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ACO 3508 - Agravo - Censo - IBGE - Orçamento
ACO 3508 - Agravo - Censo - IBGE - Orçamento
ACO 3508 - Agravo - Censo - IBGE - Orçamento
AGRAVO
1
Art. 4º, III, da Lei Complementar nº 73/1993; e Portarias de Delegação nº 476, de 16 de maio de 2007 (DOU de
17 de maio de 2007), e nº 1, de 22 de janeiro de 2019 (DOU de 23 de janeiro de 2019).
I – DO CASO DOS AUTOS
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art. 1º da Lei nº 8.184/1991 e no § 2º do art. 9º da LC nº 101/2000. Também
sustenta sua narrativa no direito à informação (art. 5º, XIV, da CRFB/1988) e na
suposta ausência de proporcionalidade da situação que deu causa à lide.
2
Ainda que tenha sido agendado o referendo da liminar, revela-se fundamental, em um Estado Democrático de
Direito, seja oportunizado ao ente público alcançado pela decisão precária submetida a referendo colegiado trazer
os fundamentos que amparam a legitimidade de sua conduta, os quais hão de ser enfrentados pela Corte na sessão
de julgamento que venha a deliberar sobre a tutela de urgência agravada (art. 489, § 1º, IV, do Código de Processo
Civil). Essa é a utilidade principal deste agravo interno.
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Antes de serem demonstradas as razões de mérito que conduzem à
necessidade de reconsideração, reforma ou mesmo de não referendo da decisão
que deferiu a liminar, faz-se necessário suscitar questões preliminares, que
impedem seja conhecida a ação, sem prejuízo de outras que se revelem existentes
quando da apresentação futura da contestação.
Explica-se.
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medidas orçamentárias, sendo um de seus pedidos exatamente a “abertura de
créditos com valores suficientes” (peça nº 1, fl. 25, e-STF).
E nem se diga, por outro lado, que a lei orçamentária anual seria ato
legislativo de efeitos concretos ou específicos, insuscetível, portanto, de ser objeto
do controle abstrato de normas.
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processual ou interesse de agir é, em síntese, o “binômio necessidade-adequação;
'necessidade concreta da atividade jurisdicional e adequação de provimento e
procedimento desejados”3.
3
DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 7ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000, p. 406. (grifou-se)
4
ARE 883638 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 27/02/2018,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-073 DIVULG 16-04-2018 PUBLIC 17-04-2018.
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de afastamento abstrato de lei federal, nos termos dos incisos IV e VI do art. 485
do CPC.
5
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. vol 1. 59 ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2018. p. 192. e-book. (grifou-se)
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Considerados todos os reflexos diretos e indiretos do Censo, caso se
entendesse pela legitimidade autoral, abrir-se-ia flanco para todo e qualquer ente
federativo postular em juízo pretensão similar, inclusive os Municípios.
6
CPC: “Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.”.
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processuais, as quais, em última ratio, também encontram fundamento de validade
no texto constitucional, já que são expressão do devido processo legal e da noção
de processo enquanto garantia.
7
Para mais informações sobre a tramitação e aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2021, ver: <
https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-orcamentarias#2021>. Acesso em: 05 mai. 2021.
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Lei Orçamentária Anual fazendo constar recursos da ordem de R$ 2,0 bilhões
para a elaboração do Censo 2021. “Entretanto, na tramitação do Projeto de Lei
nº 28 no Congresso Nacional - CN, diversas reduções em dotações foram
efetuadas para permitir o processo de emendamento, que é característico e
legítimo do processo legislativo na apreciação do orçamento”8 (Nota Técnica SEI
nº 20816/2021/ME, doc. anexo, grifou-se).
8
As regras para a elaboração das emendas por parte do Congresso Nacional podem ser encontradas no Parecer
Preliminar sobre o Projeto de Lei nº 28/2020, do Congresso Nacional, que “estima a receita e fixa a despesa da
União para o exercício financeiro de 2021” (disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8936008&ts=1619180976768&disposition=inline>; acesso em: 05 mai. 2021), entre as
páginas 42 e 55 (doc. anexo).
