
aparelho judiciário local, ostenta nítida feição criativa de direitos, a
ensejar, na linha de diversos precedentes desta Corte, o cabimento
da ação direta de inconstitucionalidade (nesse sentido: ADI 681,
Rel. Ministro Néri da Silveira, DJ 30.04.1992)”. (ADI 1352,
Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
03/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-056 DIVULG 28-03-
2016 PUBLIC 29-03-2016)

Como se observa, é indubitável o cabimento de ADI contra atos administrativos,


veiculados em resoluções ou em outros instrumentos, que concedem vantagem remuneratória a
certa categoria, mesmo que a título de equiparação, vez que tais atos ostentam caráter
normativo.
O parâmetro para o controle abstrato de constitucionalidade invocado é a Lei
Orgânica do Distrito Federal, mais precisamente os artigos 1º, 19, cabeça, IX e XII, 71, IV e 84,
IV, a evidenciar a competência desse e. Conselho Especial para a apreciação da causa.
Por fim, a legitimidade ativa do Governador do Distrito Federal para a propositura
de ADI junto a esse e. TJDFT assenta-se no art. 8º, §2º, I, da mencionada Lei Federal nº
11.697/2008.[2]
Cabível, portanto, a presente ação direta de inconstitucionalidade.
III – INCONTITUCIONALIDADE DE CONCESSÃO DE VANTAGEM
REMUNERATÓRIA POR ATO INFRALEGAL. DESRESPEITO À RESERVA DE LEI
FORMAL.

Ao instituir a gratificação de substituição para os Procuradores do Ministério


Público de Contas local, a título de equiparação aos membros do Ministério Público da União, a
resolução impugnada incorre em inconstitucionalidade patente, por afronta aos artigos 1º, 19,
cabeça, IX e XII, 71, IV, e 84, IV, da LODF, que assim dispõem:

Art. 1° O Distrito Federal, no pleno exercício de sua autonomia


política, administrativa e financeira, observados os princípios
constitucionais, reger-se-á por esta Lei Orgânica.

Art. 19. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos


poderes do Distrito Federal obedece aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, motivação,
participação popular, transparência, eficiência e interesse público, e
também ao seguinte: (Artigo alterado(a) pelo(a) Emenda à Lei
Orgânica 106 de 13/12/2017)

IX – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que


trata o art. 33, § 5º, somente podem ser fixados ou alterados por lei
específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices; (Inciso alterado(a) pelo(a) Emenda à Lei
Orgânica 80 de 31/07/2014)

XII – é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies


remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço
público; (Inciso alterado(a) pelo(a) Emenda à Lei Orgânica 80 de
31/07/2014)

Art. 71. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a


qualquer membro ou comissão da Câmara Legislativa, ao
Governador do Distrito Federal e, nos termos do artigo 84, IV, ao
Tribunal de Contas do Distrito Federal, assim como aos cidadãos,
na forma e nos casos previstos nesta Lei Orgânica.

IV – ao Tribunal de Contas, nas matérias do art. 84, IV, e do art.


86; (Inciso acrescido(a) pelo(a) Emenda à Lei Orgânica 86 de
27/02/2015)

Art. 84. É da competência exclusiva do Tribunal de Contas do


Distrito Federal:
IV - propor à Câmara Legislativa a criação, transformação e
extinção de cargos e a fixação dos respectivos vencimentos;

