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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.

304/RS
Rel. Min. Dias Toffoli

Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de liminar


(indeferida pelo Plenário), ajuizada pelo Governador do Estado do Rio Grande do Sul
em face da Lei Estadual nº 11.453, de 4 de abril de 2000, que autoriza o Poder
Executivo a conceder parcelamento dos créditos tributários provenientes do Imposto
sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) que não foram pagos em seu
vencimento, bem como, dispõe que caberá também ao Poder Executivo a
regulamentação da referida lei.
O requerente alega que a Lei em questão é inconstitucional por ofender os
princípios constitucionais da isonomia (arts. 5º, caput, e 150, II, da Constituição Federal
de 1988), da reserva legal (art. 5º, II, §6º, da CF/88) e o da moralidade administrativa.
Em seu voto, o Relator, Ministro Dias Toffoli, julgou procedente a ADI,
declarando inconstitucional a aludida lei por afronta ao princípio da reserva de lei em
matéria tributária (art. 150, I, da CF/88).
Antes de analisar as alegações principais, o Ministro Toffoli, trouxe a baila o
voto do Min. Sepúlveda Pertence, quando da apreciação da medida cautelar, onde
descartou-se a inconstitucionalidade do diploma legal por vício de iniciativa, por
ofender o art. 62, §1º, II, b, da CF/88, que dispõe que a iniciativa de lei que trate sobre
matéria tributária e orçamentária dos territórios federais será de iniciativa privativa do
Presidente da República. Ocorre que a lei objeto da ação, trata de questões de âmbito
Estadual e não de territórios brasileiros, sendo assim, incabível invocar o aludido
diploma legal.
Em análise do mérito da ação, o Min. Relator entendeu que a Lei em análise
afrontou o princípio da legalidade (art. 150, I, da CF/88), haja vista que o parcelamento,
previsto no Código Tributário Nacional, em seu art. 151, VI, como modalidade de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário, exige lei específica que disponha sobre
a forma e condição de sua concessão, conforme se abstrai da norma contida no art. 155-
A, do mesmo diploma legal.
Outrossim, o referido art. 155-A, do CTN, em seu §2º, determina que seja
aplicada ao parcelamento as regras atinentes à moratória, previstas no art. 153, do CTN,
que, em suma, dispõe que a lei que conceder a moratória (geral ou individual) deverá
especificar, sem prejuízo de outros requisitos, o prazo de duração do favor com o
número de prestações e seus vencimentos, o tributo a qual ela se aplica e as condições
da sua concessão e garantias fornecidas pelo beneficiado, quando se tratar de benefício
individual.
Acertadamente, sem seu voto, o Min. Relator frisou que no Direito Tributário o
parcelamento decorre de lei e que, sendo ele uma espécie de moratória, deverá obedecer
ao que determina o CTN quanto as especificações mínimas e requisitos para sua
concessão trazidos no art. 153, do CTN. E, por mais que a jurisprudência da Corte
venha flexibilizando o princípio da legalidade, o legislador deve estabelecer o “desenho
mínimo que evite o arbítrio”.
O legislador, na Lei Estadual nº 11.453/2000, ao simplesmente autorizar o Poder
Executivo a conceder o parcelamento, bem como a regulamentá-lo, feriu o princípio da
legalidade e, de forma mais específica, o princípio da reserva legal, pois, necessário
seria que tal lei cumprisse as especificações mínimas e requisitos legais para sua
concessão, presentes no art. 153, do CTN, conforme citados acima.
Quanto à afronta aos princípios da isonomia e da moralidade arguidas pelo autor,
o Min. Relator nada mencionou.

(ADI 2.304/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgada em 12/04/2018, DJe
03/05/2018)

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