9
Grifou-se.
10
Art. 66, § 1º, da Constituição da República.
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A propositura legislativa constante dos Volumes IV e V trata das
dotações orçamentárias de ações e programas do Governo Federal, nos
termos propostos pelo Poder Executivo e aprovados pelo Congresso
Nacional.
Entretanto, verifica-se que o texto foi parcialmente modificado no curso
da tramitação legislativa. Além disso, a alteração de parâmetros
macroeconômicos ocorrida entre o envio da proposta e a sua efetiva
aprovação levaram à necessidade de reavaliação do total das
despesas obrigatórias. Em que pese a boa intenção do legislador e o
mérito das dotações acrescidas, a sanção integral das referidas dotações
contraria o interesse público. Isso porque, ao se levar em conta a real
necessidade das despesas obrigatórias projetadas para o exercício
em curso, os estudos técnicos indicam uma insuficiência de espaço
no Teto de Gastos para o pleno atendimento das despesas
obrigatórias e do orçamento impositivo.
Assim, para viabilizar a recomposição das dotações necessárias à
cobertura das despesas obrigatórias, impõe-se o veto parcial das
dotações orçamentárias constantes do projeto no montante necessário a
esse remanejamento. O veto dessas dotações permitirá a posterior
abertura de crédito suplementar em igual valor, conforme art. 166, § 8º
da Constituição da República.
Conforme a manifestação da Casa Civil da Presidência da República,
para a cobertura do valor de R$ 29,1 bilhões indicados pelo Ministério
da Economia, será necessário o veto de R$ 19,8 bi em despesas
classificadas como RP2, RP8 e RP9, e o bloqueio adicional de R$ 9
bilhões em despesas discricionárias. Quanto ao bloqueio, o mesmo será
feito por ato do Poder Executivo, conforme autorização contida no § 3º
do artigo 62 da Lei nº 14.116, de 2020 (LDO/2021), recentemente
modificada.
(destacou-se)
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Ou seja, a insuficiência orçamentária questionada pelo Estado do
Maranhão decorre das naturais escolhas políticas de alocação de recursos feitas no
âmbito do processo legislativo, sobretudo a partir da atuação dos membros do
Congresso Nacional.
11
ABRAHAM, Marcus. Reflexões sobre Finanças Públicas e Direito Financeiro. Salvador: Editora Juspodivm,
2019. p. 26.
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condições materiais das políticas públicas a serem desenvolvidas ao longo do ano.
Detém, portanto, conteúdo essencialmente ligado ao princípio democrático, eis
que tende a refletir os programas políticos objeto do sufrágio popular.
12
ADI 4048 MC, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2008, DJe-157 DIVULG 21-
08-2008 PUBLIC 22-08-2008 EMENT VOL-02329-01 PP-00055 RTJ VOL-00206-01 PP-00232.
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FIXADA A PARTIR DO JULGAMENTO DA ADI 4.048/DF.
PROCESSO LEGISLATIVO. LEGITIMIDADE ATIVA DA
ENTIDADE POSTULANTE, DIANTE DA HOMOGENEIDADE DE
SEUS MEMBROS, A REPRESENTATIVIDADE NACIONAL E A
PERTINÊNCIA TEMÁTICA ENTRE A IMPUGNAÇÃO E OS FINS
INSTITUCIONAIS DA ASSOCIAÇÃO REQUERENTE (Anamatra).
ALEGAÇÃO DE OFENSA À CLÁUSULA PÉTREA DA
SEPARAÇÃO DE PODERES (CRFB/1988, ART. 2º C/C ART. 60, §
4º). AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO PAUTADA EM DOIS
FUNDAMENTOS: A) O CASO É DE TÍPICA ATUAÇÃO DO
PODER LEGISLATIVO; E B) ATENDIMENTO AO DEVIDO
PROCESSO LEGISLATIVO, COM RESPEITO À INICIATIVA DE
PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA, DESEMPENHADA EM
CONSONÂNCIA COM A AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E
FINANCEIRA DA JUSTIÇA DO TRABALHO (CRFB/1988, ART.