Como se observa, reproduzindo normas presentes na Constituição Federal, a Lei


Orgânica determina que, somente por lei distrital específica, de iniciativa do Tribunal de
Contas do Distrito Federal, é possível conceder vantagens remuneratórias aos servidores
daquele órgão de controle, sendo vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias.
É indubitável que os procuradores beneficiários da gratificação instituída são
servidores do TCDF, vez que os Ministérios Públicos de Contas integram a estrutura dos
Tribunais de Contas aos quais se encontram vinculados, e não a estrutura do Ministério
Público da União ou dos Estados, tampouco caracterizam-se como órgãos autônomos, conforme
já assentado pelo Supremo Tribunal Federal:
“(...)- O Ministério Público junto ao TCU não dispõe de
fisionomia institucional própria e, não obstante as expressivas
garantias de ordem subjetiva concedidas aos seus Procuradores
pela própria Constituição (art. 130), encontra-se consolidado na
"intimidade estrutural" dessa Corte de Contas, que se acha
investida - até mesmo em função do poder de autogoverno que lhe
confere a Carta Politica (art. 73, caput, in fine) - da prerrogativa de
fazer instaurar o processo legislativo concernente a sua organização,
a sua estruturação interna, a definição do seu quadro de pessoal e a
criação dos cargos respectivos. (...) (ADI 789, Relator(a): CELSO
DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 26/05/1994, DJ 19-12-
1994)

“O art. 130 da Constituição, de outro lado, criou, para os próprios


Tribunais de Contas, no que concerne a esse qualificado corpo de
agentes estatais que perante eles atua, uma série de restrições
específicas.
Com efeito, o preceito constitucional mencionado fez instaurar uma
realidade normativa que, não podendo ser ignorada pelas Cortes de
Contas às quais esses servidores, ainda quem em regime
jurídico especial, se acham formalmente vinculados,
condicionou-as em sua ação administrativa, pois, distinguindo-os
dentro do universo do funcionalismo público, atribuiu-lhes os
predicamentos da vitaliciedade, da inamovibilidade e da
irredutibilidade de vencimentos. (...)
Ainda que designado sob esse “nomen juris” – Ministério
Público especial junto aos Tribunais de Contas –, é preciso
enfatizar que os membros que o compõem vinculam-se à
estrutura administrativa dessas Cortes de Contas e qualificam-
se, embora submetidos a um especial regime jurídico, como agentes
integrantes do próprio Quadro de Pessoal desses Tribunais (...)”
(ADI 2378, Relator(a): MAURÍCIO CORRÊA, Relator(a) p/
Acórdão: CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
19/05/2004, DJ 06-09-2007. Grifos diferentes do original)

Como se observa, os membros dos Ministérios Público de Contas são servidores


dos Tribunais de Contas, embora sejam dotados das garantias próprias necessárias para o
desempenho de suas relevantes funções. Compete, assim, aos Tribunais de Contas, e não ao
Ministérios Públicos de Contas, deflagrar o processo legislativo de normas que versem sobre a
remuneração dos Procuradores. É o que restou decidido pelo Supremo Tribunal Federal, como se
extrai das seguintes passagens, do voto do ministro Celso de Mello, condutor do acórdão
proferido na mencionada ADI 2378-MC:

“Vê-se, daí, que o Ministério Público especial junto aos Tribunais


de Contas não dispõe de fisionomia institucional própria e, não
obstante as expressivas garantias de ordem subjetiva concedidas aos
seus Procuradores pela própria Constituição, encontra-se ele
consolidado ‘na intimidade estrutural’ dessas Cortes de Contas,
que se acham investidas – até mesmo em função do poder de
autogoverno que lhes conferiu a Carta Política (art. 73, caput,
“in fine”, c/c o art, 75) – da atribuição de fazer instaurar o
processo legislativo concernente à sua organização, à sua
estruturação interna, à definição do seu quadro de pessoal e à
criação dos cargos respectivos.
Na realidade, as prescrições constantes do art. 127, §2º, da
Constituição[3] – que só dizem respeito ao Ministério Público
referido no art. 128 do texto constitucional – não se aplicam ao
Ministério Público especial junto aos Tribunais de Contas, pela
singular circunstância de que esse “Parquet” continua sendo, na
linha da tradição jurídica consagrada pela prática republicana,
parte integrante da própria estruturação orgânica dessas
Cortes de Contas”.