99). LEGÍTIMO CONTROLE ORÇAMENTÁRIO PELO PODER
LEGISLATIVO. AUSÊNCIA DO ABUSO DO PODER DE
EMENDA. INOCORRÊNCIA DE DESVIO DE FINALIDADE OU
DE DESPROPORCIONALIDADE. CONFIGURAÇÃO DE
CENÁRIO DE CRISE ECONÔMICA E FISCAL. CORTES
ORÇAMENTÁRIOS EM DIVERSOS PODERES E POLÍTICAS
PÚBLICAS. AUSÊNCIA, NO CASO SUB EXAMINE, DE
CAPACIDADE INSTITUCIONAL DO PODER JUDICIÁRIO
PARA PROMOVER, EM SEDE DE CONTROLE ABSTRATO, A
COORDENAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA COM O PLANO
PLURIANUAL (PPA) E AS RESPECTIVAS LEIS DE
DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO’S). O RELATÓRIO DA
COMISSÃO MISTA DE PLANOS, ORÇAMENTOS PÚBLICOS E
FISCALIZAÇÃO (CMO) DO CONGRESSO NACIONAL NÃO
VINCULA, POR SI SÓ, A APRECIAÇÃO DAS CASAS
LEGISLATIVAS DO PARLAMENTO FEDERAL. POSTURA DE
DEFERÊNCIA JUDICIAL EM RELAÇÃO AO MÉRITO DA
DELIBERAÇÃO PARLAMENTAR. APELO AO LEGISLADOR
QUANTO A EVENTUAL ABERTURA DE CRÉDITOS
SUPLEMENTARES OU ESPECIAIS DURANTE A EXECUÇÃO
ORÇAMENTÁRIA DO EXERCÍCIO (CRFB/1988, ART. 99, § 5º).
PEDIDO DE AÇÃO DIRETA DE INSCONSTITUCIONALIDADE
(ADI) CONHECIDO E, NO MÉRITO, JULGADO IMPROCEDENTE.
1) A separação dos poderes, sob o enfoque da pré-compreensão das
funções institucionais e constitucionais proporciona a interpretação
de que a atividade de "fixar" – isto é, de "deliberar acerca" e
"definir" – o orçamento corresponde a uma das típicas atribuições
do Poder Legislativo na seara do Estado Democrático de Direito
(CRFB/1988, art. 1º).
2) O Poder Judiciário, não obstante ostente iniciativa de
encaminhamento da proposta orçamentária que lhe é própria, não
interdita, do ponto de vista formal, que o controle sobre essa iniciativa
constitucionalmente consagrada seja realizado, de modo autônomo, em
sede parlamentar.
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3) A separação de poderes, conquanto cláusula pétrea, não sofreu
violação nesta ação direta (CRFB/1988, art. 2º c/c art. 60, § 4º).
Primeiramente, porque a hipótese normativa impugnada (o Anexo IV da
LOA/2016) constitui-se como típica manifestação do Poder Legislativo
a respeito de proposição legislativa submetida à discussão parlamentar.
Em segundo lugar, na situação legislativa ora em apreço, as normas
procedimentais do devido processo legislativo (procedural due process
of law) foram devidamente atendidas – vale dizer: houve observância da
iniciativa da proposição legislativa, em estrito respeito formal à
autonomia administrativa e financeira da Justiça do Trabalho
(CRFB/1988, art. 99).
4) O “controle material” de espécies legislativas orçamentárias
corresponde a uma tendência recentemente intensificada na jurisdição
constitucional do Supremo Tribunal Federal (STF), consoante se
verifica do excerto extraído da ementa do acórdão da ADI 4.048/DF,
Rei Min Gilmar Mendes:
(...)
5) O controle orçamentário pelo legislativo funda-se num corpo de
normas que é, a um só tempo, “estatuto protetivo do cidadão -
contribuinte” e "ferramenta do administrador público e de
instrumento indispensável ao Estado Democrático Direito para
fazer frente a suas necessidades financeiras".
(...)
7) O abuso do poder de emenda, assim como do descumprimento
das premissas de proporcionalidade (ou de razoabilidade), não
podem ser acolhidos quando suscitados de forma genérica, diante
da ausência de impugnação específica e adequada dos requisitos
normativos reveladores desses excessos invocados – em quaisquer
das tradições teóricas sustentadas (seja a do desvio do poder, seja a
da proporcionalidade, ou ainda a da razoabilidade).
(...)
9) O abuso parlamentar não se configura, sob o ângulo da
principiologia dos subprincípios da proporcionalidade
(necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito),
quando imposta a redução do orçamento público destinado a órgãos
e programas orçamentários, em decorrência de crise econômica e
fiscal.
(...)
11) A Jurisdição Constitucional, em face da tessitura aberta de
conformação legislativa prevista pelo inciso I do § 3º do art. 166 da
CRFB/1988, não detém capacidade institucional automática ou
pressuposta e não pode empreender, no âmbito do controle
abstrato, a tarefa de coordenação entre o Plano Plurianual (PPA) e
as respectivas Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO’s) e Leis
Orçamentárias Anuais (LOA’s).
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12) Consectariamente, diante da ausência de abusividade, deve-se
declarar que a função de definir receitas e despesas do aparato estatal
é uma das mais tradicionais e relevantes do Poder Legislativo,
impondo-se ao Poder judiciário, no caso, uma postura de deferência
institucional em relação ao debate parlamentar, sob pena de
indevida e ilegítima tentativa de esvaziamento de típicas funções
institucionais do Parlamento.
(...)
15) Pedido de ação direta de inconstitucionalidade conhecido e, no
mérito, julgado improcedente.
(ADI 5468, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
30/06/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-169 DIVULG 01-08-
2017 PUBLIC 02-08-2017, destacou-se)
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apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do
regimento comum.
(...)
§ 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos
que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias;
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os
provenientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam
sobre:
a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
c) transferências tributárias constitucionais para Estados,
Municípios e Distrito Federal; ou
III - sejam relacionadas:
a) com a correção de erros ou omissões; ou
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
(destacou-se)
13
Lei nº 8.184/1991: “Art. 1° A periodicidade dos Censos Demográficos e dos Censos Econômicos, realizados
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), será fixada por ato do Poder Executivo, não
podendo exceder a dez anos a dos Censos Demográficos e a cinco anos a dos Censos Econômicos.”.
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ordinária. Até porque, na ordem jurídica posta, em que vigora a supremacia do
texto constitucional, não se submetem decisões políticas fundamentais (art. 166, §
3º, II, da CRFB/1988) às maiorias de ocasião (art. 1º da Lei nº 8.184/1991).
14
CPC: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.”.
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próprias decisões. Políticas públicas complexas jamais serão
consistentemente implementadas por meio de decisões judiciais
isoladas.
(grifou-se)
15
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 616.
16
Segundo Gilberto Bercovici, “O objetivo primordial do princípio da unidade da Constituição é o de evitar ou
equilibrar discrepâncias ou contradições que possam surgir da aplicação das normas constitucionais. A
interpretação constitucional, ao ser balizada pelo princípio da unidade da Constituição, tem por fundamento a
consideração de que todas as antinomias eventualmente determinadas serão sempre aparentes e solucionáveis,
tendo em vista a busca do equilíbrio entre as diversas normas constitucionais. (...) A Constituição deve sempre ser
entendida e interpretada em sua unidade, tendo em vista que todas as suas normas estão em mútua interação e
dependência.” (BERCOVICI, Gilberto. O princípio da unidade da Constituição. Revista de Informação
Legislativa. Brasília a. 37 n. 145 jan./mar. 2000. p. 97-98).