Nesse contexto, em observância ao princípio da legalidade estrita que rege a


remuneração dos servidores públicos – tal como prescrevem os artigos 19, caput, IX e XII, 84,
IV, e 71, IV, da LODF – a gratificação de substituição em questão, criada por lei federal para os
integrantes do Ministério Público da União, somente poderia ser incorporada ao ordenamento
jurídico local, de forma a ser estendida aos Procuradores do MPjTCDF, por meio de lei
distrital, em sentido formal, de iniciativa do TCDF, editada no exercício legítimo da
autonomia política, administrativa e financeira do Distrito Federal (artigo 1º da LODF).
Sob o ângulo constitucional, é terminantemente vedado estender-se, quer por ato
administrativo, quer por decisão judicial, vantagem remuneratória a uma determinada
categoria de servidores, mesmo que a título de equiparação ou respeito à isonomia, consoante
pacífico entendimento do Supremo Tribunal Federal.
Eis alguns precedentes que bem ilustram a jurisprudência da Suprema Corte a
propósito da proibição constitucional de se instituir ou estender qualquer verba remuneratória
para servidor público por meio de ato administrativo:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.


SERVIDOR PÚBLICO: REMUNERAÇÃO: RESERVA DE LEI.
CF, ART. 37, X; ART. 51, IV, ART. 52, XIII. ATO CONJUNTO Nº
01, DE 05.11.2004, DAS MESAS DO SENADO FEDERAL E DA
CÂMARA DOS DEPUTADOS. I. - Em tema de remuneração dos
servidores públicos, estabelece a Constituição o princípio da
reserva de lei. É dizer, em tema de remuneração dos servidores
públicos, nada será feito senão mediante lei, lei específica. CF,
art. 37, X, art. 51, IV, art. 52, XIII. II. - Inconstitucionalidade formal
do Ato Conjunto nº 01, de 05.11.2004, das Mesas do Senado
Federal e da Câmara dos Deputados. III. - Cautelar deferida.
(ADI 3369 MC, Relator(a): CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
julgado em 16/12/2004, DJ 18-02-2005 PP-00005 EMENT VOL-
02180-04 PP-00782 LEXSTF v. 27, n. 316, 2005, p. 116-124 RTJ
VOL-00192-03 PP-00901)

EMENTA: Gratificação de representação mensal: sua instituição


por norma administrativa do Superior Tribunal de Justiça para
os seus servidores, inativos e pensionistas, fundado em que
vantagem correspondente fora atribuída aos seus por resoluções
do Senado Federal e da Câmara dos Deputados e do Tribunal
de Contas da União: densa plausibilidade da argüição de sua
inconstitucionalidade a impor sua suspensão cautelar, malgrado
a justiça da sua inspiração. (...)
II. Isonomia constitucional vs proibição de equiparação ou
vinculação de vencimentos. 3. O art. 39, § 1º, da Constituição - "A
Lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de
vencimentos para cargos de atribuições assemelhadas do mesmo
Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário..." - é princípio explicitamente dirigido ao legislador e,
portanto, de efetividade subordinada à sua observância recíproca
pelas leis de fixação dos vencimentos dos cargos de atribuições
iguais ou assemelhadas: é que a Constituição mantém a
proibição, vinda de 1967, de vinculações ou equiparações de
vencimentos (CF 88, art. 37, XIII), o que basta para elidir
qualquer ensaio - a partir do princípio geral da isonomia - de
extrair, de uma lei ou resolução atributiva de vencimento ou
vantagens determinadas a um cargo, força bastante para
estendê-los a outro cargo, por maior que seja a similitude de sua
posição e de suas funções. 4. Daí que, segundo a invariável
orientação do STF, o princípio constitucional da isonomia do art.
39, § 1º não elide o da legalidade dos vencimentos do servidor
público, mas, ao contrário, dada a proibição pelos textos posteriores
da equiparação ou vinculação entre eles, reforça a Súmula 339,
fruto da jurisprudência já consolidada sob a Constituição de 1946,
que não continha tal vedação expressa. (...) (ADI 1776 MC,
Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
18/03/1998, DJ 26-05-2000 PP-00024 EMENT VOL-01992-01 PP-
00033)

No que diz respeito à proibição de se estender vantagens pela via jurisdicional, a


iterativa jurisprudência da Suprema Corte resultou na edição do Verbete 339/STF e,
posteriormente, do Verbete Vinculante 37/STF, o qual preconiza que “não cabe ao Poder
Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o
fundamento de isonomia”.
Aliás, a exigência constitucional de lei em sentido formal para concessão de
vantagem remuneratória não é nova, conforme bem revela o seguinte precedente do e. STF:
“A questão central a ser discutida nestes autos refere-se à
possibilidade de o Poder Judiciário ou a Administração Pública
aumentar vencimentos ou estender vantagens a servidores públicos
civis e militares, regidos pelo regime estatutário, com fundamento
no princípio da isonomia, independentemente de lei.
Inicialmente, salienta-se que, desde a Primeira Constituição
Republicana, 1891, em seus artigos 34 e 25, já existia
determinação de que a competência para reajustar os
vencimentos dos servidores públicos é do Poder Legislativo, ou
seja, ocorre mediante edição de lei. Atualmente, a Carta Magna de
1988, artigo 37, X, trata a questão com mais rigor, uma vez que
exige lei específica para o reajuste da remuneração de servidores
públicos.
A propósito, na Sessão Plenária de 13.12.1963, foi aprovado o
enunciado 339 da Súmula desta Corte, cuja redação é:
“Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem a função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de
isonomia”.
Dos precedentes que originaram essa orientação jurisprudencial
sumulada, resta claro que esta Corte, pacificou o entendimento no
sentido de que aumento de vencimentos de servidores depende de
Lei e não pode ser efetuado apenas com suporte no princípio da
isonomia. Entre outros, confiram-se: RE 40.914, Rel. Min Antonio
Villas Boas, DJ 7.4.1960; RE 42.186, Rel. Min. Nelson Hungria, DJ
21.9.1960; RMS 9.122, Rel. Min. Vitor Nunes, DJ 26.10.1961 e RE
47.340, Rel. Min. Barros Barreto, DJ 26.10.1961.
Assim, percebe-se que, há muito, já havia preocupação com a
exigência de reserva legal relacionada à remuneração dos
servidores”. (STF- 592317, Relator(a): GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 28/08/2014, DJe-220 Pub.10.11.2014)

Por fim, é de destacar que o artigo 130 da CR/88, invocado como fundamento de
validade da Resolução 304/2017 - TCDF, não tem o alcance que se pretendeu emprestar-lhe,
razão pela qual o preceito não afasta a pecha de inconstitucionalidade do ato normativo ora
impugnado.
O dispositivo preconiza que “aos membros do Ministério Público junto aos
Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e
forma de investidura”.
A seção, na qual o artigo 130 se insere, não alude à gratificação de substituição
tampouco assegura qualquer equiparação remuneratória, mas consagra, isso sim, as garantias de
vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio (art. 128, § 5º, inciso I, da CR/88),
predicados necessários “a proteger os membros do Ministério Público especial no relevante
desempenho de suas funções perante os Tribunais de Contas”. (STF - ADI 789, Relator(a):
CELSO DE MELLO).
Vê-se, portanto, que o artigo 130 da CR/88 não afasta a incompatibilidade da
Resolução 304/2017 – TCDF com a regra da legalidade dos vencimentos dos servidores
distritais consagrada pela Lei Orgânica do Distrito Federal.
Impende concluir, assim, que a edição de ato administrativo para estender
vantagem remuneratória de integrantes do Ministério Público da União a servidores distritais
representa patente violação aos artigos 1º, 19, IX e XII, 71, IV, 84, IV, da Lei Orgânica do
Distrito Federal. Evidenciado o vício, impõe-se a declaração de inconstitucionalidade da norma
impugnada.