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parlamentar ao projeto de lei orçamentária anual (art. 166, §§ 2º e 3º, da
CRFB/1988) – como os princípios democrático, da separação dos Poderes, da
proporcionalidade e da razoabilidade.
17
LC nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal): “Art. 9o Se verificado, ao final de um bimestre, que a
realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal
estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos
montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo
os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (...)
§ 2º Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais e legais do ente,
inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, as relativas à inovação e ao desenvolvimento
científico e tecnológico custeadas por fundo criado para tal finalidade e as ressalvadas pela lei de diretrizes
orçamentárias.
(...)”.
18
A limitação de empenho é mecanismo por meio do qual se ajustam as expectativas do orçamento aos fatos
verificados ao longo do exercício financeiro. É que, conforme leciona José Maurício Conti, “Sendo o orçamento
anual, a previsão das receitas e despesas no orçamento contém valores que representam a atividade financeira
durante todo o ano. Assim, as receitas nele previstas não correspondem a dinheiro existente e disponível, mas sim
a uma estimativa da arrecadação que se concretizará ao longo de todo o exercício financeiro. O mesmo ocorre
com as despesas, cuja previsão orçamentária, ato necessário para que sejam autorizados os gastos, por força do
princípio da legalidade orçamentária, representa valores a serem despendidos durante o exercício financeiro.
Essa autorização anual, para que se concretize, depende da arrecadação, com a qual deve guardar
compatibilidade, razão pela qual a dotação orçamentária não autoriza, por si só, a realização da despesa”.
(CONTI, José Maurício. Hora é de “apertar o cinto” e contingenciar gastos. p. 153 -156. In: Levando o direito
financeiro a sério. São Paulo: Blucher, 2016.
ISBN: 978-85-8039-144-2. Disponível em: < https://openaccess.blucher.com.br/article-details/e-hora-de-apertar-
o-cinto-e-contingenciar-gastos-19851>. Acesso em: 05 mai. 2021.
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contida no § 2º do art. 9º da LRF, feita pelo autor em sua exordial, não se ajusta à
hipótese dos autos.
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CPC: “Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.”.
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É indispensável assinalar que a observância da proporcionalidade
exige, de modo inafastável, uma avaliação prévia quanto aos efeitos
práticos da decisão20.
(grifou-se)
20
JUSTEN FILHO, Marçal. Art. 20 da LINDB: dever de transparência, concretude e proporcionalidade nas
decisões públicas. Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, Edição Especial: Direito Público na Lei de Introdução
às Normas de Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 13.655/2018), nov. 2018. p. 29-30. Disponível em: <
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/77648>. Acesso em: 05 mai. 2021.
21
Grifou-se.
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O gráfico anterior expõe “as séries de despesas primárias
obrigatórias e de despesas discricionárias do Poder Executivo, acumuladas em
12 meses, a preços constantes de março de 2021”. O Tesouro Nacional observa
“forte declínio na trajetória da despesa discricionária nos últimos anos,
passando de R$ 213,3 bilhões no período acumulado em 12 meses encerrado em
outubro de 2014, para R$ 113,7 bilhões em 2020”22.
22
Grifou-se.
23
Grifou-se.
24
Destacou-se.
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gastos, e a meta de resultado fiscal”. Assim, é preciso ter em mente que a decisão
recorrida, da forma como posta, repercutirá na redução de outras despesas a título
de compensação, podendo corresponder a ações governamentais tão relevantes
quanto o Censo.
25
LC nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal): “Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças
públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da
Constituição.
§ 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos
e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de
resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita,
geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de
crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar.
(...)” (grifou-se).
ACO nº 3.508 24
Não é demais ressaltar que, como o cumprimento da decisão recorrida
impõe necessariamente a alteração da Lei Orçamentária Anual, tem-se como
requisito indispensável para tanto o regular envio de projeto de lei prevendo a
respectiva modificação do orçamento de 2021, o qual deverá ser devidamente
analisado e votado pelo Congresso Nacional. Assim, somente após a promulgação
dessa nova lei será possível a efetiva execução de eventual novo orçamento
destinado à realização do censo.
26
AC 3637 ED-AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 11/09/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 04-10-2019 PUBLIC 07-10-2019.
ACO nº 3.508 25
Caso o STF decida pela recomposição do orçamento solicitado pelo
IBGE, a viabilidade da execução da operação ainda em 2021 terá
obrigatoriamente que ser avaliada à luz de aspectos técnicos e
operacionais que são fundamentais para assegurar a execução de todas
as etapas preparatórias que precedem o início dos trabalhos de campo e
também aquelas que envolvem a coleta de dados propriamente dita, vez
que os atrasos no Cronograma Geral de Atividades já não permitem mais
que o início da coleta de dados ocorra em 1º de agosto, conforme estava
previsto no projeto original.
Os principais aspectos a serem avaliados são:
• análise das implicações nas questões técnicas como a mudança na data
de referência (a original era 31/07 para 01/08) e no período da coleta
(original era agosto a outubro, com revisão e fechamento em novembro),
entre outras.
• revisão do Cronograma Geral de Atividades considerando:
- a retomada dos processos seletivos para recrutamento de mais de 200
mil temporários que atuarão na coleta de dados (supervisores e
recenseadores), distribuídos em todos os municípios. Essa revisão
envolve a empresa operadora dos processos seletivos (Cebraspe);
- realização do Teste de Homologação de Equipamentos e Sistemas para
identificação de ajustes ainda necessários;
- reprogramação da cadeia de capacitação das cinco etapas de
treinamento do pessoal da Casa e dos contratados. Os cursos na
modalidade a distância exigem maior prazo de execução;
- retomada de diversos processos de aquisição de bens e serviços,
inclusive de empresa de publicidade, que foram suspensos quando o
orçamento foi cortado;
- retomada das ações para instalação dos Postos de Coleta (unidades de
trabalho das equipes de campo em todos os municípios). Esta atividade
depende das condições da pandemia, vez que é essencialmente
presencial; o retomada das atividades de recebimento e preparo dos
equipamentos de coleta nas 27 Unidades Estaduais;
- datas de início e fim da coleta de dados, revisões e fechamento.
• revisão dos custos da operação tomando em conta que a coleta de
dados em domicílios nos meses de dezembro e janeiro é de difícil
realização em tempos normais devido à intensificação das viagens das
famílias nesse período. Após dois anos de represamento de viagens em
razão da pandemia, é de se esperar que as viagens sejam ainda mais
numerosas, o que resultará em alto índice de domicílios fechados
(ocupados sem entrevista), os quais terão de ser revisitados para
realização das entrevistas, acarretando, assim, a extensão do período da
coleta para além dos três meses planejados, o que exigirá a prorrogação
dos contratos dos supervisores que têm um custo mensal de R$ 74
milhões, além das despesas com deslocamentos de pessoal e outros itens
correlatos.
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• implicações da coleta de dados em dezembro e janeiro quando serão
grandes as chances de desistência dos recenseadores para gozo de férias
- a maioria é estudante, na faixa etária de 18 a 25 anos.
• possíveis dificuldades nos pagamentos do mês de dezembro após o
fechamento do exercício orçamentário, vez que os pagamentos da
produção dos recenseadores devem ser feitos de imediato, sob pena de
desistência, além das inúmeras outras despesas que não podem deixar
de ser pagas para não prejudicar os trabalhos de campo (coleta e
supervisão) no último mês da coleta e no período de revisão e
encerramento dos trabalhos em cada município.
• a necessidade de haver disponibilidade orçamentária e financeira de
grande monta para as despesas da finalização da coleta, revisões,
supervisão, coleta da pesquisa pós-enumeração nos meses de janeiro a
março.