IV – CAUTELAR
São requisitos para o deferimento da medida cautelar a plausibilidade da
argumentação desenvolvida na petição inicial – a indicar a inconstitucionalidade, ‘prima facie’,
do ato impugnado –, bem como o perigo de dano decorrente da aplicação da lei enquanto se
aguarda o julgamento do mérito da ADI.
Patente a relevância dos fundamentos jurídicos, pois o ato normativo ofende
diretamente a Lei Orgânica, conforme demonstrado, em ordem a afastar a presunção de
legitimidade de que se reveste.
O periculum in mora é, igualmente, manifesto.
Isso porque a gratificação de substituição, que vem sendo paga aos membros do
Ministério Público de Contas do Distrito Federal em afronta manifesta à Lei Orgânica, configura
verba alimentar. Por isso, caso ao final se declare a inconstitucionalidade da norma, os valores
já pagos não poderão ser cobrados pelo ente distrital, consoante tese firmada no Tema Repetitivo
531/STJ:
“Quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei,
resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa
expectativa de que os valores recebidos são legais e definitivos,
impedindo, assim, que ocorra desconto dos mesmos, ante a boa-fé
do servidor público”.

Constata-se, assim, em razão do caráter irrepetível da verba em questão, que o


cumprimento da Resolução 304/2017 – TCDF causa diariamente prejuízo irreversível ao Erário
distrital, o que caracteriza o perigo na demora, a autorizar a concessão da medida cautelar.
Descabe cogitar, por outro lado, do perigo da demora inverso, decorrente da
ausência de pagamento da gratificação aos integrantes do Ministério Público especial junto ao
TCDF. Pertinente, no ponto, a fundamentação adotada pelo ministro Sepúlveda Pertence para
indeferir medida liminar no MS 24.875/MC/DF, caso em que se questionava o decréscimo de
proventos de aposentadoria em razão da incidência do teto remuneratório:
“De outro lado, sem negar a qualificação alimentar da remuneração
do servidor público, é impossível extrair dela, por si só, o periculum
in mora, sem tomar em conta a modéstia da parcela questionada na
soma da remuneração dos impetrantes e, em caso de decisão
favorável, a garantia de sua percepção sem delongas”.

Na espécie, tendo presente o valor do subsídio dos Procuradores de Contas[4],


também não se pode extrair o perigo da demora inverso exclusivamente do caráter alimentar da
verba.
Por fim, a reforçar a presença dos requisitos autorizadores da concessão da
medida cautelar, é de ressaltar que esse e.TJDFT já assentou que “nas ações direta de
inconstitucionalidade, o perigo da demora reside justamente no risco para a supremacia da
norma constitucional, como elemento inabalável de coesão do ordenamento jurídico, necessário
para a garantia e proteção de preceitos fundamentais do Estado brasileiro”:

“MEDIDA CAUTELAR PARA SUSPENDER OS EFEITOS DA


LEI DISTRITAL N. 6.124/2018, QUE DISPÕE SOBRE A
UTILIZAÇÃO DOS CRÉDITOS REFERENTES A LICENÇA
PRÊMIO E PRECATÓRIOS PARA PAGAMENTO DE DÍVIDAS
PESSOAIS DOS AGENTES PÚBLICOS DO DISTRITO
FEDERAL CONTRAÍDAS JUNTO AO BANCO DE BRASÍLIA -
BRB. PRESENTES OS PRESSUPOSTOS NECESSÁRIOS AO
DEFERIMENTO DO PEDIDO LIMINAR.
1. A norma cria para os agentes públicos do Distrito Federal o
direito de compensar eventuais créditos oriundos de licença prêmio,
ou inscritos em precatórios, com dívidas pessoais contraídas no
BRB e permite a utilização dos precatórios também para a aquisição
de terrenos em condomínios em vias de regularização.
2. O art. 71 da LODF dispõe que as propostas de leis que versem
sobre o regime jurídico do servidor público, que estabeleçam
atribuições para os órgãos integrantes da administração pública que
veiculem matéria orçamentária, são todas de responsabilidade do
Governador do Distrito Federal, porque guardam relação direta com
a função administrativa típica do Poder Executivo.
3. Além disso, a lei impugnada transgride as regras de repartição de
competências legislativas entre os entes da Federação e usurpa
competência da União para legislar sobre direito civil, quando
estabelece uma nova modalidade de compensação de obrigações,
incompatível com o regramento já estabelecido pelo Código Civil.
4. A par dos vícios formais, a norma contém vícios materiais,
porque viola princípios caros ao Estado de direito, como a
isonomia, a livre iniciativa e a livre concorrência, interferindo no
exercício da atividade fim da instituição financeira, criando
privilégio para o agente público em detrimento do cidadão comum e
perturbando a ordem cronológica de pagamento de precatórios, bem
como o planejamento financeiro e orçamentário do Distrito Federal.
5. Nas ações diretas de inconstitucionalidade, o perigo da
demora reside justamente no risco para a supremacia da norma
constitucional, como elemento inabalável de coesão do
ordenamento jurídico, necessário para a garantia e proteção de
preceitos fundamentais do Estado brasileiro.
6. Impõe-se, assim, a suspensão da norma impugnada com efeitos
não retroativos (ex nunc) e erga omnes, até o julgamento definitivo
sobre a sua inconstitucionalidade.”[5]

Dessa forma, tal qual ocorre no precedente colacionado, a usurpação da função


normativa do Poder Legislativo, em desrespeito a decisões reiteradas da jurisdição
constitucional, representa grave risco à supremacia da Constituição Local, a corroborar, também
sob essa perspectiva, o perigo da demora em se aguardar a apreciação do mérito da demanda.
Impõe-se, assim, a concessão da medida cautelar, a fim de que seja suspenso
imediatamente o ato normativo atacado.

V – PEDIDO
Em face do exposto, o Govenador do Distrito Federal requer:

1. a concessão de medida cautelar, para que seja suspensa a eficácia da


Resolução 304, de 07 de março de 2017, oriunda do Tribunal de Contas do Distrito
Federal;
2. a oitiva do e. TCDF, por ser o órgão do qual emanou a norma, da
Procuradora-Geral do Distrito Federal e do Procurador-Geral de Justiça do Distrito
Federal, na forma da Lei 9868/99; e
3. a declaração de inconstitucionalidade, com efeito ex tunc, da Resolução
304/2017 – TCDF.

Nesses termos, espera deferimento.


Brasília, 20 de agosto de 2020.

Ibaneis Rocha
Governador do Distrito Federal

Cristiana De Santis Mendes de Farias Mello


Procuradora do Distrito Federal

[1] Lei Federal nº 11.697/2008, art. 8º, I, ‘n’:


“Art. 8º. Compete ao Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar originariamente:
(...)
n) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal em
face de sua Lei Orgânica”.
[2] Lei Federal nº 11.697/2008, art. 8º, §2º, I:
“§2º. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade:
I – o Governador do Distrito Federal”.
[3] § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo,
observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos
e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a
política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e
funcionamento.
[4] O valor é de R$ 33.689,10, conforme informação extraída da página:
https://egesp.tc.df.gov.br/site/transparencia/estrut_remu_membros.
[5]Acórdão n.1122789, 20180020024776ADI, Relator Des. João Timóteo de Oliveira, DJE
14/09/2018.

Documento assinado eletronicamente por CRISTIANA DE SANTIS MENDES DE FARIAS


MELLO - Matr.0140428-8, Procurador(a) do Distrito Federal, em 20/08/2020, às 22:09,
conforme art. 6º do Decreto n° 36.756, de 16 de setembro de 2015, publicado no Diário Oficial do
Distrito Federal nº 180, quinta-feira, 17 de setembro de 2015.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site:


http://sei.df.gov.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0
verificador= 45720788 código CRC= 169F3F46.

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