Além dos aspectos acima registrados, há que ser considerada também a
evolução da pandemia, vez que a permanência em níveis altos nos meses
de junho e julho impedirá a realização da aplicação das provas dos
processos seletivos, como já ocorreu no mês de abril, e também a
necessidade de imunização das equipes de campo com pelo menos dois
a três meses e meio de antecedência da data de início da coleta,
dependendo da vacina.
Dados os aspectos negativos apontados no cenário de realização do
Censo ainda em 2021, alternativas de realização da operação
censitária em 2022 devem ser consideradas. A mais plausível é a
realização nos mesmos períodos do plano original - com a coleta de
dados nos meses de agosto a outubro, mantendo-se, assim, os
mesmos prazos planejados para a operação de 2020, com ajustes na
cadeia de treinamento. Outra alternativa é a de realização ainda no
primeiro semestre ao ano. Entretanto, esta opção não poderá contar
como o início da coleta antes do mês de maio, para evitar as intensas
atividades preparatórias - contratação e treinamento de pessoal, entre
outras - no mês de dezembro e no primeiro trimestre do ano, quando o
período de viagens e as questões orçamentárias são prejudiciais à
execução dessas atividades, conforme já citado neste documento.
Cenários:
1 - Coleta de Dados a partir de 12/10/2021
Requisitos
• considera que a decisão do STF seja tomada no dia 14/05/2021 e
os recursos orçamentários sejam disponibilizados para o IBGE de
imediato;
• conta com a disponibilidade do Cebraspe para reabrir inscrições
de candidatos em 24/05/2021;
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• que a situação da pandemia permita a realização do Teste de
Homologação de Equipamentos e Sistemas em junho e das provas em
11 e 18 de julho.
Riscos
• Coleta de dados último trimestre do ano, com revisão em janeiro
e fevereiro, o que gera grandes chances de prejuízos na cobertura, com
prolongamento da operação de campo e aumento de custo.
• População ainda não plenamente vacinada levando a possíveis
resistências para receber o recenseador;
• Prováveis dificuldades de ordem orçamentária e financeira em
dezembro e nos primeiros meses de 2022.
• Alta probabilidade de desistências dos recenseadores durante o
período de coleta;
• Alguma chance da situação da pandemia impedir a realização das
provas em julho.
Riscos
• mudança da data de referência - a ser avaliada pelo Comitê
Técnico, pela Comissão de Planejamento e Organização dos Censos e
pela Comissão Consultiva.
Riscos
• Não há riscos neste cenário, além da postergação da divulgação de
resultados apenas no final de 2022 / início de 2023.
ACO nº 3.508 28
processo em 2021 sugerem razões técnicas para que o mesmo se
realize em 2022.
(destacou-se)
ACO nº 3.508 29
do julgamento da repercussão geral no RE nº 553.710, no qual restou fixada a
seguinte tese:
27
Conforme expõe a citada Nota Técnica, a medida “teria o condão de compensar nas despesas primárias o crédito
para o Censo”, o que permitiria “a manutenção do teto dos gastos e da meta fiscal” assim como preservaria “o
restante da programação de recursos sob gestão do Poder Executivo”. O documento ressalta, inclusive, que “a
resolutividade nestes termos seria novamente submetida ao escrutínio do processo legislativo no Congresso
Nacional, que poderia decidir ou não pelo restabelecimento do orçamento na rubrica em análise” (sublinhou-se).
ACO nº 3.508 30
Subsidiariamente, na remota hipótese de ser mantida a liminar, requer
seja permitida a realização do Censo no ano de 2022, devendo o Poder Executivo
tomar as medidas administrativas e orçamentárias pertinentes para a destinação de
recursos necessários ao IBGE, inclusive mediante a previsão dos valores
respectivos no projeto de lei orçamentária do ano vindouro.
FABRÍCIO DA SOLLER
Advogado-Geral da União Substituto
Dados: 2021.05.06 19:49:13 -03'00'
IZABEL VINCHON NOGUEIRA DE ANDRADE
Secretária-Geral de Contencioso
NETO:34778043847
Dados: 2021.05.06 20:03:31 -03'00'
ACO nº 3.508 31